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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PROCESSUAL CIVIL Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo Livro Eletrônico 2 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Apresentação . ............................................................................................................................3 Providências Preliminares e Julgamento conforme o Estado do Processo; Audiência de Instrução e Julgamento . ......................................................................................................4 Das Providências Preliminares e do Saneamento . ................................................................4 Do Julgamento conforme o Estado do Processo . .................................................................6 Da Audiência de Instrução e Julgamento . ............................................................................36 Resumo .....................................................................................................................................39 Questões de Concurso . ...........................................................................................................45 Gabarito . ................................................................................................................................. 68 Gabarito Comentado . ............................................................................................................. 69 ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL ApresentAção Olá! Tudo bem com você? Vamos nos aventurar no maravilhoso mundo do Processo Civil e eu terei a honra de auxi- liar você nesta caminhada. Eu sempre adotei, na minha trajetória de estudos, um material-base com o qual eu pudes- se contar e ler sempre antes de fazer as provas. Acredito que seja fundamental você ter suas anotações/cadernos e sempre poder revisá-los nas semanas que antecedem a prova. É fundamental você ter um caderno apenas. Uma fonte para cada matéria. Não faça a besteira de ter 3 ou 4 anotações es- parsas da mesma matéria. Condensar tudo em um mesmo material é muito importante para fins de organização. Por isso, utilize este material em PDF e monte seus cadernos a partir deles, ou, caso você já tenha seus cadernos, alimen- te-os com as informações que você verá aqui. O importante é você não ter uma pluralidade de materiais, porque, se fizer isso, você vai acabar se perdendo. Minha trajetória de estudos começou em 2010 e, desde então, eu acompanho todas as notícias diárias que são publicadas no STF e no STJ, bem como todos os informativos sema- nais dos dois Tribunais, sem perder nenhum. O diferencial deste material, portanto, é justamente este: abordarei com você o conteúdo básico de cada disciplina, mas irei aprofundar com a jurisprudência mais atual e mais diver- sificada sobre o assunto, além de trazer questões sobre as matérias. As provas, atualmente, cobram muita letra de lei, mas também muito entendimento jurispru- dencial, por isso eu acredito que, com esta leitura, você ficará preparado(a) para alcançar seu objetivo no mundo dos concursos públicos, pois terá todo o conteúdo mais atualizado possível. Com esse método, fui aprovado e exerci os cargos de Técnico Administrativo no MPU, Analista Judiciário no TJDFT, Juiz de Direito no TJMT e Juiz Federal no TRF1. Se eu consegui, você também consegue! Boa leitura! ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO; AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO Nesta aula, eu e você iremos trabalhar os artigos 347 ao 368 do nosso Código de Processo Civil. Fique tranquilo(a), porque sempre que o artigo for muito importante, eu irei transcrevê-lo para você. Sempre que tiver algum julgado importante, eu também vou transcrever a ementa para que seu estudo fique dinâmico. DAs proviDênciAs preliminAres e Do sAneAmento O procedimento comum do CPC funciona basicamente na seguinte ordem, como regra: há a propositura de uma ação via petição inicial; ultrapassadas as possibilidades de indeferi- mento da petição inicial ou da improcedência liminar do pedido, vê-se também a necessidade de emendas e, uma vez preenchidos os requisitos essenciais, parte-se para a audiência de conciliação ou de mediação. Na ausência de autocomposição, abre-se o prazo para a respos- ta do réu. É possível ainda pular a fase de audiência de conciliação ou de mediação, passan- do-se diretamente à fase de resposta do réu. O réu, entre tantas possibilidades processuais, especialmente pode ofertar contestação, reconvir ou quedar-se inerte. É justamente nesse cenário em que se situa a fase de providências preliminares e de sa- neamento do processo: analisa-se qual foi a conduta do réu na sua fase de resposta. Portanto, findo o prazo para contestação, o juiz tomará as providências preliminares ne- cessárias. Se o réu não ofertar contestação, é possível que em face dele haja ou não os efeitos da revelia. Nesse sentido, é preciso analisar o art. 345 do CPC. Se o litígio versar sobre direitos indisponíveis, por exemplo, mesmo na ausência de contestação, não haverá a presunção re- lativa de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor. Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor. Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL I – havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II – o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III – a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; IV – as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. Se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando a inocorrência do efeito da revelia pre- visto no art. 344, ordenará que o autor especifique as provas que pretenda produzir, se ainda não as tiver indicado. A contrário senso, se o réu não ofertar a contestação e o juiz verificar a ocorrência dos efeitos da revelia, não haverá a necessidade de especificação de provas, mesmo porque o art. 374 do CPC afirma que não dependem de prova fatos em cujo favor milita a presunção legal de veracidade. Em suma, se não houver contestação, de duas, uma: ou não há a presunção relativa de veracidade, ou há. Se não houver, parte-se para a fase probatória. Se houver, a fase probatória será dispensada. Ainda que verificada a ocorrência do efeito da revelia da presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, é possível que o réu produza provas para que a presunção, que é relativa, seja afastada na apreciação judicial. Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção. Ultrapassada a fase probatória, portanto, não é possível mais reiniciar essa etapa para que o réu revel produza a prova. Na hipótese de o réu ofertar contestação, o juiz deve analisar a peça para verificar se há ou não a alegação de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Se houver matéria dessa natureza, o juiz abrirá vista ao autor paraoferta de réplica no prazo de 15 dias, permitindo-lhe a produção de prova. Veja-se que, pela redação do CPC, a abertura de réplica não é automática, apesar de, na prática, muitas vezes ser. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Há também abertura de réplica no prazo de 15 dias sempre que o réu, ao ofertar a contes- tação, suscitar matéria preliminar ou prejudicial elencada no art. 337 do CPC (inexistência ou nulidade da citação; incompetência absoluta e relativa; incorreção do valor da causa; inépcia da petição inicial; perempção; litispendência; coisa julgada; conexão; incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; convenção de arbitragem; ausência de le- gitimidade ou de interesse processual; falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar; indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça). O CPC/15, entre diversos princípios, trouxe a primazia do julgamento de mérito, de forma que, sempre que possível, superam-se eventuais vícios de índole formal para que a prestação da tutela jurisdicional de mérito possa ser entregue às partes. Entre as providências preliminares e do saneamento do processo, consta a necessidade de o juiz verificar a existência de irregularidades ou de vícios sanáveis, ocasião em que have- rá a determinação de sua correção em prazo nunca superior a 30 dias, para não prejudicar a celeridade e efetividade processuais. Resolvidas as irregularidades ou vícios, bem como ultrapassada a etapa da réplica e da análise dos efeitos da revelia, poderá o juiz proferir julgamento conforme o estado do processo. Do JulgAmento conforme o estADo Do processo Na fase denominada de julgamento conforme o estado do processo, cabe ao juiz verificar a possibilidade de adoção das seguintes medidas: a) extinguir o processo sem a resolução do mérito, nos casos do art. 485 do CPC; b) extinguir o processo com resolução de mérito quando decidir sobre decadência ou prescrição ou quando homologar o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; a transação; ou a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção; ou c) julgar antecipadamente o mérito. Caso não seja possível a adoção de nenhuma dessas medidas, deverá o juiz prolatar uma decisão de saneamento e de organização do processo. Atente-se para o fato de que tanto a extinção do processo quanto o julgamento anteci- pado do mérito podem ser parciais, ou seja, referentes a apenas parcela do processo. Como nesse caso haverá parte do processo a ser solucionada ainda, mantém-se a necessidade de uma decisão saneadora e organizadora do processo no remanescente. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL O julgamento parcial com resolução do mérito é novidade no CPC/15, mas o julgamento par- cial sem resolução do mérito já era admitido no CPC/73. Julgado: STJ. REsp 1117144/RS. RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO ORDI- NÁRIA. SENTENÇA QUE EXTINGUE O FEITO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, EM RELAÇÃO A UM DOS PEDIDOS. ART. 267 DO CPC. PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO QUANTO AOS PLEITOS REMANESCENTES. INTERPRETAÇÃO SISTÊMICA. NATUREZA INTERLOCUTÓ- RIA DO DECISUM. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO. ART. 522, DO CPC. APELAÇÃO INCABÍ- VEL. 1. O caso vertente merece exame mais acurado, pois, o pronunciamento do juízo singular se enquadra em um dos incisos dos arts. 267 ou 269, ambos do CPC, por isso, a priori, uma sentença (Lei n. 11.232/05). 2. A construção interpretativa em questão deve considerar o escopo metodológico das alterações no processo de conhecimento, por meio da Lei n. 11.232/05, isto é, simplificação do feito e sua agilização, em síntese, primou-se pelo binômio efetividade e tutela jurisdicional. 3. Sentença desvela-se como ato do juiz cujas implicações são previstas nos arts. 267; e 269, ambos do CPC. (Lei n. 11.232/05). 4. Apelação representa o recurso adequado contra a sentença (art. 513, do CPC); em relação à decisão interlocutória, cabível o agravo, o qual tem como regra a forma retida (Lei n. 11.187/2005). 5. No caso, trata-se de ação ordinária por meio da qual se almeja, em síntese: a) reforma das fileiras do Exército; b) indenização de ajuda de custo; c) danos morais; e d) isenção de imposto de renda. 6. O cerne da controvérsia circunvolve-se ao estabelecimento do recurso para impugnar decisum que, ao acolher a prefacial de falta de interesse de agir, extinguiu o processo, sem resolução de mérito, exclusivamente quanto a um dos pedidos relativos à pretensão, isto é, acerca da isen- ção de imposto de renda, com o prosseguimento do feito em relação aos demais pleitos (art. 267, inciso VI, do CPC). 7. Sobreleva notar a finalidade da manifestação judicial, ou seja, caso paralise o processo ou evidencie a solução de continuidade da demanda, cabível a apelação. Caso contrário, adequado o agravo de instrumento ou retido, vincu- lado à pretensão do recorrente em relação à sua imediata ou oportuna apreciação. 8. Para determinar a apelação como recurso adequado, impõe-se o critério híbrido acerca da classificação da manifestação judicial, qual seja: a) ato relativo ao disposto nos ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL arts. 267 ou 269, ambos do CPC; e b) ultimar-se o processo. 9. In casu, a despeito da adequação a uma das hipóteses arts. 267 ou 269, ambos do CPC, o pronunciamento do juízo singular controvertido não tem caráter jurídico de sentença, porque não interrom- peu a tramitação da ação no Primeiro Grau; consequentemente, em razão da necessária interpretação sistêmica e da efetividade da tutela jurisdicional, revela natureza interlo- cutória, a ensejar a interposição de agravo (art. 522, do CPC). 10. Sob pena de transmu- dar a sistemática recursal imposta pela legislação de regência, indevida a interpretação unicamente formal do decisum, por conseguinte, o acórdão regional merece reforma, nesse aspecto. 11. Recurso especial provido, para estabelecer, contra decisum de teor interlocutório, o recebimento do recurso na forma de agravo de instrumento. (Rel. Minis- tro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, jul- gado em 15/04/2010, DJe 14/06/2010). Na arbitragem cabe sentença parcial de mérito desde 2015. Lei 9.307/96: “Art. 23. § 1º Os árbitros poderão proferir sentenças parciais.” (Incluído pela Lei n. 13.129/2015) Julgado: STJ. REsp 1519041/RJ. 1. No âmbito do procedimento arbitral, nos termos da Lei n. 9.307/96 (antes mesmo das alterações promovidas pela Lei n. 13.129/2015), ine- xiste qualquer óbice à prolação de sentença arbitral parcial, especialmente na hipótese de as partes signatárias assim convencionarem (naturalmente com a eleição do Regu- lamento de Arbitragem que vierem a acordar), tampouco incongruência com o sistema processual brasileiro, notadamente a partir da reforma do Código de Processo Civil, vei- culada pela Lei n. 11.232/2005, em que se passou a definir “sentença”, conforme reda- ção conferida ao § 1º do art. 162, como ato do juiz que redunde em qualquer das situa- ções constantes dos arts. 267 e 269 do mesmo diploma legal. 1.1 Em se transportando a definição de sentença (ofertada pela Lei n. 11.232/2005) à Lei n. 9.307/96, é de se reconhecer, portanto, a absoluta admissão, no âmbito do procedimento arbitral, de se prolatar sentença parcial, compreendida esta como o ato dos árbitros que, em definitivo (ou seja, finalizandoa arbitragem na extensão do que restou decidido), resolve parte da causa, com fundamento na existência ou não do direito material alegado pelas partes ou na ausência dos pressupostos de admissibilidade da tutela jurisdicional pleiteada. 1.2 A ação anulatória destinada a infirmar a sentença parcial arbitral – único meio ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL admitido de impugnação do decisum – deve ser intentada de imediato, sob pena de a questão decidida tornar-se imutável, porquanto não mais passível de anulação pelo Poder Judiciário, a obstar, por conseguinte, que o Juízo arbitral profira nova decisão sobre a matéria. Não há, nessa medida, qualquer argumento idôneo a autorizar a com- preensão de que a impugnação ao comando da sentença parcial arbitral, por meio da competente ação anulatória, poderia ser engendrada somente por ocasião da prola- ção da sentença arbitral final. Tal incumbência decorre da própria lei de regência (Lei n. 9.307/96, inclusive antes das alterações promovidas pela Lei n. 13.129/2015), que, no § 1º de seu art. 33, estabelece o prazo decadencial de 90 (noventa dias) para anular a sentença arbitral. Compreendendo-se sentença arbitral como gênero, do qual a par- cial e a definitiva são espécies, o prazo previsto no aludido dispositivo legal aplica-se a estas, indistintamente. E, segundo restou devidamente consignado no acórdão recor- rido, a possibilidade de julgamento fatiado, por meio do proferimento de sentença par- cial, foi expressamente admitido pelas partes, a partir do Regulamento de Arbitragem da UNCITRAL por elas eleito. […]. (Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2015, DJe 11/09/2015). Tanto no caso de extinção parcial do processo quanto de julgamento antecipado parcial do mérito, o ato praticado é uma decisão, passível de agravo de instrumento. O processo, por- tanto, segue o rumo natural em relação ao remanescente, com o deságue em uma sentença posteriormente que desafiará o recurso de apelação. Vamos relembrar a questão do cabimento de agravo de instrumento no NCPC. O tema é bas- tante importante e tem ampla aplicação nas decisões de saneamento. • O STJ afirmou que o rol do art. 1.015 do NCPC é de taxatividade mitigada por uma cláu- sula adicional de cabimento. • Significa que cabe AI quando for verificada a urgência decorrente da inutilidade do jul- gamento da questão no recurso de apelação. • A preclusão da matéria não agravada é restrita às hipóteses previstas nos incisos. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL • O STJ não aceitou: – a natureza taxativa, porque sobrevivem questões urgentes fora da lista do art. 1.015 do CPC; – a natureza taxativa com interpretação extensiva/analógica, seja porque ainda rema- nescerão hipóteses em que não será possível extrair o cabimento do agravo das si- tuações enunciadas no rol, seja porque o uso da interpretação extensiva ou da ana- logia pode desnaturar a essência de institutos jurídicos ontologicamente distintos; – a natureza exemplificativa, porque resultaria na repristinação do regime recursal das interlocutórias que vigorava no CPC/73. Julgado: STJ. REsp 1704520/MT. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTRO- VÉRSIA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NATUREZA JURÍDICA DO ROL DO ART. 1.015 DO CPC/2015. IMPUGNAÇÃO IMEDIATA DE DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS NÃO PREVISTAS NOS INCISOS DO REFERIDO DISPOSITIVO LEGAL. POSSIBILIDADE. TAXATIVIDADE MITI- GADA. EXCEPCIONALIDADE DA IMPUGNAÇÃO FORA DAS HIPÓTESES PREVISTAS EM LEI. REQUISITOS. 1– O propósito do presente recurso especial, processado e julgado sob o rito dos recursos repetitivos, é definir a natureza jurídica do rol do art. 1.015 do CPC/15 e verificar a possibilidade de sua interpretação extensiva, analógica ou exempli- ficativa, a fim de admitir a interposição de agravo de instrumento contra decisão interlo- cutória que verse sobre hipóteses não expressamente previstas nos incisos do referido dispositivo legal. 