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1 INTERVENÇÃO ESCOLAR FAMÍLIA COMUNIDADE 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 O PSICÓLOGO SOCIAL ESCOLAR: REFLEXÕES CRÍTICAS EM SUAS INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS .................................................................. 4 FAMÍLIA E EDUCAÇÃO .......................................................................... 9 AS RELAÇÕES DA FAMÍLIA COM A ESCOLA NO BRASIL ............. 12 O ENVOLVIMENTO DOS PAIS NA ESCOLA: UMA CULTURA DE PARTICIPAÇÃO ....................................................................................... 17 ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR ................. 19 INTERVENÇÕES E ESTRATÉGIAS .................................................. 20 OS FOCOS DE INTERVENÇÃO: A ESCOLA, OS PROFESSORES, OS FUNCIONÁRIOS, A COMUNIDADE E OS ALUNOS ................................... 22 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 27 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A educação é vista como mediadora entre o gesto cultural e sua continuidade, ou seja, é na interação dos homens, em sua tradição, valores e cultura, que o sujeito constitui-se, transforma-se e modifica o meio no qual está inserido. A presença da família na educação dos filhos é imprescindível para o desenvolvimento psíquico, moral e intelectual. A família e a escola emergem como duas instituições fundamentais para desencadear os processos evolutivos das pessoas, atuando como propulsoras ou inibidoras do seu crescimento físico, intelectual, emocional e social (DESSEN e POLONIA, 2007, p. 22). Considerando o meio sociocultural fundamental no desenvolvimento e na aprendizagem do indivíduo, Vygotsky (1996) descreve diferentes tipos de desenvolvimento ou domínios genéticos - o filogenético (desenvolvimento da espécie humana), o ontogenético (desenvolvimento do indivíduo), o sociogenético (história dos grupos sociais) e o microgenético (aspectos psicológicos do sujeito) – que possibilitam compreender como se dá o processo de construção do conhecimento evidenciando que a aprendizagem é uma via de mão dupla. Assim, falar da escola como espaço de propagação da cultura requer compreender os sujeitos que nela participam como atores de uma história, de uma cultura e de um modo de vida particular. 4 Neste aspecto, definir a educação como um processo social regido por valores e normas que constituem a sociedade, é pensar também na atuação da família e da escola neste processo educacional, pois, ainda hoje, a família é caracterizada como a primeira instância responsável por impor normas e valores sociais e culturais à criança e a escola por dar continuidade a esse processo, mas principalmente transmitir o conhecimento acadêmico. Este ensino tem enfatizado os resultados da aprendizagem, utilizando-se de propostas e estratégias homogêneas independente muitas vezes da idade, experiências, ritmos e origem social de seus sujeitos. O PSICÓLOGO SOCIAL ESCOLAR: REFLEXÕES CRÍTICAS EM SUAS INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS Uma das principais implicações educativas da denominada Psicologia Social Escolar refere-se à defesa intransigente de um modo de pensar que não se entrega diante das facilidades de um raciocínio condicionado a permanecer na superfície do dado imediato. Ao contrário, a Psicologia Social Escolar postula uma operação dialética do pensamento, que ensina a ler as entranhas de cada objeto analisado. Assim, o dado particular contém dentro de si não só suas idiossincrasias, mas também as relações sociais, materiais e históricas que são responsáveis, tanto por sua essência como por sua aparência. Os espaços educativos têm um caráter institucional permeável, tanto em sua aparência (estrutura física, modelos de professores, etc.), quanto em sua essência (ideologia, comportamentos, relações interpessoais, etc.), que permite ações conservadoras (no sentido de manter o status quo vigente do modelo neoliberal) e transformadoras (no sentido de buscar novas formas de combate às injustiças do sistema vigente), tal como alertam Bourdieu e Passeron segundo análise de Swartz (1981), assim como, Paulo Freire (1990), entre outros pensadores do movimento educativo. O espaço educativo, por si só, é contraditório, dialético, e nele se estrutura um modelo reprodutor e informativo do conhecimento e um modelo crítico, histórico, político e social que pode 5 permitir ao aprendiz ser mais criativo, capaz de transformar e ampliar o conhecimento atual. Posto isso, surge-nos a seguinte questão: como a Psicologia pode contribuir com ações inovadoras, transformadoras e significativas para o alunado? Segundo Bock (2001), as teorias psicológicas, ao conceberem a escola como instituição isolada da sociedade, criou um dos seus principais problemas. A escola deve fazer a mediação entre o indivíduo e a sociedade, e não se tornar uma instituição fechada, destinada a proteger a criança dessa mesma sociedade. O conhecimento psicossocial deve ser trabalhado de forma natural, não preconceituosa e como arcabouço intelectual que pode preparar a comunidade escolar a lidar com a realidade social de forma discernente. Com um olhar mais social, cabe ao psicólogo escolar desenvolver, junto às comunidades escolares, intervenções psicossociais que atentem aos aspectos sócio-históricos que fazem parte do universo humano e que contribuem para o desenvolvimento de um sujeito mais consciente, crítico, ético, sensível e autônomo. Essas intervenções