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1 OS EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DO TRIPTOFANO NA ANSIEDADE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA1 Beatriz Brito Marques de Mendonça² Nayane Azevedo de Araújo² Fabiana Maria Coimbra de Carvalho Serquiz³ RESUMO O comportamento alimentar pode ser bastante afetado pelas emoções, visto que as suas escolhas alimentares, as quantidades ingeridas e a frequência das refeições dependem de vários fatores, sendo um deles as emoções e não apenas as suas necessidades fisiológicas . Desta forma, é possível afirmar-se que aquele sofre alterações de acordo com o estado emocional. Um dos estados emocionais que mais exerce influência sobre o comportamento alimentar é a ansiedade, que surge quando o sujeito entende que, de uma perspectiva mais cognitiva, se encontra perante uma ameaça ou em perigo. Nesse contexto, estudos associaram a patologia aos sistemas neurotransmissores que aparecem em disfunção, mais especificamente o L-Triptofano (TRP), que se trata de aminoácido essencial aromático, cuja principal função é ser precursor do neurotransmissor Serotonina ou 5- Hidroxitriptamina (5-HT). Diante disso, com base nos dados de estudos científicos, a atual pesquisa teve como finalidade analisar por meio de uma revisão integrativa a influência da suplementação de TRP na ansiedade. Assim, obedecendo aos seguintes critérios de inclusão, os artigos foram selecionados considerando os que mencionaram triptofano (“tryptophan”), L-triptofano (L-tryptophan), ansiedade (“anxiety”), humor (“mood”), emocional (“emotional”), sendo combinados pelo operador booleano “AND”, que estivessem indexados nas bases de dados pré-selecionadas, que fossem publicados em inglês e português entre 2010 e 2022, estivessem disponíveis na íntegra e o tipo de artigo se enquadrasse como ensaio clínico ou teste controlado e aleatório. Ao final da pesquisa, foram encontrados 34 artigos na plataforma Pubmed, contudo foram excluídos 26 desses estudos por serem artigos que fugiam do foco do tema proposto, não relacionando o uso do triptofano na melhora da ansiedade/humor, restando 8 artigos de pesquisa. Na plataforma do Google Acadêmico foram encontrados 2.780 resultados, mas apenas 2 artigos se encaixavam nos critérios de pesquisa, sendo os demais descartados por se tratar de revisões integrativas ou por não abordar de forma clara o assunto requerido. Dessa forma, 10 estudos se enquadraram nos critérios de inclusão declarados. Verificou-se que os mecanismos do triptofano (TRP) acontecem através do seu consumo/suplementação, onde ele é hidroxilado ao intermediário 5-hidroxitriptofano, e assim, nos neurônios ele passa pelo processo de descarboxilação, transformando-se em 5-HT. Evidencia-se também que o TRP reduz visivelmente os níveis de ansiedade como também auxilia na melhora do humor, pois resulta no aumento da atividade serotoninérgica e na redução dos níveis de cortisol. Palavras-chave: Triptofano (TRP), L- Triptofano, Ansiedade, Humor, Serotonina (5-HT) 1Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção de nota para conclusão do curso de Nutrição. ²Graduanda em Nutrição pela Universidade Potiguar. E-mail: biabritu@gmail.com ²Graduanda em Nutrição pela Universidade Potiguar. E-mail: nayaneazevedo98@gmail.com ³Orientadora Nutricionista clínica e esportiva funcional. Mestre em Nutrição. Doutora em Bioquímica. Professora da Universidade Potiguar. E-mail: Fabiana.serquiz@ulife.com.br 2 THE EFFECTS OF TRYPTOPHAN SUPPLEMENTATION ON ANXIETY: AN INTEGRATIVE REVIEW ABSTRACT Eating behavior can be greatly affected by emotions, since their food choices, the amounts ingested and the frequency of meals depend on several factors, one of them being emotions and not just their physiological needs. In this way, it is possible to say that it undergoes changes according to the emotional state. One of the emotional states that most influence eating behavior is anxiety, which arises when the subject understands that, from a more cognitive perspective, he is faced with a threat or in danger . In this context, studies have linked the pathology to neurotransmitter systems that appear in dysfunction, more specifically L-Tryptophan (TRP), which is an aromatic essential amino acid whose main function is to be a precursor of the neurotransmitter Serotonin or 5-Hydroxytryptamine (5-HT). Therefore, based on data from scientific studies, the current