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HISTÓRIA DA ARTE - Unidade 1

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Unidade 1 - Introdução à História
da Arte
Tomaz CivattiIniciar
Introdução
Há apenas uma forma de direcionarmos nosso olhar aos primórdios da arte
humana?
Há quem olhe hoje para a abundância de informações e produtos de cultura que nos
cerca e não imagina os diferentes lugares que a arte já ocupou na condição e
existência humanas ao longo do tempo. Hoje, o principal papel que vemos a arte
desempenhar é o de entretenimento. Há diferentes canais de streaming de conteúdo
online, a música �ui em abundância entre os jovens e adultos, os catálogos de livros
aumentam a cada dia.
Se é verdade que vivemos em abundância, também é verdade que há muita
pasteurização no que consumimos. E não é, a arte virou consumo na atualidade. Mas
para chegarmos até nossos tempos, precisamos realizar um longo percurso da
presença desta atividade dentre o conjunto de ações e relações que os seres
humanos realizaram ao longo de suas vidas. Esse percurso pode remontar a mais de
4 dezenas de milênios atrás. Mas, mantenhamos a calma. Faremos esse percurso
passo a passo.
Por �m, também iremos entender as consequências ambientais e socioambientais da
ocupação territorial e a expansão das cidades.
Bons estudos!
Aliás, há outra questão importante que devemos considerar antes de começar nossa
jornada ao longo da história da arte. Existe um caminho em linha reta que nos leva a
busca do início de tudo? Basta folhearmos para trás as páginas dos acontecimentos
hi ó i l d d d ?
históricos para alcançar a resposta de quando e como tudo começou?
Nos será necessário algum tipo de bússola para realizar esse trajeto. Percurso no
qual, aliás, precisaremos saltar de continente em continente, conversar com
diferentes pessoas, observar bem de perto e sobre diversas óticas nossas evidências
históricas, nossas obras de arte.
Nesta primeira unidade, iniciaremos justamente por este questionamento: há
apenas uma forma de direcionarmos nosso olhar para os primórdios da arte
humana? Aliás, há somente um método para estudarmos as transformações da arte
em diferentes culturas, produzidas por diferentes povos em lugares díspares de
nosso globo terrestre? De que maneira podemos tomar os objetos artísticos como
evidências dessa história? Eles bastam por si sós?
Após esta breve re�exão acerca das metodologias da história da arte, passaremos a
nos debruçar sobre alguns momentos da produção artística da humanidade. Nos
valendo do tempo como forma de organizar nossos estudos, começaremos pelas
evidências mais antigas: as artes rupestres e demais indícios que nossos mais
longínquos ancestrais conseguiram destinar a nós.
Então, passaremos a civilizações já bastante conhecidas por nós, cujo legado marca
centralmente até hoje nossa maneira de pensar e existir enquanto seres humanos.
Falaremos o grande império Egípcio e o relacionamento que desenvolveu entre arte,
religião e governança.
Após isso, nossa próxima parada será a sociedade grega. Lá analisaremos como a
mitologia e religião, �loso�a e política se divorciaram e passaram a disputar espaço
para saber qual seria a maior in�uenciadora da arte e da cultura.
Esperamos que seja uma viagem proveitosa! Bons estudos!
1. A bússola para os antigos
caminhos da arte
Assim como ocorre nas demais ciências, na arte e também na história, as renovações
de pesquisas acadêmicas e embates sobre concepções, constantemente provocam
mudanças no olhar que direcionamos aos nossos objetos de estudo.
O pensamento que predominou nas ciências do século XX, in�uenciou fortemente a
maneira a qual as gerações atuais estudaram e se direcionaram para compreender a
arte ao longo dos tempos. Certamente estarão vocês também habituados a folhear o
passar do tempo das produções artísticas organizado por escolas e tradições de
artes, como classicismo, romantismo, surrealismo etc. Muito provavelmente
também, os principais objetos que embasaram seus estudos são obras produzidas
pelos chamados “grandes gênios” e que marcaram a forma tanto como seus
contemporâneos apreciavam a arte, como também a maneira como nós o fazemos.
Também deve ser fato que, a ressalva de alguns grupos de artistas brasileiros, a
imensa maioria das criações que você conheceu tenha sido concebida por artistas
europeus.
Será que esta experiência que temos da apreciação da arte representa uma verdade
em termos de história da arte, ou será que somos marcados por uma determinada
história vigente como o�cial e a única que nos é transmitida? Será que, realmente, no
século XVIII, no apogeu do romantismo na Europa, não havia artistas em outros
lugares do mundo, expressando e simbolizando a vida como esta se lhes
apresentava?
Ainda que o percurso que estejamos fazendo nesta unidade coincida em parte com
esta tradição de olhar a história da arte, no século XXI já nos cabe nos
instrumentalizar de outras mentalidades e interesses para desvendar o que os
diversos momentos e geogra�as da produção artística humana nos reservaram.
