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Atuação do Assistente Social na Fundação CASA

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Prévia do material em texto

1
TATIANE PATRICIA CINTRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRABALHO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA 
FUNDAÇÃO CASA DE RIBEIRÃO PRETO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA-2010 
 2
TATIANE PATRICIA CINTRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRABALHO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA 
FUNDAÇÃO CASA DE RIBEIRÃO PRETO 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Universidade Estadual 
Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Faculdade de História, 
Direito, Serviço Social e Relações Internacionais, como 
pré-requisito para obtenção do Título de Mestre em 
Serviço Social. Área de concentração: Serviço Social: 
Trabalho e Sociedade. 
 
Orientador: Prof. Dr. José Fernando Siqueira da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA-SP 
2010 
 3
TATIANE PATRICIA CINTRA 
 
 
 
 
 
O TRABALHO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA 
FUNDAÇÃO CASA DE RIBEIRÃO PRETO 
 
 
 
Dissertação apresentada à Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita 
Filho”, Faculdade de História, Direito, Serviço Social e Relações Internacionais, 
como pré-requisito para obtenção do Título de Mestre em Serviço Social. Área 
de concentração: Serviço Social: Trabalho e Sociedade. 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Presidente: 
_______________________________________________________________ 
Prof. Dr. José Fernando Siqueira da Silva 
 
 
 
1º. Examinador: 
_______________________________________________________________ 
 
 
 
 
2º. Examinador: 
_______________________________________________________________ 
 
 
 
Franca, 27 de maio de 2010. 
 
 4
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico, primeiramente, esse trabalho a Deus, porque sem ele 
nada conseguiria. Em seguida, dedico a todos os amigos e 
familiares, sem exceção e dedico especialmente ao meu amigo 
e professor José Fernando Siqueira da Silva, pessoa que não 
tenho nem palavras para definir o quão importante ele é em 
minha vida. 
 
 
 
 5
AGRADECIMENTOS 
 
 
Ao Prof. Dr. José Fernando Siqueira da Silva, orientador, amigo, incentivador, 
conselheiro, confidente e grande referência profissional. 
A todos os professores, a todos mesmo, desde aqueles que estiveram comigo 
no maternal, aos três anos de idade, pois foram, sem sombra de dúvida, pessoas 
que me ensinaram não apenas um conteúdo didático formal, mas me auxiliaram 
também no meu crescimento pessoal. 
A toda categoria dos Assistentes Sociais: profissão amada, da qual vivo 
intensamente, dia e noite (risos!). 
A todos os sujeitos e colaboradores deste estudo. 
Aos meus pais, meus grandes amores, orgulho e base do meu viver. 
Aos meus familiares por fazerem parte de minha vida. 
Ao meu único irmão, Raphael, a minha cunhada, Sâmara, e a minha sobrinha 
encantadora, Júlia Beatriz. 
Aos colegas de trabalho, tanto da Fundação CASA como os do Hospital das 
Clinicas – Unidade de Emergência. Pessoas queridas que só acrescentam, a cada 
dia mais, experiências e alegrias em minha vida. 
A todos os amigos sem exceção. 
Ao Vinicius (anjo) e aos seus familiares, que também são acima de tudo 
amigos e pessoas maravilhosas a quem Deus me deu a oportunidade de conhecer e 
tê-los ao meu lado nessa caminhada. 
Ao Marcio, companheiro de grande parte de minha trajetória, de quem a 
própria trajetória me separou. 
Agradeço, de maneira geral e já finalizando, a todos que passaram pela 
minha vida nesses 26 anos e que deixaram um pedaço de si dentro de mim. Amo 
todos vocês!!! 
 
 
 6
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Sonho com aquilo que quero. Sou o que quero ser, porque 
possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer 
aquilo que quero. Tenho felicidade bastante para fazê-la doce. 
Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E 
esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes 
não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das 
oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade 
aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se 
machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E 
para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que 
passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num 
passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida 
quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é 
curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma 
eternidade.” A descoberta do mundo” - Clarice Lispector 
 7
CINTRA, Tatiane Patrícia. O trabalho profissional do assistente social na 
Fundação CASA de Ribeirão Preto. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – 
Faculdade de História, Direito, Serviço Social e Relações Internacionais, 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2010. 
 
RESUMO 
 
O presente estudo tem por objetivo apresentar e refletir acerca da atuação 
profissional do Assistente Social na Fundação CASA (Centro de Atendimento 
Socioeducativo ao Adolescente), tendo como referencia espacial neste estudo o 
Complexo de Unidades de Ribeirão Preto-SP, que agrega três Unidades com 
características distintas, não apenas físico-estrutural, mas o próprio público alvo a 
que se destina: UIP- “Ouro Verde”, UI- “Rio Pardo“ e UI- “Ribeirão Preto”. A primeira 
Unidade se destina a atender o disposto no art. 108 do ECA (Estatuto da Criança e 
do Adolescente) (Internação provisória); a segunda, UI- “Rio Pardo” atende ao artigo 
122 do ECA, cuja elegibilidade é adolescentes primários com idade entre 12 a 21 
anos; por fim, a UI- “Ribeirão Preto” também atende ao artigo 122 do ECA 
(Internação) e tem como perfil de atendimento os adolescentes autores de ato 
infracional reincidentes e primários graves. Cabe ressaltar no estudo as alterações 
legais ocorridas a partir de 2006, entre elas a própria alteração de nomenclatura: de 
FEBEM para Fundação CASA (lei n. 12.469 de 22 de dezembro de 2006), a 
construção do SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socieducativa), do Plano 
Estadual de Atendimento Socioeducativo entre outros documentos que buscam 
orientar e normatizar as ações realizadas junto aos adolescentes e atender ao 
preconizado no ECA. Neste sentido, faz-se importante refletir os possíveis reflexos 
destes na atuação profissional do assistente social. A pesquisa adota a abordagem 
sócio-histórica, priorizando as produções na área de Ciências Humanas e Sociais 
Aplicadas que tratam do tema. Além do aspecto legal, para pensar na atuação desse 
profissional fez-se necessário apreender o contexto macro e micro tanto institucional 
como dos sujeitos atendidos; elucidar e refletir sobre as dimensões da profissão 
inseridas no cotidiano da Fundação CASA: ético-político, teórico-metodológico, e 
técnico-prático; bem como a discussão de outros assuntos relevantes e que 
permeiam a atuação do Serviço Social neste órgão. Para tanto, utilizou-se da 
abordagem qualitativa em pesquisa por meio de entrevistas semi-estruturadas com 
profissionais que compõem a equipe psicossocial e a direção institucional, sendo 
cinco Analistas Técnicos/Assistentes Sociais, bem como a realização de entrevistas 
semi-estruturadas com estes (em um total de cinco) e outros profissionais como os 
Analistas técnicos/Psicólogos (três profissionais) que compõem a equipe 
psicossocial e a direção institucional. Também entrevistou-se três adolescentes que 
cumprem medida socioeducativa de internação e ainda um representante da família 
e um representante do sistema de direito da criança e adolescente da Comarca de 
Ribeirão Preto (Juiz), visando analisar a importância do papel desempenhado pela 
profissão nesta instituição sob os vários olhares. 
 
Palavras chaves: Fundação CASA, trabalho profissional e Assistente Social 
 
 
 
 
 8
CINTRA, Tatiane Patrícia. El trabajo profesional del trabajador social em la 
Fundación CASA de Ribeirão Preto. Disertación (Maestria en Trabajo Social) – 
Faculdad de Historia, Derecho, Trabajo Social y Relaciones Sociales, Universidad 
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,Franca, 2010. 
 
RESUMEN 
 
 
El presente estudio tiene por finalidad presentar y reflexionar la actuación de 
profesional del trabajador social en la Fundación CASA (Centro de Atendimento 
Socioeducativo ao Adolescente). La referencia espacial en este estudio son los 
centros de atención de la Fundación CASA en la ciudad de Ribeirão Preto/SP: son 
tres centros, con aspectos diferentes tanto en la estructura como la población 
atendida: “UIP Ouro Verde”, “UI Rio Pardo” y “UI Ribeirão Preto”. Los tres centros 
tienen por finalidad la atención para adolescentes que están en conflicto con la ley 
penal, siendo que el primer centro “UIP Ouro Verde”, atiende en conformidad con el 
artículo 108 del ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). El según centro 
atiende en conformidad con el artículo 122 del ECA siendo adolescentes que 
cumplen por la primera vez una medida socioeducativa de privación de la libertad, 
con edad entre 12 y 21 años; por fin, el centro “UI Ribeirão Preto” que también 
atiende en conformidad con el artículo 122 del ECA, pero atiende adolescentes que 
cumplen por la segunda o mas veces medida socioeducativa de privación de la 
libertad o que están por la primera vez mas por actividad delictiva grave. En este 
estudio es importante destacar también las alteraciones en las leyes, que ocurrirán a 
partir del año de 2006, entre ellas, la alteración del nombre de la institución de 
FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor) para Fundação CASA (Ley no. 
12469 de 22 de Dezembro de 2006), la construcción del SINASE (Sistema Nacional 
de Atendimento Socioeducativo), del “Plano Estadual de Atendimento 
Socioeducativo” y otros documentos que tienen como finalidad orientar y regular las 
acciones con los adolescentes, en conformidad con el ECA. Así, es importante 
reflexionar si existen reflejos de esas alteraciones en la actuación profesional del 
trabajador social. Tiene como referencia la teoría Socio-Histórica con prioridad para 
las producciones en Ciencias Humanas y Sociales Aplicadas que estudian esta 
temática. Para reflexionar sobre al actuación del trabajador social fue necesario 
entender los aspectos legales, el macro y micro de la institución y de los sujetos; las 
dimensiones del profesión: ético-político, teórico-metodológico e técnico-práctico, 
entre otros temas relevantes que están presentes en la actuación del Trabajo Social 
en el instituto. En la encuesta fue utilizada la metodología cualitativa, realizada por 
medio de la observación del cotidiano de trabajo de los profesionales, la realización 
de entrevistas semiestructuradas con 5 Trabajadores sociales, 3 psicólogos, 1 
representante de la directoria institucional, 3 adolescentes que cumplen medida de 
internación, 1 representante de las familias y 1 representante del sistema de 
garantía de derechos de niños y adolescentes de la comarca de Ribeirão Preto/SP, 
con el objetivo de analizar la importancia del trabajo profesional en esta institución a 
partir de diferentes maneras de entender el tema. 
 