devem ser fruto de uma relação dialética estabelecida entre o sujeito atendido e o sujeito que atende, o que implica formar um contexto que possibilita a transformação de ambos, colocando-os num 6 movimento emancipatório, sendo capazes de lidar com os conflitos escolares que surgem. Desse modo, as ações desenvolvidas a partir da intersecção Psicologia Escolar versus Psicologia Social podem produzir, na comunidade escolar, a articulação das realidades objetiva e subjetiva que se processam dialeticamente, que consideram o sujeito e suas relações - subjetivas ou objetivas - com a coletividade. Sob essa perspectiva teórico-prática, a comunidade escolar passa a ser vista como dinâmica e pode, necessariamente, ser transformada em sua subjetividade, estabelecendo uma estrutura crítica na qual é capaz de visualizar os limites que são impostos pelo pensamento liberal à escola na sociedade pós- moderna capitalista. O projeto de uma Psicologia Escolar Social deve ser mediado por ações transformadoras (pensamentos críticos ecriativos, relações igualitárias, convivências pacíficas) e interiorizado como projeto individual, tomado como forma de consciência e inconsciência das pessoas que convivem no espaço escolar, pois essas questões não são apenas incorporadas por interesses coletivos abstratos, mas por algo que resgata o prazer individual. Em suma, a Psicologia Social Escolar não dicotomiza o bem-estar coletivo e o prazer individual: ambos fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Lugar incômodo cabe, portanto, ao psicólogo social escolar, sem prerrogativa de instituir uma ingerência sobre a comunidade escolar; sua função é capacitar a população para construir meios para estabelecer novas práxis na compreensão de suas lutas e problemas. O esforço na busca por um pensamento mais dialético, na tentativa de melhor compreender a comunidade escolar é, portanto, um dos objetivos do psicólogo escolar. A práxis estabelecida a partir disso possibilita à população escolar ser senhora de seus atos e deixa o psicólogo livre de impor intervenções prepotentes, dominadoras e individualizantes à comunidade escolar. Cabe a esse profissional, juntamente com a comunidade escolar, identificar as contradições, evidenciar a estrutura concreta e simbólica dos 7 conflitos escolares e viabilizar propostas de intervenções alternativas e realistas, que permitam a participação de todos os interessados na capacitação para lidar com os problemas surgidos. Harmonicamente, Bleger (1984) projeta a função do psicólogo que intervém em instituições como um educador que educa e é educado, concomitantemente, pelas experiências das pessoas. Sua intervenção e pesquisa se desenvolvem a partir da demanda da instituição. Dessa forma, o psicólogo, na comunidade escolar, deve rever suas posições profissionais em busca de práticas inovadoras, que contam com a participação da população escolar, são emprenhadas como práxis da atuação do psicólogo escolar. O projeto do psicólogo deve se constituir a partir da criação de espaços de reflexão para a comunidade escolar (professores alunos, pais, direção, funcionários) em centros educativos formais (escolas) e informais (Ongs, comunidades estruturadas, centros de atendimento a jovens, etc.). As ações desenvolvidas devem ter uma penetração social e afetiva mais profunda junto aos jovens. Nesses espaços de reflexão, a comunidade escolar capacita-se para tomar decisões e buscar soluções criativas para muito de seus problemas. Desafios como a perversão da sexualidade, as relações interpessoais, a violência urbana e doméstica, políticas escolares, preconceitos étnicos, falta de acesso à escola, à oportunidade de lazer, opção de vida, convívio familiar, relação com a comunidade, divisão de renda, educação diferenciada, ignorância, sociedade classista, drogadição facilitada, violência econômica (bens de consumo inacessíveis, mas desejáveis), abandono, etc., poderão ser temas de reflexões mais apuradas. Tais temas denunciam a falácia e a hipocrisia da sociedade que se diz encontrar-se às portas de uma nação desenvolvida, igualitária, fraterna e libertária e não repressiva, porém que se mostra moralista, preconceituosa e com um dos piores índices de pobreza, de analfabetismo e de divisão de renda. Tais desafios devem ser trabalhados através de técnicas psicológicas (intervenções grupais, orientações breves, exercícios de dinâmicas, etc.) em espaços físicos de reflexão grupal, permitindo à comunidade escolar 8 desenvolver visões mais apuradas e críticas das estratégias individuais e sociais para sobreviverem em sociedade. As estratégias, necessariamente, serão analisadas historicamente, macro e micropoliticamente (resgatando os aspectos objetivos e subjetivos que constroem o sujeito), e recriadas, no sentido de construir intervenções criativas e críticas para que essas mesmas estratégias contribuam na criação e recriação - num movimento dialético - de ações psicossociais condutoras de uma história projetada e desejada - uma história que tenham o homem como seu principal construtor. Desenvolver espaços de reflexão grupais, nos quais os problemas psicossociais serão discutidos com a comunidade escolar de forma crítica, ampla, depurados de preconceitos, servirão para reestruturar uma ética humana que respeita a subjetividade individual e social da população em geral e, concomitantemente, a faz conviver com as normas sociais ainda vigentes, mas não descartando o desejo de transformá-las no sentido de torná-las mais justas e comprometidas com uma sociedade mais igualitária. O projeto da Psicologia Social Escolar deve ser útil à população brasileira que, cada vez mais, insere-se no mundo da criminalidade, renega os estudos, é descartada no mundo do trabalho tecnológico, não é capaz de lidar com problemas da realidade social contemporânea (frustração, desemprego, opressão, cobrança, competição, etc.), não é capaz de desenvolver ou compreender uma ética social na qual o respeito pelo outro, a aceitabilidade das minorias e as lutas pelos direitos civis se desvencilham do cotidiano. Em suma, espera-se que a Psicologia Social Escolar contribua para o bem estar, para o desenvolvimento de uma consciência crítica, renovadora, racional e transformadora do homem. 