Assim, nos cabe, neste primeiro tópico desta nossa unidade, dispor à mesa alguns
instrumentos renovados e potenciais para que possamos, nós, as gerações atuais,
de�nirmos o nosso olhar para a história humana.
Não será, obviamente, uma tarefa fácil. Não se trata, também, de legar ao
esquecimento todos os debates e estudos que já foram feitos ao longo de séculos de
pensamento e criação artísticas para então inventarmos a roda Porém sim é
pensamento e criação artísticas para então inventarmos a roda. Porém, sim, é
necessário saber que a forma para a qual olhamos a história da arte também de�ne
qual arte queremos continuar a produzir em nossos tempos.
Iniciemos então?
1.1. Quais documentos participam da
história da arte?
Quando imaginamos um historiador realizando uma pesquisa sobre determinado
período, certamente pressupomos que ele busque determinados documentos para
endossar a narrativa que irá produzir sobre os acontecimentos da época em que
pesquisa, certo? Para tornar aquele conhecimento o mais palpável e crível o possível
para nós, ele nos trás diferentes evidências que o comprovarão.
Já, ao realizar um retrato de determinado período da produção artística em
determinado lugar, o que supomos é que se faça o mesmo, certo? Desta forma,
quando os historiadores da arte buscam a�rmar as características da produção de
uma época, nos trarão quais as principais in�uências marcavam, direcionavam e
construíam aquela cultura. Às vezes, só com o projeto artístico de Leonardo da Vinci,
alguém se prestará a reviver a Renascença na Europa. Porém, será que só essa
evidência é su�ciente?
Um “grande gênio” que desponta é um criador pujante da cultura, ou será que ele é
um destaque que expõe toda uma trama de con�itos sociais, culturais, artísticos,
geográ�cos, políticos e por aí a fora?
Walter Benjamin, ao re�etir sobre a metodologia de estudo da história, recomenda
que se “escove a história a contrapelo”. Isso porque, segundo seu pensamento, a
história que nos chega, representa certa versão dos fatos, mas não uma verdade
inquestionável. A cada ciclo histórico, são indivíduos reais, com interesses próprios,
que irão moldar e escrever a história o�cial que chegará até nós. Isso porque serão
l ã id d d �i d é á l
eles que terão vencido toda a trama de con�itos de sua época e será o seu relato que
chegará até nós. Assim, todo bem cultural, todo documento de cultura, é também
um documento da guerra de interesses que vem sendo travada pela humanidade,
desde que o homem é homem.
Desta forma, ao admitir este olhar para o documento histórico que é proposto, nos é
demandado buscar no contexto de sua produção e circulação como este se inseria
nesta trama complexa que se estende sobre a existência humana no período em
questão e em relação a outros períodos.
Sobre um documento, assim, não há como repousar um olhar imparcial, jornalístico,
como se fosse uma evidência morta, sem intenções ao futuro de onde a observamos.
A�nal, a conservação da arte para a atualidade, a seleçãodos bens que nos chegam
hoje, bem como o discurso que a interpreta e a exalta, remetem a uma determinada
hegemonia de pensamento cujos interesses são plenamente parciais.
Saiba mais!
Você o conhece : Walter Benjamin foi um ensaísta, �lósofo, crítico literário e
sociólogo judeu alemão. Viveu entre os anos de 1892 e 1940. Pertencia ao círculo
acadêmico conhecido como a escola de Frankfurt, associando-se também a chamada
Teoria Crítica. Foi um dos grandes críticos ao processo de mercantilização e
industrialização da arte que seria promovido pela indústria cultural. Suas obras mais
conhecidas são A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936) e Teses
sobre o conceito da história (1940).
1.2. As diferentes histórias da arte
Ao pensar na obra de arte como um documento histórico de suas transformações,
ao elegê-la, nos posicionamos naquela trama de con�itos que de lá de trás nos
enreda até os tempos atuais. É necessário, portanto, ao direcionarmos nosso olhar
ao passado captar não só os procedimentos artísticos, mas também este diálogo
entre presente e passado, buscando revelar o contexto daquela produção num palco
de con�itos, depreendendo sua aproximação, mediação, negação ou assimilação por
determinadas in�uências políticas e sociais, bem como com projetos de sociedade e
cultura.
Junto aos “grandes gênios” e seus mecenas, também não sustentam toda a vida
artística de uma época, cultura e geogra�a, toda uma multidão de pessoas sem
nome, dentre as que criavam arte e as que a apreciavam, a faziam circular? Estas
pessoas, cujos nomes e anseios não temos a chance fácil de conhecer como os
gênios, também não nos transmitem um algo importante sobre o lugar da arte em
nossa condição humana?
