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1 TAXONOMIA Reino: Protista Filo: Plasmodroma Classe: Sarcodina Subclasse: Piroplasmea Ordem Piroplasmida (Piroplasmidas) Família Babesiidae Família Theileriidae Gênero: Babesia Theileria BABESIOSE CANINA Agente: Babesia canis Sub-espécies: - B. canis canis -> Europa, Ásia (partes) - B. canis vogeli -> Norte da África, América do Norte - B. canis Rossi -> Sudeste da África - Babesia gibsoni -> Ásia, América do Norte, nordeste e leste da África - B. canis -> 4 a 5 micrometros (considerada grande), normalmente aos pares dentro dos eritrócitos - B. gibsoni -> 3 um, formato ovalado *de importância no Brasil: B. canis gibsoni e B. canis vogeli – introduzidas no Brasil desde a colonização quando os europeus traziam os cães • Protozoários que não tem flagelos, cílios ou formam pseudópodes • Locomoção por flexão ou deslizamento • Reprodução assexuada ocorre por fissão binária ou esquizogonia em eritrócitos ou outras células sanguíneas de mamíferos • Apresentam complexo apical (menos desenvolvido) • Duas famílias: Babesiidae e Theileiidae • Gênero Babesia – descoberto por Victor Babès, patologista romeno em 1888 • São piriformes (piroplasma), redondos ou ovais • Parasitam eritrócitos, linfócitos, histiócitos, eritroblastos ou outras células sanguíneas dos mamíferos • Parasitam vários tecidos dos carrapatos, onde ocorre a esquizogonia • Complexo apical: anel polar, róptrias, micronema e microtúbulos subpeliculares • Localização do parasita - Periférica (alta parasitemia) - Viscerotrópica – podem causar doença sem alta parasitemia, os animais podem sofrer infecções letais como formação de trombo cerebral sem apresentar anemia. • Ciclo biológico heteróxeno • Acomete hospedeiros vertebrados e invertebrados Podem variar de acordo com a espécie de Babesia • Hospedeiro invertebrado – geralmente são carrapatos ixodídeos. Carrapatos podem albergar mais de uma espécie de Babesia. Há reprodução assexuada e sexuada • Hospedeiro vertebrado – bovinos, equinos, cães, homem. Reprodução assexuada nos eritrócitos. 2 Espécie Hospedeiro vertebrado Hospedeiro invertebrado Babesia bigemina Babesia bovis Bovino Rhipicephalus Boophilus Babesia caballi Equino Dermacentor Rhipicephalus Babesia canis Cão Rhipicephalus *Rhipicephalus sanguineus – carrapato vermelho do cão, muito comum em áreas urbanas e possuem o hábito de ficar no alto CICLO BIOLÓGICO HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO – CARRAPATO • Hematofagia – suga hemácias com os merozoítos (piroplasmas, formato de gota) • Esquizogonia nas células do epitélio intestinal do carrapato adulto • Formação de grande número de merozoítos • Várias gerações esquizogônicas em vários tipos celulares, inclusive nos oócitos -> invasão dos ovários (transmissão transovariana no carrapato) • Glândulas salivares – esporozoítos que é a forma infectante • São inoculados durante a hematofagia do carrapato na circulação do cão • Gametogênese – células intestinais do vetor (carrapatos) HOSPEDEIRO DEFINITIVO – CÃO • Inoculação dos esporozoítos • Transformam-se em trofozoítos • Formam-se os merozoítos (piroplasmas) • Reprodução por brotamento (fissão binária – um da origem a dois, dois da origem a 4 e assim vão multiplicando material genético) • Hemólise • Invasão de outros eritrócitos . *no carrapato – esporogonia vai acontecer nas glândulas salivares para liberar a forma infectante no momento da alimentação (esporozoítos). • Em hospedeiros vertebrados imuno- resistentes a fase de multiplicação pode ser reduzida ou ausente. Alguns trofozoítos não se multiplicam, aumentam de tamanho e vão formar os gametócitos. • A Babesia é patogênica para o carrapato -> diretamente relacionada ao grau de parasitemia no hospedeiro e susceptibilidade do vetor -> leve depressão na produção de ovos até morte da fêmea ingurgitada. HÁ TRÊS TIPOS DE REPRODUÇÃO: • Merogonia: reprodução assexuada nas hemácias do hospedeiro vertebrado -> merozoítos • Gametogonia: terminação da formação e fusão dos gametas -> tubo digestivo dos carrapatos (só • Esporogonia: reprodução assexuada nas glândulas salivares dos carrapatos -> esporozoítos (que são as formas