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AS DIFICULDADES NA RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Eisthen Galvão de Oliveira, Enmily Ferreira dos Santos¹
Mary Jane Santos da Silva Soares²
	
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo mostrar quais as dificuldades para a inserção das famílias no contexto escolar e o que isso pode ocasionar no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. A metodologia utilizada foi do tipo exploratória, onde buscou-se por meio de uma revisão da literatura, autores que abordem o tema proposto. Como resultado pode-se observar que há uma grande dificuldade na inserção das famílias no contexto escolar, devido ao fato de haver desavenças entre ambas as parte, onde a escola culpa a família pelo fracasso escolar dos alunos e a família reclama dos meios abordados pelas escolas, pois as mesmas só buscam reclamar de seus filhos e não lhes atribuem responsabilidades para que as mesmas possam fazer parte da vida acadêmica de seus filhos.
Palavras-chave: Família. Escola. Relação entre família e escola.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Silva et al. (2015), é perceptível que grande parte das famílias não interagem com a escola de seus filhos, e as escolas, também, com grande frequência, não procuram ter uma relação mais próxima com as famílias, centrando-se somente com o que acontece dentro da instituição, esquecendo-se de que o bom comportamento e aprendizado da criança depende muito de sua vida afetivo-familiar.
Neste aspecto, Piaget (2007) afirma que uma relação estreita e ininterrupta entre os professores e os pais leva a uma ajuda mútua e em um constante aperfeiçoamento dos métodos utilizados. O autor cita que pode haver uma divisão de responsabilidade ao aproximar a escola da vida dos pais e proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola.
Benitez (2008) alega que a escola e a família dividem a responsabilidade de preparar as crianças e os adolescentes para a vida em sociedade. O papel da escola é o de dar uma direção ao indivíduo, aperfeiçoando-o para executar com afinco a sua cidadania e desenvolver um senso crítico, convertendo-se um ser capaz de transformar a realidade em que vive.
Com base no exposto, este trabalho tem como justificativa, de acordo com Nogueira, Romanelli e Zago (2011), o fato de que, no Brasil, ainda não existe propriamente uma tradição de pesquisas sobre o tema do relacionamento que as famílias mantêm com a escola.
Neste sentido, Christovam e Cia (2016) citam a importância da abrangência da família e as evidências científicas de que uma relação mais regular com escola é positiva para a elaboração de práticas de ensino mais favoráveis para a melhoria das condições necessárias ao desenvolvimento da criança. Os autores salientam ainda sobre a importância da realização de pesquisas sobre esse tema, identificando elementos que estabelecem a relação da escola e da família, e constatando como se dá o envolvimento dos pais na escolaridade dos filhos.
Diante do exposto, o objetivo deste artigo é mostrar quais as dificuldades para a inserção das famílias no contexto escolar e o que isso pode ocasionar no processo de ensino-aprendizagem dos alunos.
As demais seções que compõem este trabalho serão descritas a seguir: Seção 2 traz o referencial teórico utilizado para contextualizar a problema. Na etapa 3 mostra-se o tipo de metodologia utilizada e, por fim, na seção 4 são apresentados os resultados encontrados a respeito do tema trabalhado.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A Família
De acordo com Bronfenbrenner (2011), a família é o principal ambiente de desenvolvimento humano, onde acontecem os primeiros contatos sociais da criança. Nela se introduz a aprendizagem de conceitos, regras e práticas culturais que apoiam os processos de socialização dos indivíduos.
Referente a este assunto Bock et al. (2009) afirma que:
A família é o primeiro grupo social do qual a criança faz parte e o seu primeiro meio de socialização. As mudanças culturais produzidas na modernidade produzem e enfatizam diariamente as dificuldades que a família atual enfrenta na sua função de transmissora da cultura. Para incorporar esses instrumentos culturais, a criança precisa da relação com o outro, criando assim um vínculo para que haja um espaço ideal de aprendizagem. 
Berry e O’Connor (2010) relatam, que apesar do ambiente familiar ter um papel essencial para os indivíduos, as crianças começam a crescer e sair desse cenário e passam a fazer parte de outros contextos que lhes possibilitam novas experiências socioemocionais e cognitivas essenciais para o seu desenvolvimento saudável.
