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Universidade Estadual Paulista – UNESP 
Campus de Marília 
Faculdade de Filosofia e Ciências 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DANIELE APARECIDA RUSSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES ALTERITÁRIAS NA CONSTITUIÇÃO DO PEQUENO 
LEITOR: PROFESSORES, ALUNOS E VIVÊNCIAS LEITORAS NO 2º ANO 
DO ENSINO FUNDAMENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÍLIA 
2021 
 
 
 
DANIELE APARECIDA RUSSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES ALTERITÁRIAS NA CONSTITUIÇÃO DO PEQUENO LEITOR: 
PROFESSORES, ALUNOS E VIVÊNCIAS LEITORAS NO 2º ANO DO 
ENSINO FUNDAMENTAL 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de 
Filosofia e Ciências da Universidade Estadual 
Paulista – UNESP – Campus de Marília, para 
a obtenção do título de Doutora em Educação. 
Área de Concentração: Teoria de Práticas 
Pedagógicas. 
 
Orientadora: Profª. Drª Cyntia Graziella 
Guizelim Simões Girotto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÍLIA 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
R969r 
Russo, Daniele Aparecida 
 RELAÇÕES ALTERITÁRIAS NA CONSTITUIÇÃO DO 
PEQUENO LEITOR: : PROFESSORES, ALUNOS E 
VIVÊNCIAS LEITORAS NO 2º ANO DO ENSINO 
FUNDAMENTAL / Daniele Aparecida Russo. -- Marília, 2021 
 332 p. 
 Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), 
Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília 
 Orientadora: Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto 
 1. Educação. 2. Ensino Fundamental e a formação do 
pequeno leitor. 3. Relações alteritárias e o ato de ler. 4. 
Estratégias de leitura. 5. Filosofia da linguagem. I. Título. 
Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da 
Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília. Dados fornecidos pelo autor(a). 
Essa ficha não pode ser modificada. 
 
 
 
 
DANIELE APARECIDA RUSSO 
 
 RELAÇÕES ALTERITÁRIAS NA CONSTITUIÇÃO DO PEQUENO LEITOR: 
PROFESSORES, ALUNOS E VIVÊNCIAS LEITORAS NO 2º ANO DO ENSINO 
FUNDAMENTAL 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de 
Filosofia e Ciências da Universidade Estadual 
Paulista – UNESP, Câmpus de Marília, na Área 
de concentração: Teoria e Práticas Pedagógicas, 
para obtenção do grau de doutor em Educação. 
 
Marília, 29 de março de 2021. 
 
Banca Examinadora: 
 
 
Orientadora: ________________________________________________________________ 
Profª Dra. Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto – UNESP/ Marília 
 
2º Examinadora: _____________________________________________________________ 
Dra. Elianeth Dias Kanthack Hernandes – UNESP/ Marília 
 
3º Examinador: ______________________________________________________________ 
Dr. Dagoberto Buim Arena – UNESP/ Marília 
 
4º Examinadora: _____________________________________________________________ 
Dra. Renata Junqueira de Souza – UNESP/ Presidente Prudente 
 
5º Examinadora: __________________________________________________________ 
Dra. Sandra Pires Franco – UEL/ Londrina 
 
Suplentes: 
____________________________________________________________________ 
Dra. Stela Miller – UNESP/ Marília 
____________________________________________________________________ 
Dra. Regina Silva Michelli Perim – UERJ/ Rio de Janeiro 
______________________________________________________________________ 
Dra. Sílvia de Fátima Pilegi Rodrigues – UFR/ Rondonópolis 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha avó Maria Dinorah (em memória), pelas relações de troca mais poderosas 
com a linguagem: o amor. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Minha gratidão 
 
A Deus por iluminar meus caminhos e guiar os meus passos pelas veredas da vida ora 
sinuosas, ora floridas, mas sempre sob Sua proteção. A Ele, toda a minha vida. 
 
À Maria, mãe de Cristo e minha Mãe, a quem entrego inteiramente todo o meu ser. 
 
À minha família, meu alicerce de amor... 
 
Em especial, aos meus pais, Maria e Edson, pelo amor e pelos ensinamentos, serei 
eternamente grata por tudo que fizeram e fazem por mim. Sou grata pelo incentivo 
e pela felicidade de vocês serem sempre, fundamentalmente, meu motivo para sorrir. 
Obrigada por tudo! 
 
A minha irmã e melhor amiga, Daiane, pelo carinho, amizade, por todos os 
momentos compartilhados e por muitos outros ainda por vir. Que venham muitos! 
 
Ao meu marido, Ricardo, meu porto seguro, meu companheiro de vida, por todo 
amor, carinho e pelo incentivo. A ele, todo meu amor e gratidão. 
 
A eles, meu amor incondicional, minha alegria e, especialmente, esta conquista. Amo 
vocês! 
 
A todos os professores que cruzaram minha vida e motivaram em mim a necessidade 
do conhecimento. Especialmente à minha queridíssima orientadora Profª Dra. Cyntia 
G. G. S. Girotto, mulher militante pelos direitos da criança e por uma educação 
propulsora de desenvolvimento máximo na infância... Professora que fez a diferença na 
minha formação pelo exemplo e pela dedicação. A ela, meu respeito, minha admiração, 
minha amizade, meu amor fraterno. Gratidão eterna! 
 
A todos amigos queridos, minha família fraterna. Especialmente os amigos dos grupos 
de pesquisa CEPLE e PROLEAO, pelo companheirismo, pelos ideais compartilhados, 
pelos afetos, pela amizade, pelo respeito... A eles, meu carinho. 
 
Aos professores Dra. Elianeth Dias K. Hernandes, Dra. Sandra P. Franco, Dr. 
Dagoberto B. Arena, Dra. Renata Junqueira de Souza, por aceitarem fazer parte da 
minha trajetória acadêmica como banca desta tese. Uma honra tê-los como 
interlocutores deste trabalho. A eles, minha admiração, alegria e gratidão. 
 
À CAPES. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de 
Financiamento 001. 
 
Aos sujeitos participantes dessa pesquisa, crianças e professoras, sem as quais este 
trabalho não seria possível. Enfim, agradeço a todos que contribuíram para a 
concretização desta tese. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cada palavra descortina um horizonte, cada 
frase anuncia outra estação. E os olhos, 
tomando as rédeas, abrem caminho, entre 
linhas, para as viagens do pensamento. O livro 
é passaporte, é bilhete de partida. (Bartolomeu 
Campos de Queirós, 2019, p.61). 
 
 
RESUMO 
 
A pesquisa intitulada “Relações alteritárias na constituição do pequeno leitor: 
professores, alunos e vivências leitoras no 2º ano do Ensino Fundamental” foi 
desenvolvida no interior do grupo de pesquisa Processos de Leitura e de Escrita: 
apropriação e objetivação - PROLEAO, junto a linha de pesquisa Teoria e Práticas 
Pedagógicas do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual 
Paulista – UNESP de Marília. Essa pesquisa teve por objetivo compreender e evidenciar 
como se dão as relações alteritárias formadoras do pequeno leitor nos anos iniciais do 
Ensino Fundamental. Para atingir esse objetivo, busquei aprofundamento na filosofia da 
linguagem proposta por Volochinov e pensada por Bakhtin e Medviedev e realizei a 
parte prática da pesquisa em um trabalho de dezoito observações de aulas regulares e de 
oficinas de Estratégias de Leitura da turma B do 2º ano de uma escola municipal de 
tempo integral do interior paulista. A escolha por uma turma do 2º ano deu-se pelo fato 
que segundo a BNCC, o foco da ação pedagógica nos dois primeiros anos do
Ensino 
Fundamental é a alfabetização. A pesquisa dialógica pautada na filosofia da linguagem 
foi a escolha metodológica e o objeto de pesquisa foram os enunciados presentes nas 
relações de trocas entre professoras, crianças e vivências leitoras no ensino e na 
aprendizagem do ato ler. Ao longo dessa pesquisa, emergiram quatro eixos de análises: 
O que apresenta o documento oficial: a Base Nacional Comum Curricular – BNCC; O 
que apresentam os documentos escolares: Projeto Político Pedagógico da escola e Plano 
de Trabalho das professoras; O Ensino e a aprendizagem do ato de ler nas aulas 
regulares; O Ensino e a aprendizagem do ato de ler nas oficinas de Estratégias de 
Leitura. Os dados gerados durante as observações in loco foram organizados e 
analisados em dezenove situações educativas aproximadas entre os eixos de análise à 
luz da teoria da filosofia da linguagem, dos estudiosos da área da leitura (Smith 
Foucambert, Bajard, Arena, Girotto; Souza) e da área da literatura infantil (Faria, 
Candido, Cademartori, Azevedo, Oliveira, Linden, Hunt, Nikolajeva; Scott, Perrotti). O 
percurso investigativo resultou na tese de que leitores são constituídos pelas relações 
alteritárias mediadas pelos signos. Por meio das análises dos enunciados presentes nas 
relações entre professores, crianças e vivências leitoras, concluo que a professora da 
oficina de Estratégias de leitura desenvolveu ações importantes para a formação leitora 
dos alunos, mas demostrou preocupação excessiva em didatizar o passo a passo da 
oficina, desviando o foco do ensino do ato de ler para o fim nas próprias estratégias. 
Além disso, embora os alunos tenham contato direto com livros de literatura infantil nas 
aulas regulares e nas oficinas de Estratégias de Leitura, as relações alteritárias 
constituidoras do pequeno leitor em formação mostraram-se frágeis por terem como 
base sólida a consciência fonológica e o ensino organizado a partir da linguística, 
priorizando a organização do trabalho pedagógico com a língua descolada das relações 
humanas. São situações refletidas e refratadas do Projeto Político Pedagógico da escola 
que, por sua vez, reflete e refrata o discurso oficial presente na Base Nacional Comum 
Curricular. 
 