9 FAMÍLIA E EDUCAÇÃO O meio familiar é considerado um dos primeiros ambientes de socialização do indivíduo. Segundo Dessen e Polonia (2007), é também a primeira instituição social que, em conjunto com outras, busca assegurar a continuidade e o bem estar dos seus membros e da coletividade, incluindo a proteção e o bem estar da criança. Independentemente do arranjo familiar, esta instituição é indispensável para a sobrevivência e evolução dos indivíduos, ou seja, é fundamental no desenvolvimento da pessoa, influenciando comportamentos, formas de viver e de se relacionar com o mundo. O papel da família no processo educativo vai além da responsabilidade de inserir o indivíduo em uma determinada instituição escolar. Segundo Soares (2010, p.4), Considerando que os pais são os primeiros mediadores entre a criança e o mundo, eles influenciam diretamente nas relações desta com a escola e, portanto, na sua aquisição de conhecimentos, competências e habilidades. O diálogo entre pais e filhos, o ensinamento de valores e a cumplicidade diante das dificuldades são elementos que fortalecem ainda mais as relações familiares. Além disso, a participação na tomada de decisões da escola e nas atividades voluntárias são outras formas de parceria entre as duas instituições que contribuem para o desenvolvimento do aluno. A esse respeito, uma campanha realizada em 2015 pela Companhia Bic no Colégio Santo Amaro – Rio de Janeiro, intitulada “Escrevendo e estudando junto com você” demonstrou que o 10 rendimento dos alunos que contam com a ajuda dos pais no processo de aprendizagem é mais elevado que o rendimento dos alunos em que a família não auxilia, o que evidencia a importância dos responsáveis na vida escolar dos filhos. Conforme explicitado, a presença da família e da comunidade no contexto escolar garante melhorias ao desempenho do indivíduo. No entanto, alguns fatores levam os pais a se ausentarem deste processo provocando consequências que são sentidas por alunos e profissionais da educação, como por exemplo, a reafirmação da ideia de fracasso escolar enquanto um fracasso do aluno e da escola, isentando os pais da responsabilidade pela educação dos filhos, a transformação no comportamento e nas relações interpessoais dos educandos e a crescente medicalização de crianças e adolescentes diante de diagnósticos descuidados e deterministas. A falta de tempo para ouvir e falar, o estresse do dia a dia, o acúmulo de responsabilidades e até mesmo a falta de assunto são os motivos que levam os pais a se ausentarem do processo educativodos filhos. Muitas vezes eles se esquecem que os filhos precisam da presença, do contato e do diálogo, não só para o desempenho escolar, mas para a vida. Dessa forma, a família passa para a escola a responsabilidade de instruir e educar seus filhos e espera que os 11 professores transmitam valores morais, princípios éticos e padrões de comportamento, desde boas maneiras até hábitos de higiene pessoal (LOPES, 2009, p.2). A escola, enquanto instituição de ensino socialmente consolidada, tem a função de desenvolver atividades, articular conhecimentos culturalmente organizados, possibilitar a apropriação de experiências acumuladas e fomentar o pensamento, a ação e a interação com o mundo. Além disso, deve oferecer condições necessárias para que o educando e o educador recebam constantemente qualificação diária em seu exercício de atuação, proporcionando mudanças na qualidade de vida dos agentes envolvidos. Para Paulo Freire (1987, p. 68), ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Partindo da compreensão de que o homem é um constructo sócio histórico capaz de influenciar e ser influenciado pelo mundo, tem-se que a família e a escola constituem os principais ambientes de influência das pessoas. Quando a parceria entre a família e a escola é falha o desenvolvimento do indivíduo tende a ser pouco eficiente. Segundo Oliveira (2010, p. 17), Além das consequências anteriormente citadas é frequente a patologização do aluno que foge as normas escolares. Crianças e adolescentes que não correspondem a expectativa escolar e/ou familiar são alvos de diagnósticos deterministas que visam a normatização dos indivíduos. Consequentemente, tem-se que os comportamentos humanos são entendidos no abstrato, como se sempre tivessem se apresentado da mesma forma, desconsiderando a relação dialética de produção da sociedade e do próprio homem (EIDT e TULESKI, 2007, p. 243). Entre as principais diagnoses encontradas no contexto escolar está o TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, responsável pelo aumento significativo da medicalização de crianças e adolescentes. Segundo Eidt e Tuleski (2007, p.225) este transtorno é um fenômeno complexo que envolve fatores macroestruturais e não apenas 12 psicodinâmicos, genéticos