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Definir o transtorno depressivo e seus tipos; Os transtornos depressivos, segundo o DSM - V, incluem: (1) Transtorno disruptivo da desregulação do humor; (2) Transtorno depressivo maior; (3) Transtorno depressivo persistente (distimia); (4) Transtorno disfórico pré-menstrual; (5) Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento; (6) Transtorno depressivo devido a outra condição médica; (7) Outro transtorno depressivo especificado; (8) Transtorno depressivo não especificado. O transtorno depressivo maior representa a condição clássica desse grupo de transtornos. Ele é caracterizado por episódios distintos de pelo menos duas semanas de duração (embora a maioria dos episódios dure um tempo consideravelmente maior) envolvendo alterações nítidas no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas, e remissões interepisódicas. O diagnóstico baseado em um único episódio é possível, embora o transtorno seja recorrente na maioria dos casos. Atenção especial é dada à diferenciação da tristeza e do luto normais em relação a um episódio depressivo maior. Uma forma mais crônica de depressão, o transtorno depressivo persistente (distimia), pode ser diagnosticada quando a perturbação do humor continua por pelo menos dois anos em adultos e um ano em crianças. A idade de início do primeiro episódio depressivo apresenta grande similaridade entre diversos estudos, ocorrendo no começo da idade adulta, entre 24 e 25 anos. DEPRESSÃO Um transtorno depressivo maior ocorre sem uma história de um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco. O episódio depressivo maior deve durar pelo menos duas semanas, e normalmente uma pessoa com esse diagnóstico também experimenta pelo menos quatro sintomas de uma lista que inclui alterações no apetite e peso, alterações no sono e na atividade, falta de energia, sentimentos de culpa, problemas para pensar e tomar decisões e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio. Correlacionar a fisiopatologia com os fatores de risco do TDM; O transtorno depressivo maior (TDM) é um transtorno mental altamente prevalente e afeta aproximadamente 264 milhões de pacientes em todo o mundo, o que o torna o segundo maior contribuinte para a morbidade global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata aproximadamente 800.000 casos de suicídio por ano, o que sugere que o TDM é um desafio significativo para a saúde pública. Estudos experimentais e clínicos crescentes indicaram que pacientes com depressão apresentam funções neuronais serotoninérgicas e noradrenérgicas alteradas no sistema nervoso central (SNC). O fator neurotrópico derivado do cérebro (BDNF) também pode desempenhar um papel importante na depressão. A hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) é uma descoberta comum em estudos psiconeuroendocrinológicos de depressão maior. Além disso, as citocinas inflamatórias e os metabólitos endógenos estão envolvidos nos mecanismos da depressão, e, além disso, o microbioma intestinal desempenha um papel crítico na depressão, afetando o eixo intestino-cérebro. HEREDITÁRIO De acordo com estudos anteriores sobre gêmeos e adoções, é provável que a depressão grave tenha uma taxa de herdabilidade de aproximadamente 31-42% e pode resultar tanto de fatores genéticos como do ambiente. Acredita-se que as interações gene-ambiente sejam cruciais para explicar a etiologia da depressão maior. No entanto, não foram identificados fatores de risco genéticos fortes e consistentes em estudos de associação genética devido à natureza clinicamente heterogênea da doença e à sua arquitetura genética complexa. SISTEMAS NEUROTRANSMISSORES Acredita-se que os neurotransmissores desempenhem um papel crítico na etiologia da depressão. A serotonina (5-HT) é amplamente distribuída por todo o sistema nervoso e sua deficiência pode levar à depressão, fobias, ansiedade e outros distúrbios de saúde mental em vertebrados. Nas últimas décadas, a hipótese 5-HT impulsionou a investigação sobre a causa subjacente da depressão; com relatos de que pacientes deprimidos podem ter níveis baixos de 5-HT no cérebro e receptores 5-HT alterados, como receptores 5-HT 2 regulados positivamente e receptores 5- HT 1A regulados negativamente . Existem três mecanismos possíveis responsáveis pela função prejudicada do 5-HT 1A na depressão: o isolamento social reduz o 5- HT1 , receptores 5-HT 2 inibindo a neurotransmissão 5-HT 1 e hipercortisolemia inibindo a neurotransmissão 5-HT 1 . Proteínas endógenas, como o BDNF e a neurotrofina-3, estão relacionadas com o crescimento e a função dos neurônios 5- HT no cérebro de adultos. No cérebro, a dopamina (DA) é um transmissor dominante que regula o comportamento e é um precursor da epinefrina e da norepinefrina (NE). Numerosos estudos em humanos e animais demonstraram que a depressão e a transmissão de DA estão intimamente relacionadas no SNC. Além disso, pacientes com depressão apresentam um nível aumentado de transporte de DA, o que torna os neurônios pré-sinápticos mais eficazes na recaptação de DA. O glutamato é o neurotransmissor excitatório primário e contribui para a plasticidade sináptica, atividades cognitivas e comportamento motivacional e emocional no cérebro. Múltiplas evidências sugerem que a depressão está associada ao sistema glutamato. Pesquisadores encontraram níveis elevados de glutamato no sangue, líquido cefalorraquidiano (LCR) e cérebros de pacientes com depressão, bem como distúrbios na subunidade do receptor N-metil-D-aspartato (NMDAR) no cérebro. A inibição da função NMDAR tem efeitos antidepressivos e protege os neurônios do hipocampo de alterações morfológicas induzidas pelo estresse. Em contraste com o glutamato, o ácido γ-aminobutírico (GABA) é um neurotransmissor inibitório primário. Os neurônios GABA representam apenas uma pequena porcentagem em comparação com os neurônios glutamato, mas a neurotransmissão inibitória é um aspecto importante da função cerebral porque equilibra a transmissão excitatória. Os neurônios GABA estão amplamente distribuídos no cérebro e participam de muitas funções, inclusive na regulação da ansiedade, da motivação e do sistema de recompensa, e desempenham um papel importante no alívio dos sintomas do TDM. Numerosos estudos demonstraram que pacientes com TDM apresentam defeitos na função de neurotransmissão do GABA. Numa metanálise de estudos de espectroscopia de