Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Página 1 de 32 DISCIPLINA INTRODUÇÃO DA TERAPIA FREUDIANA 1-HISTORIA DA PSICANALISE Médico vienense, fundador da psicanálise. Nascido em Freiberg, na Moravia (ou Pribor, na República Tcheca), em 6 de maio de 1856.[...] Como clínico, tratava essencialmente de mulheres da burguesia vienense, qualificadas como "doentes dos nervos" e sofrendo de distúrbios histéricos.[...] Procurou, antes de tudo, curar e tratar de suas pacientes, aliviando os seus sofrimentos psíquicos. Durante um ano, utilizou os métodos terapêuticos aceitos na época: massagens, hidroterapia, eletroterapia. Mas logo constatou que esses tratamentos não tinham nenhum efeito. Assim, começou a utilizar a hipnose, inspirando-se nos métodos de sugestão de Hippolyte Bernheim. [...] Trabalhando ao lado de Josef Breuer (médico austríaco), Freud abandonou progressivamente a hipnose pela catarse, inventou o método da associação livre e, enfim, a psico-análise. Essa palavra foi empregada pela primeira vez em 1896 e sua invenção foi atribuída a Breuer. No âmbito de sua amizade com Wilhelm Fliess ( médico alemão), ocorreram vários acontecimentos maiores na vida de Freud: sua auto-análise, um intercâmbio de caso (Emma Eckestein), a publicação de um primeiro grande livro, "Estudos sobre a histeria", no qual são relatadas várias histórias de mulheres [...] e, enfim, o abandono da teoria da sedução segundo a qual toda neurose se explicaria por um trauma real. Essa renúncia, fundamental para a história da psicanálise, ocorreu em 21 de setembro de 1897. Freud comunicou-a a Fliess em tom enfático, em uma carta que se tornaria célebre: "não acredito mais na minha Neurótica." Começou então a elaborar sua doutrina da fantasia, concebendo em seguida uma nova teoria do sonho e do inconsciente, centrada no recalcamento e no Complexo de Édipo. Seu interesse pela tragédia de Sófocles foi contemporânea de sua paixão por Hamlet. Freud era um grande leitor de literatura inglesa, alimentando-se especificamente da obra de Shakespeare: "Uma idéia atravessou o meu espírito", escreveu a Fliess em 1897, "de que o conflito edipiano encenado em Édipo Rei de Sófocles poderia estar também no cerne de Hamlet. Não acredito em uma intenção consciente de Shakespeare, mas, antes, que um acontecimento real levou o poeta a escrever esse drama, tendo seu próprio inconsciente lhe permitido compreender o inconsciente do seu herói."[..] Página 2 de 32 Da nova teoria do inconsciente nasceria um segundo grande livro, publicado em novembro de 1899, "A Interpretação dos Sonhos". "Você acredita", escreveu a Fliess, no dia 12 de junho de 1900, "que haverá um dia nesta casa uma placa de mármore com esta inscrição: 'foi nessa casa que, em 24 de julho de 1895, o mistério do sonho foi revelado ao doutor Sigmund Freud'? Até agora, tenho pouca esperança." Entre 1901 e 1905, Freud publicou seu primeiro caso clínico (Dora) e três outras obras: "A psicopatologia da vida cotidiana" (1901), "Os chistes e sua relação com o inconsciente" (1905), "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905). Em 1902, com Afred Adler, Wilhelm Stekel, Max Kahane (1866-1923) e Rudolf Reitler (1865-1917), fundou a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, primeiro círculo da história do freudismo. Durante os anos que se seguiram, muitas personalidades do mundo vienense se juntaram ao grupo: Paul Federn, Otto Rank, Fritz Wittels, Isidor Sadger. Em 1907 e 1908,o círculo dos primeiros discípulos freudianos se ampliou ainda mais, com a adesão à psicanálise de Hanns Sachs, Sandor Ferenczi, Karl Abraham, Ernest Jones, Abraham Arden Brill e Max Eitingon. Durante o primeiro quarto do século, a doutrina freudiana se implantou em vários países: Grã-Bretanha, Hungria, Alemanha, costa leste dos Estados Unidos. Na Suíça produziu-se um acontecimento maior na história do movimento psicanalítico: Eugen Bleuler, médico co-chefe da clínica do hospital Burghölzli de Zurique, começou a aplicar o método psicanalítico ao tratamento das psicoses, inventando ao mesmo tempo a noção de esquizofrenia. Uma nova "terra prometida" se abria assim à doutrina freudiana: ela podia, a partir de então, investir o saber psiquiátrico e tentar dar uma solução para o enigma da loucura humana. No dia 3 de março de 1907, Carl Gustav Jung, aluno e assistente de Bleuler, foi a Viena para conhecer Freud. Depois de várias horas de conversa, ficou encantado com esse novo mestre. Seria o primeiro discípulo não-judeu de Freud. Em 1909, a convite de Grandville Stanley Hall, Freud, em companhia de Jung e de Ferenczi, foi à Clark University de Worcester, em Massachusetts, para dar cinco conferências, que seriam reunidas sob o título de "Cinco lições de psicanálise". Apesar de um encontro produtivo com James Jackson Putnam e de um sucesso considerável, Freud não gostou do continente americano. Durante toda a vida, desconfiaria do espírito puritano desse país que acolhia suas idéias com um entusiasmo ingênuo e desconcertante. Temendo o anti-semitismo e que a psicanálise fosse assimilada a uma "ciência judaica", Freud decidiu "desjudeizá-la", pondo Jung à frente do movimento. Depois de um Página 3 de 32 primeiro congresso, que reuniu em Salzburgo, em 1908, todas as sociedades locais, criou com Ferenczi, em Nuremberg, em 1910, uma associação internacional, a Internationale Psychoanalytische Vereinigung (IPV). Em 1933, a sigla alemã seria abandonada. A IPV se tornaria então a International Psychoanalytical Association (IPA). Entre 1909 e 1913, Freud publicou mais duas obras: "Leonardo da Vinci: uma lembrança da sua infância" (1910) e "Totem e Tabu" (1912-1913). A partir de 1910, a expansão do movimento se traduziu por dissidências, tendo como motivo simultaneamente querelas pessoais e questões teóricas e técnicas. Em 1911, Adler e Stekel se separaram do grupo freudiano. Dois anos depois, Jung e Freud romperam todas as suas relações. Não suportando desvios em relação à sua doutrina, Freud publicou, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, um verdadeiro panfleto, "A história do movimento psicanalítico", no qual denunciou as traições de Jung e Adler. Depois, criou um Comitê Secreto, composto de seus melhores paladinos, aos quais distribuiu um anel de fidelidade. Apoiados por Jones, os berlinenses (Abraham e Eitingon) preconizavam a ortodoxia institucional, enquanto os austro-húngaros (Rank e Ferenczi) se interessavam mais pelas inovações técnicas. Uma nova dissidência marcou ainda a história desse primeiro freudismo: a de Wilhelm Reich.[..] Com o desmoronamento do império austro-húngaro, Berlim se tornou a capital do freudismo, como provou a criação do Berliner Psychoanalytisches Instiitut (BPI), e as numerosas atividades do instituto de Frankfurt em torno de Otto Fenichel e da "esquerda freudiana". Enquanto os americanos afluíam a Viena para se formar no divã do mestre, este analisava a própria filha, Anna Freud. Esta não tardaria a tornar-se chefe de escola e a opor-se a Melanie Klein, sua principal rival no campo da psicanálise de crianças. Nesse aspecto, a oposição entre a escola inglesa e a escola vienense, que se desenvolveu na IPA a partir de 1924 e que girava em torno da questão da sexualidade feminina, mostrou o lugar cada vez mais importante das mulheres no movimento psicanalítico. No centro dessa polêmica, Freud manteve sua teoria da libido única e do falocentrismo, sem com isso mostrar-se misógino. Ligado em sua vida particular a uma concepção burguesa da família patriarcal, adotava, todavia, em suas amizades com mulheres intelectuais, uma atitude perfeitamente cortês, moderna e igualitária. Por sua doutrina e por sua condição de terapeuta, desempenhou um papel na emancipação feminina. Nos anos 1920, Freud publicou três obras fundamentais, através das quais definiu sua segunda tópica e remanejou inteiramente sua teoria do inconscientee do dualismo pulsional: "Mais-além do princípio de prazer" (1920), "Psicologia das massas e análise do eu" (1921), "O eu e o isso" (1923). Esse movimento de reformulação conceitual já começara em 1914, quando da publicação de um artigo dedicado à questão do narcisismo. Confirmou-se, em 1915, com a elaboração de uma metapsicologia e a publicação de um ensaio sobre a guerra e a morte, no qual Freud sublinhava a Página 4 de 32 necessidade para o sujeito de "organizar-se em vista da morte, a fim de melhor suportar a vida". Dessa reformulação, centrada na dialética da vida e da morte e em uma acentuação da oposição entre o eu e o isso, nasceriam as diferentes correntes do freudismo moderno: Kleinismo, Ego Psycholog, Self Psychology, lacanismo, annafreudismo, Independentes. [...] Em fevereiro de 1923, Freud descobriu, do lado direito de seu palato, um pequeno tumor, que devia ser logo extirpado. Em um primeiro tempo, Felix Deutsch, seu médico, lhe ocultou a natureza maligna desse tumor. Freud se indispôs com ele. Seis meses depois, Hans Pichler, cirurgião vienense, procedeu a uma intervenção radical: a ablação dos maxilares e da parte direita do palato. Trinta e uma operações seriam feitas posteriormente, sob a supervisão de Max Schur. Freud foi obrigado a suportar uma prótese, que ele chamava de "monstro". "Com seu palato artificial", escreveu Stefan Zweig, "ele tinha visivelmente dificuldade para falar[...]