Palabras-llave: Fundación CASA, trabajo profesional y Trabajador Social 
 9
LISTA DE SIGLAS UTILIZADAS 
 
ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa 
ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
AMAR Associação de Mães e Adolescentes em Situação de Risco 
CAD Conselho de Avaliação Disciplinar 
CASA Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente 
(Fundação CASA) 
CEI Centro de Educação Infantil 
CFESS Conselho Federal de Serviço Social 
CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
FA Famílias Amorfas 
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo 
FC Família Convivente 
FCO Famílias Conviventes 
FEBEM Fundação Estadual do Bem Estar do Menor 
FGA Família de Genitores Ausentes 
FH Família Homoafetiva 
FNC Família Nuclear Reconstituída 
FNCA Família Nuclear com Crianças Agregadas 
FU Família Unipessoal 
FUNABEM Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor 
FUNAP Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” de Amparo ao Preso 
GADA Grupo de Apoio ao Doente com AIDS 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
MFE Família Monoparental Feminina Extensa 
MFS Família Monoparental Feminina Simples 
MM Família Monoparental Masculina – Simples ou extensa 
NAISA Núcleo de Assistência Integral a Saúde do Adolescente 
NE Família Nuclear Extensa 
NS Família Nuclear Simples 
ONGs Organizações Não-Governamentais 
 10
ONU Organização das Nações Unidas 
PIA Plano Individual de Atendimento 
PNBEM Política Nacional do Bem-Estar do Menor 
SAM Serviço de Assistência ao Menor 
SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo 
U.E. Unidade Educacional 
UI Unidade de Internação 
UIP Unidade de Internação Provisória 
USP Universidade de São Paulo 
 11
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 Quadro comparativo: doutrina da situação irregular e doutrina 
da proteção integral .............................................................. 52 
Tabela 2 Configurações familiares ....................................................... 97 
Tabela 3 IBGE – Pessoa de referência na família (1993 a 2007) ........ 99 
Tabela 4 Critérios Renda familiar por classes ...................................... 100 
Tabela 5 Legenda Classe/renda familiar média percentual ................ 101 
Tabela 6 Legenda perfil dos adolescentes/idade ................................. 103 
Tabela 7 Legenda perfil dos adolescentes/grau infracional ................ 104 
Tabela 8 Legenda perfil dos adolescentes/que possuem filhos ......... 104 
Tabela 9 Legenda perfil dos adolescentes/escolaridade ...................... 106 
Tabela 10 Legenda perfil dos adolescentes/ato infracional .................... 107 
Tabela 11 Legenda perfil dos adolescentes/município de origem ......... 108 
Tabela 12 Capacitações do Assistente Social Contemporâneo ............. 161 
 
 12
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 Configurações de Família – Numérico.................................. 98 
Gráfico 2 Configurações de Família – Percentual .............................. 98 
Gráfico 3 Renda familiar por classes – Numérico................................. 100 
Gráfico 4 Renda familiar por classes – Percentual ............................... 100 
Gráfico 5 Numérico por idade ............................................................... 103 
Gráfico 6 Numérico grau infracional .................................................... 104 
Gráfico 7 Percentual grau infracional.................................................... 104 
Gráfico 8 Numérico de adolescentes que possuem filhos.................... 105 
Gráfico 9 Percentual de adolescentes que possuem filhos.................. 105 
Gráfico 10 Numérico de escolaridade .................................................... 106 
Gráfico 11 Percentual de escolaridade................................................... 106 
Gráfico 12 Numérico de tipos de infrações ............................................ 107 
Gráfico 13 Percentual de tipos de infrações........................................... 107 
Gráfico 14 Interação do Adolescente segundo os principais delitos 
praticados (Brasil) ................................................................. 108 
Gráfico 16 Interação do Adolescente segundo os principais delitos 
praticados (São Paulo).......................................................... 108 
Gráfico 17 Numérico da relação de municípios dos adolescentes ........ 109 
Gráfico 18 Percentual da relação de municípios dos adolescentes........ 109 
 13
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 Esquematização do funcionamento do SINASE.................. 65 
Figura 2 Imagem reproduzida do trabalho de CINTRA, 2006............. 90 
 
 
 14
SUMÁRIO 
 
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS: SITUANDO O TEMA E A PESQUISA 
REALIZADA ......................................................................................................151 A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E O PROCESSO DE INSTITUCIONALI- 
ZAÇÃO NO BRASIL ........................................................................................27 
 
1.1 Situando sócio-historicamente o debate ...............................................28 
1.2 A medida de internação e sua base legal: do Código Mello Mattos ao 
SINASE .....................................................................................................45 
1.3 De FEBEM para Fundação CASA............................................................72 
1.4 As Unidades do “Complexo” de Ribeirão Preto ...................................82 
1.5 Os adolescentes atendidos na Fundação CASA e suas famílias........85 
1.5.1 Caracterização das Famílias...................................................................85 
1.5.2 Caracterização dos usuários..................................................................101 
 
2 O TRABALHO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA FUNDAÇÃO 
CASA ..............................................................................................................111 
2.1 Trabalho e Serviço Social.......................................................................112 
2.2 O Serviço Social e sua inserção sócio-ocupacional em instituições de 
atendimento a adolescentes em conflito com a lei ....................................120 
2.3 O trabalho profissional realizado pelo “Analista Técnico/Assistente 
Social” na Fundação CASA..........................................................................126 
2.3.1 O cotidiano de trabalho do assistente social da Fundação CASA e suas 
dimensões.......................................................................................................126 
2.3.1.1 A dimensão ético-política ...................................................................130 
2.3.1.2 A dimensão teórico-metodológica......................................................134 
2.3.1.3 A dimensão técnico-operativa............................................................136 
2.3.2 A interdisciplinaridade no contexto da Fundação CASA......................148 
2.3.3 Formação e capacitação profissional...................................................156 
2.3.3.1 A necessidade da capacitação contínua...........................................156 
2.3.3.2 Necessidades e dificuldades para a capacitação profissional do 
assistente social: o contexto da Fundação CASA........................................162 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 169 
 
REFERÊNCIAS.......................................................................................... 178 
 
APÊNDICES ............................................................................................... 191 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15
 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS: SITUANDO O TEMA E A 
PESQUISA REALIZADA 
 
 
 
 
 
 
 
Foto da pesquisadora em campo na “Escola de Formação-CPDOC” da Fundação CASA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16
O Serviço Social, reconhecido e reafirmado por estudiosos, pesquisadores e 
profissionais da categoria, enquanto profissão inserida na divisão sócio-técnica do 
trabalho tem uma inserção histórica na área do atendimento aos adolescentes em 
conflito com a lei. Esta profissão sempre acompanhou as mudanças legais 
institucionais que permearam o atendimento desde o Código de Menores de 1927 – 
o “Código Mello Matos” com o surgimento das primeiras instituições para os 
chamados “menores” – até a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente e 
as recentes mudanças ocorridas com a Fundação CASA no Estado de São Paulo. 
Desta forma, as alterações ocorridas com a categoria profissional dos assistentes 
sociais, nas dimensões teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo, 
podem ser visualizadas de forma particular na ação dos profissionais “Analistas 
Técnicos/Assistentes Sociais” (hoje assim denominados na Fundação CASA) em 
sua inserção histórica ao longo do processo da formação e consolidação de 
Instituições para a contenção dos chamados “menores”. 
A atuação destes profissionais tem particularidades que decorrem do contexto 
macrossocial (a própria sociedade) e das particularidades da profissão, dos usuários 
e da instituição. A questão social tem se intensificado ao passo em que o processo 
capitalista se faz presente nas dimensões não apenas econômica, mas também 
política, social e até cultural. Ao mesmo tempo, é imprescindível situar a profissão, 
os usuários e a própria instituição, apontando características, mudanças e 
particularidades dessas dimensões. 
Assim, pensando nesta inserção histórica, já apontada por pesquisadores em 
estudos anteriores e reafirmada por esta pesquisadora, e situando a profissão sob o 
inerente espaço da contradição, com alguns limites e dificuldades, a discussão desta 
não deixa de ser fundamental. Discuti-la com maior rigor e propriedade frente ao 
novo contexto da Fundação CASA, apontando e refletindo sobre as suas 
particularidades é a proposta dessa pesquisa. 
A inserção da pesquisadora nesta temática faz parte de um instigante 
processo de aproximação iniciado na graduação ainda enquanto estudo teórico. 
Posteriormente houve a inserção teórico-prática por meio do estágio supervisionado 
no “MOSAICO”, instituição que desenvolvia no município de Franca as medidas 
socioeducativas de Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade. Na 
seqüência, desenvolveu-se uma pesquisa que culminou no Trabalho de Conclusão 
de Curso “VIOLÊNCIA E RESISTÊNCIA: o grupo AMAR na luta pela efetivação dos 
 17
direitos do adolescente autor de ato infracional” em 2006 (com apoio da FAPESP). 
Outro importante fator que impulsionou o interesse pela pesquisa foi a obtenção do 
primeiro lugar na classificação do Concurso Público para o cargo de Analista 
Técnico/Assistente Social na Fundação CASA. Esse fato trouxe a expectativa de 
inserção profissional neste campo, que já era bastante almejado pela pesquisadora. 
Assim, interesses pessoais e profissionais impulsionaram a construção deste 
estudo. 
Ressalta-se também que a escolha do cenário, o complexo de Unidades em 
Ribeirão Preto formado por três Unidades: UIP “Ouro Verde” (Unidade de Internação 
Provisória); UI “Rio Pardo” (Unidade de Internação - primários) e UI “Ribeirão Preto” 
(Unidade de Internação – reincidentes e primários graves), cada qual com suas 
especificidades, se deu devido à proximidade da residência da pesquisadora e por 
ser também o espaço de atuação profissional. 
A dissertação ora apresentada se propõe a apontar e refletir sobre a atuação 
profissional do Assistente Social, ou melhor, do Analista Técnico/Assistente Social 
na Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), tendo 
como referência espacial o Complexo de Unidades de Ribeirão Preto-SP, que 
agrega três Unidades com características distintas, não apenas físico-estrutural, mas 
o próprio público alvo a que se destina: UIP- “Ouro Verde”, UI- “Rio Pardo“ e UI- 
“Ribeirão Preto”. Para a compreensão da profissão hoje fez-se necessário sua 
apreensão histórica. 
 