ressonância magnética, os níveis cerebrais de GABA em pacientes com TDM foram mais baixos do que aqueles em controles saudáveis, mas não houve diferença observada entre pacientes com depressão em remissão e controles saudáveis. Um estudo de Mann et al. descobriram que o nível de GABA no LCR de pacientes com TDM era menor do que em controles saudáveis. Vários estudos post- mortem demonstraram que níveis baixos de GABA sintase e descarboxilase do ácido glutâmico estão presentes no córtex pré-frontal (PFC) de pacientes com depressão. Há evidências de que a depressão é causada por um desequilíbrio nos sistemas GABA e glutamato, e que a ativação do sistema GABA produz atividade antidepressiva através do envolvimento dos mediadores do receptor GABA A a2 / a3. Um modelo de camundongo mutante receptor GABA A mostrou que o comportamento semelhante à depressão pode ser induzido pela alteração dos níveis de potenciais candidatos ao GABA no cérebro. EIXO HIPOTÁLAMO - HIPÓFISE - ADRENAL O estresse e os desafios agudos são fatores que contribuem para o aparecimento do TDM. Há muito que se reconhece que o eixo HPA desempenha um papel fundamental na resposta ao stress dos mamíferos. Portanto, alterações no eixo HPA durante a doença depressiva podem refletir a influência do estresse e determinar as manifestações dos sintomas depressivos. O estresse desencadeia a liberação do hormônio liberador de corticotropina (CRH) do hipotálamo, seguida pela estimulação da produção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) na hipófise, que subsequentemente aumenta a secreção de glicocorticóidesdo córtex adrenal. Os glicocorticóides interagem com seus receptores em múltiplos tecidos-alvo, como o eixo HPA, onde atuam como inibidores de feedback tanto da produção de ACTH nos corticotrópicos hipofisários quanto da produção de CRH no hipotálamo. Em pacientes com depressão, o eixo HPA fica hiperativo sob condições estressantes, o que resulta em problemas como hipercortisolemia, diminuição da ritmicidade e níveis elevados de cortisol. Demonstrou - se que os distúrbios do eixo HPA induzidos pelo estresse estão associados à depressão como resultado do aumento da produção de cortisol e da inibição insuficiente do feedback regulatório dos receptores de glicocorticóides. Além disso, níveis elevados de cortisol têm sido associados à gravidade da depressão, particularmente em casos de depressão. Além disso, os pacientes com depressão que não conseguiram normalizar o eixo HPA após o tratamento tiveram pior resultado clínico e prognóstico. No entanto, estudos anteriores demonstraram que os tratamentos reguladores do eixo HPA, como os antagonistas dos receptores de glicocorticóides, não conseguem aliviar os sintomas da depressão. NEUROTROFINAS E NEUROGÊNESE As descobertas de reduções volumétricas no hipocampo e em outras regiões do prosencéfalo em pacientes deprimidos apoiam a hipótese popular de que diminuições nos fatores neurotróficos que regulam a plasticidade no cérebro adulto contribuem para a depressão. A hipótese da neurotrofina para a depressão baseia-se principalmente na teoria de que níveis reduzidos de BDNF no hipocampo estão associados à depressão induzida pelo estresse e são elevados pelo tratamento com antidepressivos. Descobriu-se que agentes direcionados ao sistema BDNF produzem efeitos semelhantes aos antidepressivos. NEUROINFLAMAÇÃO Numerosos estudos iniciais descobriram que a depressão é mais comum em pacientes com doenças autoimunes ou infecciosas do que na população em geral. Além disso, mesmo indivíduos que não sofrem de depressão podem apresentar sintomas depressivos quando expostos a citocinas, enquanto os antidepressivos amenizam esse desconforto. Demonstrou-se que pacientes com TDM apresentam níveis aumentados de moléculas inflamatórias, e apresentam características de resposta imuno-inflamatória através de evidências de citocinas pró-inflamatórias elevadas e seus receptores, quimiocinas e moléculas de adesão solúveis no sangue periférico e no LCR. Os marcadores inflamatórios periféricos não afetam apenas o estado de ativação imunológica no SNC, que, por sua vez, impacta o comportamento explícito, mas também podem servir como avaliação ou índices biológicos para terapia antidepressiva. Vários estudos também sugeriram que os inibidores de citocinas, como os anticorpos monoclonais, podem exercer um efeito antidepressivo ao bloquear as citocinas. Um desequilíbrio entre citocinas pró- inflamatórias e anti-inflamatórias pode contribuir para a fisiopatologia da depressão. Sabe-se que a micróglia contribui para a plasticidade neuronal e desempenha um papel no desenvolvimento do TDM. Um estudo realizado por Weng et al. encontraram um número maior de microglia no PFC de camundongos injetados intraperitonealmente com lipopolissacarídeo (LPS), enquanto o comportamento depressivo de camundongos também aumentou. Esses pesquisadores também observaram a regulação positiva da expressão do gene IL-1, IL-6 e TNF-α no PFC de camundongos foi suprimida pelo inibidor seletivo da recaptação de 5-HT (ISRS). Além disso, os astrócitos têm sido implicados na patogênese da inflamação induzida por estresse e por LPS causada por sintomas depressivos. Como a microglia ativada causa inflamação através de níveis excessivos de fatores pró-inflamatórios e citocinas, um comportamento semelhante à depressão pode desenvolver-se gradualmente. DISTÚRBIOS METABÓLICOS Pacientes com TDM geralmente sofrem de distúrbios metabólicos, e aqueles com distúrbios metabólicos tendem a sofrer de depressão. Achados experimentais em modelos animais e na prática clínica indicam que a metabolômica pode ser usada para investigar a fisiopatologia da depressão e potenciais biomarcadores. Os principais metabólitos incluíam aminoácidos e complexos lipídicos/proteicos, e também foram identificadas algumas moléculas relacionadas ao metabolismo lipídico e ao metabolismo energético que contribuíram para a discriminação entre pacientes deprimidos e controles saudáveis. Gao et al. descobriram que seis biomarcadores potenciais (glicina, glutamato, frutose, ácido cítrico, glicose e ácido hexadecenóico) estão intimamente associados à depressão. EIXO MICROBIOMA - INTESTINO - CÉREBRO Vários estudos revelaram que o eixo microbiota-intestino-cérebro é importante para regular o humor, o comportamento e a transmissão neuronal no cérebro, e está associado ao TDM. Vários estudos sugeriram que depressão