infectantes para o hospedeiro vertebrado) 3 *no hospedeiro vertebrado somente a reprodução assexuada que é a formação dos merozoítos TRANSMISSÃO TRANSOVARIANA E TRANSESTADIAL B. bigemina Fêmea adulta se infecta L, N e A transmitem B. bovis Fêmea adulta se infecta L, N e A transmitem B. caballi Fêmea adulta se infecta L, N e A transmitem B. canis Fêmea adulta se infecta L, N e A transmitem L – larva N – ninfa A – adulto *transmissão transovariana – a babesia será transmitida através do ovário, ela irá infectar então os ovos do carrapato. *transestadial – A perpetuação da babesia nas formas dos carrapatos. Uma vez o ovo infectado, a larva será infectada, na mudança para ninfa irá permanecer infectada e o adulto também. Portanto, existe a perpetuação entre os estágios de vida do carrapato. *é possível encontrar babesia canis na forma de merozoítos (piroplasmas) extracelulares – se multiplicam e uma hora a célula vai ser rompida. EPIDEMIOLOGIA • HIs: Rhipicephalus sanguineus (+ importante no Brasil que é o vetor da babesia canis vogeli) Dermacentor reticulatus Haemophysalis spp. *Dermacentor reticulatus e Haemophysalis spp não existem no Brasil, são responsáveis pela transmissão de outras espécies de babesia. O dermacentor é responsável pela transmissão da babesia canis canis (que não há no Brasil) e a babesia canis Rossi é transmitida pelo Haemophysalis leachi • HDs: cães de qualquer idade Canídeos silvestres (chacal, lobo) • Variação sazonal: maior incidência nos meses de verão • Fontes de infecção: cães carreadores Transfusão de sangue • Predisposição: raças -> greyhound (maior soroprevalência nos E.U.A.) RHIPICEPHALUS SANGUINEUS *carrapato super comum em áreas urbanas, extremamente adaptado ao ambiente doméstico (pode-se encontrar em ambientes rurais também, porém é preciso de características no qual o cão fique sempre restrito a uma determinada área porque o rhipicephalus não é um carrapato que estará na mata por exemplo, estará sempre na casinha do cachorro, normalmente no teto, possuem um comportamento de nidícola, de 4 estar sempre próximo do hospedeiro, dos ninhos). PATOGENIA • Período de incubação = 10 a 21 dias • Parasitemia = pode aparecer desde o 1° dia pós-infecção Segue-se um período de ausência dos parasitas na circulação periférica por aproximadamente 10 dias • 2° parasitemia = pode ser 2 semanas pós-infecção com pico aos 20 dias • Hemólise intra e extravascular -> anemia regenerativa hemoglobinemia hemoglobinúria bilirrubinúria • Pirexia -> liberação de pirógenos endógenos resultantes da hemólise e destruição dos parasitas (a pirexia nada mais é do que a liberação de alguns compostos que levará a febre do hospedeiro) • Ativação de mediadores inflamatórios (aminas vasoativas) • Esplenomegalia -> hiperplasia do sistema mononuclear fagocitário • Hipóxia anêmica -> metabolismo anaeróbico -> acidose metabólica • Inflamação generalizada + danos severos a diversos órgãos: devido a mecanismos imunológicos auto- agressivos (relacionados à ação de citocinas, óxido nítrico, radicais livres de oxigênio, eicosanóides e fatores ativadores de plaquetas) • Síndrome da resposta inflamatória sistêmica: quando 2 ou mais dos seguintes sintomas clínicos estiverem presentes:- Tquicardia - Taquipnéia - Alcalose respiratória - Hipo/hipertermia - Leucocitose - Leucopenia (com desvio à esquerda de neutrófilos) • Insuficiência renal aguda -> devido aos processos imunológicos e inflamatórios • Babesiose cerebral -> devido ao depósito de eritrócitos parasitados nos capilares cerebrais • Distúrbios metabólicos (óxido nítrico interfere temporariamente com a neurotransmissão) • Coagulação intravascular disseminada • Acidose metabólica -> comum em casos severos devido ao aumento da resistência vascular e redução da função pulmonar -> disfunção respiratória (trocas gasosas não acontecerão de forma eficiente) SINAIS e SINTOMAS QUADRO NÃO-COMPLICADO • Leve a moderado: hemólise aguda, anemia leve a moderada • Severo: hemólise aguda severa, anemia severa (hematócrito < 15%) QUADRO COMPLICADO • Falência renal aguda oligúria ou anúria, às vezes poliúria hemoglobinúria evidente análise da urina: proteinúria cilindruria