2– Ao restringir a recorribilidade das decisões interlocutórias proferi- das na fase de conhecimento do procedimento comum e dos procedimentos especiais, exceção feita ao inventário, pretendeu o legislador salvaguardar apenas as “situações que, realmente, não podem aguardar rediscussão futura em eventual recurso de apela- ção”. 3– A enunciação, em rol pretensamente exaustivo, das hipóteses em que o agravo de instrumento seria cabível revela-se, na esteira da majoritária doutrina e jurisprudên- cia, insuficiente e em desconformidade com as normas fundamentais do processo civil, na medida em que sobrevivem questões urgentes fora da lista do art. 1.015 do CPC e que tornam inviável a interpretação de que o referido rol seria absolutamente taxativo e que deveria ser lido de modo restritivo. 4– A tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria taxativo, mas admitiria interpretações extensivas ou analógicas, mostra-se igualmente ineficaz para a conferir ao referido dispositivo uma interpretação em sintonia com as ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL normas fundamentais do processo civil, seja porque ainda remanescerão hipóteses em que não será possível extrair o cabimento do agravo das situações enunciadas no rol, seja porque o uso da interpretação extensiva ou da analogia pode desnaturar a essência de institutos jurídicos ontologicamente distintos. 5– A tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria meramente exemplificativo, por sua vez, resultaria na repristinação do regime recursal das interlocutórias que vigorava no CPC/73 e que fora conscientemente modi- ficado pelo legislador do novo CPC, de modo que estaria o Poder Judiciário, nessa hipó- tese, substituindo a atividade e a vontade expressamente externada pelo Poder Legis- lativo. 6– Assim, nos termos do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015, fixa-se a seguinte tese jurídica: O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inuti- lidade do julgamento da questão no recurso de apelação. 7– Embora não haja risco de as partes que confiaram na absoluta taxatividade com interpretação restritiva serem sur- preendidas pela tese jurídica firmada neste recurso especial repetitivo, eis que somente se cogitará de preclusão nas hipóteses em que o recurso eventualmente interposto pela parte tenha sido admitido pelo Tribunal, estabelece-se neste ato um regime de transição que modula os efeitos da presente decisão, a fim de que a tese jurídica somente seja aplicável às decisões interlocutórias proferidas após a publicação do presente acórdão. 8– Na hipótese, dá-se provimento em parte ao recurso especial para determinar ao TJ/ MT que, observados os demais pressupostos de admissibilidade, conheça e dê regular prosseguimento ao agravo de instrumento no que tange à competência. 9– Recurso especial conhecido e provido. (Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, jul- gado em 05/12/2018, DJe 19/12/2018). A decisão interlocutória que diga respeito (acolhe ou rejeita) à alegação de prescrição ou de- cadência é recorrível, de imediato, por meio de agravo de instrumento. Julgado: STJ. REsp 1738756/MG. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE REJEITA A ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO ARGUIDA PELO RÉU. RECORRIBILIDADE IMEDIATA POR AGRAVO DE INSTRUMENTO.POSSIBILIDADE. CABIMENTO DO RECURSO COM BASE NO ART. 1.015, II, DO CPC/2015. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. QUESTÕES DE MÉRITO, SEJA NO ACO- LHIMENTO, SEJA NA REJEIÇÃO. 1– Ação proposta em 27/10/2007. Recurso especial ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL interposto em 26/09/2017 e atribuído à Relatora em 08/05/2018. 2– O propósito recur- sal consiste em definir se a decisão interlocutória que afasta a alegação de prescrição é recorrível, de imediato, por meio de agravo de instrumento interposto com fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. 3– O CPC/2015 colocou fim às discussões que exis- tiam no CPC/73 acerca da existência de conteúdo meritório nas decisões que afastam a alegação de prescrição e de decadência, estabelecendo o art. 487, II, do novo Código, que haverá resolução de mérito quando se decidir sobre a ocorrência da prescrição ou da decadência, o que abrange tanto o reconhecimento, quanto a rejeição da alegação. 4– Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser aprecia- das somente na sentença, não há óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de decisões interlocutórias, hipótese em que caberá agravo de instru- mento com base no art. 1.015, II, do CPC/2015, sob pena de formação de coisa julgada material sobre a questão. Precedente. 5– Provido o recurso especial pela violação à lei federal, fica prejudicado o exame da questão sob a ótica da divergência jurisprudencial. 6– Recurso especial conhecido e provido. (Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2019, DJe 22/02/2019). Cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que acolhe ou afasta a arguição de impossibilidade jurídica do pedido. Com o objetivo de se dar maior rendimento a cada processo, individualmente considerado, e, atendendo a críticas tradicionais da doutrina, deixou, a possibilidade jurídica do pedido, de ser condição da ação. A sentença que, à luz da lei revogada seria de carência da ação, à luz do Novo CPC é de improcedência e resolve definitivamente a controvérsia. (Exposições de motivos do NCPC). Julgado: STJ. REsp 1757123/SP. […]. 3– Ao admitir expressamente a possibilidade de decisões parciais de mérito quando uma parcela de um pedido suscetível de decom- posição puder ser solucionada antecipadamente, o CPC/15 passou a exigir o exame detalhado dos elementos que compõem o pedido, especialmente em virtude da possi- bilidade de impugnação imediata por agravo de instrumento da decisão interlocutória que versar sobre mérito do processo (art. 1.015, II, CPC/15). 4– Para o adequado exame do conteúdo do pedido, não basta apenas que se investigue a questão sob a ótica da ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL relação jurídica de direito material subjacente e que ampara o bem da vida buscado em juízo, mas, ao revés, também é necessário o exame de outros aspectos relacionados ao mérito, como, por exemplo, os aspectos temporais que permitem identificar a ocor- rência de prescrição ou decadência e, ainda, os termos inicial e final da relação jurí- dica de direito material. Precedentes. 5– O enquadramento da possibilidade jurídica do pedido, na vigência do CPC/73, na categoria das condições da ação, sempre foi objeto de severas críticas da doutrina brasileira, que reconhecia o fenômeno como um aspecto do mérito do processo, tendo sido esse o entendimento adotado pelo CPC/15, conforme se depreende de sua exposição de motivos e dos dispositivos legais que atualmente versam sobre os requisitos de admissibilidade da ação. 6– A possibilidade jurídica do pedido após o CPC/15, pois, compõe uma parcela do mérito em discussão no processo, suscetível de decomposição e que pode ser examinada em separado dos demais frag- mentos que o compõem, de modo que a decisão interlocutória que versar sobre essa matéria, seja para acolher a alegação, seja também para afastá-la, poderá ser objeto de impugnação imediata por agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, CPC/15. 7– Recurso especial conhecido e provido. (Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/08/2019, DJe 15/08/2019). Informativo 622, STJ: “[…]. Inicialmente cumpre salientar que o reconhecimento da impossibilidade jurídica do pedido tem caráter excepcional, a fim de não inviabilizar o acesso à Justiça, tanto que o Código de Processo Civil de 2015 não elencou mais a “possibilidade jurídica do pedido” como condição da ação, passando o referido requi- sito a integrar questão de mérito. […].” (TERCEIRA TURMA, REsp 1.623.098-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 13/03/2018, DJe 23/03/2018). Não cabe AI contra a decisão que apenas realiza o enquadramento fático-normativo da re- lação de direito substancial havida entre as partes (ex.: aplicação ou não do CDC), salvo se, a partir desse enquadramento, houver pronunciamento judicial também sobre questão de mé- rito (ex.: manifestação sobre prescrição). Julgado: STJ. REsp 1702725/RJ. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE DEFINE COMO CONSUMERISTA A RELAÇÃO JURÍDICA MANTIDA ENTRE AS PARTES E AFASTA A TESE DE PRESCRIÇÃO SUSCITADA ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL PELO RÉU. RECORRIBILIDADE IMEDIATA POR AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART. 1.015, II, DO CPC/2015. MÉRITO DO PROCESSO. CONCEITO JURÍDICO INDETERMINADO. CABI- MENTO QUE ABRANGE AS DECISÕES PARCIAIS DE MÉRITO, AS DECISÕES ELENCADAS NO ART. 487 DO CPC/2015 E AS DEMAIS QUE DIGAM RESPEITO A SUBSTÂNCIA DA PRETENSÃO DEDUZIDA EM JUÍZO. ENQUADRAMENTO FÁTICO-NORMATIVO DA RELA- ÇÃO DE DIREITO SUBSTANCIAL. QUESTÃO NÃO RELACIONADA AO MÉRITO, SALVO SE DELA DECORRER UMA QUESTÃO DE MÉRITO, COMO O PRAZO PRESCRICIONAL À LUZ DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL. NECESSIDADE DE EXAME CONJUNTO. 