O objeto das Ciências Sociais é histórico. Isto significa que as 
sociedades humanas existem num determinado espaço cuja 
formação social e configuração são especificas. Assim [...] o objeto 
de estudos das Ciências Sociais possui consciência histórica. 
(MINAYO, 1994, p. 13-14) 
 
Buscamos compreender nosso objeto de estudo, a atuação profissional do 
Analista Técnico/Assistente Social, por meio do movimento dialético da realidade, 
apreendendo as mediações necessárias para uma análise de totalidade. Com isso, 
foi necessário se aproximar da complexa formação da profissão e dos profissionais 
no espaço institucional da Fundação CASA. Dessa forma, procurou-se reconstruir os 
caminhos percorridos pela profissão e as dimensões que envolvem sua atuação. 
Contudo, ainda que o interesse pelo tema se faça presente,a realização da 
presente pesquisa é apenas uma aproximação com o amplo universo que permeia o 
 18
trabalho profissional, sendo que não esgota a totalidade do tema. É preciso 
considerar que o conhecimento construído sobre a realidade observada é sempre 
aproximado e provisório e que faz parte da construção/reconstrução da própria 
dinâmica da realidade. 
Este estudo se propôs a desenvolver uma pesquisa social, que é bastante 
importante como prática investigativa na reconstrução do movimento da realidade. 
Segundo Minayo (1994, p.17) a pesquisa é: “[...] a atividade básica de ciência na sua 
indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de 
ensino e a atualiza frente à realidade do mundo”. 
A metodologia, por sua vez, é um modo de conduzir a pesquisa. É o controle 
detalhado de cada técnica utilizada na pesquisa. Segundo Thiollent (1986), 
 
[...] a metodologia pode ser vista como conhecimento geral e 
habilidade que são necessários ao pesquisador para se orientar no 
processo de investigação, tomar decisões oportunas, selecionar 
conceitos, hipóteses, técnicas e dados adequados. O estudo da 
metodologia auxilia o pesquisador na aquisição desta capacidade. 
(THIOLLENT, 1986, p.25) 
 
Para Minayo (1994) a metodologia pode ser compreendida como uma 
articulação entre conteúdos, pensamentos e existência. 
 
Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática 
exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia 
ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida 
a elas. (MINAYO, 1994, p. 16) 
 
Segue-se, aqui, a linha de pesquisa qualitativa que, segundo esta mesma 
autora, se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado como 
crenças, valores e significados. Trata-se de um caminho utilizado nas ciências 
sociais, que lida com a realidade, a vida de seres sociais. É, portanto, dinâmica e 
possui uma riqueza imensurável que não se enquadra em nenhuma fórmula. 
 
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se 
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não 
pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de 
significados, motivos, aspirações, crenças, valores, atitudes, o que 
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos 
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à 
operacionalização de variáveis. (MINAYO, 1994, p. 21 e 22) 
 
 19
Essa pesquisa se inspira no método dialético para a compreensão da 
profissão, inserida em um contexto contraditório que permeia as relações da 
sociedade e, de maneira particular, o cenário da própria Fundação CASA. Por esse 
caminho foi possível reconstruir o processo histórico que marca a construção das 
instituições de abrigamento e contenção dos chamados “menores” e, nessas, a 
inserção do profissional e sua trajetória de amadurecimento profissional e 
especialização das ações desenvolvidas no cotidiano. 
Nosso ciclo de pesquisa - que não é e não deve ser um ciclo fechado e 
mecânico, mas uma maneira didática de descrever e ordenar a realidade - teve 
início com a etapa denominada por Minayo (1994) de “fase exploratória da 
pesquisa”. 
 
[...] tempo dedicado a interrogar-nos preliminarmente sobre o objeto, 
os pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e 
as questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo. 
Seu foco fundamental é a construção do projeto de investigação. 
(1994, p. 26) 
 
Segundo Minayo (1994, p.32-33) a pesquisa exploratória compreende as 
seguintes fases: 
 
1) de pesquisa bibliográfica disciplinada, crítica e ampla: 
a) disciplinada porque devemos ter uma prática sistemática – os fichamentos 
são um bom procedimento; 
b) critica porque devemos estabelecer um diálogo reflexivo entre a teoria e 
o objeto de investigação por nós escolhido; 
c) ampla porque deve dar conta do “estado” do conhecimento atual sobre o 
problema; 
 
2) de articulação criativa, seja na delimitação do objeto de pesquisa, seja na 
aplicação de conceitos; 
 
3) de humildade, ou seja, reconhecendo que todo conhecimento cientifico tem um 
caráter: 
a) aproximado, isto é, se faz sempre a partir de outros conhecimentos sobre 
os quais se questiona, se aprofunda ou se critica; 
b) provisório; 
c) inacessível em relação à totalidade do objeto, isto é, as idéias ou 
explicações que fazemos da realidade estudada são sempre mais 
imprecisas do que a própria realidade; 
d) vinculada à vida real - a rigor, um problema intelectual surge a partir de 
sua existência na vida real e não “espontaneamente”; 
e) condicionado historicamente. 
 
 20
Depois de definido o tema estabeleceu-se contato com servidores da 
Fundação CASA para apresentar o projeto de pesquisa18. No entanto a 
pesquisadora foi orientada sobre a necessidade de seguir um protocolo para a 
aprovação deste estudo. Assim, enviou-se o projeto de pesquisa, juntamente com 
Ofício declarando a inserção no Programa de Pós-Graduação – Mestrado – e a 
constatação do professor-orientador quanto à pesquisa, além do Curriculum Lattes 
do professor-orientador. 
Na seqüência, após autorização da Fundação CASA foi solicitada uma 
autorização para a realização de pesquisa com adolescentes para o Juiz da Infância 
e Juventude da Comarca de Ribeirão Preto, Dr. Paulo César Gentili, que também 
autorizou a sua realização. 
Outro importante passo para a pesquisa foi o contato com profissionais da 
Escola de Formação da Fundação CASA em São Paulo/SP visando a permissão e 
agendamento da visita para coleta de dados de fontes documentais-históricas sobre 
a instituição e a profissão. 
Assim teve início a pesquisa de campo, que foi seguida e realizada 
paralelamente às reflexões teóricas. Esta também realizada por meio da observação 
direta e atuante, já que a pesquisadora é também profissional do campo e da área 
em que se situa a pesquisa. De acordo com Minayo (1994) através dessa técnica 
compreende-se melhor a dinâmica do grupo, sua importância e seu caminhar: 
 
A técnica de observação participante se realiza através do contato 
direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter 
informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios 
contextos. 
A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma 
variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio 
de perguntas, uma vez que observados diretamente na própria 
realidade transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na 
vida real. (MINAYO, 1994, p. 59-60) 
 
Ao passo que essa observação auxilia a captação mais próxima da dinâmica 
da realidade, também favorece a análise qualitativa sustentada em um marco teórico 
presente em todo o processo. Assim, através dessa análise, 
 
 
18 Uma primeira solicitação foi feita em 08/01/2007. Como a pesquisadora ainda não estava inscrita no programa 
de pós-graduação, esta não foi aceita. Contudo, a partir do segundo semestre de 2007 a pesquisadora 
estabeleceu contatos com a direção estadual da Fundação, obtendo resposta favorável a sua pesquisa em 
5/4/2008. 
 21
[...] é possível estudar dinamicamente os problemas, decisões, 
ações, negociações, conflitos e tomadas de consciência que ocorrem 
entre os agentes durante o processo de transformação da situação. 
(THIOLLENT, 1986, p. 19) 
 
Assim, a vivência prática na realidade pesquisada, ao passo que contribuiu 
para o estudo também trouxe dificuldades para este. Foram grandes os desafios 
enfrentados para lidar com certo distanciamento necessário entre ser pesquisador e 
ator da realidade que se busca apreender. 
O instrumento básico utilizado na coleta dos dados primários foi a entrevista 
semi-estruturada, preparada a partir de um roteiro prévio (Apêndices a e b). A 
utilização desse roteiro se deu a princípio por meio de um pré-teste realizado com 
duas Assistentes Sociais e uma Psicóloga. Mais tarde, se deu a completarealização 
das entrevistas, realizadas com os seguintes atores: 
- 5 Assistentes Sociais; 
- 3 Psicólogas; 
- 3 Adolescentes; 
- 1 Diretor de Unidade; 
-1 Juiz da Infância e Juventude; 
- 1 Familiar. 
Este roteiro norteou os pontos essenciais da pesquisa e procurou captar uma 
expressão livre dos entrevistados, contribuindo para a percepção de sentimentos, 
valores e pensamentos expressados. 
 
