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Unidade 1 - Introdução à História da Arte Tomaz CivattiIniciar Introdução Há apenas uma forma de direcionarmos nosso olhar aos primórdios da arte humana? Há quem olhe hoje para a abundância de informações e produtos de cultura que nos cerca e não imagina os diferentes lugares que a arte já ocupou na condição e existência humanas ao longo do tempo. Hoje, o principal papel que vemos a arte desempenhar é o de entretenimento. Há diferentes canais de streaming de conteúdo online, a música �ui em abundância entre os jovens e adultos, os catálogos de livros aumentam a cada dia. Se é verdade que vivemos em abundância, também é verdade que há muita pasteurização no que consumimos. E não é, a arte virou consumo na atualidade. Mas para chegarmos até nossos tempos, precisamos realizar um longo percurso da presença desta atividade dentre o conjunto de ações e relações que os seres humanos realizaram ao longo de suas vidas. Esse percurso pode remontar a mais de 4 dezenas de milênios atrás. Mas, mantenhamos a calma. Faremos esse percurso passo a passo. Por �m, também iremos entender as consequências ambientais e socioambientais da ocupação territorial e a expansão das cidades. Bons estudos! Aliás, há outra questão importante que devemos considerar antes de começar nossa jornada ao longo da história da arte. Existe um caminho em linha reta que nos leva a busca do início de tudo? Basta folhearmos para trás as páginas dos acontecimentos hi ó i l d d d ? históricos para alcançar a resposta de quando e como tudo começou? Nos será necessário algum tipo de bússola para realizar esse trajeto. Percurso no qual, aliás, precisaremos saltar de continente em continente, conversar com diferentes pessoas, observar bem de perto e sobre diversas óticas nossas evidências históricas, nossas obras de arte. Nesta primeira unidade, iniciaremos justamente por este questionamento: há apenas uma forma de direcionarmos nosso olhar para os primórdios da arte humana? Aliás, há somente um método para estudarmos as transformações da arte em diferentes culturas, produzidas por diferentes povos em lugares díspares de nosso globo terrestre? De que maneira podemos tomar os objetos artísticos como evidências dessa história? Eles bastam por si sós? Após esta breve re�exão acerca das metodologias da história da arte, passaremos a nos debruçar sobre alguns momentos da produção artística da humanidade. Nos valendo do tempo como forma de organizar nossos estudos, começaremos pelas evidências mais antigas: as artes rupestres e demais indícios que nossos mais longínquos ancestrais conseguiram destinar a nós. Então, passaremos a civilizações já bastante conhecidas por nós, cujo legado marca centralmente até hoje nossa maneira de pensar e existir enquanto seres humanos. Falaremos o grande império Egípcio e o relacionamento que desenvolveu entre arte, religião e governança. Após isso, nossa próxima parada será a sociedade grega. Lá analisaremos como a mitologia e religião, �loso�a e política se divorciaram e passaram a disputar espaço para saber qual seria a maior in�uenciadora da arte e da cultura. Esperamos que seja uma viagem proveitosa! Bons estudos! 1. A bússola para os antigos caminhos da arte Assim como ocorre nas demais ciências, na arte e também na história, as renovações de pesquisas acadêmicas e embates sobre concepções, constantemente provocam mudanças no olhar que direcionamos aos nossos objetos de estudo. O pensamento que predominou nas ciências do século XX, in�uenciou fortemente a maneira a qual as gerações atuais estudaram e se direcionaram para compreender a arte ao longo dos tempos. Certamente estarão vocês também habituados a folhear o passar do tempo das produções artísticas organizado por escolas e tradições de artes, como classicismo, romantismo, surrealismo etc. Muito provavelmente também, os principais objetos que embasaram seus estudos são obras produzidas pelos chamados “grandes gênios” e que marcaram a forma tanto como seus contemporâneos apreciavam a arte, como também a maneira como nós o fazemos. Também deve ser fato que, a ressalva de alguns grupos de artistas brasileiros, a imensa maioria das criações que você conheceu tenha sido concebida por artistas europeus. Será que esta experiência que temos da apreciação da arte representa uma verdade em termos de história da arte, ou será que somos marcados por uma determinada história vigente como o�cial e a única que nos