. Mas não abandonava seus interlocutores. Sua alma de aço tinha a ambição particular de provar a seus amigos que sua vontade era mais forte que os tormentos mesquinhos que seu corpo lhe infligia [...]". Em 1926, depois de um processo intentado contra Theodor Reik, tomou vigorosamente a defesa dos psicanalistas não-médicos, publicando "A questão da análise leiga". No ano seguinte, deflagrou com seu amigo Oskar Pfister uma polêmica ao publicar "O futuro de uma ilusão", obra na qual comparava a religião a uma neurose. Enfim, em 1930, com "O mal-estar na cultura", questionava a capacidade das sociedades democráticas modernas de dominar as pulsões destrutivas que levam os homens à sua perda. Dois anos depois, em um intercâmbio com Albert Einstein (1879-1955), enfatizou que o desenvolvimento da cultura era sempre uma maneira de trabalhar contra a guerra. Cada vez mais pessimista quanto ao futuro da humanidade, Freud não tinha nenhuma ilusão sobre a maneira como o nazismo tratava os judeus e a psicanálise. Entretanto, no dia seguinte ao incêndio do Reichstag, decidiu com Eitingon manter a existência da Berliner Psychoanalytisches Instiitut. Embora não aprovasse a política de "salvamento" da psicanálise, preconizada por Jones, cometeu o erro de privilegiar a luta contra os dissidentes (Reich e os adlerianos) Mas em março de 1938, no momento da invasão da Àustria pelas tropas alemãs, Richard Sterba, agiu em sentido contrário, decidindo recusar a política de Jones e não criar em Viena um instituto "arianizado" como o de Göring, em Berlim. Tomou-se então a decisão de dissolver a Wiener Psychoanalytiche Vereinigung e transporta-la "para onde Freud fosse morar". Graças à intervenção do diplomata americano William Bullitt (1891-1967) e a um resgate pago por Marie Bonaparte, Freud pôde deixar Viena com sua família. No momento de partir, foi obrigado a assinar uma declaração na qual afirmava que nem ele nem seus próximos haviam sido importunados pelos funcionários do Partido Nacional-Socialista. Em Londres instalou-se em uma bela casa em Maresfield Gardes 20, futuro Freud Museum. Ali, redigiu sua última obra, "Moisés e o monoteísmo". Nunca saberia do destino dado pelos nazistas às suas quatro irmãs, exterminadas em campos de concentração. Página 5 de 32 Aos seus familiares, que lhe perguntavam se aquela seria a última guerra, respondia: "Será minha última guerra." Em 21 de setembro, pegou a mão de Max Schur e lembrou o primeiro encontro dos dois. "Você prometeu não me abandonar quando chegasse à hora. Agora é só uma tortura sem sentido." Depois, acrescentou: "Fale com Anna; se ela achar que está bem, vamos acabar com isso." Por três vezes, ele deu a Freud uma injeção de três centigramas de morfina. Em 23 de setembro, às três horas da manhã, depois de dois dias de coma, Freud morreu tranqüilamente. As cinzas de Freud repousam no crematório de Golders Green. *Texto extraído do Dicionário de Psicanálise deautoria de Elisabeth Roudinesco e Michel Plon. Jorge Zahar Editor. 1998. 2- TEORIA DE S FREUD TÓPICOS DA TEORIA FREUDIANA 1. Freud nasceu em 1856 na Áustria e faleceu em 1939 em Londres. 2. Fundador da PSICANÁLISE ou TEORIA PSICANALÍTICA que é o campo de hipóteses sobre o funcionamento e desenvolvimento da mente no homem. Se interessa tanto pelo funcionamento mental normal como pelo patológico. 3. Freud demonstrou que o homem não é apenas um ser racional. Há impulsos irracionais que nos influenciam. 4. Estes impulsos irracionais se manifestam através do INCONSCIENTE 5. INCONSCIENTE = parte maior de nossa psique, não é uma coisa embutida no fundo da cabeça dos homens e nem um lugar e sim uma energia e uma lógica em tudo oposta à lógica da consciência que é a parte menor e mais frágil da nossa estrutura mental. Podemos imaginar a consciência como a ponta de um iceberg e a montanha submersa abaixo como o inconsciente. "A percepção que temos do mundo é consciência; as lembranças, inclusive a dos sonhos e devaneios são consciência. A memória é consciência e só há memória de fatos mentais conscientes. " (pág. 46, O que é psicanálise, Fábio Herrmann) 6. Características do INCONSCIENTE: opostas às características da consciência. Por isso desconhece o tempo, a negação e a contradição. Suas manifestações não são percebidas diretamente pela consciência por isso requer deciframento e interpretação. (Exemplo: nos sonhos o inconsciente se revela através de um conteúdo manifesto = o que aparece na consciência - e de um conteúdo latente = o conteúdo real e oculto). "O inconsciente... é uma interpretação ao contrário" (pág. 40, O que é psicanálise, Fábio Herrmann). Se como veremos o princípio básico do funcionamento da mente é, segundo Freud, o de evitar desprazer, o INCONSCIENTE é então o lugar teórico das representações recalcadas ou o próprio processo de recalcamento, que impede certas idéias de emergir na consciência. Página 6 de 32 7. A sexualidade tem uma importância fundamental na psicanálise mas não tem um sentido restrito, ou seja, apenas genital. Tem um sentido mais amplo = toda e qualquer forma de gratificação ou busca do prazer. Então a sexualidade neste sentido amplo existe em nós desde o nosso nascimento. 8. A partir deste sentido amplo da sexualidade podemos entender os princípios antagônicos que fazem parte da teoria psicanalítica freudiana: A) EROS (do grego clássico, vida) X THANATOS (do grego clássico, morte) B) Princípio do Prazer X Princípio da Realidade - Eros = ligado às pulsões de vida, impulsiona ao contato, ao embate com o outro e com a realidade. Sendo a vida tensão permanente, conflito permanente coloca-nos no interior de afetos conflitantes e pode não ser a realização do princípio do prazer. - Thanatos = é o princípio profundo do desejo de não separação, de retorno à situação uterina ou fetal, quer o repouso, a aniquilação das tensões. Está vinculado às pulsões da morte pois somente esta poderá satisfazer o desejo de equilíbrio, repouso e paz absolutos. - Princípio do Prazer = é o querer imediatamente algo satisfatório e querê-lo cada vez mais. "É a tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, não quer saber de mais nada - nem do real, nem do outro, nem mesmo da sobrevivência do próprio sujeito" (pág. 95, "Sobre Ética e Psicanálise", Maria Rita Kehl). Não está necessariamente ligado a Eros mas de forma mais profunda a Thanatos pois "se o desejo do homem for o repouso, o imutável, a fuga doconflito, somente a morte (Thanatos) poderá satisfazer tal desejo." (pág. 63, "Repressão Sexual", Marilena Chauí) - Princípio da Realidade = princípio que nos faz "compreender e aceitar que nem tudo o que se deseja é possível, que se for possível nem sempre é imediato, que nem sempre pode ser conservado e muitas vezes não pode ser aumentado." (pág. 63, op. Cit., Marilena Chauí). Impõe-nos limites internos e externos. 9. Psicanálise e Agressividade - Freud presumiu na nossa vida mental a existência de dois impulsos, o sexual e o agressivo. Os dois impulsos se encontram normalmente fundidos. Assim um ato de crueldade pode possuir um significado sexual inconsciente como um ato de amor pode ser um meio inconsciente de descarga do impulso agressivo. A agressividade tem uma origem biológica e social na teoria freudiana. A agressividade faz parte das pulsões de morte mas não está ligada exclusivamente a Thanatos. Está também ligada a Eros fazendo parte das pulsões eróticas. Isto acontece por exemplo quando tentamos modificar o outro ou o mundo para torná-los mais compatíveis com o princípio do prazer. No limite é uma tendência destrutiva mas também "representa a vocação humana para a rebeldia." (pág. 473, Os sentidos da Paixão, Maria Rita Kehl). Toda civilização faz um pacto pelo qual se reprime grande parte da agressividade em troca das vantagens da convivência humana. Mas o preço que pagamos é o de um rebaixamento geral dos instintos de vida e o excesso de repressão pode levar às doenças psíquicas. O ideal para Freud "seria um equilíbrio entre a realidade psíquica do homem e as exigências da vida em sociedade". (pág. 116 da apostila, Texto: O caso de Romualdo e a violência) 10. A nossa vida psíquica tem três instâncias segundo Freud: 1ª) ID = parte inconsciente formada por instintos e impulsos orgânicos e desejos inconscientes, (ou pulsões) que são regidas pelo Princípio do Prazer e são de natureza sexual no sentido amplo já explicitado acima. O Centro do ID é o Complexo de Édipo. 2ª) SUPEREGO = parte inconsciente. Instância repressora do ID e do EGO, proveniente tanto das proibições culturais e sociais interiorizadas Página 7 de 32 "quanto das proibições que cada um de nós elabora inconscientemente sobre os afetos." (M. Chauí, op. cit., pág. 66). É o agente da civilização que tem o papel de dominar o perigoso desejo de agressão do indivíduo. Através dele a civilização consegue inibir a agressividade humana introjetando-a para o interior do sujeito propiciando o SENTIMENTO DE CULPA. 3ª) EGO = é a consciência submetida aos desejos do ID e repressão do SUPEREGO. Obedece ao Princípio da Realidade. Vive sob angústia constante pois busca um equilíbrio entre os desejo do ID e a repressão do SUPEREGO, busca satisfazer ao mesmo tempo o ID e o SUPEREGO. Quando o conflito é muito grande e o EGO não consegue satisfazer o ID este é rejeitado determinando o processo chamado REPRESSÃO. Mas o que foi reprimido não permanece no inconsciente e reaparece então sob a forma de SINTOMAS (=representantes do reprimido). 11. MECANISMOS DE DEFESA: O Ego não é somente consciência. Há funções inconscientes nele, os famosos Mecanismos de Defesa. Através deles o EGO dribla as exigências do ID e do SUPEREGO. "Diante de uma pulsão proibida, cuja satisfação daria prazer se o superego não se opusesse, há que convencer o princípio do prazer de que sucederá dor. Para efetivar esse truque, o EGO aciona uma espécie de alarma, um pequeno sinal de angústia, sempre que tal tipo de pulsão se lhe apresenta à porta. Como se dissesse ao ID: veja como isso que aparece bom, na verdade, dói. E o ID, enganado até certo ponto, cede energias para contrariar seus próprios fins pulsionais. Basta então ativar os MECANISMOS DE DEFESA, carregados dessa energia..." (O que é Psicanálise, Fábio Herrmann, pág. 52 e 53). 