ou individuais, sendo assim, não deve-se analisar somente o comportamento do indivíduo em determinado contexto, mas sobretudo, o próprio contexto. Medicar maciçamente estas crianças é uma maneira de transferir o fracasso do coletivo para o individual É preciso considerar que a ausência da família na escola também decorre de questões inerentes à dinâmica e a estrutura pedagógica da escola. A falta de um projeto político pedagógico bem estruturado, claro e condizente com a realidade da comunidade contribui para essa dissociação. Além disso, ao convocar os pais para o ambiente escolar, muitas vezes, o que se pretende é apenas informar, ficando a escuta para segundo plano, confrontando o caráter democrático que a escola, enquanto local de transmissão de conhecimentos e valores, deve possuir. Frente a essa dificuldade de comunicação entre a escola e a família é que a presença do psicólogo se faz importante. AS RELAÇÕES DA FAMÍLIA COM A ESCOLA NO BRASIL Tanto a família, como a escola são instituições que passaram por mudanças em nossa sociedade, nos últimos tempos. Não é apenas a família que deve ser posta em análise; a escola, que representa o segundo momento de socialização da criança, também vem sofrendo mudanças, ainda que seja possível pensar que a escola não mudou na mesma proporção que a família. A perspectiva histórica da família atual destaca que as responsabilidades educacionais dos pais frente à escola estão ligadas às transformações culturais ocorridas na sociedade. A escola parece estar substituindo práticas educativas da família, não porque assim deseja, mas porque a família parece não cumprir sua função. A família atual, para Chechia (2002), pode estar incorporando diferentes significados sobre a escola, os quais parecem indicar a possibilidade de um novo perfil para a relação família-escola. Os significados históricos e socialmente produzidos nesta relação são subsídios apropriados na construção do universo escolar da criança. Contudo, é fundamental considerar que a cultura da família estabelece um sistema de 13 hábitos instituídos e generalizados em relação à escola, e também é verdade que cada família, de acordo com seus conhecimentos e hábitos, gera diferentes hábitos e conhecimentos aos filhos e estes compartilham originalmente dos valores e atitudes dos pais, valores e atitudes que serão mais tarde substituídos pelos da escola ou com ela compartilhados. De um modo geral, a família pode ser considerada uma instituição com um espaço pelo qual os filhos atingem as expectativas de papel, os valores e as atitudes sociais e educacionais, por meio das relações interpessoais com os pais. Dentro da família se estabelece uma rede de comportamentos, atitudes e valores, e isso permite tanto aos filhos como aos pais, formarem relações positivas ou negativas com a escola. Dessa forma, a escola pode estabelecer uma relação também positiva ou negativa, conforme vivencia as experiências com a família de seus alunos, já que seguramente ela é a segunda instituição mais importante no que tange às relações sociais. Decorrente disso, a escola pode ainda formar conceitos positivos ou negativos da família, ou até mesmo prejulgar as atitudes desta por desconhecer que a família pode parecer igual na composição, mas distinta na ação com a escola. Esse aspecto pode gerar uma crença de que a família não respeita a educação escolar, o que não é fato generalizado, já que em muitas famílias existe o respeito pela escola. Autores como Fraiman (1997) e Nogueira & Nogueira (2002) comentam que a crença de que a família não esteja cumprindo suas metas educacionais parece justificar a preocupação da escola em expandir serviços de bem-estar social. E, como observa Carvalho (2000), é importante chamar a atenção para o alcance da política escolar sobre a família, e especialmente sobre as mães, explicitando de que forma ela, a política, articula implicitamente escola e família como instâncias educativas. Um dos pontos fundamentais da relação família-escola é a origem de uma "nova história social" da família, a qual revela uma nova concepção de infância e de educação, que colabora para o surgimento de uma nova família. Por exemplo, o filho, no contexto familiar atual, deixa de ser considerado um pequeno adulto, e passa a ser uma pessoa com novos atributos, com necessidade de 14 brincar, ser amado e compreendido. Essas mudanças de significado na educação familiar também trazem mudanças no significado da educação escolar, uma vez que esta busca resposta para soluções de problemas não- vividos antigamente, de acordo com Ariès (1978); Lasch (1991), Dias (1992) e Cunha (1996). Neste momento histórico atual da família, observa-se ainda que a mesma parece alegar despreparo e falta de informação para se envolver nos assuntos escolares. Por um lado, a escola persiste em buscar o envolvimento dos pais; por outro, os pais, de maneira independente das intenções, manifestam, de acordo com suas experiências, formas próprias de lidar com os filhos e respectivas obrigações para com a escola. Na verdade, conforme Perez (2000), família e escola ainda parecem inquietas e perplexas diante dos problemas escolares. Como cita a autora, o modelo de parceria família-escola pressupõe a típica família de classe média, cuja mãe se dedica exclusivamente aos filhos e ao lar. Porém, o fato mais grave é que este modelo de família já não é mais predominante. Decorrente disso, podemos entender que a relação família-escola é um processocomplexo e, de acordo com Lareau (1987) o