células epiteliais tubulares avaliar volume urinário e azotemia 5 • Babesiose cerebral colapso, ataques semi-coma ou coma (choque) incoordenação, paresias tremores musculares, perda intermitente da consciência agressão, vocalização cérebro: congestão áreas hemorrágicas deposição de eritrócitos no endotélio dos capilares • Coagulopatia às vezes não detectável causa disfunção de órgãos trombocitopenia (plaquetas) hemorragias detectáveis são raras • Icterícia e hepatopatia bilirrubinemia e bilirrubinúria icterícia surge em casos avançados hipocalemia (níveis baixos de potássio) congestão/necrose centrolobular • Anemia hemolítica imuno-mediada ação de anticorpos associados à membrana agravada mesmo com a diminuição da parasitemia • Babesiose hiperaguda sinais clínicos surgem em < 24 hs colapso, hemólise intravascular severa • Síndrome respiratória aguda: taquipneia, dispneia severa, tosse epistaxe (descarga nasal com sangue – dentro dos processos patológicos, vai interferir nas plaquetas) PODE VARIAR DE ACORDO COM: • Idade do hospedeiro – animais mais velhos são mais susceptíveis - animais jovens -> resistência natural -> quadro de menor intensidade (anemia e duração da parasitemia) -> anticorpos no colostro, persistência do timo, hemoglobina fetal (mais resistentes à infecção por Babesia). • Estado nutricional • Estado imunológico - imunodeprimidos -> mais susceptíveis - após a primo-infeção -> recidivas: estabelecimento gradual de imunidade - sem reinfecção por aproximadamente 8 meses: menor resposta imunológica • Virulência do agente (algumas espécies de babesia são mais virulentas que outras) • Grau de infestação (carrapatos) • Associação com outros patógenos e hemoparasitas BABESIOSE EM EQUINOS • Também denominada de piroplasmose equina ou nutaliose • A doença é o principal impedimento para o trânsito internacional de cavalos - Países que possuem uma indústria equina importante estão livres da doença (Japão, Canadá, Estados Unidos e Austrália) • Cavalos positivos para Babesia estão impedidos de entrar nestes Países, quer seja para competição ou exportação. • Brasil -> problemas na exportação de equinos • Babesia caballi -> parasitemias baixas < 1%, portadores por 1 a 3 anos, tende a ser menos patogênica: sintomas clínicos menos severo. Período de incubação entre 10-30 dias • Theileria equi -> infecções persistentes por toda a vida: o animal perpetua o agente, divisão em 4 merozoítos (cruz de malta), desenvolvimento primário em linfócitos, período de incubação entre 12- 19 dias. SINTOMAS • Agudos – febre, inapetência, dispneia, edema, icterícia, prostração (raro em áreas endêmicas) 6 • Sub-agudos – mesmos sinais com manifestação menos intensa e intermitente • Crônicos – mais comuns, sintomas inespecíficos. • Portador assintomático – pode reverter para quadros agudos ou sub-agudos em situações de estresse ou doenças intercorrentes • Quadros sub-clínicos – diminuição da performance em animais de competição, pode comprometer o potencial atlético do animal. BABESIOSE EM BOVINOS • Doença conhecida com os seguintes nomes: - Tristeza parasitária bovina (Brasil) – é uma associação de babesia e anaplasma que é uma espécie de rickettsias - Febre do Texas (EUA) - Febre esplênica - Malária bovina - Água vermelha • Pode estar associada com rickettsias – Anaplasma marginale, A. centrale • Período de incubação: 8 a 12 dias B. bigemina • Induz anemia severa • Há alta parasitemia, intensa lise de hemácias na corrente sanguínea -> anemia que pode ser severa, icterícia, hemoglobinúria, acidose metabólica • Acomete uma grande variedade de ruminantes: cervídeos, búfalos, além dos bovinos *no caso dos búfalos existe uma resistência, porque os búfalos são mais rústicos e o parasita já convive com ele muitos anos e chegou a um certo grau de parasitismo que para os búfalos não é tão grave assim. • Mortalidade em animais não tratados -> 50 a 90% B. bovis – viscerotrópica – leva à formação de trombos • Visceral, com tropismo pelo cérebro, baço e fígado: parasitemia baixa (não detectável), formação de trombos nas vísceras • Também apresentam anemia, hemoglobinúria, febre, icterícia • Pode ocorrer diarreia, abortamentos, sintomas