Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 OBJETIVOS 1. Relacionar a divisão topográfica do abdômen com a semiologia do abdômen agudo. 2. Analisar a fisiopatologia da dor abdominal correlacionando aos possíveis diagnósticos. 3. Comparar os sinais clínicos e radiológicos das síndromes de abdômen agudo (5 tipos) e suas principais causas. 4. Descrever a propedêutica inicial indicada e a propedêutica geral. REFERÊNCIAS ZATERKA, Schlioma; EISIG, Jaime N. Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós- graduação. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, FBG, 2016 MARTINS, Mílton de Arruda; et.al. Clínica médica, volume 4: doenças do aparelho digestivo, nutrição e doenças nutricionais. Barueri, SP: Manole, 2009. BRUNETTI, A.; SCARPELINI, S. ABDÔMEN AGUDO. Medicina (Ribeirão Preto). v. 40, n. 3, p. 358-367, 2007. SEMIOLOGIA ABDOMINAL A dor abdominal é uma das queixas mais comuns, podendo ter diversas etiologias. No exame físico é importante conhecer a topografia do abdômen, visto que existe correlações da dor com doenças específicas. CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA DA DOR ABDOMINAL QUADRANTE SUPERIOR DIREITO • Hepatite aguda • Abcesso hepático • Colecistite aguda • Colelitíase • Pancreatite aguda • Úlcera duodenal • Pielonefrite e litíase. QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO • Abcesso e ruptura esplênica • Pancreatite aguda • Neoplasia de pâncreas • Úlcera duodenal e gástrica • Pielonefrite QUADRANTE INFERIOR DIREITO • Apendicite aguda • Doenças intestinais: colite, gastroenterite, diverticulite, doença inflamatória • Hérnias • Doenças renais: pielonefrite, abscesso perinefrético e litíase ureteral • Doenças ginecológicas: tumor ovariano, torção ovariana, gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica, abscessos • tubo-ovarianos QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO • Doenças intestinais: colite, gastroenterite, diverticulite, doença inflamatória • Hérnias • Doenças renais: pielonefrite, abscesso perinefrético e litíase ureteral • Doenças ginecológicas: tumor ovariano, torção ovariana, gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica, abscessos • tubo-ovarianos DIFUSO • Pancreatite aguda • Obstrução intestinal • Apendicite aguda [fase inicial]. SINAIS SEMIOLÓGICOS DO ABDOME Durante a realização do exame físico, é fundamental e indispensável o exame minucioso de toda a parede anterior do abdome, palpando- se delicadamente todos os quadrantes, para avaliar o local ou locais mais dolorosos, se a dor é difusa, se estão presentes tumorações, bem como se há irradiação da dor referida e distensão abdominal. Existem alguns sinais que auxiliam na confirmação do diagnóstico: Abdome Agudo Problema 04 2 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 SINAIS DE IRRITAÇÃO PERITONEAL SINAL COMO PESQUISAR SIGNIFICADO Blumberg dor à descompressão na fossa ilíaca direita (ponto de McBurney) Apendicite Peritonite Rovsing dor no QID ao realizar palpação no QIE Apendicite Peritonite Dunphy dor à percussão no ponto de McBurney ou ao tossir apendicite Murphy Interrupção da respiração por hipersensibilidade à palpação de hipocôndrio direito Colescitite Giordano Dor a percussão costovertebral, levando o paciente a ir para frente Pielonefrite Cálculo renal Psoas dor à extensão da coxa direita sobre o quadril em decúbito lateral esquerdo apendicite Obturador dor à rotação interna do quadril direito flexionado em decúbito apendicite SINAIS DE HEMORRAGIA PERITONEAL SINAL COMO PESQUISAR SIGNIFICADO Cullen equimose em região periumbilical pancreatite Gray- Turner equimose na região dos flancos pancreatite Fox equimose em região inguinal e base do pênis pancreatite Laffont: dor referida no ombro direito [sangue da cavidade peritoneal irrita o nervo frênico]. Kehr dor referida na região infraescapular ruptura do baço. SINAL DE PERFURAÇÃO/PNEUMOPERITÔNEO SINAL COMO PESQUISAR Jobert perda da macicez hepática na percussão ABDÔMEM AGUDO DEFINIÇÃO O abdome agudo é uma condição clínica em que o paciente apresenta afecção abdominal caracterizada por dor aguda e súbita, que o leva a procurar imediatamente um serviço de emergência, requerendo tratamento clínico ou cirúrgico de urgência ou emergência. A precisão e a rapidez do diagnóstico são imprescindíveis, pois o quadro traduz, em geral, situação grave e muitas vezes com risco de morte, exigindo tratamento imediato. ETIOLOGIA Quanto à sua etiopatogenia, o abdome agudo é classificado em cinco grupos: INFLAMATÓRIO Apendicite