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DETERMINANTES E GAPS DA QUALIDADE EM SERVIÇOS NO SETOR DE CONTROLE DE PRAGAS URBANAS Ricardo Borges Gattás Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro – UNESP, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Especialista do Curso de Entomologia Urbana: Teoria e Prática. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Rio Claro - SP Agosto - 2008 II DETERMINANTES E GAPS DA QUALIDADE EM SERVIÇOS NO SETOR DE CONTROLE DE PRAGAS URBANAS Ricardo Borges Gattás Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro – UNESP, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Especialista do Curso de Entomologia Urbana: Teoria e Prática. Orientador: Ana Eugênia de Carvalho Campos Co-orientador: Prof. Luiz Cesar Ribeiro Carpinetti UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Rio Claro - SP Agosto - 2008 III “Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros” Confúcio IV AGRADECIMENTOS A minha esposa, Júlia, pelo carinho, paciência, compreensão e apoio, sem os quais a realização deste curso teria sido inviável. As minhas filhas, Maria Fernanda e Maria Flávia, que, durante muitos finais de semana, foram privadas de minha companhia para que eu pudesse honrar meus compromissos. A minha mãe, Maria Lúcia, pela contribuição e incentivo para realização deste curso. Ao Prof. Carlos Goldenberg, da EESC-USP, pelas valiosas contribuições e críticas. Ao Prof. Carpinetti, da EESC-USP, pela oportunidade concedida e orientação em todas as etapas do trabalho. Aos profs. Odair Correa Bueno e Ana Eugênia de Carvalho Campos, pela oportunidade de poder desenvolver este tema dentro do Curso de Especialização. À UNESP de Rio Claro e ao Instituto Biológico por proporcionarem tal Curso. V ÍNDICE Página AGRADECIMENTOS ..................................................... IV RESUMO ....................................................................... VI ABSTRACT ................................................................... VII 1 INTRODUÇÃO ............................................................ 1 1.1 Contextualização ................................................... 1 1.2 Justificativa ou problematização ............................ 2 1.3 Objetivo geral ......................................................... 3 1.4 Método de desenvolvimento do trabalho ............... 3 1.5 Estrutura do trabalho .............................................. 4 2 MERCADO DE CONTROLE DE PRAGAS URBANAS.. 5 3 QUALIDADE EM SERVIÇOS ........................................ 8 3.1 Definição de serviços ............................................... 8 3.2 Conceito de qualidade ............................................. 10 3.3 Conceito de qualidade em serviços ......................... 11 3.4 Determinantes da qualidade em serviços................. 14 3.5 Modelo “5 gaps” da análise da qualidade em serviços..................................................................... 17 4 DETERMINANTES E GAPS DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE CONTROLE DE PRAGAS .............. 20 4.1 Determinantes da qualidade em controle de pragas .................................................................. 20 4.2 Gaps: interpretação para o mercado de controle de pragas urbanas....................................... 22 4.3 Análise de casos ....................................................... 24 4.4 Recuperação de serviço ........................................... 30 4.5 Síntese da análise de Gaps ..................................... 32 5 CONCLUSÃO ................................................................ 34 6 Referências Bibliográficas........................................... 36 VI RESUMO Este trabalho é baseado em desenvolvimento teórico através de uma revisão de literatura na área de qualidade em serviços em geral. Tem como objetivo identificar os determinantes da qualidade em serviços no setor específico de controle de pragas urbanas e através da adaptação do modelo de análise dos Gaps1, proposto por Parasuraman, caracterizar as principais lacunas ou Gaps encontrados na prestação de serviços desse segmento. O trabalho contribui para que os gerentes de empresas do setor de controle de pragas urbanas otimizem a aplicação dos seus vários tipos de recursos, nos atributos (determinantes) que trarão maior benefício em termos de satisfação do cliente. A adaptação do modelo de análise de Gaps é outra contribuição que irá permitir aos gerentes melhor entendimento dos problemas e falhas em serviços desse segmento, permitindo ações reparadoras apropriadas e, conseqüentemente, melhoria nos serviços prestados. 1 Gap: significa a discrepância, para o cliente, entre a qualidade do serviço esperado e a qualidade do serviço percebido. VII ABSTRACT This work is based on theoretical development through a review of literature on the area of quality of services in general The objective is to identify the decisive factors to quality of services, in the specific sector of urban pest control, and characterize the main Gaps2 in the services rendered on this segment through the adaptation of the Gaps analysis model, proposed by Parasuraman. This work contributes so that managers of enterprises of the sector of urban pest control, can optimize the application of their several resources, in the attributes (determinative) that will bring higher benefits in terms of client’s satisfaction. The adaptation of the Gaps’ analysis model is another contribution that will give the managers better knowledge of the problems and flaws in services of this segment, allowing appropriate repairing actions and consequently, improvement in the services provided. 2 Gaps: it means that the quality that a consumer perceives in a service is a function of the difference between expected service and perceived service. 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização Em 1800, a população urbana representava apenas 1,7% da população mundial (ROBINSON, 1996). Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, 2007), no recém-divulgado relatório, a situação da população mundial em 2007 mostra que é a primeira vez na história, que a população mundial urbana ultrapassou, em número, a população rural, ou seja, mais de 50% da população mundial vive em áreas urbanas. No Brasil, segundo dados do IBGE em 19403, a população brasileira era de aproximadamente 41 milhões de pessoas, sendo 31% residindo em área urbana e 69% em área rural. Já no Censo Demográfico de 20004, a população brasileira contava com cerca de 170 milhões de pessoas, sendo que aproximadamente 80% residiam em áreas urbanas e 20% em áreas rurais e, na última Contagem da População, realizada em 20075, a população brasileira foi estimada em cerca de 184 milhões de pessoas. Essa rápida urbanização gera muitos problemas de saúde pública decorrentes da grande aglomeração de pessoas. 