research aimed to analyze through an integrative review the influence of TRP supplementation on anxiety. Thus, according to the following inclusion criteria, the articles were selected considering those that mentioned tryptophan, L-tryptophan, anxiety, mood, emotional, being combined by the Boolean operator “AND”, that were indexed in the pre-selected databases, that were published in English and Portuguese between 2010 and 2022, were available in full and the type of article fit as a clinical trial or randomized controlled test. At the end of the research, 34 articles were found on the Pubmed platform, however, 26 of these studies were excluded because they were articles that were outside the focus of the proposed theme, not relating the use of tryptophan to improve anxiety/mood, leaving 8 research articles. In the Google Scholar platform, 2,780 results were found, but only 2 articles fit the search criteria, and the others were discarded because they were integrative reviews or because they did not clearly address the required subject. Thus, 10 studies met the stated inclusion criteria. It was found that the mechanisms of tryptophan (TRP) occur through its consumption/supplementation, where it is hydroxylated to the intermediate 5-hydroxytryptophan, and thus, in neurons it goes through the decarboxylation process, turning into 5-HT. It is also evidenced that TRP visibly reduces anxiety levels as well as helping to improve mood, as it results in increased serotonergic activity and reduced cortisol levels. Keywords: Tryptophan (TPR), L-tryptophan, Anxiety, Mood, Serotonin (5-HT) 3 1. INTRODUÇÃO O comportamento alimentar pode ser bastante afetado pelas emoções, visto que as suas escolhas alimentares, as quantidades ingeridas e a frequência das refeições dependem de vários fatores, sendo um deles as emoções e não apenas as suas necessidades fisiológicas (LOURENÇO, 2016). Desta forma, é possível afirmar-se que aquele sofre alterações de acordo com o estado emocional. Um dos estados emocionais que mais exerce influência sobre o comportamento alimentar é a ansiedade, que surge quando o sujeito entende que, de uma perspectiva mais cognitiva, se encontra perante uma ameaça ou em perigo (BARLOW et al., 2015). Os transtornos ansiosos apresentam como sintomas reações fisiológicas, como taquicardia, sudorese ou tontura, falta de memória e atenção, irritação, desespero, excesso de preocupação, retraimento social, diminuição do rendimento escolar ou profissional (SOUZA, 2013). Estudos associam a patologia aos sistemas neurotransmissores que aparecem em disfunção (ROWLAND; PEDLEY, 2011). Estes correspondem a substâncias químicas mensageiras que enviam sinais pela fenda sináptica entre as células nervosas encontradas em todo o corpo humano. Um dos motivos para diminuir, distorcer ou cessar a transmissão dos sinais nervosos é seu nível alterado (GUYTON; HALL, 2011). Os neurotransmissores são formados a partir de aminoácidos, vitaminas e cofatores minerais. A maioria dos neurotransmissores do Sistema Nervoso Central (SNC) é sintetizada a partir de aminoácidos que são obtidos pela dieta. O L-Triptofano (TRP) é um aminoácido essencial aromático, cuja principal função é ser precursor do neurotransmissor Serotonina ou 5-Hidroxitriptamina (5-HT). Com o aumento da produção da 5-HT nas células neurológicas, promove-se uma diminuição da 5-HTproduzida e degredada organicamente no intestino (OLSZEWER, 2008). O TRP é obtido através da dieta porque não pode ser sintetizado pelo organismo (SOH & WALTER, 2011); e, como resultado, “fatores dietéticos que influenciam os níveis sanguíneos de TRP e outros aminoácidos podem modificar a sua captação no cérebro e, consequentemente, a taxa de formação de serotonina” (FERNSTROM, 1985). No entanto, o consumo dietético de TRP tem sido questionado como tendo um efeito na ansiedade, depressão ou humor, especialmente em indivíduos saudáveis (FERNSTROM, 2013; SOH & WALTER, 2011; WURTMAN & WURTMAN, 1995). Diante disso, com base nos dados de estudos científicos, a atual pesquisa teve como finalidade analisar por meio de uma revisão integrativa a influência da suplementação de TRP 4 na ansiedade. Tal investigação justifica-se para conhecimento e interpretação da produção sobre o tema com a finalidade de contribuir para o desenvolvimento de futuras pesquisas. 