12. Segundo Freud há três fases da sexualidade humana (lembre-se do sentido amplo da sexualidade) que se desenvolvem entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos: 1ª) Fase Oral = prazer através da boca (ingestão de alimentos, sucção do seio materno, chupeta, etc...) 2ª) Fase Anal = prazer localizado primordialmente nas excreções e fezes, brincar com massas e com tintas, etc... 3ª) Fase Genital ou Fálica = prazer principalmente nos órgãos genitais e partes do corpo que excitam tais órgãos. Momento do surgimento do Complexo de Édipo. 13. COMPLEXO DE ÉDIPO = complexo de sentimentos e afetos com componentes de agressividade, fúria e medo, paixões, amor e ódio, oriundos dos desejos sexuais em relação aos genitores de sexo oposto que acontece entre os 5 e 6 anos de idade. O complexo de Édipo se manifesta no menino desejando a mãe e querendo eliminar o pai, seu concorrente. O medo da castração por parte do pai faz com que renuncie ao desejo incestuoso e aceite as regras ou a Lei da Cultura. Na menina se manifesta pelo fato de descobrir que não tem o pênis-falo, e com isto, sente-se prejudicada, tem "inveja do pênis". Ao perceber que a mãe também não o tem, passa a desvalorizá-la e, nessa medida, se dirige para a figura do pai, dotado de FALO e, portanto, cheio de poder e fascinação. Observação: De acordo com a interpretação do psicanalista LACAN (nascido em Paris em 1901 e falecido na mesma cidade em 1981) o que provoca inveja não é o pênis anatômico, mas o PÊNIS-FALO, o objeto imaginário fálico, que tem o sentido de COMPLETUDE e de PLENITUDE NARCÍSICAS. Neste sentido o homem também tem inveja do pênis-falo. Com este sentido o FALO está presente em todos os seres humanos de tal forma que a falta do pênis nas meninas e mulheres simplesmente é negada. O falo é, em última análise, o significado da falta, conforme o define Lacan. - Mas apesar de o menino abandonar o desejo pela mãe por medo da castração ela não deixa de acontecer para ambos os sexos e de forma simbólica de acordo com a interpretação de Lacan. CASTRAÇÃO no sentido simbólico significa a impossibilidade de retorno ao estado narcísico do qual fomos expulsos com o nosso nascimento. CASTRAÇÃO significa a perda, a Página 8 de 32 falta, o limite imposto à onipotência do desejo. É um processo que já acontece desde o corte do cordão umbilical. A rigor quem castra é a mãe. Se a mãe permite a independência da criança, negando formar um todo narcísico com ela, ela castra. A castração é um evento absolutamente progressista na nossa vida e que torna possível a vida em sociedade e a nossa autonomia. Através da CASTRAÇÃO introduz-se a LEI DA CULTURA que é produto de Eros e não de Thanatos. A Lei não existe para aniquilar o desejo e sim para articulá-lo com a convivência social. "É a guardiã do desejo na medida em que o encaminha no sentido de uma subordinação ao Princípio da Realidade" (pág. 312, Os Sentidos da Paixão, Hélio Pellegrino) - A CASTRAÇÃO nos faz sentir como seres incompletos, carentes. Mostra-nos que é da brecha entre tudo o que se quer e aquilo que se pode (princípio de Realidade) que nascem as possibilidades de movimentos do desejo. Mas o seu exagero pode trazer conseqüências negativas como as neuroses. 14. Psicanálise, razão e consciência - Descobrir a existência do inconsciente não é esquecer a consciência, a razão, e abandoná-las como algo ilusório e inútil. É pela consciência, pela razão, que desvendamos e deciframos o inconsciente. Em outras palavras, a razão não está descartada apesar das forças irracionais inconscientes. Longe de desvalorizar a razão a psicanálise exige que o pensamento racional não "faça concessões às idéias estabelecidas, à moral vigente, aos preconceitos e às opiniões de nossa sociedade, em que os enfrente em nome da própria razão e do pensamento." (pág. 356, Convite à Filosofia, Marilena Chauí) 15. Psicanálise e Ética - A psicanálise mostrou que uma das causas dos distúrbios psíquicos é o rigor excessivo do SUPEREGO, a CASTRAÇÃO excessiva. Quando isto acontece há dois caminhos não éticos: ou a transgressãoviolenta de seus valores pelos sujeitos reprimidos ou a resignação passiva de uma coletividade neurótica, que confunde neurose e moralidade." (pág. 356, op. Cit., Marilena Chauí). Não éticos porque a violência é introduzida: violência da sociedade que exige dos sujeitos padrões de conduta impossíveis de serem realizados e, por outro lado, violência dos sujeitos contra a sociedade, pois somente transgredindo e desprezando os valores estabelecidos poderão sobreviver. Em suma é necessária a repressão dos desejos, da sexualidade, para ser possível a convivência social e a ética "mas por outro lado a repressão excessiva destruirá primeiramente a ética e depois a sociedade." (pág. 356, op. Cit. Marilena Chauí). Segundo Freud o sujeito da psicanálise é responsabilizado, sim, por seu inconsciente pois "quem mais, além de mim, pode se responsabilizar por algo que, embora eu não controle, não posso deixar de admitir como parte de mim mesmo? Responsabilidade difícil de assumir, esta - pelo estranho que existe em nós, age em nós e com o qual não queremos nos identificar. No entanto, eticamente, é preferível que o sujeito arque com as conseqüências dos efeitos de seu inconsciente, fazendo deles o início de uma investigação sobre o seu desejo, a que ele permita que tais efeitos se manifestem apenas na forma do sintoma. Ou, o que é ainda mais grave, que o sujeito tente se desembaraçar do inconsciente, por meio dos atos de intolerância que projetam no outro o que o eu não quer admitir em si mesmo. A passagem por uma análise torna o sujeito não apenas mais responsável pelo desejo que o habita, mas também preserva as pessoas que lhe são mais próximas, aquelas que dependem de seu afeto e de sua compreensão - filhos, parceiros, subordinados etc -, de se tornarem objetos das projeções e das passagens ao ato de quem não quer assumir as condições de seu próprio conflito." (pág. 32, Sobre Ética e Psicanálise., Maria Rita Kehl). 2.2- FREUD E SUAS TEORIAS É de todos conhecido, que a psicanálise, como terapia e como teoria foi uma criação de Sigmund Freud, que nos finais do século XIX pôde observar nos seus pacientes Página 9 de 32 neuróticos que a maior parte das perturbações emocionais se deviam à existência de problemas sexuais reprimidos, embora, o conceito de sexualidade tivesse para ele um significado muito mais vasto do que lhe era atribuído pela linguagem comum. Segundo Freud, a sexualidade não se deve identificar com a “genitalidade”, embora esta esteja incluída naquela. A sexualidade seria para Freud, todo o tipo de comportamento que resultasse fisicamente gratificante, que produzisse sensações de prazer e, portanto, abrangeria toda a actividade instintiva relacionada com as necessidades corporais. A partir desta ideia básica, a concepção de Freud sobre o homem mudou consideravelmente à medida que o seu trabalho com os seu pacientes neuróticos, lhe ia aportando novos dados (é sabido que Freud tratou alguns casos de histeria, perturbação que, segundo ele, tinha como causa a repressão da actividade sexual, sobretudo nas mulheres). Não esqueçamos que estávamos em plena época vitoriana e as mulheres não tinham, nessa altura, os mesmos direitos que o homem em termos da manifestação dos seus desejos sexuais, para além de outros. As mulheres sobretudo as casadas, eram tidas como objectos sexuais, que não deviam, por questões éticas e morais da época, manifestar desejo ou prazer no acto sexual. Por volta de 1920 Freud elabora então uma teoria da personalidade que se tornou definitiva e que constituiu uma verdadeira revolução quanto ao modo de estruturação do nosso psiquismo. Segundo ele, seriam três as instâncias básicas da personalidade: o id, o ego e o superego. Freud não quis afirmar que o psiquismo humano era constituído por três partes, porque não foi isso que ele observou no comportamento perturbado ou normal dos seus pacientes; a sua genialidade consistiu em encontrar nesses comportamentos uma série de estruturas ou leis valendo-se dos três conceitos a que acima fizemos referência. Estes conceitos revelaram-se de extrema utilidade para explicar ordenada e sistematicamente os fenómenos psíquicos, não fosse Freud, para além das suas competências na área da Medicina um excelente escritor. O id seria o conceito que designaria os impulsos, as motivações e desejos mais primitivos do ser humano. Para Freud, em grande parte esses desejos seriam de carácter sexual, tendo em mira o prazer. No início, o ser humano seria todo ele id, já que nessa altura o organismo humano não busca mais que a satisfação das suas necessidades instintivas e através delas o prazer. O id como tal é inconsciente, embora procure alcançar a consciência para desse modo conseguir a realização dos seus desejos. O recalcamento, ou repressão é o mecanismo de defesa que impede, caso ocorra, a tomada de consciência do id. Este mecanismo defensivo mantém o id numa situação inconsciente quando os desejos que lutam por realizar-se não estão de acordo com o ego ou o superego. Freud, a partir de 1920 passa a atribuir também muito Página 10 de 32 importância não só aos desejos sexuais mas também aos desejos agressivos do id. O ego é o conceito que Freud utiliza para designar o conjunto de processos psíquicos e de mecanismos através dos quais o organismo entra em contacto com a realidade objectiva. O ego seria um guia do comportamento do organismo à luz da realidade. É certo, que o ego faz eco das demandas do id e dos seus desejos, mas a sua função consiste em os satisfazer ou não, segundo as possibilidades oferecidas pela realidade. Não é que o ego não queira o prazer que o id procura, porém às vezes reconhece que tem de suspender a sua procura sob pena de entrar em conflito com a realidade. Um ego amadurecido, não se assusta ao fazer eco dos desejos do id, ao tomar consciência deles. Ao