3 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censohistorico/1940_1996.shtm 4 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/pop_Censo2000.pdf 5 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem.pdf2 São milhares de pessoas vivendo e trabalhando em ambientes fechados, necessitando de boa qualidade de vida para poderem produzir e desempenharem minimamente suas funções no trabalho e desfrutarem de conforto e segurança em suas casas. O crescimento rápido sem estruturação e sem planejamento, contribui para piorar as condições sanitárias e aumentar a poluição da água e do ar. Juntamente com esses fatores, surgem as condições propícias para a proliferação de muitas doenças, seus patógenos e vetores. É nesse contexto que se inserem as pragas urbanas ou sinantrópicas. As pragas urbanas ou sinantrópicas são aqueles animais que coabitam com o homem os mesmos espaços, gerando desde problemas de asco pela simples presença até prejuízos materiais, econômicos e risco de vida para as pessoas. A presença de tais pragas requer ou possibilita a ação de equipes de saúde pública e/ou empresas particulares prestadoras de serviços no setor de controle de pragas urbanas. É nesse quadro de crescimento que se evidencia a importância de as empresas dedicarem maior atenção à qualidade com que seus serviços são prestados. 1.2 Justificativa ou problematização Figueiredo; Ozório e Arkader (2002:57), afirmam que, “embora sejam conhecidos vários instrumentos visando a prevenção dos erros (QFD, ferramentas de controle estatístico da qualidade, poka-yokes), o progresso tem sido apenas limitado em virtude do desconhecimento quer da natureza, quer dos tipos de erros específicos de cada setor, o que impede uma atuação mais efetiva, de prevenção ou mesmo de recuperação de falhas”. Daí a importância de se compreender a origem e a natureza das falhas para a gestão da qualidade em empresas de serviço. O primeiro modelo específico para a avaliação de serviços pode ser atribuído ao trabalho dos pesquisadores norte-americanos 3 Parasuraman, Zeitham e Berry (1985), que desenvolveram modelo visando obter critérios para avaliação da qualidade em serviços. Os critérios de avaliação aplicados levaram em consideração as lacunas ou Gaps que são as diferenças entre as expectativas dos usuários e o que é realmente oferecido. São esses Gaps os grandes obstáculos para se atingir nível de excelência na prestação de serviços. O modelo dos Gaps, proposto por Parasuraman, constitui o modelo de avaliação de maior credibilidade entre os especialistas, afirma Rebelato (1995, p.131). 1.3 Objetivo geral Caracterizar os determinantes relevantes da qualidade em serviços para o setor de controle de pragas urbanas e adaptar o modelo de análise dos Gaps para esse segmento, de tal forma que auxilie os gerentes de empresas, desse setor, na caracterização de problemas envolvendo a prestação de serviços e, conseqüentemente, melhorias para se evitar essas falhas. 1.4 Método de desenvolvimento do trabalho Realizar revisão de literatura na área de qualidade em serviços e desenvolver proposta conceitual para o setor de serviços de controle de pragas urbanas, propondo: • um conjunto de determinantes da qualidade para os serviços de controle de pragas urbanas; • analisar as falhas típicas na prestação de serviços para o setor de controle de pragas urbanas; • adaptar o modelo de análise de Gaps, proposto por Parasuraman, ao setor de serviços de controle de pragas urbanas; 4 • propor pontos de melhoria para se evitar ou minimizar as falhas identificadas. 1.5 Estrutura do Trabalho Esta monografia estrutura-se da seguinte forma: Primeiro capítulo Introdução: introdução do estudo, contemplando a contextualização, a justificativa, bem como o objetivo geral que se pretende alcançar e o método de desenvolvimento do trabalho. Segundo capítulo Mercado de controle de pragas urbanas: abrange um breve perfil do setor de Controle de Pragas Urbanas no mercado de serviços. Terceiro capítulo: Qualidade em serviços: mostrar os principais conceitos e abordagens de autores a respeito do assunto - conceitos de serviços, qualidade, qualidade em serviços, determinantes de qualidade em serviços e descrição do modelo dos Gaps concebido pelos pesquisadores Parasuraman, Zeitham e Berry (1985). Quarto capítulo Proposta: indica os determinantes de qualidade nos quais o gerente deve focar seus esforços. Relaciona as falhas em serviços de controle de pragas com os Gaps do modelo adotado e indica pontos de melhoria para se evitar essas falhas. Quinto capítulo Conclusão: discussão final e conclusão do trabalho. 5 2 MERCADO DE CONTROLE DE PRAGAS URBANAS A respeito do trabalho de revisão sobre o estado da arte do mercado de controle de pragas urbanas, vale citar que sua realização foi trabalhosa pelo reduzido número de informações disponíveis. A SBVP, Sociedade Brasileira sobre Vetores e Pragas Sinantrópicas, cujo objetivo é oferecer ao mercado as melhores condições técnicas para uma atuação responsável, nasceu somente em 2001. O primeiro Congresso Nacional sobre Pragas e Vetores em Ambiente Urbano (I CONAPRAVE) foi realizado em 2002 e teve como objetivo identificar e analisar os diferentes segmentos de mercado que necessitam dos serviços de controle de pragas. Segundo a SBVP (SBVP, 2004), “o mercado de controle profissional de pragas e vetores é responsável por um faturamento anual estimado em R$ 575 milhões. No entanto, pouco se conhece ou se discute sobre as necessidades dos diferentes mercados que são atendidos por estes profissionais”. Ainda no mesmo artigo, a SBVP assinala que hospitais, hotéis, restaurantes, teatros, cinemas, creches, escolas, padarias, indústrias alimentícias, têxteis, de papel, dentre outras, fazem parte do universo atendido por essas empresas. Ana Eugênia Campos (SBVP, 2004) aponta para a necessidade de se conhecer melhor o mercado e suas perspectivas para poder alinhar objetivos 6 de pesquisas e atender melhor as necessidades específicas relativas ao controle de vetores e pragas urbanas no Brasil. Corrêa (2000), percebendo essa lacuna, realizou em 2000, pesquisa de mercado para elaborar o perfil desse setor. Foram enviados 1000 questionários contendo 28 perguntas. Desses foram respondidos 358 questionários. Os dados que seguem são relativos à pesquisa: ➢ 52% das empresas controladoras de pragas urbanas no Brasil são relativamente novas (de 2 a 5 anos). Somente 7% têm mais de 20 anos; ➢ 77% das empresas têm menos de 10 anos de atividade; ➢ 90% das empresas são compostas por 1 ou 2 sócios; ➢ 39% das empresas realizam capina química e 35% fazem limpeza de caixas d’água; ➢ 39% das empresas controladoras de pragas foram fundadas por antigos funcionários de outras empresas do ramo, que aprenderam o negócio e iniciaram como empresários; ➢ somente 59% das empresas cumprem a legislação sobre os exames médicos periódicos (semestrais) dos funcionários com relação os níveis da acetilcolinesterase; ➢ 82% das empresas declararam não utilizar equipamentos de proteção individual (EPI’s) na execução dos trabalhos; ➢ no Estado de São Paulo verificou-se que a barata corresponde a 36% do faturamento das empresas, seguido do cupim (22%), rato (16%) e formiga (13%); ➢ 58% das empresas procuram adquirir os produtos nos distribuidores profissionais, habilitados a fornecer informações adequadas e oferecer treinamentos técnicos para uso dos desinfestantes domissanitários; ➢ 34% das empresas vendem seus serviços por indicação e 29% são chamadas devido à publicação em listas telefônicas; ➢ 85% das empresas não participam dos quadros associativos das associações de classe distribuídos pelo Brasil; 7 ➢ 81% das empresas se preocupam e fornecem orçamento aos clientes após inspeção detalhada e 19% não se preocupam e fornecem orçamento por telefone sem nenhuma inspeção. Como se vê, as próprias associações de classe são extremamentenovas e estão alertando para a necessidade de se estudar e conhecer melhor esse segmento, a fim de desenvolver recursos específicos para o setor. 