e distúrbios gastrointestinais são comorbidades. Alguns antidepressivos podem aliviar os sintomas de pessoas que sofrem de síndrome do intestino irritável e outros distúrbios relacionados. Em pacientes com TDM, foram relatadas alterações no microbioma intestinal, e relacionado a comportamentos semelhantes à depressão e à função cerebral. Estudos em animais demonstraram que o estresse pode alterar a composição e diversidade da microflora intestinal, e que isto é acompanhado por comportamento depressivo. É interessante notar que roedores apresentam comportamento depressivo após transplante fecal de pacientes humanos com depressão. Em contraste, descobriu-se que alguns probióticos melhoram o comportamento semelhante à depressão em estudos pré-clínicos e ter efeitos antidepressivos em vários ensaios clínicos duplo-cegos, controlados por placebo, envolvendo pacientes com depressão. A microbiota intestinal pode influenciar o cérebro de diversas maneiras, como o eixo HPA e os sistemas neuroendócrino, autônomo e neuroimune. Estudos recentes demonstraram que a microbiota intestinal pode influenciar os níveis de certos neurotransmissores, incluindo 5-HT, DA, noradrenalina, glutamato e GABA no intestino e no cérebro. Além disso, estudos recentes indicaram que alterações na microbiota intestinal podem danificar a barreira intestinal e aumentar as citocinas inflamatórias periféricas. Além disso, sabe-se que ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, aumentam os níveis de BDNF, enquanto a disbiose intestinal diminui os níveis de BDNF; o que poderia ter um impacto no desenvolvimento neuronal e na plasticidade sináptica. Houve um progresso significativo na pesquisa nesta área, mas são necessários mais ensaios clínicos para determinar se os probióticos são eficazes no tratamento da depressão. Além disso, os mecanismos subjacentes precisam ser elucidados. FATORES DE RISCO Temperamentais. Afetividade negativa (neuroticismo) é um fator de risco bem estabelecido para o início do transtorno depressivo maior, e altos níveis parecem aumentar a probabilidade de os indivíduos desenvolverem episódios depressivos em resposta a eventos estressantes na vida. Ambientais. Experiências adversas na infância, particularmente quando existem múltiplas experiências de tipos diversos, constituem um conjunto de fatores de risco potenciais para transtorno depressivo maior. Eventos estressantes na vida são bem reconhecidos como precipitantes de episódios depressivos maiores, porém a presença ou ausência de eventos adversos na vida próximos ao início dos episódios não parece oferecer um guia útil para prognóstico ou seleção do tratamento. Genéticos e fisiológicos. Os familiares de primeiro grau de indivíduos com transtorno depressivo maior têm risco 2 a 4 vezes mais elevado de desenvolver a doença que a população em geral. Os riscos relativos parecem ser mais altos para as formas de início precoce e recorrente. A herdabilidade é de aproximadamente 40%, e o traço de personalidade neuroticismo representa uma parte substancial dessa propensão genética. Modificadores do curso. Essencialmentetodos os transtornos maiores não relacionados ao humor aumentam o risco de um indivíduo desenvolver depressão. Os episódios depressivos maiores que se desenvolvem no contexto de outro transtorno com frequência seguem um curso mais refratário. Uso de substâncias, ansiedade e transtorno da personalidade borderline estão entre os mais comuns, e os sintomas depressivos que se apresentam podem obscurecer e retardar seu reconhecimento. No entanto, a melhora clínica persistente nos sintomas depressivos pode depender do tratamento adequado dos transtornos subjacentes. Condições médicas crônicas ou incapacitantes também aumentam os riscos de episódios depressivos maiores. Doenças prevalentes como diabetes, obesidade mórbida e doença cardiovascular são frequentemente complicadas por episódios depressivos, e esses episódios têm mais probabilidade de se tornarem crônicos do que os episódios depressivos em indivíduos saudáveis. Correlacionar os sinais e sintomas com o diagnóstico do TDM; Ao diferenciar luto de um episódio depressivo maior (EDM), é útil considerar que, no luto, o afeto predominante inclui sentimentos de vazio e perda, enquanto no EDM há humor deprimido persistente e incapacidade de antecipar felicidade ou prazer. A disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a semanas, ocorrendo em ondas, conhecidas como “dores do luto”. Essas ondas tendem a estar associadas a pensamentos ou lembranças do falecido. O humor deprimido de um EDM é mais persistente e não está ligado a pensamentos ou preocupações específicos. A dor do luto pode vir acompanhada de emoções e humor positivos que não são característicos da infelicidade e angústia generalizadas de um EDM. O conteúdo do pensamento associado ao luto geralmente apresenta preocupação com pensamentos e lembranças do faleci- do, em vez das ruminações autocríticas ou pessimistas encontradas no EDM. No luto, a autoestima costuma estar preservada, ao passo que no EDM os sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são comuns. Se pre- sente no luto, a ideação autodepreciativa costuma envolver a percepção de falhas em relação ao falecido (p. ex., não ter feito visitas com frequência suficiente, não dizer ao falecido o quanto o amava). Se um indivíduo enlutado pensa em morte e em morrer, tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e possivelmente em “se unir” a ele, enquanto no EDM esses pensamentos têm o foco em acabar com a própria vida por causa dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da incapacidade de enfrentar a dor da depressão. CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS Os sintomas dos critérios para transtorno depressivo maior devem estar presentes quase todos os dias para serem considerados presentes, com exceção de alteração do peso e ideação suicida. Humor deprimido deve estar presente na maior parte do dia, além de estar presente quase todos os dias. Insônia ou fadiga frequentemente são a queixa principal apresentada, e a falha em detectar sintomas depressivos associados resultará em subdiagnóstico. A tristeza pode ser negada inicialmente, mas pode ser revelada por meio de entrevista ou inferida pela expressão facial e por atitudes. Com os indivíduos que focam em uma queixa somática, os clínicos devem determinar se o sofrimento por essa queixa está associado