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DOR ABDOMINAL

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INTRODUÇÃO 
A análise da dor abdominal considera: 
abordagem inicial do paciente, 
anamnese e exame físico no 
desenvolvimento de hipóteses 
diagnósticas. Os quadros de dor 
abdominal representam 7,5% do total 
de atendimentos em unidades de 
emergência, sendo que cerca de 
50% desses pacientes necessitaram 
de intervenção médica 
MECANISMOS DE DOR 
ABDOMINAL 
DOR POR INFLAMAÇÃO DO 
PERITÔNIO PARIETAL 
Trata-se de uma dor somática, capaz 
de sinalizar a víscera doente (vesícula 
biliar, estômago, apêndice, pâncreas), 
ou parte dessa (sigmoide, alça ileal, 
esôfago distal), pela relação com o 
segmento da parede do abdome 
examinado (ex.: quadrante inferior 
direito/ponto de McBurney = 
apendicite aguda). Essa dor varia seu 
tipo (cólica, queimação), ritmo 
(contínua, intermitente) e intensidade 
(fraca, moderada, lancinante) 
conforme a natureza do fator 
desencadeante (secreções digestivas, 
fezes, sangue, pus) e o tempo de 
evolução da patologia (agudo, 
subagudo, crônico). 
 
 
 
 
Via de regra, a dor da peritonite 
agrava-se durante a palpação, 
movimentação corporal espontânea 
ou mecanismos fisiológicos (tosse, 
espirro, evacuação). Assim, o paciente 
apresenta-se quieto no leito, 
posicionado em atitude antálgica. Ao 
contrário, durante a vigência das 
cólicas, o indivíduo pode encontrar-se 
agitado, contorcendo-se 
incessantemente 
 
OBS: A tendência de se deitar sob os 
joelhos quando em peritonite é em 
vista de liberar espaço para o 
peritônio 
DOR POR OBSTRUÇÃO DE 
VÍSCERAS OCAS 
No início do quadro obstrutivo, a dor 
é provocada por intensas ondas 
peristálticas, caracteristicamente 
descrita como intermitente ou em 
cólica. 
À medida em que a obstrução 
persiste, instala-se um desequilíbrio 
hidroeletrolítico acentuado, complicado 
pelo comprometimento da viabilidade 
do aporte sanguíneo às alças. Nessa 
fase, a dor modifica suas 
DOR ABDOMINAL 
características, tornando-se constante 
com exacerbações eventuais. Tanto 
as cólicas quanto as demais 
manifestações dolorosas procedentes 
da obstrução de vísceras ocas 
costumam ser bem menos localizadas 
do que a dor da inflamação peritoneal, 
projetando-se, em geral, no 
mesogástrio. 
Na imagem, mostra-se um volvo de 
sigmoide 
 
OBS: Há distensão abdominal como 
sintoma, pelo gás liberado na cavidade 
abdominal 
DOR POR DISTÚRBIOS 
VASCULARES 
Por haver comprometimento do fluxo 
sanguíneo esplâncnico, levando à 
isquemia na altura dos plexos 
nervosos geradores dos estímulos 
dolorosos, a dor por distúrbios 
vasculares apresenta certa 
discrepância em relação ao exame 
físico. Por exemplo, o paciente 
encontra-se com rigidez da parede 
abdominal à palpação (sinal de 
irritação peritoneal avançada), 
enquanto queixa-se de uma dor 
contínua, difusa e de intensidade 
moderada. 
Porém, quando o colapso vascular 
torna-se definitivo, a dor modifica suas 
características passando a ser 
contínua, intensa, acompanhada por 
sinais de irritação peritoneal e 
repercussões sistêmicas que podem 
evoluir para o choque. 
Portanto, é importante estar atento 
para outros sintomas e sinais capazes 
de apontar a natureza ou a evolução 
do acometimento isquêmico do TGI: 
I: Hipotensão, taquicardia e/ou vômitos 
pós-prandiais (isquemia mesentérica); 
II: Claudicação intermitente e redução 
dos pulsos pedioso e tibial posterior 
(aneurisma de bifurcação da aorta ou 
de ilíacas); 
III: Dor nos flancos e região lombar, 
hipertensão arterial de difícil controle 
e hematúria (aneurisma de artéria 
renal); 
IV: Surgimento de dor abdominal 
intensa com irradiação para a região 
sacral, flanco ou genitália (ruptura de 
aneurisma da aorta abdominal ou 
aneurisma dissecante da aorta 
abdominal). 
Na imagem, aneurisma de aorta 
abdominal 
 
