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239 Habilidades Seções de estudo Capítulo 6 Atribuições do COMAER no contexto da Aviação Civil Seção 1: Sistema Aeroportuário Seção 2: Sistema de Controle do Tráfego Aéreo Brasileiro (SISCEAB) Seção 3: Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) Conhecer a Autoridade Aeronáutica Militar. Distinguir as funções do COMAER no contexto da aviação civil. Conhecer a Infraestrutura Aeroportuária, o SISCEAB e o SIPAER. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 240 Capítulo 6 Seção 1 Sistema Aeroportuário Antes de iniciarmos o estudo sobre o Sistema Aeroportuário, vamos a uma contextualização necessária. A aviação civil brasileira foi organizada com base em normas internacionais advindas, principalmente, da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional) e todos os signatários devem se adaptar a essas normas para que se estabeleçam padrões internacionais que, por sua vez, visam a facilitar a atividade aérea. A maneira como se dá essa organização, porém, fica a cargo dos próprios países e cada um delegou aos seus órgãos a execução dos comandos contidos nas normas. No Brasil, desde os primórdios da aviação, sempre houve uma tendência estatizante do controle da aviação civil notadamente com a criação do Ministério da Aeronáutica em 1941. De fato, dentro deste Ministério havia o DAC (Departamento de Aviação Civil), o qual permaneceu atuante até 2005, quando a ANAC assumiu a responsabilidade de regulamentar, fiscalizar, executar, fomentar, facilitar, enfim, de desenvolver a aviação civil nos moldes internacionais. Inobstante, a ANAC não assumiu tudo: em função do alto grau de especialização, dois sistemas da aviação civil permaneceram sob a égide do agora Comando da Aeronáutica: 1. o SISCEAB (Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro); e 2. o SIPAER (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). Mas por que um órgão militar tem funções dentro da aviação civil? Segundo os comandos dispostos na Convenção de Chicago e em outros tratados internacionais, o espaço aéreo das nações signatárias é livre à passagem de aeronaves civis e o território é franco para pousos e decolagens comerciais sem necessidade de autorização prévia, senão do plano de voo previamente disponibilizado. Não obstante, a finalidade da exigência do plano de voo é apenas alertar determinado país da ida da aeronave para fins de planejamento de tráfego aéreo e disponibilização dos meios de auxílio, visto que, sem motivo, os países não podem obstar a entrada de tal aeronave. Mas não podemos olvidar que o espaço aéreo é parte da nação em que a soberania é plena e ameaças a essa soberania e ao povo podem também vir por meios aéreos, tanto em caso de guerra externa, quanto em caso de entrada de substâncias ilícitas, como drogas e armas transportadas por aviões. Nasce de tal premissa simples a natureza fundamental do controle e defesa do espaço aéreo, SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 241 Direito Aeronáutico atribuição de um braço armado da nação, o Comando da Aeronáutica, que, junto ao Comando do Exército e ao Comando da Marinha, tem o dever constitucional de proteger o povo brasileiro e suas propriedades de ameaças externas. O Comando da Aeronáutica é formado por segmentos especializados: • o COMGAR (Comando Geral de Operações Aéreas), que coordena o preparo e emprego dos meios aéreos do país; • o DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro), que é o órgão diretamente responsável pelo controle e vigilância do espaço aéreo; • o CENIPA, ligado diretamente ao Gabinete do Comandante da Aeronáutica, braço executivo do SIPAER (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). Interessa, aqui, esses dois últimos órgãos, o DECEA e o CENIPA, visto que detêm as duas únicas atribuições sobre a aviação civil remanescentes da criação da Autoridade Aeronáutica civil (ANAC), e, ainda, o sistema aeroportuário, apesar dessa parte ter a gerência quase exclusiva de uma empresa pública, a INFRAERO. A história sucinta do Comando da Aeronáutica é a que segue. Em 1939, a Alemanha, que já vinha promovendo uma campanha expansionista feroz sobre seus vizinhos, invadiu a Polônia. A conjuntura política da Europa levou a Inglaterra a declarar guerra à Alemanha e, assim, iniciou a Segunda Guerra Mundial, um conflito que logo envolveu toda a Europa e se espalhou pelo mundo. O Brasil só entrou na guerra em 1942, mas o Presidente Getúlio Vargas e sua cúpula já se preparavam para esse conflito desde que ficou clara a posição brasileira perante os interesses que o deflagraram. Uma das medidas que o governo tomou como preparação para o que viria foi a criação de um segmento militar especializado, que estava em crescimento naquela época: a arma aérea, que nascera, no caso do Brasil, no âmbito do Exército e da Marinha. Perante a necessidade de centralizar os recursos para ampliar esse segmento, foi criado, em 1941, o Ministério da Aeronáutica, sendo seu primeiro ministro o gaúcho Salgado Filho. Reunindo efetivo e material das duas armas, o Ministério da Aeronáutica criou a Força Aérea Brasileira, seu braço armado, e tomou para si a responsabilidade sobre o Correio Aéreo Nacional, o Departamento de Aeronáutica Civil (DAC), que até então fazia parte do Ministério de Viação e Obras Públicas. Imediatamente, passou a treinar operações de combate visando à provável participação em missões na guerra que assolava a Europa e a Ásia, o que de fato aconteceu. Chamada ao conflito, a jovem Força Aérea Brasileira respondeu com heroica atuação, principalmente nos céus da Itália. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 242 Capítulo 6 Depois da Segunda Guerra, o Ministério da Aeronáutica, além da responsabilidade da defesa do espaço aéreo nacional, passou a desenvolver a infraestrutura aeronáutica para atender à crescente demanda da aviação civil, notadamente na parte de aeródromos e no controle do espaço aéreo. Para esse momento, não sendo este um livro de história da aviação, mas sim de direito, em que foram pontualmente indicados os fatos históricos mais importantes por sua consequente influência na criação de normas, adiantaremos o relato e passaremos a estudar a infraestrutura aeronáutica atual. É importante que esse estudo esteja situado no lugar certo, a saber, no estudo sobre o Comando da Aeronáutica, visto ser este órgão responsável pelas bases da infraestrutura apresentada em nosso país, como já deve ter entendido o leitor atento. Lembremo-nos, ainda, de que a denominação e status do Ministério da Aeronáutica foram modificados pela Lei Complementar 97/99, de Ministério da Aeronáutica para Comando da Aeronáutica, sigla COMAER, não sendo mais Ministério e sim Comando, instituição subordinada ao Ministério da Defesa, junto ao Exército e à Marinha. Além da defesa do espaço aéreo, o então Ministério da Aeronáutica tinha ascendência sobre todos os aspectos relativos à aviação civil, por meio do DAC (Departamento de Aeronáutica Civil). Apesar da mudança de nome, em 1968, para Departamento de Aviação Civil, as atribuições não se alteraram e esse órgão permaneceu responsável pela fiscalização e desenvolvimento da aviação comercial até o ano de 2005, quando foi substituído por uma autarquia, a ANAC. Nessa ocasião, todas as atribuições envolvendo a aviação civil foram repassadas à ANAC, menos duas, permaneceram sob a égide do Comando da Aeronáutica: 1. o controle de tráfego aéreo civil, que faz parte do SISCEAB, ficou com o DECEA; e 2. a investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos, responsabilidade do CENIPA, órgão executivo do SIPAER. Estes dois sistemas, com o Sistema Aeroportuário, formam a Infraestrutura Aeronáutica Brasileira 1. O Código Brasileiro de Aeronáutica estabeleceas normas gerais aplicáveis a essa infraestrutura, a partir do seu Título III, já estudado, mas a importância do tema demanda um aprofundamento que vai ser feito neste capítulo, não de todos os sistemas dispostos no Título III, mas somente daqueles que, por sua extensão e importância, necessitam da complementação para perfeita assimilação e ainda pela participação do COMAER neste contexto, a saber: 1 Infraestrutura aeronáutica é tudo que existe no solo com a finalidade de proporcionar à navegação aérea os auxílios que necessita. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 243 Direito Aeronáutico • Sistema Aeroportuário; • Sistema de Proteção ao Voo; • Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. Os motivos da escolha desses três sistemas em detrimento dos outros sete devem-se, primeiramente, pela importância de cada um, eis que a atividade aérea não pode prescindir de nenhum deles, por óbvio, e ainda pela amplitude que tomaram modernamente, como será explicado abaixo. Não que os demais sistemas careçam de importância para o direito aeronáutico, mas os seus contornos cabem, sem prejuízo algum, nos parágrafos que mereceram quando do estudo do CBAER, e também porque alguns voltaram ao foco quando conjugados com outros aspectos deste estudo, como, por exemplo, o Sistema de Adestramento de Pessoal, que foi comentado com mais detalhes quando se tratou das profissões da aeronáutica civil, os aeronautas e aeroviários. O segundo motivo é a dificuldade de se entender o direito aeronáutico sem conhecer a infraestrutura aeronáutica, porque, ao contrário dos outros ramos do direito, esse tem um grau de especialização tal que torna imprescindível dominar os rudimentos da atividade, assim como sua linguagem, paralelamente ao estudo da lei. Não é possível a um estudioso do direito aeronáutico perceber o fulcro da lei contando apenas com os princípios gerais orientadores da atividade normativa, vez que a atividade aérea conta com aspectos que fogem, às vezes, dos contornos habituais das relações jurídicas. Para os operadores jurídicos é importante saber os termos e jargões aeronáuticos em função do aumento de demandas envolvendo o transporte aéreo, notadamente após um acidente aeronáutico, mesmo que os relatórios de acidentes elaborados pelo CENIPA sejam elaborados com muita clareza. O terceiro motivo de se abrir um novo capítulo destinado ao aprofundamento dos conceitos da infraestrutura aeronáutica é a função didática, pois se esse estudo fosse feito no local adequado, ou seja, quando do estudo do CBAER onde está inserto, somente essa parte seria tão extensa que retiraria todo o foco do Capítulo destinado ao estudo da Lei 7.565/86, escapando da finalidade do projeto deste trabalho. Lembramos que a ementa deste curso, aprovada pela Autoridade Aeronáutica, prevê o estudo da infraestrutura aeronáutica isoladamente ao estudo do CBAER, sendo, assim, fundamental complementar o estudo com mais este capítulo, para que se forme uma ideia abrangente do que é essa infraestrutura, aperfeiçoando e consolidando o estudo das normas do direito aeronáutico. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 244 Capítulo 6 Especificamente, a importância do sistema aeroportuário deriva do fato de ser o centro das operações aéreas comerciais, e por suas características estruturais que modificam substancialmente os arredores da área onde está instalado. De fato, quando se observa um aeroporto como o de Guarulhos, em São Paulo, pode-se perceber que na verdade ele adquire os contornos de uma pequena cidade, com toda infraestrutura própria, sendo que a quantidade de pessoas que circulam mensalmente em suas dependências – passageiros, comerciantes, agentes de viagens, tripulantes, e um extenso et cetera – ultrapassa a população de alguns centros urbanos, sem contar com os funcionários que trabalham nas atividades de suporte, pois para manter um grande aeroporto em funcionamento, é necessário um pequeno exército de colaboradores. O Sistema de Proteção ao Voo também vai ter seus conceitos ampliados porque, além dos motivos já explanados (obrigatoriedade da ementa do curso), é gerenciado pelo Comando da Aeronáutica, responsável pela organização do tráfego aéreo pelos céus do Brasil, por meio do DECEA e não pela ANAC, pelo que necessita de esclarecimentos adicionais. Lembrando que o Sistema de Proteção ao Voo, como é descrito no Código Brasileiro de Aeronáutica de 1986, é chamado hoje de Sistema de Controle de Tráfego Aéreo (SISCEAB). Apenas a denominação mudou e será alterada quando da atualização do CBAER. A estrutura, inobstante, é a mesma. É despiciendo ressaltar a importância do SISCEAB. Além de toda a segurança dos que voam, não se pode esquecer que as aeronaves evoluem acima dos lares das pessoas e é de seu interesse que esse tráfego seja controlado com perfeição, mais ainda com o aumento do número de aeronaves que circulam pelas aerovias. Dessa maneira, entender as regras da navegação aérea proporciona certa tranquilidade, na medida da percepção de que todas as aeronaves em voo estão sendo rigorosamente controladas do solo. Inobstante, para o postulante a uma carreira vinculada à atividade aérea, é necessário conhecer, pelo menos rudimentarmente, os conceitos, siglas, fraseologias, estrutura, funcionamento, enfim, todos os aspectos que cercam o sistema de proteção ao voo e seus vários desdobramentos para se formar uma ideia de como funciona o tráfego aéreo – sob o ponto de vista jurídico. Em um passado recente, ocorreu no Brasil o chamado “apagão aéreo”, que sinteticamente foi uma sucessão de atrasos ocasionados por uma operação de controle rigoroso dentro dos regulamentos, por parte dos controladores de tráfego aéreo. Tal afirmação pode suscitar espanto se for feito o seguinte raciocínio: os atrasos aconteceram porque os regulamentos foram observados rigorosamente; então, quando não aconteciam atrasos, os regulamentos não eram observados? SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 245 Direito Aeronáutico Eis aqui um dos motivos porque não se pode utilizar o senso comum em aeronáutica, sob pena de se chegar a becos sem saída como esse. Na verdade, o que aconteceu foi o seguinte: os regulamentos de tráfego aéreo exigem espaçamento mínimo entre aviões, operando em determinada aerovia ou em determinada área de controle, como medida de precaução, o que autoriza a decolagem das aeronaves somente com intervalo predeterminado entre elas. O Controle de Tráfego Aéreo Brasileiro, apesar de não possuir os equipamentos mais avançados nem pessoal em número suficiente para suprir a demanda da aviação brasileira, poderia controlar, sem afetar a segurança, um número maior de aeronaves do que determina o regulamento, e assim autorizava a decolagem com uma separação em tal distância que permitia o controle sem problemas. Depois, porém, do acidente da aeronave da GOL Linhas Aéreas, em que a busca desarrazoada por culpados apontou para o Sistema de Controle de Tráfego como um dos possíveis responsáveis pelo acidente, os profissionais controladores decidiram que toda a operação seria pautada pela prudência do regulamento, o que foi feito, ou seja, as decolagens foram autorizadas somente no tempo previsto, o que ocasionou atrasos por todo o país. Como no Brasil, a opinião publicada tem mais peso que a opinião pública, como já afirmou com acerto Paulo Bonavides, os detalhes do que acontecia permaneceu na obscuridade, enquanto o sensacionalismo de aeroportos lotados guarneceu os noticiários e manchetes. Daí se pode notar a grande utilidade de se conhecer os rudimentos do tráfego aéreo para se abstrair de influências falaciosas que vicejam em nossos veículos de informação de massa. O Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos(SIPAER) foi também selecionado para aprofundamento didático por sua grande importância no contexto da atividade aérea (e por obrigatoriedade da ementa). É do interesse de todos que as aeronaves operem com segurança, cumpram com sua missão, levem os passageiros aos destinos que almejam, proporcionem reencontros, diminuam as distâncias entre as pessoas, alavanquem negócios, tragam o esperado progresso a países como o Brasil, que lutam para equilibrar a sociedade por meio do desenvolvimento. Eis que um acidente aéreo sacode a sociedade e torna o avião um instrumento contraproducente: encurta vidas, promove a separação definitiva entre as pessoas, aumenta a distância infinitamente, impede negócios, traz prejuízos para as empresas e desespero para as famílias, lança o país em comoção profunda, nega uma parcela do progresso ao país que tanto precisa e lança um manto de medo e desconfiança no transporte aéreo. Não que os outros modais de transporte não cobrem anualmente o seu preço em vidas, mas a quantidade de pessoas que podem falecer em um acidente aéreo e as condições em que ficam tem o poder de impacto muito maior que os acidentes de trânsito, sem contar que com o sensacionalismo patrocinado pela imprensa, o acidente é revestido de contornos mais trágicos ainda. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 246 Capítulo 6 Além disso, como todas as atividades que envolvem a segurança de voo se revestem de transcendental importância, conhecer em detalhes o aparato de prevenção e de investigação define a doutrina e a mentalidade de segurança de voo, pois o desconhecimento de como funciona a prevenção pode transformar uma ação bem intencionada em uma condição latente, o que, em termos do jargão do CENIPA, quer dizer a criação do pressuposto de uma situação de risco, o primeiro passo para um acidente. Como se pode perceber, os três sistemas dispostos neste capítulo devem inevitavelmente ser estudados em sequência, iniciando por essa seção, com o Sistema Aeroportuário 2. Um aeroporto é constituído por um aeródromo e pelo sistema de facilitação ao despacho de cargas e de passageiros. Assim, não há que se confundirem os dois vernáculos, aeroporto e aeródromo, pois, segundo o CBAER, o aeródromo é formado pela pista, ou área destinada a pouso, decolagem e movimentação de aeronaves, enquanto o aeroporto é formado pelo aeródromo e por um terminal de passageiros e um terminal de carga aérea, esses não na forma de meras facilidades de acesso, mas complexos com estrutura capaz de proporcionar conforto aos passageiros e segurança de sua integridade física, fiscalização de seus documentos e bagagens, suporte aos órgãos de vigilância sanitária e fiscal, acomodações adequadas, e, no que tange à carga transportada por via aérea, facilidades de manuseio e transporte pelo pátio, aduana para fiscalizar a documentação e as condições materiais, vigilância sanitária para evitar a entrada ou saída de organismos vivos indesejáveis e substâncias controladas ou patogênicas; enfim, o aeroporto deve ter capacidade para absorver, embarcar e desembarcar com segurança grande número de passageiros e grande volume de carga comercialmente. Quanto ao aeródromo em si, não é necessário que a pista seja asfaltada, recoberta com concreto, tarmac, ou qualquer outra cobertura especial para ter essa denominação, bastando que ela proporcione o espaço suficiente para uma aeronave pousar (e arremeter, em caso de treinamento ou falha, na aproximação), ao mesmo tempo em que permita a rolagem sem obstáculos ou buracos que possam danificar os pneus em caso de aeródromos terrestres, ou apresente espaço suficiente e sem objetos flutuando próximo à superfície, no caso de locais adequados ao pouso de hidroaviões. A pista terrestre pode mesmo ser recoberta de piçarras, desde que a aeronave, ao manobrar, preveja a operação nesse tipo de aeródromo e para ele esteja preparada, pois durante o pouso e a decolagem em uma pista dessa natureza, o avião pode ser atingido por detritos na hélice ou na entrada do motor, que pode parar seu funcionamento por ingestão de material estranho (FOD - Foreign 2 Sistema formado por todos os aeródromos e aeroportos brasileiros. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 247 Direito Aeronáutico Object Damage, ou dano causado por objeto estranho). Mas para pistas destinadas a receber grandes aeronaves (acima de 5.700 kg), normalmente se utiliza o método ACN-PCN, para se verificar a resistência dos pavimentos das pistas. O ACN-PCN é um método que permite notificar a resistência do pavimento por meio das seguintes informações: n° de classificação do pavimento, resistência do subleito, pressão máxima admissível dos pneus e método de avaliação. ACN significa Aircraft Classification Number (número de classe da aeronave) e PCN, Pavement Classification Number (número de classe do pavimento do aeródromo), de acordo com o RBAC 154. As pistas pavimentadas devem prever operações sob chuva, pelo que deve oferecer boas condições de atrito quando molhadas; de acordo com o RBAC 154 – Projeto de Aeródromos, as medições das características de atrito de uma pista nova ou repavimentada devem ser realizadas com um aparelho de medição de atrito contínuo, utilizando funções de autoumedecimento, de modo a garantir que os objetivos do projeto com relação às suas características de atrito tenham sido atingidos, sujeitando ou não o pavimento à necessidade de aplicação de ranhuras para escoamento rápido da água pluvial; essas ranhuras são chamadas comumente de groovings e devem ser de, aproximadamente, 0,6 mm (padrão da FAA) para que seja aperfeiçoado o comando existente na IAC 4.302 – Requisitos de Resistência à Derrapagem para Pistas de Pouso e Decolagem, editada em maio de 2001, que indica o valor do coeficiente de atrito nível de manutenção de 0,50. Tem-se, então, no aeródromo, uma pista que permite o pouso e a decolagem com segurança de aeronaves e essas estão espalhadas pelo Brasil e variam desde grandes pistas destinadas ao recebimento das maiores aeronaves até pistas improvisadas em fazendas, em campos de grama ou estradas poeirentas. Mesmo pistas mantidas pelo governo federal, em regiões de fronteira, variam no tamanho e na cobertura, como se pode inferir nas pistas não preparadas do projeto Calha Norte, em que só pousam aviões militares especiais. Na localidade de Feijó, Acre, a pista de pouso é uma das ruas da cidade; quando a aeronave planeja um voo para aquela localidade, deve avisar antecipadamente a Polícia Militar da cidade para que o trânsito de pessoas e veículos seja interrompido no horário previsto e a aeronave possa pousar. Em Pari-Cachoeira, uma das localidades do Projeto Calha Norte, no Alto Rio Negro, a pista serve de passagem a gado de corte dos criadores daquela localidade. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 248 Capítulo 6 As localizações dessas pistas no território brasileiro constam de um documento emitido pelo DECEA chamado ROTAER (ou Manual Auxiliar de Rotas Aéreas), que indica a localização da pista, ou seja, a cidade e o estado da Federação, as coordenadas geográficas da pista, a sua denominação codificada, os auxílios, as frequências desses auxílios, a orientação e o tipo de pista, as restrições e todas as informações permanentes para aquele aeródromo. O ROTAER é uma criação brasileira que ultrapassa a determinação da ICAO em confeccionar a AIP, (Aeronautical Information Publication, Publicação de Informações Aeronáuticas) que contém croquis, códigos, aerovias, limites dessas aerovias, auxílios e suas frequências, centros, controles de área e um extenso et coetera. O ROTAER, por ser apenas um volume e de pequenas dimensões, facilita a consulta rápida dos dados dos aeródromos brasileiros, tornando-se uma ferramentaextremamente útil aos aeronautas e aeronavegantes. A orientação das pistas leva em conta muitos fatores. Um dos mais importantes é o da distribuição do vento na localidade, em que se deve evitar a orientação de tal forma que o vento predominante venha do través (eixo longitudinal perpendicular) da pista; outro aspecto importante é o alinhamento da pista para permitir aproximações em conformidade com as Superfícies Limitadoras de Obstáculo, que é um volume no espaço aéreo do aeródromo e ao seu redor que deve ser mantido livre de obstáculos, de modo a permitir que as operações das aeronaves sejam conduzidas de forma segura, evitando interdições ou restrições às operações do aeródromo. De acordo com o RBAC 154 – Projetos de aeródromos, as pistas de pouso e de decolagens possuem a seguinte classificação: Pista para operação visual: são pistas que não admitem outra operação senão aproximação e pouso utilizando-se referências visuais. Pista para operação por instrumentos: são pistas habilitadas para o procedimento de aproximação por instrumentos, que se desdobram em aproximação de não precisão, provida de auxílios visuais e não visuais à navegação que fornecem, no mínimo, orientação direcional adequada para a aproximação direta e aproximação de precisão, que se subdivide em categorias e classes, a saber: a. Categoria I: pista para operação por instrumentos provida de ILS e/ou MLS 3 e auxílios visuais para operações com altitude de decisão (ponto crítico) não inferior a 60 metros (220 pés) e com visibilidade não inferior a 800 metros ou alcance visual de pista não inferior a 550 metros. 3 ILS – Instrument Landing System, sistema de pouso por instrumentos; MLS – Microwave Landing System, sistema de pouso por micro-ondas. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 249 Direito Aeronáutico b. Categoria II: pista para operação por instrumentos com as mesmas características acima, mas com altitude de decisão inferior a 60 metros, mas não inferior a 30 metros (100 pés) e alcance visual da pista não inferior a 350 metros. c. Categoria III: pista para operação por instrumentos provida de ILS/ MLS para a superfície disposto ao longo da extensão da pista e com as seguintes graduações: A – prevista para operações com altitude de decisão não inferior a 30 metros, ou sem altitude de decisão, e com um alcance visual da pista não inferior a 200 metros; B – prevista para operações com altitude de decisão inferior a 15 metros (50 pés), ou sem altitude de decisão, e com um alcance visual de pista inferior a 200 metros, mas não inferior a 50 metros; C – prevista para operações sem altitude de precisão e sem limitações de alcance visual de pista. Essas informações das pistas dos aeródromos ou dos aeroportos são mantidas atualizadas pelo DECEA, que, além disso, promove a divulgação em tempo real de modificações ocorridas no entorno da pista ou no próprio aeródromo por meio do NOTAM (Notice To Airmam, informações aos aeronavegantes), disponíveis no órgão de atendimento direto aos pilotos e despachantes que preparam o voo – a sala AIS (Aeronautical Information Service, Serviço de Informações Aeronáuticas). Além do NOTAM, esse órgão disponibiliza todas as outras informações essenciais ao planejamento do voo, de que se tratará mais adiante. Aeroportos públicos Os aeroportos públicos brasileiros são administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeronáutica – INFRAERO, que, por sua vez, subordina-se à Secretaria de Aviação Civil. A INFRAERO administra 67 aeroportos no Brasil, em seu sítio estão disponíveis os dados operacionais desses aeroportos. O órgão da ANAC que tem a competência de emitir pareceres sobre a infraestrutura aeroportuária é a Superintendência de Infraestrutura Aeroportuária, SIA. De acordo com a Resolução 110 da ANAC, compete à SIA submeter à Diretoria projetos de atos normativos ou emitir pareceres sobre as seguintes matérias: a) delegação, outorga, exploração e fiscalização de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária e dos serviços conexos, inclusive dos serviços de prevenção, salvamento e combate a incêndio em aeródromos civis, serviços auxiliares, bem como o funcionamento de estabelecimentos empresariais em áreas destinadas ao comércio apropriado para o aeroporto, exceto sobre as atividades e procedimentos relacionados com o sistema de controle de espaço aéreo e com o sistema de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos. (BRASIL, 2009). SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 250 Capítulo 6 A estrutura de um aeroporto é formada basicamente por: • área operacional, composta de pista de pouso e decolagem, pistas de táxi e manobras de aeronaves, hangares, pátio de estacionamento, área de armazenamento de combustível, terminal de passageiros e terminal de carga aérea; • controle e auxílio de tráfego, formado pela torre de controle, estação de radar, estação meteorológica e sala AIS; • segurança do aeródromo formada por uma equipe de contraincêndio e resgate e por uma equipe de controle direto de aeródromo (responsáveis para verificar in loco as condições da pista e do entorno do aeródromo, bem como fazer pequenos serviços de manutenção); • equipe de EAS (equipamento de apoio no solo); • empresas de catering (prestam serviços auxiliares de limpeza e provisões de alimentos aos aviões de passageiros); • empresas de manutenção de aeronaves. Tudo é fiscalizado pela ANAC e controlado pela INFRAERO, que também se responsabiliza pela limpeza dos terminais, pela segurança das instalações, pelo comércio dentro dos terminais, enfim, por todas as atividades que envolvem a operação de aeronaves dentro dos limites do aeroporto. Fora das atribuições da INFRAERO, mas sob seu auxílio estão os órgãos governamentais de praxe, como aduana, receita federal, vigilância sanitária e segurança velada. A utilização dos aeroportos por parte dos operadores civis está sujeita ao pagamento de taxas previstas da Lei 6.009/73, que indica em seu Artigo 2°: Art. 2°. A efetiva utilização de áreas, edifícios, instalações, equipamentos, facilidades e serviços de um aeroporto está sujeita ao pagamento referente aos preços que incidirem sobre a parte utilizada. Parágrafo único. Os preços de que trata este artigo serão pagos ao Ministério da Aeronáutica ou às entidades de Administração indireta responsável pela administração dos aeroportos e serão representadas: a) por tarifas aeroportuárias, aprovadas pela Agência Nacional de Aviação Civil, para aplicação em todo o território nacional; b) por preços específicos estabelecidos, para áreas civis de cada aeroporto, pelo órgão ou entidade responsável pela administração do aeroporto. (BRASIL, 1973). SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 251 Direito Aeronáutico As tarifas a que se refere essa Lei são as seguintes: 1. Tarifa de embarque, cobrada pela utilização do terminal de passageiros e são pagas pelo próprio passageiro. 