a sintomas depressivos específicos. Fadiga e perturbação do sono estão presentes em alta proporção de casos; perturbações psicomotoras são muito menos comuns, mas são indicativas de maior gravidade geral, assim como a presença de culpa delirante ou quase delirante. A característica essencial de um episódio depressivo maior é um período de pelo menos duas semanas durante as quais há um humor depressivo ou perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades (Critério A). O humor em um episódio depressivo maior frequentemente é descrito pela pessoa como deprimido, triste, desesperançado, desencorajado ou “na fossa” (Critério A1). Em alguns casos, a tristeza pode ser negada de início, mas depois pode ser revelada pela entrevista. Em alguns indivíduos que se queixam de sentirem “um vazio”, sem sentimentos ou com sentimentos ansiosos, a presença de um humor deprimido pode ser inferida a partir da expressão facial e por atitudes. Alguns enfatizam queixas somáticas (p. ex., dores ou mazelas corporais) em vez de relatar sentimentos de tristeza. Muitos referem ou demonstram irritabilidade aumentada (p. ex., raiva persistente, tendência responder a eventos com ataques de raiva ou culpando outros ou sentimento exagerado de frustração por questões menores). A perda de interesse ou prazer quase sempre está presente, pelo menos em algum grau. Os indivíduos podem relatar menor interesse por passatempos, “não se importar mais” ou falta de prazer com qualquer atividade anteriormente considerada prazerosa (Critério A2) (AVOLIA) . Os membros da família com frequência percebem retraimento social ou negligência de atividades prazerosas (p. ex., um indivíduo que antes era um ávido golfista deixa de jogar, uma criança que gostava de futebol encontra desculpas para não praticá-lo). As alterações no apetite podem envolver redução ou aumento. Alguns indivíduos deprimidos relatam que precisam se forçar para se alimentar. Outros podem comer mais ou demonstrar avidez por alimentos específicos (p. ex., doces ou outros carboidratos). Quando as alterações no apetite são graves (em qualquer direção), pode haver perda ou ganho significativos de peso, ou, em crianças, pode-se notar insucesso em obter o ganho de peso esperado (Critério A3). Perturbações do sono podem assumir a forma de dificuldades para dormir ou dormir excessivamente (Critério A4). Quando a insônia está presente, costuma assumir a forma de insônia intermediária (p. ex., despertar durante a noite, com dificuldade para voltar a dormir) ou insônia terminal (p. ex., despertar muito cedo, com incapacidade de retornar a dormir). A insônia inicial (p. ex., dificuldade para adormecer) também pode ocorrer. As alterações psicomotoras incluem agitação (p. ex., incapacidade de ficar sentado quieto, ficar andando sem parar, agitar as mãos, puxar ou esfregar a pele, roupas ou outros objetos) ou retardo psicomotor (p. ex., discurso, pensamento ou movimentos corporais lentificados; maiores pausas antes de responder; fala diminuída em termos de volume, inflexão, quantidade ou variedade de conteúdos, ou mutismo) (Critério A5). A agitação ou o retardo psicomotor devem ser suficientemente graves a ponto de serem observáveis por outros, não representando meros sentimentos subjetivos. Diminuição da energia, cansaço e fadiga são comuns (Critério A6). O indivíduo pode relatar fadiga persistente sem esforço físico. Mesmo as tarefas mais leves parecem exigir um esforço substancial. O sentimento de desvalia ou culpa associado com um episódio depressivo maior pode incluir avaliações negativas e irrealistas do próprio valor, preocupações cheias de culpa ou ruminações acerca de pequenos fracassos do passado (Critério A7). Muitos indivíduos relatam prejuízo na capacidade de pensar, concentrar-se ou tomar decisões (Critério A8). Essas pessoas podem mostrar-se facilmente distraídas ou queixar-se de dificuldades de memória. Os indivíduos com atividades acadêmicas ou profissionais com frequência são incapazes de funcionar de forma adequada. Pensamentos sobre morte, ideação suicida ou tentativas de suicídio (Critério A9) são comuns. Esses pensamentos variam desde um desejo passivo de não acordar pela manhã, ou uma crença de que os outros estariam melhor se o indivíduo estivesse morto, até pensamentos transitórios, porém recorrentes, sobre cometer suicídio ou planos específicos para se matar. Entender os principais aspectos farmacológicos do Fluoxetina e Diazepam e seu manejo no TDM; O episódio depressivo pode ser dividido em três fases: aguda, de continuação e de manutenção. No início da fase aguda, o objetivo inicial é a obtenção de resposta ao tratamentoproposto com redução parcial da intensidade da síndrome depressiva. Ao final da fase aguda, a meta ideal é a remissão completa de sintomas, com restabelecimento do nível de funcionamento pré-mórbido. Na fase de continuação, o objetivo é consolidar a melhora obtida na fase aguda, evitando recaída de sintomas. Por fim, na fase de manutenção, o episódio índex é considerado tratado e o foco de atenção passa a ser a prevenção de recorrência (ressurgimento de novos episódios). Embora nem todos os pacientes atinjam essas metas, persegui-las organiza a atuação do profissional, tornando-o mais ativo para propor intervenções. Uma vez escolhido o antidepressivo, a introdução lenta e progressiva tende a melhorar a tolerabilidade. Durante as duas a quatro semanas iniciais, o foco do tratamento estará na tolerabilidade da medicação e na identificação de melhora inicial. Caso o paciente tenha uma resposta parcial com boa tolerabilidade, a otimização da dose e do tempo de uso é a primeira linha como estratégia. Caso o paciente tolere bem a medicação e/ou tenha uma resposta parcial, pode-se aguardar até 6 a 8 semanas para observar se ele atinge a remissão completa. Caso isso não aconteça, uma nova rodada de intervenção será necessária. Na nova rodada, após esgotar a otimização de dose e tempo, três alternativas são possíveis: potencialização, combinação ou troca. A potencialização é particularmente recomendada quando o paciente apresenta uma resposta adequada, mas os efeitos colaterais impedem a utilização na dose em que o efeito terapêutico é pleno. Nesse caso, o antidepressivo é mantido na maior dose tolerada e a potencialização é acrescentada. A combinação é utilizada quando a monoterapia não leva à remissão completa. Normalmente, a escolha que compõe a combinação