neurológicos (parasita nos capilares cerebrais), agressividade ou apatia extrema, paresia (interrupção dos movimentos) e convulsões. • Antígenos na membrana do eritrócito -> favorece adesão destas células aos receptores das células endoteliais • Infecção aguda: aumento da atividade de agentes vasoativos -> estase sanguínea -> favorece adesão entre eritrócitos e destes ao endotélio vascular -> trombos • Distúrbios de coagulação (metabolismo do fibrinogênio): hipercoagulabilidade DIAGNÓSTICO • Métodos diretos - Esfregaço sanguíneo (fase aguda) - PCR - Necrópsia -> lesões e histopatológico • Métodos indiretos - Testes sorológicos (úteis para animais na fase crônica ou assintomáticos -> baixa parasitemia): ELISA, imunofluorescência indireta. TRATAMENTO • Suporte, transfusão sanguínea (casos graves) • Imidocarb, diaminazene (cuidado com superdosagem e há efeitos colaterais) • Tratamento é eficiente, são babesicidas. 7 CONTROLE Imunidade não é duradoura -> tentativas de promover exposição controlada ao agente. Interessante não eliminar todos os parasitas • Quimioprofilaxia: tratamento com doses sub-terapêuticas – doença em níveis subclínicos, para o desenvolvimento do estado de portador. • Controle de vetores (carrapatos): manter desafio o ano todo, não erradicar o carrapato • Premunição: - Conceito: provocar deliberadamente a infecção com baixo número de parasitas para gerar uma resposta imune primária (como não é uma resposta duradoura, então, é interessante para os animais é estarem sempre sendo expostos) - Clássica: inoculação de sangue de animal contaminado -> monitorar a infecção. Desvantagens: inóculo desconhecido (quantidade, virulência), pode transmitir outras doenças (ex. rickettsias) - Moderna: utilização de inóculos padronizados • Regiões endêmicas - Manutenção do estímulo à resposta imune através da exposição continuada ao parasita – sem controle • Áreas de instabilidade enzoótica - Áreas que sofrem súbitos aumentos da quantidade de carrapatos e portanto, da carga parasitária – em determinadas épocas do ano existe uma baixa dos carrapatos e a doença fica sem aparecer, porém, em outros períodos tem demais (isso que quer dizer instabilidade enzoótica) - Controle estratégico – uso de carrapaticidas, rotação de pastagens, seleção de animais resistentes, premunição RANGELIOSE Nada mais é do que outro tipo de babesia com o nome diferente. • 1914 – Tratamento (CARINI & MACIEL, 1914b) • 1926 – (WENYON,1926); • 1938 – O agente foi desacreditado (MOREIRA, 1938); • (CARINI, 1948) • Da década de 50 ao ano de 2003 -> Esquecimento; • Décadas de 60 e 70 -> publicações pontuais; • (KRAUSPENHAR et al., 2003); • (LORETTI & BARROS, 2004). • 18S rRNA -> similaridade com B. canis e B. gibsoni de apenas 92% e 94% respectivamente; • hsp 70 -> similaridade é de 82% para B. canis e de 86% para B. gibsoni (SOARES et al., 2011). EPIDEMIOLOGIA – VETOR Amblyomma aureolatum Esse carrapato possui particularidades além da altitude, está presente em áreas úmidas, fragmentos de mata atlântica. Não estará presente em áreas secas porque ele depende muito da umidade para completar o seu ciclo. O Amblyomma aureolatum possui como hospedeiros preferenciais nas formas imaturas as aves e roedores silvestres e nas formas adultas os canídeos (tanto os canídeos domésticos quanto canídeos silvestres) 8 CICLO *no geral, está presente no ciclo silvestre que são os cachorros do mato e outras espécies de canídeo PATOGENIA INFECÇÃO EXTRAERITROCITÁRIA FASE ERITROCITÁRIA *Hepcidina – proteína associada à entrada de ferro na circulação dos mamíferos SINAIS CLÍNICOS Sinais clínicos de 35 cães com rangeliose (SOARES, 2014) • Apatia e anorexia (100%) • Desidratação (50,0%) • Febre (76,7%) • Palidez das mucosas (86,7%) • Sangramentos (35,7%) • Petéquias (18,5%) • Esplenomegalia (63,6%) • Linfadenomegalia (30,4%) • Icterícia (51,7%) • Diarreia (55,1%) • Taxa de letalidade de 33,3%. 9 EPIDEMIOLOGIA – VETOR • Transmissão transovariana • Perpetuação transestadial CONTROLE E PROFILAXIA • Prevenção do contato e ‘’controle’’ dos carrapatos; • Tratamento (mesmo que o da babesia); • Cuidado ao visitar áreas de risco; • Atenção com animais jovens.