contrário, um ego infantil e neurótico resiste a trazê-los à consciência, defendendo-se contra eles através da repressão (recalcamento) e outros mecanismos de defesa. Um ego maduro e adulto não se assusta, não teme os desejos instintivos; não quer dizer que os satisfaça a todo o momento, significa somente que os consciencializa e depois satisfá-los ou não segundo seja ou não racional fazê-lo. No ego radicam as funções perceptivas, cognitivas, linguísticas e da aprendizagem, ou seja, todas as funções através das quais o sujeito se adapta ao meio ambiente. Um dos erros mais correntes, e que, com alguma frequência é cometido também por alguns psicólogos, consiste em acreditar que todos os processos designados pelo ego freudiano possuem a propriedade de ser conscientes. É certo que a maior parte dos mecanismos e processos do ego são conscientes, mas nem todos o são. Freud chegou a esta conclusão ao observar que em certas ocasiões alguns desejos instintivos procedentes do id são rejeitados ou reprimidos pelo ego sem que o sujeito tenha consciência alguma nem dos desejos nem da sua rejeição ou repressão. A terceira instância da personalidade - o superego - representa as normas e os valores convencionais da sociedade ou do grupo social no qual o indivíduo foi criado e em que está inserido. Diríamos que representa a sociedade dentro do próprio indivíduo, com as suas leis e normas muitas vezes fonte de embaraço e de inibição para a estrutura do ego. É evidente que as exigências do superego se opõem quase sempre aos desejos do id. Este conflito, entre o superego e o id incide directamente no ego, já que tanto o id como o superego procuram que o ego actue de acordo com as suas próprias exigências ou desejos. Normalmente o que o ego faz é procurar uma solução de compromisso, que os satisfaça, embora parcialmente. Um ego maduro consegue normalmente achar esta fórmula conciliatória, a qual, para que seja realmente válida, deverá ter em conta também a realidade ambiental. Poder-se-á dizer que, para Freud,a personalidade consiste basicamente neste conflito entre os desejos instintivos e as normas interiorizadas da sociedade, conflito que se desenrola no grande cenário constituído pela relação mútua entre o ego e a realidade ambiental. Página 11 de 32 2.2- FREUD E SUAS TEORIAS: AS DUAS TEORIAS DAS PULSÕES A utilização do método catártico e hipnótico de Breuer logo trouxe problemas. Os tratamentos fracassavam devido ao fato de que a cura só durava até que a pessoa voltasse à sua consciência; e, além disso, muitos pacientes não conseguiam ser hipnotizados. Freud deduziu que se um fato tão significativo não podia emergir senão com muito esforço, era porque havia uma força que se opunha à sua percepção consciente. Freud chamou essa força de resistência, que só pôde ser descoberta e compreendida após o abandono da hipnose. Quando era dada ao hipnotizado uma ordem que ele não podia cumprir, ele acordava abruptamente do transe, bastante incomodado, e tornava-se, em seguida, resistente a entrar em nova hipnose. Em síntese, se a hipnose era capaz de fazer surgir algumas pequenas atitudes que geralmente o paciente não as teria quando sentindo- se ameaçado, ele não só se recusava a cumprir as ordens como tornava-se particularmente resistente ao procedimento. Isso fez com que Freud abandonasse a técnica da hipnose. A tarefa do médico seria, então, utilizar a hipnose como um bisturi. O método de penetrar o psiquismo e criar condições para que o trauma ressurgisse à consciência, fora do estado de ‘absence’, quando então poderia ser experienciado com toda a carga afetiva que não pôde ser vivida na hora traumática, ficou conhecido como o método catártico. Freud, após um certo tempo, o abandonou. O processo ocorre mais ou menos assim: a homeostase, mantida pelo princípio de constância, evolui com o surgimento do princípio de Nirvana (que tende a exigir tensão zero) . A energia livre(afetiva) liga-se a alguma idéia ( representante ou conteúdo ideativo) - processo primário, o mais próximo do que depois perderá a característica de substantivo (O Inconsciente) e aparecerá ligado a algum outro conteúdo aceito pelo sistema (com a característica de qualidade Inconsciente , Pré- Consciente ou Consciente) - processo secundário. Uma força mantia essa percepção de acontecimentos cuja dor o indivíduo não poderia suportar de imediato inconsciente ( a mente não sabe que sabe). Essa força foi denominada recalque. Página 12 de 32 A descoberta da resistência e do recalque marcaram a ultrapassagem de um modelo estático do trauma para um modelo dinâmico, de jogo de forças. Por motivos éticos e estéticos, o consciente não suportava a percepção de uma vivência e a mantinha inconsciente. A resistência bloqueava essa percepção, índice inexplicável de que a mente sabia o que não queria saber. Freud fez o que, cf. o “Vocabulário de psicanálise” Laplanche e Pontalis, chamou-se de “a viragem” do modelo psicanalítico. Os conceitos tópicos de consciente e incosciente cederam lugar a três novos constructos, que constitui o modelo dinâmico da estruturação da personalidade: id, ego e superego. Freud elaborou a primeira teoria das pulsões, que as dividia em as de auto- conservação e as sexuais. As pulsões de auto-conservação teriam como objetivo a preservação da vida do organismo. A ausência prolongada de sua satisfação seria letal. Essas pulsões se aliam ao princípio de realidade e são percebidas pelo pensamento consciente e racional. Já as pulsões sexuais teriam como objetivo a preservação da vida da espécie. A ausência prolongada de sua satisfação não seria letal. Essas pulsões se aliam ao princípio do prazer e são percebidas pelo pensamento inconsciente ou fantasia. Essa teoria foi abandonada e surgiu a segunda teoria das pulsões, que as dividiu em: as pulsões de vida e as de morte. A pulsão de vida visa a preservação da vida do organismo e da espécie. Ela é conjuntiva e construtiva e preside à organização e diferença das formas. Outras de suas características são a heterogeneidade e a entropia negativa(morte térmica), manifestando-se como o amor, a solidariedade, generosidade e outras formas positivas. Já a pulsão de morte visa a destruição da vida do organismo e da espécie. Ela é disjuntiva, destrutiva e preside à desorganização e dissolução das formas. Outras de suas características são a homogeneidade, a entropia positiva, manifestando-se como ódio, agressividade, masoquismo, sadismo, culpa , fracasso… Página 13 de 32 A estrutura da personalidade é formada por quatro fases de desenvolvimento e um período de latência. A fase oral corresponde à idade por volta de zero a dois anos e é subdividida em fase oral de sucção – de zero a seis meses, e oral canibalística – de seis meses a um ano mais ou menos. 3- INTERPRETAÇÃO DE SONHOS Sigmund Freud, 1899/1900. por Augusto Cesar Freire - psicanalista (*) Cem anos de inconsciente Raras são as obras cujo centenário é lembrado e celebrado. A Interpretação dos Sonhos de Freud é uma delas. Para isto há várias razões. A data marca não apenas o centenário de uma obra, mas também o centenário do inconsciente e da própria psicanálise. Para aqueles que não são familiarizados com a obra freudiana uma introdução à importância da obra será feita. Este endereçamento se refere ao fato de que todo e qualquer psicanalista, de toda e qualquer "corrente" desde sua criação até os dias de hoje reconhecem em A Interpretação dos Sonhos uma obra inaugural. Trata-se de uma obra que traça o limite entre os artigos pré-psicanalíticos de Freud e o início da psicanálise. Na edição brasileira das obras completas de Freud (Editora Imago) encontra-se representada por dois volumes (IV e V), tendo sido também publicada em várias edições avulsas. Obra atual por sua obrigatoriedade na formação de todos os psicanalistas e mesmo psicólogos, pululam resenhas e comentários introdutórios. Quanto aos comentários, para os iniciantes pode-se destacar a Introdução à Metapsicologia Freudiana de Luiz Alfredo Garcia- Roza (Zahar Editores), com um volume inteiramente dedicado a A Interpretação dos Sonhos. A obra de Freud provoca uma ruptura absolutamente radical na maneira de abordar o homem em 25 séculos de pensamento. Todas as filosofias, toda a psicologia incipiente, toda a ciência até Freud se preocupava com o homem em seu aspecto consciente. Segundo o próprio Freud, o conceito de inconsciente e a formulação de que o homem não é senhor em sua própria morada tem importância equivalente às rupturas causadas pela passagem do teocentrismo para o heliocentrismo e pela comprovação da ascendência animal do humano. Se há um texto, na obra de Freud, que possamos indicar como primeiro responsável por esta ruptura é A Interpretação dos Sonhos. Nele encontramos a tese que se tornaria a mais popular (e mais mal utilizada): a do complexo de Édipo. Neste texto, também, Freud formula a divisão da mente entre o consciente e o inconsciente. É também ali que a clínica psicanalítica vai encontrar sua justificativa teórica, ainda que não fosse esta a preocupação inicial de Freud. Página 14 de 32 A gestação e o parto da obra Na verdade a obra foi publicada em 04 de novembro de 1899. Por uma decisão do editor, no entanto, a data impressa é a de 1900. A correspondência de Freud a Fliess (publicada em português pela Imago) nos fornece os dados a seguir. Durante dois anos Freud se dedicou ao preparo deste que seria um exemplo excelente de estrutura de tese. Sua pesquisa não deixa de fora nenhuma obra conhecida que abordasse o tema dos sonhos, nem mesmo os sempre populares livros de sonhos egípcios. Cada possível argumento, cada possível interpretação é examinada com seriedade e rigor científico. A magnitude do trabalho poderia responder pela lentidão com que o texto foi produzido, mas em suas cartas ao amigoFliess podemos