baseia-se em medicamentos com mecanismos de ação diferentes (p. ex., ISRS + ADT ou bupropiona), ou quando um medicamento apresenta efeitos específicos sobre sintomas-alvo (p. ex., associação de um ISRS com trazodona em um paciente com insônia). * FLUOXETINA Cloridrato de Fluoxetina é indicado para o tratamento da depressão, associada ou não a ansiedade, da bulimia nervosa, do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e do transtorno disfórico pré- menstrual (TDPM), incluindo tensão pré-menstrual (TPM), irritabilidade e disforia. USO VO, Dose única diária, normalmente de manhã. (20mg - 80mg) FARMACODINÂMICA Foi demonstrado que a fluoxetina induz alterações neuroplásticas duradouras e específicas da sub-região no córtex pré-frontal medial (mPFC) através do aumento da expressão de BDNF, receptor de tropomiosina-quinase B (TrkB) e proteínas TrkB fosforiladas (pTrkB). O Cloridrato de Fluoxetina é um inibidor seletivo da recaptação da serotonina, sendo este seu suposto mecanismo de ação. O Cloridrato de Fluoxetina praticamente não possui afinidade com outros receptores tais como α1, α2 e β-adrenérgicos, serotoninérgicos, dopaminérgicos, histaminérgicos H1, muscarínicos e receptores do GABA. A etiologia do transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) é desconhecida, porém esteroides endógenos envolvidos no ciclo menstrual parecem estar relacionados com a atividade serotoninérgica neuronal. A recaptação da 5-HT nas terminações pré-sinápticas é mediada pelo SERT; a captação neuronal constitui o principal processo pelo qual a transmissão por meio da 5-HT é encerrada. O tratamento com ISRS provoca estimulação dos autorreceptores 5-HT1A e 5-HT7 nos corpos celulares no núcleo da rafe e dos autorreceptores 5-HTID nos terminais serotonérgicos; isso reduz a síntese e a liberação de 5-HT. Com tratamento repetido com ISRS, há uma infrarregulação e dessensibilização gradativas desses mecanismos autorreceptores. Além disso, a infrarregulação dos receptores 5-HT2A pós-sinápticos pode contribuir diretamente para a eficácia do antidepressivo ou influenciar a função dos neurônios noradrenérgicos e de outros neurônios por meio de heterorreceptores serotonérgicos. Outros receptores pós- sinápticos 5-HT provavelmente continuam responsivos a concentrações sinápticas aumentadas de 5-HT e contribuem para os efeitos terapêuticos dos ISRS. Quando a serotonina extracelular liga-se a receptores no transportador, ocorrem alterações na conformação do transportador, e a serotonina, o Na+ e o Cl– são transferidos para o interior da célula. Em seguida, a ligação do K+ intracelular resulta na liberação de serotonina dentro da célula e retorno do transportador à sua conformação original. Os ISRSs inibem alostericamente o transportador por meio da ligação do receptor do SERT em um sítio diferente do sítio de ligação da serotonina. Em doses terapêuticas, cerca de 80% da atividade do transportador é inibida. Existem polimorfismos funcionais para o SERT, que determinam a atividade do transportador. FARMACOCINÉTICA A CYP2D6 está envolvida no metabolismo da maioria dos ISRS, e esses fármacos são inibidores pelo menos moderadamente potentes dessa isoenzima. Isso cria um potencial significativo para interação medicamentosa em mulheres na pós- menopausa que tomam tamoxifeno, um fármaco para o câncer de mama e antagonista do estrogênio. Como a venlafaxina e a desvenlafaxina são inibidores fracos da CYP2D6, esses antidepressivos não estão contraindicados nessa situação clínica. Entretanto, deve-se ter cuidado ao combinar ISRS com fármacos que são metabolizados por CYP. CONTRAINDICAÇÃO Hipersensibilidade, associação com inibidores da monoamina oxidase (IMAOs) e tioridazina. EFEITOS ADVERSOS Diarreia, náusea, fadiga (incluindo astenia), dor de cabeça e insônia(incluindo despertar cedo, insônia inicial e insônia de manutenção), síndrome gripal, faringite e sinusite. Ao suspender o tratamento com Cloridrato de Fluoxetina, a dose deve ser gradualmente reduzida em um período de pelo menos 1 a 2 semanas com o objetivo de minimizar os sintomas de descontinuação. Se sintomas intoleráveis ocorrerem durante o descalonamento da dose ou após a interrupção do tratamento, deve ser considerado reiniciar a última dose prescrita. Subsequentemente, o médico deve tentar nova redução da dose, porém de forma mais lenta. Os sintomas mais comuns reportados incluem tontura, alterações do sono, distúrbios sensoriais, parestesia, ansiedade, agitação, astenia, confusão, dor de cabeça e irritabilidade - o metabólito ativo da fluoxetina, a norfluoxetina, tem uma t1/2 tão longa (1-2 semanas) que poucos pacientes apresentam sintomas de abstinência com a interrupção da fluoxetina. * DIAZEPAM Diazepam está indicado para alívio sintomático da ansiedade, tensão e outras queixas somáticas ou psicológicas associadas com a síndrome da ansiedade. Pode também ser útil como coadjuvante no tratamento da ansiedade ou agitação associada a desordens psiquiátricas. O Diazepam é útil no alívio do espasmo muscular reflexo devido a traumas locais (lesão, inflamação). Pode ser igualmente usado no tratamento da espasticidade devida a lesão dos interneurônios espinhais e supra espinhais tal como ocorre na paralisia cerebral e paraplegia, assim como na atetose e na síndrome rígida. FARMACODINÂMICA Os benzodiazepínicos, os barbitúricos, o zolpidem, a zaleplona, a eszopiclona e muitos outros fármacos ligam-se a componentes moleculares do receptor GABAA presente nas membranas neuronais do SNC. Esse receptor, que atua como canal iônico de cloreto, é ativado pelo neurotransmissor inibitório GABA. Uma isoforma importante do receptor GABAA, que é encontrada em muitas regiões do cérebro, consiste em duas subunidades a1, duas subunidades b2 e uma subunidade g2. Nessa isoforma, os dois sítios de ligação do GABA estão localizados entre as subunidades a1 e b2 adjacentes, e a bolsa de ligação para os benzodiazepínicos (o sítio de BZ do receptor de GABAA) situa-se entre uma subunidade a1 e a subunidade g2. Todavia, os receptores GABAA em diferentes áreas do SNC consistem em várias combinações das subunidades essenciais, e os benzodiazepínicos ligam-sea muitos desses receptores incluindo isoformas que contêm subunidades a2, a3 e a5. O GABA (ácido g-aminobutírico) é um importante neurotransmissor inibitório do SNC. Estudos eletrofisiológicos mostraram que os benzodiazepínicos potencializam a inibição GABAérgica