E é nessa fase que adentra-se o contexto escolar, onde, segundo Silva (2010):
A história da relação escola-família intersecta as histórias da educação familiar e escolar. A educação familiar, mais antiga do que a escolar, na medida em que aquela sempre terá existido, foi assumindo diferentes formas e modalidades (nem todas eventualmente ainda hoje conhecidas) conforme o momento histórico e o tipo de sociedade. Tudo indica que a educação, no período anterior ao da emergência da instituição escolar, era então essencialmente informal e que os mais novos aprendiam em boa parte por imitação, ou seja, por tentativa e erro, derivados da observação das práticas dos mais velhos. Estávamos então ainda longe do advento da escrita (SILVA, 2010).
A partir de certo ponto na vida do indivíduo a escola passa a fazer parte do seu cotidiano e por um longo período de tempo é o ambiente onde há mais interação entre o indivíduo e o meio que ele habita, por esse motivo faz-se necessário contextualizar o ambiente escolar.
2.2 O Contexto Escolar
Segundo Pianta, Nimetz e Bennet (1997), a escola é o segundo contexto que grande parte das crianças convive diariamente, representando um espaço de cordialidade social, no qual são realizadas as interações com os pares e com os professores. O’Connor e McCartney, (2006) afirmam que após a entrada da criança na escola, os alunos passam a ver na figura dos professores uma fonte de segurança e apoio emocional, o que colabora e muito para a adequação desses estudantes ao novo ambiente.
Sobre a figura do professor, Maldonado-Carreño e Votruba-Drzal (2011) citam que:
A presença dos professores é transitória na vida dos alunos, raramente resultando em interações duradouras como as que ocorrem com os familiares. Porém, devido ao seu papel de cuidador durante todo um ano letivo, o relacionamento professor-aluno constitui-se como um processo proximal que ocorre no ambiente escolar, podendo atuar como preditor do desenvolvimento de competências e disfunções nas crianças.
Maldonado-Carreño e Votruba-Drzal (2011) ainda afirmam que quando o relacionamento entre o educador e o educando acontece de maneira positiva, isso acarreta na melhoria do comportamento e no desempenho escolar dos alunos. Berry e O’Connor (2010) asseguram que, ao passo que os estudantes vão avançando nos anos escolares, a importância do relacionamento professor-aluno se tornar constante e favorável para o desenvolvimento do mesmo. 
Referente a este assunto, Zullig, Koopman, Patton e Ubbes (2010) definem essa interação do indivíduo com o ambiente escolar como clima escolar, o qual se refere a diferentes aspectos da vida na escola, desde os aspectos físicos até os sociais, não se limitando a experiências individuais dos estudantes, dos educadores ou de pessoas da comunidade.
Para Cohen et al. (2009), o clima escolar se refere:
 Não apenas às interações sociais, mas aos múltiplos aspectos da escola como normas, metas, valores, qualidade dos relacionamentos interpessoais, práticas de ensino e aprendizagem e estruturas organizacionais da escola. Esses aspectos se baseiam nas experiências prévias das pessoas e refletem a qualidade e as características do cotidiano escolar.
Neste contexto, Petrucci, Borsa e Koller (2016) caracterizam o clima escolar com os múltiplos aspectos da escola, que podem influenciar direta ou indiretamente no desenvolvimento socioemocional dos alunos. Eles chegaram a essa conclusão analisando alguns fatores, tais como: a qualidadedos relacionamentos interpessoais dos alunos com os pares ou com os professores, as normas e metas da escola ou o modelo de ensino adotado pelos professores e o envolvimento dos pais dos alunos com os professores.
Bento, Mendes e Pacheco (2016) relatam que escola pode ser entendida como uma estrutura fundamental ao indivíduo, na qual são desenvolvidas todas as experiências de socialização, prolongando o processo educativo familiar, nestes termos que a escola e a família devem procurar estreitar a relação e trabalhar em conjunto de forma a promover as melhores experiências educacionais possíveis aos alunos.
Castro e Regattieri (2009) veem a escola como:
Um espaço destinado à formação do indivíduo, a escola tem um papel de enorme importância no seu desenvolvimento, enfocando convicções e princípios que influenciarão no seu comportamento na vida social. Portanto, torna-se importante que ela conheça os seus alunos e suas respectivas famílias, suas características, particularidades e trajetória de vida. Só assim, os educadores poderão medir o êxito de suas ações, identificando demandas, refletindo dentro da realidade de cada aluno e formulando propostas pedagógicas de acordo com essa realidade. 