entender que as razões da demora foram mais pessoais. O livro é pleno de exemplos. Muitos sonhos são analisados e interpretados. O que mais custou ao autor, portanto, foi o fato de que, devido ao sigilo com que deveria resguardar os sonhos de seus pacientes, Freud utiliza os próprios sonhos para dar seqüência à obra. Como o pesquisador que se contagia com a doença que pretende estudar, Freud se expõe aos efeitos de sua própria tese, tira as conseqüências de seus próprios sonhos trabalhando suas próprias neuroses. E corajosamente, nos expõe todo o processo. Não poucas vezes em sua correspondência confessa que prefere não publicar o livro, se mostra pessimista quanto às conseqüências de suas teses e apreensivo quanto à recepção que o livro teria no meio científico e em seu círculo familiar. Suas preocupações se mostrariam fundamentadas. O livro vendeu 228 exemplares nos primeiros dois anos após sua publicação, e a tiragem de 600 exemplares demorou oito anos para ser esgotada. Não houve comentários em boletins científicos a seu respeito e as poucas menções ao trabalho raramente eram elogiosas. Somente dez anos depois, com o reconhecimento da importância de Freud e o fim do ostracismo a que foi entregue pela comunidade médica é que a obra passou à categoria de trabalho sério. Esta acolhida, no entanto, é plenamente justificada. Freud se lançara em um caminho vedado à comunidade científica. Se preocupar com sonhos era uma coisa para poetas e artistas, nunca um cientista consideraria este um tema de trabalho. O romantismo alemão, em pleno vigor, tematizava a alma, as aspirações e os sonhos do homem alemão. A ciência, por sua vez, saía do tratamento moral da doença mental e entrava no organicismo. Neste contexto, as preocupações e métodos de Freud eram, no mínimo, excêntricos. Freud, no entanto, não era um filósofo. Seu interesse pelos sonhos tem uma justificativa completamente científica. Seu rigor se demonstra em cada linha de seu texto na seriedade com que aceita tirar as conseqüências dos fatos, mesmo que em prejuízo de sua teoria ou de seu status médico. Um pouco da história envolvendo a obra e a própria psicanálise devem esclarecer este ponto. A origem das idéias contidas na obra Como o observador que se despe dos preconceitos para apreender um fato inusitadamente novo, Freud criou o que seria um método de pesquisa pela escuta. Pouco antes da escritura do livro passara pela experiência de ouvir de uma paciente que deveria calar-se e escutar mais. Obedeceu. Aos poucos percebia que os sintomas histéricos cediam à palavra. Ao narrar a origem dos sintomas as histéricas se curavam. A primeira teoria formulada para lidar com este fato foi a da catarse. Em poucas linhas a idéia central era a de que o sintoma histérico (no Página 15 de 32 exemplo clássico paralisias, cegueiras, convulsões etc…) consumia uma quantidade de energia originalmente vinculada à idéia que provocou o sintoma. Assim, o acesso desta idéia à memória e à palavra deveria recanalizar esta energia represada no sintoma, eliminando-o. Como conseqüência desta teoria o mais importante a se objetivar seria a rememoração do evento desencadeante. Para facilitar esta rememoração Freud fez uso da sugestão e da hipnose. Começava aí seu isolamento do meio médico. A hipnose tinha uma pré-história acientífica de charlatanismo e apresentações espetaculares, e Freud se encontrava em Viena, capital cultural que costumava não tolerar tais práticas no meio médico. Não por acaso Freud precisa visitar Paris para estudar a hipnose com Charcot, a quem sempre dedicou um profundo respeito. A teoria da catarse seria progressivamente abandonada na medida em que Freud começava a perceber a presença de algo que se opunha ativamente à rememoração. Este fator de resistência se relacionava exatamente àquelas lembranças mais importantes, servindo portanto de indicador do valor de uma determinada idéia para a doença histérica correspondente. Em outras palavras, quanto mais relacionada à doença, mais resistência seria encontrada na rememoração de uma determinada idéia. A hipnose escamoteava este fator, derrubando todas as resistências. Uma nova abordagem se faria necessária se o que se pretendia era tirar as conseqüências desta descoberta. Nas tentativas iniciais do que se tornaria mais tarde o método da associação livre Freud simplesmente se submeteu a ouvir o que vinha à mente de seus pacientes. Nos pontos em que localizava alguma resistência aprendeu a reconhecer a necessidade de fazer valer sua presença, em sua insistência e incitação, fazendo com que o paciente se detivesse neste ponto, se esforçasse um pouco mais, de modo que pudesse seguir por uma trilha inicialmente bloqueada. Ainda em busca da memória perdida, Freud começava a apreender o funcionamento dos sintomas, o tipo de defesas com que se protegiam da investigação e a ferocidade com que resistiam à cura. Só em A Interpretação dos Sonhos será possível encontrar suas teses a este respeito. A importância dada aos sonhos começava aí a tomar força. Deixados livres para falar o que viesse à cabeça os pacientes logo começaram a narrar sonhos, associando-os a eventos relevantes à sua neurose. Freud não se autoriza a legislar o que teria ou não pertinência na narrativa do paciente. Imbuído de uma crença profunda na lei da causalidade supõe que algum fator desconhecido justificaria que os sonhos surgissem na fala dos pacientes. Este fator desconhecido, digamos desde já, seria cernido pelo conceito de inconsciente. Se os sonhos se impunham desta forma à observação do pesquisador, nada mais legítimo que decifrar sua estrutura. À guisa de comentário paralelo notemos que não só os sonhos adquiriram seu valor desta forma, mas também a sexualidade infantil. Os pacientes também traziam lembranças de sensações sexuais prazerosas vividas na infância, o que, apesar do choque, Freud se viu obrigado a considerar. Esta seria outra idéia responsável pelo isolamento da comunidade científica de sua época. Página 16 de 32 Os sonhos e a neurose Em A Interpretação dos Sonhos, Freud formula as leis e as características do inconsciente. Com este conceito consegue juntar fenômenos distintos como o sonho e os sintomas histéricos. Vejamos rapidamente alguns pontos. A tese central do texto é a de que "O sonho é a realização de um desejo". Este desejo, entendamos, não é necessariamente um desejo que possamos aceitar em nossa vida vigil. Quando não se trata de um desejo aceitável, nos diz Freud, preferimos esquecê-lo. Este esquecimento será descrito como conseqüência de um mecanismo chamado 'recalque'. O desejo recalcado, no entanto, permanece em algum lugar exercendo seus efeitos. Os sonhos são apenas um exemplo destes efeitos. Mas os sonhos têm por característica sua falta de senso, sua não obediência às leis que nos regem na vigília. O que Freud formula é que os sonhos seguem uma lei própria, seguem uma lógica que não é a lógica cotidiana. É levado assim a demonstrar que nosso aparato mental é formado pela consciência, cujas regras reconhecemos, e pelo inconsciente, cujos efeitos nos surpreendem por seguir uma lógica diferente e desconhecida (ainda que sempre familiar). Desta forma, um desejo que não condiz com nossa posição social, nosso sexo, nossa situação civil etc…é 'jogado' naquele campo que não segue as mesmas regras de nossa consciência. No inconsciente, nos diz Freud, este desejo vai procurar sua expressão a qualquer custo. Se não é possível que ele se expresse conscientemente (por que no consciente atua aquela resistência que mencionamos acima, provocando o recalque), ele vai buscar alguma expressão substitutiva que consiga escapar à censura. O sonho pode ser entendido como a expressão de uma série de desejos, que encontram nele a única via para a consciência. É por isto também que o sonho será entendido por Freud como a via régia para o inconsciente,uma vez que é sua manifestação mais direta. Mas dissemos que o sonho e os sintomas possuem uma estrutura comum. Isto ficará mais claro no próximo ítem, mas digamos desde já que o sintoma neurótico é também uma manifestação de um desejo. A principal diferença é que no sintoma uma solução é encontrada para que o desejo se apresente na consciência. Também neste caso, contudo, este desejo se manifestará com as distorções necessárias para que possa ser aceito pelo consciente. O funcionamento do sonho O inconsciente é freudiano. Antes de Freud já se falava de inconsciente, mas o conceito de inconsciente é algo inédito. Falar do inconsciente como franja da consciência, como sub- consciente ou como algo que não sabemos mas que podemos saber com algum esforço de nossa parte não é falar do inconsciente freudiano. O inconsciente tem suas leis e particularidades rigorosamente formuladas e a precisão deste conceito se faz mais necessária com sua popularização, que tende a deturpá-lo. Aos processos que ocorrem no inconsciente Freud chama processos primários, em oposição aos secundários, do consciente. Têm por característica não levar a realidade em consideração, tolerar contradições, não conhecer a temporalidade e acima de tudo, buscar a realização de seus impulsos. Freud decifrou a gramática destes processos, descobriu os meios pelos quais atinge seus objetivos. Dois mecanismos básicos são localizados: a condensação e o Página 17 de 32 deslocamento. Nos estenderemos nisto, por ser um dos mais importantes pontos de A Interpretação dos Sonhos. É nos capítulos 6 e 7 do livro que Freud desenvolve o mecanismo de trabalho dos sonhos e o funcionamento do aparato mental. Apresenta o mecanismo de deslocamento na possibilidade que as idéias têm, no inconsciente, de 'emprestar' seu valor para outras idéias, de modo que fatos ou imagens aparentemente sem importância podem ter sido amenizadas, com o quê burlam a censura, compondo o material do