1– Ação proposta em 17/04/2015. Recurso especial interposto em 16/03/2017 e atribuído à Relatora em 18/10/2017. 2– O propósito recursal é definir se cabe agravo de instrumento, com base no art. 1.015, II, do CPC/2015, contra a decisão interlocutória que, na fase de saneamento do processo, estabelece a legislação aplicável ao deslinde da controvérsia e afasta a prescrição com base nessa regra jurídica. 3– Embora se trate de conceito jurídico inde- terminado, a decisão interlocutória que versa sobre mérito do processo que justifica o cabimento do recurso de agravo de instrumento fundado no art. 1.015, II, do CPC/2015, é aquela que: (i) resolve algum dos pedidos cumulados ou parcela de único pedido sus- cetível de decomposição, que caracterizam a decisão parcial de mérito; (ii) possui con- teúdo que se amolda às demais hipóteses previstas no art. 487 do CPC/2015; ou (iii) diga respeito a substância da pretensão processual deduzida pela parte em juízo, ainda que não expressamente tipificada na lista do art. 487 do CPC. 4– O simples enquadra- mento fático-normativo da relação de direito substancial havida entre as partes, por si só, não diz respeito ao mérito do processo, embora induza a uma série de consequências jurídicas que poderão influenciar o resultado da controvérsia, mas, se a partir da sub- sunção entre fato e norma, houver pronunciamento judicial também sobre questão de mérito, como é a prescrição da pretensão deduzida pela parte, a definição da lei aplicável à espécie se incorpora ao mérito do processo, na medida em que não é possível exami- nar a prescrição sem quese examine, igual e conjuntamente, se a causa se submete à legislação consumerista ou à legislação civil, devendo ambas as questões, na hipótese, ser examinadas conjuntamente. 5– Recurso especial conhecido e provido. (Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019). Decisão interlocutória que indefere julgamento antecipado de mérito e abre fase probatória não decide mérito e não é recorrível de imediato. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Julgado: STJ. AgInt no AREsp 1411485/SP. […]. 2. Consoante dispõe o art. 356, caput, I e II, e § 5º, do CPC/2015, o juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles mostrarem-se incontroversos ou estiver em con- dições de imediato julgamento, nos termos do art. 355, sendo a decisão proferida com base neste artigo impugnável por agravo de instrumento. 3. No caso, conforme asse- verou o acórdão recorrido, a decisão do Juízo singular não ingressou no mérito, justa- mente porque entendeu pela necessidade de dilação probatória, deferindo as provas testemunhal e pericial. Logo, não havendo questão incontroversa que possibilitasse a prolação de decisão de mérito, inviável se falar, por conseguinte, na impugnação do refe- rido decisum por meio de agravo de instrumento, por não estar configurada a hipótese do art. 1.015, II, do CPC/2015. […]. (Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/07/2019, DJe 06/08/2019). A decisão interlocutória que diga respeito (acolhe ou rejeita) à distribuição dinâmica do ônus da prova (distribuição ope judicis) ou à inversão do ônus ope judicis é recorrível, de imediato, por meio de agravo de instrumento. Não caberá AI se a decisão versar sobre: distribuição estática do ônus da prova (que engloba a inversão do ônus ope legis). NCPC: “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º; Art. 373. O ônus da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. § 1º Nos casos previstos em lei [inversão do ônus ope judicis] ou diante de peculiari- dades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato con- trário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso [distribuição dinâmica do ônus da prova, que é ope judicis], desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.” ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Julgado: STJ. REsp 1729110/Ce) CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS EM DECORRÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO. ALEGAÇÃO DO RÉU DE QUE OS REQUISITOS PARA A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NÃO ESTÃO PRE- SENTES. RECORRIBILIDADE IMEDIATA COM BASE NO ART. 1.015, XI, DO CPC/15. POSSI- BILIDADE. REGRA DE CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO QUE SE INTERPRETA EM CONJUNTO COM O ART. 373, §1º, DO CPC/15. AGRAVO DE INSTRUMENTO CABÍVEL NAS HIPÓTESES DE DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA E DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. INSTITUTOS DISTINTOS, MAS SEMELHANTES QUANTO À NATUREZA, JUSTIFICATIVA, MOMENTO DE APLICAÇÃO E EFEITOS. INDISPENSÁVEL NECESSIDADE DE PERMITIR À PARTE A DESINCUMBÊNCIA DO ÔNUS DE PROVAR QUE, POR DECISÃO JUDICIAL, FORA IMPOSTO NO CURSO DO PROCESSO. 1– Ação proposta em 20/08/2015. Recurso especial interposto em 21/09/2017 e atribuído à Relatora em 13/03/2018. 2– O propósito recursal é definir se cabe agravo de instrumento, com base nos arts. 1.015, XI e 373, § 1º, do CPC/15, contra a decisão interlocutória que versa sobre a inversão do ônus da prova nas ações que tratam de relação de consumo. 3– No direito brasileiro, o ônus da prova é disciplinado a partir de uma regra geral prevista no art. 373, I e II, do CPC/15, deno- minada de distribuição estática do ônus da prova, segundo a qual cabe ao autor provar o fato constitutivo do direito e cabe ao réu provar o fato impeditivo, modificativo ou extin- tivo do direito do autor, admitindo-se, ainda, a existência de distribuição estática do ônus da prova de forma distinta da regra geral, caracterizada pelo fato de o próprio legislador estabelecer, previamente, a quem caberá o ônus de provar fatos específicos, como prevê, por exemplo, o art. 38 do CDc) 4– Para as situações faticamente complexas insuscetí- veis de prévia catalogação pelo direito positivo, a lei, a doutrina e a jurisprudência pas- saram a excepcionar a distribuição estática do ônus da prova, criando e aplicando regras de distribuição diferentes daquelas estabelecidas em lei, contexto em que surge a regra de inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC, e a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, reiteradamente aplicada por esta Corte mesmo antes de ser integrada ao direito positivo, tendo ambas – inversão e distribuição dinâmica – a carac- terística de permitir a modificação judicial do ônus da prova (modificação ope judicis). 5– As diferentes formas de se atribuir o ônus da prova às partes se reveste de acentuada relevância prática, na medida em que a interpretação conjunta dos arts. 1.015, XI, e 373, §1º, do CPC/15, demonstra que nem todas as decisões interlocutórias que versem sobre o ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL ônus da prova são recorríveis de imediato, mas, sim, apenas àquelas proferidas nos exatos moldes delineados pelo art. 373, §1º, do CPC/15. 6– O art. 373, §1º, do CPC/15, contem- pla duas regras jurídicas distintas, ambas criadas para excepcionar à regra geral, sendo que a primeira diz respeito à atribuição do ônus da prova, pelo juiz, em hipóteses previstas em lei, de que é exemplo a inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC, e a segunda diz respeito à teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, incidente a partir de peculiaridades da causa que se relacionem com a impossibilidade ou com a excessiva dificuldade de se desvencilhar do ônus estaticamente distribuído ou, ainda, com a maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário. 7– Embora ontologicamente distintas, a distribuição dinâmica e a inversão do ônus têm em comum o fato de excepcionarem a regra geral do art. 373, I e II, do CPC/15, de terem sido criadas para superar dificuldades de natureza econômica ou técnica e para buscar a maior justiça possível na decisão de mérito e de se tratarem de regras de instrução que devem ser implementadas antes da sentença, a fim de que não haja surpresa à parte que recebe o ônus no curso do processo e também para que possa a parte se desincumbir do ônus recebido. 8– Nesse cenário, é cabível a impugnação imediata da decisão interlocutória que verse sobre quaisquer das exceções mencionadas no art. 373, §1º, do CPC/15, pois somente assim haverá a opor- tunidade de a parte que recebe o ônus da prova no curso do processo dele se desvenci- lhar, seja pela possibilidade de provar, seja ainda para demonstrar que não pode ou que não deve provar, como, por exemplo, nas hipóteses de prova diabólica reversa ou de prova duplamente diabólica. 