2.3 A Relação entre a escola e a família
Silva et al. (2015) afirmam que a partir do século passado, escola e família passaram a dividir responsabilidades sobre a educação dos alunos, em que as mesmas devem criar condições para que o aluno possa assimilar conhecimentos e se desenvolver física e psicologicamente. Logo, a família e a escola devem se unir em função do desenvolvimento intelectual e do bem-estar emocional dos estudantes.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9294/96) é de extrema importância a participação da família na escolaridade dos filhos (BRASIL, 1996). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também deixa claro o direito dos pais ou responsáveis em participar dos processos pedagógicos e das propostas educacionais, e o dever de matricular seus filhos na rede regular de ensino (BRASIL, 1990).
Oliveira, Marinho e Araújo (2010) citam que:
O envolvimento da escola com as famílias dos seus alunos traz grandes benefícios para a formação da identidade e a aquisição da autonomia, fazendo com que se sintam amparados, tanto pelo professor quanto pelos pais, que passam a conhecer melhor as suas necessidades e assumam o compromisso de desenvolver metas que vão intervir positivamente nos resultados de todo o seu processo de aprendizagem. 
 	Neste aspecto, Silva et al. (2015) relatam que a família é vista como o espaço adequado para o desenvolvimento humano, e a escola é, pelo ponto de vista da sociedade, uma extensão da família, devendo ser pensada como uma autoridade mediadora entre as gerações e a cultura acumulada, pois é por meio dela que se formam cidadãos críticos e conscientes para ingressarem nessa sociedade.
Epstein (2011) garante que uma boa parceria entre família e escola pode melhorar o processo de aprendizagem e os resultados acadêmicos, possibilitando a prevenção de problemas de comportamento, faltas e abandono escolar e estimulando o seguimento dos estudos em nível superior.
Silva et al. (2015) asseguram que:
Um bom entendimento entre família e escola deve sempre permear qualquer trabalho de cunho educativo que tenha como principal objetivo o aluno, para que sejam estudadas e trabalhadas as suas realidades e limitações, comungando dos mesmos ideais, de maneira a superarem dificuldades que são motivos de angústia tanto dos profissionais como dos pais. Transmitindo total segurança ao aluno, dando a ele confiança e espaço para discutir assuntos relacionados à sua aprendizagem, possibilita uma reciprocidade de sentimentos, um respeitando o espaço do outro, pois o desenvolvimento humano acontece quando há o envolvimento de todas as partes, sendo influenciado por vários fatores: emocionais, psicológicos, ambientais, dentre outros.
Segundo Guzzo (1990), a família é responsável pela socialização primária e a escola pela socialização secundária dos educandos e, por isso, é necessária uma boa comunicação entre família e escola para beneficiar as conquistas acadêmicas e o sucesso do estudante. Guzzo (1990) afirma ainda que o envolvimento da família é importante não apenas para a melhoria do processo escolar do aluno, mas, também, para um desenvolvimento no ambiente familiar, influenciando positivamente o curso do crescimento da criança.
De acordo com Marcondes e Sigolo (2012), os professores acreditam que o envolvimento dos pais é necessário para auxiliar nas tarefas de casa e acham importante a presença deles em reuniões e eventos festivos. Iunes et al. (2010) citam que os pais entendem como envolvimento a sua ajuda na organização do cotidiano dos filhos, o auxílio nas tarefas de casa, apoio às iniciativas da escola e o favorecimento de condições para o desenvolvimento dos estudos.
Paro (2001) assegura que umas das formas de envolver os pais nos assuntos da escola é por meio dos conselhos escolares, pois estes dão acesso ao poder na tomada de decisões, e pode ser entendido como uma ferramenta de gestão que articula os interesses da escola e da comunidade. Porém, os professores relatam que, embora a escola tenha os conselhos e associações, os pais não são participativos.
Epstein (1992) define o envolvimento familiar como:
Uma aliança formal e um acordo contratual entre a família e a escola. Esta parceria se estabelece por meio de esferas sobrepostas de influência, ao incluir pais e professores como parceiros, que compartilham responsabilidades e interesses, trabalham com objetivos e direções comuns, com vistas ao desenvolvimento do aluno, partilhando dos benefícios do investimento conjunto.
