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1 Dor abdominal, diarreia e icterícia Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) CONCEITO É preciso diferenciar o refluxo fisiológico da doença do refluxo gastroesofágico: REFLUXO GASTROESOFÁGICO: • Deslocamento, sem esforço, do conteúdo gástrico para o esôfago; • Ocorre normalmente e várias vezes durante o dia (fisiológico), sem apresentar sintomas ou lesão. DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO • Deslocamento do conteúdo gástrico (estômago) para o esôfago, apresentando sintomas (clínica sugestiva) OU sinais de lesão da mucosa (esofagite). Ex. Pacientes assintomáticos, mas com alterações visíveis pela EDA, como esofagite e esôfago de Barret, também tem diagnóstico de DRGE. EPIDEMIOLOGIA • Distúrbio do TGI alto mais frequente - 20 a 40% dos casos; • A prevalência aumenta ao longo da vida (mais comum nos idosos); • Responsável por até 5% das consultas médicas na atenção primária; • Crianças: prevalência nos lactentes (gofadas – duram até os 2 anos de idade, período de desenvolvimento do esfíncter esofagiano inferior). • É uma doença crônica, mas de evolução benigna. • A DRGE normalmente vem associada a outras doenças como a dispepsia funcional (69%), constipação crônica e síndrome do intestino irritável. • Aumento da prevalência diretamente relacionado ao aumento da obesidade na sociedade. • A DRGE leva a redução da qualidade de vida do paciente e frequentemente vem relacionada a alterações do sono. FATORES DE RISCO Outros: • Gestação – aumento da progesterona que relaxa o EEI; • Medicamentos – relaxam o tônus do esôfago (nitratos, antidepressivos e drogas); • Alimentos – cafeína, álcool, chocolate. • Tabagismo; FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da DRGE vai explicar o retorno patológico para o esôfago de agentes agressores do estômago, como o ácido clorídrico, pepsina, sais biliares e enzimas pancreáticas. FATORES QUE MAIS INFLUENCIAM: 1. Relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior (RTEEI) exacerbado e não relacionado a deglutição: • Por não ser associado a deglutição → patológico; • Relaxamento longo → >10segundos; • Não seguidos de peristalse esofagiana → intuito de limpar o conteúdo do refluxo. 2. Hipotonia do EEI: • Pressão media do EEI costuma está entre 10 a 30mmHg, nos pacientes com DRGE se encontra <10mmg, por isso a hipotonia. • Causas da hipotonia: esclerose sistêmica, lesão 2 Dor abdominal, diarreia e icterícia cirúrgica do EEI, uso de drogas e a gestação. 3. Hérnia de Hiato: • Quando EEI e o diafragma não ficam no mesmo nível/ sobrepostos, isso leva a formação de uma hérnia. • Com isso, o diafragma perde sua função de barreira mecânica; • O EEI passa a ter pressão menor, perdendo a capacidade protetora, também. • Nem toda hérnia hiatal gera DRGE 4. Gastroparesia: • Diminuição da motilidade gátrica, gerando retardo no esvaziamento gástrico, levando ao alimento retornar para o esôfago. QUADRO CLÍNICO SINTOMAS TÍPICOS • Pirose – queimação retroesternal, que tende a subir até a faringe o Os pacientes dizem ser uma azia ou uma sensação de queimação na barriga e pescoço. o Piora após refeições e em decúbito. O ardor é provocado pela ação do ácido gástrico no esôfago (regurgitação), ou seja, fora do ambiente estomacal. • Regurgitação – fluxo de conteúdo estomacal para o esôfago. o Paciente sente que tem conteúdo do estomago voltando. SINTOMAS ATÍPICOS (extraesofagianos) • Rouquidão; • Pigarro; • Tosse crônica; • Alterações dentárias; • Sensação de ter um caroço ou algo preso na garganta (globus faríngio); • Dor torácica – diagnóstico diferencial com angina pectoris. Manifestações de Alarme • Odinofagia (dor na garganta); • Disfagia (dificuldade para engolir); • Sangramentos; • Anemia (perda crônica de sangue); • Perda ponderal. Essas manifestações estão relacionadas as complicações da DRGE, sendo necessário a investigação. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Acalásia: • É um distúrbio no os movimentos peristálticos estão ausentes ou comprometidos, com isso o esfíncter esofágico inferior não relaxa e com isso ocorre um aumento na pressão de repouso • O paciente tem regurgitação, disfagia, perda ponderal e fatores de risco. Esofagite eosinofílica: • É uma doença crônica mediada pelo sistema imunitário do esôfago resultando em inflamação predominante de eosinófilos no esôfago. • Os sintomas são: impactação alimentar, disfagia e 3 Dor abdominal, diarreia e icterícia regurgitação. • Paciente tem alterações endoscópicas e histológicas. Divertículos esofágico: • Divertículos esofágicos são bolsas ou protrusões anômalas no esôfago, que consiste na exteriorização da mucosa; • Pode ser assintomático ou causar disfagia e regurgitação; • Se o divertículo for grande, pode encher-se de alimentos e, mais tarde, quando a pessoa se inclina para a frente ou se deita, podem ser regurgitados. Isto pode fazer com que durante o sono seja aspirada comida para os pulmões, provocando uma pneumonia por aspiração Eructações/arrotos patológicas: • Quando há um acúmulo muito grande de gases no estômago, a eructação se torna excessiva e ocasiona uma situação patológica. Síndrome da ruminação: • Síndrome da ruminação é um transtorno alimentar (psiquiátrico) caracterizado pela regurgitação de alimentos após terem sido consumidos. Sendo que a regurgitação pode ser voluntária. Síndromes funcionais: • Paciente com sintomas refratários e exames normais preenchem os critérios de Roma IV (critérios de diagnóstico de distúrbios gastrointestinais funcionais – síndrome do intestino irritável). Síndrome do Intestino Irritável A Síndrome do Intestino Irritável (SII) caracteriza-se por uma doença funcional, já que possui ausência de anormalidades estruturais e bioquímicas em todos os exames complementares, laboratoriais e de imagem. A causa de SII não são completamente esclarecidas. Admite-se que seja um distúrbio multifatorial relacionado com alterações neurológicas, ingestão alguns de alimentos, e precedidos de alterações psicossomáticas, como o estresse. Os sintomas consistem, principalmente, de dor e distensão abdominal, constipação e diarreia. Mas podem vir associado a outros. Normalmente é diagnosticada a partir dos sintomas, porém o diagnóstico pode ser difícil já que os sintomas podem ser parecidos em várias das doenças gastrointestinais. Os critérios de Roma são critérios padronizados com base em sintomas para o diagnóstico de SII. Os critérios Roma existem desde 1990 com a criação do Roma I, Hoje em dia, trabalha-se com o último dos critérios, que foi atualizado em 2016, os critérios Roma IV. DIAGNÓSTICO Sintomas clássico permitem diagnóstico presuntivo sem a necessidade de exames complementares. DIAGNÓSTICO CLÍNICO: • Paciente com sintomas típicos (pirose e regurgitação) maior que 1x por semana há pelo menos 4 semanas. 4 Dor abdominal, diarreia e icterícia • Na anamnese: ✓ Definir duração dos sintomas; ✓ Fatores de melhora e piora; ✓ Hábitos alimentares; ✓ Consumo de álcool e tabaco; ✓ História familiar de câncer do TGI; ✓ Verificar os medicamentos de uso; ✓ Verificar os sintomas de alarme. • Teste de confirmação (diagnóstico terapêutico): redução sintomática após 1 a 2 semanas do uso de IBP (inibidor da bomba de prótons). ✓ Só deve ser realizado em pacientes: adultos e sem sinais e sintomas de alarme. ✓ Pode melhorar outras condições clínicas como úlceras pépticas e pirose funcional. ✓ Obs. Não confirma e nem exclui o diagnóstico de DRGE. • Não há necessita de exames complementares, mas podem ser solicitados para pesquisar complicações ou problemas anatômicos. EDA (endoscopia digestiva alta): • Primeiro método diagnóstico de escolha; (não é obrigatório – utilizadopara afastar diagnósticos diferenciais) • Visualização direta da mucosa (presença de erosões) → avaliação a extensão e gravidade da doença; • Diagnóstico de complicações (esofagite, esôfago de Barret, adenocarcinoma); • É possível avaliar, também, a resposta ao tratamento. • 25 a 50% dos pacientes apresentam sintomas típicos com EDA normal (ou seja, sem erosões), o que não descarta a DRGE. • Alterações inespecíficas como edema e enantema do esôfago não são característica da DRGE. • Indicações da EDA: o Sinais e sintomas de alarme; o Paciente sem melhora clínica após 8 semanas de uso de IBP em dose dobrada; o Paciente com >50 anos com sintomas crônicos de DRGE (+5 anos). o Reavaliação de pacientes pós tratamento com esofagite erosiva intensa. o Acompanhamento do esôfago de Barret. Obs. Os demais exames não fazem parte da prática médica, normalmente são pedidos por especialistas. MANOMETRIA ESOFÁGICA: • Avalia a motilidade e a pressão dentro do esôfago e nos EES e EEI; • Realizado por meio da introdução de uma sonda pela narina até o estômago. Com isso, a contração esofagiana é avaliada com a ingestão de pequenos volumes de água no paciente em decúbito dorsal. O exame dura em média 30 minutos. • Não indicado na investigação inicial da DRGE; • Indicações: o Localizar o EEI (antes da realização do exame de pHmétrico); o Afastar acalasia e outros distúrbios motores (fatores de risco para DRGE – hipomotilidade ou e EEI hipotônico); o Pré-operatório