modelo atual de família desenvolve de uma forma intensa a responsabilidade dos pais em relação aos filhos. Para a autora, “estes últimos funcionam como um espelho onde os pais veem refletidos os acertos e erros de suas concepções e práticas educativas, os quais costumam se fazer acompanhar de sentimentos de orgulho ou, ao contrário, de culpabilidade” (p.7). Dessa forma, se a família vem adentrando no espaço escolar, a escola também, por sua vez, se introduziu consideravelmente na zona de interação com a instituição familiar. Por conseguinte, os pais assumem muitas responsabilidades em relação à vida escolar do filho. Ainda conforme Lareau (1987) os pais são responsáveis pelos sucessos e insucessos (escolares, profissionais) dos filhos, assumindo a tarefa de instalá-los da melhor forma possível na sociedade. Descreve a autora que, para isso, mobilizam um conjunto de estratégias visando a elevar ao máximo a competitividade e as chances de sucesso do filho, sobretudo face ao sistema escolar, o qual, por sua vez, ganha importância crescente como instância de legitimação individual e de definição dos destinos ocupacionais. 15 Tornando quase impossível a transmissão direta dos ofícios dos pais aos filhos, a atividade profissional passa cada vez mais por agências específicas, dentre as quais a mais importante é, sem dúvida, a escola. Portanto, questionamos até que ponto as atitudes da família com a escola constituem uma parte central na relação família-escola atual? Chechia (2002) e Perez (2007) sugerem que elas estão intimamente ligadas com os valores subjacentes da época, pelos quais valorizam a escola mediante as experiências vividas. Recomendam as autoras que qualquer esforço para mudar a relação família-escola deve levar em conta os valores da família. Além disso, enfatizam uma relação direta entre as atitudes desta e o comportamento que ela realmente adota em determinadas situações escolares. Valores, atitudes e mudança de comportamento da família com a escola pertencem ao modelo atual de vida familiar. O que unifica essa nova relação é o modo que a família trata a vida escolar do filho. Além disso, como relatado anteriormente, tal relação atualmente está intimamente ligada à cultura social da época. Por exemplo, a cultura da família em geral e sua experiência, ensinaram- lhe as maneiras de se relacionar com a escola. Logo, as atitudes, valores e comportamentos familiares com a escola são adquiridos ou aprendidos na sociedade. Então, o que na atualidade realmente define tal relação? Garcia e Souza (2004) definiram-na como uma união entre as duas instituições, em que ambas podem receber experiências, avaliar e atuar com base em informação claramente definidas tanto para a família, quanto para a escola. Desse modo, observamos que, na relação família-escola definida pelas autoras, não há interesse pela criança. E ainda relatam que as famílias precisam aprender a linguagem da escola, principalmente a burocrática. A escola precisa entender e aceitar a linguagem da família, na maioria das vezes inculta e rudimentar. Concluem que, no momento em que a família e a escola puderem se perceber e se aceitar, provavelmente, o relacionamento entre elas será bem-sucedido. Pensando como uma construção histórica e social, a relação família- escola no Brasil se traduz, conforme Bertan (2005), na necessidade de se estabelecer as conexões de tais instituições com o contexto histórico, social, 16 político, econômico e ideológico da realidade, porque as maiorias dos recursos humanos, atuantes na rede pública, não se conscientizaram da dimensão abrangente do social. Ainda de acordo com o autor acima, atualmente se processam muitas discussões a respeito de uma gestão democrática da escola pública, da educação, da cidadania e das formas participativas no cotidiano escolar. Bertan (2005, p. 3) relata que “o espaço físico e político passou a ser considerado como local privilegiado para os encontros e os debates desse processo”. Contudo, explica o autor, “a escola ainda não abriu espaços necessários à participação da família, mesmo para aqueles que convivem diariamente no seu interior” (p.3). Conclui o autor que, de certa forma, parece que a escola busca empregar uma estrutura de exclusão do aluno e da família. Quando os pais são chamados à escola, ou quando a buscam voluntariamente, às vezes, são tratados de modo orgulhoso ou com paternalismo, impedindo qualquer possibilidade reivindicatória considerada como algo natural. Sendo assim, como podemos determinar o que é mais importante para a relação família-escola, se ao produzimos alguns sentidos para a família, estamos deixando de lado os da escola? Tais indagações causam-lhes, ao mesmo tempo, alívio e tensão, pois é essa a incógnita que permeia a educação escolar dos filhos. Dizemos que nos causa alívio, pelo fato de ser importante refletir e sentir aquilo que provavelmente a escola sente ao receber os pais, mesmo que não compreenda os pressupostos da família; tensão, pelo fato de olharmos a família como um analista que tenta desvendar seus comportamentos e interpretá-la sob um único ponto de vista. Isso significa que a relação família-escola, na atualidade, deve pressupor um novo diálogo. Assim, não se pode mais pensar em uma instituição separada da outra, mas considerar que ambas são distintas em seus valores e atitudes. Dando prosseguimento ao que estamos dizendo, de acordo com Garcia e Souza (2004), as famílias divergem umas das outras quanto a modelos educativos. As autoras narram que “os