é transmitida? Será que, realmente, no século XVIII, no apogeu do romantismo na Europa, não havia artistas em outros lugares do mundo, expressando e simbolizando a vida como esta se lhes apresentava? Ainda que o percurso que estejamos fazendo nesta unidade coincida em parte com esta tradição de olhar a história da arte, no século XXI já nos cabe nos instrumentalizar de outras mentalidades e interesses para desvendar o que os diversos momentos e geogra�as da produção artística humana nos reservaram. Assim, nos cabe, neste primeiro tópico desta nossa unidade, dispor à mesa alguns instrumentos renovados e potenciais para que possamos, nós, as gerações atuais, de�nirmos o nosso olhar para a história humana. Não será, obviamente, uma tarefa fácil. Não se trata, também, de legar ao esquecimento todos os debates e estudos que já foram feitos ao longo de séculos de pensamento e criação artísticas para então inventarmos a roda Porém sim é pensamento e criação artísticas para então inventarmos a roda. Porém, sim, é necessário saber que a forma para a qual olhamos a história da arte também de�ne qual arte queremos continuar a produzir em nossos tempos. Iniciemos então? 1.1. Quais documentos participam da história da arte? Quando imaginamos um historiador realizando uma pesquisa sobre determinado período, certamente pressupomos que ele busque determinados documentos para endossar a narrativa que irá produzir sobre os acontecimentos da época em que pesquisa, certo? Para tornar aquele conhecimento o mais palpável e crível o possível para nós, ele nos trás diferentes evidências que o comprovarão. Já, ao realizar um retrato de determinado período da produção artística em determinado lugar, o que supomos é que se faça o mesmo, certo? Desta forma, quando os historiadores da arte buscam a�rmar as características da produção de uma época, nos trarão quais as principais in�uências marcavam, direcionavam e construíam aquela cultura. Às vezes, só com o projeto artístico de Leonardo da Vinci, alguém se prestará a reviver a Renascença na Europa. Porém, será que só essa evidência é su�ciente? Um “grande gênio” que desponta é um criador pujante da cultura, ou será que ele é um destaque que expõe toda uma trama de con�itos sociais, culturais, artísticos, geográ�cos, políticos e por aí a fora? Walter Benjamin, ao re�etir sobre a metodologia de estudo da história, recomenda que se “escove a história a contrapelo”. Isso porque, segundo seu pensamento, a história que nos chega, representa certa versão dos fatos, mas não uma verdade inquestionável. A cada ciclo histórico, são indivíduos reais, com interesses próprios, que irão moldar e escrever a história o�cial que chegará até nós. Isso porque serão l ã id d d �i d é á l eles que terão vencido toda a trama de con�itos de sua época e será o seu relato que chegará até nós. Assim, todo bem cultural, todo documento de cultura, é também um documento da guerra de interesses que vem sendo travada pela humanidade, desde que o homem é homem. Desta forma, ao admitir este olhar para o documento histórico que é proposto, nos é demandado buscar no contexto de sua produção e circulação como este se inseria nesta trama complexa que se estende sobre a existência humana no período em questão e em relação a outros períodos. Sobre um documento, assim, não há como repousar um olhar imparcial, jornalístico, como se fosse uma evidência morta, sem intenções ao futuro de onde a observamos. A�nal, a conservação da arte para a atualidade, a seleçãodos bens que nos chegam hoje, bem como o discurso que a interpreta e a exalta, remetem a uma determinada hegemonia de pensamento cujos interesses são plenamente parciais. Saiba mais! Você o conhece : Walter Benjamin foi um ensaísta, �lósofo, crítico literário e sociólogo judeu alemão. Viveu entre os anos de 1892 e 1940. Pertencia ao círculo acadêmico conhecido como a escola de Frankfurt, associando-se também a chamada Teoria Crítica. Foi um dos grandes críticos ao processo de mercantilização e industrialização da arte que seria promovido pela indústria cultural. Suas obras mais conhecidas são A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936) e Teses sobre o conceito da história (1940). 