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Calcando Cancoes,, , Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Artes Arquitetura e Comunicação Thanile Goncalves Reis, Projeto de Conclusão de Curso Design - Projeto de Produto Orientador - Prof. Dr. Cláudio Roberto y Goya Bauru 2012 Agradecimentos Agradeço aos meus pais e meu irmão pelo apoio de uma vida inteira. Agradeço aos meus amigos que, ao longo da faculdade, se tornaram minha família. Agradeço ao meu namorado pela dedicação. Obrigada, meninas de Uberlândia! Obrigada, Carol e meninos da Asilo! Obrigada, meninas da Casa da Praia! Um agradecimento especial ao pessoal da Mix Brasil. E, finalmente, obrigada Goya, meu querido amigo, professor e orientador. Resumo Um dos poetas brasileiros que mais sensivelmente sintoniza of eminino; Escritor, dramaturgo e músico, Chico Buarque é reconhecido por captar e emitir a voz feminina, vertendo-a em palavras, traduzindo-a em música. Em composições que se primam pela decantação do eu lírico feminino, emerge o ser e a voz da mulher. Assim como Chico explana a mulher e a faz transparecer em música e poesia, o projeto Calçando Canções tem o intento de apresentar algumas de suas composições e personagens na configuração de calçado feminino. A proposição de criar e produzir uma linha de calçados fundamentada em canções de Chico Buarque transcende a percepção sonora. É a concretização da poesia e beleza de suas composições por meio do Design. Introducao, , Calçando Canções é uma linha de calçados femininos que tem o intuito de transcender a sonoridade das composições de Chico Buarque, visando a materialização do imaginário de sua poesia.É , portanto, uma releitura tridimensional de sua obra, que se tornou possível através do Design de Calçados. O relatório do produto estrutura-se em módulos, de maneira a conduzir o leitor pelo tema, primeiramente apresentando o calçado, em seguida as canções selecionadas, as mulheres cantadas, as criações e, por fim, a produção. Relacionando as composições poéticas à musicalidade, àf eminilidade, ao calçado e ao design. No módulo “Introdução ao Calçado” serão explorados os termos técnicos utilizados na produção de um calçado, sua estrutura e a maneira como ele é criado e produzido dentro de uma fábrica. O módulo entilulado “As canções” introduz as composições escolhidas para fazer parte do projeto, e apresenta uma análise do feminino cantado por Chico, das personalidades marcantes, porém distintas, de suas mulheres. “Os calçados” é a apresentação das criações, juntamente com seus respectivos desenhos técnicos. Um módulo que expõe os materiais, modelos, cores e formas estipulados e quais as relações que se estabelecem entre eles e as personagens. Em “Produção”, um detalhamento do processo de geração da linha, desde os desenhos técnicos até o produto final, passando pela escolha de materiais, modelagem e fabricação dos protótipos. Em seguida, uma série de fotografias clicadas por Lucas Ribeiro, exibe os calçados recém saídos da fábrica, que estariam prontos não fossem as intervensões artísticas e manuais posteriores. “Considerações”, “Conclusão” e “Bibliografia” seguem com as ponderações e informes finais. Percebe-se ao longo do projeto o mérito do Design em agregar conceito e sentido aos objetos. Nessa obra, o Design atua como vetor de transferência de significados, alcançando a materialização de um produto tridimensional através da releitura de um produto sonoro. Os calçados concebidos, não apenas atendem às expectativas do consumidor atual, seguindo “tendências” do mercado de moda, talvez até, por influência do tempo trabalhado como designer em uma fábrica de calçados, eles sobressaem pelo modo com que foram concebidos. Designados, desde sua origem no mundo das ideias, para portar significado