aguda, colecistite, diverticulite, pancreatite e outras. PERFURATIVO Úlcera perfurada, diverticulite perfurada e outras perfurações intestinais. VASCULAR obstrução arterial e venosa de artérias mesentérica superior ou inferior. HEMORRÁGICO gravidez ectópica rota, traumas hepático, esplênico e intestinal. OBSTRUTIVO obstrução intestinal secundária a tumores benignos e malignos, volvos, bridas e aderências intestinais 3 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 FISIOPATOLOGIA NEURORRECEPTORES A percepção da dor (nocicepção) geralmente se inicia nos neurorreceptores de dor (nociceptores), que podem responder a vários tipos de estímulos, como distensão, espasmo ou isquemia. Existem dois tipos de fibras nervosas envolvidas na transmissão de estímulos dolorosos: • fibras A-delta (somatossensoriais): fibras mielinizadas. Conduzem rapidamente o estímulo, produzindo uma dor súbita e bem localizada; são encontradas predominantemente na pele e nos músculos. • fibras C (viscerais): fibras não-mielinizadas. Conduzem o estímulo de forma mais lenta e produzem uma dor vaga ou em queimação, mal localizada; estão presentes no músculo, mesentério, vísceras abdominais e peritônio. A maioria dos nociceptores presentes nas vísceras abdominais são fibras do tipo C, menos sensíveis e em menor quantidade que os presentes em órgãos sensitivos como a pele. Assim, é comum que pacientes com dor de origem abdominal se apresentem com uma dor vaga e mal localizada. Os receptores sensoriais viscerais podem ser divididos em: • mecanorreceptores: localizados na parede das vísceras ocas (estômago, intestino), na superfície de órgãos sólidos (fígado, baço) e no mesentério. São sensíveis à distensão (p. ex., como na obstrução intestinal) e torção (p. ex., volvo de sigmóide), mas não são responsivos ao corte ou esmagamento (compressão); • quimiorreceptores: respondem a estímulos químicos e neurotransmissores. Inflamação, isquemia, lesão mecânica e necrose tecidual levam à liberação de substâncias (bradicinina, substância P, histamina, prostaglandinas, interleucinas, serotonina etc.) que ativam os nociceptores e têm efeitos diretos e indiretos na circulação e nos tecidos adjacentes à área envolvida. QUADRO CLÍNICO TIPOS DE DOR ABDOMINAL Dor parietal ou somática: dor apresenta caráter constante e bem localizada [sobre a área inflamada] devido aos nervos somáticos. Além disso, o paciente permanece quieto, visto que alguns movimentos agravam a dor, como tosse e espirro. Dor visceral: dor intermitente ou em cólica [devido à distensão ou contração da víscera oca, o paciente pode movimentar de forma constante] menos localizada, podendo projetar para o mesogástrio. Distúrbios vasculares: dor inicia leve e difusa antes da irritação peritoneal. Ocorre uma discrepância entre o exame clínico e a queixa clínica, por exemplo, na palpação não tem dor nem rigidez, mas o paciente se queixa de dor difusa e contínua. Dor referida ou irradiada: dor de origem intra- abdominal que se manifesta em área anatomicamente distante,por compartilhar os mesmos circuitos neurais centrais, dificultando o diagnóstico. Ex.: paciente com cálculo biliar ou úlcera péptica que refere dor na região escapular. SINAIS E SINTOMAS DOS TIPOS DE ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO Dor insidiosa com piora progressiva [inicialmente mal localizada evoluindo para dor localizada quando atinge o peritônio]. O paciente apresenta geralmente sinais sistêmicos (febre e taquicardia). As doenças mais comuns são: apendicite aguda; colecistite aguda; diverticulite aguda; pancreatite; anexite aguda. Obs: Na apendicite, a dor inicialmente é periumbilical associada a náuseas, vômitos e inapetência com posterior localização em fossa ilíaca direita. O diagnóstico é feito, principalmente, com ultrassom de abdômen total. Mas pode ser realizado também, raio-X e TC contrastada [ultrassom não visualizou ou forte suspeita de diverticulite e/ou pancreatite]. 