2. METODOLOGIA Sendo assim, considerando a importância de discutir sobre “os efeitos da suplementação do TRP na ansiedade”, o presente artigo propõe abordar essa temática por meio de uma revisão sistematicamente organizada e integrativa. As revisões do tipo integrativas compõem-se em seis etapas, em que primeiramente decide-se a hipótese ou a pergunta do estudo. Posteriormente, devem-se selecionar os artigos científicos a serem revisados, seguido da categorização e avaliação desses estudos. Assim, a interpretação dos resultados e apresentação da revisão ou da síntese do conhecimento são as últimas etapas desse processo (WHITTEMORE & KNAFL, 2005). Desse modo, para guiar este estudo, elaborou-se a seguinte questão “o TRP tem a capacidade de reduzir/inibir os sintomas da ansiedade?”. Assim, obedecendo aos seguintes critérios de inclusão, os artigos foram selecionados considerando os que mencionaram triptofano (“tryptophan”), L-triptofano (L-tryptophan), ansiedade (“anxiety”), humor (“mood”), emocional (“emotional”), sendo combinados pelo operador booleano “AND”, que estivessem indexados nas bases de dados pré-selecionadas, que fossem publicados em inglês e português entre 2010 e 2022, estivessem disponíveis na íntegra e o tipo de artigo se enquadrasse como ensaio clínico ou teste controlado e aleatório. Em contrapartida, foram excluídos todos os artigos que não atendessem os critérios de inclusão. Acrescenta-se que os artigos foram eleitos utilizando as bases de dados Pubmed, Scielo, Lilacs, Google acadêmico, por meio dos seguintes descritores (Decs): Triptofano, humor, emocional, ansiedade. Para essa seleção realizou-se a leitura dos títulos e dos respectivos resumos, com a finalidade de verificar apropriação do estudo com a questão norteadora levantada para investigação. Ao final da pesquisa, foram encontrados 34 artigos na plataforma Pubmed (Descritores: L-Tryptophan AND mood AND emotional), contudo foram excluídos 26 desses estudos por serem artigos que fugiam do foco do tema proposto, não relacionando o uso do triptofano na melhora da ansiedade/humor, restando 8 artigos de pesquisa. Na plataforma do Google Acadêmico (Descritores: Triptofano E ansiedade) foram encontrados 2.780 resultados, mas apenas 2 artigos se encaixavam nos critérios de pesquisa, sendo os demais descartados por se tratarem de revisões integrativas ou por não abordar de forma clara 5 o assunto requerido. Dessa forma, 10 estudos se enquadraram nos critérios de inclusão resultados. Para a extração de dados dos artigos incluídos foi investigada a sua identificação, características do método abordado nos estudos, avaliação do rigor metodológico, intervenções estudadas e resultados encontrados. A apresentação dos dados e a discussão foram feitas de forma descritiva, possibilitando a aplicabilidade desta revisão na abordagem do TRP sobre a ansiedade. 3. CARACTERIZAÇÃO DO TRIPTOFANO O TRP é um aminoácido essencial, o que significa dizer que o nosso organismo não é capaz de sintetizá-lo, sendo obtido exclusivamente através da alimentação, por meio do consumo de ovos, leite, carnes, peixes, frutos do mar, ameixa, nozes, cacau, soja, cereais, batata inglesa, brócolis, couve-flor, banana, kiwi e tomate (FREITAS et al., 2020). Segundo Lindseth et al. (2015) o TRP, aminoácido precursor da serotonina (“hormônio da felicidade”), possui efeito na regulação do humor e da ansiedade, visto que a baixa concentração de serotonina cerebral é capaz de favorecer o aumento da ansiedade. A serotonina (5-HT) é um neurotransmissor, ou seja, uma substância química que faz com que os neurônios passem sinais entre si, desempenhando diversas funções no sistema nervoso central (SNC), dentre elas a liberação de alguns hormônios que irão regular o apetite, o humor, o sono, temperatura corporal, atividade motora, comportamento sexual e funções cognitivas (memória, atenção e processamento de informações). Os níveis adequados deste neurotransmissor no cérebro dependem da ingestão alimentar de TRP (SEZINI et al., 2014). A concentração plasmática do TRP é determinada pelo balanço entre a ingestão dietética e sua remoção do plasma pela síntese proteica (SEZINI et al., 2014). O TRP é hidrolisado pela ação da enzima triptofano hidroxilase (TPH) em 5-hidroxitriptofano (5-HTP), que é rapidamente metabolizado a 5-HT. A serotonina é armazenada em vesículas sinápticas, nos neurônios serotoninérgicos, até a sua utilização e/ou metabolização em ácido 5-hidroxi- indoleacético (5-HIAA) (GIBSON et al., 2014) A quantidade de TRP disponível no cérebro