Palavras-Chave: Educação. Ensino Fundamental e a formação do pequeno leitor. 
Relações alteritárias e o ato de ler. Estratégias de leitura. Filosofia da linguagem. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The research portrayed in the thesis entitled “Alteritarian relationships in the 
constitution of the small reader: teachers, students and reading experiences in the 2nd 
year of Elementary Education” was developed within the research group Reading and 
Writing Processes: appropriation and objectification - PROLEAO, together the line of 
research Theory and Pedagogical Practices of the Graduate Program in Education of the 
Universidade Estadual Paulista - UNESP Marília. This research aimed to understand 
how the alterative relationships that form the small reader take place in the early years 
of elementary school. To achieve this goal, I sought to deepen the philosophy of 
language, proposed by Volochinov and thought by Bakhtin and Medviedev. I carried 
out the practical part of the research in a work of eighteen observations from regular 
classes and workshops on Reading Strategies for class B of the 2nd year of Elementary 
School at a full-time municipal school in the countryside of São Paulo state. The 
dialogical research based on the philosophy of language was the methodological choice 
and the research object was the statements present in the alterative exchange relations 
between teachers and children in teaching and learning of the act of reading. Throughout 
this research, four axes of analysis emerged: What the official document says: the 
National Common Curricular Base - BNCC; What does the school documents say: 
Political Pedagogical Project of the school and Work Planning of the teachers; Teaching 
and learning to read in regular classes; Teaching and learning the act of read in the 
Reading Strategies workshops. The data generated during on-site observations were 
organized and analyzed in nineteen approximate educational situations between the axes 
of analysis in the light of the philosophy of language theory, from scholars in the field 
of reading (Smith, Foucambert, Bajard, Arena, Girotto; Souza) and from the area 
children's literature (Faria, Candido, Cademartori, Azevedo, Oliveira, Linden, Hunt, 
Nikolajeva; Scott, Perrotti). The investigative path resulted in the thesis that readers are 
constituted by the alteritarian relations mediated by signs. Through the analysis of the 
statements present in the relationships between teachers, children and reading 
experiences, I conclude that the teacher of the Reading Strategies workshop developed 
important activities and projects for the students' reading training, but showed excessive 
concern in teaching the step by step of the workshop, shifting the focus of teaching from 
the act of reading to the end in the strategies themselves. In addition, although students 
have direct contact with children's literature books in regular classes and in Reading 
Strategies workshops, the alterative relationships that make up the small reader in 
training have been fragile because they have a solid foundation in phonological 
awareness and organized teaching from linguistics, prioritizing the organization of 
pedagogical work with the language detached from human relations. These are reflected 
and refracted situations of the school's Pedagogical Political Project, which, in turn, 
reflects and refracts the official discourse present in the National Common Curricular 
Base. 
 
Key words: Education. Elementary School and the small reader training. Alterative 
relationships and the act for Reading. Reading strategies. Philosophy of language. 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1 - Objetos do conhecimento/ Oficina de Estratégias de Leitura ................................ 130 
Figura 2 – Exemplo da Programação da Oficina de Estratégias de Leitura ........................... 132 
Figura 3 – Exemplo de aula no Plano Anual de Trabalho ...................................................... 133 
Figura 4 – Exemplo de aula no Plano Anual de Trabalho ...................................................... 134 
Figura 5 – Exemplo de aula no Plano Anual de Trabalho ...................................................... 135 
Figura 6 - Exemplo de aula no Plano Anual de Trabalho ...................................................... 136 
Figura 7 - Exemplo de aula no Plano Anual de Trabalho ...................................................... 137 
Figura 8 - Exemplo de aula no Plano Anual de Trabalho ...................................................... 138 
Figura 9 – Exemplo de relatório semanal presente no Plano Anual e Trabalho .................... 139 
Figura 10 - Página do caderno de um aluno sobre a atividade de Ciências ........................... 156 
Figura 11 - Atividade de Língua Portuguesa .......................................................................... 162 
Figura 12 - Atividade sobre o texto “O dono da bola” ........................................................... 164 
Figura 13 - Atividade de Matemática ..................................................................................... 168 
Figura 14 - Crianças na aula de Informática........................................................................... 173 
Figura 15 - Primeira escolha do livro pelo aluno Edson ........................................................ 180 
Figura 16 - Segundo livro escolhido pelo aluno Edson .......................................................... 181 
Figura 17 - Turma na sala de aula .......................................................................................... 182 
Figura
18 - Atividade “A Lebre e a Tartaruga” no caderno do Tiago .................................... 195 
Figura 19 - Atividade “A Lebre e a Tartaruga” no caderno do Gustavo ................................ 196 
Figura 20 - Avaliação de Matemática..................................................................................... 201 
Figura 21 - Avaliação de Matemática..................................................................................... 202 
Figura 22 - Avaliação de Matemática..................................................................................... 202 
Figura 23 - Avaliação de Matemática..................................................................................... 203 
Figura 24 - Livro escolhido pela professora para leitura e atividade com os alunos ............. 210 
Figura 25- Atividade realizada e colada nos cadernos ........................................................... 211 
Figura 26 - “Silabário” – Modelos de atividades disponíveis para os professores dos anos 
iniciais do EF .......................................................................................................................... 213 
Figura 27 - “Alfabeto” – Modelos de alfabetos disponíveis para os professores que trabalham 
com alfabetização ................................................................................................................... 214 
Figura 28 - Sala de aula no momento da atividade pós leitura do livro “Quando Nasce um 
monstro” ................................................................................................................................. 215 
Figura 29 - Atividade de matemática proposta no livro didático ........................................... 216 
Figura 30- Atividade de matemática proposta no livro didático ............................................ 216 
Figura 31- Atividade de matemática proposta no livro didático ............................................ 217 
Figura 32 - Aprendizado do ato de ler .................................................................................... 220 
Figura 33 - Aluna vencedora do sorteio com a sacola “Era uma vez” ................................... 235 
Figura 34 - Conteúdo da sacola “Era uma vez”...................................................................... 235 
Figura 35 - Página inicial do caderno que compõe a sacola “Era uma vez” .......................... 236 
Figura 36 - Recado no caderno que compõe a sacola “Era uma vez” .................................... 236 
Figura 37 - Tarefa a serem feitas pelos alunos no caderno que compõe a sacola “Era uma vez”
 ................................................................................................................................................ 237 
Figura 38 - Tarefas a serem feitas pelos alunos no caderno que compõe a sacola “Era uma 
vez” ......................................................................................................................................... 237 
Figura 39 - Oficina de Estratégias de Leitura ......................................................................... 241 
Figura 40- Alunos escolhendo livros para empréstimo .......................................................... 241 
Figura 41 - Adriel e Fernanda com suas escolhas dos livros para empréstimo ...................... 242 
Figura 42 - Quadro explicativo da estrutura modular de uma oficina de leitura .................... 271 
Figura 43 - Livro escolhido para o trabalho com a conexão texto-mundo ............................. 275 
Figura 44 - Aluno escolhendo um livro na estante da sala de aula para empréstimo ............. 281 
Figura 45 - Ficha entregue aos alunos ao lado do cartaz preenchido pela professora para a 
oficina sobre “Inferência” ....................................................................................................... 287 
Figura 46 - Folder para orientação sobre cuidado com os livros ........................................... 287 
Figura 47 - Recado orientativo aos pais sobre empréstimo de livros ..................................... 288 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS E TABELA 
 
 
Quadro 1 – Dissertações sobre as relações no ensino e na aprendizagem do ato de ler (2016-
2018).........................................................................................................................................22 
 
Quadro 2 – Teses sobre as relações no ensino e na aprendizagem do ato de ler (2016-
2018).........................................................................................................................................29 
 
Tabela 1: Níveis de alfabetismo no Brasil conforme o INAF (2001-2018)................................35 
 
Quadro 3 – Eixos de análises da pesquisa..................................................................................91 
 
Quadro 4 - Lista de Situações.....................................................................................................92 
 
Quadro 5 - Situações Educativas no Eixo de Análise 3: O Ensino e a aprendizagem do ato de 
ler nas aulas regulares..............................................................................................................142 
 
Quadro 6 - Situações Educativas no Eixo de Análise 4: O Ensino e a aprendizagem do ato de 
ler nas oficinas de Estratégias de Leitura.................................................................................143 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SITUAÇÕES 
 