sonho. De forma inversa fatos que aparecem no sonho como extremamente nítidos ou valorizados usualmente ganharam seu relevo por uma associação a outra idéia, esta sim, de grande importância. No sonho há também em funcionamento o mecanismo da condensação. Este mecanismo permite que um pequeno detalhe possa representar uma idéia completa. Nos exemplos de Freud vemos como características isoladas de uma pessoa podem representá-la por inteiro ao se compor com outras características que representam outras pessoas. Assim, um personagem pode estar ocupando a função (que tem na realização do desejo) de toda uma multidão de personagens que não figuram no sonho senão por fragmentos. As razões deste trabalho de montagem são explicadas pelo aparato psíquico proposto no capítulo seguinte do livro. Neste aparato o ics (inconsciente) figura em um extremo e o cs (consciente) no outro, e entre eles o pcs (pré-consciente). O ics recebe seu material do sistema perceptivo, mas não tem acesso ao sistema motor. O cs controla as ações, mas a realidade que lhe chega já passou pelos processos do ics. Como intermediário entre os dois sistemas figura a censura, ou seja, uma função que determina o que pode e o que não pode aceder à motilidade, levando a realidade em consideração. Todo o material que não pode passar pela censura está condenado a ser recalcado, a ficar relegado ao ics, sem, no entanto, ficar com isto silenciado. O trabalho do sonho é entendido, assim, como o trabalho de distorção necessário para que o material do ics possa se manifestar. Vale dizer ainda que a distorção a que o material do sonho foi submetida nunca é casual ou caótica, e é por provar isto que o trabalho de Freud adquiriu seu valor. Uma idéia (um desejo, uma intenção ou mesmo uma percepção) está permanentemente relacionada a outras. A natureza desta relação é muito abrangente, podendo ser determinada pela contigüidade espacial ou temporal em que ocorreu, pela similaridade, pela homofonia, enfim, por toda uma gama de possibilidades. O que importa é que a idéia 'principal', uma vez que tenha sido censurada, não poderá ser reconhecida no consciente, mas as idéias com as quais se associa, uma vez que esta associação não seja óbvia, podem ser utilizadas para representá-la (deslocamento). Então, lembrando que no ics as idéias buscam sua expressão, ou nos termos de Freud: os desejos buscam sua realização, o trabalho do sonho é a maneira pela qual um desejo pode se realizar por seus substitutos. O passo seguinte é o que permite a intervenção clínica da psicanálise. Os sintomas, Freud demonstra, são também realizações de desejo. A diferença em relação aos sonhos é que nos sintomas um compromisso se estabelece entre o desejo e a censura, fazendo com que nem o desejo se realize por completo nem a censura seja totalmente eficaz. Desta forma um desejo mais 'amenizado' é realizado. Uma conseqüência direta desta explicação do sintoma é muita incômoda para todos nós. Se nossos desejos devem levar em consideração a realidade para que possamos aceitá-los, como saber se o que reconhecemos como nossos desejos não são amenizações de nossos Página 18 de 32 'verdadeiros' desejos, estes inconscientes? Em outras palavras, uma vez que vivemos em sociedade, tendo que considerar suas regras, somos todos neuróticos. A psicanálise hoje A transmissão da psicanálise foi garantida, a partir da década de 50, por Jacques Lacan. Em sua leitura desta obra de Freud propõe que o que é formulado é um inconsciente estruturado como uma linguagem. A condensação e o deslocamento podem ser entendidos como a metáfora e a metonímia e a estrutura associativa das idéias como a cadeia de significantes (que só podem existir entre dois outros, em associação). Partindo da clínica das psicoses (Freud partiu da neurose) Lacan amplia o campo psicanalítico e encontra a precisão necessária ao ensino e à transmissão da psicanálise. Paralelamente, o pragmatismo americano se empolga em afirmar que a psicanálise está em crise. A descrença americana na psicanálise é equivalente à descrença freudiana nos americanos (afirmou algumas vezes que os americanos jamais compreenderiam a psicanálise - e a história o confirmou). Como a ciência atual se encontra cada vez mais marcada pelo funcionalismo e utilitarismo tão típicos do american way, a psicanálise encontra seu campo (ao contrário do que se previu) cada vez mais valorizado. A razão para isto é muito simples. Cada vez mais o homem é tratado como um objeto sem desejos; se há falta de interesse sexual pela esposa há uma pílula que o resolva, se há falta de empolgação pela vida há uma outra, e etc…Nos tempos do Viagra e do Prozac, o homem se encontra na necessidade de encontrar saídas menos mecânicas para a angústia que a vida em sociedade cobra como preço. Vemos brotarem novas crenças e novas terapias ditas alternativas a cada dia, vemos a procura de oráculos e gurus que prometem soluções prontas, vemos, enfim, os efeitos colaterais da coisificação do homem. A psicanálise, absorvendo bravamente os golpes em seu centenário, cada vez mais se mostra como a única prática fundamentada a se propor trabalhar nesta realidade em que vivemos. (*) Augusto Cesar Freire é psicanalista associado ao Tempo Freudiano Associação Psicanalítica e doutorando em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entendendo o Processo do Sono O fenômeno do sono é de interesse tanto para a Psicologia como para a Psicanálise, no que tange à compreensão dos mecanismos que regem o sonhar. Mais especificamente, a Psicologia se dedica em desvendar o funcionamento do sono, deixando de lado o sonho que, para a Psicanálise é de suma importância. Pensamos que para retratarmos bem os mecanismos que envolvem o sonho, devemos mencionar algumas das principais descobertas da Psicologia quanto ao fenômeno do sono. Dormir é sonhar e sonhar é uma necessidade neurofisiológica. Estudos do campo daPsicologia têm determinado que a privação do sono acarreta sérias consequências mentais e físicas. O primeiro aspecto importante que a Psicologia desvendou sobre o sono é que existem tipos de sono: NREM (No Rapid Eye Movements) e REM (Rapid Eye Movements). A distinção encontra-se na observação de que durante o sono REM os olhos saltam de um lado para o outro, como se observassem uma cena. Neste, observa-se também uma variação no Sistema Nervoso Autônomo, com a respiração e o ritmo cardíaco tornando-se mais rápidos e irregulares, a pressão arterial mais elevada e Página 19 de 32 um aumento da secreção dos hormônios supra-renais. Dentro das distinções presentes no sono REM, há também a ocorrência nos indivíduos masculinos (de todas as idades), a ereção peniana. Ocorre também nos indivíduos femininos uma reação correspondente no tecido vaginal. Os estudos que decifraram este movimento dos olhos no sono foram realizados em 1953 pelo Dr. Nathaniel Kleitman. Tais pesquisas de laboratório mediram as ondas cerebrais de pessoas durante o sono através do eletroencefalograma, as variações musculares, através do eletromiograma, e a movimentação específica dos olhos, através do eletrooculograma. Sabe-se também que há quatro estágios no sono REM, onde cada um caracteriza-se por um padrão de onda cerebral. O primeiro estágio é o sono leve, que marca o iniciar do sono, tem a duração de alguns minutos , quando o indivíduo fica relaxado, com os pensamentos mais ou menos descoordenados, podendo já neste estágio ocorrer sonhos. O segundo estágio é o sono intermediário, ocorrendo um relaxamento maior, podendo ocorrer experiências sensoriais sem base real (alucinações) e crispações súbitas e desordenadas do corpo, seguidas de sensações de queda. O terceiro estágio é o do sono profundo, quando o indivíduo se torna insensível aos sons e oferecerá resistência em ser acordado. No quarto estágio, o sono mais profundo, há uma total relaxação, com o mais completo desligamento do mundo exterior. É nesta fase que podem ocorrer irregularidades como o sonambulismo. Em seu livro sobre o sonho, Leon L. Altman explica que as mudanças neurofisiológicas que têm lugar durante os períodos REM sugerem que a ativação da área límbida do cérebro - uma área associada ao funcionamento primitivo de impulsos e afetos - está em jogo. O autor vê essa retrogressão como uma corroboração à teoria de Freud, de que o sonho é um fenômeno regressivo, o qual nos devolve aos estados primitivos da infância. O Sonho na Teoria Psicanalítica de Freud O conteúdo onírico é de suma importância para a compreensão do inconsciente de quem o produz. Por isso a Psicanálise vê com tanta atenção este produto da mente, que é o sonho. Gastão Pereira da Silva define o sonho de uma forma que bem demonstra sua relevância. Uma função psíquica encarregada de compensar, de suavizar, de substituir, mesmo, uma realidade que nos é hostil, por outra, totalmente diferente, onde um novo mundo se descortina diante da alma e onde todas as nossas ações parecem absurdas, justamente porque as mais censuráveis, na sociedade em que vivemos, gozam, enquanto dormimos, de uma espécie de liberdade condicional, quando se expandem nos sonhos. As descobertas de Freud, de que os sonhos têm um conteúdo psicológico fundamental revolucionaram o estudo da mente. Antes os sonhos eram tidos como meros efeitos de um trabalho desconexo, provocados por estímulos fisiológicos. Os Página 20 de 32 conhecimentos desenvolvidos por Freud trouxeram os sonhos para o campo da Psicologia e demonstraram que estes são tão somente a realização de desejos, disfarçados ou não, satisfeitos em pleno campo psíquico. Podemos sintetizar a teoria psicanalítica dos sonhos da seguinte maneira: a experiência subjetiva que aparece na consciência durante o sono e que, após o despertar, chamamos de sonho é, apenas, o resultado final de uma atividade mental inconsciente durante este processo