para conversão em 5-HT depende não somente da quantidade de TRP no plasma, mas também da razão entre TRP plasmático e outros 5 aminoácidos neutros (LNAAs): L-Tirosina, L-Fenilalanina, L-Leucina, L-Isoleucina e L- Valina. Por isso, apenas uma pequena parte do TRP consegue atravessar a barreira hemoencefálica, obtendo o resultado de uma baixa disponibilidade do TRP, em comparação 6 aos outros aminoácidos e, consequentemente, uma baixa produção de serotonina (PÓVOA et al., 2005. Para tanto, a associação com o carboidrato irá estimular a passagem do TRP pela barreira hematoencefálica, favorecendo a relação TRP/LNAAs (HUDSON et al., 2007) Vitaminas do complexo B (B3, B6, B12, B9) e os minerais magnésio e cálcio atuam como cofatores na conversão do TRP para 5-HT de forma satisfatória (OKIGAMI; MONÇÃO, 2011). A vitamina C também será requerida nesse processo, inibindo a conversão do TRP no trato gastrointestinal (OLSZEWER, 2008). 4. CARACTERIZAÇÃO DA ANSIEDADE A ansiedade é considerada um fenômeno bastante presente em nossas sociedades contemporâneas (DADDS et al., 2000). Pode-se dizer que ela se manifesta toda vez que o sujeito se vê ameaçado por eventos que ele sente como perigosos e surge novamente quando a sensação de perigo se repete (FREUD, 1976). Os níveis de ansiedade tendem a aumentar em razão das profundas transformações vividas em nossas sociedades contemporâneas nas últimas décadas do século XX e nessas duas primeiras décadas do século XXI, que impactam fortemente a vida dos sujeitos (LENHARDTK & CALVETTI, 2017). No Brasil, o transtorno de ansiedade se encontra no topo do grupo de doenças que afetam a saúde mental da população nas últimas décadas, ocupando o quarto lugar entre os países que é mais prevalente no mundo, sendo considerada uma doença frequente ao longo da vida. Tendo como fatores determinantes o sexo, sendo mais prevalente entre as mulheres, com o dobro de chances quando comparado aos homens (MANGOLINE et al., 2019). Os indícios e sintomas dos transtornos de ansiedade podem ser descritos como sensações físicas de alterações dos batimentos cardíacos, aceleramento respiratório, diarreia, polaquiúria, ausência de forças nas pernas, relaxamento ou contrações musculares faciais, palidez, temores, sudorese (GOMES et al., 2011). Os sintomas podem serdiferenciados entre somáticos, somáticos atrasados e motores. Nas manifestações somáticas podem se destacar: boca seca, suor excessivo, respiração curta, aumento da pressão arterial, frequência cardíaca acelerada, dificuldade ao respirar e tensões musculares. Já nos somáticos atrasados os sintomas são resultantes de uma tensão ou estimulação contínua, como fraqueza muscular, dores de cabeça, pressão alta e cólica intestinal. Os sinais motores são destacados através de inquietação, dores musculares e o tamborilar dos dedos. Na ansiedade há uma ligação entre os sintomas físicos e psíquicos, onde os sinais físicos 7 aparecem em atribuição das características psicológicas do indivíduo (STRIEDER, 2009; ZUARDI, 2017). É considerada por muitos estudiosos o mal do século, é um estado emocional que está voltado sempre ao futuro. Ela passa a ser patológica quando acontece sem nenhum motivo específico ao qual se direcione. De um modo geral, pode-se diferenciar a ansiedade normal da patológica, fazendo uma avaliação da reação ansiosa, que é de curta duração, autolimitada e relacionada ao estímulo do momento ou não (BERNIK et al., 2011). Segundo as elucidações de Barlow e Durand (2015) a ansiedade é produzida pelas seguintes contribuições: ● Contribuições Biológicas: Existe uma tendência hereditária a suscetibilidade de diversos genes à ansiedade, valendo salientar que a “vulnerabilidade genética” não é prenuncio de problemas com o excesso de ansiedade, mas o meio onde se vive e o estresse podem acionar tais genes. Ela pode ainda está relacionada ao sistema de neurotransmissores noradrenérgicos e serotoninérgicos, onde a serotonina tem um importante papel na sua regulação; ● Contribuições Psicológicas: Quando uma pessoa é privada de viver determinadas experiências de vida em sua infância, devido a superproteção dos pais, por vezes, elas não desenvolvem seu senso de controle e acabam por ficarem mais vulneráveis à ansiedade frente as adversidades que encontram; ● Contribuições Sociais: O estresse causado pelos fatos sociais como, casamentos, pressões no trabalho (ou escola), morte de pessoas queridas, até enfermidades ou lesões, podem desencadear reações emocionais como a ansiedade. Portanto, a ansiedade é acionada por multifatores, desde o estresse da vida cotidiana e pode até ser geneticamente herdada. E quando ela é excessiva ou surge sem causa aparente, pode significar uma maior vulnerabilidade tanto de ordem biológica como psicológica específica e também psicológica generalizada (exagerada), desencadeando assim o transtorno da ansiedade (BERNIK et al., 2011). 5. EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DO TRIPTOFANO NA ANSIEDADE Analisando o efeito da suplementação do triptofano na ansiedade, muitos trabalhos têm apresentado a relação da melhora da ansiedade ocasionada pela utilização da suplementação do mesmo, desse modo como resultado da busca utilizando descritores (DeCS) e MeSH: Triptofano, humor, emocional, ansiedade nas bases de dados Pubmed, Medline, 8 Google acadêmico e Scielo foi possível agrupar 10 estudos que relatassem essas diversas aplicações (Tabela 1). Neste estudo foram incluídos 10 artigos que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos e assim distribuídos nas bases de dados selecionadas nas seguintes bases de dados, PUBMED: 34 artigos com 8 incluídos e Google Acadêmico: 2780 artigos com 2 incluídos. No trabalho de Zanello (2012) foram avaliadas mulheres adultas saudáveis, em que a suplementação de TRP mostrou-se eficaz na melhora da ansiedade, compulsão e diminuição da ingestão alimentar, apesar de não atingir de forma significativa a escolha alimentar das participantes, conseguiu atingir na última semana uma mudança positiva. A ingestão apresentou alteração, sendo diminuída com a utilização de TRP e aumentada com aminoácidos neutros. A variação de serotonina não teve significância estatística, mas gerou uma oscilação esperada, podendo ter influenciado nos resultados. De acordo com o estudo de Kroes et al. (2014), foram apresentados resultados de plasma sanguíneo, questionários subjetivos de humor e atividade cerebral sugerindo coletivamente que os alimentos destinados a aumentar os níveis de TRP e aminoácidos neutros pode melhorar o humor e afetar o processamento neural em neurocircuitos implicados na regulação do humor. Trata-se de um suporte empírico inicial para a suposição comum de que a comida pode melhorar o humor, afetando função cerebral através de um mecanismo mediado pela serotonina. Capello et al. (2014) examinou o efeito da exposição ao estresse, na resposta ao estresse e alimentação emocional após a suplementação subcrônica de TRP em indivíduos diferindo no genótipo 5-HTTLPR e neuroticismo. Os indivíduos foram monitorados para alterações na saliva, cortisol, humor e apetite, bem como ingestão de lanche pós-estresse e preferência. O estudo mostrou que a suplementação repetida de TRP pode prevenir o aumento de apetite induzido pelo estresse, especificamente em portadores de S/S com alto traço N, em decorrência dos efeitos estimulantes do TRP na síntese e liberação de 5-HT hipotalâmica (MARKUS, 2008; OROSCO et al., 2004) e a capacidade da 5-HT hipotalâmica de controlar o apetite (LEI BOWITZ e ALEXANDER, 1998). Em Gonzalez et al. (2021) foi realizada uma análise baseada em polimorfismo da população saudável revelando uma distribuição de resposta diferentes em dois polimorfismos funcionais. Tanto o MAOA quanto o MAOB poliformismos foram identificados como comprometedores da melhoria do humor associada ao TRP. Nesse estudo não foi possível 9 determinar completamente o efeito direto da suplementação de TRP no humor da população, embora houvesse uma tendência geral à melhoria. O trabalho de Lindseth et al. (2014) foi planejado para determinar diferenças em escores de ansiedade, humor e depressão de participantes que receberam dietas com baixos e altos níveis de teor de TRP, sendo constatado que aqueles que consumiram níveis maiores de triptofano tiveram significativamente menos depressão, irritabilidade e ansiedade diminuída em comparação àqueles que consumiram níveis mais baixos de TRP. Esse achado pôde ser explicado por outros resultados que indicam que o triptofano dietético pode afetar os níveis de neurotransmissores da serotonina no cérebro e, por sua vez, influenciar a ocorrência de comportamento depressivo nos participantes (BADRASAWI et al., 2013). Tanto em Feder et al (2010) quanto em Bruce et al. (2009), foi aplicada a depleção aguda de triptofano (ATD), em que é utilizada uma manipulação dietética para produzir