Situação Título Página 
Situação no 01 Aula de Língua Portuguesa 146 
Situação no 02 Aula de Matemática 150 
Situação no 03 Aula de Ciências 156 
Situação no 04 Aula de Língua Portuguesa 162 
Situação no 05 Aula de Matemática 168 
Situação no 06 Aula de Informática 173 
Situação no 07 Aula de Língua Portuguesa 177 
Situação no 08 Aula de Informática 187 
Situação no 09 Aula de Língua Portuguesa 196 
Situação no10 Aula de Matemática 204 
Situação no 11 Aula de Língua Portuguesa 210 
Situação no 12 Aula de Matemática 216 
Situação no 13 Aula de Matemática 218 
Situação no 14 Oficina de Estratégias de Leitura/ Devolução e 
empréstimo de livros 
235 
Situação no 15 Oficina de Estratégias de Leitura/ Prática independente 
e Empréstimo de livros 
241 
Situação no 16 Oficina de Estratégias de Leitura/ Conexão Texto-Leitor 258 
Situação no 17 Oficina de Estratégias de Leitura/ Conexão Texto-leitor 269 
Situação no 18 Oficina de Estratégias de Leitura/ Texto-Mundo 274 
Situação no 19 Oficina de Estratégias de Leitura/ Inferência 283 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 15 
Quantos “eus” que não são meus: breve trajetória da constituição de minha 
subjetividade ........................................................................................................................ 15 
A presente pesquisa ............................................................................................................ 18 
Conhecendo as pesquisas sobre o ato de ler: levantamento bibliográfico ..................... 21 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 33 
O ato de ler no atual contexto brasileiro: o que os dados apresentam .......................... 34 
A pesquisa ............................................................................................................................ 39 
Introduzindo conceitos teóricos ......................................................................................... 42 
CAPÍTULO 1 – PALAVRA NA VIDA, VIDA NA POESIA: PERSPECTIVA 
DIALÓGICA NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO ........................................................... 48 
1.1 - Dimensão filosófica
da pesquisa ................................................................................ 49 
1.1.1 - Sobre os autores que embasam teoricamente a pesquisa dialógica ................. 49 
1.1.2 - Defesa da linguagem na pesquisa em Ciências Humanas ................................ 58 
1.1.3 - Conceitos da filosofia da linguagem para pensar a pesquisa dialógica nas 
Ciências Humanas: características e pressupostos ...................................................... 71 
1.2 - Escolhas e caminhos metodológicos percorridos ..................................................... 83 
1.2.1 – Local, sujeitos e objeto da pesquisa ................................................................... 86 
1.2.2 – Entrada no campo e geração de dados .............................................................. 87 
1.2.3 – Caminhos metodológicos para análise dos dados ............................................. 88 
CAPÍTULO 2 – ANÁLISE DOS ENUNCIADOS PRESENTES NOS DOCUMENTOS 
REGENTES DA ESCOLA: MOVIMENTO DAS FORÇAS CENTRÍPETAS E 
CENTRÍFUGAS ..................................................................................................................... 94 
2.1 – Eixo de análise 1 - O que apresenta o documento oficial: a Base Nacional Comum 
Curricular - BNCC ............................................................................................................. 99 
2.1.1 - Breve contexto histórico e político de constituição da BNCC .......................... 99 
2.1.2 - A Leitura na BNCC e suas relações dialógicas contraditórias ...................... 104 
2.2 – Eixo de análise 2 - O que apresentam os documentos escolares: Projeto Político 
Pedagógico da escola e Plano de Trabalho das professoras .......................................... 115 
2.2.1 - O Projeto Político Pedagógico da escola .......................................................... 116 
2.2.2 - O Plano Anual de Trabalho das professoras ................................................... 131 
CAPÍTULO 3 – ADENTRANDO A SALA DE AULA: OBSERVAÇÕES DA TURMA B 
DO SEGUNDO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL .................................................... 141 
Eu apenas existo a partir do outro: amorosidade dialógica e alteridade presente nas 
relações ............................................................................................................................ 142 
Dialogia a partir dos enunciados vivos: pressupostos para ato de ler e de escrever ....... 142 
3.1 - Eixo de análise 3 - O Ensino e a aprendizagem do ato de ler nas aulas regulares
 ............................................................................................................................................ 144 
3.1.1 - Sinal x signo no ensino da palavra.................................................................... 145 
3.1.2 - Os Gêneros do discurso: relações da língua com a vida ................................. 147 
3.1.3 - Língua e Linguagem .......................................................................................... 154 
3.1.4 - Enunciado: manifestação nas relações dialógicas ........................................... 160 
3.1.5 - Eu apenas existo a partir do outro: amorosidade dialógica e alteridade 
presente nas relações ..................................................................................................... 175 
3.1.6 - Dialogia a partir dos enunciados vivos: pressupostos para ato de ler e de 
escrever ........................................................................................................................... 186 
3.1.7 - Consciência fonológica e consciência gráfica: permanências e desafios ....... 194 
3.1.8 - Dizer, locução, oralização, decodificação ou leitura? ..................................... 201 
3.2 – Eixo de análise 4 - O Ensino e a aprendizagem do ato de ler nas oficinas de 
Estratégias de Leitura ...................................................................................................... 230 
3.2.1 - A Linguagem ...................................................................................................... 230 
3.2.2 - Literatura Infantil e qualidade literária .......................................................... 240 
3.2.3 - Estratégias de leitura ......................................................................................... 246 
3.2.4 - Oficina de Estratégias de Leitura: Conexão Texto-Leitor ............................. 257 
3.2.5 - Livros de imagem: possibilidades de leitura rica em estética e literariedade
 ......................................................................................................................................... 273 
3.2.6 - Condutas leitoras e a consciência fonológica ................................................... 282 
3.2.7 - Consciência fonológica circundando a oficina de Estratégias de Leitura .... 291 
3.3 – Considerações e reflexões finais sobre o ensino e a aprendizagem do ato de ler 
na escola ............................................................................................................................. 297 
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 315 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 325 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Quantos “eus” que não são meus: breve trajetória da constituição de minha 
subjetividade 
 
Ao rememorar minha história, sou inundada por memórias. Na tentativa de 
direcioná-las a minha formação e meu interesse pela linguagem, as abrevio aqui. 
Nasci no sexto dia do mês de abril do ano de 1987 e cresci em Marília, cidade do 
interior paulista, em meio a uma família grande enfeitada de rezas, novenas e pecados 
como disse Bartolomeu Campos de Queirós (2019), além de muitas histórias contadas e 
músicas de ninar. Minha infância foi regada a amor de família, brincadeiras e carinho. 
A maior parte da minha formação na Educação Básica foi em uma instituição 
particular sem fins lucrativos, uma escola filantrópica mantida por uma instituição 
financeira. Uma escola com alta infraestrutura, inclusive portadora de uma biblioteca 
grande em que os alunos podiam ter acesso ao acervo. Eu estava com dez anos quando 
fui matriculada nesta escola e anterior a isso, havia entrado poucas vezes, levada por 
minha mãe, à Biblioteca Municipal. Mesmo diante da beleza da escola, deparei-me com 
professores com diferentes características e perfis, mas a maioria com um perfil da escola 
tradicional, hierarquizado, com o ensino pautado em técnicas e ancorado na sinalidade da 
língua. 
O meu perfil de “boa aluna” acompanhou-me em minha trajetória escolar, 
obedecendo e realizando com êxito as atividades nas diversas disciplinas. Ao rememorar 
minha trajetória escolar, concluo que eu era uma menina cheia de sonhos e ideais e não 
perceberia o perfil de “boa aluna” como um caminho silenciador de algumas 
potencialidades ao enquadrar-me a conteúdos curriculares memorizados e não 
compreendidos. 
No último ano do Ensino Médio meu anseio por adentrar a Universidade era 
grande. Meses após a colação de grau, veio o resultado da UNESP e eu havia conseguido 
a vaga para a graduação em Pedagogia. Estava muito feliz, empolgada e assustada com a 
autonomia do estudante na universidade pública, deparei-me com matérias interessantes 
e que me possibilitaram novo olhar sobre e para o mundo. 
Embora contatos iniciais com livros como anteriormente relatado, afirmo que para 
leitura de literatura infantil, nasci mesmo em meados dos anos 2007, quando na graduação 
de Pedagogia tive contato com obras apresentadas por algumas professoras. Mesmo 
16 
 
diante do encantamento pelas obras literárias infantis, segui meu curso como 
pesquisadora de Iniciação Científica em outra área, detive meu percurso científico na área
de Política Públicas e Administração da Educação até a conclusão do Mestrado em 2012. 
Participação de Grupo de Pesquisa e orientações afetuosas e ricas em muito aprendizado, 
gratidão a minha orientadora de Iniciação Científica e de Mestrado, Dra. Graziela. 
Aprendi, cresci e sou imensamente grata por esse percurso. 
Ainda na graduação, adentrei como estagiária na área administrativa da mesma 
instituição escolar filantrópica em que fui estudante – caminho influenciador da minha 
escolha científica na área de gestão –, e lá fiquei por mais de dez anos em cargos 
administrativos. 
Com o passar dos anos, percebi que não me sentia completa – se é que isso será 
possível um dia diante da inconclusibilidade dos enunciados imersos na dialogia da vida. 
Mas sobretudo, sentia-me incomodada. Diante do meu encantamento por poesia e 
literatura e diante das crianças que iam até mim em intervalos para me mostrar seus livros, 
desenhos e escritos, percebi a linguagem viva pulsante nos enunciados não presente no 
meu cotidiano de trabalho, pois se tratava de um ambiente organizacional empresarial em 
que a palavra hierárquica prevalecia mesmo em um ambiente educacional repleto de 
crianças e jovens que lutavam em tentar resistir a pesadas imposições da instituição. 
Encontrava-me exausta por vivenciar um dia-a-dia de enfrentamentos com meus 
pensamentos e anseios para a Educação em contrapartida à realidade organizacional de 
trabalho em que estava inserida. Mesmo as pessoas afirmando que eu era “um homem 
bobo que precisava fazer a barba e usava um casaco felpudo”, eu tentava reafirmar a 
minha existência como um urso1. 
 