1.2. As diferentes histórias da arte Ao pensar na obra de arte como um documento histórico de suas transformações, ao elegê-la, nos posicionamos naquela trama de con�itos que de lá de trás nos enreda até os tempos atuais. É necessário, portanto, ao direcionarmos nosso olhar ao passado captar não só os procedimentos artísticos, mas também este diálogo entre presente e passado, buscando revelar o contexto daquela produção num palco de con�itos, depreendendo sua aproximação, mediação, negação ou assimilação por determinadas in�uências políticas e sociais, bem como com projetos de sociedade e cultura. Junto aos “grandes gênios” e seus mecenas, também não sustentam toda a vida artística de uma época, cultura e geogra�a, toda uma multidão de pessoas sem nome, dentre as que criavam arte e as que a apreciavam, a faziam circular? Estas pessoas, cujos nomes e anseios não temos a chance fácil de conhecer como os gênios, também não nos transmitem um algo importante sobre o lugar da arte em nossa condição humana? É com o minguar do século XX e a aproximação do século XXI, com o fortalecimento de manifestações e protestos de intelectuais e populações historicamente invisibilizadas, que se imporá cada vez mais a necessidade de se falar não de uma, mas de variadas histórias da arte. De deslocar a Europa do centro e poder abarcar produções artísticas nos variados continentes, de se pensar a contribuição dos negros para as artes, das mulheres. Até e, principalmente e o mesmo, falar de um convívio entre o cânone e a tradição mais altas das artes com as manifestações populares de cultura, que in�uenciam nossas sociedades tanto quanto se não até mais do que as dos “grandes gênios”. Uma contribuição decisória para esta mudança está nas mãos de algumas intelectuais ligadas às ondas de movimentos feministas dos idos de 1970. Questionavam com curiosidade a evidência de que, no percurso historiográ�co da arte, as mulheres terem sido ou esquecidas ou simplesmente interditadas no pódio dos “grandes artistas”. Enquanto observavam que, em todos os tempos, as mulheres tenham sido furiosamente feitas de objeto das artes desses homens, elevadas a categoria de musas e símbolos da beleza – mas desta, unicamente. Intentavam derrubar justamente mitos ligados ao artista e à arte, principalmente o do “artista superdotado” como único válido de admiração e sua arte a única a que deveria ser atribuída valor. Viam que o surgimento destes artistas partiam de consequência das disposições dadas à sociedade assim como a invisibilização ou consequência das disposições dadas à sociedade, assim como a invisibilização ou interdição de artistas mulheres eram re�exo de uma sociedade cujos valores eram patriarcais. A história feminista da arte trouxe à luz grandes artistas esquecidas. A exemplo Camille Claudel, cujas obras, inclusive, foram atribuídas à Auguste Rodin, pois ela mesma estava interditada a assiná-las por conta da moralidade da sociedade europeia. Da mesma forma que vemos ocorrer tal situação quanto às mulheres, no aspecto geográ�co é o mesmo. A historiogra�a o�cial da arte tende a dispor as luzes da ribalta sempre direcionada à arte europeia, esquecendo-se das enormes contribuições das sociedades africanas, orientais, ameríndias, latinas etc. É necessário percebermos que a China ou a África detém suas próprias narrativas históricas da arte, pungentes e muitas vezes ignorando solenemente as determinações dadas pela Europa. Outros continentes desenvolviam suas referências e percursos próprios, raramente citados na história o�cial e ocidental da Você quer ver? O �lme francês Camille Claudel (1988) conta a história da grande escultora a partir do ano de 1885. Relata seus con�itos com sua família de valores burgueses e como se tornou aprendiz e assistente do artista Auguste Rodin. Por conta de suas ações consideradas subversivas e do caso que terá com seu “mestre” cairá na desgraça junto à sociedade parisiense e sua família, terminando a vida internada num manicômio. Você quer ler? A feminista e ensaísta Linda Nochlin discute o lugar da mulher na arte no interessante ensaio “Por que não houve grandes mulheres artistas”. Acesso no link a seguir: < http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf >. http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf arte, que geralmente se foca em estudar os últimos 2.500 anos. Figura 1. Guerreiros Terracota. Fonte: Pixabay Ainda há exemplos de produções que, simplesmente, com todos os valores estipulados pela Europa para a validade e exaltação da arte, continuaram a produzir arte como sempre �zeram, como a própria África. No caso deste continente, ainda, na historiogra�a, seu expoente cuja cultura é mais contundente e inegável, o Egito, muitas