e valor. São calçados contemporâneos, passíveis de produção em escala, salvo algumas intervenções artísticas posteriormente definidas, mas acima de tudo são calçados que carregam música, poesia e sentimento em sua essência. Introducao ao Calcado,,, Calçando Canções é uma linha de calçados inspirados em canções de Chico Buarque, para uma melhor compreensão desse projeto, é necessário explanar alguns termos técnicos. O calçado é composto por Construção (parte inferior: salto, sola, palmilha, meia pata) e Cabedal (parte superior, que envolve o pé). Uma linha de calçados é formada por pares cujas construções permanecem as mesmas, alterando apenas o cabedal. A criação de um Cabedal tem seu início no desenho técnico do calçado, cabe ao modelista interpretá-lo e transformá-lo em moldes que serão utilizados para o corte e confecção da peça.E sse processo de fabricação dos moldes é denominado Modelagem. As Cancoes, , Foram selecionadas sete canções para compor o projeto, de maneira que elas pudessem, juntas, contar uma história. E essa história começa pela manhã com “Folhetim”, desdobra-se ao longo do horário comercial com “Se eu fosse teu patrão” e tem seu entardecer no porto com “Minha História”. O retorno ao lar no final do dia é representado por “Tatuagem”, onde, ao anoitecer, enfrenta-se uma dolorosa separação em “Atrás da Porta”.A noite estende-se num cabaré ao som de “Bastidores” e a história tem seu desfecho quando “A Rita” decide, enfim, partir. E eu te farei as vontades Direi meias verdades Sempre à meia luz E te farei, vaidoso, supor Que é o maior e que me possuis Se acaso me quiseres Sou dessas mulheres Que só dizem sim Por uma coisa à toa Uma noitada boa, Um cinema, um botequim E, se tiveres renda Aceito uma prenda Qualquer coisa assim Como uma pedra falsa Um sonho de valsa Ou um corte de cetim Mas na manhã seguinte Não conta até vinte Te afasta de mim Pois já não vales nada És página virada Descartada do meu folhetim Folhetim (1977-78) Chico Buarque Chico Buarque, além de escrever o texto de “Ópera do Malandro”, compôs 17 músicas para a peça. Dentre elas está “Folhetim” , que segundo o compositor que pensava a música para além dos palcos, tinha a cara de Gal Costa e servia para a personagem. Em “Folhetim” a mulher adquire uma postura de ascendência sobre o homem, e essa superioridade feminina fica em evidência especialmente nos versos da terceira estrofe: “E te farei, vaidoso, supor que é o maior e que me possuis” O deliberado descompromisso por parte da personagem é revelado pelo caráter fugaz de seus encontros, o que reforça a não submissão da mulher e a consciência de seu domínio sobre o homem. A mulher de “Folhetim” trata seus “encontros” como mera troca de favores. Se eu fosse teu patrão (1977-78) Chico Buarque Eu te adivinhava E te cobiçava E, te arrematava em leilão Te ferrava a boca, morena Se eu fosse o teu patrão Aí, eu tratava Como uma escrava Aí, eu não te dava perdão Te rasgava a roupa, morena Se eu fosse o teu patrão Eu te encarcerava Te acorrentava Te atava ao pé do fogão Não te dava sopa, morena Se eu fosse o teu patrão Eu encurralava Te dominava Te violava no chão Te deixava rota, morena Se eu fosse o teu patrão Quando tu quebrava E tu desmontava E tu não prestava mais não Eu comprava outra, morena Se eu fosse o teu patrão Pois eu te pagava direito Soldo de cidadão Punha uma medalha em teu peito Se eu fosse o teu patrão O tempo passava sereno E sem reclamação Tu nem reparava, moreno Na tua maldição E tu só pegava veneno Beijando a minha mão Ódio te abrandava, moreno Ódio do teu irmão Teu filho pegava gangrena Raiva, peste e sezão Cólera na tua morena E tu não chiava não Eu te dava café pequeno E manteiga no pão Depois te afagava, moreno Como se afaga um cão Eu sempre te dava esperança D'um futuro