Através da entrevista, o pesquisador busca obter informes contidos 
na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa 
despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta 
dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objetos da 
pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que esta sendo 
focalizada (MINAYO, 1994, p. 57). 
 
A partir desse instrumento foi possível acrescentar e reformular as perguntas 
no decorrer das mesmas, de acordo com a necessidade e a especificidade de cada 
informante. O roteiro de entrevistas foi elaborado em conjunto com o orientador, 
sendo este roteiro específico a cada categoria de informante. Como se trata de uma 
entrevista semi-estruturada e de uma pesquisa qualitativa, as perguntas contaram 
apenas com uma intervenção pontual da pesquisadora para esclarecer dúvidas 
necessárias. 
 22
As entrevistas foram gravadas com recurso tecnológico de áudio - MP4 - por 
meio da autorização prévia dos sujeitos entrevistados, segundo assinatura do Termo 
de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice c), posteriormente transcritas e 
analisadas. Este recurso permitiu à pesquisadora relatar de maneira fidedigna a fala 
dos entrevistados. 
O trabalho intelectual não é feito ao acaso, não é uma escolha aleatória, mas 
sim uma tentativa de construção do real em movimento articulado às bases, 
princípios e fundamentos teóricos que nos é indicado pelo objeto de estudo. Os 
seres humanos e suas relações com o concreto são os alicerces para este estudo. 
Assim sendo, há de se destacar que a fundamentação teórica faz-se importante para 
a compreensão e análise do real que está sendo pesquisado. 
 
É preciso que tenhamos uma base teórica para podermos olhar os 
dados dentro de um quadro de referências que nos permite ir além 
do que simplesmente nos está sendo mostrado (MINAYO, 1994, p. 
61). 
 
Essa dimensão teórico-metodológica contribui para que o pesquisador deixe 
de ser apenas um tecnicista ou somente um teórico e busque a fusão desses dois 
elementos excepcionais à compreensão do nosso objeto de pesquisa. Dessa forma: 
“Nessa dinâmica investigativa, podemos nos tornar agentes de mediação entre a 
análise e a produção de informações, entendidas como elos fundamentais” 
(MINAYO, 1994, p. 62, grifo da autora). 
Nesse sentido, o arcabouço teórico utilizado vem sendo construído desde 
2007 por meio de pesquisa bibliográfica tanto de livros, sites da internet, revistas, 
artigos, e demais publicações, Legislações - como o ECA, a Constituição Federal de 
1988 e outras referências normativas pertinentes, assim como monografias, 
dissertações e teses. Objetivou-se, com isso, uma melhor aproximação do tema, 
sobretudo quanto ao processo histórico que acompanha a profissão e a trajetória da 
Instituição, não se esquecendo da complexidade dos temas transversais que 
complementam a análise principal da pesquisa. 
A pesquisa documental de fontes históricas da Fundação CASA, colhidas na 
Escola de Formação da própria Fundação, representaram um riquíssimo instrumento 
para a fundamentação do estudo. Quanto à pesquisa bibliográfica, a biblioteca da 
Faculdade de História, Direito e Serviço Social (FHDSS) da UNESP campus de 
Franca foi o espaço prioritário para a aquisição de fontes bibliográficas. As leituras 
 23
desse material bibliográfico e documental foram sistematizadas em forma de 
fichamento o que facilitou o processo de construção teórica. 
Sobre a pesquisa teórica, Minayo (1994, p. 18-19) aponta-nos que: “A teoria é 
construída para explicar ou compreender um fenômeno, um processo ou um 
conjunto de fenômenos e processos”. Teorias, portanto, são explicações parciais da 
realidade. Cumprem funções muito importantes: 
 
a) colaboram para esclarecer melhor o objeto de investigação; 
b) ajudam a levantar as questões, o problema, as perguntas e/ou as 
hipóteses com mais propriedade; 
c) permitem maior clareza na organização dos dados; 
d) e também iluminam a análise dos dados organizados, embora não 
possam direcionar totalmente essa atividade, sob pena de anulação 
da originalidade da pergunta inicial (MINAYO, 1994, p. 18 e 19). 
 
O trabalho de campo apresenta como possibilidades não só a aproximação 
com aquilo que se deseja conhecer e estudar, mas também a criação de 
conhecimentos partindo da realidade presente no campo. Para tanto, a indicação 
dos informantes é de grande relevância. 
 
A qualidade do material obtido depende da qualidade do informante 
escolhido, em função do que se pretende desvendar. Esta 
circunstância postula a existência de um conhecimento prévio do 
informante, por parte do pesquisador; quanto mais conhecido aquele, 
mais seguro estará o pesquisador de que obterá um relato 
interessante e apropriado ao que está buscando; quando menos 
conhecido, maior o peso do acaso ou da contingência, isto é, da 
possibilidade tanto de se obter quanto de não se obter as 
informações requeridas (QUEIROZ M., 1991, p.75). 
 
Quanto à escolha dos informantes, ela se deu de forma planejada devido aos 
objetivos pretendidos nesta pesquisa: a prática profissional, considerando o período 
de transição da FEBEM à Fundação CASA. Assim, os critérios de escolha 
priorizaram aqueles informantes mais significativos para o estudo do objeto da 
pesquisa, especificamente aqueles informantes que atuaram (no caso dos 
profissionais e direção) e aqueles que estiveram internados (adolescentes e família) 
neste período de transição. 
Dentre os profissionais Analistas Técnicos/Assistentes Sociais, sendo um total 
de 6 (seis), que se encaixavam ao perfil da pesquisa, ou seja, que atuavam antes e 
durante a mudança para Fundação CASA, foram realizadas entrevistas com 5 
 24
(cinco) devido ao afastamento de um dos profissionais por questões de saúde. O 
mesmo ocorreu com a escolha dos adolescentes, pouco localizados frente a esse 
perfil cronológico, pois, em alguns casos, após a escolha do informante, ocorreu a 
sua desinternação. Quanto às famílias apenas um dos adolescentes possuía 
(selecionados segundo o critério de maior período a partir de 2006), por isso, a 
entrevista foi realizada com apenas um representante desta família. Conforme 
apontado nos próximos capítulos a mãe é uma presença importante para os 
adolescentes privados de liberdade e inevitavelmente acabou sendo realizada a 
entrevista com uma mãe. Por fim, o Juiz da Vara da Infância e Juventude foi uma 
escolha da pesquisadora dentre os atores envolvidos no sistema de garantia de 
direitos, e o diretor uma opção frente ao longo período de atuação no presente 
cargo. Durante a coleta das autorizações para a entrevista verificou-se divergências 
quanto a aceitação ou não de expor a própria identidade. Assim, optou-se por 
suprimir a real identidade e situar apenas o nome da categoria a que pertence, por 
exemplo: adolescente A, Assistente Social B, e assim por diante. 
Para a realização das entrevistas utilizou-se (como já citado anteriormente) o 
roteiro semi-estruturado e individualizado – específico a cada grupo de entrevistados 
com alguns pontos em comum, de acordo com uma formulação categórica 
preliminar. Buscou-se dessa maneira, captar informações acerca do trabalho 
profissional do Analista Técnico/Assistente Social sob o olhar dos vários atores 
situados no contexto da Fundação CASA. 
A aproximação com os informantes ocorreu, a princípio, como profissional da 
própria Fundação, para depois apresentar-se como pesquisadora. Houve para cada 
informante um primeiro contato, quando foi exposto oconteúdo da pesquisa e seus 
objetivos, para assim estabelecer o convite, aceitação (que teve a recusa de um 
representante de direção) e agendamento aos respectivos sujeitos. Alguns desafios 
se deram na execução das entrevistas, como a dificuldade em agendar a realização 
desta com alguns informantes. Uma profissional, inclusive, teve dificuldades 
pessoais para terminar a entrevista (mesmo após duas tentativas), alegando 
bloqueio pessoal e outras dificuldades. 
A devolutiva da pesquisa aos entrevistados bem como à Fundação é, além de 
um compromisso pessoal da pesquisadora, uma determinação da própria Fundação 
por meio da Escola de Formação Profissional. 
 25
Vale destacar que após esse processo foi possível indicar as principais 
categorias de análise não como uma imposição da pesquisadora, mas sim da 
própria dinâmica do real. Assim, estas foram se apresentando no decorrer da 
pesquisa empírica, no processo de aprendizagem profissional e na aproximação 
com o cotidiano institucional. As questões mais latentes expostas pelos 
entrevistados foi sendo inserido e analisado ao longo dos capítulos “A infância e 
adolescência e o processo de institucionalização no Brasil” e “O trabalho profissional 
do Assistente Social na Fundação CASA” 
 As finalidades dessa fase de análise são apresentadas por Minayo (1994, p. 
69) como sendo uma forma de 
 
[...] estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar 
ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões 
formuladas, e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado, 
articulando-o ao contexto cultural do qual faz parte (MINAYO, 1994, 
p. 69). 
 