DOR DE PAREDE ABDOMINAL 
Caracteristicamente, esse tipo de dor 
é bem localizada e agrava-se ao 
movimento do tronco, à postura 
ereta prolongada e à palpação local. O 
paciente encontra-se em posição 
antálgica, apresentando espasmo da 
musculatura da região acometida. Ao 
exame físico, alguns sinais podem 
revelar a etiologia do quadro álgico: 
lesões de pele (herpes zoster), 
equimoses (pacientes anticoagulados), 
hematomas (ruptura da bainha do 
reto abdominal), desvios da coluna 
vertebral ou discrepância de 
membros (dores neurogênicas por 
comprometimento de raízes neurais). 
Na imagem, hematoma espontâneo 
de músculo reto abdominal à 
esquerda. Associado a paciente 
anticoagulado 
 
OBS: O maior problema desse 
hematoma é infecção bacteriana 
DOR REFERIDA NO ABDOME 
A dor referida no abdome pode ter 
origem no tórax, na coluna vertebral 
ou nos órgãos genitais. 
I: Quando a dor se localizar nos 
quadrantes superiores do abdome, 
sempre considerar a possibilidade de 
doença intratorácica (pneumonia de 
base, isquemia miocárdica, derrame 
pleural). 
II: Uma dor referida de origem na 
coluna vertebral, compressão ou 
irritação de raízes nervosas, agrava-se 
aos movimentos, principalmente 
àqueles mais vigorosos ou realizados 
contrarresistência. Frequentemente, 
nos quadros de hiperestesia, a dor 
obedece a um padrão de localização 
compatível com o dermátomo 
acometido. 
III: A cólica renal apresenta-se como 
uma dor de forte intensidade, 
intermitente, irradiando-se para o 
abdome da região lombar, de onde 
progride para a região genital. Com 
frequência associa-se a náuseas e 
vômitos 
 
CRISES DE DOR ABDOMINAL DE 
CAUSAS METABÓLICAS 
Esse tipo de dor pode simular 
doenças intra-abdominais, mas ser 
oriunda de mecanismos diversos, 
principalmente relacionados ao 
diabetes mellitus (cetoacidose), 
saturnismo e uremia. 
 