professores parecem esquecer-se disso quando culpam os pais e a desestruturação familiar pelo fracasso escolar da 17 criança” (p.69). Entre os aspectos mais significativos para a escola está o fato de a mesma considerar a família burguesa o paradigma de família “bem- estruturada”. Entretanto, esse modelo está longe da realidade, principalmente na quase totalidade das famílias de crianças de escola pública. Considerando ainda essa questão do conceito que a escola forma sobre a família, Chechia (2002) relata que a “família parece ser vista como uma instituição importante, mas complexa, por muitas escolas” (p.86). Como relata a autora, atualmente a escola vem julgando a família, por exemplo, pela falta de envolvimento, dentre outros aspectos, sem procurar entendê-la no seu contexto. Outro aspecto importante relatado por Chechia (2002) é o fato de muitos professores acharem mais fácil culpar a família por aquilo que ela não faz, do que refletir sobre qual é a família do seu aluno, qual o contexto em que vivem os seus membros e como percebem a escola de seus filhos. O que é preciso considerar, nessas observações é, se de fato poderíamos dizer se, no discurso da família, a mesma está ou não preocupada com a escola. Ela pode não estar produzindo o valor que a escola espera, mas, ao seu modo, a família considera a escola no âmbito das suas preocupações. A relação família- escola, segundo Perez (2007), tem em si uma carga avaliativa, conforme a atuação de ambas. Por exemplo, é comum observar-se o julgamento da escola sobre uma relação frágil, quando o aluno apresenta insucesso. Já não é tão comum esse julgamento com famílias de alunos com sucesso escolar O ENVOLVIMENTO DOS PAIS NA ESCOLA: UMA CULTURA DE PARTICIPAÇÃO Partindo da possibilidade do envolvimento dos pais com a escola, Schargel (2002) faz uma importante observação com relação ao apoio da escola para o envolvimento, descrevendo estratégias que possibilitam o desenvolvimento de uma cultura de envolvimento com a aproximação dos pais, tais como: superação de barreiras - o treinamento da convivência com a diversidade propicia também um ambiente de acolhimento aos diferentes níveis de competência e estilos de aprendizagem dos alunos; respeito aos perfiseducacionais dos membros da família, em geral, os pais e responsáveis sentem- se distantes da escola por causa das próprias experiências negativas; incentivo 18 à participação ativa com flexibilidade de horário, as escolas podem incentivar a participação dos pais, investigando quando podem participar de reuniões, em vez de somente divulgar os horários que convêm à escola; visitas domiciliares às famílias e aumento e ampliação da comunicação com o uso da tecnologia, as escolas que preenchem a lacuna digital de forma criativa têm condições de prestar maior apoio às famílias. Torna-se assim importante oferecer um serviço por meio do qual as famílias possam ter fácil acesso à escola. Algumas pessoas não sabem ler, daí a importância da comunicação por áudio e vídeo; desenvolvimento de sólida base Lar-Escola- Comunidade. Conclui o autor que é necessário para o desenvolvimento de uma cultura de envolvimento abranger, além dos pais e das famílias, também as comunidades, a partir de projetos de aprendizado de serviço. O envolvimento dos pais com a escola não é um ritual que se reserva apenas para tratar de assuntos escolares relacionados ao desempenho acadêmico, nas reuniões de pais. Ele vai além e, de acordo com Hughes (1999), é um modo de participação que inclui vários elementos acerca dos assuntos da escola, os quais permitem desenvolver uma cultura de participação que deve ser vista como um processo permanente de equilíbrio da relação família-escola. Comenta o autor que, quanto mais cedo os pais se envolverem com a escola e com processo educativo do filho, o seu efeito parece ser mais poderoso. Para o autor, o apoio e a participação dos pais são as formas mais importantes para melhorar a escola e o desempenho escolar do filho. Conforme os dados da 19 pesquisa de Hughes (1999), o envolvimento dos pais melhora a freqüência às aulas, a motivação da aprendizagem, a auto-estima e diminui a agressividade do filho. Quanto mais os pais participarem nos assuntos escolares, de uma forma sustentada, em todos os níveis, tais como: administração, tomada de decisões e de supervisões de atividades, levantamento de fundos e assessoramento às tarefas escolares, melhor será o desempenho e adaptação escolar do filho. ATUAÇÃO E INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR Para Martinez (2009), os compromissos que os psicólogos que trabalham nos contextos educativos têm com a educação brasileira podem evidenciar-se de diferentes formas, como por exemplo, o engajamento com a transformação dos processos educativos e com a efetivação das mudanças necessárias que demanda a melhoria da qualidade da educação no país. Ou seja, assim como a Pedagogia, a Psicologia atua como um mecanismo de transformação da realidade social. Para realizar um trabalho junto a pais, professores e alunos, o psicólogo pode atuar através de diversas perspectivas, seja na elaboração e coordenação 20 de projetos educativos, na análise e intervenção a nível institucional no que diz respeito à subjetividade social da escola, seja na contribuição para a coesão da equipe pedagógica e para a sua formação técnica, bem como para a caracterização da população escolar. Além disso, compete a esse profissional realizar pesquisas diversas com a finalidade de aprimorar o processo educativo