9– Recurso especial conhecido e provido. (Rel. MinistraNANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe 04/04/2019). O julgamento antecipado do mérito ocorrerá sempre que não houver necessidade de pro- dução de outras provas, situação em que a fase probatória é dispensada, ou quando o réu for revel e sofrer ele o efeito da revelia de presunção relativa de veracidade dos fatos, sem que formule requerimento de prova. O julgamento antecipado parcial do mérito, por sua vez, ocorrerá quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles mostrar-se incontroverso ou estiver em condição de imediato julgamento (ou seja, estiver na situação do julgamento antecipado do mérito des- crita acima). ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Essa decisão que julga parcialmente o mérito pode reconhecer desde logo a existência de obrigação líquida ou ilíquida. A parte pode liquidar ou executar desde logo também a obriga- ção reconhecida na decisão, sem a necessidade de oferecimento de caução, ainda que haja a interposição de agravo de instrumento em face dessa decisão. A execução, antes do trânsito em julgado da decisão, é provisória e, após o trânsito, defini- tiva. Como regra, aliás, a liquidação e o cumprimento dessa decisão parcial do mérito ocorrem nos próprios autos, sendo possível, a requerimento da parte ou a critério do juiz, processar em autos suplementares esses pedidos, para que não haja tumulto processual com o andamento da parcela remanescente do feito. Não sendo o caso de prolatar sentença de extinção ou de julgamento antecipado de mé- rito, caberá ao juiz proferir decisão saneadora e organizadora do processo. Nessa decisão, o CPC elenca alguns tópicos a serem abordados: Tópico Observação Resolver as questões processuais pendentes, se houver. A todo momento o juiz pode analisar questões pro- cessuais pendentes. Como há a fase de recebimento da inicial (com possibilidade de emenda) e a fase de providências preliminares, raramente haverá algo a ser resolvido neste tópico em sede de decisão saneadora. Delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos. A medida busca otimizar a fase probatória, para que a parte não se debruce em questões irrelevantes. Definir a distribuição do ônus da prova. Como regra o ônus da prova incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo de seu direito e ao réu quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, sendo possível distribuir diversa- mente o ônus da prova a depender do caso concreto (conforme art. 373 do CPC) Delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito. A medida busca otimizar a fase decisória posterior, para que as partes não se debrucem em questões de direito que não sejam influentes para a causa. Designar, se necessário, audiência de instrução e jul- gamento. Haverá a necessidade de designação de audiência de instrução e julgamento apenas se for necessária a produção de prova oral (depoimento pessoal, oitiva de testemunhas e oitiva do perito para esclarecimento de pontos duvidosos do laudo). ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Prolatada a decisão de saneamento, as partes podem pedir esclarecimentos ou solicitar ajustas, no prazo comum de 5 dias. Após esse período, a decisão torna-se estável. No CPC/73, a jurisprudência se firmou no sentido de que a prolação da decisão saneado- ra seria uma faculdade, ou seja, caberia ao magistrado, a depender da necessidade de cada processo, prolatar essa decisão ou não. Há exemplos práticos, portanto, de processos em que se avança à fase probatória sem a prolação de uma decisão saneadora, apenas com o deferimento da produção da prova requerida. O STJ era tranquilo em afirmar que tal medida não constituía nulidade. Confira: Julgado: STJ. AgRg na MC 25.519/DF. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL TRANCADO. RETENÇÃO. ART. 542, § 3º, DO CPC. REGRA GERAL. PRODUÇÃO DE PROVAS. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO ART. 331, § 3º DO CPC. PRECEDENTe) AUSÊNCIA DE FUMUS BONI IURIS E DE PERICULUM IN MORa) MEDIDA CAUTELAR NEGADa) 1. Medida cautelar ajuizada com o objetivo de destrancar recurso especial retido com base no art. 542, § 3º, do Código de Processo Civil, interposto contra acórdão que apreciou decisum interlocutório; no caso concreto, o magistrado de instrução con- siderou que as provas deveriam ser produzidas, por força do § 3º do art. 331 do Código de Processo Civil antes que fossem delimitados os pontos controvertidos. 2. A retenção dos recursos especiais, com base no art. 542, § 3º, do Código de Processo Civil, confi- gura uma regra geral, quando a insurgência está dirigida contra debate acerca de decisão interlocutória, que é o caso concreto. Precedentes: AgRg na MC 23.800/MS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 18.12.2015; AgRg na MC 17.449/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 6.12.2013; AgRg na MC 16.817/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 14.9.2010. 3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acolhe a possibilidade de aplicação do § 3º do art. 331 do Código de Processo Civil, em casos como o dos autos, pois “(…) o sistema processual atual não consagra a obrigatoriedade do despacho saneador em momento único. O saneamento do processo é feito em qualquer momento, desde que surja a necessidade de corrigir qualquer desvio prejudicial à apuração dos fatos discutidos e à aplicação das leis susci- tadas. A regra do § 3º do artigo 331 do Código de Processo Civil não é obrigatória. A sua falta só produz nulidade quando demonstrado evidente prejuízo para uma das partes” (EDcl no AgRg no REsp 724.059/MG, Rel. Ministro José delgado, Primeira Turma, DJ ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL 3.4.2006, p. 252). 4. No que tange ao periculum in mora, também não existe, já que a produção de provas sem a fixação dos pontos controvertidos no despacho saneador não produz, em princípio, nenhum dano à parte, salvo se houver questão fática especí- fica, que deverá ser discutida nos autos do feito principal; logo, mesmo que fosse neces- sário aferir tal malferimento na presente medida cautelar, este tema esbarraria no teor da Súmula 7/STJ, que veda o revolvimento de questões de fato na instância especial. Agravo regimental improvido. (Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe 08/03/2016) O CPC/15 trouxe, por outro lado, uma redação bastante incisiva ao tratar da decisão sa- neadora: Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de sane- amento e de organização do processo: O STJ ainda não tem posicionamento firmado sobre o tema sob a égide do CPC de 2015, mas leve consigo a redação do art. 37, bastante literal no sentido da necessidade de prolação da decisão saneadora. No saneador há a possibilidade de distribuição do ônus da prova. Esse tema foi bastante debatido em âmbito jurisprudencial no CPC/73, uma vez que, em alguns casos, o juiz deixava para inverter o ônus da prova apenas na fase de sentença, ou seja, distribuía o ônus proba- tório e de pronto já sentenciava, sem permitir que as partes produzissem a prova de acordo com o ônus distribuído. O tema, após intensos debates, solidificou-se no sentido de que a inversão do ônus pro- batório é matéria de instrução, o que foi abraçado pela redaçãodo CPC/15. Qual o momento processual adequado para preceder-se à inversão do ônus da prova? Alguns doutrinadores entendiam que o momento processual adequado para a inversão do ônus da prova é o julgamento da causa. Nery inclusive diz que: O juiz, ao receber os autos para proferir a sentença, verificando que seria o caso de inverter o ônus da prova em favor do consumidor, não poderá baixar os autos em diligência e determinar que o ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL fornecedor faça a prova, pois o momento processual para a produção dessa prova já terá sido ultrapassado. Para essa corrente, a inversão do ônus da prova é técnica de julgamento. A outra corrente defende que o despacho saneador é o momento processual adequado para tal inversão. Didier inclusive diz que: […] deve o magistrado anunciar a inversão antes de sentenciar e em tempo do sujeito onerado se desincumbir do encargo probatório, não se justificando o posicionamento que defende a possibili- dade de a inversão se dar no momento do julgamento. […] Reservar a inversão do ônus da prova ao momento da sentença representa uma ruptura com o sistema do devido processo legal, ofendendo a garantia do contraditório. Para essa corrente, a inversão do ônus da prova é matéria de instrução. Informativo n. 492, STJ: “A Seção, por maioria, decidiu que a inversão do ônus da prova de que trata o art. 6º, VIII, do CDC é regra de instrução, devendo a decisão judicial que determiná-la ser proferida preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurar à parte a quem não incumbia inicialmente o encargo a reabertura de oportunidade para manifestar-se nos autos.” (EREsp 422.778-SP, Rel. originário Min. João Otávio de Noronha, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti (art. 52, IV, b, do RISTJ), julgados em 29/2/2012). Informativo n. 469, STJ: “[…] Dessarte, consignou que, influindo a distribuição do encargo probatório decisivamente na conduta processual das partes, devem elas possuir a exata ciência do ônus atribuído a cada uma delas para que possam produzir oportunamente as provas que entenderem necessárias. Ao contrário, permitida a distribuição ou a inversão do ônus probatório na sentença e inexistindo, com isso, a necessária certeza proces- sual, haverá o risco de o julgamento ser proferido sob uma deficiente e desinteressada instrução probatória, na qual ambas as partes tenham atuado com base na confiança de que sobre elas não recairia o encargo da prova de determinado fato. Assim, entendeu que a inversão ope judicis do ônus da prova deve ocorrer preferencialmente no despacho saneador, ocasião em que o juiz decidirá as questões processuais pendentes e deter- minará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL (art. 331, §§ 2º e 3º, do CPC). Desse modo, confere-se maior certeza às partes referente aos seus encargos processuais, evitando a insegurança. […].” (STJ. REsp 802.832-MG. SEGUNDA SEÇÃO). Julgado: STJ. REsp 802832/MG. SEGUNDA SEÇÃO. 