reduções transitórias de TRP, aminoácido precursor da serotonina. Os participantes ingerem uma mistura de aminoácido que não contém triptofano, o que induz a produção de proteínas. À medida que o TRP é incorporado às proteínas, seu nível no sangue e nos tecidos diminui acentuadamente e, como resultado, ocorre o declínio na síntese central de serotonina. No primeiro estudo foram analisados jovens adultos sem histórico psiquiátrico, sendo separados em 2 grupos baseados na história familiar; os indivíduos assintomáticos com alto risco familiar para depressão apresentaram anormalidades no processamento emocional durante a depleção de triptofano induzida experimentalmente. No segundo estudo, foram avaliadas respostas bioquímicas e de humor em mulheres bulímicas e não bulímicas, sendo observado que um aumento subjetivo da compulsão após ATD em participantes bulímicas usando medicamentos serotoninérgicos. Firk et al (2009). e Gibson et al. (2014) utilizaram um método que foi desenvolvido para aumentar a disponibilidade de TRP para o cérebro e, assim, potencializar a função da 5- HT, ao administrar proteínas dietéticas hidrolisadas ricas em TRP (HP). O trabalho de Firk et al. (2009) teve por objetivo avaliar o efeito da ingestão de HP sobre o humore estresse em indivíduos adultos saudáveis bem como se os sujeitos com alta reação cognitiva (CR) seriam mais responsivos aos efeitos benéficos da HP. Já no trabalho de Gibson et al. (2014) foi avaliado o efeito da ingestão de HP sobre o humor e funcionamento emocional em mulheres mais velhas, por serem mais propensas a sofrer de ansiedade e depressão ao longo da vida do que os homens e há evidências de que as mulheres podem ser mais sensíveis aos efeitos comportamentais das manipulações de 5-HT. 10 Os resultados encontrados demonstraram um aumento no humor positivo após a administração de HP, em decorrência do aumento substancial na proporção TRP/aminoácidos neutros, que deve aumentar a entrada do TRP no cérebro e, por consequência, estimular a síntese de 5-HT. No último estudo analisado, de Andrade et al. (2018), foi administrado via oral a associação do L-triptofano, ômega 3, magnésio e vitaminas do complexo B para mulheres adultas saudáveis, tendo sido constatada sua eficiência na redução dos sintomas da ansiedade na amostra estudada. Foi utilizada a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) para avaliar a ansiedade em diferentes níveis, correlacionando com o bem-estar emocional, físico e funcional de um indivíduo. Tabela 1 – Resultados da busca de estudos sobre a influência da suplementação de triptofano na ansiedade. Estudo Objetivos Metodologia Resultados Gonzalez et al. (2021) Avaliar a eficácia da suplementação do Triptofano (TRP) na melhora do humor. O estudo foi composto por 138 indivíduos saudáveis, usando o questionário de Perfil de Estados de Humor para determinar os efeitos de uma suplementação diária de 1g de TRP ou PLC. Amostras de DNA bucal foram fornecidas e TPH1(rs1800532) ,MAOA(rs3788862 e rs979605),MAOB (rs3027452), eCOMT(rs6269 e rs4680) foram genotipadas. Não foram observadas diferenças nos níveis basais dos grupos placebo ou TRP para qualquer uma das variáveis calculadas a partir dos testes POMS e CGH-28, foi sugerido que o benefício potencial da suplementação foi desigual e quanto menor o ponto de partida melhor a recuperação do humor. A alta variância encontrada nos resultados sugere que o tratamento pode não ter sido igualmente eficaz entre os diferentes voluntários. Andrade et al. (2018) Investigar o potencial ansiolítico do L-triptofano, ômega 3, magnésio e das vitaminas do complexo B em estudantes universitárias com ansiedade. Estudo clínico randomizado, de abordagem quali-quantitativa. Foi composto por 16 estudantes que foram divididas em dois grupos, o controle (GC) que recebeu o tratamento, e o grupo placebo (GP) que recebeu apenas ômega 3. Para avaliar o nível de ansiedade aplicou-se a escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) antes e dias antes do término de 35 dias com os nutrientes em questão. Os estudos mostraram que antes do tratamento 100% das acadêmicas do GC apresentaram provável quadro de ansiedade e 43% com possível ansiedade. Em relação ao GP observou-se que antes do tratamento nenhuma das estudantes foram classificadas com improvável ansiedade e após o tratamento 57% foram classificadas nessa categoria. 