na cirurgia anti-refluxo. PHMETRIA DE 24 HORAS • Esse exame mede a acidez do esôfago quando expostos as substancias gástricas. • Cateter inserido do nariz ao estômago com eletrodo fixo ao tórax do paciente. O equipamento mede a acidez do esôfago durante todo o período que o paciente estiver com ele, principalmente após as refeições. O tempo de uso varia de 18 horas, devendo o paciente retornar ao médico para retirada do cateter. • Pouca disponível pelo sus; • Boa sensibilidade e especificidade; • Indicações: o Pre-operatório de cirurgia anti-refluxo; o Avaliação de pacientes com EDA normal e refratários ao tratamento com IBP; o Avaliação de pacientes com sintomas atípicos, como tosse e dor torácica. IMPEDANCIOMETRIA • Melhor sensibilidade quando comparado com a phmetria → maior resistência a corrente elétrica dos eletrodos. • Avalia a natureza física (líquido, gasoso ou misto) e química do refluxo (ácido, não ácido e levemente ácido). • O refluxo não ácido só consegue ser diagnosticado na impedanciomentria. 5 Dor abdominal, diarreia e icterícia TRATAMENTO Objetivo: aliviar os sintomas, cicatrizar as lesões da mucosa esofagiana e prevenir o aparecimento de complicações. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Obs. ✓ Elevação da cabeceira da cama é recomendada principalmente em pacientes que apresentam sintomas durante o sono. ✓ Não receitar dieta tão restritiva, pois piora a qualidade de vida do paciente. ✓ Redução do peso em pacientes obesos é primordial, pois é um dos principais fatores de risco. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANTIÁCIDOS: • Neutralizam a secreção ácida gástrica servindo apenas para controle imediato dos sintomas; • Usado para alívio sintomático em indivíduos com sintomas esporádicos. BLOQUEADORES DOS RECEPTORES H2: • Cimetidina, ranitidina e famotidina; • Reduz a produção de ácido do estômago, por meio do bloqueio do receptor de histamina (estimula a produção de ácido pelo estômago); • Opção para tratamento da DRGE não erosiva; • Não indicada por doença moderada a intensa ou por período prolongado; o Pode desenvolver taquifilaxia – redução da eficácia da droga por uso excessivo. PROCINÉTICOS • Metoclopramida, domperidona e bromoprida; • Não indicados de forma rotineira; • Não melhora a cicatrização da mucosa; • Tem a função de aumentar a velocidade de esvaziamento gástrico, estimulando o peristaltismo. • Utilizados apenas em associação com IBP em pacientes com quadro de dismotilidade associada (náuseas, saciedade precoce, plenitude pós-prandial). INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (IBP) • Inibem a produção de ácido clorídrico pelas células parietais do estômago, inibindo a bomba de prótons. • Bloqueio irreversível; • Tratamento de escolha inicial para DRGE por período de 4 a 8 semanas com dose plena (40mg); • Os índices de cicatrização são elevados; • Pode ser utilizado em gestantes. 6 Dor abdominal, diarreia e icterícia Modo de Uso: → Administrado de jejum, 30 minutos antes da refeição, por 60 dias. Utilizando uma dose plena. → Caso não ocorra diminuição dos sintomas apresentados, a dose do medicamento deve ser dobrada. → Para evitar recidivas, é necessário, realizar o tratamento de manutenção, onde se administra uma dose mínima, suficiente para manter o paciente assintomático. Dose dobrada: → Antes do café da manhã (40mg) e antes do jantar (40mg); → Indicações: o Paciente não apresenta melhora dos sintomas; o Pacientes com complicações e manifestações atípicas; Consequências do tratamento com IBP a longo prazo: • Relação com gastrite atrófica quando o H. pylori está presente; • Aumento do risco de fratura de bacia; • Deficiência de magnésio, vitamina B12 e ferro; • Aumento do risco de infecção por clostridium. TRATAMENTO CIRÚRGICO Indicações: • Esofagites recidivantes; • Complicações da DRGE; • Perspectiva de uso de IBP por muitos anos; • Pacientes jovens; • Hérnias de grande volume em pacientes com risco de volvo ou perfurações; • Prejuízos na qualidade de vida do paciente; COMPLICAÇÕES ESOFAGITE • 40% dos casos de complicação; • Classificação de Los Angeles (grau A, B, C e D); o Pacientes com grau C e D devem ser referenciados para um especialista. ESÔFAGO DE BARRET • 10 a 15% dos casos; • Substituição do epitélio escamoso esofágico da porção distal em epitélio colunar glandular. • Maior prevalência em homens acima de 50 anos. ÚLCERA ESOFÁGICA – (5%); HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA – (<2%); ESTENOSE ESOFÁGICA – (1-20%); ADENOCARCINOMA ESOFÁGICO – (<1%).
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