1. A inversão do ônus da prova pode decorrer da lei (‘ope legis’), como na responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC), ou por determinação judicial (‘ope judicis’), como no caso dos autos, versando acerca da responsabilidade por vício no produto (art. 18 do CDC). Inte- ligência das regras dos arts. 12, § 3º, II, e 14, § 3º, I, e. 6º, VIII, do CDc) 2. A distribuição do ônus da prova, além de constituir regra de julgamento dirigida ao juiz (aspecto obje- tivo), apresenta-se também como norma de conduta para as partes, pautando, conforme o ônus atribuído a cada uma delas, o seu comportamento processual (aspecto subje- tivo). Doutrina. 3. Se o modo como distribuído o ônus da prova influi no comportamento processual das partes (aspecto subjetivo), não pode a a inversão ‘ope judicis’ ocorrer quando do julgamento da causa pelo juiz (sentença) ou pelo tribunal (acórdão). Previsão nesse sentido do art. 262, §1º, do Projeto de Código de Processo Civil. 4. A inversão ‘ope judicis’ do ônus probatório deve ocorrer preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurando-se à parte a quem não incumbia inicialmente o encargo, a reabertura de oportunidade para apresentação de provas. Divergência juris- prudencial entre a Terceira e a Quarta Turma desta Corte. RECURSO ESPECIAL DESPRO- VIDO. (Julgado em 13/04/2011, DJe 21/09/2011). A regra e a exceção quanto ao ônus da prova: • O regime geral de distribuição está previsto no art. 373, I e II, do CPC, e é: – abstrato; – apriorístico; – estático; – não absoluto. • A regra sofre influxos do ônus dinâmico da prova, que se presta a: – corrigir iniquidades, tais como: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL – a prova diabólica – de difícil desincumbência por parte do onerado; – a prova diabólica reversa – de difícil desincumbência por parte daquele que, a prin- cípio, seria desonerado da prova; Obs.: � No caso de prova duplamente diabólica (para ambas as partes), a solução parece ser atribuir o ônus a quem assumiu o risco de inviabilidade probatória. – instituir um ambiente ético-processual virtuoso; – concretizar e aglutinar: ◦ a solidariedade; ◦ o acesso à Justiça; ◦ a efetiva prestação jurisdicional; ◦ due process. Julgado: STJ. REsp 883656/RS. 1. Em Ação Civil Pública proposta [pelo MPRS] com o fito de reparar alegado dano ambiental causado por grave contaminação com mercúrio, o Juízo de 1º grau, em acréscimo à imputação objetiva estatuída no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81, determinou a inversão do ônus da prova quanto a outros elementos da res- ponsabilidade civil, decisão mantida pelo Tribunal a quo. 2. O regime geral, ou comum, de distribuição da carga probatória assenta-se no art. 333, caput, do Código de Processo Civil. Trata-se de modelo abstrato, apriorístico e estático, mas não absoluto, que, por isso mesmo, sofre abrandamento pelo próprio legislador, sob o influxo do ônus dinâmico da prova, com o duplo objetivo de corrigir eventuais iniquidades práticas (a probatio dia- bólica, p. ex., a inviabilizar legítimas pretensões, mormente dos sujeitos vulneráveis) e instituir um ambiente ético-processual virtuoso, em cumprimento ao espírito e letra da Constituição de 1988 e das máximas do Estado Social de Direito. 3. No processo civil, a técnica do ônus dinâmico da prova concretiza e aglutina os cânones da solidariedade, da facilitação do acesso à Justiça, da efetividade da prestação jurisdicional e do combate às desigualdades, bem como expressa um renovado due process, tudo a exigir uma genu- ína e sincera cooperação entre os sujeitos na demanda. 4. O legislador, diretamente na lei (= ope legis), ou por meio de poderes que atribui, específica ou genericamente, ao juiz (= ope judicis), modifica a incidência do onus probandi, transferindo-o para a parte em melhores condições de suportá-lo ou cumpri-lo eficaz e eficientemente, tanto mais em ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL relações jurídicas nas quais ora claudiquem direitos indisponíveis ou intergeracionais, ora as vítimas transitem no universo movediço em queconvergem incertezas tecnoló- gicas, informações cobertas por sigilo industrial, conhecimento especializado, redes de causalidade complexa, bem como danos futuros, de manifestação diferida, protraída ou prolongada. 5. No Direito Ambiental brasileiro, a inversão do ônus da prova é de ordem substantiva e ope legis, direta ou indireta (esta última se manifesta, p. ex., na derivação inevitável do princípio da precaução), como também de cunho estritamente processual e ope judicis (assim no caso de hipossuficiência da vítima, verossimilhança da alega- ção ou outras hipóteses inseridas nos poderes genéricos do juiz, emanação natural do seu ofício de condutor e administrador do processo). 6. Como corolário do princípio in dubio pro natura, “Justifica-se a inversão do ônus da prova, transferindo para o empre- endedor da atividade potencialmente perigosa o ônus de demonstrar a segurança do empreendimento, a partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei 7.347/1985, conjugado ao Princípio Ambiental da Precaução” (REsp 972.902/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.9.2009), técnica que sujeita aquele que supostamente gerou o dano ambiental a comprovar “que não o causou ou que a subs- tância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva” (REsp 1.060.753/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.12.2009). 7. A inversão do ônus da prova, prevista no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, contém comando normativo estritamente processual, o que a põe sob o campo de aplicação do art. 117 do mesmo estatuto, fazendo-a valer, universalmente, em todos os domínios da Ação Civil Pública, e não só nas relações de consumo (REsp 1049822/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 18.5.2009). 8. Destinatário da inversão do ônus da prova por hipossuficiência – juízo perfeitamente compatível com a natureza coletiva ou difusa das vítimas – não é apenas a parte em juízo (ou substituto processual), mas, com maior razão, o sujeito-titular do bem jurídico primário a ser protegido. 9. Ademais, e este o ponto mais relevante aqui, importa salientar que, em Recurso Especial, no caso de inversão do ônus da prova, eventual alteração do juízo de valor das instâncias ordinárias esbarra, como regra, na Súmula 7 do STJ. “Aferir a hipossuficiência do recorrente ou a verossimilhança das alegações lastreada no conjunto probatório dos autos ou, mesmo, examinar a neces- sidade de prova pericial são providências de todo incompatíveis com o recurso especial, que se presta, exclusivamente, para tutelar o direito federal e conferir-lhe uniformidade” ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL (REsp 888.385/RJ, Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 27.11.2006. No mesmo sentido, REsp 927.727/MG, Primeira Turma, Rel. Min. José Delgado, DJe de 4.6.2008). 10. Recurso Especial não provido. (Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/03/2010, DJe 28/02/2012). A inversão pode ser a favor do MP! O destinatário da inversão do ônus da prova por hipossuficiência – juízo perfeitamente compa- tível com a natureza coletiva ou difusa das vítimas – não é apenas a parte em juízo (ou substitu- to processual), mas, com maior razão, o sujeito-titular do bem jurídico primário a ser protegido. A inversão é do ônus da prova, não do ônus do custo da prova! Julgado: STJ. AgRg no REsp 718821-SP. 1. Com efeito, ainda que deferida, a inversão do ônus probatório não tem o condão de obrigar o fornecedor a custear a prova requerida pelo consumidor, embora gere para aquele a obrigação de arcar com as consequências jurídicas pertinentes de sua não produção. Precedentes. […]. (Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 09/02/2010, DJe 01/03/2010) Julgado: STJ. REsp 972.902/RS. 1. Fica prejudicada o recurso especial fundado na vio- lação do art. 18 da Lei 7.347/1985 (adiantamento de honorários periciais), em razão de o juízo de 1º grau ter tornado sem efeito a decisão que determinou a perícia. 