fisiológico que, por sua natureza ou intensidade, ameaça interferir com o próprio sono. Chama-se sonho manifesto a experiência consciente, durante o sono, que a pessoa pode ou não recordar depois de despertar. Seus vários elementos são designados como conteúdo manifesto do sonho. Os pensamentos e desejos inconscientes que ameaçam acordar a pessoa são denominados conteúdo latente do sonho. As operações mentais inconscientes por meio das quais o conteúdo latente do sonho se transforma em sonho manifesto, chamamos de elaboração do sonho. OS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO SONHO Ao falarmos em sonho, via de regra, estaremos nos referindo ao que chamamos de sonho manifesto, ou seja, o relato que o indivíduo faz após acordar do que sonhou e pode lembrar-se. Quando, porém, nos referimos ao significado de um sonho estamos especificando o conteúdo latente do sonho. Estas distinções são imprescindíveis na Psicanálise. Passaremos a detalhar estes conceitos, bem como explicaremos como o conteúdo latente chega a ser o sonho manifesto. OS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO SONHO 1 O Conteúdo Latente do Sonho 2 O Conteúdo Manifesto do Sonho 3 A Elaboração do Sonho 3.1 Dramatização ou concretização 3.2 Condensação 3.3 Desdobramento 3.4 Deslocamento 3.5 Representação pelo oposto 3.6 Representação pelo nímio 3.7 Representação simbólica 4 A Elaboração Secundária 4- TÉCNICA FREUDIANA Sigmund Freud nasceu em Freiberg, na Morávia, em 1856, de família judaica. É filho do terceiro casamento de seu pai, que trabalhava no ramo de tecelagem. Aos 4 anos de idade, como os negócios do pai não iam bem, a família se transfere para Viena. Nessa cidade recebeu toda sua educação, ficando conhecido como o “Mestre de Viena”. O universo feminino em que Página 21 de 32 viveu, com cinco irmãs, pode ter influenciado sua riquíssima e extensa obra, que tem a marca de sua neurose. Destacou-se como aluno da escola secundária; estudioso, curioso, atento às preocupações humanas. Interessado em ciências naturais, prosseguiu estudos no campo da medicina. Em seus primeiros anos como pesquisador estuda as enguias (peixes), depois o sistema nervoso das lampreias. Ingressou em Hospital Geral, e entre os vários departamentos, o de Psiquiatria, sob a orientação de Meynert, que ele conhecia desde os tempos da escola, o impressionou bastante. No entanto, naquela oportunidade, dedicou-se à fisiologia, à anatomia cerebral e, depois às doenças nervosas. Em1878, conheceu o Dr Joseph Breuer, catorze anos mais velho, que se tornou seu amigo e incentivador, inspirando suas primeiras pesquisas no campo da Psicanálise. O Dr. Breuer pode ser aproximado à figura paterna, e, inclusive, o ajuda financeiramente em algumas situações. Foi uma grande e intensa amizade em sua vida, no entanto, seguem-se polêmicas e rompimento. Freud estava convencido de que deixaria sua marca na História; tinha autoconfiança em relação à sua carreira e ao peso de seu legado; era o único filho que tinha um quarto exclusivo para estudar. O ambiente familiar o auxiliou bastante a ter força para seguir avante em sua carreira quando suas idéias eram consideradas, no mínimo, polêmicas. Em 1880, o Dr Breuer iniciou o tratamento com Berta Pappenteim, mais conhecida como Anna O, uma das pacientes mais famosas da Psicanálise, e utilizou algumas estratégias terapêuticas inovadoras, como a hipnose, (técnica terapêutica que faz com que o paciente se lembre e vá resgatando na memória algumas experiências passadas visando com isso o desaparecimento de alguns sintomas) para o tratamento da histeria, problema que afetava muitas mulheres naquela época; na maioria jovens que alimentavam sonhos que não haviam conseguido realizar por conta da rigidez moral da época. Após dois anos de tratamento, Breuer abandona o caso de Anna O; não dá continuidade às suas pesquisas e Freud o faz, pois se interessava profundamente pela histeria com toda a riquezade sintomas que apresentava ao final do século XIX. Freud partiu da clínica; das relações que se estabeleciam entre ele e os pacientes, para elaborar modelos interpretativos; teorizar. Esta foi uma contribuição importantíssima à ciência e ao campo da educação, pois o enfoque clínico tem sido utilizado no trabalho de capacitação de professores visando auxiliá-los na reflexão sobre suas práticas. Em 1882, Freud conhece Martha Bernays, jovem que virá a ser sua esposa, em 1886. Página 22 de 32 Em 1885, segue para Salpêtrière, em Paris, na intenção de trabalhar com o neurologista Charcot. Consegue uma bolsa de estudos e faz um estágio sobre as diferentes manifestações da histeria e efeitos do tratamento hipnótico, com esse famoso e talentoso médico. Fixou residência em Viena, em 1886, e teve acesso ao hipnotismo, instalando seu consultório, onde atende pacientes histéricas, ora aplicando a técnica da hipnose, cujo princípio fundamental é a sugestão, ora a da pressão, na qual pressiona a fronte do paciente. Após alguns exercícios, Freud passou a acreditar que para além da hipnose poderia haver certos processos mentais que não obstante, permaneciam escondidos da consciência humana. Utilizando a hipnose, fazia perguntas às pacientes sobre a origem de seus sintomas. Acrescentou, em colaboração com Breuer, que os sintomas têm significado e são resíduos ou reminiscências de situações emocionais, porém, na maioria das vezes, tais sintomas não provinham de uma única cena traumática, mas da soma de significativa quantidade de situações similares. Nessa época, troca correspondência com outro amigo importante, o Dr. Fliess, otorrino alemão com o qual se vincula emocionalmente e, no início, fala de algumas de suas primeiras hipóteses que têm a ver com sua experiência na clínica. A partir dessa correspondência, fundamentam-se os alicerces da teoria psicanalítica. Em 1892, Freud abandona a técnica da hipnose e da pressão para deixar o paciente falar, pois leva em consideração que a pessoa/paciente pode aceitar ou não a sugestão. Surge, então, a técnica da associação livre, com a qual pedia para a paciente falar livremente tudo que lhe viesse à cabeça, sem censura, por mais estranho e absurdo que lhe parecesse. Diz que esse encadeamento leva à percepção de sobredeterminação. Mostra que não era necessário usar a hipnose para a paciente/histérica chegar ao estado que queria. Em 1893, Freud formula a teoria da sedução, referindo-se aos efeitos dos valores e regras sociais rígidas impostas aos filhos da sociedade dessa época. Publica, com Breuer, o texto "Sobre o mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos", nesse mesmo ano e, em 1895, "Estudos sobre a Histeria" onde são relatados vários casos, inclusive o de Anna O; fala-se em cura pela fala ou limpeza pela chaminé - método catártico. Passa a considerar a hipótese de que há uma questão sexual na histeria. A evolução foi além do domínio da histeria quando Freud observou que não era qualquer espécie de excitação emocional que estava por trás dos fenômenos da neurose, mas uma excitação de natureza sexual. Aqui ele toca em pontos polêmicos, propondo idéias que dão destaque ao Página 23 de 32 estudo da vida sexual, referindo-se aos efeitos dos valores e regras sociais rígidas, impostos aos filhos da sociedade dessa época. Nesse mesmo ano, Freud analisa seu próprio sonho, que está relatado na sua obra “Interpretação dos Sonhos”, voltando para si mesmo o seu olhar de pesquisador. Para alguns estudiosos, esse é o momento inaugural da Psicanálise, pois a partir daí o sonho passa a ser fundamental na construção teórica e na clínica psicanalítica. Ainda nesse ano de 1895, nasce sua filha, Anna Freud, que se torna, também, psicanalista. Em1896, Freud faz uma conferência na Universidade de Viena sobre a etiologia sexual da histeria, colocando a hipótese de que, em sua etiologia, a histeria traz a marca sexual. Isso produz enorme escândalo e dificulta a aceitação de Freud no meio acadêmico. É o estopim do rompimento com Breuer, que era conservador e estava inserido no grupo de cientistas. Freud se surpreende, pois achava que Breuer o apoiaria, o que colaboraria para a aceitação de sua tese. Nesse mesmo ano de 1896, quando faz uma conferência, morre-lhe o pai, experiência das mais difíceis para o homem, após o que Freud passa a pensar no Édipo. Fazendo sua auto- análise, vai-se dando conta de que, como filho, alimentava pela mãe um amor incestuoso que só foi possível perceber após a morte do pai. Freud tinha formação humanista muito forte; tinha uma produção intelectual intensa e por sua erudição consegue pensar em metáforas para as referidas explicações. Através da mitologia, da arqueologia, vai buscando vestígios do passado na história das pessoas; por exemplo, amor incestuoso mas inconsciente pela figura materna. Freud mostra que a sexualidade humana não se liga à genitalidade e que se organiza a partir de operações psíquicas. Propôs que as crianças já apresentam uma sexualidade muito diferente das outras espécies e que, na infância, não está comprometida ao órgão sexual, mas a sensações ligadas à sexualidade. Isso foi revolucionário para a época, quando se achava que a sexualidade ficava adormecida. A sexualidade humana tem basicamente uma questão que a torna diferente; é a questão da pulsão, pois nós não somos, tal como os animais, movidos por instinto, mas por pulsão, termo proposto por Freud para dar a idéia de algo que fica exatamente no limite entre o orgânico e o psíquico. Aos poucos, Freud vai reformulando suas próprias concepções e desvendando segredos humanos. Em 1897, época do Édipo (experiência edípica de matar o próprio pai em sonho e a culpa pelo amor incestuoso), Freud pondera que fatos que fazem parte da fantasia são muito importantes na Psicanálise. Página 24 de 32 Abandona a teoria da sedução, dizendo não mais acreditar nos relatos de suas histéricas. Recorre à teoria da fantasia, segundo a qual os elementos relatados na construção da história de cada paciente não fazem parte da realidade, mas, mesmo não tendo sido experiências reais, a maneira como são relatadas tem um peso para produzir sintomas. Freud percebe que, no momento em que a pessoa fala, seja uma experiência empírica ou fantasiosa, o valor para o analista é o mesmo; a fantasia vai revelar, de alguma forma, como é difícil para essas pacientes assumir conscientemente seus discursos de que, ao contrário, elas é que procuram ser seduzidas. Se a primeira teoria causou tanto furor, a segunda foi menos polêmica, no entanto a comunidade científica continuou a não aceitá-lo. Nessa época, escrevia cerca de duas a três cartas por dia para o Dr. Fliess, independentemente das respostas. Para Freud, eram momentos de muitas questões que não haviam sido pensadas antes, como: a questão do sonho; o que é um aparelho psíquico; como ele se organiza; como se estrutura. Extremamente inventivo, produtivo, Freud passava de doze a dezesseis horas diárias em seu gabinete, atendendo pacientes e dedicando-se a estudos, pesquisas, correspondência. 