8 3 QUALIDADE EM SERVIÇOS 3.1 Definição de serviço Kotler (1998, p.455) define serviço da seguinte forma: “Serviço é toda atividade ou benefício, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer à outra e que não resulte na posse de algum bem". Segundo Hoffman (2001, p.262), “os bens podem ser definidos como objetos, aparelhos ou coisas”, enquanto “serviços podem ser definidos como atos, esforços ou desempenhos”. Grönroos (1993, p.34) descreve onze definições sobre o que é serviço e, por fim, propõe a combinação de algumas delas formulando a seguinte definição: “O serviço é uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou menos intangível – que normalmente, mas não necessariamente, acontece durante as interações entre cliente e empregados de serviço e/ou recursos físicos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços – que é fornecida como solução ao(s) problema(s) do(s) cliente(s)”. Em função do grande número de definições existentes sobre o termo “serviço”, talvez o mais interessante seja condensar as características comuns de todas essas definições. 9 • Os serviços são mais ou menos intangíveis. • Os serviços são atividades ou uma série de atividades em vez de coisas. • Os serviços são, pelo menos até certo ponto, produzidos e consumidos simultaneamente. • O cliente participa do processo de produção, pelo menos até certo ponto. Grönroos (1993, p.38) esquematizou as principais características que diferenciam um produto de um serviço. Bens Físicos Serviços Tangível Intangível Homogêneo Heterogêneo Produção e distribuição separadas do consumo Produção, distribuição e consumo são processos simultâneos Uma coisa Uma atividade ou processo Valor principal produzido em fábricas Valor principal produzido nas interações entre comprador e vendedor Clientes normalmente não participam do processo de produção Clientes participam da produção Pode ser mantido em estoque Não pode ser mantido em estoque Transferência de propriedade Não transfere propriedade Fonte: Grönroos (1993, p.38) Quadro 1 - Diferenças entre serviços e bens físicos. A gama de serviços hoje é muito grande. Existem serviços das mais variadas formas, desde um cabeleireiro, onde o contato com o cliente é muito grande até o conserto de um carro, no qual o cliente nem vê o serviço em si, apenas há o contato no início e no final do processo de prestação do serviço. Essa grande diversidade de serviços cria um dos maiores problemas no gerenciamento dos serviços, isto é, como manter uma boa e uniforme qualidade percebida dos serviços produzidos aos clientes? 10 3.2 Conceito de qualidade Não há consenso sobre o conceito de qualidade, além disso, ele vem se modificando há décadas. Os primeiros conceitos de qualidade significavam separar os defeitos antes de serem percebidos pelos clientes. Depois esse conceito evoluiu para abordagem mais sistemática, incorporando ferramentas estatísticas e aumentando a responsabilidade de todos na garantia da qualidade. Atualmente, a qualidade abrange: a participação de todos; a padronização de processos; o procurar fazer certo da primeira vez; a medição de desempenho; os custos da qualidade e especialmente o suprir as necessidades e expectativas dos clientes. Kotler (1998, p.6) afirma que, “em sentido mais restrito, qualidade pode ser definida como ‘ausência de defeitos’. Mas a maioria das empresas centradas no cliente ultrapassa essa definição restrita, definindo qualidade em termos de satisfação do cliente". Rebelato (1995) afirma que o conceito de qualidade é recente, tendo seu início na década de 80. A partir desse período, muitos trabalhos acadêmicos e experiências de campo têm sido desenvolvidos dando enfoque à qualidade de serviços. O mais interessante é que os resultados de tais pesquisas apontam a qualidade como o mais eficaz agente promotor de sucesso para as empresas de serviços. No entanto, poucas são as empresas que reconhecem e adotam a qualidade como fator real de prosperidade. 11 Evolução do conceito de qualidade. Fonte: SLACK et al. (1999, p.507) 3.3 Conceito de qualidade em serviços A organização Gallup desenvolveu, no período de 1986 a 1989, trabalho de investigação para a ASQC (American Society for Quality Control), entrevistando 615 executivos seniores de diversas companhias americanas, sobre os fatores mais críticos para suas empresas. Para quase metade dos informantes o maior problema era a qualidade dos serviços (Davidow e Uttal, 1991 apud Rebelato,1995 p.16). KOTLER (1998, p.5) apresenta idéia muito clara do que é qualidade em serviços: “Muitos vendedores cometem o erro de se concentrarem mais nos produtos físicos do que nos benefícios propiciados por eles. Pensam sempre em vender o produto, e não em atender uma necessidade. O fabricante de furadeiras possivelmente pensa que o cliente precisa de uma broca, mas o que ele realmente precisa é de um furo". “Qualidade, e qualidade do serviço em particular, é um fenômeno tão complexo que torna necessário um modelo muito mais detalhado do que 12 aqueles normalmente utilizados. Como coloca Garvin, “[os gerentes] têm que quebrar a palavra qualidade em partes gerenciáveis". “Somente então, poderão definir os nichos de qualidade nos quais competirão” (GARVIN, 1987 apud GRÖNROOS, 1993, p.48). Para Grönroos, quebrar a palavra qualidade de um serviço em partes gerenciáveis significa, basicamente, olhar esse termo em duas dimensões. A primeira dimensão é a dimensão técnica. Ex: o consumidor que compra pão em uma padaria avaliará a qualidade do produto, no caso o pão, e terá uma idéia parcial da qualidade percebida. Essa dimensão é o que o cliente fica quando o processo de produção e as interações cliente-prestador de serviços terminam. Porém, é apenas uma parte da dimensão qualidade. A outra parte é a dimensão funcional. A dimensão funcional abrange a maneira como ele obteve a dimensão técnica, ou seja, é o conjunto das inúmeras interações cliente- prestador de serviços que ele vivenciou desde o momento que ele entrou no estabelecimento comercial até a hora que saiu. Isso abrange a