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Vz Doença do refluxo gastroesofágico A doença do refluxo gastresofágico (DRGE) é definida como sinais/sintomas ou lesão da mucosa provocada pelo refluxo anormal do conteúdo gástrico para o esôfago ou para a cavidade oral (inclusive laringe) ou pulmões (NORRIS, 2021) A doença do refluxo gastresofágico (DRGE) foi definida objetivamente, no consenso internacional realizado em Montreal (2006), como “condição na qual o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas que afetam o bem-estar do paciente e/ou complicações” (DANI, PASSO, 2011) Classificação da DRGE A DRGE é classificada em dois grupos com base em achados endoscópicos: (NORRIS, 2021) • Grupo com lesão da mucosa esofágica (esofagite erosiva e esôfago de Barrett) • Grupo sem lesão da mucosa esofágica (doença do refluxo endoscopia-negativa ou doença do refluxo não erosiva) Etiologia e fatores de risco da DRGE A etiologia da DRGE é multifatorial, como exemplos: (DANI, PASSOS, 2011) • Obesidade A obesidade é um exemplo de comorbidade que vem a aumentar a pressão intra-gástrica, aumentando dessa forma o gradiente de pressão gastro-esofágico e a frequência de relaxamento do esfíncter esofágico inferior transitório. (DANI, PASSOS, 2011). • Redução do tônus do esfíncter esofágico inferior (EEI) Acredita-se que alguns pacientes com DRGE apresentam uma redução do tônus do EEI, o que aumentaria o volume de refluxo gastroesofágico. Diversos fatores podem contribuir para a redução do tônus do EEI, como distensão gástrica, tabagismo e o consumo de certos alimentos • Pressão abaixo do normal (hipotonia esfincteriana) Nesta situação, observa-se refluxo freqüente, em especial em decúbito horizontal. É a principal causa de refluxo noturno. Está associado a formas mais intensas da DRGE, em particular quando a pressão do EIE situa-se abaixo de 10 mmHg (CHEHTER, 2004) • Hérnia de hiato A hérnia hiatal pode levar o ácido do estômago a subir para o esôfago, gerando um refluxo acima da quantidade normal e assim causando lesões no revestimento interno do esôfago. • Sonda nasogástrica Um procedimento que pode desencadear o aparecimento do refluxo é a intubação nasogástrica prolongada, quer pela presença da sonda, quanto pela posição de decúbito dorsal do paciente. (CHEHTER, 2004) • Medicamentos e alimentos Alguns medicamentos, como a teofilina, β-bloqueadores, anticoncepcionais, anticolinérgicos e bloqueadores de canais de cálcio, se utilizados por longos períodos, podem desencadear o refluxo, mediante diminuição da pressão do EIE. Igualmente, alimentos gordurosos, frituras, chocolate, menta, frutas cítricas, café e álcool levam o paciente a apresentar sintomas típicos de refluxo (CHEHTER, 2004) • Envelhecimento A redução da eficácia do esvaziamento esofágico que tende a ocorrer com o envelhecimento, o que mantém o conteúdo do refluxo em contato por mais tempo com a mucosa esofágica. Isso pode ocorrer por redução da produção de saliva ou por alterações da peristalse esofágica • Gravidez O mecanismo da gravidez é semelhante ao da obesidade, em virtude da presença do útero gravídico comprimindo as outras vísceras Manifestações Clínicas Sintomas típicos Os sintomas clássicos da DRGE são pirose (sensação de queimação retroesternal, ascendente em direção ao pescoço) e regurgitação (retorno de conteúdo gástrico, ácido ou amargo, até a faringe), de fácil reconhecimento. (DANI,4ª edição) Os pacientes podem relatar alívio dos sintomas com uso de medicamentos antiácidos. Estes sintomas são mais frequentes após as refeições ou quando o paciente está em decúbito supino ou em decúbito lateral direito. (DANI,4ª edição) Sintomas atípicos Dor no peito: Pode imitar a angina de peito e é normalmente descrita como queimação ou compressão, localizada subesternalmente e irradiando para as costas, pescoço, mandíbula ou braços. Tal dor pode durar de minutos a horas e se resolver espontaneamente ou com antiácidos e geralmente ocorre após as refeições, à noite e pode ser exacerbada pelo estresse emocional. (DANI,4ª edição) O estímulo de quimiorreceptores da mucosa esofágica pelo refluxato desencadeia essa dor, visto que a inervação do esôfago e do miocárdio é a mesma. (DANI,4ª edição) Hipersalivação: É um sintoma relativamente incomum no qual os pacientes podem espumar a boca, secretando até 10 ml de saliva por minuto em resposta ao refluxo. (DANI,4ª edição) Náuseas: É pouco relatada, porém quando inexplicável, deve- se sempre considerar DRGE. (DANI,4ª edição) Doença do Refluxo Gastroesofágico