vezes é desterritorializado, como se não pertencesse à África, sendo visto como domínio comum da humanidade. Se não bastasse ainda, são imputadas às artes destas outras geogra�as o lugar de primitivas e ultrapassadas pelos avanços técnicos do mundo ocidental. Figura 2. Estatueta baulê (No. Tombo 77/d.1.67) 2. Povos ancestrais e suas manifestações artísticas Quando vamos pensar no primórdio absoluto da arte, nos remetemos ao tempo das cavernas e suas inscrições e pinturas rupestres. E até mesmo neste campo, acharemos diferentes possibilidades para se fazer história da arte. Muito certamente você já terá tomado conhecimento da famosíssima Caverna de Lascaux na França e mais algumas outras localizadas nesta região da Europa, em que a historiogra�a a�xa o surgimento da pintura rupestre para toda a humanidade. Este aporte que lhes dá a historiogra�a e a arqueologia o�ciais tem um poder muito grande para determinar a Europa, mais uma vez, como um lugar privilegiado do surgimento e do desenvolvimento da civilização humana. Situando outras culturas, como as indígenas ou tribais, no exato ponto primitivo que abandonaram lá atrás quando começaram a “evoluir”. Niède Guidon, no entanto, é o nome que irá polemizar quanto a esta perspectiva de história da arte e, neste ponto, de história humana. Acontece que em estudos e pesquisas que a pesquisadora realizou num dos sítios arqueológicos mais vastos do planeta, localizado no Piauí, ela descobriu evidências categóricas que poderiam mudar a visão que a ciência tem quanto o povoamento das Américas. Há evidências arqueológicas que demonstram indícios de ocupação humana neste território que datariam de épocas anteriores à Era Glacial. Esta era é central para a teoria que coloca que o povoamento das Américas se deu num momento de congelamento do oceano no ponto entre a América do norte e a Europa, possibilitando a travessia. Com as descobertas de Niède, assume-se a possibilidade de a América ter sido alcançada por uma travessia via oceano atlântico, tendo sido feita, supõe-se até há 100mil anos atrás. 100mil anos atrás. Figura 3. Pintura rupestre, Parque Nacional da Capivara. Fonte: FRIQUES, Manoel. Piauí é aqui: As pinturas rupestres piauienses entre a Arqueologia e a História da Arte. VISUALIDADES, Goiânia v.15 n.2 p. 11-38, jul.-dez./2017. No entanto, aqui, como em outras circunstâncias do fazer histórico, não se poupam disputas. Permanecendo uma queda de braço para saber se as primeirasevidências de pintura rupestres e outros artesanatos humanos encontram-se em Lascaux ou no Parque Nacional da Serra da Capivara. 2.1. Arte mágica A distância histórica nos di�culta muitas vezes determinar os porquês das artes ancestrais, bem como alcançar seus signi�cados relegados a nós por nossos longínquos antepassados. Para se ter noção do desa�o, situamos estas artes no período Paleolítico, cujo �nal se deu há mais de 35 mil anos. No entanto, uma possibilidade que se a�xa fortemente, é a que relaciona as pinturas rupestres e outras evidências artísticas com as crenças míticas e a realização mágica por parte de nossos antepassados. As pesquisas apontam, muitas vezes, que a função das pinturas rupestres estaria ligada a rituais e, sobretudo, à benção para uma caça bem sucedida. Você quer ver? O �lme A Guerra do Fogo (1981) retrata a pré-história de dois grupos de hominídeos no período da pré-história Um primeiro menos evoluído e ligado diretamente a Ainda há considerações que ligam a arte como possibilidade de criação de realidades, associando o desenho dos animais com a expectativa de invocá-los em tempos de escassez de alimentos. O que é de muita lógica, pois, além de indícios geológicos destes tempos de vacas magras na Terra, diversos objetos de arte confeccionados por estes povos retratam suas crenças ligadas a deusas da fertilidade – que posteriormente serão mortas na Grécia e substituídas pelos deuses solares da guerra. Um exemplo destas divindades é a Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria, em 15.000 a.c. Figura 4. Venus de Willendorf Fonte: Encyclopedia Britannica. Disponível em: < https://www.britannica.com/topic/Venus-of-Willendorf >. Acesso em: 16 abr. 2019 no período da pré história. Um primeiro menos evoluído e ligado diretamente a sobrevivência pela violência. Um segundo que já detém de hábitos com características mais humanas, sendo a linguagem, as artes e a ritualística do fogo que o diferencia do segundo. Vale a pena assistir para entender como a arte pode participar da humanização do homem. 