A análise dos dados segue o método hermenêutico-dialético já indicado por 
esta autora. Este representa uma análise crítica da pesquisa de campo (da 
realidade), em que as falas dos entrevistados são situadas dentro de um contexto 
sócio-histórico e de uma conjuntura sócio-econômica e política que perpassa a 
instituição, a sociedade e a profissão. Assim se deu uma articulação entre a 
pesquisa empírica e o referencial teórico. 
Diante dessa articulação, as categorias de análise foram dispostas ao longo 
do estudo, não ficando restritas e limitadas a um capítulo específico, mas dispersas 
na análise apresentada nos dois capítulos que se seguem. 
Na primeira parte “Trajetória Histórica: as bases legais e a inserção 
profissional do Assistente Social em instituições para adolescentes em conflito com 
a Lei” são lançadas as bases para a compreensão do surgimento das primeiras 
instituições para crianças e adolescentes em situação de risco e/ou em conflito com 
a lei; situa-se a origem e a regulamentação da profissão do Serviço Social no Brasil, 
no contexto da segregação deste público, como um lócus importante para exercício 
profissional. Buscou-se, nesse capítulo, situar alguns aspectos importantes do 
contexto sócio-político-econômico e cultural do Brasil que perpassam a temática ora 
estudada. Dentro desse recorte cabe destacar a explanação das principais 
legislações recorrentes ao objeto de estudo e também sob estes determinantes 
 26
macrossocietários. Ao situar neste capítulo as bases para a profissão se 
caracterizou o cenário da pesquisa: o complexo de Unidades da Fundação CASA 
em Ribeirão, situando características do município em que abriga esta Instituição. 
Também foram caracterizados os usuários da prática profissional do analista 
Técnico/Assistente social: adolescentes e suas famílias. 
 A segunda parte desse estudo, denominada “O trabalho do Assistente 
Social na Fundação CASA”, tem o objetivo de apresentar a atuação dos assistentes 
sociais na Fundação CASA. Para tanto foram apontados elementos para a 
discussão da categoria trabalho, situando o profissional no processo de compra e 
venda de sua força de trabalho, apresentando o objeto e o produto final deste 
trabalho: os adolescentes e o pleno/efetivo cumprimento da medida socioeducativa. 
Foram trabalhadas ainda, as dimensões que compõem a profissão: o ético-político, o 
teórico-metodológico e o técnico-operativo, com apresentação dessas dimensões no 
cotidiano do profissional. O fechamento do capítulo expõe os principais 
instrumentais que incidem na prática dos profissionais - Analistas 
Técnicos/Assistentes Sociais na execução da medida socioeducativa de internação, 
referendada pelos próprios profissionais: visita domiciliar, entrevistas, relatório 
técnico, estudo social, entre outros. 
Por fim, nas considerações finais, refletindo sobre os conteúdos abordados, 
visando uma espécie de “amarração” ao objetivo principal da pesquisa, destaca-se 
basicamente a importância do profissional neste cenário e a necessidade de um 
olhar constante dos profissionais para o seu exercício profissional, se reconhecendo 
na profissão e nela atuando de maneira sólida e coerente em todas as dimensões 
que a compõe. 
 
 
 27
 
FEBEM – FUNDAÇÃO DO BEM ESTAR DO MENOR – (Lei estadual nº 985, 
de 26 de abril de 1976.) 
 
Logotipo da FEBEM 1 (www.febem.sp.gov.br) 
 
 
CAPÍTULO I: 
A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E O PROCESSO DE 
INSTITUCIONALIZAÇÃO NO BRASIL 
 
 
 
 
FUNDAÇÃO CASA – (Lei estadual nº 12469 DE 22/12/2006) 
 
Logotipo da Fundação CASA 1 (www.casa.sp.gov.br) 
 
 
 
 28
1 A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO 
NO BRASIL 
 
1.1. Situando sócio-historicamente o debate 
Os primeiros apontamentos para a questão da criança e adolescente no Brasil 
datam do período colonial, mais especificamente ao final da escravatura. Nesse 
momento, a sociedade dividida funcionalmente entre brancos e negros, sofre 
alterações importantes. Os negros deixaram de ser propriedade de um senhor e 
passaram a ser senhores de suas vidas, sem, contudo, disporem de condições 
básicas para sua sobrevivência. São eles, a partir de então, donos da sua força de 
trabalho apenas e condicionados a vendê-la. Sejam crianças, adolescentes, adultos 
do sexo feminino e/ou masculino, todos buscaram formas de sobrevivência. Assim, 
neste cenário, têm-se já expressivos resultados para a infância, como as situações 
de abandono, miséria, violências de todas as ordens e outras mazelas que vão dar 
origem também ao jovem em conflito com a lei que era classificado como fora das 
normas legais e morais instituídas) e a criação de instituições de abrigamento, 
contentoras e de afastamento destes jovens da sociedade. 
 
A abolição da escravatura, em 1888, causou um grande crescimento 
do número de abandonados e infratores. Em 1894, o jurista Candido 
Mota propôs a criação de uma instituição específica para crianças e 
adolescentes que, até então, ficavam em prisões comuns (BRASIL. 
Fundação casa, 20010, on line). 
 
Ao se refletir sobre a construção das primeiras Unidades de internação 
destinadas a crianças e adolescentes classificados por “menores” cabe, 
primeiramente, repensar a função da contenção e do afastamento destes da 
sociedade, segundo os princípios que servem de base para a legitimação das 
prisões. 
As prisões no século XIX foram construídas objetivando a retirada da 
liberdade e o isolamento do sujeito considerado uma ameaça à sociedade. 
Estruturadas basicamente sob regras/normas de disciplina e controle que, quando 
não cumpridas acarretavam punições, representavam um novo modelo de aplicação 
de pena nas então chamadas sociedades civilizada, em substituição das punições 
ao corpo da época medieval. 
Foucault (1987) em sua obra “Vigiar e Punir: historia da violência nas prisões” 
 29
faz um profundo estudo sobre as prisões, enquanto modelo de instituição total, 
apontando alguns de seus fundamentos, sendo o maior o controle e a punição. 
 
É preciso que o prisioneiro possa ser mantido sob um olhar 
permanente; é preciso que sejam registradas e contabilizadas todas 
as anotações que se possa tomar sobre eles. O tema do Panóptico – 
ao mesmo tempo vigilância e observação, segurança e saber, 
individualização etotalização, isolamento e transparência – 
encontrou na prisão o seu local privilegiado de realização. 
(FOUCAULT,1987, p. 221). 
 
A princípio, a necessidade de construção das prisões estava intimamente 
ligada ao interesse do Estado em impor seu domínio sem oposição e afastando 
interesses antagônicos, se legitimando enquanto soberano. O Estado, nos moldes 
do neoliberalismo, enquanto mediador dos conflitos de classe utilizou-se 
intensamente das prisões para proteção da propriedade privada e dos meios de 
produção, assumindo o papel de mantenedor da ordem vigente. 
Assim, tais instituições privativas de liberdade se consolidaram sob os 
princípios de formação, de repressão e de controle dos indivíduos: 
 
Na função de formar, a instituição molda o indivíduo através do 
processo educativo ideológico, onde são criados o normal e o 
desviante (estigmas). Juntamente com esta função aparece o 
controle, que a completa, uma vez que significa a criação de 
mecanismos que transformam os indivíduos em dóceis e submissos 
às regras institucionais. Nesta ordem, a função repressiva, por sua 
vez, tem uma maior abrangência na sociedade, pois traz em si a 
conotação do exemplo a ser dado. Toda a instituição tem seu lado 
repreensivo, mesmo que sutil, pois responde a contenção do desvio 
institucional, é o momento da punição. (SOUZA, 1982 apud 
MONTANARI, 2000, p. 81) 
 
Os estudos sobre a infância tiveram início (pelo menos os estudos os quais 
se teve acesso e que se mostraram mais intensos) a partir do final do século XIX, 
com base no movimento sanitarista, com o posicionamento de médicos contra os 
chamados “depósitos de crianças” (roda dos expostos, abrigos e asilos, entre outros 
mecanisnos). O debate se intensificou no século XX, influenciado pelas 
transformações societárias dos grandes centros urbanos e, conseqüentemente, pelo 
agravamento da Questão Social incidindo diretamente na vida de crianças e 
adolescente. Diante dos alarmantes índices de mortalidade infantil e de outras 
problemáticas, o Estado e a sociedade foram chamados a intervir. E a resposta a 
 30
essa questão se deu de forma equivocada e simplista com a construção de 
instituições de internação, uma forma de afastar o “mal social” das vistas da 
sociedade. 
A preocupação da sociedade, especialmente a preocupação da elite 
brasileira, era a contenção da marginalidade, a preocupação com a ordem, com a 
manutenção da propriedade privada e com a reprodução do proletariado. Assim, as 
duas primeiras décadas do século XX se caracterizaram pelo debate em torno da 
Assistência, Proteção e Justiça para a infância e adolescência, com foco, é claro, 
para a infância pobre, pois havia uma preocupação latente com a questão do 
aumento da criminalidade infanto-juvenil. A exemplo disso tem-se a aprovação em 
1923 do Juízo de Menores, sendo o magistrado Candido Albuquerque Mello Mattos 
seu primeiro juiz. 
Essas reflexões se intensificaram recentemente no Brasil. A década de 1980 
(década da consolidação da Constituição Federal em 1988) revelou essa tendência, 
sobretudo, por meio dos movimentos populares de luta por direitos de crianças e 
adolescentes, que ergueram suas bandeiras e saíram às ruas. Estes movimentos 
atuaram expressivamente para a elaboração e para a aprovação do Estatuto da 
Criança e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1990). 
Quanto à construção de instituições privativas de liberdade para crianças e 
adolescentes no Brasil destaca-se o estudo de Roberto da Silva (1997) que 
categorizou a construção destas em cinco (5) modelos ideológicos e cronológicos: 
Filantrópica (de 1500 a 1874); Filantropica-higienista (de 1874 a 1922); Assistencial 
(de 1924 a 1964); Institucional pós 64 (de 1964 a 1990); e desinstitucionalização (a 
partir de 1990)19. 
 