2.4 Dificuldades ao Inserir a Família no Contexto Escolar
Segundo Castro e Regattieri (2009), uma das principais dificuldades na inserção da família no contexto escolar é que, em muitos casos, essa interação não é cordial, pois falta, em primeiro lugar, orientar as famílias no sentido de apresentar a elas a importância de um acompanhamento mútuo de seu filho. O ato de aproximar-se das famílias, com o objetivo de formar uma parceria, deve ser iniciado pelos docentes, que são os representantes do saber, uma vez que muitos pais não possuem habilidades para tal, por serem analfabetos ou, simplesmente, por desconhecerem os caminhos que os conduziriam a uma relação mais próxima com a escola de seus filhos.
Silva et al. (2015) não concordam com a colocação de Castro e Regattieri, pois, para eles, a escola não deve assumir sozinha a responsabilidade dessa relação, porque isso faria com que as famílias se tornassem meras expectadoras, o que criaria uma relação totalmente superficial. Os autores citam que tanto a família como a escola têm objetivos distintos, mas se complementam a partir do momento em que compartilham a mesma tarefa, que é a de preparar os indivíduos para sua total inserção na sociedade, visando sua formação crítica e participativa.
Silva (2010) mostra a relação conflituosa entre família e escola quando faz a seguinte pergunta:
Mas afinal, o que a escola espera da família? A esta é concedida o direito de opinar, de ajudar na busca de soluções, de contribuir na melhoria do ambiente escolar, ou somente o que se espera é a sua ajuda financeira, o reforço no dever de casa e a orientação de como se comportar em sala de aula? À família são impostos certos limites, como por exemplo, no campo pedagógico, destinado somente aos especialistas da área. Há um conflito instalado no cerne destas duas instituições. A escola reclama que a família não participa da vida escolar do aluno, deixando essa tarefa unicamente por conta dos professores; e a família reclama que não vai a reuniões porque a professora só sabe reclamar do filho (SILVA, 2010).
Silva (2010) declara ainda que os professores culpam a família pelo fracasso escolar de seus filhos, impondo-lhes cobranças que muitas vezes acabam por afastá-los da escola, principalmente as famílias mais humildes, pois se sentem incapazes de sanartais exigências. 
Neste contexto, Castro e Regattieri (2009) afirmam que colocar a culpa na família pelo mau desempenho do aluno não vai ajudar a resolver os problemas. Ao contrário, família e escola devem se unir para que juntas possam identificar quais são as reais necessidades da criança e ajudá-la nesse processo, para que ela possa se sentir amparada. Pois, de acordo com Silva et al. (2015), muitas vezes, os pais não têm condições de encontrar as dificuldades do filho e precisam de ajuda para isso. A sala de aula, por ser um espaço de interação, facilita a identificação dessas dificuldades.
Nesse sentido, Andréa e Patrícia (2013) garantem que um aluno com problemas pode mostrar dificuldades de interação com os colegas, desenvolver sentimentos de inferioridade e um desinteresse permanente em realizar as atividades solicitadas. Neste aspecto, torna-se necessário mostrar a importância da interação da escola com a família, que quando estável, permite aos envolvidos um constante vigiar sobre a criança, fazendo com que o seu desenvolvimento no processo ensino-aprendizagem seja equilibrado.
Oliveira (2010) afirma que: 
Apesar de a família ter seu campo de atuação limitado no ambiente escolar, a escola, por sua vez, julga-se apta e no direito de entrar nos problemas domésticos e ajudar a resolvê-los. No seu entendimento, a família está por trás do sucesso e também do fracasso do aluno. Os professores reclamam que por conta da desestruturação que a família sofre nos dias atuais, a escola se vê obrigada a assumir um papel que não lhe pertence, pois o que o aluno vive em casa reflete no seu aprendizado em sala de aula. “As famílias que não se enquadram no suposto modelo desejado pela escola são consideradas as grandes responsáveis pelas disparidades escolares”. (OLIVEIRA, 2010).
Segundo Castro e Regattieri (2009), na prática, a aproximação da escola e da família tem sempre como objetivo a reafirmação de regras e as cobranças em que somente a escola julga-se capaz de efetuar. E essa frequente discussão acaba afastando as famílias da escola, pois os pais se sentem incapazes de caminhar em situação de igualdade para orientar o filho.
O ponto de vista de Silva et al. (2015) sobre esse assunto é que os pais e professores mostram-se incertos quanto às suas responsabilidades. Apesar de terem um objetivo comum, que é o bom desempenho escolar dos discentes, acreditam ter obrigações diferentes quanto à educação escolar. Para os pais, caberia a eles preparar o filho para receber tal educação; e aos professores a função de se responsabilizar totalmente por essa educação.