É com o minguar do século XX e a aproximação do século XXI, com o fortalecimento
de manifestações e protestos de intelectuais e populações historicamente
invisibilizadas, que se imporá cada vez mais a necessidade de se falar não de uma,
mas de variadas histórias da arte. De deslocar a Europa do centro e poder abarcar
produções artísticas nos variados continentes, de se pensar a contribuição dos
negros para as artes, das mulheres. Até e, principalmente e o mesmo, falar de um
convívio entre o cânone e a tradição mais altas das artes com as manifestações
populares de cultura, que in�uenciam nossas sociedades tanto quanto se não até
mais do que as dos “grandes gênios”.
Uma contribuição decisória para esta mudança está nas mãos de algumas
intelectuais ligadas às ondas de movimentos feministas dos idos de 1970.
Questionavam com curiosidade a evidência de que, no percurso historiográ�co da
arte, as mulheres terem sido ou esquecidas ou simplesmente interditadas no pódio
dos “grandes artistas”. Enquanto observavam que, em todos os tempos, as mulheres
tenham sido furiosamente feitas de objeto das artes desses homens, elevadas a
categoria de musas e símbolos da beleza – mas desta, unicamente.
Intentavam derrubar justamente mitos ligados ao artista e à arte, principalmente o
do “artista superdotado” como único válido de admiração e sua arte a única a que
deveria ser atribuída valor. Viam que o surgimento destes artistas partiam de
consequência das disposições dadas à sociedade assim como a invisibilização ou
consequência das disposições dadas à sociedade, assim como a invisibilização ou
interdição de artistas mulheres eram re�exo de uma sociedade cujos valores eram
patriarcais. A história feminista da arte trouxe à luz grandes artistas esquecidas. A
exemplo Camille Claudel, cujas obras, inclusive, foram atribuídas à Auguste Rodin,
pois ela mesma estava interditada a assiná-las por conta da moralidade da sociedade
europeia.
Da mesma forma que vemos ocorrer tal situação quanto às mulheres, no aspecto
geográ�co é o mesmo. A historiogra�a o�cial da arte tende a dispor as luzes da
ribalta sempre direcionada à arte europeia, esquecendo-se das enormes
contribuições das sociedades africanas, orientais, ameríndias, latinas etc.
É necessário percebermos que a China ou a África detém suas próprias narrativas
históricas da arte, pungentes e muitas vezes ignorando solenemente as
determinações dadas pela Europa. Outros continentes desenvolviam suas
referências e percursos próprios, raramente citados na história o�cial e ocidental da
Você quer ver?
O �lme francês Camille Claudel (1988) conta a história da grande escultora a partir
do ano de 1885. Relata seus con�itos com sua família de valores burgueses e como
se tornou aprendiz e assistente do artista Auguste Rodin. Por conta de suas ações
consideradas subversivas e do caso que terá com seu “mestre” cairá na desgraça
junto à sociedade parisiense e sua família, terminando a vida internada num
manicômio.
Você quer ler?
A feminista e ensaísta Linda Nochlin discute o lugar da mulher na arte no
interessante ensaio “Por que não houve grandes mulheres artistas”. Acesso no link a
seguir: < http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf >.
http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf
http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf
arte, que geralmente se foca em estudar os últimos 2.500 anos.
Figura 1. Guerreiros Terracota. Fonte: Pixabay
Ainda há exemplos de produções que, simplesmente, com todos os valores
estipulados pela Europa para a validade e exaltação da arte, continuaram a produzir
arte como sempre �zeram, como a própria África. No caso deste continente, ainda,
na historiogra�a, seu expoente cuja cultura é mais contundente e inegável, o Egito,
muitas vezes é desterritorializado, como se não pertencesse à África, sendo visto
como domínio comum da humanidade. Se não bastasse ainda, são imputadas às
artes destas outras geogra�as o lugar de primitivas e ultrapassadas pelos avanços
técnicos do mundo ocidental.
Figura 2. Estatueta baulê (No. Tombo 77/d.1.67)
2. Povos ancestrais e suas
manifestações artísticas
Quando vamos pensar no primórdio absoluto da arte, nos remetemos ao tempo das
cavernas e suas inscrições e pinturas rupestres. E até mesmo neste campo,
acharemos diferentes possibilidades para se fazer história da arte.
Muito certamente você já terá tomado conhecimento da famosíssima Caverna de
Lascaux na França e mais algumas outras localizadas nesta região da Europa, em que
a historiogra�a a�xa o surgimento da pintura rupestre para toda a humanidade.
Este aporte que lhes dá a historiogra�a e a arqueologia o�ciais tem um poder muito
grande para determinar a Europa, mais uma vez, como um lugar privilegiado do
surgimento e do desenvolvimento da civilização humana. Situando outras culturas,
como as indígenas ou tribais, no exato ponto primitivo que abandonaram lá atrás
quando começaram a “evoluir”.