em todos os níveis do neuroeixo, incluindo a medula espinal, o hipotálamo, o hipocampo, a substância negra, o córtex cerebelar e o córtex cerebral. Os benzodiazepínicos parecem aumentar a eficiência da inibição sináptica GABAérgica. Eles não substituem o GABA, mas parecem potencializar seus efeitos de modo alostérico, sem ativar diretamente os receptores de GABAA ou abrir os canais de cloreto associados. O aumento da condutância dos íons cloreto, induzido pela interação dos benzodiazepínicos com o GABA, assume a forma de um aumento da frequência de eventos de abertura dos canais. Entra cloro→hiperpolarização→sinapses inibidas. EFEITOS • SEDAÇÃO: os benzodiazepínicos, os barbitúricos e a maioria dos fármacos sedativos-hipnóticos mais antigos exercem efeitos calmantes, com redução concomitante da ansiedade em doses relativamente baixas. Todavia, na maioria dos casos, as ações ansiolíticas dos sedativos-hipnóticos são acompanhadas de alguns efeitos depressores sobre as funções psicomotoras e cognitivas. Os benzodiazepínicos também exercem efeitos amnésicos anterógrados dependentes da dose (incapacidade de lembrar eventos que ocorrem durante a duração da ação do fármaco). • HIPNOSE: efeitos gerais dos benzodiazepínicos e dos sedativos-hipnóticos mais antigos sobre os padrões do sono normal são os seguintes: (1) a latência até o início do sono é reduzida (tempo até adormecer); (2) a duração do estágio 2 do sono NREM (movimento ocular não rápido) aumenta; (3) a duração do sono REM (movimento ocular rápido) diminui; e (4) a duração do sono de ondas lentas NREM do estágio 4 é reduzida. • ANESTESIA: os benzodiazepínicos – incluindo o diazepam, o lorazepam e o midazolam – são usados por via intravenosa na anestesia, frequentemente em associação com outros agentes. Não é surpreendente verificar que os benzodiazepínicos, quando administrados em altas doses como adjuvantes de anestésicos gerais, podem contribuir para uma depressão respiratória pós- anestésica persistente. • ANTI-CONVULSIVANTES: vários benzodiazepínicos – incluindo o clonazepam, o nitrazepam, o lorazepam e o diazepam – são seletivos o suficiente para serem clinicamente úteis no tratamento das convulsões; • OUTROS: relaxamento muscular, depressão respiratória e da função cardiovascular, etc. FARMACOCINÉTICA A lipossolubilidade desempenha uma importante função na determinação da taxa de penetração de determinado sedativo-hipnótico no SNC; Todos os sedativos hipnóticos atravessam a barreira placentária durante a gravidez. Se forem administrados durante o período pré-parto, podem contribuir para a depressão das funções vitais do recém-nascido. Os agentes sedativos-hipnóticos também são detectáveis no leite materno e podem exercer efeitos depressores no lactente amamentado pela mãe. A transformação metabólica em metabólitos mais hidrossolúveis é necessária para a depuração dos sedativos-hipnóticos do corpo. Os sistemas enzimáticos microssômicos de metabolismo dos fármacos no fígado são de suma importância nesse aspecto, de modo que a meia-vida de eliminação desses fármacos depende principalmente da taxa de sua transformação metabólica. A maioria dos benzodiazepínicos sofre oxidação microssômica (reações de fase I), incluindo N- desalquilação e hidroxilação alifática catalisada por isozimas do citocromo P450, especialmente a CYP3A4. Subsequentemente, os metabólitos são conjugados (reações de fase II) para formar glicuronídeos, que são excretados na urina. Todavia, muitos metabólitos de fase I dos benzodiazepínicos são farmacologicamente ativos, alguns com meias-vidas longas. A biotransformação ocorre, principalmente, pela redução do grupo 7-nitro para o derivado 4- amino. O principal metabólito é o 7-amino-clonazepam, que tem apresentado apenas discreta atividade anticonvulsivante. Foram também identificados quatro outros metabólitos que estão presentes em proporção muito pequena: o produto pode ser acetilado para formar 7-acetamido-clonazepam ou glucuronizado. O 7- acetamido-clonazepam e o 7-amino-clonazepam podem ser adicionalmente oxidados e conjugados. Os metabólitos hidrossolúveis dos sedativos-hipnóticos, que são formados, em sua maior parte, pela conjugação de metabólitos de fase II, são excretados principalmente pelo rim. Compreender o tratamento não farmacológico do TDM; * TERAPIA OCUPACIONAL A intervenção da Terapia Ocupacional ajuda na reorganização do cotidiano garantindo o bem-estar, a saúde e a ampliação da rede social. Na Terapia Ocupacional psiquiátrica, o paciente é estimulado a criar aquelas aptidões e atitudes que lhe permitirão viver a vida mais útil e satisfatória possível (MORRISON, 1978). O trabalho da Terapia Ocupacional deve necessariamente passar por essas duas instâncias: oferecer recursos para que a vida ganhe sentido e auxiliar na busca de ações que tornem a vida dessas pessoas mais digna de ser vivida (CAVALCANTI, 2007). Segundo Finger (1986) Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de orientar a participação de indivíduos em atividades selecionadas para restaurar, fortalecer e desenvolver a capacidade; facilitar a aprendizagem daquelas habilidades e funções essenciais para a adaptação e produtividade; diminuir ou corrigir patologias e promover e manter a saúde. Quando estressores psicossociais são identificados, é importante considerar intervenções sociais ou psicoterapia para auxiliar o paciente a manejá-los de forma mais adequada, antes de prescrever novos medicamentos ou utilizar estratégias mais invasivas de maior custo. Várias abordagens psicoterápicas apresentam evidências de eficácia para o tratamento agudo, embora, para muitas delas, os dados de eficácia no tratamento de manutenção sejam insuficientes. Para a maioria dos pacientes, o tratamento combinado (psicoterapia + antidepressivo) é mais efetivo do que as abordagens isoladas, especialmente em indivíduos com depressão moderada a grave e crônica. Primeiro, a segurança do paciente deve ser garantida. Segundo, uma avaliação diagnóstica completa do paciente é necessária. Terceiro, deve ser iniciado um plano de tratamento que trate não apenas os sintomas imediatos, mas também vise ao bem- estar futuro do paciente. Ainda que o tratamento atual enfatize a farmacoterapia e a psicoterapia orientadas ao paciente individual, acontecimentos estressantes da vida também estão associados com aumentos nas taxas de recaída. Portanto, o tratamento deve ser voltado à redução do