e facilitar de forma crítica, reflexiva e criativa a implementação de políticas públicas. No que concerne a orientação dos pais, essa intervenção implica ações de aconselhamento em função das necessidades específicas do desenvolvimento do educando. Portanto, ao psicólogo em contexto escolar cabe atuar em parceria com os profissionais da instituição a fim de analisar as necessidades dos alunos e da comunidade, procurando construir um projeto político-pedagógico coeso com a especificidades do meio no qual a instituição se encontra. Além disso, deve-se realizar avaliações psicopedagógicas para possibilitar a resolução das principais queixas escolares, unindo ainda mais escola e família em prol do desenvolvimento pleno da criança e do adolescente. INTERVENÇÕES E ESTRATÉGIAS O psicólogo deve proporcionar um espaço de escuta e diálogo entre professores, alunos, pais e coordenadores, em que se possa criar o vínculo escola-família, e que neste “lócus” participem todos que formam a totalidade da escola através da democratização de medidas e intervenções a serem realizadas. Destaco a importância do alunado, visto que estes normalmente não participam das reuniões, sendo “segregados” de um contexto em que estão diretamente implicados. Obviamente que o aluno não participará de todas as reuniões, mas acredito que é interessante também criar um espaço de escuta para que estes se sintam envolvidos, motivados e responsabilizados. Promover um trabalho de conscientização junto aos professores sobre a necessidade da criação de um vínculo mais significativo entre pais e mestres, facilitando a criação de estratégias de orientação aos pais e elucidando a dinâmica do trabalho com os alunos em sala de aula, de modo a proporcionar a 21 extensão deste trabalho em casa. O objetivo crucial desta proposta é quebrar o paradigma de que pais somente devem manter contato com a escola apenas nas reuniões escolares, ou, quando o aluno/filho apresenta rendimento escolar insatisfatório, ou, ainda, quando existe a queixa de “comportamento inadequado”. Neste ínterim, sensibilizar quanto a tarefa dos pais e sua participação na construção dos valores morais, princípios éticos e imposição de limites aos seus filhos, promovendo e facilitando a desconstrução de que a tarefa de educar é função exclusiva da escola. Favorecer o cultivo de uma gestão democrática e flexível na pratica de habilidades de interesse social, pois sendo a escola um ambiente sociocultural, tem o dever de promover não somente a formação científica, mas também prover a formação do cidadão consciente, questionador, promovedor de mudanças e de valores imprescindíveis para a preparação moral na vida integrada em sociedade. Trabalhar de maneira preventiva todas as questões a partir de um olhar investigador e empático, através de trabalho de campo que envolvem os problemas daquela instituição. Deste modo, a atuação do psicólogo escolar deve proceder preferencialmente antes que o problema se deflagre; O psicólogo escolar não faz psicoterapia, nem realiza psicodiagnósticos dentro da escola. No tocante ao atendimento no âmbito escolar, este identifica dificuldades e encaminha para os profissionais competentes. Além disto, mantém contato com os profissionais envolvidos em tratamento extraescolar, realizando a troca de relatórios para melhor intervenção com o aluno. Este 22 procedimento é importante, pois em casos específicos, facilita o processo de inclusão, fomentando o respeito e aceitação às diferenças na comunidade escolar. OS FOCOS DE INTERVENÇÃO: A ESCOLA, OS PROFESSORES, OS FUNCIONÁRIOS, A COMUNIDADE E OS ALUNOS A fim de compreender todo esse arcabouço técnico e prático que implica as ações do psicólogo na escola, podemos partir da ideia que Novaes (2010) apresenta sobre a identidade do psicólogo ser entendida como algo em construção, cujo objetivo é contribuir efetivamente para melhorar a qualidade das relações na escola, na família e na comunidade, abrangendo sempre o intercâmbio interdisciplinar De acordo com Colomina e Onrubia (2004), a aprendizagem escolar é um processo construtivo de caráter intrinsecamente social, comunicativo e interpessoal; já o ensino é um processo complexo de estruturação e orientação, por meio de apoio e suporte diversos. Diante disso, a aprendizagem do aluno se 23 constrói na relação em sala de aula, onde colegas e professor são figuras essenciais ao resultado final de aprender. O professor é aquele que está diretamente em contatocom o aluno, o que “move” a educação, profissional de suma importância ao desenvolvimento integral do aluno. Acima do professor, encontra-se a gestão da escola com membros responsáveis em nortear, orientar e acompanhar os processos de ensino e aprendizagem, fornecer apoio e suporte aos profissionais da escola em suas dificuldades, favorecer a parceria família-escola, dentre outras funções. A gestão é um recurso para o desenvolvimento das ações que perpassam a escola (CHAGAS, 2010; DUGNANI, 2016). De acordo com Polonia e Dessen (2005), quando a família e a escola apresentam boas relações, o aprendizado e o desenvolvimento do aluno tornam- se maximizados; uma vez que o aluno percebe por parte de seus familiares confiança e valorização àquele contexto de aprendizado. Diante disso, responsáveis e professores devem ser estimulados a buscarem estratégias conjuntas ao seu papel. “A escola deve reconhecer a importância da colaboração dos pais na história e no projeto escolar dos alunos e auxiliar as famílias a exercerem o seu papel na educação, na