Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Processual Civil I: Prof. Octávio Louro O material não dispensa a leitura da bibliografia sugerida 1/5 Aula 6 – Ementa: Fase ordinatória: Providências preliminares e saneamento. Julgamento conforme o estado do processo. 1. Introdução: Findo o prazo para contestação inicia-se a chamada fase ordinatória, que abrange as providências preliminares, o saneamento e o julgamento conforme o estado do processo. Resumidamente, três são as condutas a serem observadas pelo juiz, senão vejamos: 1) Se há ou não a necessidade do autor se manifestar em réplica; 2) sanear eventuais irregularidades ou extinguir o feito sem análise de mérito; 3) decidir sobre a necessidade de produção de provas, iniciando a fase de instrução do processo. 2. Das providências preliminares: Da não incidência dos efeitos da revelia. Do fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito autoral. Das alegações do réu. São providências preliminares ao julgamento, permitindo o desenvolvimento do contraditório entre as partes. Todavia, como é possível depreender pelos arts. 347 e 353, ambos do CPC/15, as providências preliminares poderão ocorrer ou não, dependendo do caso concreto. A ausência de contestação, por exemplo, nos casos em que a presunção de veracidade das alegações autorais é relativa, verificando a inocorrência dos efeitos materiais da revelia previsto no art. 344, CPC/15 gera as providências preliminares dos arts. 348/349, CPC/15. Desse modo, sendo revel o réu, caso não ocorram os efeitos da revelia, o juiz determinará que o autor especifique as provas que deseja produzir, caso ainda não o tenha feito, art. 348, CPC/15. Vale lembrar que, ainda que a revelia produza seus efeitos, o réu revel poderá produzir provas, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis à sua produção, art. 349, CPC/15 Por outro lado, dependendo da contestação apresentada, como é o caso da defesa indireta ou daquela que traga em seu bojo vícios ou irregularidades sanáveis da peça inicial (defesa preliminar/processual), as providências preliminares serão as dos arts. 350/351, CPC/15, devendo o autor apresentar a peça de réplica (ônus processual – oportunidade de agir!), que tem o mesmo prazo de apresentação da contestação, isto é, 15 dias, permitindo ampla produção de provas documentais em tal peça, como asseguram os arts. 350/351, CPC/15. Na fase ordinatória é comum que o próprio juiz determine que as partes especifiquem as provas que pretendem produzir, podendo ocorrer: 1) quando o réu for revel, mas a revelia não produzir efeitos, 2) após contestação; 3) após réplica. Há vícios processuais sanáveis e meras irregularidades, que são passíveis de regularização. Assim, verificando a existência desses, o juiz determinará a sua correção, a qual deverá ser feita no prazo que o juiz fixar. Tal prazo não poderá ultrapassar 30 (trinta) dias, possibilitando-se, assim, o regular prosseguimento do feito, art. 352, CPC/15. Direito Processual Civil I: Prof. Octávio Louro O material não dispensa a leitura da bibliografia sugerida 2/5 Se o vício for insanável, impedindo o prosseguimento do processo, o juiz deverá extinguir a demanda sem análise de mérito. Após o cumprimento dessas formalidades, o juiz verificará se há ou não a necessidade de produção de provas. Não havendo, observa-se o julgamento antecipado do mérito ou julgamento antecipado parcial do mérito, dependendo da hipótese. Havendo necessidade de produção de provas, ocorrerá o saneamento e organização do processo para a subsequente fase instrutória1. 