Nas pesquisas de Oliveira e Marinho-Araújo (2010) em escolas particulares, no Estado do Paraná, comprovou-se que alunos do Ensino Médio veem de forma negativa essa relação conflituosa entre família e escola. Visto que os pais são chamados ao colégio somente para serem cobrados quanto às notas baixas dos filhos e/ou quanto ao mau comportamento, o que causa uma indignação aos alunos, pois reclamam que o contrário nunca acontece, ou seja, os pais serem chamados porque os filhos fazem jus a um elogio por boas notas ou por bom comportamento.
Silva et al. (2015) citam que esses problemas só poderão ser resolvidos por meio do diálogo e do empenho mútuo na busca de soluções, e essa tão esperada parceria família-escola será fortalecida e colocada em prática.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Este artigo trata-se de uma pesquisa de natureza aplicada, pois segundo Barros e Lehfeld (2000), a pesquisa aplicada tem como motivação a necessidade de produzir conhecimento para aplicação de seus resultados.
Em relação ao objetivo da pesquisa, ela é do tipo exploratória, o que proporciona uma visão geral sobre o fato estudado, pois, de acordo com Gil (2008), o objetivo das pesquisas exploratórias é proporcionar maior familiaridade com o problema. Utilizou-se para a fundamentação teórica uma pesquisa bibliográfica.
Para o levantamento de dados utilizou-se o cruzamento dos seguintes descritores/palavras-chave: Relação Família e Escola. Os critérios de inclusão foram: idioma em português; a limitação de data de publicação dos artigos foram do ano de 2015 a 2019; artigos de fontes primárias, secundárias ou de revisão que respondessem ao objeto do estudo, isto é, relação entre família e escola; e em termos de disponibilidade selecionou-se artigos on-line e com acesso gratuito.
Para maior aprofundamento e detalhamento, os artigos que abordavam o tema proposto foram registrados em tabelas contendo as seguintes informações: título, autores, objetivos, metodologia, ano de publicação e repositório/periódico.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 A Família e a Escola no Desenvolvimento Socioemocional na Infância
Petrucci, Borsa e Koller (2016) fizeram uma revisão não sistemática da literatura onde buscaram mostrar os impactos da relação da escola e da família no desenvolvimento socioemocional das crianças. Os autores relacionaram vários trabalhos principalmente de autores americanos, visto que, trabalhos no contexto brasileiro sobre esse assunto são escassos. Entre os trabalhos encontra-se os seguintes autores:
Wang e Dishion (2011) investigaram possíveis efeitos de moderação do clima escolar na associação entre afiliação a pares desviantes e problemas de comportamento durante o segundo ciclo do ensino fundamental. O clima escolar foi avaliado por meio de quatro dimensões: apoio acadêmico, gestão de comportamento do aluno, apoio social dos professores e apoio social dos pares. Como resultado, observou-se que os alunos que receberam maior apoio social dos professores apresentaram maior conexão com a escola, menor risco para o estresse emocional e maior frequência de comportamentos socialmente aceitos.
O estudo de Loukas et al. (2010) teve como um dos objetivos investigar o efeito independente e interativo do vínculo dos alunos com a escola, e da qualidade dos seus relacionamentos intrafamiliares sobre o desenvolvimento de problemas de conduta na adolescência. Como resultado, observou-se que o vínculo com a escola contribuiu para a diminuição dos problemas de conduta ao longo do tempo. Além disso, reduziu os efeitos da baixa qualidade dos relacionamentos intrafamiliares sobre os problemas de conduta em meninos e em meninas.
A pesquisa de Silver et al. (2005) avaliou o efeito único e interativo de fatores da criança, da família e da escola na trajetória de comportamentos externalizantes na sala de aula, em estudantes do início do ensino fundamental. O estudo mostrou que a afinidade no relacionamento com os professores atuou como fator de proteção para crianças com alto nível de problemas de comportamento no início da trajetória escolar. O relacionamento com os professores promoveu um contexto de suporte emocional para as crianças, contribuindo para o sucesso na transição para a escola.