 
ANAMNESE DA DOR 
ABDOMINAL 
I: Duração 
II: Localização 
III: Fatores precipitantes e de alívio 
IV: Amplitude (escalas de dor) 
V: Tipo (queimação, fisgada, aperto, 
cólica) 
VI: Evolução. 
Além da caracterização da dor, 
devem ser pesquisados sintomas: 
I: Gastrintestinais (náuseas, vômitos, 
diarreia, constipação intestinal, parada 
de eliminação de gazes e fezes, 
plenitude, distensão abdominal, refluxo, 
hiporexia, anorexia, melena, 
hematêmese, hematoquesia, 
herniações) 
II: Sistêmicos (febre, perda ponderal, 
distúrbios de coagulação, circulação 
colateral, icterícia, desidratação, 
palidez, cianose) 
III: Doenças prévias, medicamentos 
emuso, investigação dos diversos 
aparelhos e sistemas (data da última 
menstruação, sintomas e 
antecedentes gineco-obstétricos, 
sintomas urinários, cardíacos e 
respiratórios). 
DOENÇAS COMUNS EM CADA 
QUADRANTE 
QUADRANTE SUPERIOR 
ESQUERDO 
Abscesso esplênico, infarto esplênico, 
ruptura esplênica, abscesso 
subfrênico, pancreatite aguda, 
neoplasia de pâncreas, úlcera 
duodenal, úlcera gástrica, pielonefrite, 
IAM, pericardite, pneumonia. 
QUADRANTE INFERIOR 
ESQUERDO 
Obstrução intestinal, diverticulite, 
hérnia, adenite mesentérica, doença 
inflamatória intestinal, gravidez 
ectópica, endometriose, doença 
inflamatória pélvica, abscesso tubo-
ovariano, torção de ovário, litíase 
renal, abscesso do psoas. -Difuso: 
pancreatite aguda, obstrução intestinal, 
apendicite aguda (fase inicial), infarto 
mesentérico, peritonite, dissecção 
aórtica, ruptura de aneurisma de aorta 
abdominal, peritonite, gastrenterite, 
crise falcêmica, doença inflamatória, 
vasculites. 
QUADRANTE SUPERIOR 
DIREITO 
Hepatite aguda, abscesso hepático, 
hepatopatia com insuficiência cardíaca 
congestiva, colangite, colecistite aguda, 
colelitíase, pancreatite aguda, úlcera 
duodenal, apendicite retrocecal, 
pielonefrite, litíase, infarto agudo do 
miocárdio, pericardite, pneumonia, 
herpes zoster. 
QUADRANTE INFERIOR DIREITO 
Apendicite aguda, obstrução intestinal, 
diverticulite, hérnia, doença intestinal 
inflamatória, síndrome do cólon 
irritável, adenite mesentérica, 
diverticulite de Meckel, gravidez 
ectópica, endometriose, torção de 
ovário, abscesso tuboovariano, 
abscesso dopsoas, litíase renal 
EXAME FÍSICO DA DOR 
ABDOMINAL 
SEQUÊNCIA SUGERIDA 
Inspeção, ausculta, percussão e 
palpação. 
Na inspeção, deve ser caracterizado o 
formato do abdome (plano, 
arredondado, protuso, deprimido), 
pesquisando-se alterações de pele e 
de parede abdominal (cicatrizes, 
circulação colateral, equimoses, 
hematomas, nódulos, herniações, 
movimentos peristálticos). 
A ausculta dos ruídos hidroaéreos 
deve ser realizada nos 4 quadrantes 
abdominais. Avalia-se a atividade 
intestinal como euperistalse, 
hipoperistalse, hiperperstalse ou 
aperistalse. 
 
A percussão nos casos de abdome 
agudo avalia a distribuição gasosa, 
sugerindo, nas áreas timpânicas, 
distensão de alças por íleo paralítico, 
obstrução ou volvo. Por sua vez, os 
pontos de macicez relacionam com 
massas abdominais, visceromegalias, 
presença de líquido (ascite) e fezes 
(fecaloma) em alças. 
A palpação inicia-se superficialmente, 
à procura de massas superficiais e 
regiões de hipersensibilidade ou de 
maior resistência (tensão). Torna-se 
necessário fazer a diferenciação entre 
defesa voluntária e espasmo muscular 
involuntário por irritação peritoneal. 
A palpação profunda é importante 
para definir massa abdominal, assim 
como sua localização, dimensão, 
formato, consistência, 
hipersensibilidade, pulsação e 
mobilidade. 
Em achados sugestivos de irritação 
peritoneal, para definir a localização 
com maior precisão, o paciente deve 
inicialmente tossir (ou distender o 
abdome) e definir o local exato em 
que a manobra produz dor. Para 
melhor caracterizar e localizar os 
pontos de irritação peritoneal, deve-se 
pesquisar a descompressão dolorosa, 
observando-se a reação do paciente 
(queixas dolorosas, defesa abdominal e 
expressão facial de dor). A dor 
provocada pela descompressão 
dolorosa ocorre em decorrência do 
deslocamento rápido do peritônio 
inflamado. 
Na imagem, ascite. Macicez sobre a 
área de acúmulo de líquido e 
timpanismo sobre as alças intestinais 
distendidas 
 