1 Recorro a obra literária “O Urso que não era” do autor e ilustrador norte-americano Frank Tashlin, como 
uma grande metáfora deste meu percurso. Trata-se de uma obra clássica datada de 1946 em que um urso 
estava em uma grande floresta, olhando para o céu, onde um bando de gansos voava em direção ao Sul. O 
urso, sabendo da chegada do inverno em breve, procurou uma caverna para hibernar. Porém durante aquele 
inverno, uma fábrica foi construída bem em cima da caverna que ele havia escolhido. Pergunto-me: o que 
seria o urso adormecido embaixo da fábrica funcionando a todo vapor? Quantas possibilidades de sentidos 
o texto literário possibilita! Para mim uma metáfora sobre o meu adormecer durante esses anos de trabalho 
oposto aos meus anseios, estudos e pensamentos sobre a Educação. Ao lado da fábrica, a primavera com 
todo seu encantamento chegou com a vida pulsando ao redor, em cada detalhe, e o urso desperta em meio 
fábrica, “mas não consegue acreditar que não está mais sonhando: o capataz insiste que ele volte 
imediatamente ao trabalho - afinal de contas, ele não é um urso” (TASHLIN, 1946), mas um homem bobo 
que precisava fazer a barba e usava um casaco felpudo. E nessa insistência, levou aos superiores da fábrica 
e todos reafirmaram a mesma coisa. O urso, então, trabalhou anos na fábrica até o fechamento dela, foi 
quando se encontrou em meio a floresta em um inverno rigoroso. Mas ele caminhou arduamente em busca 
da gruta. Quando acordou ele era, novamente, um urso de verdade. 
 
17 
 
Ao despertar-me nesses anos, o mundo parecia estranho, questionei-me sobre 
onde eu estava e quem eu era. Foi em busca da gruta que caminhei por estradas árduas e 
contrárias à opinião de muitos. Mas a encontrei: a Universidade estava lá de braços 
abertos. 
Foi uma decisão difícil, pois eu estava em um emprego estável, mas consegui 
buscar o aprendizado em caminhos libertários: voltei à Universidade e fui gentilmente 
acolhida no grupo de pesquisa CEPLE – Centro de Estudos e Pesquisas em Leitura e 
Escrita, coordenado pela professora Cyntia, protagonista do meu retorno aos estudos e à 
pesquisa na área da linguagem. Em conversa sobre minha inquietude, ela convidou-me a 
escutá-la e a participar de um evento que estava acontecendo na ocasião e foi, de fato, 
decisivo após sua fala sobre literatura infantil e nossa conversa posterior. Sou grata pela 
acolhida dela e, posteriormente, pelos demais integrantes do grupo e ao grupo de pesquisa 
PROLEAO - Processos de Leitura e de Escrita: apropriação e objetivação, coordenado 
pelo professor Dagoberto, grande mestre de simplicidade e inteligência indiscutíveis. 
O aconchego da gruta do saber proporcionou um reencontro comigo mesma, com 
a palavra outra constituidora da minha subjetividade por meio da dialogia. Por que não 
agregar trabalho e vida humana? Passei pelo processo seletivo do Doutorado em 
Educação e fui aprovada. Lugar acolhedor e possibilitador do pensar e do refletir, 
satisfação. 
Em meio a essa mudança, fiquei noiva de um homem sensível, humilde, forte, 
inteligente e apaixonado pela vida, que inclusive apoiou-me para a tomar minha decisão 
de mudança, também por ele ser estudante na ocasião. Eu estava no primeiro ano do 
Doutorado e ele cursava o segundo ano de residência médica em ortopedia. Nosso amor, 
cumplicidade e fé sinalizavam para uma vida juntos. Em dezenove de agosto de 2017, 
casamo-nos. 
No Doutorado, os livros de literatura infantil tornaram-se, ainda mais, minha 
grande paixão, pois grandiosamente a professora Cyntia disponibilizou e leu em voz alta 
vários livros no início ou no final dos nossos encontros no grupo de pesquisa. Além de 
estudarmos e explorarmos aspectos estético-literários e gráficos editoriais dos livros, 
aprendi que a literatura traz consigo a possibilidade de exploração de muitos assuntos 
sensíveis a humanidade e superadores de conteúdos de textos não literários e curriculares. 
Portanto, o livro ilustrado apresenta-se como uma proposta aberta a sentidos diversos. 
Hoje, compro-os mensalmente e fico ansiosa para recebê-los e, quando chegam, os leio 
com grande interesse e atribuo sentidos diferentes na minha relação com ele, a depender 
18 
 
do momento em que estou vivendo, do livro e das minhas vivências e experiências que 
levo para o diálogo. Além de apresentá-los e presenteá-los inclusive adultos a minha 
volta. 
Ao deparar-me com a filosofia da linguagem, teoria base nos grupos de pesquisa, 
foi uma relação de amor, embora frente a embates diante da densidade teórica implicada 
a teoria. Meu diálogo com os autores russos do chamado “círculo de Bakhtin”, mais 
precisamente Volochinov, Bakhtin e Medviedev, além dos autores estudiosos da teoria, e 
com os parceiros sujeitos dos grupos de pesquisa, bem como das disciplinas cursadas, 
foram responsáveis pela formação de meus novos pensamentos não apenas sobre a 
Educação, mas sobre o mundo. Palavras outras, palavras minhas... em relações alteritárias 
com ou outros do meu percurso profissional e pessoal – embora já não posso separá-los 
– tornou-me quem sou: subjetividades constituidoras de mim. 
 
A presente pesquisa 
 
“(...) há trabalho mais efetivo, há ação mais 
absoluta de que esta de aproximar o homem do 
livro? ” 
(QUEIRÓS, 2019, 62). 
 
Essa pesquisa nasceu da constante inquietação em relação ao ensino e a 
aprendizagem da leitura e à sua apropriação pelas crianças na escola. À princípio como 
uma profissional inserida em uma instituição escolar com alta infraestrutura, inclusive 
com uma biblioteca grande com acervo de qualidade, mas aflita pela hierarquia e 
conceitos empresariais dominarem a organização escolar. Logo, o resultado era trabalhos 
pedagógicos pautados na escola tradicional em que a língua sobressaía em relação a 
linguagem, apesar de algumas poucas professoras insistirem e conseguirem o trabalho 
com enunciados inserido nas relações humanas. 
Angustiava-me diante da observação da obrigatoriedade que os alunos tinham 
com a leitura, relações marcadas pelas tarefas e avaliações escolarizadas, além do fato de 
a grande maioria chegar aos anos iniciais do Ensino Fundamental sem constituir-se como 
leitor. Inquietava-me as atitudes dos professores dos
anos iniciais do Ensino Fundamental 
planejarem seus trabalhos pedagógicos pautados na consciência fonológica e no ensino 
tradicional, em que as crianças não tinham muitas possibilidades de desenvolvimento de 
19 
 
suas consciências pelas relações vividas. Inseridos nesta instituição cujo clima 
organizacional caracterizava-se pelos aspectos empresariais e burocráticos, alguns 
poucos professores conseguiam um trabalho efetivo na qualidade do ensino e da 
aprendizagem, mesmo que em minoria, o que me levou a constatar que a atuação 
pedagógica da maioria dos professores sobre a formação do leitor advinha da falta de 
conhecimento sobre conceitos teóricos que fundamentam o ensino do ato de ler, resultado 
da própria formação, uma vez que a maioria dos professores se mostrava mais centrada 
na busca de sugestões de atividades, de práticas e não de aprofundamento teórico. 
A má formação dos professores já nessa época chamava minha atenção no quesito 
leitura. Sobre isso, pesquisas feitas recentemente2 com estudantes universitários do curso 
de Pedagogia e Letras, portanto futuros professores e formadores de leitores na Educação 
Básica, apontaram que os estudantes sujeitos participantes da pesquisa tinham um perfil 
como leitores que desconheciam estratégias de leitura e realizavam algumas por intuição, 
sem beneficiar-se integralmente de uma prática mais aprofundada. 
 
As etapas de ensino muitas vezes prejudicam o trabalho didático-
pedagógico do docente que busca nas etapas iniciais desenvolver a 
apreciação dos livros, a leitura para a formação humana de valores e 
conteúdo, levando ao ensino subsequente uma leitura mecanizada, 
imediatista e fragmentada. Assim, a leitura de clássicos é substituída 
por resumos, resenhas, filmes, documentários. (GIROTTO; 
MENDONÇA; RUSSO; MARIANO, 2017, P.159-160). 
 