2019. Historiadores indicam, inclusive, a possibilidade de na mitologia mais ancestral, estes povos verem a Terra como um grande útero, capaz de dar vida àquelas imagens que grafavam nas pedras. Quem nunca quando criança procurou semelhanças entre os contornos das pedras e imagens inconscientes? Pois bem, estes povos, muitas vezes utilizavam as reentrâncias das rochas das cavernas para comporem seus desenhos – como se as rochas clamassem pela invocação daqueles animais. 2.2. O período Neolítico Ao adentrar o período Neolítico (7.000 a 2.500 a.c.), as sociedades ocidentais iniciam o lento processo de distanciamento da natureza, rompendo com a Grande Mãe. Desejam dominá-la, para não viver mais sob seus jugos, criam eles mesmos os animais e realizam agricultura, desenvolvendo técnicas que os alçariam para além dos desígnios das determinações naturais. A arte passa então a não mais querer, por um aspecto mágico, invocar a natureza ou redesenhá-la, fundindo-a a impressões humanas. Outros povos, entretanto, não rompem o relacionamento afetuoso com a natureza como sendo a mãe terra, permanecendo a invocar seus agrados em rituais, compondo máscaras, fazendo gra�smos e pinturas corporais para se assemelhar a ela. São os povos originários, tribos africanas, ameríndios e outros indígenas ao redor do globo. Ainda que muitas vezes sua arte seja tomada como primitiva, os objetos e registros deixados por estes povos são de detalhamento técnico impressionante, demonstrando muita sensibilidade e apreço pelo fazer artístico. A utilização de objetos, como máscaras ou cocares está centralmente ligada a rituais, que incorporam ainda elementos da poesia do canto (como imitação da ação humana no ato de narrar bem como da palavra mágica), da performance, da música e da dança. Rituais que tinham intenção da transmissão de tradições culturais e identitárias, e entendimentos a respeito do universo e da criação. Figura 5. Arte da Africa Fonte: BLACKHAWK MUSEUM. Art of Africa. Disponível em: < https://blackhawkmuseum.org/art-of-africa/ >. Acesso em: 16 abr. 2019. Você quer ler? Segismundo Spina, no livro Na madrugada das formas poéticas traça todo um resgate histórico da utilização da palavra como magia de alteração da realidade pelas culturas mais ancestrais. 3. Egito Antigo A arte no Egito Antigo estava fortemente ligada à religião também. Desde os túmulos que garantiriam a entrada do faraó no mundo dos mortos e o Livro dos Mortos que demonstrava todos os requisitos preparatórios para, depois da morte, garantir que a deusa Maat fosse generosa ao considerar os feitos da pessoa em vida na terra. Esta produção artística servia fundamentalmente como forma de comunicação do https://blackhawkmuseum.org/art-of-africa/ https://blackhawkmuseum.org/art-of-africa/ Esta produção artística servia fundamentalmente como forma de comunicação do pensamento, da cultura e da religião nos diferentes períodos do império, assim como para registro e manutenção das crenças e desígnios. Estava, bem como, a serviço dos interesses das classes dominantes, da teocracia e da nobreza. Pela forma como era registrada, sempre de maneira magistral e monumental, era mesmo só esta elite que poderia �nanciá-la. Restando ao povo apenas objetos mais modestos ou admiração aos monumentos. A função social da arte era bem delimitada e o artista tinha um lugar de�nido e regulado no interior do estrato social. As disposições de representação artísticas eram rígidas e a pro�ssão era passada de pai para �lho – sendo que o aprendiz começava desde a infância para atender às exigências técnicas e dogmáticas. Ainda que tenha sido essa categoria social uma das grandes responsáveis por transmitir a noção de cultura egípcia que chega até nós, seu trabalho não era autoral e o lugar que o artista ocupava era diferente do que vemos hoje na modernidade. O trabalho era coletivo e muitas vezes extremamente árduo, se formos considerar também como artistas e artesãos toda a legião de escravos que trabalhou na construção de pirâmides, es�nges e monumentos diversos. Além disso, o reconhecimento pela conclusão das obras era atribuído aos nobres e faraós responsáveis pelos projetos. No Egito, os suportes que encontramos para a arte eram centralmente os papiros, as paredes de templos, palácios e túmulos, bem como obras arquitetônicas e objetos fabricados de diferentes materiais. Dada à dimensão das composições em templos e túmulos, a