11 Capello et al. (2014) Avaliar o efeito da suplementação subcrônica de triptofano (TRP) no cortisol e apetite, induzidos pelo estresse em individuos que diferem no genótipo de 5-HTTLPR e no traço neuroticismo Ensaio clínico, controlado por placebos entre sujeitos, de um banco de dados já existente de estudantes universitários genotipados com 5-HTTLPR, sendo selecionados 118 indivíduos (99 mulheres), duração de sete dias, com auto- administração de 3g de TRP ou PLC ao dia, preenchimento de diários, incluindo medidas de saúde geral, qualidade do sono, humor, aborrecimentos e ingestão alimentar, também forneceram amostras diárias de saliva matinal, para analisar as concentrações de proteínas. Os resultados revelaram que o tratamento com TRP causou uma clara redução nos níveis de cortisol induzidos pelo estresse exclusivamente em portadores de alelos S/S e preveniu um aumento induzido pelo estresse no apetite apenas em portadores de alelos S/S com alto traço de neurocitismo. Foi revelado um efeito vantajoso do tratamento subcrônico de TRP na experiencia de estresse e no apetite, dependendo dos níveis de cortisol e da vulnerabilidade serotoninérgica (genética). Gibson et al. (2014) Testar a eficácia do tratamento agudo com uma proteína hidrolisada rica em triptofano nos aminoácidos plasmáticos, humor e funcionamento emocional em mulheres idosas. Estudo duplo-cego, randomizado e controlado com tratamento entre os sujeitos. Com participação de 60 mulheres saudáveis com idades entre 45 e 65 anos. Cada participante recebeu uma dose única do suplemento hidrolisado de proteína da clara de ovo ou hidrolisado de caseína como controle de proteína, no dia do teste de tratamento. A função cognitiva e emocional, o humor e as sensações físicas foram avaliadas no inicio (dia da triagem) e entre 60 e 180 minutos após o consumo do suplemento. O hidrolisado de proteína rica em TRP produziu o aumento dependente da dose esperado na proporção de TRP plasmático para grandes aminoácidos neutro concorrentes. O hidrolisado de proteína rico em TRP preveniu tanto o declínio no bem estar quanto o aumento da fadiga observado durante a sessão de teste no grupo controle. Essa dose de tratamento resultou em uma mudança significativa no processamento emocional para palavras positivas e reduziu os viés negativos na avaliação de expressões faciais negativas. Kroes et al. (2014) Analisar a eficácia de alimentos contendo triptofano (TRP) no aumento dos níveis de serotonina no cérebro e alteração do processamento neural nos neurocircuitos reguladores do humor. Estudo cruzado, em jovens mulheres saudáveis, controlado por placebo (N=32), analisando bebida com proporção favorável de TRP/aminoácidos neutros. na melhora do humor e modulação de processos cerebrais específicos, conforme avaliado por ressonância magnética funcional (fMRI). Os dados foram analisados e processados usando o pacote de software Considerando os resultados, o aumento das proporções de TRP/aminoáciodos neutros pode elevar o humor, afetando os neurocircuitos reguladores do humor e aumento da conectividade pré-frontal- lateral ventro medial em condições de estado de repouso. 12 estatístico SPM5 (Wellcome Trust Center for Neuroimaging, Londres, Reino Unido). Lindseth et al. (2014) Analisar os efeitos de uma dieta rica em triptofano-TRP em distúrbios afetivos, como depressão e ansiedade. Estudo cruzado randomizado, 25 adultos jovens saudáveis, foram examinados quanto as diferenças de ansiedade, depressão e humor após consumir uma dieta rica em triptofano e uma dieta baixa em TRP por 4 dias cada. Teve um intervalo de 2 semanas entre as dietas. Cada participante teve acompanhamento de um psicólogo e foram feitos testes. Uma análise dentro da oscilação do humor dos participantes indicou significativamente escores de afeto mais positivos após consumir uma dieta rica em triptofano em comparação com uma dieta baixa em TRP. As diferenças de afeto negativo entre as dietas não foram estatisticamente significativas. O alto consumo de triptofano resultou em menos sintomas depressivos e diminuição da ansiedade. Zanello (2012) Analisar os efeitos da suplementação do L- triptofano sobre a ansiedade, compulsão e escolha alimentar. Estudo randomizado, dois grupos de cinco participantes, TRIPTOFANO (TRP) e CONTROLE (placebo), duração de cinco semanas. Três etapas, suplementação de TRP, questionários,comparando os efeitos sobre ansiedade e compulsão alimentar, exame sanguíneo para verificar o nível plasmático