O professor em formação não se torna leitor em sua formação inicial e não são 
contemplados conteúdos dirigidos a esse fim tanto para a parte de teorias e práticas 
pedagógicas quanto ele mesmo tornar-se leitor no seu percurso de formação. 
Diante dessas inquietações e da importância da leitura na formação e 
desenvolvimento da criança, além da riqueza estético-literária presente nos textos 
literários sempre muito estimados por mim, especificamente aqui quero reportar-me aos 
livros de literatura infantil, emergiram questões impulsionadoras para a presente 
pesquisa: a linguagem mediadora do ensino e da aprendizagem do ato de ler, constitui 
 
2 Como o Projeto de Cooperação Acadêmica Interinstitucional, intitulado “Leitura nas licenciaturas: 
espaços, materialidades e contextos na formação docente” vinculadas ao Programa Nacional de Cooperação 
Acadêmica – PROCAD, aprovado em 2013. Consistiu em pesquisas nas licenciaturas dos cursos de 
Pedagogia e Letras de quatro universidades brasileiras: a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita 
Filho” de Marília e Presidente Prudente, a Universidade Federal do Espírito Santo e a Universidade de 
Passo Fundo, apontando princípios, conhecimentos e ações pedagógicas para a formação de leitores na 
Universidade e, portanto, procurando traçar o perfil do leitor universitário dos alunos de Pedagogia e Letras, 
futuros professores e formadores de leitores da Educação Básica. 
20 
 
que tipo de consciência? Quais enunciados constituem o leitor? Ensina-se a língua ou a 
linguagem? Ela é dialógica? Ela é social? As crianças estão dialogando com os livros 
literários? Como aprendem a ler? Que tipo de troca o professor está possibilitando entre 
a criança e os textos? Quais relações contribuem e quais não contribuem para a formação 
do pequeno leitor? Será que as crianças desfavorecidas socioeconomicamente têm o 
direito de encantarem-se pela leitura literária? Como isso ocorre na escola pública? É 
possível ressignificar tais práticas? 
A instituição escolar em que eu trabalhava, pautada em seus ideais e princípios, 
em que os funcionários não podiam ausentar-se para dedicação ao estudo e a pesquisa, 
obrigou-me a tornar-me ex-funcionária ao fazer minha escolha: voltei à academia como 
pesquisadora da linguagem voltada para leitura na busca de compreender e evidenciar 
como se dão as relações alteritárias formadoras do pequeno leitor nos anos iniciais do 
Ensino Fundamental, pois acreditava que as respostas às questões acima poderiam 
elucidar-se e clarificando-as, poderia constituir-se em uma pesquisa possibilitadora de 
encaminhamentos, ainda que singelos e inacabados, para os professores do Ensino 
Fundamental na busca de formar leitores experientes. 
Pode haver diversas pesquisas acerca da temática “leitura” como será possível 
verificar no subitem sequente, mas a diferença está no olhar do pesquisador para o 
fenômeno, de onde no tempo e no lugar, isto é, da sua cronotopia, ele olhará para seu 
objeto de pesquisa. 
O objeto anteriormente detalhado e pesquisado, volta a ser problematizado por 
meio desse novo olhar investigativo. Às vezes, como aponta Volochinov (2017, p.246), 
é de extrema importância lançar uma nova luz sobre um fenômeno já conhecido e, 
aparentemente, bem estruturado, por meio da sua “problematização renovada”, aclarando 
nele novos aspectos por meio de perguntas orientadas para uma direção específica. 
 
Isso é principalmente importante nos campos em que a pesquisa é 
sobrecarregada por descrições e classificações pedantes e detalhadas, 
porém privadas de um direcionamento. Uma problematização renovada 
pode fazer com que um fenômeno antes considerado particular e 
secundário ganhe uma importância capital para a ciência. Um problema 
bem colocado é capaz de revelar as possibilidades metodológicas 
contidas nesse fenômeno. (VOLOCHINOV, 2017, p.246). 
 
Além disso, cada olhar e cada sujeito da pesquisa é singular, tornando-se o evento 
único e irrepetível como será mais bem detalhado no Capítulo 1 sobre metodologia. 
21 
 
Minha intenção com esse doutoramento é apresentar uma tese capaz de oferecer 
contribuições para se pensar a linguagem na escola e, especificamente, a linguagem 
constituidora da formação do pequeno leitor nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 
Esta tese é escrita em primeira pessoa do singular porque, entendo, como 
Volochinov (2017), o enunciado como unidade da troca verbal e, no entanto, compreendo 
também que cada sujeito expressivo e falante assina do seu lugar singular e irrepetível o 
seu ato único (Bakhtin, 2010). Compartilhando os ensinamentos de Volochinov (2017) e 
Bakhtin (2010), opto por uma escrita axiológica, cujas palavras de ordem emotivo-
volitiva ocupam espaço nos enunciados de um eu que fala para um tu o resultado de 
vivências e experiências em eventos únicos. 
 
Conhecendo as pesquisas sobre o ato de ler: levantamento bibliográfico 
 
Com a finalidade de conhecer as pesquisas realizadas acerca do processo de ensino 
e aprendizagem do ato de ler, mais especificamente das relações constituidoras do leitor, 
fiz buscas por dissertações de Mestrado e teses de Doutorado na base de dados da 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. 
Ao acessar a base de dados da CAPES por meio do site 
catalogodeteses.capes.gov.br, fiz a busca pela seguinte palavra-chave: “relações 
constituidoras do leitor”. Foram encontrados 1.172.322 dissertações e teses dos últimos 
cinco anos (2014-2018). Então refinei os resultados ao selecionar os últimos três anos 
disponíveis (2016-2018) e ao selecionar “Ciências Humanas” como a grande área do 
conhecimento, as áreas selecionadas foram “Educação” e “Letras/Linguística”, a área de 
concentração e o Programa selecionados foram “Educação”. Após refinar meus 
resultados, o número de dissertações e teses encontradas foram 6.279. Diante da alta 
quantidade de trabalhos de pesquisas, analisei as vinte primeiras páginas do resultado da 
busca, totalizando 400 dissertações e
teses. 
Dentre essas pesquisas, muitas tratavam de Educação Infantil, Ensino Médio, 
Ensino Superior, ensino de matemática, informática, química, educação física, educação 
ambiental, história, ciências, música, sociologia, física, empreendedorismo, alfabetização 
científica, Educação à Distância - EaD, Educação de Jovens e Adultos - EJA, educação 
indígena, redes virtuais, educação no campo, educação em penitenciária e formação 
docente. 
22 
 
As pesquisas sobre as relações constituidoras do leitor nos anos iniciais do Ensino 
Fundamental resultaram em doze dissertações e cinco teses, totalizando dezoito 
pesquisas, conforme dados nos quadros a seguir. 
 
Quadro 1 – Dissertações sobre as relações no ensino e na aprendizagem do ato 
de ler (2016-2018) 
INSTITUIÇÃO 
DE ENSINO 
TÍTULO AUTOR ANO 
Universidade 
Federal do 
Espírito Santo 
Literatura nos anos iniciais do ensino 
fundamental: documentos oficiais e discursos 
docentes do município de Serra/ES 
Lorena 
Bezerra Vieira 
2016 
Universidade 
Estadual do 
sudoeste da Bahia 
Os discursos sobre leitura e o lugar do sujeito 
leitor no plano nacional do livro e da leitura 
Angélica 
Renata de 
Castro 
2017 
Universidade do 
Extremo Sul 
Catarinense 
Leitura no livro didático português: 
linguagens possibilidades emancipadoras 
Mateus Mariot 
do Nascimento 
2017 
Universidade do 
Estado de Santa 
Catarina 
Consciência fonológica e relações grafema-
fonema na alfabetização: contribuições de um 
programa de ensino 
Marco Cesar 
Kruger da 
Silva 
2018 
Universidade de 
Caxias do Sul 
Educação e linguagem: as situações 
enunciativas do role-playing game (rpg) como 
ferramenta pedagógica de constituição da 
alteridade 
Rafael 
Ramires 
Jaques 
2016 
Universidade de 
Caxias do Sul 
Letramentos em diálogo com o acervo do 
pacto nacional pela alfabetização na idade 
certa: uma ampliação da experiência com 
linguagem 
Sirley Morello 
Cella 
2016 
Universidade 
Federal do Rio 
Grande do Norte 
Educação e literatura: a relação texto-vida na 
sala de aula 
Daiane do 
Nascimento 
dos Santos 
2016 
Universidade 
Estadual Paulista 
Júlio de Mesquita 
Filho (Presidente 
Prudente) 
Um lugar onde moram e se escondem os 
livros: as bibliotecas escolares e a formação de 
leitores 
Izabele Dias 
dos Santos 
2018 
23 
 
Universidade 
Estadual de 
Campinas 
Práticas pedagógicas no ensino de leitura nas 
séries iniciais: o processo de constituição de 
uma professora 
Fernanda 
Caroline 
Teixeira 
2016 
Universidade de 
Passo Fundo 
A formação de leitores pelo projeto livro do 
mês na percepção de discentes e docentes de 
escolas públicas estaduais de Passo Fundo/RS 
Maria Augusta 
Darienzo 
2016 
Universidade 
Federal de Santa 
Catarina 
Literatura infantil em sites educativos: um 
olhar sobre a formação do/a leitor/a dos anos 
iniciais 
Elika da Silva 2016 
Universidade de 
Caxias do Sul 
Ensino de literatura: da Paideia ao paradigma 
sistêmico 
Mariele 
Gabrielli 
2016 
Fonte: Russo, 2019 
 