2. Tarifa de pouso, devida pela utilização das áreas operacionais do aeroporto, valendo por 3 horas após o pouso e paga pelo proprietário ou explorador da aeronave. 3. Tarifa de permanência, que incide sobre o período que ultrapassar as 3primeiras horas após o pouso, pagas pelo proprietário ou explorador da aeronave. 4. Tarifa de armazenagem, representada pelo armazenamento, guarda e controle de mercadorias nos armazéns do aeroporto, pagas pelo consignatário da carga ou pelo transportador, em caso de carga em trânsito. 5. Tarifa de capatazia, compensatória pela movimentação e manuseio de mercadorias, pagas pelo consignatário ou pelo transportador, em caso de carga em trânsito. Apenas por boa ordem desse tópico, vale lembrar dois pontos: não há mais Ministério da Aeronáutica como indicado no parágrafo único do artigo 2° da Lei 6.009/75, massim Comando da Aeronáutica; o segundo ponto é que os recursos obtidos na cobrança das tarifas acima serão destinados ao fundo aeronáutico gerenciado pela ANAC ou constituirá receita própria das entidades da Administração Federal Indireta (INFRAERO), nos aeroportos sob sua responsabilidade. Aeroportos militares Os aeroportos militares são aqueles construídos em função do emprego e finalidade da defesa nacional, e não são administrados pela INFRAERO, e sim por autoridades militares da base aérea adjacente a eles. Mesmo assim, esses aeroportos podem ser utilizados por aeronaves civis que necessitem, por motivo de emergência, ou mesmo em situação normal, sob autorização da autoridade que o mantém sob sua égide, sendo que as aeronaves militares podem utilizar quaisquer aeródromos, sem o pagamento das taxas previstas na Lei 6.009/73. No Brasil, existem vários aeródromos compartilhados por aeroportos civis e por uma base aérea, e para esses casos a sua administração também permanece a cargo da INFRAERO, até o limite da taxiway de acesso à Base Aérea, quando a administração passa ao Comando da Aeronáutica. Todos os aeroportos brasileiros, civis e militares, públicos ou privados, são considerados estratégicos para a defesa nacional. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 252 Capítulo 6 Aeroportos privados Os aeroportos privados compreendem aqueles construídos para fruição de seu proprietário, mas sua construção, assim como todos os outros não militares, depende de prévia autorização da autoridade aeronáutica civil, a ANAC, que estabeleceu os critérios de construção e operação de aeródromos e aeroportos no RBAC 139 (Regulamento Brasileiro de Aviação Civil), Certificação Operacional de Aeroportos. Um requisito para homologação de aeroportos é o MOPS, Manual de Procedimentos Operacionais de Aeródromo, que é um conjunto de documentos publicados pelo operador do aeródromo apresentando em detalhes as regras, padrões e práticas adotadas em determinado sítio aeroportuário. As mesmas regras indicadas se aplicam aos helipontos e heliportos, com as peculiaridades da operação deste tipo de aeronave. É necessário informar que são poucos os heliportos no Brasil, sendo corriqueiro o estabelecimento de uma área junto aos aeroportos para essa aeronave – excluindo-se, por óbvio, os helipontos construídos em edifícios ou residências particulares. Entorno dos aeroportos Os aeroportos influenciam também as áreas adjacentes a eles. Para proporcionar a segurança que as operações aéreas necessitam, não é permitido o desenvolvimento de quaisquer atividades que possam prejudicar a navegação ou procedimentos. Não se pode, por exemplo, fazer reflorestamento com árvores de grande porte no alinhamento na pista, de tal forma que dificulte o pouso ou a decolagem de aeronaves pela formação de obstáculo na aproximação ou na arremetida. Pelo mesmo motivo não se pode construir antenas, campanários ou postes nesses lugares. As atividades que possam atrair pássaros também são proibidas, como o cultivo de variedades agrícolas que servem de alimento a bando de aves endêmicas ou de arribação. A Lei 12.725/12, publicada em 16 de outubro de 2012, dispõe sobre o controle da fauna nas imediações de aeródromos. O emprego de fainas primitivas de cultivo (coivara), para quaisquer cultivares que demandem fogo como técnica, não pode ser utilizado perto dos aeroportos, em função da fumaça assim produzida, que diminui a visibilidade. Os curtumes e outras atividades que envolvam o abate ou processamento de animais atraem aves sarcófagas que tendem a voar perto das rotas dos aviões e circular pelo pátio de manobras, isso também é proibido nos arredores dos aeródromos. Essas aves também são atraídas pela matéria orgânica em decomposição, advinda de lixões, aterros sanitários e esgotos. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 253 Direito Aeronáutico O chamado “perigo aviário” é causa de grande preocupação entre os aviadores e as empresas aéreas. De acordo com o CENIPA, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, além de grandes prejuízos e diversas aeronaves perdidas, 259 pessoas, entre tripulantes e passageiros, faleceram em função de acidentes decorrentes de colisão com aves. A concentração urbana nas adjacências dos aeroportos também deve ser evitada, mas nem sempre isso é possível, em função dos problemas habitacionais que grassam em todas as cidades de grande concentração urbana, são justamente as que demandam os maiores aeroportos. As pessoas que moram perto das pistas de pouso e decolagem estão sujeitas aos perigos provenientes dos aparelhos que transitam sob seus tetos a baixa altura, seja esse perigo advindo do alijamento de combustível ou lançamento de objetos por aeronaves em emergência, das próprias aeronaves que se dirigem para os aeroportos e podem cair por falha humana ou mecânica, pela exaustão dos motores das aeronaves e também pelo ruído produzido por rotores, motores e EAS utilizados nas partidas e cheques. Os EAS, Equipamentos de Apoio no Solo, são muito ruidosos, principalmente as UFT’s, Unidades de Força de Terra, destinadas às partidas nos motores, e que podem ser elétricas, com um gerador movido por um motor a combustão interna ou pneumáticas, como o chamado “Apolônio”, motor a jato de alta rotação que supre de ar sangrado a aeronave e é utilizado em partidas de grandes motores. Outro motivo para se manter residências afastadas de aeródromos é a presença de produtos químicos utilizados em manutenção de componentes de aeronaves, que, sem o devido cuidado, podem causar acidentes graves em quem os manuseie sem os devidos EPI (equipamentos de proteção individual). Algumas aeronaves possuem ainda componentes com elementos radiativos os quais, uma vez incorretamente manuseados pelas equipes de manutenção, levam alto risco às pessoas que estão perto das oficinas de aeronaves próximas ao aeródromo. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 254 Capítulo 6 Seção 2 Sistema de Controle do Tráfego Aéreo no Brasil (SISCEAB) Esse sistema compõe-se de todas as atividades que proporcionam suporte à atividade aérea regular por meio do controle, facilitação, coordenação, assistência e, em caso de acidentes, de busca e salvamento. Os tópicos a seguir indicam o estudo de alguns desses serviços, da maneira com que está previsto no Código Brasileiro de Aeronáutica, destacando suas peculiaridades. Controle de tráfego aéreo O controle de tráfego aéreo do Brasil, assim como todo o Sistema de Proteção ao Voo, está sob a égide do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), subordinado ao Comando da Aeronáutica, que, por sua vez, compõe com o Comando do Exército e Marinha, o Ministério da Defesa. O DECEA é um órgão governamental militar e é responsável pelo gerenciamento de todo o espaço aéreo brasileiro. A principal tarefa do DECEA é envidar esforços na organização do tráfego de aeronaves, visando à regularidade, segurança e eficácia da atividade aérea, nos céus do Brasil. As unidades principais do DECEA são os CINDACTAS, Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo, em número de 4: 1. CINDACTA I, localizado em Brasília; 2. CINDACTA II, em Curitiba; 3. CINDACTA III em Recife; 4. CINDACTA IV, em Manaus. Esses centros têm por missão o gerenciamento do tráfego aéreo militar e civil, a defesa aérea, as informações aeronáuticas, a meteorologia aeronáutica e a coordenação de busca e salvamento. Os CINDACTAs são centros “integrados” porque são formados: • pelo controle de tráfego aéreo; • pelo controle das operações de defesa aérea; • pelo controle das operações de busca e salvamento utilizando meios aéreos. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018.255 Direito Aeronáutico Quanto à defesa aérea, os CINDACTAs cobrem, cada um, parte do território nacional. A coordenação geral está a cargo do COMDABRA, Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro, instalado em Brasília. Para a aviação civil, estão nos CINDACTASs instalados os ACC`s (Area Control Center), os Centros de Controle de Área, responsáveis pelo controle de tráfego na região em que se situam, ou seja, o ACC-CW, de Curitiba é responsável pelo tráfego do sul do Brasil, parte do sudeste e do centro-oeste, o ACC-RF, em Recife pelo nordeste, o ACC-AZ, em Manaus, pelo norte e o ACC-BR, em Brasília, pelo centro-oeste e sudeste. Outro importante órgão de controle é o SRPV- SP, ou Serviço de Proteção ao Voo de São Paulo, que manteve sua estrutura e denominação por gerenciar a área de maior tráfego aéreo do país, o eixo Rio de Janeiro – São Paulo, o famoso “Tubulão”. Há um quinto ACC, o ACC-AO, ou Atlântico, responsável pelo controle das aeronaves que trafegam naquele setor em demanda da Europa ou da África, desde a costa brasileira até o meridiano 10° W; está sediado também em Recife, no CINDACTA III. Vale a pena um comentário acerca desse último ACC, o ACC-AO: até julho de 2008, o controle era feito principalmente pelas comunicações das posições disponibilizadas pelos pilotos em contato por HF, (High Frequence, Alta Frequência), que, apesar de ter longo alcance, não permite total clareza na comunicação, por interferências atmosféricas, vez que essa faixa de frequência utiliza a ionosfera para refletir as ondas portadoras. Esse fato deixava controladores e tripulantes com certa ansiedade pela possibilidade de falhas no controle da posição da aeronave sobre o oceano Atlântico. O DECEA, que sempre envidou esforços no sentido de ampliar a segurança das operações aéreas, buscou a solução em um sistema utilizado com êxito no projeto SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia: o FANS (Future Air Navigation System, Sistema de Navegação Aérea do Futuro) que foi testado e passou a operar no ACC-AO. Trata-se esse sistema do ADS/CPDLC (Automatic Dependent Surveillance/ Controller Pilot Data Link Communication), sistema de tratamento, transferência e visualização de dados de voo. Em outras palavras, os dados de posição da aeronave são digitalizados por um equipamento dentro da aeronave e enviados para um satélite. Desses são repassados para um processador que pertence a uma empresa privada, desenvolvedora do sistema. Os dados são então digitalizados e disponibilizados na rede interna da aeronáutica brasileira. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 256 Capítulo 6 Segundo o DECEA, esse sistema possibilita, além de disponibilizar as posições mais acuradas e em tempo real aos controladores, a substituição das comunicações entre os pilotos e os órgãos de controle, diminuindo a carga de trabalho para ambos. Além disso, pode permitir o envio de mensagens de texto, transferência de comunicação entre centros por transmissão de dados digitais (data link) no lugar de voz, assim como a substituição dos contatos iniciais feitos pela aeronave. Para que as empresas aéreas possam usufruir deste novo meio de controle, principalmente aquelas que navegam no corredor EUR/SAM (Europa – América do Sul), terão que equipar suas aeronaves com os meios necessários e adequados à operação do FANS, o que, segundo o DECEA, já está ocorrendo com as companhias que operam neste setor (Atlântico). Voltando à estrutura do controle de tráfego aéreo, essa é formada pelos ACC indicados acima, que monitoram e se responsabilizam por determinadas áreas do espaço aéreo brasileiro (no caso do sul do Brasil, o controle é feito pelo ACC- CW). As regiões sobre responsabilidade de cada CINDACTA são chamadas FIR (Flight Information Region), Regiões de Informações de Voo. A seguinte imagem indica a divisão do território nacional em FIR’s englobando a FIR-AO: Figura 6.1 – FIR (Regiões de Informações de Voo) Fonte: Aeromagazine, 2013. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 257 Direito Aeronáutico Dentro dos ACCs estão os APPs (Aproach Control Service), controle de aproximação dos aeroportos, esses acompanham aeronaves que adentram ou estão na sua terminal, ou seja, em uma área com 40 milhas de raio, em média, a partir do aeroporto, a área de jurisdição do APP é o espaço aéreo denominado Área de Controle de Terminal, (TMA), ou Zona de Controle (CTR). Atualmente, há 47 APP’s instalados no Brasil, e ainda há as torres de controle (TWR- Tower), que, em grandes aeroportos, desdobram-se em três posições de controle: • Clearance: é responsável por autorizar o acionamento dos motores da aeronave, normalmente por meio do primeiro contato com o controle; • Ground, ou solo, autoriza o táxi da aeronave, indicando as pistas auxiliares que ela deve seguir para chegar à posição de ingresso na pista principal; • Tower, ou torre de controle propriamente dita, autoriza o ingresso na pista de decolagem e acompanha a aeronave nos primeiros momentos após esse ato. Assim, a TWR (com ou sem seus desdobramentos, a depender das exigências do aeródromo) é responsável pelo controle das aeronaves em manobras no pátio de estacionamento, taxiways, pista de pouso e decolagem, e também por aquelas que já estão em contato visual com a pista e se preparam para o pouso. As comunicações iniciais de um voo são feitas com a torre, com o pedido de acionamento dos motores, assim como, em aeroportos que não tenham o serviço de coordenação no solo, da comunicação final, precedendo o corte dos motores. É também a TWR que transmite as informações das condições do campo, junto aos dados meteorológicos em aeródromos que não possuem ATIS, ou mesmo quando esse serviço não está em funcionamento. Complementando a estrutura de apoio às aeronaves dentro dos aeroportos, há uma sala reservada ao planejamento e à entrega do plano de voo, chamada sala AIS (Aeronautical Information Service, Serviço de Informações Aeronáuticas), normalmente com a entrada voltada à área operacional e designada com um “C” maiúsculo, em um fundo quadrangular amarelo. Nessa sala, o DECEA disponibiliza todas as facilidades aos tripulantes, como computadores para visualização das condições meteorológicas da rota, as cartas de vento, os METARES e SPECI das localidades, do NOTAM, enfim, de todas as informações necessárias ao planejamento do voo. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 258 Capítulo 6 É necessário ressaltar que os órgãos de controle devem monitorar a aeronave o tempo todo da navegação, como uma medida de prudência para minimizar os erros e as falhas do radar. Nesse sentido, Pacheco (2006, p. 433) ensina: A OACI recomenda aos controladores que a vetoração de aeronaves deve ser efetuada ao longo da rota, na qual o piloto possa realizar a sua própria navegação, ou fazer conferência desta navegação, de tempo a tempo, com referência à interpretação dos auxílios à navegação (Doc. 444-0 Parte X – item n° 1.7.1). Normalmente, esse acompanhamento se faz da seguinte forma: ao longo das aerovias há pontos fixos que as aeronaves devem sobrevoar; quando o plano de voo é submetido aos órgãos de controle, os fixos são informados bem como o horário estimado em que a aeronave vai sobrevoá-los. Quando da navegação, as condições atmosféricas podem interferir na velocidade do aparelho, notadamente o vento, que, se estiver vindo de proa, vai atrasar o avião, enquanto se vier de popa, vai adiantá-lo. Assim a navegação progride com atualização do horário estimado de sobrevoo nos pontos fixos informados, e quando a aeronave bloqueia tal fixo (sobrevoa o fixo), imediatamente informa os órgãos de controle e indica o horário estimado para o bloqueio do próximo fixo. Se passar um tempo razoável do horário em que a aeronave deveria bloqueardeterminado fixo e não se comunicou, o controlador que estiver responsável por aquela aeronave entrará em contato com ela imediatamente e, em caso de insucesso, iniciará um procedimento visando a restabelecer o contato; como a comunicação pode ter sido interrompida pela distância da aeronave ao órgão de controle ou pelo alcance restrito do equipamento, o controlador responsável, após chamar sem sucesso determinado número de vezes a aeronave sob sua responsabilidade, contatará algum órgão de controle mais próximo ao local estimado da aeronave para que tente o contato. Outra possibilidade é solicitar a outra aeronave que esteja em contato com o controlador e ao mesmo tempo próxima da aeronave sem comunicação, para que tente chamá-la - um procedimento chamado “ponte”. Em caso de sucesso da ponte, o controlador passa as informações de controle e alerta, por meio da aeronave, ou mesmo designa outra frequência para que a comunicação se restabeleça e o controle se aperfeiçoe. Em caso de fracasso em todas as tentativas, o controle de tráfego informa o Salvaero, ou RCC (Rescue Coordination Center, Centro de Coordenação de Salvamento) da perda do controle e do possível desaparecimento de uma aeronave. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 259 Direito Aeronáutico O Controlador de Tráfego Aéreo A segurança das operações aéreas depende da observância de todos os aspectos que envolvem a sua evolução, mas, por óbvio, é nos momentos em que a aeronave acionada se prepara para voar, durante o voo e após o seu pouso que existe a maior potencialidade de ocorrência de acidentes ou incidentes graves, mais do que durante as manobras no solo. São nesses momentos que o Controlador de Tráfego Aéreo demonstra toda a sua importância, como um dos responsáveis pelo aparato de segurança em que se deve revestir a atividade aérea, vez que de nada adianta todo o cuidado no fabrico de aeronaves, na construção de aeródromos seguros, no treinamento, na preparação para o voo, no planejamento se, durante os momentos mais críticos de toda a operação, não houver um profissional para orientar os tripulantes acerca da melhor utilização dos auxílios e alertá-los acerca das condições latentes que demandam a melhor decisão para o momento. Imagine-se o espaço aéreo de uma grande cidade como Rio de Janeiro ou São Paulo em que as aeronaves circulassem sem organização ou preferência – mesmo obedecendo às regras de tráfego aéreo preestabelecidas – e se pode ter uma ideia da importância desse profissional. O Controlador de Tráfego Aéreo é formado pela Escola de Especialistas de Aeronáutica de Guaratinguetá, São Paulo, quando ingressam na carreira militar e se especializam nessa área. Os Controladores civis são formados pelo ICEA, Instituto de Controle do Espaço Aéreo de São José dos Campos, órgão do DECEA, que também promove a formação avançada para os controladores de carreira, tanto militares quanto civis. De acordo com Motter (2007, p. 28): O controlador de tráfego aéreo ó o principal protagonista de todos os tráfegos aéreos correntes (aeronaves prontas para pouso e decolagem) e pendentes (aeronaves que estão em espera para pouso e decolagem) e, como tal, também responsável por uma série de informações referentes a eles. Para a realização de sua função, executa uma série de tarefas que totalizaram 83 tarefas diferentes no estudo realizado em 1987 no CINDACTA I, em Brasília. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 260 Capítulo 6 O trabalho do controlador demanda alta capacidade de cognição, além de raciocínio rápido e preciso, visto que o tempo de reação perante as diversas possibilidades de alteração no curso normal do trabalho é muito curto. Além disso, devem ser proficientes na fraseologia padrão utilizada no meio aeronáutico e dominar a língua inglesa. Nesse sentido, ensinam Moreira e Vidal (apud MOTTER, 2007, p. 29): Devido ao elevado nível de tarefas cognitivas, o trabalho do controlador de tráfego aéreo demanda grande carga mental e emocional, pois é ele quem toma as decisões finais, o que, quase sempre, deve ser feito em tempo restrito. É uma função que exige agilidade intelectual, velocidade de raciocínio, boa resistência ao estresse e capacidade de adaptação. Por isso ele é considerado, na Europa, Artesanato Intelectual. Os controladores de tráfego aéreo exercem sua função precipuamente em três órgãos do sistema de controle de tráfego aéreo: no Centro de Controle de Área (ACC), no Centro de Controle de Aproximação (APP) e na Torre de Controle (TWR). Os controladores militares podem ser chamados ao trabalho em qualquer parte do território nacional. Esse fato, aliado ao treinamento padrão e a cursos de nivelamento e reciclagem constantes, promovidos pelo DECEA, proporcionam a esse profissional uma visão abrangente da realidade aeronáutica pátria; sendo o Brasil um país com dimensões continentais, tal fato constitui uma segurança a mais aos que navegam por nosso espaço aéreo, posto que os procedimentos e a fraseologia pouco ou nada se alteram em qualquer parte do território. O Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea O órgão dentro do DECEA que tem a missão direta do gerenciamento e organização do tráfego aéreo é o CGNA, Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea, que analisa, por exemplo, os planos de voos apresentados nas diversas salas AIS do país; esse órgão cumpre sua tarefa por meio do “balanceamento entre demanda e capacidade da infraestrutura aeronáutica brasileira, para assegurar a máxima eficácia do transporte aéreo no Brasil, permitindo que as aeronaves cumpram seus perfis ideais de voo, sem espera no solo ou no ar” (DECEA, CGNA, disponível em: <www.decea.gov.br>). A organização do espaço aéreo obedece à sua divisão em três modalidades, de acordo com o grau de controle sobre o mesmo: SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. http://www.decea.gov.br 261 Direito Aeronáutico • O Espaço Aéreo Controlado: Todos os movimentos aéreos são controlados por um órgão de tráfego aéreo, no qual os pilotos são orientados a cumprir manobras preestabelecidas, com o objetivo de garantir a segurança dos voos das aeronaves. Esses espaços têm denominações como Aerovias (AWY), Áreas de Controle (TMA) e Zonas de Controle (CTR). • O Espaço Aéreo Não Controlado: As aeronaves voam em ambiente parcialmente conhecido e sujeitas às regras do ar, porém, não existe a prestação do serviço de controle do tráfego aéreo. São fornecidos, somente, os serviços de informação de voo e de alerta. • O Espaço Aéreo Condicionado: Define ambientes onde são realizadas atividades específicas que não permitem a aplicação dos serviços de tráfego aéreo. Resumindo: a. Espaço Aéreo Controlado: » ATZ: Zonas de Tráfego de Aeródromo » CTR: Zona de Controle de Tráfego » TMA: Área de Controle Terminal » CTA: Área de Controle » UTA: Área de Controle Superior b. Região de Informação de Voo (espaço aéreo não controlado): FIR – Região de Informação de Voo c. Espaço Aéreo Condicionado: » Áreas Proibidas » Áreas Restritas » Áreas Perigosas É também atribuição do CGNA a responsabilidade pela implantação e ampliação dos conceitos de RVSM, Redução Vertical Separação Mínima e da RNP, Performance de Navegação Requerida, estabelecida em âmbito mundial e que permitirá o aumento da capacidade de utilização do espaço aéreo. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 262 Capítulo 6 Todos esses procedimentos e regras estão dispostos em uma regulamentação própria, publicada pelo Comando da Aeronáutica. Trata-se das ICAs (Instrução do Comando da Aeronáutica) 100-12, Regras do Ar, reedição de 2013, aprovada pela Portaria DECEA n° 82/SDOP13, 100-22, Gerenciamento de Fluxo Aeronáutico, aprovadapela Portaria DECEA nº 17/SDOP/10, 100-37, Serviços de Tráfego Aéreo, aprovada pela Portaria DECEA 35/DGCEA/16, que devem ser conhecidas dos aeronavegantes para obtenção de suas licenças. Também os controladores de tráfego se pautarão nela para a coordenação do espaço aéreo brasileiro. As bases normativas internacionais dessas ICAs estão indicadas em suas disposições preliminares, como, a exemplo da ICA 100-12 (2013, p. 22): A presente publicação tem por finalidade regulamentar, no Brasil, as Regras do Ar previstas no Anexo 2 à Convenção de Aviação Civil Internacional. Os procedimentos aqui descritos, de observância obrigatória, aplicam-se aos órgãos do SISCEAB e usuários do Espaço aéreo sob jurisdição do Brasil. Essa ICA também indica a responsabilidade do Brasil no tocante ao Controle do Espaço Aéreo sobre águas internacionais às adjacências do território brasileiro, consoante a disposição (2013, p. 22): O artigo 12 da Convenção de Aviação de Aviação Civil Internacional prevê que as Regras do Ar sejam cumpridas, sem exceção, sobre águas internacionais. Assim, caso algum procedimento relativo a tais práticas internacionais esteja previsto de forma diferente na regulamentação nacional, aqueles padrões internacionais serão descritos em publicação específica, a fim de serem aplicados aos voos realizados em alto-mar. Cartografia aeronáutica A cartografia aeronáutica também é responsabilidade do DECEA, por meio do ICA, Instituto de Cartografia Aeronáutica (não confundir o ICA com a ICA, Instrução do Comando da Aeronáutica), responsável pela confecção das diversas publicações de procedimentos aeronáuticos (em sentido amplo), para utilização no espaço aéreo brasileiro e cada passo da navegação aérea obedece a parâmetros estabelecidos nessas instruções publicadas pelo ICA. Entre essas cartas, destacam-se as seguintes: • PDC (Parking Docking Chart): é o croqui da área de estacionamento do aeroporto, que indica os acessos, os portões de embarque e desembarque, as frequências do solo e da torre; SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 263 Direito Aeronáutico • SID (Standard Instrument Departure): indica os procedimentos de saída após a decolagem do aeródromo, no qual é indicado o ponto fixo que o piloto deve conduzir sua aeronave; • VAC (Visual Aproach Chart): carta de procedimentos para pouso visual, utilizado quando as condições meteorológicas permitem uma aproximação e pouso com referências visuais, ou seja, sem o auxílio de instrumentos ou dos órgãos de controle; • IAC (Instrument Aproach Chart): utilizada para orientar o piloto em manobras sobre o campo, quando as condições meteorológicas não permitem a visibilidade do aeródromo (ou mesmo em voo noturno); • WAC (World Aeronautical Chart): Carta Aeronáutica Mundial, padrão OACI, para serem usadas na navegação, utilizando-se referências visuais do terreno. Mesmo os procedimentos de chegada em aeródromos são padronizados por meio das STARs (Standard Instrument Arrival), chegada padrão por instrumentos, que têm por finalidade organizar as diversas aeronaves que se dirigem ao mesmo aeródromo e também são confeccionadas pelo ICA. Interligando os aeródromos há as aerovias (AWY - airway), que são rotas definidas em forma de corredores aéreos, devendo ser seguidas pelas aeronaves. De acordo com o ICA 100-12 de 2013, as aerovias possuem dois níveis: 1. Superior, com limites verticais a partir de 24.500 pés de altitude, até o limite da camada de ar, limites horizontais de 43 NM (nautics miles, milhas náuticas), equivalente a 80 km de largura, estreitando- se a partir de 216 NM (400km), antes do auxílio à navegação e atingindo sobre este a largura 21,5 NM (40 km); 2. Inferior, com limites verticais abaixo de 24.500 pés de altitude até 1500 pés sobre o terreno, variando de localidade para localidade, e limites horizontais de 16 NM (30km), estreitando-se a partir de 54 NM antes do auxílio à navegação e atingindo sobre esse a largura de 8 NM (15km). As aerovias superiores entre dois auxílios à navegação, distantes entre si até 108 NM (200 km), terão a largura de 21,4 NM (40 km), em toda a sua extensão. As aerovias inferiores entre dois auxílios à navegação distantes entre si até 54NM (100 km) terão largura de 11 NM (20 km) em toda sua extensão. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 264 Capítulo 6 O ICA publica uma carta específica à indicação das aerovias, chamadas de ENRC (Enroute Chart, Carta de Rota): essas se classificam em L1 e L2, que mostram as aerovias inferiores existentes na área do litoral brasileiro (até o Maranhão), todo o sul, todo o sudeste, uma parte do centro-oeste e grande parte do nordeste; L3 e L4, as quais indicam as aerovias nas demais áreas brasileiras; por fim, H1, H2, H3 e H4 indicam as aerovias superiores nas mesmas áreas indicadas pelas “L”. Todas são publicadas pelo ICA. As aerovias podem ser navegadas por instrumentos ou ser navegadas visualmente, quando, então, são utilizadas as WAC, já citadas, junto aos auxílios próprios. Todas essas cartas, assim como as chamadas Cartas D`água, as cartas utilizadas em patrulha ou busca marítima, são impressas pelo ICA. Quanto à WAC, está em andamento o processo de desativação deste auxílio. Os pilotos e navegadores devem ser proficientes em todas essas instruções para que operem com segurança os aviões, vez que as cartas são importantes auxílios para a navegação, inobstante as informações acerca dos fixos e de suas frequências constarem das memórias dos equipamentos de navegação mais modernos, que navegam e orientam a aeronave a voar diretamente para eles. Meteorologia aeronáutica O DECEA também administra o serviço de meteorologia aeronáutica por meio de seus centros especializados nessa função. O órgão principal é o CNMA, Centro Nacional de Meteorologia Aeronáutica, localizado em Brasília, que faz parte do Sistema Mundial de Previsão de Área (WAFS) da OACI. O CNMA é responsável por receber, armazenar, processar e divulgar os dados globais do tempo significativo e prognóstico de vento e temperatura de altitude. O acesso a esses dados atualizados é possível na página na internet da Redemet, Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica, no qual se podem obter imagens de satélite, cartas de vento, cartas SIGWX (Significant Weather; condições de tempo significativas ) que são cartas de prognóstico de tempo da superfície ao nível de 25.000 pés, cartas auxiliares, nas quais são plotadas informações obtidas pelas radiossondagens e demais informações sobre o tempo. A seguir, como exemplo, uma imagem de satélite disponibilizada pelo Redemet do sul do Brasil, no instante em que essas linhas são escritas (as esferas representam localidades): SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 265 Direito Aeronáutico Figura 6.2 - Imagem de satélite do sul da América do Sul Fonte: REDEMET, 2016. Aos aeronavegantes são disponibilizadas as condições dos aeródromos normalmente de hora em hora (e eventualmente de acordo com a necessidade), por meio da observação dos instrumentos meteorológicos por parte dos especialistas e divulgadas pelos Informes Meteorológicos Aeronáuticos, conhecidos como METAR, TAF e SPECI. O METAR é um informe baseado na observação das condições efetuadas de hora em hora e disponibilizado nas horas inteiras; quando as condições mudam repentinamente e com uma amplitude que pode influenciar na segurança de voo, é emitido um SPECI, que, apesar de ser baseado também em observações das condições do tempo em determinado aeródromo, é emitido logo após a emergência das novas condições; o TAF, por sua vez, baseia em prognósticos, ou seja, é uma previsão de tempo para determinado aeródromo. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual,2018. 266 Capítulo 6 Eis o METAR do Aeroporto Hercílio Luz neste momento: SBFL 181800 02010KT CAVOK 28/// Q1016. Isso significa: Metar do Aeroporto Hercílio Luz em Florianópolis, do dia 18 às 18:00 horas (zulu ou UTC, ou o horário do meridiano de Greenwich, perto de Londres, 3 horas a mais em relação ao Brasil), vento vindo da direção 020° (dos 360 ° possíveis) com velocidade de 10 knots (milhas por hora) visibilidade maior que dez quilômetros e com nenhuma nuvem abaixo de 1.500 metros da altura mínima do setor mais elevado, e o ajuste do altímetro (de acordo com a pressão atmosférica em Florianópolis para dar precisão àquele instrumento) em 1016 hPa, ou mm/Hg. Esses dados são repassados também pelos órgãos de controle às aeronaves que se estão sob sua responsabilidade, e em caso da necessidade de se saber as condições do tempo em alternativas (que são aeródromos utilizados caso o destino esteja sem condições de pouso), há a possibilidade de se entrar em contato via rádio, diretamente com as estações meteorológicas em todos os centros de controle que informarão as condições solicitadas. Além da possibilidade de acesso às informações meteorológicas na sala AIS, ou mesmo por meio dos órgãos de controle que estão em comunicação bilateral com a aeronave, há a possibilidade de se sintonizar a frequência do ATIS (Automatic Terminal Information Service, Serviço Automático de Informações do Terminal), onde está situado o aeroporto, que vai repassar as condições do campo além de outras informações consideradas relevantes aos aeronavegantes. O Grupo Especial de Inspeção de Voo O DECEA mantém a operacionalidade dos órgãos de controle de espaço aéreo dos aeroportos por meio da constante atualização de seus quadros de pessoal, da implementação de novas tecnologias aplicadas ao controle de tráfego e das inspeções constantes aos sistemas. Para essa última tarefa, o DECEA mantém um esquadrão de voo especializado nessas inspeções operacionais, o GEIV (Grupo Especial de Inspeção de Voo), cuja missão é “aferir e inspecionar todos os equipamentos de auxílio à navegação aérea, verificando a operacionalidade do SISCEAB como um todo”. (DECEA, [201?]). O GEIV opera com dez aviões laboratórios, sendo 4 jatos Hawker EU93A de alta performance e 6 turbo-hélices Bandeirante. Essas aeronaves transportam laboratórios de precisão operados por militares qualificados para checar todos os equipamentos de controle de tráfego. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 267 Direito Aeronáutico Segundo a página do DECEA, na internet, O GEIV voa todo ano, praticamente todos os dias, inspecionando periodicamente equipamentos de comunicação, de trajetória de aproximação visual (VASIS/AVASIS), de trajetória de aproximação de precisão (PAPIS), de recalada (VHF- DF), omnidirecionais em VHF (VOR), medidores de distância (DME), além de aferir sistemas de pouso por instrumentos (ILS), sistemas de luzes de aproximação (ALS), radiofaróis não direcionais (NDB), radares (primário e secundário) e radares de aproximação de precisão (PAR), perfazendo um total de aproximadamente 900 equipamentos de auxílio à navegação aérea em todo território nacional. Cada um desses 900 equipamentos deve ser aferido, no mínimo, a cada dois meses e, no máximo, a cada seis. A unidade também realiza inspeções em voo, eventualmente, em outros países da América do Sul, por meio de contratos firmados internacionalmente. O GEIV também contribui para depurar as faixas de frequências utilizadas em comunicações bilaterais controle/aeronave contra interferências ilícitas. De fato, o controle do espaço aéreo é feito quase totalmente por comunicações via VHF, em determinadas e exclusivas faixas de frequência e essas faixas têm sofrido constante interferência por parte de equipamentos de outras naturezas, como rádios comunitárias, redes industriais e outras. O GEIV monitora essas frequências para estabelecer a localização da fonte para modificar ou suprimir essa atividade que interfere nas comunicações aeronáuticas, vez que isso pode causar um acidente de grandes proporções como na hipótese de um engano por parte do piloto, causado por uma mensagem que continha instruções cruciais tornadas ininteligíveis por interferência ilícita. Busca e Salvamento Data de 1947, a mobilização no sentido de viabilizar um serviço de busca e salvamento no Brasil, quando foi estabelecida a Comissão Organizadora de Busca e Salvamento, o que resultou na criação do Serviço de Busca e Salvamento Aeronáutico Nacional, aprovado pela Portaria Ministerial n° 324, de dezembro de 1950. Foi esse um reflexo das determinações da OACI (Anexo 12 da Convenção da Aviação Civil Internacional de Chicago de 1944). A evolução do serviço de busca e salvamento levou à instituição do Sistema SAR Aeronáutico, o SISSAR. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 268 Capítulo 6 O órgão máximo do SISSAR é o DECEA, que coordena as informações e tarefas e faz a supervisão operacional das atividades por meio da Divisão de Busca e Salvamento, D-SAR. As ações de busca e salvamento são gerenciadas diretamente pelos cinco RCCs 4, órgãos regionais responsáveis pela coordenação das atividades. Também chamados Salvaero, são esses centros que acionam os esquadrões de busca e proporcionam todas as informações sobre o objeto da busca ou do resgate e estão localizados em pontos estratégicos do território nacional: • RCC-AZ: Salvaero Amazônico, em Manaus; • RCC-RE: Salvaero Recife; • RCC-BS: Salvaero Brasília; • RCC-CW: Salvaero Curitiba; • RCC-AO: Salvaero Atlântico, também em Recife. O Brasil também é beneficiário do Sistema Internacional de Busca e Salvamento por Rastreamento de Satélite, o COSPAS-SARSAT. Trata-se de uma rede de satélites em órbitas diversas, que pode receber sinais de emergências dos equipamentos aptos a transmitir esses sinais, que são, ordinariamente de três tipos: 1. ELT: Emergency Locator Transmiter, transmissor localizador de emergência, utilizado em aeronaves; 2. EPIRB: Emergency Positionindicating Radio Beacon, Rádio-baliza indicador de posição em emergência, utilizado em navios; 3. PLB: Personal Locator Beacon, baliza localizadora pessoal, equipamento individual. Os sinais dessas balizas serão retransmitidos a uma estação de monitoramento chamada LUT, (Local User Terminal), que é uma Estação de Rastreamento de Satélites, a qual repassa a informações ao MCC (Mission Control Center), esse, por sua vez, transmite as informações aos RCC’s, acionando os especialistas na busca e resgate, para se dirigirem ao local e comandar as providências iniciais de toda a operação que será detalhada adiante. Dessa forma, além da tarefa de controlar e gerenciar o espaço aéreo brasileiro, o DECEA ainda coordena o Sistema de Busca, Assistência e Salvamento prestado pelos órgãos oficiais pátrios. Esse sistema é integrado, além do DECEA (por meio dos RCC’s, Rescue Coordinator Center, Centro de Coordenação de Resgate, sediados nos CINDACTA’s), pelos esquadrões de patrulha, de busca e resgate da Força Aérea Brasileira. 4 Rescue Coordination Center, Centro de Coordenação de Salvamento, também localizados um em cada CINDACTA de Brasília, Curitiba, Manaus e dois no CINDACTA III em Recife. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 269 Direito Aeronáutico A tarefa da coordenação cabe ao DECEA, por meio dos RCC’s, também são chamados de Salvaero. São esses órgãos que recebem os alertas a respeito do desaparecimento de aeronaves ou embarcações e, depois de acionar preliminarmente um esquadrão de busca, (para que esse prepare uma aeronave na configuração adequada e acione a tripulação de sobreaviso), confirma os dados a respeito do possível acidente, prepara um padrão de busca a ser cotejado com o esquadrão e então autoriza aprimeira decolagem para a busca. Acidentes ocorridos em aeroportos ou em suas proximidades, assim como em zonas povoadas normalmente são atendidos por equipes do Corpo de Bombeiros Militares, que possuem treinamento para atendimento às vítimas e ao controle de danos em áreas urbanas, mas as partes mais remotas do Brasil, como a Amazônia, o Pantanal e o litoral afastado do continente são monitoradas constantemente pelos órgãos de controle do espaço aéreo brasileiro, os quais gerenciam equipes especializadas em busca e salvamento nessas áreas, chamadas equipes SAR (Search and Rescue, busca e salvamento). O Brasil conta com militares da Força Aérea que se especializaram nesta tarefa de busca e resgate nos ambientes extremos do Brasil, como, por exemplo, a Amazônia: os homens que trabalham nesta região tornam- se especialistas em sobreviver, orientar-se, buscar e resgatar pessoas, contando apenas com os recursos da floresta, notadamente após o curso do prestigioso Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) do Exército Brasileiro. Esse duríssimo curso leva em torno de três meses e os homens formados naquela instituição têm proficiência na hileia, um ambiente altamente hostil aos que desconhecem os rudimentos da sobrevivência neste meio. A operação no pantanal também demanda treinamento e adaptação àquela área. Quanto ao litoral brasileiro, esse também é guarnecido por equipes treinadas em sobrevivência e resgate no mar, como as do Esquadrão Pelicano, que, apesar de estar sediado em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, possui tripulações especialistas em sobrevivência no mar e em busca neste ambiente. Esse Esquadrão opera o novíssimo C-105 Amazonas adaptado à missão de busca e resgate. Essas aeronaves permitem deslocamento rápido e proficiência nos vários meios em que o Esquadrão atua. A 5ª Força Aérea também possui tripulações para operar o C-130 Hércules, aeronave de grande autonomia, adaptada para missões de busca em alto mar, operando do Rio de Janeiro, a partir da Ala 11 (Galeão). SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 270 Capítulo 6 A proteção do litoral brasileiro é complementada pelos três Esquadrões de Patrulha Marítima da Força Aérea Brasileira, sediados na: 1. Ala 14, em Salvador, na Bahia, (1°/7° GAv, Esquadrão Orungan); 2. Ala 3, em Canoas, Rio Grande do Sul (2°/7° GAv, Esquadrão Phoenix); e 3. Ala 9, em Belém, no Pará (3°/7° GAv, Esquadrão Netuno) 5. O Esquadrão Phoenix e o Netuno operam a aeronave P-95 A/B chamado Bandeirulha, eis que é um bandeirante (EMB-111) adaptado à patrulha marítima. O Esquadrão Orungan está operando a aeronave P-3 Orion. Os esquadrões de helicópteros das Alas em Belém, Manaus e Campo Grande mantêm equipes de sobreaviso em lugares estratégicos para atender a qualquer emergência na selva ou no pantanal. Os homens componentes dessas equipes possuem a honrosa qualificação de Observadores SAR, o que significa que além de ser especializado em busca e observação, também possuem treinamento de resgate. É necessário dizer que esses homens têm altíssimo profissionalismo e o tempo para formar um deles varia de três a cinco anos de cursos intensivos e treinamentos exaurientes, tais como paraquedismo, sobrevivência no mar, sobrevivência na selva, sobrevivência na caatinga, alpinismo e primeiros socorros. São esses os homens que, acionados em qualquer hora do dia, deslocam-se rapidamente em aeronaves da Força Aérea para qualquer lugar do Brasil, onde seus serviços são necessários, e, normalmente, são os primeiros a chegar aos locais dos acidentes ocorridos em locais remotos. Não são raros os relatos de sobreviventes a respeito desses homens abnegados que surgem no local do acidente levando a esperança aos que já haviam perdido, com a simples frase “bom dia senhor, sou do resgate, vim ajudá-lo”. Esses são os meios ordinários de busca e salvamento, complementados pelo sistema COSPAS-SARSAT de monitoração de acidentes, que funciona de acordo com a seguinte figura: 5 Alas são as antigas Bases Aéreas. Esta nova denominação foi criada com a reestruturação da Força Aérea Brasileira. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 271 Direito Aeronáutico Figura 6.3 - COSPAS-SARSAT Fonte: BRMCC [2017]. Conforme informado, as aeronaves, embarcações ou tripulantes possuem balizas eletrônicas (ELT, PLB, EPIRB) capazes de emitirem sinais nas frequências de emergência 121,5; 234,0 e 406,0. Esses aparelhos possuem mecanismos de acionamento automático por inércia ou por infiltração de água e por comando, emitindo um sinal na frequência recepcionada por uma rede de satélites; a recepção desse sinal é monitorada por uma estação de terra (LUT, Local User Terminal, estação de monitoramente em terra), que repassa a informação ao MCC (Mission Control Center, no caso do Brasil, BRMCC, Brazil Mission Control Center) que, por sua vez, retransmite ao RCC mais próximo do local do evento, o qual coordena as buscas e o resgate, acionando os esquadrões de voo da Força Aérea, designando uma equipe para se dirigir ao local do acidente. SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 272 Capítulo 6 Seção 3 Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) Como o próprio nome indica, é este sistema o responsável por todos os aspectos envolvendo a investigação de acidentes aeronáuticos, como missão secundária, e pela prevenção de novos acidentes, como missão principal. O SIPAER é formado por todos os seus Elos e administrado pelo CENIPA, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, que é também o órgão executivo do Sistema. Nesse ponto do trabalho, será proporcionada uma visão abrangente do que é esse Sistema, começando pela história da investigação e concluindo com o problema da criminalização de acidentes. Histórico Desde o advento das primeiras tentativas de voar com aparelhos mais leves e depois mais pesados do que o ar, os acidentes aeronáuticos acontecem. Santos Dumont se envolveu em diversos acidentes e incidentes com seus dirigíveis, como o que aconteceu com o N-1: o pai da aviação decolou com este aparelho do Parque da Aclimação, em Paris, e se chocou contra as árvores do outro lado do descampado; a multidão que a tudo assistia viu o balão, fuselado de 180 metros cúbicos de hidrogênio, transpor rapidamente o espaço aberto do parque e se rasgar nas árvores vizinhas do outro lado. O risco de explosão era grande, mas por sorte nada aconteceu, exceto a destruição parcial do invólucro. Santos Dumont permaneceu no pequeno cesto, com o motor praticamente encostado ao corpo, tendo o reservatório de gasolina e de óleo preso à necele, e poderia ter sofrido graves ferimentos. (BARROS, 2006). Santos Dumont consertou o dirigível, calculou que deveria mudar o local de decolagem para evitar as rajadas de vento que influenciavam lateralmente a decolagem do local anterior e assim, dois dias depois, a 20 de setembro, a decolagem foi perfeita, mas um defeito nas válvulas do invólucro novamente levou o dirigível ao solo. Ao aprender com os erros e corrigindo-os nos voos seguintes, Santos Dumont estava inaugurando a prevenção de acidentes. Eis que a eficiência desse sistema foi diminuindo os fracassos até que, em 19 de outubro de 1901, Santos Dumont ganhou o prêmio Deustch de 100.000 francos por contornar a Torre Eiffel e voltar ao ponto de partida em menos de trinta minutos, incluindo o tempo de manobra, tanto de pouso quanto de decolagem, em seu balão totalmente dirigível e seguro, segundo os padrões da época. (BARROS, 2006, p. 169). SILVA, Orlando Flávio. Direito Aeronáutico: livro didático. 2 ed. atual. Palhoça: UnisulVirtual, 2018. 273 Direito Aeronáutico Conforme dito, os acidentes com aparelhos voadores aconteceram desde as primeiras tentativas de voar, mas foi Santos
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