3. Do julgamento conforme o estado do processo: Julgamento que acontece antes da fase probatória do processo de conhecimento, seguindo a percepção apresentada pelo legislador entre os arts. 354/357, CPC/15 prevendo 3 (três) hipóteses de tal julgamento, sendo: 1) Extinção, art. 354 (com ou sem análise de mérito, art. 485 e 487, CPC/15) 2) Julgamento antecipado total do mérito; 355 (com análise de mérito, art. 487, CPC/15) 3) Julgamento antecipado parcial do mérito, art. 356 (com análise de mérito, art. 487, CPC/15) 4) Saneamento e organização do processo, 357 (preparação para fase instrutória) 4. Extinção do processo: Na referida hipótese, prevista no art. 354, o juiz proferirá sentença, ocorrendo qualquer das hipóteses dos arts. 485 (todos os incisos) e 487, incisos II e III do CPC/15. Em ambas as hipóteses o recurso que ataca a sentença é o de apelação. O parágrafo único do art. 354, CPC/15, todavia, informa que a decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será atacada pelo recurso de agravo de instrumento. Curioso anotar que boa parcela da doutrina simplesmente ignora a previsão legal que, diga-se, contraria o conceito de sentença do art. 203, §1°, CPC/15. Explica-se, admitindo que o parágrafo único do art. 354, CPC/15 autoriza a interposição de agravo de instrumento contra sentenças que coloquem fim ao processo COM ou SEM análise de mérito, arts. 485 e 487, II e III, CPC/15, valem as seguintes considerações. Primeiro, qualquer julgamento terminativo/processual do art. 485, CPC/15 que leve à extinção de apenas parcela do processo é obrigatoriamente uma decisão interlocutória, logo, atacável por agravo de instrumento. Segundo, os julgamentos de mérito dos incisos II e III do art. 487, CPC/15 – prescrição, decadência ou homologatória de autocomposição são atacáveis por agravo de instrumento pela previsão legal do art. 1015, II, CPC/15. 1 RIOS GONÇALVES, Marcus Vinicius. Novo curso de direito processual civil. Vol.03. Saraiva. 9ª ed.. 2016, pg 446 Direito Processual Civil I: Prof. Octávio Louro O material não dispensa a leitura da bibliografia sugerida 3/5 Dessa forma, o legislador foi muito infeliz na previsão do parágrafo único do art. 354, CPC/15, distorcendo conceitos inadvertidamente. Uma nomenclatura muito mais adequada seria a substituição do termo acima para um que autorizasse a interposição do agravo de instrumento contra decisões interlocutórias terminativas que fossem capazes de diminuir, objetiva ou subjetivamente, a demanda2. 5. Julgamento antecipado do mérito: Hipótese em que o juiz julgará antecipadamente todos os pedidos do autor, proferindo sentença definitiva nos termos do art. 487, I do CPC/15, quando não houver necessidade de instrução probatória ou for revel o réu, incidindo seus efeitos materiais e não houver requerimento de provas, incisos I e II do art. 355, CPC/15. Em 2017, o Conselho da Justiça Federal – CJF, na I jornada de direito processual civil, aprovou o Enunciado 27: CJF ENUNCIADO 27 – Não é necessário o anúncio prévio do julgamento do pedido nas situações do art. 355 do CPC3. O enunciado acima possibilitou que os juízes adotassem o julgamento antecipado do mérito sem que as partes fosse intimadas sobre tal, sem representar qualquer prejuízo do contraditório. Ainda com base em alguns enunciados, em 2015, o Fórum Permanente de Processualistas Civis aprovou entendimento, enunciado 297, no sentido de que o julgamento antecipado de mérito não pode ser adotado quando a sentença for de improcedência por insuficiência de provas, isto é, pela não comprovação da questão de fato judicializada, sob pena de cerceamento de defesa: FPPC ENUNCIADO 297. (art. 355) O juiz que promove julgamento antecipado do mérito por desnecessidade de outras provas não pode proferir sentença de improcedência por insuficiência de provas. (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento)4 2 NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Manual de direito processual civil, Volume único, 12ªed., Juspodium, 2020, pg 683/684. 3https://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2017/setembro/cej-divulga-enunciados-da-i-jornada-dedireito- processual-civil/ 4 https://www.fppc.com.br/local Direito Processual CivilI: Prof. Octávio Louro O material não dispensa a leitura da bibliografia sugerida 4/5 O enunciado do FPPC, inclusive, encontra guarida em nossos Tribunais, valendo o Resp. 694.791/RS, proferido pela 4ª Turma do STJ, em 12/12/2005, senão vejamos a ementa do julgado: PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE POR AUSÊNCIA DE PROVA. CERCEAMENTO DE DEFESA. OCORRÊNCIA. 