facilidade de acesso à padaria, a aparência das balconistas, como elas realizam as tarefas de atendimento, a higiene e limpeza do local, a atenção que foi dispensada a ele, a qualidade dos equipamentos e estruturas físicas presentes no local, etc. Tudo isso influencia a visão que o cliente possa ter do serviço. “O cliente é influenciado por aquilo que ele recebe do serviço (dimensão técnica) e como ele vivencia o processo de produção (dimensão funcional) e consumo do serviço. Portanto, os momentos em que ocorrem as interações são tão importantes quanto a entrega propriamente do serviço. A dimensão funcional da qualidade não pode ser avaliada tão objetivamente quanto a dimensão técnica. Quase sempre ela é percebida subjetivamente” (GRÖNROOS, 1993, p.50). Além da qualidade técnica e funcional, existe mais um fator que desempenha papel importante na percepção do cliente sobre a qualidade do serviço. Esse fator é a Imagem da empresa prestadora de serviços. Se o 13 cliente já tem uma imagem favorável da empresa, pequenas falhas no serviço não irão gerar situações desastrosas, elas apenas não podem ficar se repetindo, porém, se a imagem da empresa já não for boa, mínimos erros podem comprometer todo o relacionamento cliente-prestador de serviços. É sobre esse tripé que é construída a percepção do cliente em relação ao serviço prestado, segundo Grönroos (1993).Portanto, o nível da qualidade total percebida pelo cliente seria um constructo entre a diferença (Gap) entre a qualidade esperada e a qualidade experimentada, aliada ao fator imagem. Segundo Slack (1997, p.553), “a qualidade percebida é governada pela lacuna entre as expectativas dos consumidores e sua percepção do produto ou serviço”, a definição de qualidade em expectativas está em que as expectativas podem variar para diferentes consumidores. Tanto as expectativas como as percepções dos consumidores são influenciadas por fatores, alguns não podem ser controlados pela operação e outros, em alguma medida, podem ser gerenciados. GRÖNROOS (1993, p.45) afirma: “o que se faz necessário é um modelo de qualidade do serviço, ou seja, um modelo de como a qualidade do serviço é percebida pelos clientes. Quando um prestador de serviços compreende como os serviços serão avaliados pelos usuários, é possível identificar como gerenciar essas avaliações e como influenciá-las na sua direção desejável. O relacionamento entre o conceito de serviço, o serviço oferecido aos clientes e os benefícios aos clientes tem que ser esclarecido”. Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985,1988) apontam três características básicas para a qualidade dos serviços: a) os clientes encontram maior dificuldade de avaliar qualidade em serviços do que qualidade de um produto; 14 b) as percepções da qualidade em serviços resultam da comparação entre o serviço esperado e o serviço recebido. Daí a idéia de que a qualidade do serviço não depende apenas da prestação do serviço em si, mas também da expectativa que o cliente cria sobre o serviço prestado; c) as avaliações da qualidade não dependem apenas do resultado final do serviço, dependem também do processo da prestação do serviço. É com base nos estudos dos processos de prestação de serviços que os autores construíram o modelo dos cinco Gaps. Brown e Swartz (1989) concluíram que a análise das lacunas da qualidade é forma direta e apropriada de identificar inconsistências entre as percepções do prestador e do cliente, no que diz respeito ao desempenho dos serviços; logo, as estratégias e táticas asseguram expectativas e experiências consistentes aumentando, portanto, a probabilidade de satisfação e uma avaliação qualitativa positiva. 3.4 Determinantes da qualidade em serviços As dimensões da qualidade em serviços dizem respeito aos fatores ou atributos da qualidade que são relevantes para o consumidor. Segundo GRÖNROOS (1993, p.69), “o papel do preço em um contexto de qualidade não está muito claro. Em relatórios de pesquisa sobre qualidade dos serviços, o preço não é muito discutido, com exceção do estudo de Lindqvist (1988). Normalmente, o preço de um serviço pode ser visto em relação às expectativas de qualidade dos clientes ou à sua percepção antecipada da qualidade dos serviços”. “A noção de que alta qualidade implica maiores custos não é baseada em fatos. Normalmente, é justo o oposto. Com freqüência, a questão mais importante é a do ônus da falta de qualidade”. 15 “Um entre quatro operários em uma fábrica americana produz absolutamente nada. Eles passam o dia inteiro consertando os erros de outros trabalhadores [grifo do autor]” (Iacocca, 1988 apud GRÖNROOS, 1993, p.69) Gummesson (1987a) apud Grönroos (1993, p.69) observa que 35% dos custos operacionais das empresas prestadoras de serviços podem ser causados por falta de qualidade. Isso advém do fato de que a qualidade do serviço é um fenômeno complicado e que, conseqüentemente, é muito mais difícil monitorar e assegurar a qualidade em serviços do que a qualidade em fabricação. Assim, a melhoria da qualidade, através da criação de sistemas à prova de erros e voltados para o cliente e também através de treinamento de empregados em know-how para o bom desempenho, é uma forma não de aumentar custos mas de se livrar dos custos desnecessários, advindos de um nível baixo de qualidade ou até mesmo da falta de qualidade. Daí a necessidade de se analisar a qualidade em serviços através dos determinantes ou dimensões de qualidade, ou seja, são conjuntos de atributos que, em diversas proporções, promovem a satisfação dos clientes. Parasuraman, Zeithalm e Berry (1985) identificaram os dez fatores ou as dimensões genéricas que contribuem para o nível da qualidade do serviço que uma empresa fornece aos seus clientes: • tangibilidade - são as evidências físicas do serviço; • confiabilidade - relaciona-se à consistência do desempenho e à dependência do serviço; • receptibilidade - refere-se à disposição e/ou prontidão dos funcionários para prestar um serviço; • competência - está relacionada às habilidades e ao conhecimento dos trabalhadores para realizar um serviço apropriadamente; • cortesia - refere-se à polidez, ao respeito, à consideração e ao comportamento amigável do pessoal que está em contato com os clientes; 16 • credibilidade - refere-se às características de confiança, possibilidade de acreditar e honestidade no trabalhador que presta o serviço; • segurança - refere-se à isenção de qualquer perigo, risco ou problema. (essa é uma dimensão particularmente importante da qualidade do serviço profissional); • acesso - refere-se à acessibilidade e à fragilidade de contrato; • comunicação - essa é uma dimensão da qualidade muito importante em alguns serviços; • compreensão a respeito do cliente - essa dimensão refere-se ao esforço feito pelo trabalhador que realiza o serviço para atender às necessidades específicas de cada cliente. Grönroos (1993) compilou seis determinantes de qualidade em serviços que são úteis para fins gerenciais: profissionalismo