1900, ano da publicação do livro “A Interpretação dos Sonhos”, deixou marcas profundas na cultura ocidental e representa a revolução paradigmática produzida por Freud, tirando o homem do centro de sua própria consciência, da mesma forma que Copérnico tirou a terra do centro do universo, Darwin tirou o homem do centro da criação e Marx tirou o homem do centro de sua própria história, dizendo que o homem é o resultado dessa história. A noção de inconsciente configura a ruptura de Freud com a epistemologia hegemônica do século XX. Para Freud, o sonho é revelador de como funciona o psiquismo humano e ele considera o sonho como a via régia para o inconsciente; é o guardião do sono; é uma formação do inconsciente que está diretamente relacionada ao desejo; é um regus (semelhantea uma carta enigmática). O sonho acaba sendo uma espécie de matéria-prima privilegiada na teoria freudiana, a partir da qual o grande mestre vai aprimorando suas lições. A interpretação dos sonhos é a via de acesso ao conhecimento do inconsciente, que produz suas formações: os sonhos, os lapsos, os atos falhos, os esquecimentos, os chistes, o sintoma. Por definição, o inconsciente é inapreensível e o que dele se pode apreender são suas formações. Com aproximadamente cinqüenta anos de idade e fumante inveterado, Freud desenvolveu um câncer na mandíbula; fez várias operações e teve que colocar uma prótese. Seu médico fala que, em alguns momentos Freud pensou que tal câncer poderia estar ligado ao fato de ele falar sobre problemas de fundo psíquico, onde o que está em questão é o inconsciente; aquilo que não pode ser manifestado e que acaba Página 25 de 32 interferindo no corpo. A psicossomática é mais ou menos contemporânea a essa época, embora Freud não se tenha dedicado exclusivamente a essa questão. No desenvolvimento de sua teoria, abandonando o método catártico, Freud mostrou a ocorrência de uma situação específica, a transferencial; aprofundou o uso do método da associação livre e assinalou a ocorrência do recalque.Tal estudo levou-o a adotar o conceito do inconsciente, inicialmente compreendido como a consciência, da qual nada se conhecia. Para compreender a origem dos sintomas, Freud foi levado, cada vez mais, à história do paciente, chegando aos primeiros anos de vida, isto é, à infância. Dessa forma, descobre a sexualidade infantil, novidade que enfrentaria a barreira dos preconceitos humanos, despertando indignação e contestação. Seguiram à revelação da sexualidade infantil, o reconhecimento das fantasias, das teorias sexuais infantis, o desejo, as fases de evolução da libido, sonhos e um trabalho mais detalhado sobre o tratamento psicanalítico. Freud dizia que no projeto da criação não foi contemplado o fato de o homem ser feliz. Os que mais sofrem são aqueles que querem a felicidade ferrenhamente. A infância não é feliz; é um período sofrido, segundo Freud porque se está no caminho da construção do aparelho psíquico e se entra no mundo do desejo, que é prazer e desprazer. A essas alturas, a Psicanálise, cujo eixo central é a questão do inconsciente, junto com a sexualidade e a prática psicanalítica, gozava de interesse e credibilidade. Bleuler e seu assistente Jung, em Zurique, estavam adquirindo vivo interesse pela Psicanálise. Em 1908, publicaram o Anuário de Pesquisas Psicanalíticas e Psicopatológicas. À época, o assunto ainda provocava uma série de controvérsias, e isto tornou o grupo de psicanalistas mais coeso. Em 1910, em Nuremberg, na Alemanha, constituíram-se, por proposta de Ferenczi, em uma Associação Psicanalítica Internacional, que sobrevive até os nossos dias, tendo como primeiro presidente Jung. As observações sobre as neuroses de guerra colaboraram sobremaneira para o crescimento da credibilidade da psicanálise, bem como para torná-la mais popular e conhecida. Página 26 de 32 Freud denominou segunda fase o período a partir de 1907, tendo ele desempenhado papel de destaque na esfera do narcisismo, teoria das pulsões e da aplicação da psicanálise às psicoses. O Complexo de Édipo se revelava cada vez mais claramente como o núcleo das neuroses. Desde que formulou a hipótese sobre a existência dos dois instintos (Eros e Thanatos) e desde que propôs a divisão da personalidade mental em um ego, um superego e um id (1923), os interesses de Freud voltaram-se para os problemas culturais e é ele próprio quem diz: "não prestei outras contribuições decisivas à psicanálise". Os processos encontrados nos textos seguintes que são "O mal estar na civilização" e o "Futuro de uma ilusão", são os mesmos, colocados novamente numa fase mais ampla. O inventor da Psicanálise acredita que estes estudos despertaram uma simpatia mais forte por parte do público do que propriamente a Psicanálise, que foi muito combatida na época, apesar de terem se originado dela. São de Freud as palavras "não pode haver mais dúvida alguma de que ela (a Psicanálise) continuará: comprovou sua capacidade de sobreviver e de desenvolver-se tanto como um ramo do conhecimento, quanto como um método terapêutico". Nas “Cinco Lições de Psicanálise”, escreve: para o Psicanalista “não existe nada insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas. Antevê um motivo suficiente em toda parte onde, habitualmente, ninguém pensa nisso; está até disposto a aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade causal, que supomos inata, se satisfaz plenamente com uma única causa psíquica.” (Obras Completas -1970- p. 36 – vol. XI). Em 1938, fugindo do nazismo, Freud foi para Londres. Suas três irmãs, ao contrário, morreram no campo de concentração. Apesar dos 83 anos de idade e da doença, Freud ainda trabalhava; atendia pacientes, mas sofria com muitas dores e sua filha, Anna, concedeu ao médico que o atendia permissão para que aplicasse dose excessiva de morfina. Assim morreu o inventor da Psicanálise, a 23 de setembro de 1939, aos 83 anos, em Londres, na casa onde hoje é um museu que conta com seu divã, parte de sua biblioteca, suas antiguidades, funcionando como guardiões da história da Psicanálise. Bibliografia Obras Completas – Vol. XI Página 27 de 32 Revista Percurso nº13, do Instituto Sedes Sapientiae, em 1994, “Epistemologia e Psicanálise : o Estatuto do Sujeito”. “Três Ensaios sobre uma teoria sexual” - Freud Anotações das aulas ministradas pelo professor Tácito , no Curso “Infância, Psicanálise e Educação”, no Lepsi – USP- 2002. SOBRE A INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA Por Manuel Bulcão 14/05/2004 Muita gente pensa (e a autoridade de Popper tem reforçado muito esse pensamento) que a investigação psicanalítica é um trabalho feito nas coxas e que as idéias subjacentes à psicanálise servem tanto para explicar tudo quanto para justificar qualquer baboseira que se apresente a título de explicação. "Grosso modo", seria assim: o psicanalista observa o jeitão do paciente, realiza com ele uma ou duas sessõezinhas de livre associação, analisa dois ou três sonhinhos e, sem perder mais tempo, tasca um diagnóstico na cara do infeliz. Depois disso, fica só tentando convencer o pobre do analisando da absoluta verossimilitude da sua interpretação, valendo-se para tanto (e como técnica de imunização à crítica) da própria teoria psicanalítica. Ou seja, se o paciente aceita o diagnóstico, está provada a sua validade, mas se o contesta, tal recusa não passa de uma "denegação" que, no fundo, é confirmação. Se o paciente tenta contra- argumentar de uma forma mais complexa, tadinho, está ele apenas "racionalizando"; e se de repente apresenta um comportamento inusitado que aparentemente não fecha com o diagnóstico, prontamente o analista o interpreta como o começo de uma "formação reativa". Em síntese, "cara eu ganho, coroa você perde" e assim será sempre. Não duvido que muitos psicanalistas realizam esse tipo de análise "selvagem" (a incompetência e a presunção arrogante são mesmo endêmicas em "todas" as profissões), mas essa idéia negativa que se tem da psicanálise é tão simplista quanto a pior interpretação psicanalítica, e ambas têm em comum o fato de encerrarem os mesmos equívocos, sendo o principal deles o fato de que tanto o mau analista quanto o cético mal informado — porém de boa-fé — acreditarem que, segundo a psicanálise, "todo" pensamento e comportamento humanos não passam de manifestações superficiais de processos mentais não só inconscientes como essencialmente libidinosos. Ora, isso é reducionismo vulgar ou, da parte dos críticos, uma redução à caricatura. Tal idéia, além de estranha à psicanálise, vai de encontro aos seus princípios e objetivos; pois, se assim fosse, o tratamento psicanalítico
Compartilhar