[...] a cada fase do desenvolvimento do pensamento assistencial 
sempre correspondeu uma postura político - cientifica e filosófica, 
que se traduziu, por sua vez, na edição de leis que estabeleceram 
alguns parâmetros para o tratamento e assistência à infância. 
(SILVA, 1997, p. 34) 
 
As instituições para abrigamento de jovens não aceitos pela sociedade, 
considerados patologias sociais e tutelados pelo Estado, se ergueram nos moldes 
 
19 Além do trabalho de Roberto da Silva (1997) que apresenta de maneira profunda estas fases, a compreensão 
das instituições construídas segundo os modelos apresentados brevemente acima, são pontuados de maneira 
didática na pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso de Cintra (2006). 
 31
da 2ª fase “filantrópico-higienista”, marcadamente de cunho sanitarista como 
classificado por Silva (1997). Entre elas cita-se o Instituto Disciplinar criado pela Lei 
n. 844 em 10 de dezembro de 1902 que abriu caminho a outras. 
Os jovens eram categorizados e classificados segundo as três classes citadas 
abaixo: 
 
- Carentes: é aquele, cuja família, não tem condições mínimas de 
subsistência. 
- Abandonados: é aquele legalmente abandonado, ou aqueles cujos 
responsáveis perderam, por determinação judicial, o pátrio poder. 
[...] 
- Infrator: Autor de infração penal. À princípio são acrescentadas as 
características: insensibilidade face à violência, com os vícios, com 
os tóxicos e com a morte. Sexualidade precocemente exarcebada; 
ausência de consciência de seu próprio valor, como conseqüência é 
portador de grande agressividade, reação natural à rejeição familiar e 
social (MALHEIROS, 1952, p. 33). 
 
A criação do Juizado Privativo de Menores em 1924 (Lei n. 2059 - decreto n. 
3828/25), a implantação do SAM - Serviço de Assistência ao Menor, a formação do 
Conselho de Assistência e Proteção ao Menor, a formulação do Código de Menores 
“Mello Mattos” de 1927 e a instituição do Serviço Social de Menores (decreto n. 
9744/38), representaram marcos da terceira fase, “assistencial”, assim denominada 
por Silva (1997). 
Roberto da Silva (1997, 45), aponta as principais características da fase 
“assistencial”: 
 
1- É fortemente marcada por tratados e convenções internacionais, 
dos quais o Brasil se tornou signatário; 
2- A assistência à infância torna-se, preferencialmente, uma 
responsabilidade do Estado; 
3- São consagradas em leis as primeiras distinções entre menor 
desassistido e menor infrator; 
4- O Poder Judiciário torna-se hegemônico no trato das questões da 
infância (SILVA, 1997, p. 45). 
 
A consolidação da Política Nacional do Bem-Estar do Menor – PNBEM que 
orientou a criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – FUNABEM e 
permitiu, por meio de suas “ramificações”, a origem, no Estado de São Paulo, das 
Unidades de Internação da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor – FEBEM e 
institucionalização do Novo Código de Menores em 1979, representam exemplos da 
 32
quarta fase denominada por Silva (1997) de “Institucional pós 64”. As características 
mais marcantes dessa fase são partes das mudanças políticas, econômicas e 
sociais no país iniciadas pela ditadura militar. Esses marcos legal-institucionais se 
basearam na “Lei de Segurança Nacional”, cujo enfoque era, entre outros, a 
repressão e a violência, que também se consolidaram como símbolos na história dos 
grandes complexos da FEBEM. 
 
Em 1976, a Secretaria de Promoção Social mudou o nome da 
Fundação Pró-Menor para Fundação Estadual do Bem-Estar do 
Menor (Febem/SP), para se adaptar à política federal para a área do 
adolescente em situação de conflito com a lei. (BRASIL. Fundação 
Casa, 2010, on line) 
 
A quinta fase, designada por Roberto da Silva (1997) de 
“desinstitucionalização”20, representa um importantíssimo marco, tanto para a 
infância no Brasil como para o desenvolvimento da atual pesquisa, sobretudo pela 
consolidação da Constituição Federal Brasileira de 1988 e mais tarde a elaboração 
do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Além do contexto sócio-econômico-
político brasileiro, o contexto internacional também refletiuem mudanças na política 
à infância. 
Assim, a legislação brasileira adotou os princípios da Doutrina da Proteção 
Integral, reconhecendo crianças e adolescentes como sujeitos de direito e em 
desenvolvimento, portanto merecedores de tratamento especial. Neste momento, o 
Estado passa a compartilhar com a família e com toda a sociedade a 
responsabilidade sobre toda e qualquer criança e adolescente. Daí que as formas 
alternativas de acolhimento e de valorizando do espaço familiar como local 
privilegiado para o desenvolvimento de criança e adolescentes vem sendo priorizado 
ante a institucionalização, ainda que de forma lenta. São exemplos, as medidas 
socioeducativas de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade 
(art. 112 – ECA). 
É importante dizer que até a vigência do ECA a prioridade era a 
institucionalização como apontado por Malheiros (1952), a qual destaca que o 
trabalho e atendimento a crianças e adolescentes no Brasil em conflito com a lei se 
 
20 Desinstitucionalização no plano do discurso. Em nível concreto o que se observa é que esta marca ainda 
persiste nas Políticas Públicas e principalmente na mentalidade de políticos, juristas e gestores que acreditam 
que a instituição total (fechada nela mesmo em relação ao atendimento de necessidades dos seus sujeitos) é o 
melhor para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. 
 33
dividia em duas fases: 
 
[...] na primeira registram-se principalmente medidas de beneficência 
e na segunda inicia-se e desenvolve-se a preocupação pelo aspecto 
legal do problema. 
A Primeira fase: 
A primeira demonstração de interesse dos poderes públicos pela 
proteção a infância foi a “Carta Régia de 12 de dezembro de 1693” 
do Rei ao Governador da Capitania do Rio de Janeiro, ordenando 
que – “as crianças enjeitadas ou ao desamparo, fiquem aos cuidados 
da Câmara, e dos bens do Conselho, tirem o que for necessário para 
essa despesa.” 
B Segunda fase: 
Em 1830 o Código Criminal põe fora de suas sanções, conforme o 
art. 10 §1º, os menores de 14 anos por não os considerar criminosos. 
Deveriam eles ser recolhidos a Casas de Correção, pelo tempo que o 
Juiz determinasse, contanto que o recolhimento não excedesse a 
idade de 17 anos (MALHEIROS, 1952, p. 8 e 9). 
 
A partir do século XX, em princípio sob influências do período republicano, a 
preocupação com a infância estava ligada às políticas de higienização. A idéia era 
criar internatos, como medidas profiláticas, para aqueles jovens que estavam 
vivendo em situações contrárias aos padrões da época: abandonados, carentes, 
com famílias “desestruturadas”, “delinqüentes”, entre outras situações. Essa política 
apoiava-se na idéia fatalista de que a pobreza necessariamente levava à 
criminalidade. Assim, crianças e adolescentes pobres eram encaminhados para 
instituições de abrigamento e/ou “correção”, associando a pobreza como uma pré-
etapa para a passagem à criminalidade. Sob a “mascara” de corrigir a 
marginalidade, institui-se no país uma caça aos pobres, por considerá-los portadores 
do “gen” da criminalidade. 
 
Em pesquisas de verificações de entrada de menores em 
estabelecimentos subordinados ao juízo de menores, notamos que 
os abandonos resultavam quase totalmente da miséria, ruindo 
lentamente os pobres lares até que o desanimo completasse a obra 
de destruição-desagregação da família, abandono dos filhos, 
abandono dos pais, vícios, delinqüência, prostituição, alcoolismo – e 
dessa onda – avassalante salvaram-se ainda, no tocante aos filhos, o 
que pedem as suas internações pela consciência vaga de que os 
devem proteger, ou pelo sentimento paterno ou materno que ainda 
conservam vivos em seus corações desiludidos (PINHEIRO, 1985, p. 
87). 
 
Na ausência de Políticas Públicas, principalmente, foram criadas instituições 
em que crianças e adolescentes eram lançados, muitas destas eram verdadeiras 
 34
prisões de adultos, em deplorável promiscuidade. 
A pesquisa de Pinheiro (1985) aponta com casos reais esta situação de 
ausência de critérios de seletividade institucional para a aplicação da internação. 
 
Os cinco casos examinados apontam as seguintes indicações: 
Menor - M.A.M., 13 anos – acusado de roubo; 
 I.T.M. – mitômana, anormal; 
 O.M.M., 15 anos – histérica, epiléptica, sexualidade 
incontida; 
 L.R., 15 anos – pervertido sexual, homosexualismo; 
 E.B., 14 anos – débil mental no limite de imbecilidade. 
[...] 
Todas essas menores vivem em promiscuidade no mesmo internato. 
Os males que daí decorrem são manifestos, contagio e propagação 
de vícios, ampliando o campo das perversões e atraso escolar pela 
disparidade da situação mental de cada uma. (PINHEIRO, 1985, p. 
101) 
 
Os institutos inicialmente criados tinham uma série de problemas, a começar 
pela instalação física em que se abrigavam jovens de ambos os sexos. Segundo 
pesquisa de Malheiros (1952) o Serviço Social teve papel importante na 
reorganização desses Institutos. A exemplo disso Malheiros (1952) aponta a 
realidade do Instituto Modelo Feminino em princípios de 1951, em que o Diretor do 
Serviço Social de Menores solicitava a colaboração de Assistentes Sociais para o 
planejamento e a execução da reorganização desse setor. “[...] Coube a Assistente 
Social Chefe, organizar o programa que serviria de base para a reforma.” 
(MALHEIROS, 1952, p. 55). 
Os problemas envolvendo crianças e adolescentes (abandono, violência e 
marginalização) se intensificaram significativamente no século XX, movidos pelo 
desenvolvimento industrial que ocasionou, entre outras coisas, uma explosão 
demográfica desordenada das cidades - desenhando um novo perfil às estas e 
formando as grandes periferias. 
As instituições “preventivas” e “corretivas” se estruturaram inspiradas na visão 
positivista/ funcionalista e repressiva, compreendendo os jovens em conflito com a 
lei como disfuncionais. Segundo analisado por Santos (2004), 
 
[...] para esse tratamento, as Instituições de correção 
caracterizavam-se como hospital, com um corpo de funcionários 
capazes de promover a mobilização dos corpos devolvendo-os à 
sociedade como corpos sãos (SANTOS, 2004, p. 51). 
 