O estudo desenvolvido por Hopson e Lee (2011), por exemplo, investigou a influência do clima escolar sobre a associação da pobreza na família com as médias escolares e com os problemas de comportamento dos adolescentes. Nesse estudo, o clima escolar referiu-se à percepção dos estudantes acerca de fatores como qualidade da escola, sentimento de conexão com a escola e relacionamento com os adultos da escola. Os resultados indicaram que a percepção do clima escolar atuou como moderador apenas para os problemas de comportamento dos alunos.
Apesar de os estudos relatados terem sido realizados principalmente nos Estados Unidos e de os seus resultados não poderem ser generalizados para outras culturas, eles oferecem indicativos da significância da família e da escola para o desenvolvimento socioemocional na infância.
4.2 A importância da relação escola-família para a aprendizagem e a intervenção psicopedagógica 
O trabalho de Silva et al. (2015) teve como objetivo analisar questões referentes à relação família-escola, com enfoque na importância da intervenção psicopedagógica; as abordagens a respeito dos entraves que podem acarretar na aprendizagem das crianças e as expectativas dos envolvidos nessa parceria e utilizaramcomo metodologia a revisão da literatura. Os autores fizeram várias abordagens sobre a importância da família no contexto escolar. E que essa relação família e escola é complicada, pois a família, devido o decorrer das suas atribuições diárias deixa de participar da vida acadêmica de seus filhos e explicam que deixam de ir em reuniões escolares porque os professores só reclamam de seus filhos, e a escola acaba culpando a família pelo fracasso escolar da criança.
Com resultado desta pesquisa os autores chegaram à conclusão de que há uma certa dificuldade da família e da escola em administrar as suas diferenças. A família reclama que a escola foca somente o lado negativo do aluno, rotulando-o imediatamente após um mau comportamento ou uma dificuldade na realização de alguma tarefa, não buscando informações relevantes que muitas vezes resolveria o problema de maneira mais rápida e tranquila. A escola reclama que a família não atende aos seus apelos, ficando à margem das situações-problema, não assumindo sua parte nessa parceria. Essa total falta de sintonia entre família e escola causa uma falência no sistema educacional, pois, onde era para existir uma parceria, existe uma adversidade, fazendo com que o aluno, muitas vezes, se sinta disputado e, ao mesmo tempo, desprotegido.
4.3 Os estudos sobre a Relação Família-Escola no Brasil: uma revisão sistemática
Junges e Wagner (2016) fizeram uma revisão sistemática da literatura sobre a relação entre família e escola no Brasil, o levantamento bibliográfico feito pelos autores resultou em 31 artigos que foram analisados sob o ponto de vista metodológico e temático. Os artigos refletem a obscuridade peculiar à temática. Os autores observaram que há lacunas no conhecimento que se tem produzido no Brasil e, também, sobre quais são os principais métodos, amostras e instrumentos utilizados. Tão pouco estão claros quais os principais temas abordados e a partir de que perspectiva teórica os estudos tem sido realizados.
A temática foi subdividida pelos autores nos seguintes pontos: a) A importância de boas relações entre família e escola; b) Famílias; c) Envolvimento; d) Formas de comunicação; e) Reuniões de pais/ responsáveis; e) Presença das mães.
Com relação as essas subdivisões, verificou-se que a grande maioria dos artigos analisados discute a importância e as dificuldades em se definir o envolvimento das famílias com a escola, muitas vezes desde o início da mesma. No aspecto envolvimento, alguns trabalhos relataram que o envolvimento dos familiares tem efeitos positivos na vida acadêmica dos filhos. Referente à comunicação entre escolas e famílias, alguns autores citam que esta vem sendo preferencialmente exercida nas formas tradicionais, isto é, por meio de bilhetes em cadernos ou agendas, conversas breves na entrada ou na saída da escola, encontros em datas comemorativas e a partir do principal canal de comunicação: as reuniões de pais.
No aspecto reuniões com pais ou responsáveis, estudos mostram que os progenitores criticaram as reuniões, afirmando que são superficiais, o tipo de comunicação usada é unilateral, são hierarquizadas, sem trocas, sem participação da família, sem confiança ou respeito e, sobretudo, não discutem aspectos importantes. E os autores revelam que a maioria dos responsáveis que participam de forma mais assídua nas escolas são as mães. 
Assim, a literatura brasileira em seu panorama atual parece refletir em um primeiro momento, que remete ao diagnóstico das dificuldades na relação entre escola e família, com foco naqueles aspectos que não estão funcionando e não favorecem uma parceria satisfatória.