ABDOME AGUDO 
Síndrome caracterizada por dor 
abdominal de início súbito, que 
necessita de intervenção médica, seja 
clínica ou cirúrgica. 
Na avaliação do abdome agudo a 
anamnese e o exame físico 
completos são complementados por: 
I: Exames laboratoriais: hemograma 
completo, urina rotina, dosagem sérica 
de amilase e teste de gravidez (para 
mulheres em idade fértil). 
II: Avaliação radiológica: 
a. Radiografia abdominal (em 
ortostatismo e decúbitos dorsal 
e lateral esquerdo); 
b. Radiografia torácica em 
incidência ântero-posterior e 
em ortostatismo. 
III: Podem ser necessárias ainda 
avaliações com ultrassonografia, 
tomografia computadorizada 
(preferencialmente contrastada), 
ressonância magnética e arteriografia. 
IV: Videolaparoscopia e laparotomia 
exploradora são meios diagnósticos 
definitivos, ou mesmo terapêuticos, 
sendo empregados onde os demais 
exames não definiram o diagnóstico 
OBS: Em mulheres, o exame de 
BHCG nunca pode faltar em casos de 
abdome agudo 
OBS: O abdome agudo é estudado 
em síndromes: inflamatório, 
perfurativo, obstrutivo, vascular e 
hemorrágico. 
ABDOME AGUDO 
INFLAMATÓRIO 
Nessa condição, a dor é de início 
insidioso, difusa, acompanhada de 
náuseas, vômitos, distensão abdominal, 
parada de eliminação de gases e 
fezes progressiva, à medida em que 
o peristaltismo fica comprometido por 
inflamação local e desequilíbrio 
hidroeletrolítico. O quadro agrava-se 
com manifestações sistêmicas de 
febre, desidratação e taquicardia, 
enquanto instalam-se sinais de irritação 
peritoneal no segmento abdominal 
correspondente à víscera acometida. 
EX: Quadros agudos de apendicite, 
diverticulite, pancreatite, colecistite e 
anexite. Considera-se a apendicite 
aguda como a causa mais frequente 
de abdome agudo cirúrgico. 
 
 
ABDOME AGUDO PERFURATIVO 
Trata-se de um quadro caracterizado 
por dor súbita e intensa, associada a 
potente defesa abdominal (abdome 
em tábua) e irritação peritoneal por 
extravasamento do conteúdo 
gastrointestinal na cavidade peritoneal. 
Quanto mais alta a secreção 
gastrointestinal, mais lesiva ao 
peritônio. A irritação peritoneal oriunda 
de material fecal apresenta um quadro 
mais arrastado em comparação 
àquelas que ocorrem acima do ângulo 
de Treitz. 
EX: Perfurações relacionadas a úlcera 
péptica gastroduodenal, diverticulite, 
corpos estranhos, fístulas e neoplasias. 
ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO 
Nas fases iniciais da obstrução das 
vísceras ocas, há aumento do 
peristaltismo na tentativa de vencer a 
área estenosada. Em se tratando do 
TGI, a dor é em cólica, geralmente 
periumbilical. As ondas peristálticas 
acentuadas produzem ondas terciárias 
responsáveis por náuseas e vômitos, 
que evoluem de alimentares, bilosos a 
fecaloides, conforme o nível da 
obstrução intestinal. Por sua vez, à 
medida em que ocorre o 
comprometimento efetivo do 
peristaltismo, instalam-se distensão 
abdominal e parada da eliminação de 
flatos e fezes. 
EX: Bridas, hérnias, neoplasias e 
invaginação intestinal 
 
 
ABDOME AGUDO VASCULAR 
A dor é difusa e mal definida, havendo 
desproporção entre a dor e os 
achados de exame físico. As causas 
mais comuns são embolia e trombose 
mesentérica, com isquemia intestinal 
 
ABDOME AGUDO 
HEMORRÁGICO 
Dor intensa e dor à descompressão 
súbita, associada a sinais de 
hipovolemia (hipotensão, taquicardia, 
palidez e sudorese), evoluindo para 
choque. 
 
EX: Gravidez ectópica rota, ruptura de 
cistos, hemangiomas, aneurismas e de 
vísceras parenquimatosas (fígado e 
baço), o que pode ocorrer de forma 
espontânea ou traumática

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