bão Tu me idolatrava, criança Seu eu fosse o teu patrão “Se eu fosse teu patrão” faz parte do repertório de músicas compostas por Chico para a peça “Ópera do Malandro”. A música é uma verdadeira desmistificação do amor, da mulher, e da relação entre os sexos. Aqui, o confronto Homem x Mulher também é o confronto Patrão x Empregado, numa luta de classes em que cada grupo se coloca na pele de“patrão” do outro. Nesse conflito identificamos dois discursos distintos, o masculino e o feminino. O primeiro é o da violência aberta e brutal, inclusive na esfera sexual com as metáforas da violação. É um fetiche de dominação que tem por detrás uma submissão de fato, o que faz gerar no homem a revolta de estar numa condição inferior à mulher. O segundo discurso é “venenoso”, o discurso feminino trata do desprezo e da dissimulação. Nele, a mulher demonstra dominação não com a violência, mas com uma calma e tranquila submissão. O homem fica "sereno e sem reclamação" sem sequer reparar que está sendo dominado e afagado, como se afaga um cão. O discurso da mulher torna-se tanto mais odioso quanto mascarado pelo afeto. Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher Me ninava cantando cantigas de cabaré Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde E deixou minha mão com o olhar cada dia mais longe Esperando, parada, pregada na pedra do porto Com seu único velho vestido cada dia mais curto Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança E não sei bem se por ironia ou se por amor Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor história (Gesù bambino) Lucio Dalla Minha e PaolaP allottino versão de Chico Buarque Minha história é esse nome que ainda hoje carrego comigo Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz Me conhecem só pelo meu nome de Menino Jesus (1970) A música original de Lucio Dalla e Paola Pallotino tinha “O filho da guerra” como subtítulo, que é como são conhecidas as crianças nascidas de mães solteiras italianas com soldados estrangeiros. Chico brincava que o subtítulo de sua versão seria“ O filho da puta”.O título “Menino Jesus” nao agradou a censura e foi, portanto, substituído por “Minha História”. Diferentemente das demais canções escolhidas para compor esse projeto, em “Minha História” o emissor não é feminino. Na primeira estrofe ele apresenta o que seria seu pai estereotipado, numa descrição que sugere um aventureiro, homem do mar sem pouso certo, do qual se desconhece a origem.A mãe é personagem principal das três estrofes seguintes, e é descrita com certa ternura e pena por um menino Jesus às avessas. Uma espécie de Maria que cometeu seus pecados, mais para Maria Madalena que para Virgem Maria. Tatuagem (1972-73)Chico Buarque Quero ficar no teu corpo Feito tatuagem Que é pra te dar coragem Prá seguir viagem Quando a noite vem E também pra me perpetuar Em tua escrava Que você pega, esfrega Nega, mas não lava Quero brincar no teu corpo Feito bailarina Que logo se alucina Salta e te ilumina Quando a noite vem E nos músculos exaustos Do teu braço Repousar frouxa, murcha Farta, morta de cansaço Quero pesar feito cruz Nas tuas costas Que te retalha em postas Mas no fundo gostas Quando a noite vem Quero ser a cicatriz Risonha e corrosiva Marcada a frio Ferro e fogo Em carne viva Corações de mãe, arpões Sereias e serpentes Que te rabiscam O corpo todo Mas não sentes Originalmente composta para a peça “Calabar” que Chico produziu com Ruy Guerra, “Tatuagem”, assim como todas as canções que o autor compôs para várias peças teatrais, não se limita ao contexto da peça, apresentanto, então, um caráter universal. “Tatuagem” revela o desejo feminino de fazer parte do corpo do amante através de uma subordinação voluntária e consciente. A imagem de continuidade se reproduz ao longo do texto, as estrofes construídas em paralelismo revelam o desejo do eu-feminino de ser parte do seu homem e expressam a sua necessidade de completude. A última estrofe reafirma a metáfora “tatuagem”a través da forma que ela popularmente assume: “Corações de mãe, arpões, sereias e serpentes”. Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei Eu te estranhei Me debrucei Sobre teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos No teu peito (Nos teus pelos)* Teu pijama Nos teus pés Ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que inda sou tua Só pra provar que inda sou tua... Atrás (1972) Chico Buarque da porta eF rancis Hime *verso original vetado pela censura “Atrás da porta” é a primeira parceria da dupla Francis Hime e Chico Buarque. Chico compôs a primeira parte da música em público, algo que nunca havia feito e nunca voltaria a fazer, enquanto Francis cantarolava em um piano. A segunda parte só foi composta quando a primeira já estava gravada com a voz da intéprete, Elis Regina. A música revela um intenso dilaceramento devido ao conflito da separação, o título enfatiza a barreira que se instala entre o casal pela porta que se fecha.O texto segue revelando a perda da auto-estima e autocontrole, a dignidade é rebaixada ao nível da humilhação e a repetição do “r” dimensiona o rastejar da mulher abandonada. A segunda estrofe pode ser sintetizada pela imagem “Te adorando pelo avesso”.U ma separação mostrada quase que cinematograficamente. O distanciamento do amante em relação à mulher abandonada corresponde ao rebaixamento de altura de um ser humano em pé, ao chão. Bastidores (1979)Chico Buarque Cantei, cantei Como é cruel cantar assim E num instante de ilusão Te vi pelo salão A caçoar de mim Chorei, chorei Até ficar com dó de mim E me tranquei no camarim Tomei o calmante, o excitante E um bocado de gim Amaldiçoei O dia em que te conheci Com muitos brilhos me vesti Depois me pintei, me pintei Me pintei, me pintei Não me troquei Voltei correndo ao nosso lar Voltei pra me certificar Que tu nunca mais vais voltar Vais voltar, vais voltar Cantei cantei Nem sei como eu cantava assim Só sei que todo o cabaré Me aplaudiu de pé Quando cheguei ao fim Mas não bisei Voltei correndo ao nosso lar Voltei pra me certificar Que tu nunca mais vais voltar Vais voltar, vais voltar Cantei cantei Jamais cantei tão lindo assim E os homens lá pedindo bis Bêbados e febris A se rasgar por mim Chorei, chorei Até ficar com dó de mim Tarso de Castro, que estava produzindo o novo disco de Caubby Peixoto, pediu uma música para Chico. O autor, que não tinha composição nova, propôs “Bastidores”, porém preveniu que já havia sido gravada na voz de sua irmã, Cristina. Não se sabe porque, mas o disco do cantor saiu primeiro, e sua performance excepcional fez com que ele voltasse às paradas de sucesso. Cristina acabou nos bastidores da canção feita para ela. Em “Bastidores”, o rompimento da relação conjugal é tratada em tom de desespero. Identifica-se a presença da mesma dor que destrói nos bastidores e constrói nos palcos. E esses dois momentos alternams-e entre aplausos e prantos, brilhos e lágrimas. A dor intensa que leva a personagem a cometer atos desatinados também a impulsiona a mascarar-se para o palco. Os dois últimos versos, que retomam os dois primeiros, sugerem a implacável solidão do sofrimento. O poeta enfatiza o paradoxo das situações geradas pela mesma dor, e realça seus efeitos sobre a criação artística. A Rita (1965) Chico Buarque A Rita levou meu sorriso No sorriso dela Meu assunto Levou junto com ela O que me é de direito E Arrancou-me do peito E tem mais Levou seu retrato, seu trapo, seu prato Que papel! Uma imagem de São Francisco E um bom disco de Noel A Rita matou nosso amor De vingança Nem herança deixou Não levou um tostão