representação artística era feita em equipes de artesãos, cada um com as respectivas tarefas, formando uma verdadeira linha de produção. As cores dos desenhos e hieróglifos eram feitas a partir de diferentes minerais e substratos, sendo que cada uma delas tinha uma associação mística que transmitia simbolismos pré-estabelecidos e designados a colorir �guras especí�cas. A tintura preta, por exemplo, era fabricado à base de carvão e simbolizava ou a noite / morte ou a fertilidade / regeneração, e com ela se pintava sobrancelhas, perucas, olhos e bocas. A religião egípcia era ainda considerada uma alta e complexa �loso�a, pelo panteão e por todos os conhecimentos de sua mitologia compreendiam e organizavam a sociedade em seus mais variados aspectos. Este sistema de crenças e ideias era modi�cado ao longo dos mais de 3.500 anos de duração do império egípcio e de sua vasta extensão ao correr do rio Nilo. Mas era sua repleta gama de deuses, mitos, rituais e crenças, registrados das mais diferentes maneiras, que mantinham a coesão do poder à época. A arte egípcia então detém esse lugar central de manter e disseminar a cultura e a tradição desta sociedade ao longo de tantos anos. Saiba mais! Hieróglifos são sinais que compõe sistemas de escritas de povos da antiguidade, como os Egípcios. Eram símbolos sagrados dos mais variados tipos e diferiam do alfabeto, pois representavam diretamente objetos ou ideias e não fonemas. Somente a classesacerdotal e os escribas conheciam a arte de ler e decifrar tais escritos e neles se grafavam toda a doutrina religiosa, bem como os conhecimentos históricos do Egito. 4. A Grécia Antiga Enquanto o Egito era um império, que organizava diferentes cidades, povos e povoados, a Grécia antiga era uma região ocupada por diferentes povos (helênicos), com línguas e culturas próprias, organizadas independentemente em cidades conhecidas por “polis”. As duas mais conhecidas e importantes são Atenas e Esparta, que guerrearam por in�uencia na Guerra do Peloponeso. Estas polis tinham perspectivas civilizatórias quase opostas – uma cultuava mais a discussão de ideias, a �loso�a e a organização urbana, enquanto a outra o treino físico, a estratégia militar e a arte da guerra. O panteão grego é bastante conhecido na cultura ocidental, graças à importância que as civilizações posteriores deram a este povo. Os principais deuses eram doze, o dodecateão, residindo no Monte Olimpo. E cada cidade costumava ter um determinado deus como guardião, erguendo templos em seu louvor e lhe dispondo de oferendas e festivais. Os gregos tinham bastante curiosidade sobre o futuro e consultavam oráculos e sacerdotisas quanto ao seu futuro. A mitologia grega conta, ainda, com uma in�nidade de lendas e �guras míticas menores, mas em geral todas são retratadas, transmitidas e exaltadas nos diferentes meios artísticos. Os gregos, assim como os egípcios, eram bastante ligados à escrita. Mas diferente de seus precursores, não utilizavam hieróglifos, mas um sistema alfabético. Diferente ainda dos egípcios, em que religião e política coexistiam harmonicamente ao ponto quase de se confundirem, na Grécia o exercício da razão e as práticas �losó�cas disputavam espaço com a mitologia e as crenças. Chegando ao ponto de, em alguns momentos, �lósofos terem sido perseguidos por seus pensamentos e condenados à morte. Você quer ler? Os indícios que assemelham Grécia e Egito são vários e aqui temos mais um ponto em que a historiogra�a pode ser alvo de críticas vorazes de historiadores divergentes. George Monah escreveu o livro Stolen Legacy – evidências da presença egípcia na cultura grega, em que argumenta com diversos documentos a apropriação da cultura grega por sobre os conhecimentos egípcios. Este crédito ao grande império africano até hoje não foi atribuído. Leia mais acessando o link: <https://www.geledes.org.br/os-gregos-roubaram-�loso�a-dos-africanos-por-yeye- akilimali/>. Na arte grega, vemos a poesia despontar. No intervalo entre mitologia e �loso�a, tem um espaço privilegiado, retratando a relação dos humanos com os deuses, nas famosas epopeias, abordando os feitos dos heróis em guerras ou jornadas pessoais de aprendizagem. Na cultura grega já vemos o advento da persona do artista, abrindo-se espaço para participações autorais, já não sendo assimilados sob os desígnios diretos dos líderes políticos. E quais são as consequências? O teatro também aparecerá, já dissociado de momentos ritualísticos, a representação