Sintomas extraexofágicos Manifestações extraesofágicas pulmonares (tosse cro ̂nica, asma, bronquite, fibrose pulmonar, aspiração recorrente, dentre outras), otorrinolaringológicas (rouquidão, globus, roncos, pigarro, alterações das cordas vocais, laringite cro ̂nica, sinusite e erosões dentárias) estão associadas à DRGE, mas não são específicas. (DANI,4ª edição) A maioria dos pacientes com sinais e/ou sintomas extraesofágicos não apresenta sintomas típicos concomitantes. Na realidade, a DRGE pode ser apenas uma das diversas causas destes sintomas. Portanto, nos pacientes com sintomas extraesofágicos, é necessária a confirmação da existe ̂ncia de DRGE, através de exames complementares ou de resposta ao tratamento com antissecretores potentes, para concluir que a causa é a DRGE. (DANI,4ª edição) Sintomas de alarme As manifestações de alarme, que sugerem formas mais agressivas ou complicações da doença, são: odinofagia, disfagia, sangramento, anemia e emagrecimento. (DANI,4ª edição) Complicações Esofagite erosiva Ocorre quando o refluxo excessivo de ácido leva a uma necrose das camadas superficiais da mucosa esofágica, causando erosões e úlceras. Esses pacientes podem ser assintomáticos ou sintomáticos, apresentando azia, regurgitação, disfagia e odinofagia. Esôfago de Barrett Condição na qual o epitélio colunar metaplásico substitui o epitélio escamoso estratificado que normalmente reveste o esôfago distal. É uma condição que predispõe ao desenvolvimento de câncer de esôfago, mas que não causa sintomas a mais que os mencionados, como que azia, regurgitação e disfagia. Estenose esofágica Resultado do processo de cicatrização da esofagite ulcerativa. O colágeno é depositado nessa fase e, com o tempo, as fibras colágenas se contraem, estreitando o lúmen esofágico. Diagnóstico Clínico Anamnese O diagnóstico de DRGE se faz inicialmente com uma anamnese detalhada, com identificação dos sintomas, sua intensidade, duração e frequência. É importante observar os fatores desencadeantes e de alívio e o impacto dos sintomas na qualidade de vida dos pacientes. Deve-se também considerar a idade e a presença ou ausência de manifestações de alarme, que incluem: disfagia, odinofagia, perda de peso, hemorragia digestiva, náuseas ou vômitos e história familiar de câncer. Os principais sintomas de DRGE são pirose (queimação retroesternal), dor torácica, disfagia, odinofagia, eructações e regurgitação. Outras manifestações menos frequentes são sialose, náuseas, hemorragia crônica e anemia, globus faringeus, asma, tosse crônica, fibrose pulmonar idiopática, apneia do sono, otite média, rouquidão e desgaste do esmalte dentário. Interrogatório sintomatológico • Boca e Garganta: Paladar, halitose, sialorreia, sialoquiese (diminuição ou ausência de saliva), mastigação, deglutição, lesões na língua, palato e mucosa oral, deformidades no palato, odontalgia, número de dentes, dor e edema gengival, hemorragia gengival, odinofagia (dor), rouquidão, dislalia, disfonia, afonia. • Sistema Respiratório: ruídos ao respirar (ronco, chiado), dispneia (aos esforços, em repouso, ortopneia, dispneia paroxística noturna), fadiga ou sudorese durantea alimentação, tosse (seca ou com expectoração – esbranquiçada, amarelada, esverdeada, com muco ou sangue), cianose, palpitações, dor torácica, dor precordial, síncope. • Sistema Digestório: Apetite (anorexia, hiporexia, hiperorexia), alterações da deglutição (disfagia, odinofagia, incoordenação sucção-deglutição), sensação de globus faríngeo, regurgitação, pirose, empachamento, sensação de distensão epigástrica pós-prandial, peso ou desconforto epigástrico, eructações, intolerância alimentar, náuseas e vômitos, hematêmese, dores abdominais, distensão abdominal, flatulência. • Sistema Linfo-Hematopoiético: Linfonodomegalias (questionamento se há presença de nódulos ou caroços em região supraclavicular/suspeitar de carcinoma esofágico ou adenocarcinoma gástrico). Como sintomas típicos que geralmente levam ao diagnóstico de DRGE tem-se pirose geralmente nas três primeiras horas de refeição, regurgitação sem esforço de fluido ácido ou salgado e vômitos. Todavia, existem manifestações extraesofagianas atípicas que podem ser derivadas do refluxo gastroesofágico, como dor precordial, desgaste do esmalte dentário, tosse cônica, broncoespasmo, rouquidão, halitose, aftas e irritação da faringe. Exame físico Exame de cabeça e pescoço apresenta erosão do esmalte dentário (achado inespecífico) e irritação na faringe. No exame físico, a posição sentada reclinada para frente e a