1. Esta Corte tem entendimento no sentido de que há cerceamento de defesa quando a parte pugna pela produção de prova necessária ao deslinde da controvérsia, mas o julgador antecipa o julgamento da lide e julga improcedente um dos pedidos da inicial, ao fundamento de ausência de comprovação dos fatos alegados. Precedentes. 2. Recurso especial conhecido em parte e, nesta extensão, provido. (STJ. REsp 694.791/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 12/12/2005, DJ 01/02/2006, p. 565) Por outro lado, se a sentença de improcedência estiver fundamentada na ausência de demonstração da questão de direito, ou seja, do direito material, o julgamento antecipado do mérito do art. 355, CPC/15 é perfeitamente possível. 6. Julgamento antecipado parcial do mérito: Em relação ao tema estudado, a atual lei processual civil passou a prever a possibilidade do julgamento antecipado parcial de mérito à luz de seu art. 356, CPC/15, colocando fim a um ou mais pedidos do autor, sem, contudo, encerrar o processo ou sua fase de conhecimento, com a consequente instrução probatória. Na prática, agora os pedidos não precisam mais serem enfrentados de uma só vez, podendo o julgamento parcial do mérito ocorrer quando os pedidos se mostrarem incontroversos ou em condições de julgamento imediato, no estado que se encontram. A decisão que julga o mérito parcialmente é interlocutória, ou na melhor nomenclatura da doutrina5: “decisões interlocutórias de mérito”, atacada por agravo de instrumento, art. 356, §5° cumulado com art. 1015, II, ambos do CPC/15. Como se depreende pelo art. 356, §4°, CPC/15, a liquidação ou cumprimento de sentença da parcela julgada deverá ser processada em autos suplementares aos principais. 7. Saneamento e organização do processo: 5 RIOS GONÇALVES, Marcus Vinicius. Novo curso de direito processual civil. Vol.03. Saraiva. 9ª ed.. 2016, pg 450. Direito Processual Civil I: Prof. Octávio Louro O material não dispensa a leitura da bibliografia sugerida 5/5 Por fim, não sendo hipótese de extinção ou julgamento antecipado (total ou parcial) do mérito, passa-se ao chamado saneamento e organização do processo, art. 357, CPC/15, momento em que o juiz depurará as irregularidades ou vícios sanáveis e organizará o feito para sua fase instrutória, tendo o juiz um poder dever de sanear sempre que necessário o processo, art. 139, IX, CPC/15, sendo uma prerrogativa que extrapola a própria fase ordinatória. Vale lembrar que após proferida a decisão saneadora não mais será permitido ao autor alterar (aditar) sua causa de pedir, nem mesmo com expressa autorização do réu, como estabelece o art. 329, II, CPC/15 Isso porque a decisão de saneamento e organização, nos termos dos incisos I a V do art. 357, CPC/15 tem o condão de: 1) resolver as questões processuais pendentes, caso existam; 2) fixar as questões de fato controvertidas, intimando as partes para que especifiquem os meios de provas pretendidos; 3) definir a distribuição do ônus da prova; 4) delimitar as questões de direito relevantes; 5) designar, caso necessário, audiência de instrução e julgamento para colheita de prova oral (testemunhal e/ou depoimento pessoal) ou pericial, quando houver necessidade de esclarecimentos acerca do laudo produzido. No que toca a designação da audiência de instrução – AIJ, o §3° do art. 357 do CPC/15 aduz que o ato somente ocorreria nos casos de matéria de fato ou de direito “complexa”. Não obstante ao texto legal, mas o Fórum Permanente de Processualistas Civis aprovou o enunciado 298, entendendo pela realização das audiências de instruções, mesmo não sendo o caso de demanda complexa, em atendimento ao amplo contraditório e direito de ação e defesa. FPPC ENUNCIADO 298. (art. 357, § 3º) A audiência de saneamento e organização do processo em cooperação com as partes poderá ocorrer independentemente de a causa ser complexa. (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento)6 A decisão saneadora e de organização do processo do art. 357 do CPC/15 é de natureza interlocutória, cabendo o recurso de agravo de instrumento, com base no art. 1015, CPC/15. Caso não seja interposto o respectivo recurso, certamente a decisão sofrerá preclusão, exceto naquelas questões que podem ser reconhecidas de ofício, isto é, de ordem pública. 6 https://www.fppc.com.br/local
Compartilhar