e habilidades; atitudes e comportamento; facilidade de acesso e flexibilidade; confiabilidade e honestidade; recuperação; reputação e credibilidade. ▪ “Profissionalismo e habilidades: os clientes compreendem que o prestador de serviços, seus empregados, os sistemas operacionais e os recursos físicos possuem o conhecimento e as habilidades necessárias para solucionar seus problemas de forma profissional (critérios relacionados aos resultados)”. Dimensão Técnica. ▪ “Atitudes e comportamento: os clientes sentem que os funcionários de serviços (pessoas de contato) estão preocupados com eles e se interessam por solucionar seus problemas de uma forma espontânea e amigável (critérios relacionados ao processo)”. Dimensão funcional. ▪ “Facilidade de acesso e flexibilidade: os clientes sentem que o prestador de serviços, sua localização, suas horas de operação, seus empregados e os sistemas operacionais são projetados e operam de 17 forma a facilitar o acesso aos serviços e estão preparados para ajustar-se às demandas e aos desejos dos clientes de maneira flexível (critérios relacionados ao processo)”. Dimensão funcional. ▪ “Confiabilidade e honestidade: os clientes sabem que qualquer coisa que aconteça ou sobre a qual se concorde será cumprida pela empresa, seus empregados e sistemas, para manter as promessas e ter um desempenho coerente com os melhores interesses dos clientes (critérios relacionados a processos)”. Dimensão funcional. ▪ “Recuperação: os clientes compreendem que sempre que algo der errado ou alguma coisa imprevisível e inesperada acontecer, o prestador de serviços tomará de imediato e ativamente ações para mantê-los no controle da situação e para encontrar uma nova e aceitável solução (critérios relacionados a processos)”. Dimensão funcional. ▪ “Reputação e credibilidade: os clientes acreditam que as operações de prestador de serviço merecem sua confiança, valem o dinheiro pago e que representam bom nível de desempenho e valores que podem ser compartilhados entre os clientes e o prestador de serviços (critérios relacionados à imagem)”. Dimensão de imagem, tem a funçãode filtragem. 3.5 Modelo “5 Gaps” da análise da qualidade em serviços PARASURAMAN et al. (1985) realizaram extenso programa de pesquisa nos EUA, em 1983, com executivos de empresas de prestação de serviços de quatro setores do mercado e seus respectivos grupos de consumidores. O objetivo da pesquisa foi elaborar um modelo conceitual (geral) da qualidade em serviços, visando determinar os atributos-chave da qualidade em serviços do ponto de vista dos gerentes e dos consumidores e das discrepâncias entre essas perspectivas. Esse modelo é usado para análise das origens dos 18 problemas da qualidade e ajudar os gerentes a compreenderem como a qualidade do serviço pode ser melhorada. Brown e Swartz (apud Grönroos, 1993, p.85) concluíram, em 1989, depois de terem estudado os Gaps da qualidade dos serviços profissionais, que “a análise do Gap de qualidade é uma forma direta e apropriada de identificar inconsistências entre as percepções do prestador e do cliente, no que diz respeito ao desempenho dos serviços. Abordar esses Gaps parece ser a base lógica para formulação de estratégias e táticas que assegurem expectativas e experiências consistentes, aumentando, portanto, a probabilidade de satisfação e uma avaliação qualitativa positiva". Analisando a Figura 2 pode-se perceber que a parte superior do modelo inclui os fenômenos relacionados ao cliente, a parte inferior demonstra fenômenos relacionados ao prestador de serviços. O serviço esperado é uma função da experiência passada dos clientes, suas necessidades pessoais e da comunicação boca a boca. Outra influência sobre o serviço esperado é dada pelas atividades da empresa de comunicação com o mercado da empresa. O serviço percebido é resultado de uma série de atividades internas. Essa estrutura básica aponta os itens a serem considerados na análise e planejamento da qualidade por serviços. Através deles, pode-se detectar as possíveis fontes de problemas da qualidade. O modelo aponta cinco discrepâncias entre os vários elementos da estrutura básica, os chamados Gaps da qualidade. Esses Gaps da qualidade são resultados das inconsistências no processo de gestão da qualidade. O Gap final, aquele entre o serviço esperado e o percebido (Gap 5), é considerado função de outros Gaps que possam ter ocorrido no processo. 19 Fonte: Adaptado de Parasuraman e outros (1985, p. 44) Figura 2 – Modelo para analisar falhas de qualidade em serviço 20 4 Determinantes e Gaps da qualidade em serviços de controle de pragas 4.1 Determinantes da qualidade em controle de pragas Baseando-se nas características do mercado de serviços de Controle de Pragas Urbanas foram propostos alguns determinantes (dimensões) de qualidade cruciais na satisfação dos clientes. Muitos desses determinantes estão tão próximos que, em muitas situações podem ser considerados sinônimos, por isso foram colocados sob o mesmo grupo. Sendo assim, foram indicadas cinco dimensões de qualidade, mostradas a seguir. • Confiabilidade, credibilidade e honestidade o É a confiança do cliente no prestador de serviços, de que tudo o que foi acordado será cumprido com eficácia. o Que os funcionários de frente, bem como seus superiores são pessoas íntegras, dignas, decentes e com bom discernimento moral. • Competência o É acreditar que o corpo técnico e operacional da empresa tenha aptidões, conhecimentos e habilidades para desempenhar as atividades acordadas entre as empresas. 21 • Acessibilidade e rapidez de contato o É a facilidade com que o cliente entra em contato com as pessoas da empresa prestadora de serviços: ou seja, a comunicação entre o cliente e os funcionários que lhes prestam serviço deve ser fácil (acessível) e imediata (rápida), seja através de celular ou e-mail. Isso, logicamente, inclui o retorno dado pelo funcionário ao ser acionado. • Comportamento o É a postura adequada dos funcionários de frente de linha nos momentos de contato com o cliente: pontualidade, apresentação, asseio, higiene, aparência, cordialidade, respeito. • Flexibilidade o É a capacidade da prestadora de serviços atender o cliente num momento delicado, fora da programação, numa situação especial ou de emergência. Nesse momento, o cliente irá perceber o quanto o prestador de serviços está realmente preocupado com ele e interessado em solucionar seus problemas. Se o gerente de uma empresa possui recursos escassos para serem investidos em qualidade, os determinantes acima descritos poderiam ser boa proposta de foco desses recursos, não significando que outros determinantes não possam ser considerados, porém, são esses que poderão trazer maiores probabilidades de sucesso em qualidade de serviços junto aos clientes. 