Nesta exposição preliminar das dissertações e teses encontradas, poderemos 
verificar a relacionadas à constituição do leitor. Vieira (2016) desenvolveu uma discussão 
sobre as possibilidades de (re) conhecer o lugar da literatura nos anos iniciais do Ensino 
Fundamental, a partir de diálogos com docentes atuantes nessa etapa de ensino. Baseada 
em Candido, Bakhtin, Chartier e Leahy-Dios, a pesquisadora concluiu que documentos 
oficiais e discursos docentes são construções com marcas históricas e sociais e, portanto, 
a educação literária pode ter origem nas práticas pedagógicas de leitura e formação de 
leitores, mas precisa ser embasada em políticas públicas que reconheçam o caráter da 
literatura como experiência estética, caracterizem a leitura literária como prática social, 
reforcem o potencial emancipatório do texto literário e, por fim, democratizem o acesso 
à leitura literária. 
Na pesquisa “Os discursos sobre leitura e o lugar do sujeito leitor no plano 
nacional do livro e da leitura”, a pesquisadora fez uma análise discursiva (Michel Pêcheux 
e Eni Pulcinelli Orlandi) do Plano Nacional do Livro e da Leitura e de recortes de 
entrevistas semiestruturadas realizadas com o gestor educacional e gestor cultural 
responsáveis pela execução de políticas públicas de leitura a nível municipal (norte de 
Minas Gerais), com o objetivo de compreender o funcionamento dos discursos oficiais 
produzidos e legitimados pelo Estado sobre a leitura e sobre o lugar do sujeito leitor 
nesses discursos. Castro (2017) afirma que as ações do Estado brasileiro voltadas para a 
leitura e a formação de leitores tiveram como motivação principal as interferências do 
mercado editorial (cadeia produtiva do livro). Segundo a pesquisadora, os sentidos 
produzidos a respeito da leitura e do sujeito leitor materializam um ideal de leitor e de 
24 
 
leitura sem considerar a relação constitutiva dos sujeitos com a língua. Sendo assim, para 
Castro (2017), o sujeito leitor é desconsiderado no Plano Nacional do Livro e Leitura - 
PNLL por meio do funcionamento de discursos característicos do sistema capitalista que 
universalizam os sujeitos. 
Nascimento (2017) em sua pesquisa descreveu o estudo realizado na coleção 
didática Português: Linguagens, de Cereja e Magalhães (2013) com o objetivo de analisar 
as atividades de leitura propostas na coleção para identificar as que guardam em suas 
proposições possibilidades emancipadoras (FREIRE, 1977; 1980; 2005; 2008). Por meio 
da pesquisa bibliográfica, sua análise orientou-se teoricamente nas concepções de 
linguagem estruturalista, discursiva e interacionista (Saussure,2004; Orlandi, 2007; 
Leffa, 1996; Solé, 1998; Lajolo, 1982). Nascimento (2017) afirmou que, na coleção 
estudada, visou-se possibilitar ao aluno uma compreensão para além do funcionamento 
estrutural e formal da língua, ou seja, o autor evidenciou uma preocupação dos autores 
em mobilizar o aluno/leitor para uma prática de leitura mais próxima da concepção 
interacionista, possibilitando, de certa forma, o seu desenvolvimento como aluno leitor 
crítico e emancipado. 
Na pesquisa “Consciência fonológica e relações grafema-fonema na 
alfabetização: contribuições de um programa de ensino”, como o próprio título sugere, a 
consciência fonológica é vista como grande contribuição para o bom desempenho das 
crianças no processo de alfabetização, pois, segundo Silva (2018) favorece, desde cedo, 
a descoberta do princípio alfabético, com o qual a criança poderá adquirir autonomia na 
leitura de palavras ao serem estimuladas nas habilidades da consciência fonêmica, 
associada ao ensino das correspondências grafema-fonema. Nesse sentido, a pesquisa se 
propôs a verificar se o ensino das habilidades de consciência fonológica e das 
correspondências grafemafonema, através da aplicação de um programa de ensino de 
curta duração dessas habilidades e correspondências, oferecia contribuição para processo 
de alfabetização de crianças do primeiro ano da rede municipal de ensino de 
Florianópolis/SC. Na avaliação posterior à aplicação do programa de ensino não foi 
observada diferença significativa nas pontuações médias dos testes de leitura de palavras, 
entre os grupos Experimental e Controle. No entanto, verificou-se que as crianças do 
Grupo Experimental apresentaram aumento significativamente maior nos testes de 
Reconhecimento de Grafemas e Consciência Fonêmica, o que permite considerar que o 
programa de ensino ofereceu alguma contribuição para o processo de alfabetização das 
crianças. 
25 
 
Jaques (2016) fundamentou sua pesquisa em pressupostos teóricos como Platão, 
Vygotsky, Ferdinand de Saussure e Émile Benveniste para investigar se o Role-playing 
Game (RPG), também conhecido como Jogo de Representação de Papéis, constitui uma 
ferramenta favorável, no âmbito escolar, no apoio à constituição da
alteridade por parte 
de alunos. O RPG, por ser um jogo falado, no qual os jogadores narram suas ações e 
constroem, em conjunto, uma história, só funciona por meio da enunciação. Segundo 
Jaques (2016), o estudo desenvolveu-se a partir de uma abordagem interacionista, 
reunindo em seu corpus teórico autores da Linguística, da Filosofia e da Educação, 
perspectivando compreender se as situações enunciativas, proporcionadas pelo RPG, 
podem ser utilizadas por educadores como forma de auxiliar seus alunos na compreensão 
do outro e da interdependência que caracteriza as relações pessoais. O autor salienta que 
o RPG se apresenta como um jogo que não está fundamentado na disputa, como a maioria 
dos jogos, mas no triunfo coletivo, por meio da cooperação. Foi essa natureza que 
permitiu, segundo Jaques (2016), a investigação de possíveis aplicações do Role-playing 
Game, no contexto escolar, de modo a potencializar a constituição da alteridade. 
O objetivo de Cella (2016) foi identificar os princípios subjacentes às sequências 
didáticas, propostas pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), e 
as possibilidades de ampliação para além da área verbal. O referencial teórico utilizado 
foi Soares (2004), Kleiman (1995); Tfouni (1995); Marcuschi (2008), Dolz, Noverraz, 
Schneuwly (2004); Santaella (2014); Rojo (2013); Panozzo (2007). Além da pesquisa-
ação em uma classe regular de alunos do terceiro ano do Ensino Fundamental de uma 
Escola Estadual da região da Serra do Rio Grande do Sul, realizou-se uma análise 
descritiva das orientações para a Formação Continuada de professores alfabetizadores do 
PNAIC, identificando a exploração didática dos livros de literatura infantil restrita à 
dimensão da linguagem verbal. Os dados obtidos demonstraram, segundo a autora, que a 
visualidade é um aspecto relevante para a atribuição de significados ao texto literário. 
Cella (2016) destaca a importância da mediação docente dirigida ao planejamento 
pedagógico na perspectiva dos letramentos, e ressalta a necessária exploração mais 
abrangente dos sistemas que compõem e oportuniza um livro de literatura infantil e que 
oportunizam o diálogo com a vida, os outros e o mundo. 
A pesquisa intitulada “Educação e literatura: a relação texto-vida na sala de aula” 
investigou o impacto da relação texto-vida na atividade de leitura de literatura em alunos 
do 4º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Natal/RN em situação 
chamada pela autora de “mediação pedagógica”. Houve entrevistas com professoras, 
26 
 
aplicação de questionários aos alunos e intervenção da pesquisadora com o livro “A Bolsa 
Amarela” (BOJUNGA, 2005) e o conto “Tchau” (BOJUNGA, 2008) planejadas e 
implementadas conforme a experiência de leitura por andaime: pré-Ieitura, leitura e pós-
leitura (GRAVES; GRAVES, 1995). Os resultados da pesquisa apontaram, segundo 
Santos (2016), que a mediação da relação texto-vida favorece a formação de um leitor 
ativo que pensa sobre o que lê, recorre as suas experiências de vida estabelece articulações 
com o texto escrito e atualiza-os à medida que seleciona e combina novas informações, 
construindo assim novos significados dando sentido à palavra escrita. 
A pesquisa “Um lugar onde moram e se escondem os livros: as bibliotecas 
escolares e a formação de leitores” baseou-se na lei nº 12.244/2010 e nos Parâmetros para 
Bibliotecas Escolares (GEBE/CFB/CRB) e pretendeu analisar em Pirapozinho, uma 
cidade pequena do interior de São Paulo, como se organizam as bibliotecas nas cinco 
escolas públicas municipais de Ensino Fundamental – Ciclo I, se essas escolas têm 
bibliotecas escolares e, quando a possuem, se estão adequadas aos Parâmetros para 
Bibliotecas Escolares. Os resultados, segundo Santos (2018), revelaram uma lei falha e 
inconclusa que deixa diversas lacunas e, por essa razão todas as escolas pesquisadas a 
cumprem. A pesquisadora apontou que considerando os Parâmetros para Bibliotecas 
Escolares tem-se um cenário diferente, no qual nenhuma das cinco escolas consegue 
atender todos os seus indicadores. 
Teixeira (2016) desenvolveu a pesquisa “Práticas pedagógicas no ensino de leitura 
nas séries iniciais: o processo de constituição de uma professora” que foi realizada em 
uma escola municipal localizada no interior do Estado de São Paulo e teve como alvo de 
investigação o trabalho de uma professora atuante nas séries iniciais do Ensino 
Fundamental I que, segundo a pesquisadora, era considerada uma docente de sucesso no 
ensino da leitura. Teixeira (2016) defende como imprescindível para a constituição do 
indivíduo, a interação com o “outro”. Subsidiada pelos pressupostos de Leite (2011) e 
ancorada na abordagem da psicologia histórico-cultural, os resultados indicaram o papel 
crucial da afetividade, através da família, na constituição da professora como sujeito 
leitor. Da mesma forma evidenciaram a relevância do curso de Magistério (em detrimento 
à Graduação) no processo de constituição da professora. Teixeira (2016) verificou a 
relação afetivamente positiva que a professora, através de suas práticas pedagógicas, 
estabeleceu entre os estudantes e a leitura, evidenciando a importância do professor como 
leitor na formação de alunos leitores. 
27 
 