ganha bastante força e diversas peças são produzidas e encenadas. Na cultura grega, esta arte se divide em dois gêneros: a tragédia e a comédia. A primeira tem um aspecto mais educativo direcionado ao povo, buscando passar ideias sobre a condição humana e as jornadas de aprendizagem diante do confronto com as determinações divinas. O segundo tipo mostram seres humanos que decaíram por faltas morais e visam entreter e divertir a população. O advento do teatro está ligado, ainda assim, a homenagens em grandes festivais rendidos a Dionísio, deus das artes e do vinho. A arte grega é marcada pela perseguição da beleza. Aristóteles resume a intenção: “O belo conduz o homem à perfeição”. A arte então busca representar as formas mais inalcançáveis de beleza física, como nas esculturas de homens musculosos e de musas estonteantes. O culto à beleza se retransmite na cultura da Grécia também pelas práticas esportivas em diversas competições para revelar a maior aptidão corporal. As olimpíadas, inclusive, advém da Grécia antiga, onde haviam eventos semelhantes como as panateneias, competição que rende homenagem à deusa Atena. Ainda que esta prática não atingisse a re�nada perfeição das esculturas, os gregos também eram requintados ceramistas, produzindo objetos para variadas funções que inspiravam a beleza da criação humana nos cotidianos e transmitiam a cultura e tradição daquele povo nas pinturas de suas superfícies. A escultura grega visava valorizar a imagem do ser humano, dando-lhe uma representação ideal, ainda que visando respeitar suas características físicas e i i i lá i li ã d akilimali/ . emocionais com um retratismo clássico e naturalista. A representação dos movimentos nas esculturas se altera ao longo do tempo nesta arte, deixando o caráter estático para retratar os indivíduos em suas diferentes atividades, endossando a ligação àquela cultura com o corpo. Os gregos visavam ainda um retrato realista da anatomia humana, o que se pode observar na musculatura, em tendões �exionados etc. Uma última arte a destacar ainda é a arquitetura. Certamente todos conhecem as colunas gregas, mas também há toda uma gama de construções públicas que se destacam na imagem daquela cultura. Podemos citar as acrópoles, estruturas de governo situadas dentro das ágoras, que por sua vez eram sistemas públicos destinados a discussões públicas entre os cidadãos gregos. Assim como os an�teatros, os templos e monumentos diversos. Síntese Chegamos ao �m desta unidade. Aprofundamos nossos conhecimentos acerca das metodologias de se fazer história da arte. Aprendemos que os olhares que direcionamos ao nosso passado também partem das ideias que temos na atualidade sobre esta atividade humana. Pudemos viajar pela cultura de povos ancestrais até duas grandes civilizações da antiguidade, a egípcia e a grega. Nesta unidade você teve a oportunidade de: Determinar diferentes formas de olhar para o passado na arte; Decidir a respeito de qual bússola usar para buscar os conhecimentos históricos a respeito da arte e cultura; De�nir em que medida as obras de arte são documentos históricos e como utilizá-las como tal; Dissociar diferentes histórias da arte a partir de suas concepções, interesses e objetivos; Desvendar a arte nos primórdios da humanidade; Visitar a cultura egípcia antiga e observar o papel da arte conectada à religiosidade; Visualizar como a arte objetiva perseguir a beleza e a perfeição na Grécia Antiga; Download do PDF da unidade Download do PDF da unidade Bibliografia ARNOLD, Dana. Introdução à história da arte . Trad. Jacquelina Valpassos. São Paulo: Ática, 2008. Disponível em Biblioteca Virtual Universitária. ANDE, Edna. LEMOS, Sueli. Egito. Arte na idade antiga . São Paulo: Callis, 2011. Disponível em Biblioteca Virtual Universitária. ANDE, Edna; LEMOS, Sueli. Grécia. Arte na idade antiga . São Paulo: Callis, 2011. Disponível em Biblioteca Virtual Universitária. FRIQUES, Manoel. Piauí é aqui: As pinturas rupestres piauienses entre a Arqueologia e a História da Arte . VISUALIDADES, Goiânia v.15 n.2 p. 11-38, jul.- dez./2017. JANSON, H. W. JANSON, Anthony. Iniciação à história da arte . São Paulo: Martins Fontes, 2018. LOWY, Michel. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses "Sobre o conceito de Historia” . Tradução de Wanda Nogueira Caldeira Brant / [tradução das teses] Jeanne Marie Gagnebin, Marcos Lutz Müller. - Sao Paulo: Boitempo, 2005.
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