22 4.2 Gaps: interpretação para o mercado de controle de pragas urbanas ❖ Gap 1 ➢ Significado: representa a lacuna entre as expectativas do consumidor e a percepção da gerência, onde os gerentes de serviços nem sempre são capazes de identificar adequadamente quais são as reais expectativas dos clientes quanto ao que seja um serviço de qualidade. Na realidade, os gerentes pensam que conhecem os desejos e necessidades dos clientes e acabam concebendo o serviço erradamente, estabelecendo valores a serem gerados no serviço que não são coincidentes com as expectativas dos clientes. ❖ Gap 2 ➢ Significado: representa a lacuna entre a percepção da gerência e as especificações da qualidade do serviço, onde a gerência pode até perceber quais são as expectativas do cliente, porém não consegue incorporar nas especificações do serviço os elementos que vão atender a essas expectativas. ❖ Gap 3 ➢ Sigificado: representa a lacuna entre as especificações do serviço e a realização desse. Ocorre quando, apesar da correta especificação do serviço, ele não é realizado conforme as especificações descritas nos procedimentos. 23 ❖ Gap 4 ➢ Significado: representa a lacuna entre a prestação do serviço e as comunicações que chegam até o cliente, ou seja, as expectativas divulgadas, seja através de propaganda, seja através de uma visita comercial, não correspondem aos serviços prestados. A prestadora de serviços deve ter muita cautela em suas promessas e divulgações comerciais para não gerar maiores expectativas no cliente do que aquelas que a empresa possa realmente proporcionar. Em Pesquisa realizada por NYQUIST et al. (1986) apud REBELATO (1995), sobre as interações funcionários/consumidores nos setores de hotéis, restaurantes e transporte aéreo, revelou que 74% de todas as dificuldades vividas pelos funcionários provinham de expectativas, por parte dos clientes, que excediam a capacidade de fornecimento da empresa. Conclui-se que muita atenção deve ser dada ao entendimento de como os clientes formam suas expectativas e como tratar com as expectativas desmedidas. ❖ Gap 5 ➢ Significado: é função da ocorrência de um ou mais Gaps descritos acima e que podem ter ocorrido durante o processo de prestação de serviço. 24 4.3 Análise de casos ▪ Caso 1- Rede de restaurantes de primeira linha: Status do cliente: atualmente está sendo atendida por uma empresa certificada ISO 9001 com boa reputação no mercado, porém, o cliente está insatisfeito com o serviço. Já fez várias reclamações junto ao prestador de serviços e não obteve mudanças. Reclamação: os serviços são feitos de madrugada uma vez por semana e com acompanhamento somente do vigia. O documento emitido pelo prestador de serviços a cada execução é suficiente para atender legalmente seu cliente, porém, é insuficiente para satisfazer as suas expectativas, após meses sem que houvesse um contato direto. Depois de algumas reclamaçõessem sucesso, o cliente procurou os serviços de outra empresa. Gap 1: o gerente não percebeu as reais expectativas do seu cliente. Solução Nesse caso, o cliente tem visto a dimensão técnica do serviço, ou seja, ele vê os certificados e os relatórios técnicos, que ficam com ele depois de realizado o serviço. O que na verdade o cliente está sentido falta é da dimensão funcional, ou seja, do contato e da atenção dispensada. Essa ação poderia ser um contato no dia seguinte a cada visita, dizendo o que foi feito, quais as dificuldades encontradas, quais os pontos de melhoria, as providências que deveriam ser tomadas etc. 25 ▪ Caso 2 – Fabricante de ração animal Status do cliente: a empresa prestadora de serviços vinha fazendo um bom trabalho para o cliente, quando, em determinado momento, o cliente solicitou um adendo de contrato pedindo a inclusão do controle de outras pragas. O adendo foi feito com o devido reajuste no preço do contrato para inclusão do controle das pragas solicitadas. Reclamação: apesar do adendo e do reajuste nos preços, a prestadora de serviços não modificou os procedimentos das visitas operacionais. Os operadores, ao serem questionados pelo cliente sobre as novas exigências, demonstraram não ter conhecimento sobre inclusão de novos procedimentos nas visitas operacionais, ou seja, em termos operacionais nenhum procedimento ou treinamento havia sido acrescido às visitas. O cliente rescindiu o contrato com a prestadora de serviços. Gap 2: o ajuste foi somente em nível gerencial. Nenhuma orientação, treinamento ou procedimento complementar foi repassado para o nível operacional. Solução Manter alinhado o escopo de trabalho de cada cliente com os procedimentos a serem executados. Caso seja situação inusitada, providenciar a elaboração do procedimento e o treinamento dos operadores antes de entrar em vigor o novo escopo de trabalho. ▪ Caso 3 – Outro fabricante de ração animal Status do cliente: tem percebido a recorrência de falhas no atendimento. Reclamação: a empresa prestadora de serviços não cumpre o agendamento pré-estabelecido. Gap 2: a falta de um bom planejamento da retaguarda cria situações como - falta de controle do número de visitas mensais 26 ou anuais conforme o contrato, falta de produtos e equipamentos ou falta de manutenção emergencial dos veículos. Conseqüentemente, o escopo do contrato não é cumprido e/ou são freqüentes as alterações nas visitas operacionais devido à falta de produtos ou equipamentos. Solução Manter controle eficiente dos registros de visitas, operações e todos os tipos de documentos relativos a cada cliente. Manter controle de estoque atualizado, fazendo os pedidos em tempo hábil para a chegada dos produtos. Manter pelo menos um equipamento sobressalente sempre em ordem, para situações emergenciais de quebra de equipamentos de uso diário. Programar as revisões preventivas nos veículos, para os dias em que não houver trabalhos operacionais relacionados aos clientes. ▪ Caso 4 – Empresa fabricante de macarrão Status do cliente: insatisfeito com a prestadora de serviços por falta de atitudes pró-ativas diante de fatos simples. Reclamação: armadilhas de captura (PPI, adesivas, luminosas, feromônio etc.) quebradas ou desaparecidas ficam muito tempo nessa condição até que haja a substituição das quebradas ou reimplantação das desaparecidas. Gap 2: os dados de armadilhas quebradas ou desaparecidas são anotados pelos operadores, no entanto, as faltas de tratativa dos dados coletados pela retaguarda geram descontinuidade nas ações, conseqüentemente, o operador deixa de levar os dispositivos de reposição. Essa situação perdurando por um bom tempo, permite que o cliente seja testemunha de tal falha. Solução 27 A equipe de retaguarda deve contar com sistema eficiente de procedimentos para coleta, verificação, análise e arquivamento dos dados levantados pela equipe operacional. As informações relevantes devem ser utilizadas para orientar as ações a serem tomadas na próxima visita operacional. Portanto, é imprescindível que algum documento seja gerado baseado nas informações da última visita e que sirva de planejamento para a próxima visita operacional. Nele deve constar: materiais e dispositivos a serem levados, produtos a serem utilizados, a forma com que serão aplicados, as concentrações