evolução e no sucesso profissional dos filhos e, concomitantemente, a transformação da sociedade” (POLONIA; DESSEN, 2005, p. 304). A fim de trazer a família para a escola, faz-se necessário a escola reconhecer que a família é contexto efetivo de desenvolvimento e que, muitas 24 vezes, não é por desconhecimento dos responsáveis; a família deve ser valorizada e compreendida na sua essência (POLONIA; DESSEN, 2005). Ainda com foco nas relações presentes no ambiente escolar, encontram- se as relações família, escola e comunidade. São grandes os desafios de se estabelecer e/ou fortalecer a parceria entre a família e a escola. Muitas vezes, a família é vista como a culpada das dificuldades apresentadas pelos alunos em sala de aula, o que dificulta ainda mais a parceria necessária (DUGNANI, 2016). Diante disso, a parceria proposta em uma linguagem clara, simples e compreensível aos responsáveis, considerando o contexto cultural e social, favorece o seu apoio ao desenvolvimento afetivo, social e cognitivo do aluno (POLONIA; DESSEN, 2005). São inúmeras as relações presentes no ambiente escolar, cada uma delas em sua particularidade configura a desafiadora realidade educacional. O psicólogo escolar, juntamente com os membros da gestão da escola, em uma perspectiva de atuação crítica e sistêmica, pode contribuir significativamente para o aprimoramento das referidas relações, favorecendo assim a eficiência e qualidade dos processos educacionais. A relação professor-aluno deve ser efetiva e promotora de desenvolvimento ao aluno, compreendida, portanto, como interatividade, cujas ações de alunos e professoras são conjuntas no processo de aprender. Além disso, o professor deve ser incentivado a favorecer a autonomia dos alunos e motivá-los no engajamento das atividades, implementar atividades cooperativas e auxiliá-los no desenvolvimento social, afetivo e cognitivo. Além disso, ele deve se comprometer com a qualidade da educação e sua proposta de transformação social. Portanto, o psicólogo escolar pode contribuir com reflexões e orientações para o aprimoramento das relações e mudanças gerais na instituição. De maneira geral, tais pressupostos teóricos são desenvolvidos através de atividades direcionadas aos alunos, professores e funcionários, trabalhando sempre em parceria com a coordenação da escola, familiares e profissionais que acompanham os alunos também fora do ambiente escolar. Vamos conhecer as possibilidades de atuação com a escola? 25 Atuando com os professores/equipe escolar: - Promover reflexões e conscientizar papéis representados por toda a equipe escolar (ANDALÓ, 1984). - Promover e/ou coordenar atividades de desenvolvimento profissional: treinamentos especializados, grupos vivenciais e de troca de experiência e valorização profissional (CRP-PR, 2007). - Identificar contradições, evidenciar conflitos escolares e viabilizar propostas de intervenções que permitam participação de todos os interessados na capacitação para lidar com os problemas surgidos (ALVES; SILVA, 2006). Atuando com os alunos: - Planejar e criar espaços de reflexão para trabalhar suas relações a partir da escuta do que pensam, sentem e percebem sobre a escola e as pessoas (ANDRADA, 2005b). - Elaborar, desenvolver e acompanhar projetos de apoio à construção da identidade do aluno (autoestima, socialização, disciplina) e participação social (conscientizar sobre os papéis sociais e cidadania) (CRP-PR, 2007). Atuando com a comunidade escolar: - Capacitá-la para tomar decisões e buscar soluções criativas para seus problemas (sexualidade, relações interpessoais, violência, preconceitos, entre outros). Tais desafios podem ser trabalhados através de técnicas psicológicas (intervenções grupais, orientações breves, dinâmicas etc.), possibilitando o desenvolvimento de visões mais críticas e de estratégias individuais e sociais para sobreviverem em sociedade (ALVES; SILVA, 2006). - Desenvolver palestras e atividades de educação e prevenção (desenvolvimento acadêmico e biopsicossocial, limites, relacionamentos, estimular a relação família e escola, prevenção ao uso de álcool e outras drogas, educação sexual etc.) (CRP-PR, 2007). - Participar de atividades que auxiliem a escola na busca pelo fortalecimento do vínculo família-escola (CRP-PR, 2007). 26 E para finalizar: - Vale ainda destacar que o psicólogo escolar, de maneira abrangente, exerce os papéis de consultor, orientador, professor e pesquisador ao planejar programas educacionais que tenham com finalidade o desenvolvimento e a qualidade do processo ensino-aprendizagem. É importante também propor o desenvolvimento de intervenções psicossociais com a comunidade escolar, criando um espaço de convivência (relações interpessoais e violência) através de intervenções grupais/dinâmicas, cujo objetivo seja capacitar para a tomada de decisões e busca de soluções acerca dos conflitos escolares. Enquanto agente de mudança dentro da escola, o psicólogo escolar promoverá reflexões e conscientizará os papéis de cada pessoa da equipe escolar. 27 REFERÊNCIAS ALVES, C. P.; SILVA, A. C. B. Psicologia Escolar e Psicologia Social: articulações que encontram o sujeito histórico no contexto escolar. Psicologia da Educação, n. 23, p. 189-200, 2006. ANDALÓ, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 4, n. 1, p. 43-46, 1984. ANDRADA, E. G. C. Focos de intervenção em psicologia escolar. Psicologia Escolar e Educacional (Impr.), Campinas, v. 9, n. 1, p. 163-165, 2005b. CHAGAS, J. C. 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