de serotonina total. Considerando a análise do comportamento das variáveis qualitativas ‘’ansiedade, compulsão e escolha alimentar’’ revelaram padrões diferenciados entre os grupos controle e triptofano. Os aminoácidos neutros aumentaram a ansiedade e compulsão alimentar nos indivíduos, diferente do grupo controle. No período da suplementação do TRP as variáveis analisadas obtiveram uma queda significativa. Feder et al. (2010) Comparar os efeitos da depleção aguda do triptofano (ATD) em um processamento emocional e uma tarefa de planejamento em voluntários saudáveis nunca deprimidos com alto e baixo risco familiar de depressão. Estudo ATD cruzado, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. Adultos jovens sem história psiquiátrica pessoal, foram estratificados em dois grupos HR e LR foram pareados por ordem de tratamento. Amostras de sangue para o triptofano plasmático foram obtidas na linha de base (T0) e 6 horas (T6) e 8 horas (T8) após a ingestão da cápsula. A resposta de diminuição do humor foi avaliada por auto-relato com escalas analógicas visuais em Durante a depleção aguda de triptofano, o grupo de alto risco fez mais respostas inadequadas a distrações tristes durante bloqueios de alvos tristes, uma diferença que se aproximou da significância. No grupo de baixo risco, as respostas aos distratores durante a depleção aguda de triptofano não diferiram significativamente pela valência. Não houve achados significativos durante a condição placebo. 13 (T0), 5 horas após a ingestão da capsula (T5) e (T8). Bruce et al. (2009) Investigar o humor e outras consequências da depleção aguda de triptofano (DAT) em mulheres com bulimia nervosa que estavam ou não usando medicamentos serotoninérgicos concomitantes em comparação a mulheres sem bulimia. O estudo foi realizado em mulheres autorreferidas para tratamento de bulimia que não estavam usando medicamentos psicoativos no momento, ou que estavam usando exclusivamente medicamentos inibidores de recaptação de serotonina, bem como mulheres controle comedores normais sem medicação preencheram entrevistas e questionários avaliando alimentação e psicopatologia comorbida e, em seguida, participaram de um procedimento ATD envolvendo condições equilibradas e depleção do triptofano. Foi observado que na condição de depleção do triptofano, os grupos apresentaram decréscimos semelhantes e significativos nos níveis plasmáticos de triptofano e humor. Mulheres com bulimia que estavam usando inibidores da recaptação de serotonina, mas não os outros grupos, também relataram um aumento do desejo de comer compulsivamente na condição de depleção do triptofano. Firk et al. (2009) Investigar os efeitos de uma proteína hidrolisada (HP) rica em TRP no enfrentamento do estresse e explorar se os efeitos do HP no humor e no enfrentamento do estresse são medidas pela RC. Estudo cruzado, duplo-cego, controlado por placebo. Durante duas sessões experimentais matinais, o humor e o cortisol dos participantes foram avaliados antes e após a exposição aguda ao estresse após a exposição aguda ao estresse após ingestão de HP ou uma proteína caseína padrão (CP) como condição de controle. A ordem de apresentação da condição HP e CP foi contrabalançada dentro dos grupos e ambas as sessões experimentais foram separadas por pelo menos 1 semana. Foi observado que o HP aumentou significativamente o humor positivo em todos os indivíduos e amorteceu a resposta do cortisol ao estresse agudo. Não foram encontradas diferenças entre indivíduos com RC alta e baixa. 6. CONCLUSÃO Verifica-se que os mecanismos do triptofano (TRP) acontecem através do seu consumo/suplementação, onde o mesmo é hidroxilado ao intermediário 5- hidroxitriptofano, e assim, nos neurônios ele passa pelo processo de descarboxilação, se transformando em 5-HT. Evidencia-se também que o TRP reduz visivelmente os níveis de ansiedade e também auxilia na melhora do humor, pois resulta no aumento da atividade serotoninérgica e na redução dos níveis de cortisol. 14 REFERÊNCIAS ANDRADE, E.A.F., et al. L-Triptofano, ômega 3, magnésio evitaminas do complexo B na diminuição dos sintomas de ansiedade. Id on Line Revista Multidisciplinar e de Psicologia. V.12, N.40. 2018. BRUCE, K. R., et al. Impact of acute tryptophan depletion on mood and eating-related urges in bulimic and nonbulimic women. J Psychiatry Neurosci. 2009. CAPELLO, A.E.M; MARKUS, C.R. 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