número e da gravidade dos estressores nas vidas dos pacientes. * TERAPIA PSICOSSOCIAL Embora a maioria dos estudos indique – e a maioria dos médicos e pesquisadores acredite – que uma combinação de psicoterapia e farmacoterapia é o tratamento mais eficaz para transtorno depressivo maior, alguns dados sugerem outra visão: tanto uma quanto a outra isoladas são eficientes, pelo menos em episódios depressivos maiores leves, e o uso regular da terapia combinada aumenta o custo do tratamento e expõe o paciente a efeitos adversos desnecessários. Três tipos de psicoterapia de curto prazo – terapias cognitiva, interpessoal e do comportamento – foram estudados para determinar sua eficácia no tratamento do transtorno depressivo maior. Mesmo que sua eficácia para essa condição não seja tão bem pesquisada quanto a dessas três terapias, a psicoterapia de orientação psicanalí- tica há muito tem sido utilizada para transtornos depressivos, e muitos médicos a utilizam como método principal. O que a diferencia dos três métodos de psicoterapia de curto prazo são os papéis ativo e diretivo do terapeuta, os objetivos diretamente reconhecíveis e os desfechos para a terapia de curto prazo. • Terapia Cognitiva: A terapia cognitiva, desenvolvida originalmentepor Aaron Beck, focaliza as distorções cognitivas postuladas como presentes no transtorno depressivo maior. Essas distorções incluem atenção seletiva aos aspectos negativos das circunstâncias e inferências mórbidas não realistas sobre suas consequências. Por exemplo, apatia e baixa energia resultam de uma expectativa do paciente de fracasso em todas as áreas. O objetivo da terapia cognitiva é aliviar os episódios depressivos e prevenir sua reincidência ajudando-o a identificar e testar as cognições negativas; desenvolver formas de pensar alternativas, flexíveis e positivas; e ensaiar novas respostas cognitivas e comportamentais. Estudos mostraram que a terapia cognitiva é eficaz no tratamento do transtorno depressivo maior. A maioria deles verificou que sua eficácia é igual à da farmacoterapia e está associada com menos efeitos adversos e melhor evolução. Alguns dos estudos mais controlados indicaram que a combinação de terapia cognitiva e farmacoterapia é mais eficaz do que cada uma isoladamente, embora outros estudos não tenham encontrado esse efeito cumulativo. Pelo menos um estudo, o Programa de Pesquisa Colaborativa para o Tratamento da Depressão do NIMH, relatou que farmacoterapia, isolada ou com psicoterapia, pode ser o tratamento de escolha para pacientes com episódios depressivos maiores graves. • Terapia Interpessoal: A terapia interpessoal, desenvolvida por Gerald Klerman, concentra-se em um ou dois dos problemas inter- pessoais atuais do paciente. Ela tem base em dois pressupostos. Primeiro, é provável que os problemas interpessoais atuais tenham suas raízes em relacionamentos disfuncionais precoces. Segundo, esses problemas podem estar envolvidos na precipitação e na perpetuação dos sintomas depressivos atuais. Ensaios clínicos controlados indicaram que a terapia interpessoal é eficaz no tratamento de transtorno depressivo maior e, não causando surpresa, pode ser especificamente útil para tratar problemas interpessoais. Alguns estudos apontam que a terapia interpessoal pode ser o método mais eficaz para episódios depressivos maiores graves quando o tratamento de escolha é apenas a psicoterapia. O programa de terapia interpessoal geralmente consiste em 12 a 16 sessões semanais e é caracterizado por uma abordagem terapêutica ativa. Os fenômenos intrapsíquicos, como mecanismos de defesa e conflitos internos, não são abordados. Comportamentos distintos – como falta de autoafirmação, comprometimento das habilidades sociais e pensamento distorcido – podem ser abordados apenas no contexto de seu significado, ou de seu efeito, nos relacionamentos interpessoais. • Terapia Comportamental: A terapia comportamental baseia-se na hipótese de que padrões comportamentais mal-adaptativos resultam de o indivíduo receber poucas respostas positivas e talvez rejeição direta da sociedade. Ao abordar os comportamentos mal-adaptativos no tratamento, os pacientes aprendem a funcionar no mundo de maneira que recebam reforço positivo. A terapia comportamental para transtorno depressivo maior ainda não foi objeto de muitos estudos controlados. Os dados limitados indicam que ela é um tratamento eficaz para essa condição. • Terapia de orientação psicanalítica: abordagem psicanalítica aos transtornos do humor é fundamentada nas teorias psicanalíticas sobre depressão e mania. Seu objetivo é efetuar uma mudança na estrutura da personalidade ou no caráter do paciente, não simplesmente aliviar os sintomas. Melhoras na confiança interpessoal, na capacidade para intimidade, nos mecanismos de enfrentamento, na capacidade de enfrentar o luto e na capacidade de vivenciar uma ampla gama de emoções são alguns dos objetivos dessa terapia. O tratamento muitas vezes requer que o paciente experimente períodos de aumento da ansiedade e do sofrimento durante seu curso, que pode se prolongar por vários anos. • Terapia familiar: A terapia familiar não costuma ser vista como uma terapia primária para o tratamento de transtorno depressivo maior, mas evidências crescentes indicam que ajudar um paciente com um transtorno do humor a enfrentar o estresse pode diminuir a chance de uma recaída. A terapia familiar é indicada se o transtorno ameaçar o casamento do paciente ou o funcionamento da família, ou se for promovido ou mantido pela situação familiar. A terapia examina o papel do membro com a perturbação do humor no bem-estar psicológico geral de toda a família; também examina o papel da família na manutenção dos sintomas do paciente. Indivíduos com transtornos do humor têm uma alta taxa de divórcio, e cerca de 50% de todos os cônjuges relatam que não teriam se casado ou tido filhos se soubessem que o indivíduo iria desenvolver um transtorno do humor. Entender a importância das formas de prevenção do TDM (setembro amarelo); O suicídio é caracterizado como um fenômeno complexo e multicausal proveniente da interação entre fatores de ordem filosófica, antropológica, psicológica, biológica e social, que não dispõe de uma explicação universal. Tal ato, provocado pelo indivíduo com intenção de pôr fim à vida, apresenta-se como um grave problema de saúde pública, com impactos nas esferas: interpessoal, familiar, econômica e social (RIBEIRO JF, et al., 2016; LIMA FN e GONDIM DSM, 2019; FERRACIOLI NGM, et al., 2019) De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais da metade das mortes violentas no mundo tem como causa o suicídio, ocupando o segundo lugar como causa de morte no mundo entre pessoas de 15 a 29 anos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014). A ação suicida geralmente relaciona-se a problemas de saúde mental, podendo existir, também, ligação com doenças físicas crônicas ou doenças terminais (JULIÃO M e BARBOSA A, 2011). Shikida CD, et al. (2007) reforçam e apresentam fatores que podem estar relacionados ao ato do suicídio, a saber: saúde mental (desordens psíquicas e problemas relacionados ao abuso de drogas lícitas e ilícitas); histórico de suicídio na família; problemas pessoais (separação/divórcio, perda da saúde ou da identidade); eventos estressantes (imposição, violência sexual e/ou corporal, instabilidade na família, alterações sociais e outros); acesso a dispositivos fatais (armas de fogo); problemas relacionados à lei (prisão), além de questões relacionadas à identidade sexual. As pessoas atendidas em serviços de saúde em consequência à tentativa de suicídio, dependendo da gravidade do ato, frequentemente são direcionadas para o pronto- atendimento, emergência ou centros de terapia intensiva não podendo alcançar opção de tratamento em saúde mental (BRASIL, 2016). No sentido de minimizar 10% dos óbitos por suicídio até o ano de 2020 o Ministério da Saúde lançou o Plano de Ação em Saúde Mental (PASM-2013), no qual o Brasil é um dos países signatários (OPAS, 2018). Além da intenção de minimizar os óbitos, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) lançou o referido Plano com a finalidade de se ter um acompanhamento anual do número de óbitos e o controle do desenvolvimento de programas que visem à prevenção ao suicídio (OPAS, 2018). Ademais, a OMS criou a Suicide Prevention Program (SUPRE), que se trata de um manual de prevenção do suicídio, o qual recomenda ações e políticas de assistência e prevenção aos Estados-Membros (WHO, 2012). As estratégias de prevenção citadas anteriormente contemplam condições apropriadas e efetivas para o atendimento e tratamento dos indivíduos acometidos por sofrimento psíquico, assim como visa o domínio ecossistêmico dos fatores de risco. Para tanto, os elementos listados como fundamentais para as ações de prevenção ao suicídio relacionam-se à maior sensibilidade para identificar a presença de risco e a divulgação de informações apropriadas (BRASIL, 2016). Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (2017), um dos empecilhos na busca por ajuda que possa impedir a efetivação do ato, é o preconceito relacionado à temática do suicídio. Nesse sentido, uma intervenção profissional com uma atençãodirecionada e especializada pode proteger pessoas em condições de risco e adversidade do ato suicida (COLLINS KRL, et al., 2018). Uma das tentativas de intervenção focada em indivíduos com ideações suicidas foi iniciada em Brasília no ano de 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a Campanha “Setembro Amarelo”, que atua na prevenção ao suicídio. Essa causa foi estimulada internacionalmente e divulgada pela Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (IASP), considerando oficialmente o dia 10 de setembro o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, no entanto, a campanha ocorre durante o ano inteiro. A Campanha Setembro Amarelo foi criada com o objetivo de levar ao conhecimento da população as formas de prevenção ao suicídio e alertá-la a respeito desse problema não só no Brasil, mas no mundo. Para que tal movimento informativo ocorra é possível se utilizar das informações gráficas e numéricas das taxas de suicídios ocorridos no país e como proceder em busca de orientação profissional caso necessária ajuda. Todas essas informações são disponibilizadas pelo Centro de Valorização da Vida (BEZERRA JJ e SILVA FV, 2019). Os resultados da pesquisa mostram que, no Brasil, as taxas de incidência relacionadas ao suicídio apresentaram dados ascendentes após a implantação do programa, apontando uma variação de mortalidade de 45 para 75 em 2013 e 2016, respectivamente, correspondendo a um aumento de 66,6% na taxa de incidência entre os anos supracitados, conforme notificações realizadas no DATASUS. Esses resultados levantam questionamentos se esse aumento é devido a um efeito adverso da proposta pela campanha, ou devido a uma maior efetividade na notificação dos episódios suicidas. REFERÊNCIAS • American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais: DSM-5. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. • Ministério da Saúde. Saúde mental, Cadernos de Atenção Básica, n. 34. 1a. edição ed. Brasília, DF: Editora MS, 2013. • NARDI, A. E.; DA SILVA, A. G.; QUEBEDO, J.; Tratado de Psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2022. • TIAN, Haihua; HU, Zhenyu; XU, Jia; WANG, Chuang. The molecular pathophysiology of depression and the new therapeutics. MedComm (2020), [S. l.], v. 3(3), p. e156, 21 jul. 2022. Disponível em: https:// www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9301929/. Acesso em: 16 set. 2023. • Brunton, L.L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 13ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2019. • CHRISTIE, Lynn et al. A systematic review into the effectiveness of occupational therapy for improving function and participation in activities of everyday life in adults with a diagnosis of depression. Journal of Affective Disorders, v. 282, p. 962-973, 2021. • E SILVA, L. S.; VALSOLER, R. L. C.; STORTTI, T. M. Utilização das práticas integrativas e complementares (PICS) no tratamento da depressão: uma pesquisa bibliográfica / Utilização das práticas integrativas e complementares (PICS) no tratamento da depressão: uma pesquisa bibliográfica. Brazilian Journal of Development, [S. l.], v. 7, n. 7, p. 72935– 72941, 2021. DOI: 10.34117/bjdv7n7-459. Disponível em: https:// ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/33245. Acesso em: 16 sep. 2023. • SADOCK, B J; Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica, 11ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2017. • DE OLIVEIRA, Milena Edite Casé et al. Série temporal do suicídio no Brasil: o que mudou após o Setembro Amarelo?. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 48, p. e3191-e3191, 14 maio 2020.