Darienzo (2016), parte do trabalho realizado pela formação de leitores por três 
décadas de Jornadas Literárias, na Capital Nacional e Estadual da Literatura, Passo 
Fundo/RS, teve seus desdobramentos por meio do Projeto Passo Fundo – Capital 
Nacional da Literatura e nele, do Projeto Livro do Mês, foco de sua pesquisa. Segundo o 
autor, para aproximar os leitores em formação de textos de natureza literária, formar uma 
plateia apreciadora de diferentes manifestações artístico-culturais e, assim, formar 
leitores multimidiais, é desenvolvida uma prática leitora multimidial, que provoca a 
interação entre a obra do mês e outras leituras, em diferentes linguagens e em distintos 
suportes. Tomando esse processo de formação de leitores como universo de investigação, 
a pesquisa pretendeu investigar as percepções produzidas por estudantes e professores em 
sua participação no Projeto Livro do Mês e o alcance da concepção de leitura literária, 
que embasa o referido Projeto, junto a esses sujeitos. Baseado em Rösing, Chartier, 
Zilberman, Bahktin, Santaella, Petit, Freire, Iser, Silva, Colomer, Paulino e Azevedo, a 
análise dos dados revelou que: o Projeto Livro do Mês adentra a escola por duas vias 
distintas, a saber, pelo protagonismo do professor e pelo desejo da escola; desenvolve 
comportamento leitor e práticas de leitura ligadas a uma concepção de leitura literária nos 
leitores em formação; a sua interiorização no ambiente escolar depende do envolvimento 
de professores e estudantes nas diferentes etapas do Projeto e, para além delas, do trabalho 
realizado antecipadamente e posteriormente ao encerramento de cada edição mensal do 
Projeto; o processo de institucionalização do Projeto acontece em consequência do 
comprometimento da escola com a formação de leitores. 
A pesquisa de Silva (2016) buscou contribuir para os estudos acerca da 
importância da literatura infantil em diálogo com as mídias digitais no espaço escolar. 
Para isso, teve como objetivo analisar a configuração dos sites educativos que trazem a 
temática da literatura infantil, verificando como o literário se evidencia. A pesquisadora 
constatou que a literatura infantil online pode ser uma aliada dos educadores para 
incentivar a leitura dos estudantes, porém, nos sites brasileiros e gratuitos analisados 
nessa pesquisa, em alguns casos, o texto de literatura infantil online apresenta-se sem a 
as características de interatividade com o/a leitor/a e inovação que esse meio possibilita. 
A pesquisa “Ensino de literatura: da Paideia ao paradigma sistêmico” buscou 
aproximações com as rupturas paradigmáticas da ciência, para verificar como esses 
processos se intercruzam
no ensino de Literatura. Gabrielli (2016) evidenciou que o 
ensino de Literatura centrado no viés cronológico dos períodos literários, no uso do texto 
para transmissão de valores ou para o ensino da gramática da língua relaciona-se à 
28 
 
concepção de ciência advinda do paradigma tradicional, dominante. Além disso, práticas 
leitoras que concebem a literariedade dos textos, a atribuição de sentidos a partir das 
vivências do estudante e das condições oferecidas pelo professor, entendido por Gabrielli 
(2016) como mediador, trazem as marcas do modelo científico emergente, do pensamento 
sistêmico na educação. A pesquisa sinaliza, segundo Gabrielli (2016), que o ensino de 
Literatura, pelo viés da religação dos saberes, pode ser o fio condutor para as mudanças 
que se fazem necessárias ao processo educativo contemporâneo e a orientação 
metodológica de Cosson (2006) para a promoção do letramento literário é uma 
possibilidade de ensino sob a perspectiva sistêmica. Através das relações estabelecidas 
entre a evolução do pensamento educacional e as rupturas paradigmáticas da ciência 
sugere-se que o ensino de Literatura seja orientado para a formação do leitor, centrado no 
processo de humanização, nas significações que o aluno constrói para suas leituras e nas 
interações estabelecidas com a realidade. A investigação também apresenta subsídios 
teóricos para o ensino de Literatura, no Ensino Médio, consoante com os pressupostos 
contemporâneos de educação e de ciência, a partir da perspectiva do letramento literário. 
Algumas pesquisas apresentaram referencial teórico distinto dessa pesquisa, como 
a de Nascimento (2017) ao abordar as concepções de linguagem estruturalista, discursiva 
e interacionista e a de Silva (2018) ao defender a consciência fonológica. Outras pesquisas 
sobressaíram aos meus olhos ao abordarem alguns conceitos próximos a essa pesquisa, 
embora também com perspectivas teóricas distintas, como a pesquisa de Jaques (2016) 
que aborda alteridade e enunciação, porém com viés interacionista e com abordagem da 
linguística; ou da de Santos (2016) que traz a importância de levar a vida para a sala de 
aula e para a organização do ensino, contudo com foco na mediação do professor, 
conceito superado na filosofia da linguagem (VOLOCHINOV, 2017; BAKHTIN, 2011) 
em que o signo ideológico é o mediador na relação “eu - outro”, o professor, neste caso, 
seria o criador de elos mediadores para que a aprendizagem aconteça. Ele é o organizador 
do trabalho pedagógico. A relação entre os sujeitos também está presente em pesquisa 
analisada, em que Teixeira (2016) afirma como imprescindível para a constituição do 
indivíduo, a interação com o “outro”. Santos (2018) evidencia a importância do professor 
como leitor na formação de alunos leitores. Gabrielli (2016) faz críticas a concepção de 
ciência advinda do paradigma tradicional dominante e ressalta o ensino de Literatura 
como orientador na formação do leitor, centrado no processo de humanização, nas 
significações que o aluno constrói para suas leituras e nas interações estabelecidas com a 
realidade. 
29 
 
Observei, portanto, que as dissertações aqui analisadas abordam de maneiras 
diferentes a leitura e a literatura, elevando com discussões teóricas e práticas a área da 
leitura tão cara a formação humana. Entretanto não trazem a preocupação de compreender 
as relações de trocas no ensino e na aprendizagem do ato de ler. 
Vejamos abaixo as teses levantadas acerca do assunto. 
 
Quadro 2 – Teses sobre as relações no ensino e na aprendizagem do ato de ler 
(2016-2018) 
INSTITUIÇÃO 
DE ENSINO 
TÍTULO AUTOR ANO 
Universidade de 
São Paulo 
O ensino de leitura literária nos anos iniciais 
do ensino fundamental: dimensões relativas à 
gestão e à estrutura da escola 
Iracema Santos 
do Nascimento 
2016 
Universidade 
Federal do Rio 
de Janeiro 
Aulas de literatura do Ensino Fundamental do 
colégio Pedro II – campus Humaitá 
Vanessa de 
Abreu 
Camasmie 
2017 
Universidade 
Estadual 
Paulista Júlio de 
Mesquita Filho 
(Presidente 
Prudente) 
Nas veredas da leitura: ações para formação 
de leitores autônomos 
Silvana 
Ferreira de 
Souza Balsan 
2018 
Universidade de 
São Paulo 
Esse jogo daria um ótimo livro: uma análise 
da literatura gamer e da constituição de 
práticas de leitura em narrativas 
transmidiáticas 
Aline Akemi 
Nagata Prado 
2016 
Universidade 
Estadual 
Paulista Júlio de 
Mesquita Filho 
(Presidente 
Prudente) 
Andersen e o ensino de estratégias de leitura: 
relações entre leitores e textos 
Vania kelen 
Belao Vagula 
2016 
Fonte: Russo, 2019 
 
Nascimento (2016) teve como objetivo verificar e analisar as dimensões relativas 
à gestão e à estrutura da escola no ensino de leitura literária nos anos iniciais do Ensino 
30 
 
Fundamental em uma escola da rede estadual paulista, na periferia da zona sul de São 
Paulo. Tendo a perspectiva sócio-histórica como base conceitual, a pesquisadora traz 
como resultados da pesquisa, identificados em cinco dimensões que devem estar 
conjugadas para garantir um trabalho pedagógico consistente de ensino da leitura literária 
ao longo de todo o ciclo dos anos iniciais: formação de professores; planejamento e gestão 
pedagógica; objetos de leitura e seus usos; avaliação; interlocução para a produção de 
sentidos. Nascimento (2016) verificou que, apesar de alguns avanços, essas cinco 
dimensões não são consideradas em seu conjunto no âmbito do sistema estadual de ensino 
e tampouco na escola. 
O objetivo geral da pesquisa intitulada “Aulas de literatura do Ensino 
Fundamental do Colégio Pedro II – campus Humaitá” foi compreender tais aulas. O 
referencial teórico discutiu os conceitos de letramento literário (COSSON & PAULINO, 
2009); educação literária (COLOMER, 2009); vivência estética (VIGOTSKI, 2010); 
experiência estética (LARROSA, 2003 e BENJAMIN, 1994); contemplação estética 
(BAKHTIN, 1993b); dimensões da literatura (FITTIPALDI, 2013) e linhas de força de 
promoção da leitura (BRITTO, CAMASMIE e SERRA, 2015). Segundo Camasmie 
(2017), a proposta curricular (CPII, 2008) e as aulas se articulam em certa medida, elas 
partem de um tema, se estruturam na tríade - leitura, conversa e fazer artístico - e 
pretendem formar um leitor crítico. A pesquisadora conclui que a literatura é 
compreendida como arte, as crianças ouvem, conversam, desenham, debatem e escrevem, 
a partir de livros clássicos e atuais. Além disso, a proposta curricular e as aulas apresentam 
uma tensão entre a educação literária e a formação literária, partindo da ideia de que a 
literatura é um direito (CANDIDO, 2011), a partir da experiência do CPII, defende-se a 
formação literária como uma abordagem para aulas de Literatura nos anos iniciais do 
Ensino Fundamental. 
Balsan (2018) teve como objetivo compreender como o processo de múltiplas 
ações de leitura, articuladas entre si, influenciaria a formação de leitores autônomos. A 
primeira ação de leitura, denominada Oficina de estratégias de leitura baseou-se na 
metodologia de ensino norteamericana, a qual propõe ensinar as estratégias de leitura. A 
segunda ação foi a formação de um Clube do livro, que se caracterizou por proporcionar 
uma prática de leitura coletiva e o compartilhamento entre todos, já que o grupo de 
educandos se encontrava regularmente, para discutir capítulos lidos em casa, da obra 
literária Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas (2010), de Flávio de Souza. A 
terceira ação foi o Baú de leitura, que se constituiu em uma pequena biblioteca no interior 
31 
 