de uso e as áreas a serem tratadas, bem como quaisquer outras informações relevantes ao bom desempenho operacional. ▪ Caso 5 - Indústria de laticínio Status do cliente: insatisfeito com o serviço devido à recorrência de falhas na execução do serviço. Reclamação: o cliente realizou fiscalização nas armadilhas instaladas em sua empresa e constatou inconsistências. Por exemplo: documentação das planilhas operacionais indicando vistoria e higienização de todas elas, porém, na realidade, muitas delas sem higienização e outras nem sequer foram vistoriadas, pois não tinham o visto e a data da passagem do operador. Gap 3: apesar da existência de procedimentos para higienização e vistoria das armadilhas, o operador não executou o trabalho de forma adequada. Solução Criar mecanismos de auditoria da própria prestadora de serviço em relação ao trabalho executado pelos seus operadores. Por exemplo: de forma aleatória e por 28 amostragem o serviço do operador será vistoriado por um supervisor. Criar mecanismos de gratificação quando as auditorias internas apontam um bom serviço executado pelos operadores. ▪ Caso 6 – Indústria de produtos alimentícios Status do cliente: insatisfeito com o serviço devido à recorrência de falhas na execução do serviço. Reclamação: o operador não preenche os documentos da forma como foi orientado. Muitas vezes é preciso refazer todo o trabalho de preenchimento da documentação devido às rasuras e erros deixados pelo operador. Gap 3: o operador conhece os procedimentos de preenchimento da documentação, porém está limitado por incapacidade intrínseca à sua formação. Solução Criar mecanismos de seleção de funcionários que consigam detectar se os candidatos possuem as habilidades necessárias ao desempenho de suas funções. Por exemplo: capacidade de se expressar de forma clara e precisa através da escrita. Isso implica em boa caligrafia e o mínimo requerido para uma boa escrita. ▪ Caso 7 – Indústria de achocolatados Status do cliente: satisfeito com o serviço, porém, o próprio prestador de serviços descobriu que a operação estava sendo executada de forma incompleta, correndo o risco de essa falha vir a comprometer o serviço e aí sim causar algum mal-estar entre as empresas. Reclamação: não do cliente, mas dos outros operadores da própria equipe. A inspeção em lugares altos não estava sendo 29 realizada, pois o operador tinha medo de altura. Conseqüentemente, muitas áreas da indústria ficavam sem a inspeção técnica. Gap 3: o operador conhece os procedimentos de inspeção técnica, porém, não conseguia realizá-lo plenamente por uma limitação própria. Solução Criar mecanismos de seleção de funcionários que consigam detectar se os candidatos possuem as habilidades necessárias ao desempenho de suas funções. Por exemplo: não ter medo de subir em locais altos. ▪ Caso 8 – Escola de ensino fundamental Status do cliente: satisfeito com o serviço, porém, precisando de um serviço emergencial extra. Reclamação: a escola é assistida regularmente por uma controladora de pragas urbanas, com emissão de todos os documentos legalmente necessários ao serviço, no entanto, tudo é feito sem um contrato explícito entre as partes. De repente, surge uma situação emergencial de presença de pragas e a escola, como de costume, aciona sua prestadora de serviços.A prestadora de serviços avalia a situação e se exime de realizar o serviço, alegando não ter competência para tal. Criou-se um desconforto, pois, apesar de despender mensalmente de recursos para ser assistida quanto ao quesito controle de pragas, o cliente precisaria recorrer a outra empresa para resolver seu problema. Gap 3: a empresa contratada tinha ótima reputação no mercado, porém, no ato da contratação, não deixou claro para o cliente as limitações de seu atendimento. Solução Criar um contrato de prestação de serviço, mesmo que seja um trabalho avulso, especificando o escopo do 30 trabalho e a abrangência de atuação de seus serviços. Esse contrato deve ter a ciência e o aval do cliente antes do início das atividades. 4.4 Recuperação de serviço O modelo dos Gaps não propõe nenhuma ação reparadora, porém, pode-se propor uma nova abordagem para o Gap 5, que seria a recuperação do serviço. A recuperação do serviço consiste na reparação do erro cometido pelo fornecedor, durante ou depois da execução. Pelas próprias características intrínsecas dos serviços, a conhecida lei da qualidade “faça certo da primeira vez” nem sempre pode ser obtida. Diante disso, a recuperação dos serviços faz parte da qualidade dos serviços e tem impacto direto sobre a lucratividade. Segundo REICHHELD & SASSER (1990) apud REBELATO (1995, p.80), “uma redução de 5% na taxa de deserção resulta em incrementos nos lucros na faixa de 25 a 85% dependendo da categoria do serviço. Além disso, os consumidores desertores, que vão procurar os serviços dos concorrentes podem mostrar exatamente quais os aspectos do serviço que devem ser melhorados”. Zeithaml e Bitner (2003, p.162) apud Ângelo, C.F. & Silveira, J.A.G. (2006) citam que os problemas que surgem durante o desempenho dos serviços recebem o nome de falhas de serviço e corrigi-las significa alcançar o “paradoxo da recuperação”, ou seja, de situação inicial de insatisfação do cliente com serviço passa para situação de satisfação devido ao reconhecimento pelo cliente do esforço de reparação do prestador de serviço. Ao exceder as expectativas do cliente, esse acaba gerando uma disposição para usar novamente o serviço do mesmo fornecedor. Corrêa, S.C.H.; Ferreira, V.V.B.; Almeida, V.M.C (2006) investigaram as falhas e recuperações de serviço no varejo, examinando a intenção futura de compra após a ocorrência de uma experiência de falha seguida de 31 recuperação, e avaliaram a (in)satisfação do cliente no processo. Eles agruparam as falhas em 12 tipos, bem como agruparam em 12 tipos as estratégias para recuperação dos clientes. Somente três dessas estratégias se mostraram positivas e nove desfavoráveis, sinalizando que um estudo no setor específico de controle de pragas poderia contribuir para recuperações de clientes e teriam impacto positivo sobre a satisfação e retenção de clientes. Os mesmos autores mostram que a estratégia de recuperação de serviço vai além das ações adotadas em resposta a uma falha de serviço, reunindo os seguintes passos: • assegurar que não haja mais falhas; • acolher e estimular reclamações; • agir rapidamente; • tratar os clientes de forma justa; • aprender com as experiências de recuperação; • aprender com os clientes perdidos. Em síntese, as falhas muitas vezes são intrínsecas ao próprio processo de prestação de serviços e pior do que tê-las é não fazer nada depois que elas ocorrem. A recuperação do cliente tem impacto positivo sobre a satisfação do cliente e permite relacionamentos mais longos com o cliente. 