 
 35
Os projetos que regulamentavam a criação de instituições para este fim 
começaram a ser elaborados em 1883, mas só foram concretizados em algumas 
cidades a partir de 1902: a Colônia Dois Rios (1902) e a Escola Premonitória XV de 
Novembro, ambas no Rio de Janeiro; o Instituto Disciplinar do Tatuapé, em São 
Paulo (1902); e o Instituto João Pinheiro em Belo Horizonte (1909). Esses Institutos 
foram criados dentro de uma campanha de combate à vadiagem. Tinham como 
objetivo primeiro a repressão e, em seguida, o ensino de regras de comportamento e 
disciplina e a profissionalização para o mercado de trabalho (reafirmando a ideologia 
da classe burguesa de que o trabalho enobrece o homem e afasta os jovens do 
crime). Os funcionários tinham permissão para aplicar castigos físicos em caso de 
insubordinação e as punições eram normas: internos eram submetidos a exaustivas 
rotinas diárias de disciplinas, espancados e colocados em solitárias quando não se 
cumpriam o regime imposto. 
As Colônias Agrícolas, Casas Correcionais e outras denominações foram 
criadas não apenas para afastarem crianças e adolescentes das ruas, da 
marginalidade e de situações de risco, mas também com o objetivo de condicionar e 
preparar os jovens para endossarem o exército industrial de reserva, enquanto mão 
de obra precarizada, de baixa remuneração, desqualificada e mal remunerada. 
Estas instituições eram geridas, em sua maioria, por entidades filantrópicas e 
grupos religiosos. Somente a partir de 1930 e mais intensamente na década de 1960 
é que o Estado assume a responsabilidade por estas instituições, sobretudo 
daquelas que atendiam aos “menores” que se encontravam em “situação de risco”. 
Segundo reflexões de Frontana (1999) o olhar doEstado para a questão da 
criança e do adolescente, seja em situação de carência, abandono ou em conflito 
com a lei é mais intenso no período da história brasileira conhecido como “regime 
militar/ditadura” (1964-1985), já que focava-se muito mais na questão da segurança 
pública (ordem pública) do que propriamente no Bem-Estar, como apontava as 
denominadas instituições. 
Assim são criadas as chamadas “instituições totais”, de modelos “fechados”, 
onde “todas as necessidades dos sujeitos são (ou deveriam ser) supridas” dentro 
dos seus muros: educação, alimentação, serviços de saúde, entre outros serviços. 
Evitando-se, assim, qualquer contato do jovem com o “mundo de fora”. 
Nessa trajetória das políticas públicas para a adolescência, em particular aos 
adolescentes infratores, é importante ressaltar a influência do Jurista Cândido Motta 
 36
no início do século XX no Brasil, contribuindo ativamente para a construção destas 
instituições disciplinares. 
 
O projeto n. º 16, de 1900, apresentado à Câmara de Deputados de 
São Paulo, pelo parlamentar Cândido Motta, previa a criação de um 
Instituto Correcional Industrial e Agrícola denominado “Instituto 
Educativo Paulista” para o atendimento de menores moralmente 
abandonados e criminosos. (SANTOS, 2004, p.107). 
 
Apesar de ser aprovado na comissão de justiça em 1900 e encaminhado à 
Câmara dos Deputados e depois ao Senado, somente em 1902 foi fundado o 
Instituto Disciplinar pela lei n. 844. Estas instituições, ligadas a grupos religiosos ou 
particulares, desenvolveram, ao longo de sua existência, atividades com esses 
jovens por meio da exploração de sua mão de obra. Esta prática era legitimada pela 
idéia de que o trabalho levava à salvação21 
Em 1923 houve a criação do 1º Juizado de Menores, o primeiro da América 
Latina. A partir daí, o trabalho das instituições de atendimento à infância e à 
adolescência pautou-se, além da análise social, por diagnósticos psiquiátricos e 
psicológicos. Essa foi uma das formas de estigmatizar os jovens, fazendo avaliações 
quanto a sua personalidade, classificando-os por meio de critérios subjetivos por 
padrões de normalidade, qualificando-os em três categorias: bandidos, futuros 
bandidos ou não bandidos (bons, duvidosos e maus). 
O Juizado de Menores era incumbido de julgar casos de crianças e 
adolescentes com abandono moral ou material. Entendendo-se como abandono um 
significado amplo, ora exposto pelas palavras de Dr. José Maria de Freitas: 
 
Menores moralmente abandonados, são crianças cuja a 
característica comum é a de terem crescido fora de uma influência 
educativa, privadas de uma iniciação positiva na conquista dos 
valores da cultura (MALHEIROS, 1952, p. 28). 
 
Esse Juizado de Menores teve como seu primeiro titular o Dr. José Cândido 
de Albuquerque Mello Mattos (1864-1934), a quem foi incumbida a tarefa pelo 
Ministro da Justiça da época de elaborar da melhor forma um documento legal que 
orientasse o trabalho com crianças e adolescentes. Esse documento concluído deu-
 
21 Destaca-se que essa ideologia ainda permanece nos dias atuais por meio do discurso popular. E 
através desse se faz a critica ao ECA quando da proibição do trabalho à menores de 16 anos, sendo 
aceito a partir de 14 anos na condição de aprendiz. 
 37
se o nome de Código de Menores (1927) ou também popularmente chamado de 
“Código Mello Matos”. 
Também nesse período houve a criação, pelo decreto nº. 16.272/1923, do 
“Regulamento da Assistência e Proteção aos Menores Abandonados e 
Delinqüentes”. 
Em 1935 foi criado em São Paulo o Serviço Social de Assistência e Proteção 
ao “menor”, ligado à Secretaria da Justiça e Negócios do Interior. Em seguida, em 
1937, no Governo de Getúlio Vargas, outorga-se a Nova Constituição que previa a 
assistência à infância e à juventude. 
Em 19 de novembro de 1938 criou-se o Decreto nº. 9.744 que reorganizou o 
Serviço Social de Menores, subordinado à Secretaria de Justiça. Este Decreto atribui 
ao Serviço Social de Menores a incumbência de reorganizar e executar no Estado o 
Serviço Social de Menores Abandonados e Delinqüentes. Cabia-lhe entre outras as 
seguintes atribuições: 
 
1- Acompanhar as conquistas científicas referentes as 
finalidades do serviço. 
2- Fiscalizar o funcionamento, administrativo, médico-
pedagógico dos estabelecimentos de amparo e reeducação 
dos menores. 
3- Recolher temporariamente os menores sujeitos a investigação 
e processo nos termos da respectiva legislação. 
4- Receber, distribuir e sempre que necessário, redistribuir pelos 
estabelecimentos do serviço os menores devidamente 
julgados pela justiça de menores. 
5- Amparar os menores de 21 anos, egressos de 
estabelecimento do serviço, ou por êste fiscalizados, 
auxiliando-os em seu reajustamento. 
6- Proporcionar a Justiça de Menores cooperação necessária a 
boa execução da liberdade vigiada. 
7- Exercer vigilância sobre os menores nos termos da respectiva 
legislação. 
8- Propor a autoridade competente o desligamento a liberdade 
vigiada, bem como autorização para entrega de menores à 
pessoas idôneas sob/soldada ou outras condições. 
9- Proceder aos exames referentes ao estado físico, mental, 
social e econômico dos pais, tutor ou pessoa sob cuja vivem 
os menores. (MALHEIROS, 1952, p.19-21) 
 
Em 1941, houve a implantação de outro Código Penal que reduzia a 
maioridade de 21 anos para 18 anos, alterando-se assim o Código de Menores de 
1927. Outro acontecimento destacável ocorrido neste mesmo ano foi a implantação 
do Serviço de Assistência ao menor SAM – lei n.º 3799/41, como uma Política 
 38
Pública Federal e vinculado ao Ministério da Justiça. Este foi criado em meio à 
efervescência do Estado Novo, tido como Estado Social. 
 
O SAM tinha como missão amparar, socialmente, os “menores” 
carentes, abandonados e infratores, centralizando a execução de 
uma política de atendimento, de caráter corretivo, repressivo - 
assistencial em todo território nacional. Na verdade, o SAM foi criado, 
para cumprir as medidas aplicadas aos infratores pelo juiz, tornando-
se mais uma administradora de instituições do que, uma política de 
atendimento ao infrator (LIBERATI, 2002, p. 60). 
 
O SAM ficou famoso pela sistemática aplicação de métodos violentos e 
repressivos, sem considerar uma metodologia que primasse pelo desenvolvimento 
pessoal e social dos adolescentes. Este funcionava como um sistema penitenciário, 
baseado na internação total tanto para infratores como para abandonados e 
carentes. O que os diferenciava era o local e a instituição em que cada um era 
internado. Após inúmeras denúncias este foi julgado e instinto em 1961. 
 