4.4 Relação Escola‐Família: Participação dos Encarregados de Educação na Escola
Bento, Mendes e Pacheco (2016) fizeram um estudo sobre a relação entre a escola e a família, e como isso pode ser fator para o sucesso acadêmico, social e emocional dos alunos. Utilizaram como metodologia o tipo qualitativo, onde fizeram entrevistas semiestruturadas com encarregados de educação. Os autores buscaram perceber qual o nível de participação dos pais na escola e qual a percepção deles sobre a influência da sua participação para o sucesso dos filhos, e quais os obstáculos para esta participação.
Em uma revisão da literatura os autores mostraram as vantagens e os obstáculos para uma boa relação entre a escola e a família. Como vantagens, citam o fato do sucesso dos alunos estar profundamente relacionado com a participação da família na escola, e com a colaboração dos pais com os professores. E como obstáculos, relatam que os pais trabalham, então, não têm um horário flexível para participar das reuniões; relatam, ainda, que os pais também reclamavam pelo fato de as reuniões não terem informações muito relevantes e que só os chamavam na escola para reclamarem de seus filhos.
Como resultado desta pesquisa, os autores afirmam que os sujeitos consideram importante a participação da família na escola e reconhecem que esta presença influencia o desenvolvimento escolar dos alunos, pois valoriza as aprendizagens de todos os agentes educativos. Além disso, os entrevistados entendem que a participação na escola mantém os pais a par do desenvolvimento dos filhos e dos trabalhos realizados, facilitando a continuidade no trabalho em casa e favorecendo as situações de aprendizagem. Alguns entrevistados asseveram que a atuação dos pais na vida acadêmica dos filhos incentiva os alunos a alcançarem resultados mais positivos, tornando‐se mais interessados, felizes e responsáveis, denotando uma valorização da escola e dos professores, pois o desenvolvimento global dos alunos depende da comunidade educativa.
5. CONCLUSÃO
 	A produção científica sobre a relação família-escola no Brasil, ainda demonstra certa fragilidade metodológica, remetendo muitas vezes a conclusões genéricas, que não aprofundam ou avançam em relação ao tema. Entretanto o objetivo deste artigo foi discutir a importância da família e da escola para o desenvolvimento socioemocional na infância com base em estudos empíricos selecionados por meio de revisão não sistemática da literatura. Salientou-se o relacionamento da criança com os pais e com os professores, os quais, de acordo com o modelo Psico-biológico, são considerados como processos proximais fundamentais para desenvolvimento humano. Abordou-se 
Também de que modo o relacionamento professor-aluno e o clima escolar podem atuar como fatores de proteção para estudantes que se encontram em condições de vulnerabilidade individual ou familiar.
	Considerando que a família e a escola compartilham as funções de educação e de socialização na infância, é importante que sejam investigados os efeitos individuais e interativos de diferentes fatores desses contextos para o desenvolvimento das crianças. Destaca-se o papel central dos processos proximais, com os relacionamentos da criança com os pais e os professores, os quais são fundamentais para o desenvolvimento de comportamentos adaptados ou não adaptados, uma vez que possibilitam a interação da criança com o ambiente.
	Dentre as limitações deste estudo, evidenciaram-se a ausência de sistematização na revisão de literatura e a escassez de estudos empíricos nacionais que pudessem embasar às informações apresentadas. Não obstante demonstrou-se que os fatores famílias e da escola precisam ser investigados conjuntamente de modo a serem utilizados em favor do desenvolvimento adaptado e em prol de políticas públicas que visem à promoção do desenvolvimento global da criança. Não se pretende transferir a responsabilidade das famílias para às escolas nem vice-versa. Todavia ao se pensar na função de socialização das crianças compartilhadas por família e escolas, preconiza-se que ambas devem estar preparadas para atuarem quando necessário, principalmente quando uma das duas falharem.
	Para que este desafio seja superado é necessário o desenvolvimento de pesquisas que invistam no conhecimento da relação família-escola, por esta razão, defende-se a importância de novas investigações que procurem conhecer as práticasque norteiam e a atuação dos profissionais que nela estão envolvidos, a fim de oportunizar a reflexão e implementação de novas possibilidades de intervenção que promovam mudanças significativas na relação família-escola.
	
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1 Eisthen Galvão de Oliveira, Enmily Ferreira dos Santos
2 Mary Jane Santos da Silva Soares
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (PED2353) – Prática do Módulo I - 27/06/2019

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