32 4.5 Síntese da análise de Gaps Os cincos Gaps, suas conseqüências e as razões de sua ocorrência em controle de pragas urbanas GAP Significado Possíveis causas Ações reparadoras Gap 1 A gerência capta de forma imprecisa as expectativas do cliente • Fraco comprometimento da gerência com os problemas do cliente • Interpretação incorreta da própria gerência em relação às informações sobre as expectativas do cliente • Funcionários de frente de linha repassando informações distorcidas para a gerência • Níveis organizacionais em demasia que estancam ou distorcem os pedaços de informações que podem fluir para os níveis superiores o Mudança da gerência por pessoas comprometidas com os resultados da empresa o Investimento em treinamento e capacitação da gerência o Melhorar os canais de informação interna o Melhorar os canais de comunicação criando mecanismo de acesso direto do cliente à gerência Gap 2 A gerência e\ou o suporte de retaguarda não consegue incorporar nas especificações dos serviços os elementos necessários para se atingir as expectativas do cliente • Suporte deficiente ou inadequado dos funcionários de retaguarda aos funcionários de linha de frente • Erros de planejamento ou planejamento insuficiente de procedimentos • Mau gerenciamento do planejamento • Falta de estabelecimento de metas claras na organização o Alinhar os escopos dos contratos com os procedimentos pertinentes o Criar mecanismo de seleção adequado ao perfil e às habilidades requeridas nas funções de retaguarda o Criar procedimentos consistentes dos trabalhos de retaguarda. Para isso, é imprescindível a participação de todos que fazem parte da prestação do serviço o Treinar e capacitar os funcionários de retaguarda para dar suporte adequado e eficiente aos funcionários frente de linha o Os funcionários da linha de frente precisam ter autonomia para tomar decisões imediatas apesar das especificações, ou seja, especificações muito rígidas engessam a qualidade do serviço 33 GAP Significado Possíveis causas Ações reparadoras Gap 3 Há mal desempenho durante o processo de produção e entrega do serviço. As especificações da qualidade não são atendidas devido a esse baixo desempenho • Falta de comprometimento dos funcionários de linha de frente com a qualidade do serviço • Falta de perfil e habilidade dos funcionários de linha de frente • Falta de capacitação e treinamento dos funcionários de linha de frente • Especificações complicadas ou muito rígidas • Os empregados não concordam ou não estão convencidos das especificações envolvidas no processo • Mal gerenciamento das operações dos serviços • A tecnologia e os sistemas não facilitam o desempenho em conformidade com as especificações o Criar mecanismo de seleção adequado ao perfil e às habilidades requeridas nas funções de linha de frente o Treinar e capacitar os funcionários de linha de frente, tanto nos aspectos técnicos (procedimentos técnicos claros), como também nos aspectos comportamentais, promovendo reciclagens periódicas o Orientar e capacitar os gerentes sobre a forma como tratam seus subordinados o Criar mecanismos de controle e recompensa de desempenho junto aos funcionários de linha de frente. Gap 4 As expectativas divulgadas (propagandas ou comerciais) ou criadas num primeiro contato não correspondem aos serviços entregues • No contrato não estão explícitos os serviços e a abrangência de atuação dos serviços da controladora de pragas • Uma propensão inerente a exagerar e, portanto, prometer demasiado • O planejamento da comunicação com o mercado não é integrado com as operações dos serviços o Criar um contrato de prestação de serviço bem redigido e utilizá-lo em todas as situações, incluindo os serviços avulsos. o Cuidado na comunicação com o mercado evitando- se superlativos e exageros o As campanhas de propagandas deveriam ser planejadas com a colaboração dos envolvidos na execução e entrega dos serviços Gap 5 É considerada função de outros Gaps que possam ter ocorrido no processo34 5 Conclusão Este trabalho procurou abordar dois temas como o próprio título sugere: determinantes da qualidade e Gaps ou lacunas da qualidade. Os dois têm (determinantes e Gaps) impactos sobre a qualidade percebida pelo cliente, porém, não há relação unívoca entre ambos. Com relação aos determinantes, a proposta, aqui, foi apontar dentre todos aqueles referenciados pela literatura, aqueles que seriam mais relevantes para o setor de prestação de serviços em controle de pragas urbanas. Sob esse aspecto, a proposta contribui para o gerente de empresa desse segmento, no sentido de focar seus investimentos em recursos materiais, financeiros e de tempo em atributos que impactarão, de forma mais contundente, sobre a qualidade percebida pelo cliente. A segunda proposição foi adaptar o modelo de análise de Gaps para o setor de serviços em controle de pragas urbanas. Dessa forma, primeiramente descreveu-se como funciona o modelo de análise de Gaps, depois caracterizou-se cada um dos Gaps do modelo, em seguida, foi realizada análise de vários casos no segmento de controle de pragas e atribuiu-se os exemplos descritos ao modelo de Gaps. Finalmente, criou-se uma tabela genérica que sintetiza os Gaps do modelo, suas causas e as ações reparadoras que poderiam ser adotadas para se evitar futuras falhas. 35 É preciso deixar claro que essa tabela não está fechada ou concluída, na verdade, é uma ferramenta que pode ser modificada e acrescida de novas causas e novas ações reparadoras pelos próprios gerentes de empresa. Utilizando-se da análise de casos, conjuntamente com o modelo de Gaps, os gerentes de empresas podem ter melhor discernimento dos problemas e falhas em serviços e propor, eles mesmos, ações reparadoras. Na verdade, essa tabela irá funcionar como registro das falhas agrupadas por Gaps e suas respectivas ações reparadoras. Uma sugestão extra dada por este trabalho, e que não estava inclusa na proposta, é o desenvolvimento da idéia de recuperação de serviços. Essa é ação positiva e que tem grande impacto sobre a qualidade percebida pelo cliente, no entanto, necessita de trabalhos específicos para tal segmento. Também é preciso deixar claro que os determinantes da qualidade e a adaptação do diagrama de Gaps para o setor de controle de pragas foi trabalho baseado em um desenvolvimento conceitual teórico e, portanto, carece de comprovação prática ou experimental. Assim sendo, seria desejável que outros estudos viessem esclarecer e contribuir não só para a comprovação prática desse desenvolvimento conceitual, mas também desenvolver outros temas como o melhor conhecimento do mercado de controle de pragas e estratégias eficientes de recuperação de serviços. 36 6. Referências Bibliográficas BROWN, S. ; SWARTZ, T. A gap analysis of professional service quality. Journal of Marketing, v.53, p.92-98, april, 1989. CORRÊA, P.R. Pragas Urbanas: pesquisa de Mercado. Rio Claro: UNESP, 2000. 59 p. Curso de Especialização: Entomologia Urbana: teoria e prática. CORRÊA, S.C.H.; FERREIRA, V.V.B.; ALMEIDA, V.M.C. Falhas e recuperações de serviço no varejo: uma análise da percepção dos clientes. 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