insuflação pulmonar com a capacidade quase que vital é uma tentativa de manter o diafragma achatado, com diâmetro ântero-posterior do hiato estreitado e consequente elevação do esfíncter esofágico inferior e diminuição do refluxo patológico. O exame físico é útil na suspeita de carcinomas esofágicos e gástricos, importantes no diagnóstico diferencial com DRGE. Inspecção e palpação de linfonodos supraclaviculares são sinais de mau prognóstico. Exames complementares pHmetria esofágica prolongada O exame é realizado ambulatorialmente, utilizando equipamentos portáteis, sensores miniaturizados de pH e análise de dados computadorizados. (DANI, PASSOS, 2011) É utilizado um cateter com sensor de pH, passado por via nasal até a mucosa esofágica. A pHmetria prolongada permite o diagnóstico da DRGE por demonstrar a presença de refluxo ácido gastresofágico anormal. (DANI, PASSOS, 2011) A pHmetria não é considerada o padrão-ouro no diagnóstico da DRGE, pois é um método que apresenta várias limitações. Cerca de 25% dos pacientes sabidamente portadores de esofagite apresentam um estudo de pHmétrico normal. (DANI, PASSOS, 2011) Impedância Trata-se de técnica que permite a identificação do refluxo gastresofágico independente de seu pH e de seu estado. Sendo assim, possibilita a avaliação qualitativa do tipo de refluxo (ácido ou fracamente ácido), seu alcance proximal, sua composição (líquido, gasoso ou misto), bem como do tempo de depurac ̧ão (ou clareamento) esofágico. (DANI, PASSOS, 2011) A principal indicação da impeda ̂ncia/pHmetria é na avaliação de pacientes com sintomas típicos ou extraesofágicos atribuídos à DRGE, que não responderam de forma completa ao tratamento com inibidores de bomba protônica. (DANI, PASSOS, 2011) Endoscopia digestiva alta A endoscopia digestiva alta é o exame de escolha para avaliação das alterações da mucosa esofágica secundárias à DRGE, permitindo, além de sua visualização direta, a coleta de fragmentos esofágicos através de biopsias. (DANI, PASSOS, 2011) • A EDA pode ser utilizada para pacientes com: • Suspeita de DRGE que não apresentam resposta satisfatória após início do tratamento • Fatores de risco para esôfago de Barrett • Sinais de alarme para presença de malignidade Estudos radiológicos (esofagograma ou seriografia) A cintigrafia e o esofagograma com bário são métodos radiológicos habitualmente utilizados na avaliação da DRGE e suas complicações. (DANI, PASSOS, 2011) Os estudos baritados são úteis em pacientes com disfagia, visto que apresentam boa sensibilidade na detecção de hérnias hiatais, estenoses e anéis esofágicos (DANI, PASSOS, 2011) A indicação do esofagograma baseia-se na capacidade do exame em avaliar dinamicamente a morfologia do órgão e o tempo de trânsito do contraste. Entretanto, para o diagnóstico de DRGE apresenta baixa sensibilidade e especicidade e, por conseguinte, raramente está indicado. (SHILIOMA et al., 2016) Testes provocativos O teste de Bernstein-Baker objetiva comprovar que o sintoma do paciente decorre do refluxo ácido gastresofágico. Esse teste utiliza a infusão de ácido clorídrico a 0,1 N na luz esofágica, na tentativa de reproduzir o sintoma típico do paciente, e a infusão de solução salina como placebo. (DANI, PASSOS, 2011) Considera-se o teste positivo naquele paciente que apresentou sintomas típicos apenas durante a infusão de ácido clorídrico. (DANI, PASSOS, 2011) Esse teste é considerado de alta especificidade ao atribuir a origem do sintoma ao refluxo ácido. Deve ser reservado para situações em que não se dispõe de pHmetria prolongada, ou para pacientes que apresentam sintomas infrequentes, e que não ocorreram durante o monitoramento esofágico do pH. (DANI, PASSOS, 2011) Manometria esofágica A manometria esofágica apresenta uma indicação limitada na avaliação inicial da DRGE e não deve ser realizada para diagnóstico dessa doença. Esse exame pode ser útil na avaliação da gravidade da DRGE, podendo prever sua gravidade ao demonstrar um EIE defectivo ou disfunção peristáltica. (DANI, PASSOS, 2011) Bilitec O Bilitec foi criado visando à detecção dessas substâncias que possuem um alto pH e, portanto, não são detectadas pela pHmetria prolongada. Esse sistema percebe a presença de bilirrubina através de espectrofotometria. Apresenta limitações, como sua incapacidade de diferenciar substâncias com coloração semelhante à da bilirrubina, exigência de dieta líquida (pouco fisiológica) durante o exame, e é pouco utilizado em nosso meio. (DANI, PASSOS, 2011)
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