2. O ônus probatório não se confunde com o dever de o Ministério Público arcar com os honorários periciais nas provas por ele requeridas, em ação civil pública. São questões distintas e juridicamente independentes. 3. Justifica-se a inversão do ônus da prova, transferindo para o empreendedor da atividade potencialmente perigosa o ônus de demonstrar a segu- rança do empreendimento, a partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei 7.347/1985, conjugado ao Princípio Ambiental da Precaução. 4. Recurso especial parcialmente provido. (Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, jul- gado em 25/08/2009, DJe 14/09/2009) Sabe-se que os atos administrativos são dotados da presunção de legitimidade e de legali- dade, que trazem a inversão do ônus da prova em relação ao administrado, contudo, há uma exceção: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL No direito ambiental, em razão do princípio da precaução, do in dubio pro natura e do favor debilis, a inversão do ônus da prova é contra a Administração! • No Direito Ambiental brasileiro, a inversão do ônus da prova é: – de ordem substantiva e ope legis: ◦ direta; ou ◦ indireta (esta última se manifesta, p. ex., na derivação inevitável do princípio da precaução). • Como também de cunho estritamente processual e ope judicis (assim no caso de hi- possuficiência da vítima, verossimilhança da alegação ou outras hipóteses inseridas nos poderes genéricos do juiz, emanação natural do seu ofício de condutor e adminis- trador do processo). “Concessionária deve provar que hidrelétrica não causou danos a pescadores” (Notícias do STJ de 23/11/2012). Julgado: STJ. REsp 1.330.027 – SP. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. NEGA- TIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. DIREITO CIVIL E DIREITO AMBIEN- TAL. CONSTRUÇÃO DE USINA HIDRELÉTRICA. REDUÇÃO DA PRODUÇÃO PESQUEIRA. SÚMULA N. 7/STJ. NÃO CABIMENTO. DISSÍDIO NOTÓRIO. RESPONSABILIDADE OBJE- TIVA. DANO INCONTESTE. NEXO CAUSAL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CABIMENTO. PRECEDENTES. […]. 4. A Lei n. 6.938/81 adotou a sis- temática da responsabilidade objetiva, que foi integralmente recepcionada pela ordem jurídica atual, de sorte que é irrelevante, na espécie, a discussão da conduta do agente (culpa ou dolo) para atribuição do dever de reparação do dano causado, que no caso é inconteste. 5. O princípio da precaução, aplicável à hipótese, pressupõe a inversão do ônus probatório, transferindo para a concessionária o encargo de provar que sua con- duta não ensejou riscos para o meio ambiente e, por consequência, aos pescadores da região. 6. Recurso especial parcialmente conhecido e nesta parte provido para determi- nar o retorno dos autos à origem para que, promovendo-se a inversão do ônus da prova, proceda-se a novo julgamento. (Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/11/2012). ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Questões de ordem pública não precluem, mesmo quando decididas no saneador. Aplica-se, também, ao saneador, o instituto da preclusão (como é o normal em decisões in- terlocutórias). Essa é a regra geral. Se o assunto envolver matéria de ordem pública, não há espaço para preclusão, mesmo que a questão já tenha sido decidida em saneador. Essa é a exceção. Parcela minoritária da doutrina entendeque há preclusão se houver o exame de questões de ordem pública, ou seja, o reexame não seria possível. Julgado: STJ. AR 3.286/Sc) 1. O fato de o magistrado, num juízo exordial, admitir o pro- cessamento da ação ou deferir pedidos de habilitação não o impede de, posteriormente, verificando a impropriedade formal da ação ou do deferimento de habilitação, rever seu pronunciamento inicial enquanto o processo estiver pendente de julgamento, uma vez que, inserida a questão no âmbito das matérias de ordem pública (mais precisamente dos pressupostos processuais subjetivos), não há que se falar em preclusão para o juízo, que poderá, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (somente com algumas exceções, no caso das instâncias extraordinárias), reanalisar as questões que estejam abrangidas pelas já citadas questões de ordem pública. É o que se depreende da leitura do disposto no art. 267, § 3º, do CPC, segundo o qual: “O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl”. 2. Que não se alegue, no caso dos autos, a previ- são contida no art. 471 do CPC, isso porque, consoante a valiosa opinião de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante”, ed. RT, 10ª ed., 2007, pág. 704): “A norma proíbe a redecisão de questão já decidida no mesmo processo, sob o fundamento da preclusão (coisa julgada formal). As questões dispositivas decididas no processo não podem ser reapreciadas pelo juiz. As de ordem pública, por não serem alcançadas pela preclusão, podem ser decidas em qualquer tempo e grau ordinário de jurisdição (não em RE ou REsp). Pela mesma razão, pode o juiz redecidir as questões de ordem pública já decididas no processo. O ‘caput’ do dispositivo comentado impede que o juiz, no mesmo processo, decida novamente ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL as questões já decididas. As exceções são, na verdade, aberturas para a redecisão em outro processo.” – grifos acrescidos. Precedentes desta Corte no mesmo sentido: REsp 1.254.589/SC, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/9/2011, DJe 30/9/2011, e REsp 1.175.100/SC, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 5/4/2011, DJe 13/4/2011. […]. (Rel. Ministro OG FERNANDES, TER- CEIRA SEÇÃO, julgado em 29/02/2012, DJe 20/03/2012). Também é possível que as partes, na linha da solução consensual, apresentem delimitação das questões de fato e de direito para que o juiz homologue. Tal ato vincula as partes e o juiz! O CPC também prevê a possibilidade de o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, caso a demanda seja complexa em matéria de fato ou de direito. Nessa hipótese, o juiz poderá convidar as partes a integrar ou esclarecer suas alegações, na construção de uma decisão saneadora coletiva. Se a causa demandar a produção de prova testemunhal, como visto, será necessária a designação de uma audiência de instrução e julgamento. O juiz fixará prazo comum não superior a 15 dias para que as partes apresentem o rol de testemunhas. O número de testemunhas não pode ser superior a 10, sendo 3, no máximo, para a prova de cada fato. O juiz pode, ainda, limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados. Na hipótese de realização da audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, o Código determina que cabe às partes levar o rol de testemunhas para o ato, si- tuação em que não é aplicável a regra de abertura de prazo de 15 dias para a apresentação do rol. Se houver determinação de produção de prova pericial, o juiz nomeará perito especializa- do no objeto da perícia e fixará o prazo para a entrega do laudo, com o estabelecimento desde logo de calendário para a realização do ato, se possível. Um grande equívoco verificável na prática ocorre quando se parte para o julgamento confor- me o estado do processo a despeito do pedido de produção de provas formulado. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Nesse cenário, o juiz acaba por indeferir a prova, mas, ainda assim, julga improcedente os pedidos por ausência de provas. Veja que, nesse caso, haverá cerceamento de defesa e a sentença será reformada na segunda instância. Com a reforma, será necessária a reabertura da fase probatória, razão pela qual o Tribunal determinará o retorno dos autos à origem, com um atraso significativo para o andamento do processo. Julgado: STJ. REsp 1066409/RS. PROCESSO CIVIL – TRIBUTÁRIO – OBRIGAÇÃO TRIBU- TÁRIA – ADIMPLEMENTO – SUCESSÃO EMPRESARIAL – CERCEAMENTO DE DEFESA – INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL – JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE – AUSÊN- CIA DE PROVAS. 1. Inviável antecipar o julgamento da lide indeferindo a produção de prova pericial para posteriormente improver a pretensão sob fundamento na ausência de prova. 2. Recurso especial provido para anular o processo desde o julgamento anteci- pado da lide. (Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/09/2008, DJe 30/09/2008). Julgado: STJ. REsp 779.160/RS. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. COBRANÇA DE VALORES MÍNIMOS DE ENERGIA ELÉTRICa) DIVISÃO DAS TARIFAS DA CATEGORIA ‘BAIXA RENDA’ EM FAIXa) COMPETÊNCIA INTERNA DE TURMAS DE TRIBUNAL REGIO- NAL. NECESSIDADE DE ANÁLISE DO REGIMENTO INTERNO DO RESPECTIVO TRIBUNAL. NÃO INCLUSÃO NO CONCEITO DE LEI FEDERAL. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO. PRODUÇÃO DE PROVa) OPORTUNIZAÇÃO ÀS PARTES. NÃO VERIFICA- ÇÃO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO. FATO INCONTROVERSO. CERCEAMENTO DE DEFESa) CARACTERIZAÇÃO. 1. A questão relativa à competência interna de Turmas de Tribunal Regional demanda a análise do Regimento Interno do respectivo tribunal, o qual não se inclui no conceito de lei federal, nos termos do art. 105, III, “a”, da Constituição da Repú- blica. 