4 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 O tratamento em alguns casos pode ser cirúrgico, enquanto outros podem ser com o uso de antibióticos. PERFURATIVO A dor é súbita, intensa e localizada, que se torna difusa com o passar das horas. Apresenta defesa abdominal e irritação peritoneal. Pode haver derrame do conteúdo de víscera oca no peritônio, geralmente secundário à úlcera gastroduodenal, diverticulite, corpos estranhos e neoplasias. Pode haver sinais de infecção e sudorese, hipotensão arterial e taquicardia. O diagnóstico é feito com raio-X [visualiza pneumoperitônio devido à perfuração das vísceras ocas], caso não esclareça realiza TC contrastada. Nesses casos, o ultrassom de abdômen não ajuda. Na maioria dos casos, o tratamento é cirúrgico, mas recomenda associar com antibióticos devido ao risco de sepse. Pancreatite aguda: sinal do "Cut off" colônico, ou seja o corte abrupto da coluna de gás colônico na flexura esplênica (seta). A inflamação da pancreatite estende-se para o ligamento frenocólico, o que resulta no estreitamento da flexura esplênica Pneumoperitônio: o raio X de tórax evidencia a presença de ar livre subdiafragmático. Úlcera ou divertículo perfurados podem levar a esta condição. Apendicite com apendicolito: a TC mostra um apêndice aumentado (setas sólidas) com um apendicolito (seta tracejada) na base. Raio-x de um quadro de apendicite Diverticulite aguda perfurada Ulcera péptica perfurada 5 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 VASCULAR A dor difusa e mal definida, há desproporção entre a dor e o exame físico e as causas mais comuns são embolia e trombose mesentérica, com isquemia intestinal. Há tendência à hipotensão arterial e ao choque com ruídos hidroaéreos ausentes à ausculta. O padrão ouro no diagnóstico é a angiotomografia, mas o raio-X pode ser feito também [diagnóstico diferencial]. Nesses casos, o ultrassom de abdômen não ajuda. A angiotomografia deve ser feita se o paciente estiver estável hemodinamicamente. Caso não esteja, deve realizar laparotomia exploratória OBSTRUTIVO A dor em cólica, geralmente periumbilical. Pode estar associado com náuseas e vômitos [precoce: quando é uma obstrução alta do TGI; fecaloide: odor fétido quando é obstrução baixa do TGI, além de parada de gases e fezes mais rápida e ausência de ar na ampola retal]. Em geral, a dor é intensa, causado por distensão e espasmo da musculatura intestinal. Geralmente observa-se peristaltismo abdominal visível e ruídos hidroaéreos aumentados à ausculta na tentativa de vencer ou ponto de bloqueio. Acontece na oclusão mecânica por bridas/aderências, hérnias, neoplasias e invaginação. Obs: Nos idosos com quadro de abdome agudo obstrutivo e quadro de perda ponderal importante, deve-se também pensar em neoplasia como causa. O diagnóstico é feito com raio-X em decúbito dorsal e ortostatismo [sinal de moedas empilhadas (obstrução de intestino delgado), nível hidroaéreo nas alças e volvo de sigmoide]. A TC contrastada é realizada quando o quadro não se resolve depois de 48 hrs do tratamento clínico. Além disso, o ultrassom de abdômen não ajuda. O tratamento, incialmente é clínico, com hidratação, correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, passagem de sonda nasogástrica [tentativa de diminuir a pressão abdominal], clister [tentativa de evacuação]. Caso o paciente não responda à essa terapia, apresente sinais de choque séptico ou presença de sinais de grave irritação peritoneal, o tratamento é cirúrgico. Obstrução do intestino delgado: Raio X do abdome ortostático evidenciando alças intestinais dilatadas e ar coletado produzindo o padrão característico denominado "nivel hidroaéreo Isquemia difusa do intestino delgado em paciente de 60 anos com isquemia mesentérica oclusiva. A TC axial obtida no nível da artéria mesentérica inferior mostra o grande calibre deste vaso. Radiografia abdominal anteroposterior (AP) em decúbito dorsal de paciente com volvo do sigmoide 6 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 HEMORRÁGICO A dor intensa, com rigidez e dor à descompressão; há sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese). As causas mais comuns são gravidez ectópica rota, ruptura de cistos, ruptura de aneurismas, rotura de baço. O diagnóstico é feito com o ultrassom de abdômen [visualiza sangue na cavidade: conteúdo hiperdenso]. O raio-X pode ser utilizado para descartar outras causas e a TC é realizada em casos isolados. Na maioria dos casos, o tratamento é cirúrgico. EXAMES COMPLEMENTARES EXAMES LABORATORIAIS Hemograma completo: fundamental para avaliação de processo infeccioso, em geral apresenta leucocitose; AST, ALT, GGT, bilirrubinas: avaliação de causas de abdome agudo de origem biliar, como colecistite e colangite; Amilase e lipase: quando elevadas podem sugerir pancreatite, isquêmica intestinal ou úlcera duodenal; Eletrólitos, ureia e creatinina: avaliação das complicações de vômitos ou perdas de fluido para o terceiro espaço; Beta HCG: fundamental sua solicitação para todas as pacientes em idade fértil, para diagnostico diferencial de gravidez ectópica; Outros: VHS, TP, RNI, glicemia e sumário de urina
Compartilhar