A orientação do SAM é, antes de tudo, correncional-repressiva, a seu 
sistema baseava-se em internatos (reformatórios e casa de correção) 
para adolescentes autores de infração penal e de patronatos 
agrícolas e escolas de aprendizagem de ofícios urbanos para os 
menores carentes e abandonados. Estava lançado o embrião do que 
seria mais tarde a FUNABEM, berço de todas as FEBEMs 
(SARAIVA, 2005, p. 42-43). 
 
Neste período vigorava a idéia de que a internação era natural, mascarada 
pelo discurso de que assim esses jovens estariam longe de toda a forma de indução 
à delinqüência e a marginalidade. Porém, o que estava por traz disso era o objetivo 
de tirar de circulação os indesejados, de limpar as ruas, retirando aos olhos da 
sociedade essa “calamidade”. 
Diante das profundas transformações socioeconômicas dos anos 1950-1960, 
com a consolidação da sociedade urbano-industrial brasileira (iniciada a partir de 
1930) e com a implantação de um governo militar em 1964, o governo resolveu 
administrar o “problema do menor” sob o manto da ideologia da Segurança Nacional 
por meio da PNBEM. Para manter o controle da sociedade o governo militar se 
apoiou no aparato repressivo incluindo perseguições, torturas e mortes; criou-se ...[...] uma gestão centralizadora e vertical, baseada em padrões 
uniformes de atenção direta implementados por órgãos executores 
inteiramente uniformes em termos de conteúdo, método e gestão. O 
 39
órgão nacional gestor desta política passa a ser a FUNABEM 
(Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor), e os órgãos 
executores estaduais eram as FEBEMs (fundações Estaduais de 
Bem-Estar do Menor) (SARAIVA, 2005, P. 47). 
 
Ou seja, uma Política de Estado que veio a romper com o imperativo 
assistencialista de entidades particulares que historicamente tomaram para si o 
atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco, muitas vezes 
embasadas por princípios religiosos e da solidariedade e não por princípios de 
direito e de justiça social. 
A sede da FUNABEM localizava-se no Rio de Janeiro, fato que aponta ainda 
para a grande centralidade dessa cidade como recente ex-capital do Brasil. Além 
dos prédios e equipamentos apossados do SAM, também herdou as práticas 
repressivas “adoçadas” pela repressão do regime militar. 
A construção dessa Fundação foi orientada, a princípio, pelo Código de 
Menores de 1927 e em seguida pelo Código de Menores de 1979. Discursivamente 
a proposta institucional assegurava uma série de benefícios (alguns subjetivos), 
considerados básicos, tais como: saúde, amor, compreensão, educação, recreação 
e segurança social. No entanto, a exemplo das organizações citadas anteriormente, 
a sua prática afirmava exatamente o oposto. A execução das normatizações postas 
pela PNABEM era feita em Unidades espalhadas pelos estados. Segundo Altoé 
(1993) algumas Unidades eram chamadas de “escolas/colégios”. 
Eram linhas de ação (em âmbito forma/legal e não efetivamente na prática) da 
FUNABEM: 
 
A ação da FUNABEM especificar-se-ia, então, em duas linhas – 
terapêutica e preventiva -, visando a reintegrar os menores 
marginalizados e agir sobre os ambientes marginalizantes, já que é 
impossível agir sobre todas as variáveis que compõem o grupo social 
marginalizado/marginalizante (FUNABEM, 1976, p. 37). 
 
A característica da linha terapêutica era fazer junto ao jovem um trabalho de 
avaliação, diagnóstico e plano de tratamento, uma ação de cunho positivista de 
tratamento do sujeito enquanto uma patologia, da qual Violante (1984) irá criticar, 
mais adiante em seus estudos, chamando tal prática de psicologização-
psiquiatrização do adolescente. Incluía-se nessa avaliação sua família, bem como o 
meio social de onde ele provém. Essa linha era executada nas comunidades por 
meio de programas nos vários níveis de governo através da construção de Centros 
 40
Sociais e de Projetos Sociais. 
Conforme apontado por Malheiros (1952) os estudos de caso eram 
compostos por coletas de dados sob diversas dimensões como bio-psico-sociais-
históricas e filosóficas. Formado pelas etapas de Estudo, Diagnóstico e Tratamento: 
 
ESTUDO 
Desde o primeiro atendimento que o técnico tem com o cliente, ele 
faz o estudo, diagnóstico e tratamento. O estudo deve obter dados 
sociais e psíquicos, internos e externos, objetivos e subjetivos. 
O técnico deve procurar conhecer a personalidade do cliente, sua 
situação, suas necessidades reais e potencialidades latentes. O 
estudo deve ser o mais completo possível, porque o estudo, 
dependerá o diagnóstico, e o tratamento do caso. Fica claro, pois 
que o estudo o é a coleta de dados os quais se fundamentará o 
diagnóstico (FEBEM, Síntese dos trabalhos realizados por este 
G.D.T., 1993, p. 1). 
 
DIAGNÓSTICO 
Características fundamentas do diagnóstico 
1 Objetividade: ser prático e objetivo 
2 O diagnóstico é interpessoal, isto é nunca considera a pessoa 
isoladamente, mas procura relaciona-lo com os seus problemas, com 
o seu meio, com o seu grupo, com seus familiares (FEBEM, Síntese 
dos trabalhos realizados por este G.D.T., 1993, p. 2). 
 
TRATAMENTO 
Desenvolver no cliente suas potencialidades e capacidades de auto-
direção dos recursos meios. 
Objetiva mudança do cliente para melhor, procurando definir para 
bem tratar (FEBEM, Síntese dos trabalhos realizados por este 
G.D.T., 1993, p. 3). 
[...] 
 
2- O tratamento deve ser individualizado. Para cada caso há um 
tratamento específico. Como na medicina se diz que há doenças, no 
Serviço Social se diz que não há problemas, mas pessoas com 
problemas, e assim sucessivamente (FEBEM, Síntese dos trabalhos 
realizados por este G.D.T., 1993, p. 4). 
 
Neste período, sob vigência dos Códigos de Menores de 1927 e 
posteriormente de 1979, a FUNABEM atendia crianças e adolescentes em situação 
de abandono, órfãos, de famílias carentes economicamente ou famílias 
“desestruturadas”, bem como o atendimento de jovens autores de atos infracionais. 
Dentre os seus objetivos destaca-se o caráter filantrópico e a equivocada idéia de 
supressão e substituição da família, pois ainda que suprisse, de forma precária, a 
alimentação, moradia e educação, não conseguiria substituir em hipótese alguma o 
amor. 
 41
 
Até então, a política oficial em relação às crianças e aos 
adolescentes pobres era definida pela Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor – FUNABEM e pelas Fundações Estaduais do Bem-
Estar do Menor – FEBEM (s), criadas a partir de 1964, sob inspiração 
da ideologia de Segurança Nacional. Centrada na institucionalização, 
no assistencialismo, na repressão, a política governamental do Bem-
Estar do Menor negava a cidadania desta criança e deste 
adolescente, tornando-o “objeto de direitos”. A intervenção do Estado 
ocorre tendo em vista a transgressão das normas político-sociais que 
estes começavam a realizar na luta por sua sobrevivência, 
ameaçando o controle e a hegemonia exercidos pelo Estado. Neste 
momento, evidencia-se a necessidade de institucionalização de tais 
infratores, viabilizada pela lei de número 6.697, denominada “Código 
de Menor”, cujo objetivo é dispor sobre a assistência, proteção e 
vigilância dos “menores” (ROURE, 1996, p. 92). 
 
Os estudos realizados pela equipe da própria Fundação em 1976 apontaram 
uma prática discriminatória e marginalizadora contra crianças e adolescentes no 
interior das Unidades executoras dessa Política. Segundo consta nesse estudo, o 
jovem institucionalizado era denominado de “menor-problema-social”. De acordo 
com os dados colhidos nas Unidades da região metropolitana do Rio de Janeiro de 
1964 a 1974, as crianças e adolescentes internados nessas Unidades se 
caracterizavam pelos seguintes aspectos sociais: 
 
Menor filho de pais subempregados (95%) 
Menor filho de mãe empregada doméstica (90%) 
Menor cujo pai abandonou a família (90%) 
Menor filho de pais separados, vivendo com o pai ou com a mãe 
(90%) 
Menor cujos pais não assumem seu papel (80%) (FUNABEM, 1976, 
p.18). 
 
A FUNABEM elege nesse período o termo “menor desassistido” para 
enquadrar adolescentes reconhecidos como carenciados ou de conduta anti-social. 
As Unidades tuteladas pela FUNABEM destinadas à “reeducação” e 
“ressocialização” de crianças e adolescentes foram marcadas pelo binômio 
assistencialismo/ repressão e objetivava, fundamentalmente, a punição como 
método para a disciplinarização. 
Em 1967 foi instaurado a Lei de Menores Infratores, alterada em 1969. Essa 
lei era caracterizada por medidas de proteção, assistência, vigilância e reeducação. 
Ditava que não poderia haver internação por prazo determinado e as medidas se 
 42
davam pelo critério da periculosidade. As medidas tinham um caráter sancionatório-
punitivo, embora, discursiva e ideologicamente, se pretendesse a proteção 
assistencial. 
Na década de 1970 inicia-se um processo de descentralização do 
atendimento à infância e adolescência, ainda pautado pela Política Nacional do Bem 
Estar do Menor. No Estado de São Paulo é criada, em 1973, a Fundação Paulista de 
Justiça (Pró-Menor) pela Lei nº. 185, de 12 de dezembro de 1973 a qual caberia 
aplicar em todo o Estado as diretrizes e normas da Política Nacional do Bem Estar 
do Menor. Mais tarde

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