2. A empresa Rio Grande Energia sustenta ter havido cerceamento de defesa por dois motivos fundamentais: (i) ausência de intimação para produção de provas; (ii) o julgamento conforme o estado do processo, nos termos em que foi sentenciado, impediu que a parte pudesse comprovar fato modificativo do direito do autor, já que não lhe foi oportunizada a especificação de provas. 3. Ao compulsar os autos, verifi- ca-se que o referido despacho não foi publicado, sendo que a manifestação do Minis- tério Público Federal apenas se deu em razão do privilégio legal. 4. O magistrado, ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL quando da prolação da sentença, assentou que “considerando a natureza documental da demanda, a qual envolve aplicação de direito estrito, restando, portanto, despicienda a produção de novas provas, vez que o Juízo já dispõe de farta prova documental”. 5. Prolatada a sentença, o magistrado consignou que competia à empresa ré a comprova- ção da existência de custos efetivos os quais correspondam à cobrança de tarifa mínima de disponibilidade até pelo fato que o Ministério Público logrou êxito em comprovar que a concessionária não fornece energia elétrica ao consumidor neste caso. Entendeu, ainda, que à concessionária de nergia elétrica incumbiria comprovar que muito embora não forneça energia elétrica nestes casos, possui custos os quais são correspondência direta da cobrança das tarifas mínimas,as quais segundo a RGE, oneram parcela ínfima da população, o que, de fato, a empresa não teria se desincumbido de fazer (fl. 1038). 6. Todavia, não há que se falar em desnecessidade de prova pericial se não se sabe, ao certo, quais provas a parte pretendia produzir. Quero dizer, estamos diante de nuli- dade que precede a questão da necessidade ou não de produção de prova pericial. 7. Se à parte não foi dada oportunidade de especificar quais provas pretendia produzir, não se mostra possível, de antemão, pressupor a desnecessidade de sua produção, mormente porque, em contrarrazões, a empresa Rio Grande Energia postulou pela produção de provas documentais, não se podendo pressupor que todas aquelas provas que a empresa pretendia produzir seriam despiciendas ao julgamento da causa. 8. Em outras palavras, seria possível que a parte pretendesse a produção de provas documentais que tivessem em poder de terceiros, nos termos do que determina o artigo 341 do CPC. 9. Assim, pros- pera a tese veiculada pela recorrente, no tocante ao cerceamento de defesa, porquanto a ausência de intimação da parte para que especificasse as provas que pretendesse produzir, inegavelmente macula a sentença que se deve ter por nula. 10. Outro aspecto que deve ser ressaltado é que, ainda que à parte tivesse sido oportunizada a produção de prova e o juiz as indeferisse, mesmo nessas hipóteses poderia restar caracterizado o cerceamento de defesa, já que o magistrado lançou mão da ausência de provas nos autos capazes de infirmar o alegado pelo Ministério Público Federal para rechaçar as pretensões deduzidas pela parte. Há vários julgados deste Tribunal no sentido de que se mostra inviável o julgamento conforme o estado do processo se houver o indeferimento da produção de prova pericial e posterior não provimento das pretensões da parte ao fundamento de ausência de produção de prova. 11. Recurso especial interposto pela Rio ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Grande Energia S.A provido para anular o acórdão recorrido e determinar a remessa dos autos à origem, a fim de que seja oportunizada à recorrente a especificação de provas que pretende produzir. (Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/02/2011, DJe 28/03/2011) Em suma, Juiz não pode negar a produção probatória e depois julgar o processo contra a parte por ausência de provas. Julgado: STJ. REsp 1.228.751 – PR. 1.– Esta Corte possui jurisprudência firme no sen- tido de que o julgador não pode indeferir a produção de prova requerida pela parte para, em seguida, seja em sede de julgamento antecipado da lide, seja em julgamento não antecipado, extinguir o processo sem exame do mérito por ausência da prova que ele próprio inviabilizou. 2.– No caso dos autos, porém, a ouvida de testemunhas, inclusive as do autor, apesar de antes deferida, pôde ser dispensada porque o depoimento pes- soal do próprio Autor, esvaziou a credibilidade das alegações que amparavam o direito invocado na inicial. 3.– Por outro lado, o Agravo interposto contra a dispensa das teste- munhas não foi interposto pelo autor, ora Recorrente, mas pelo réu, de modo que, para o Autor, deu-se a preclusão da questão. 4.– Recurso Especial improvido. (Rel. Min. Sidnei Beneti, TERCEIRA TURMA, Julgado em 06/11/2012). O novo Código também trouxe uma imposição à agenda de audiências: as pautas devem ser preparadas com intervalo mínimo de 1 hora entre as audiências. Essa medida evita que, na prática, o juiz marque 5 audiências para as 14h, por exemplo, obrigando partes, testemunhas e advogados da quinta audiência a comparecerem nesse ho- rário, sendo que sua audiência somente ocorrerá perto das 18h. A atividade do juiz na determinação de produção probatória dentro do saneador é delicada e deve ser adstrita ao princípio do dispositivo. Julgado: STJ. REsp 840.690/DF. […]. 3. O chamado “ônus da prova” é instituto de direito processual que busca, acima de tudo, viabilizar a consecução da vedação ao non liquet, ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 32 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL uma vez que, por meio do art. 333, inc. I, do CPC, garante-se ao juiz o modo de julgar quando qualquer dos litigantes não se desincumbir da carga probatória definida legal- mente, apesar de permanecer dúvidas razoáveis sobre a dinâmica dos fatos. 4. Ainda acerca do direito probatório, convém ressaltar que, via de regra, a oportunidade ade- quada para que a parte autora produza seu caderno probatório é a inicial (art. 282, inc. I, do CPC). Para o réu, este momento é a contestação (art. 300 do CPC). Qualquer outro momento processual que possa eventualmente ser destinado à produção probatória deve ser encarado como exceção. 5. Assim, a abertura para a réplica, p. ex., encontra limites estreitos no CPC, seja quando o réu alegar alguma das matérias do art. 301 do mesmo diploma legislativo, seja quando o réu trouxer dados inéditos ao processo, tendo a parte autora, como consequência do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, direito de sobre eles se manifestar (arts. 326 e 327 do CPC). 6. Da mesma maneira, em atenção também ao princípio do dispositivo, convém restringir o uso tradicionalmente indiscriminado do despacho que chama as partes a dizerem se têm outras provas a produzir, pois, dogmática e legalmente falando, os momentos para tanto já ocorreram (inicial e contestação). 7. E, ainda, também em observância ao prin- cípio do dispositivo, o magistrado deve ser parcimonioso ao determinar a produção de provas no saneador, evitando tornar controversos pontos sobre os quais, na verdade, as partes abriram mão de discutir – e, portanto, de tornar controvertidos. 8. O obje- tivo do Código de Processo Civil é claro: evitar delongas injustificadas e não queridas pelos litigantes que, muito mais do que o atingimento da sacrossanta “verdade mate- rial” ou o prestígio da igualmente paradoxal “verdade formal”, acabam prejudicando as partes interessadas, na medida em que inviabilizam uma tutela adequada e efi- ciente. 9. Por tudo isso, se o autor não demonstra (ou não se interessa em demons- trar), de plano ou durante o processo, os fatos constitutivos de seu direito, mesmo tendo-lhe sido oportunizados momentos para tanto, compete ao magistrado encerrar o processo com resolução de mérito, pela improcedência do pedido, mesmo que, por sua íntima convicção, também o réu não tenha conseguido demonstrar de forma cabal os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do alegado direito do autor. […]. (Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 28/09/2010). ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 33 de 107www.grancursosonline.com.br Thiago Pivotto Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Ainda assim, o juiz pode determinar a produção probatória de ofício, conforme art. 370 do CPC. Cabe falar em ativismo judicial quando o magistrado determina a produção probatória de ofício. Julgado: STJ. REsp 540.179/SP. 1. Ausência de valoração da prova impeditiva da aná- lise pelo STJ do malferimento dos dispositivos legais invocados. Prejudicial ao exame do recurso especial. 2. O art. 130, do CPC, é aplicável a todas as instâncias por isso que ao STJ é lícito, antes da analise à violação da lei, determinar a baixa dos autos à instância de origem para que valore a prova produzida, prejudicial à análise do meri- tum causae porquanto à Corte está interditada a análise do contexto fático-probató- rio. 3. “(…) O Código
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