Porque não tinha não Mas causou perdas e danos Levou os meus planos Meus pobres enganos Os meus vinte anos O meu coração E além de tudo Me deixou mudo Um violãoSamba suave que conduz o lamento poético de quem foi abandonado. Como nas músicas de Noel Rosa, poeta da velha geração a quem Chico faz referência na música, a mulher cantada é pintada como ingrata, talvez infiel. Rita se foi, não se sabe bem porque, e levou com ela, não somente suas coisas (retrato, trapo, prato), levou também a alegria de seu ex parceiro (meu sorriso, meu assunto). Observamos as graves consequências que a partida de Rita teve para seu amante, que, amargurado, se queixa de ter seus planos, seus enganos, sua juventude e seu coração levados pela mulher amada. Entretanto, a pior consequência do abandono, como fica evidente nos três últimos versos, pode ter sido o violão emudecido pela dor da separação. Os Calcados, Uma linha pré-existente e já em uso na fábrica de calçados Mix Brasil da cidade de Jaú foi definida como base para os calçados desse projeto. O propósito é evidenciar quantos modelos diferentes é possível criar a partir de uma mesma base, dentro de uma mesma linha. As personagens das canções apresentam diferentes comportamentos, reações, sentimentos e classes sociais, mas ao mesmo tempo elas revelam algo em comum, são todas mulheres de Chico Buarque. O compositor, neste caso, é a base que compõe a “linha” de seus diferentes modelos de mulher. Assim como as personagens, os calçados de “Calçando Canções” possuem uma mesma base e compõe uma linha. Todos partiram de uma mesma forma, apresentam o mesmo salto, sola e meia pata, variando apenas os materiais usados para revestimento, as cores e o modelo de cabedal. Folhetim O calçado de “Folhetim” retrata a postura da personagem em relação aos seus homens, suas conquistas. Simboliza, à primeira vista, a atração, o domínio e, subsequentemente, o desprezo do eu lírico feminino perante seus amantes. O modelo é um peep toe nada casual, para ocasiões em que a mulher se veste para o triunfo. Confeccionado em cetim cor de rosa choque com drapeado na traseira, o calçado faz alusão às prendas (Sonho de Valsa, corte de cetim) que a personagem sugere ao amante que tiver renda. As pedras falsas fixadas na meia pata retratam todas as “prendas” que a protagonista já obteve ao longo de sua trajetória, nota-se, também, sua desconsideração por tais presentes, já que as pedras estão “jogadas” de forma desordenada na superfície da meia pata, parte do calçado próxima à sola e ao chão. A mulher de “Folhetim” desdenha de suas conquistas e “pisa” em suas prendas. 1 2 3 4 5 5. Calçado Paris Hilton1. Calçados Charlotte Olympia 2. Calçado Yves Saint Laurent 3. Rasteira Kate Spade 4. Plataforma Giuseppe Zanotti Se eu fosse teu patrao O calçado de “Se eu fosse teu patrão” representa o conflito femino x masculino e patrão x empregado presente na música. O sapato inspira o desejo de se impor sobre o outro, sugere poder e, principalmente, coloca a mulher na posição de dominante. O modelo apresenta elementos, como o couro verniz e as costuras na frente do cabedal, normalmente presente nos sapatos sociais masculinos. Ou seja, ele apresenta traços de calçados regularmente usados por homens de classe social elevada, ou que ocupam cargos importantes, usualmente bem remunerados. O salto, que por sua vez é revestido de sintético dourado metalizado, representa o pedestal sobre o qual a mulher se ergue para ostentar sua posição de domínio. O calçado é, portanto, a simbologia de suas conquistas, seu troféu. , 1 2 3 4 5 6 7 1. Sandália Zara 2. Sapato Florsheim da década de 1970 3. Scarpin Jimmy Choo 4. Oxford Maison Martin Margiela 5. Sapato Casadei 6. Peep toe Dorothy Perkins 7. Sapato Charlotte Olympia Minha historia O calçado de “Minha história” conta a versão da personagem mãe do eu lírico do poema. Fala de sua história de amor e desilusão com um marinheiro e de seu filho, fruto desse relacionamento. O cabedal do modelo é confeccionado em tecido floral e representa seu único velho vestido usado durante a gravidez, suas cores remetem ao azul do mar e ao azul do manto de Nossa Senhora, já que, ao dar ao filho o nome de Jesus, ela provavelmente se sentia um pouco Maria. O salto revestido de corda e a fita que se prende ao pé remetem ao fato da personagem ter ficado “amarrada”, parada e pregada na pedra do porto esperando seu homem do mar que não mais voltaria. , 1 2 3 4 5 6 5. Rasteira Blowfish 6. Espadrille Schutz 1. Espadrille Schutz 2. Plataforma Seychelles 3. Sandália Schutz 4. Calçado Naughty Monkey Tatuagem O calçado de “Tatuagem” representa o desejo de continuidade do eu feminino e o seu anseio em fazer parte de seu amante, convertendo-se em uma espécie de prolongamento do ser amado. O modelo fechado feito em Nobuck cor nude exibe uma textura agradável ao toque, simbolizando a continuidade da pele. O calçado, neste caso, atua como prolongamento do ser que o calça. O diferencial desse modelo encontra-se no solado, o desenho criado pela designer e tatuadora Simone Domingos estampa a sola do calçado e faz referência à última estrofe da canção: “Corações de mãe, arpões, sereias e serpentes”. 1 2 3 4 1. Calçados Taylor Reeve 2. Calçado meia pata AX Paris 3. Calçado meia pata Taylor Reeve 4. Calçado meia pata Taylor Reeve Atras da porta O calçado de “Atrás da porta” representa o dilaceramento intenso vivido pela personagem devido à quebra de sua união. Entretanto, tal dilaceramento é mostrado de maneira sutil por um calçado clássico, já que a mulher da canção não toma drásticas atitudes depois do desespero demonstrado logo assim que o rompimento acontece. Ela apenas agoniza no tapete atrás da porta, chora baixinho, difama e se percebe ainda pertencente ao ser amado que a deixou. O modelo é inspirado no Chanel clássico em verniz bege com detalhe em preto na biqueira. O diferencial está nas “amarras”, o calçado possui duas fivelas quando o normal seria apenas uma. Esse “exagero” de tiras que se prendem ao pé faz alusão à forma com que a personagem se prende ao amado. Originalmente, o calçado foi projetado para apresentar a maior parte do cabedal virada do avesso, deixando-o exposto e retomando o verso “Te adorando pelo avesso”, o que não foi tecnicamente viável. , 1 2 3 4 1. Calçado Kelsi Dagger 2. Chanel com meia pata Yves Saint Laurent 3. Calçado Yves Saint Laurent 4. Ankle boot Chanel Bastidores O calçado de “Bastidores” representa tanto o glamour dos palcos quanto a profunda dor e desespero que assolam a personagem. O modelo, uma sandália pensada para encantar nos palcos, foi confeccionado em veludo fazendo alusão às cortinas de um espetáculo que se abrem para a performance da personagem que, por sua vez, arranca aplausos de todo cabaré. No entanto, o azul do material que remete a cor do zimbro, matéria prima na fabricação do Gim, inspira tristeza, embriaguez e prantos. Assim como a canção, o calçado melancólico e deslumbrante é paradoxal por retratar a contradição da dor que edifica nos palcos e aniquila nos bastidores. 1 2 3 4 1. Slipper Del Toro 2. Slipper Giuseppe Zanotti 3. Calçado Dolce & Gabbana 4. Sandália Valentino A Rita A Rita partiu e levou mais que apenas seus pertences, e seu calçado representa tudo que fora levado para longe do homem que chora por tê-la perdido. A sandália de “A Rita” simboliza a “trouxa” em que a personagem carrega seus trapos, pratos e retratos, uma trouxa feita às pressas, quase como se Rita fugisse de seu companheiro. O padrão xadrez nas cores vermelho e branco, mais conhecido por estampar toalhas de mesa, sugerem uma “mala” feita por quem tem pressa de partir. O nó no topo do cabedal “amarra” tudo o que Rita leva consigo ao abandonar seu homem. O salto ganha destaque ao ser revestido de verniz vermelho e faz alusão a um punhal ou estaca, simbolizando os coraçãos feridos que Rita deixa pelo seu caminho. 