da sala de aula, com um acervo de obras diversas, o qual surgiu e se ampliou a partir dos 
interesses e solicitações dos estudantes em uma sala do Ensino Fundamental de 4º ano da 
Rede Municipal de Ensino de Dracena/SP, cuja pesquisadora era também a professora. 
Balsan (2018) afirma que três ações articuladas possibilitaram a formação de
leitores mais 
autônomos a partir da constituição do pensamento estratégico. A autora também destaca 
a necessidade de proporcionar momentos de leitura, seja individual, seja compartilhada, 
nos quais o professor é o mediador ofertando progressivamente leituras que favoreçam o 
desenvolvimento da autonomia dos alunos. 
A tese “Esse jogo daria um ótimo livro” defende que as novas formas de narrar, 
em especial as transmidiáticas, estão constituindo novas práticas sociais de leitura que 
visam enredar o leitor em um processo contínuo e controlado de consumo tornando-o fiel 
a uma marca ou produto. Contudo, para Prado (2016), nesse processo, os próprios leitores 
encontram brechas para se movimentarem de forma crítica, assumindo um lugar ativo e 
engajado (JENKINS; FORD; GREEN, 2014), acessando conteúdo em diferentes mídias, 
discutindo com seus pares para a compreensão do todo e produzindo novos conteúdos a 
partir disso. A pesquisadora afirma que a narrativa transmidiática estabelece novas 
práticas sociais de leitura que, para além da leitura dos objetos, um processo participativo 
sem dúvida, exige do autor-leitor-jogador que busque mais, que acesse outras mídias e 
que saiba lê-las, que discuta com outros seus interesses e descobertas, para formar um 
todo narrativo completo e que por fim, ressignifique essa experiência narrativa em 
produções próprias. 
Vagula (2016), pautada em uma concepção dialógica de linguagem e de texto, 
tendo como aporte uma metodologia de ensino norte-americana que propõe ensinar as 
estratégias de maneira sistematizada, afirma que sua pesquisa versa sobre o ensino de 
estratégias metacognitivas de leitura, com textos de Hans Christian Andersen. A pesquisa 
objetivou conhecer mais sobre as contribuições que o ensino de leitura por meio de 
estratégias metacognitivas poderia proporcionar para as relações entre o leitor e o texto 
em uma sala de 5° ano do Ensino Fundamental da rede municipal de ensino de Presidente 
Prudente. A tese confirmou o papel do conhecimento prévio como essencial para 
compreender o novo, sendo que a leitura de diferentes textos do mesmo autor e a 
aquisição de conhecimentos sobre Andersen trouxeram contribuições significativas para 
ampliar e aprofundar os conhecimentos dos alunos. A análise dos dados demonstrou 
também, segundo a pesquisadora, que a aprendizagem de estratégias e sua prática em 
32 
 
contextos reais de leitura com os textos selecionados pôde auxiliar na aproximação entre 
aluno e texto, facilitando a compreensão e estabelecerem diálogos com os textos. 
A pesquisa de Nascimento (2016) objetivou as dimensões de gestão e estrutura da 
escola, ainda que tenha sido no ensino de leitura literária nos anos iniciais do Ensino 
Fundamental e sua perspectiva teórica foi a sócio-histórica. O foco de Prado (2016) 
também foi diferente da atual pesquisa, pois tratou-se das transmídias como novas 
práticas sociais de leitura. Camasmie (2017) afirmou a literatura como um direito 
(CANDIDO, 2011) e discutiu conceitos bakhtinianos como a vivência estética, mas 
distanciou-se da presente pesquisa ao focalizar conceitos como educação literária 
(COLOMER, 2009). 
Já as pesquisas de Balsan (2018) e Vagula (2016) apresentaram pontos em comum 
com essa pesquisa, pois trouxeram as estratégias de leitura. O objetivo de Balsan (2018) 
foi compreender como o processo de múltiplas ações de leitura (Oficina de estratégias de 
leitura, formação de um Clube do livro e o Baú de leitura) articuladas entre si, 
influenciaria na formação de leitores autônomos. Porém focalizou as três ações 
articuladas para a formação de leitores mais autônomos a partir da constituição do 
pensamento estratégico e compreendeu o professor como o mediador de leituras no 
desenvolvimento da autonomia dos alunos. Conceitos que se distanciam desta tese, em 
que reafirmo a compreensão do signo como mediador da leitura e o professor como 
criador do elo de mediação entre o livro e o aluno. Vagula (2016) pautou-se em uma 
concepção dialógica de linguagem e de texto e compreendeu a importância das estratégias 
de leitura, em especial o papel fundamental dos conhecimentos prévios dos alunos para a 
leitura, pontos convergentes com a atual pesquisa. Porém seu trabalho foi com crianças 
do 5º ano do Ensino Fundamental pautado nos textos de Hans Christian Andersen. 
Portanto, as teses analisadas brevemente apresentaram pesquisas acerca da leitura 
e literatura, inclusive abordando as estratégias de compreensão leitora que serão 
analisadas nessa pesquisa. Reafirmo a importância das pesquisas sobre leitura e literatura, 
pois levam luz ao ato de ler. Porém, reitero, assim como afirmei na análise das 
dissertações, que as pesquisas levantadas nesta análise objetiva não trazem a preocupação 
de compreender as relações de alteridade presentes no ensino e na aprendizagem do ato 
de ler, relações constituidoras do leitor. 
 
 
33 
 
INTRODUÇÃO 
 
O que significa ler algo? A resposta é 
imensamente mais complexa do que poderia 
sugerir uma primeira reação, um reflexo 
automático de alguém tomado de surpresa por 
uma pergunta tão primária. Pensemos, 
inicialmente, numa página de um jornal diário 
impresso. Ler tal página, é óbvio e ululante, 
significa interpretar, dar um sentido ao 
noticiário, aos comentários, aos artigos ali 
expostos. Sim, ok, está certo. Mas como 
decodificar, interpretar, dar um sentido ao 
texto? O que, exatamente, o leitor mobiliza nessa 
tarefa, além da mera capacidade técnica de 
juntar caracteres e com isso formar palavras, 
sentenças, parágrafos? 
(Prefácio, ARBEX JR in Foucambert, 2008). 
 
No intuito da busca acerca das relações constituidoras do leitor, em busca da 
resposta do que é ler, conforme epígrafe acima, minha intenção neste capítulo é propor 
reflexão aos leitores e a mim mesma como pesquisadora e, aqui, escritora dos meus 
enunciados, de instaurar a dúvida em argumentos aparentemente consensuais e imutáveis. 
Pretendo, por outro lado, argumentar em favor de algumas perspectivas possibilitadoras 
de superação, mas sem a pretensão de resolver, sobre as relações entre alunos, 
professores, materiais e espaços de leitura dos anos iniciais do Ensino Fundamental do 
ensino e da aprendizagem do ato de ler em Língua Portuguesa. O meu foco procurará se 
concentrar nos enunciados emergentes do ensino e da aprendizagem do ato de ler porque 
elegi como objeto de pesquisa as próprias relações de troca entre alunos, professoras, 
espaços, livros e outros materiais de leitura no que tange o ensino e a aprendizagem do 
ato de ler. 
As dificuldades encontradas nas escolas brasileiras sobre o ensino e a 
aprendizagem no início do processo de escolarização acerca do ato de ler, é uma realidade 
latente. Para realizar análise sobre essa realidade, parto do pressuposto de que 
historicamente o ensino do ato de ler apoia-se predominantemente na ênfase em 
pronúncia fluente sem considerar a intenção do leitor de atribuir sentido ao texto em 
34 
 
situações sociais, históricas e culturais. Em substituição a essa perspectiva, a escola 
costumeiramente ensina aos alunos como tomar posse de alguns aspectos do sistema 
linguístico por não compreender que o ato de ler é uma ação plural inserida na cultura, na 
história e na sociedade. 
Problemas criados por ações do processo educacional, bem como das políticas 
públicas têm raízes em múltiplas áreas que envolvem aspectos de natureza histórica, 
vinculados a concepções sobre o que se considera saber ler e sobre o desempenho do bom 
leitor. 
Estudos sobre o ensino da língua materna escrita para as crianças pequenas no 
mundo ocidental indicam a existência de problemas históricos (ARENA, 2010, p.238). 
Do ponto de vista histórico, esses aspectos provocaram diversas discussões entre 
políticos, pedagogos, psicólogos, linguistas e médicos acerca do método mais eficiente 
para ensinar a língua escrita, inclusive sobre

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