1 2 3 4 5 1. Sandália e plataforma Charlotte Olympia 2. Calçado Kurt Geiger 3. Peep toe Christian Louboutin 4. Plataforma Charlotte Russe 5. CalçadoCharlotte Olympia Producao, , O processo de produção dos calçados teve seu início com os desenhos técnicos, com eles é possível especificar a linha, os modelos, os detalhes, materiais, fivelas e tipos de costura. O próximo passo foi passar os desenhos para o modelista, profissional responsável por transformar os desenhos técnicos em moldes para o corte dos materiais. Os moldes já prontos foram passados para o computador da fábrica, e então para a máquina computadorizada de corte. Depois dos cortes realizados, deu-se início à montagem dos modelos. Durante a montagem os modelos são colados, lixados e os cabedais são, então, fixados à construção. O toque final é a limpeza de eventuais resíduos da superfície do calçado. Os Calcados, Folhetim Se eu fosse teu patrao, Minha historia, Tatuagem Atras da porta, Bastidores A Rita Consideracoes, , O produto final como eu havia definido teoricamente no início do projeto sofreu várias alterações e adaptou-se a cada etapa da concepção e produção. Os tecidos para a confecção dos modelos de “A Rita” e “Folhetim” não se encontravam disponíveis na fábrica, foram então, comprados em uma loja de tecidos e dublados em uma empresa especializada para que adquirissem maior resistência para a confecção do calçado. O modelo de “Atrás da Porta”, como consta no relatório, deveria ter sido montado do avesso, o que na realidade não aconteceupor inviabilidades técnicas. O modelista não trabalha para a fábrica que produziu os protótipos, o que dificultou a comunicação e resultou em vários pequenos defeitos nos moldes, corrigidos em parte, posteriormente. A fábrica que se disponibilizou para produzir os modelos está localizada em Jaú, por isso não acompanhei a produção tão de perto quanto eu gostaria. Além disso, o projeto teve de se adaptar às condições da fábrica, isso inclui forma, materiais e principalmente o tempo que eles poderiam trabalhar nos calçados do projeto. O projeto que inicialmente seria composto de uma linha de calçados e um ensaio fotográfico estilo editorial de moda teve de ser resumido. O ensaio não foi realizado devido aos prazos do modelista, da fábrica e da entrega do trabalho. Encomendar uma linha de calçados a uma fábrica não é algo economicamente viável nem para a fábrica, que teria de produzir novas formas e procurar novos materiais para apenas alguns pares de calçados, nem para o cliente, que teria de pagar por essas novas matrizes. Portanto é um projeto sujeito a diversas adaptações e diversos favores. Conclusao, Com o projeto “Calçando Canções” conclui-se que, a partir do design, é possível transcender música, literatura e poesia e criar seguindo não somente especificações técnicas. Quando a análise de produtos similares deixa de ser a parte mais importante da metodologia do projeto é quando o design se mostra mais criativo. Projetar e criar a partir de canções, palavras e pinturas foi o que mais me chamou atenção no meu primeiro período no curso de Design. E assim como nas disciplinas de Plástica, eu encerro meus projetos como graduanda em Design compondo a partir daquilo que me inspira. Orientada pelo professor cuja metodologia de ensino me intrigava e inspirava quando caloura, hoje eu concebo, como trabalho de conclusão de curso, produtos de design singular na essência, calçados criados através da materialização da percepção sonora.