Niède Guidon, no entanto, é o nome que irá polemizar quanto a esta perspectiva de
história da arte e, neste ponto, de história humana. Acontece que em estudos e
pesquisas que a pesquisadora realizou num dos sítios arqueológicos mais vastos do
planeta, localizado no Piauí, ela descobriu evidências categóricas que poderiam
mudar a visão que a ciência tem quanto o povoamento das Américas. Há evidências
arqueológicas que demonstram indícios de ocupação humana neste território que
datariam de épocas anteriores à Era Glacial. Esta era é central para a teoria que
coloca que o povoamento das Américas se deu num momento de congelamento do
oceano no ponto entre a América do norte e a Europa, possibilitando a travessia.
Com as descobertas de Niède, assume-se a possibilidade de a América ter sido
alcançada por uma travessia via oceano atlântico, tendo sido feita, supõe-se até há
100mil anos atrás.
100mil anos atrás.
Figura 3. Pintura rupestre, Parque Nacional da Capivara. Fonte: FRIQUES,
Manoel. Piauí é aqui: As pinturas rupestres piauienses entre a Arqueologia e a
História da Arte. VISUALIDADES, Goiânia v.15 n.2 p. 11-38, jul.-dez./2017.
No entanto, aqui, como em outras circunstâncias do fazer histórico, não se poupam
disputas. Permanecendo uma queda de braço para saber se as primeirasevidências
de pintura rupestres e outros artesanatos humanos encontram-se em Lascaux ou no
Parque Nacional da Serra da Capivara.
2.1. Arte mágica
A distância histórica nos di�culta muitas vezes determinar os porquês das artes
ancestrais, bem como alcançar seus signi�cados relegados a nós por nossos
longínquos antepassados. Para se ter noção do desa�o, situamos estas artes no
período Paleolítico, cujo �nal se deu há mais de 35 mil anos.
No entanto, uma possibilidade que se a�xa fortemente, é a que relaciona as pinturas
rupestres e outras evidências artísticas com as crenças míticas e a realização mágica
por parte de nossos antepassados. As pesquisas apontam, muitas vezes, que a
função das pinturas rupestres estaria ligada a rituais e, sobretudo, à benção para
uma caça bem sucedida.
Você quer ver?
O �lme A Guerra do Fogo (1981) retrata a pré-história de dois grupos de hominídeos
no período da pré-história Um primeiro menos evoluído e ligado diretamente a
Ainda há considerações que ligam a arte como possibilidade de criação de
realidades, associando o desenho dos animais com a expectativa de invocá-los em
tempos de escassez de alimentos. O que é de muita lógica, pois, além de indícios
geológicos destes tempos de vacas magras na Terra, diversos objetos de arte
confeccionados por estes povos retratam suas crenças ligadas a deusas da fertilidade
– que posteriormente serão mortas na Grécia e substituídas pelos deuses solares da
guerra. Um exemplo destas divindades é a Vênus de Willendorf, encontrada na
Áustria, em 15.000 a.c.
Figura 4. Venus de Willendorf Fonte: Encyclopedia Britannica. Disponível em: <
https://www.britannica.com/topic/Venus-of-Willendorf >. Acesso em: 16 abr.
2019
no período da pré história. Um primeiro menos evoluído e ligado diretamente a
sobrevivência pela violência. Um segundo que já detém de hábitos com
características mais humanas, sendo a linguagem, as artes e a ritualística do fogo que
o diferencia do segundo. Vale a pena assistir para entender como a arte pode
participar da humanização do homem.
2019.
Historiadores indicam, inclusive, a possibilidade de na mitologia mais ancestral, estes
povos verem a Terra como um grande útero, capaz de dar vida àquelas imagens que
grafavam nas pedras. Quem nunca quando criança procurou semelhanças entre os
contornos das pedras e imagens inconscientes? Pois bem, estes povos, muitas vezes
utilizavam as reentrâncias das rochas das cavernas para comporem seus desenhos –
como se as rochas clamassem pela invocação daqueles animais.
2.2. O período Neolítico
Ao adentrar o período Neolítico (7.000 a 2.500 a.c.), as sociedades ocidentais iniciam
o lento processo de distanciamento da natureza, rompendo com a Grande Mãe.
Desejam dominá-la, para não viver mais sob seus jugos, criam eles mesmos os
animais e realizam agricultura, desenvolvendo técnicas que os alçariam para além
dos desígnios das determinações naturais.
A arte passa então a não mais querer, por um aspecto mágico, invocar a natureza ou
redesenhá-la, fundindo-a a impressões humanas. Outros povos, entretanto, não
rompem o relacionamento afetuoso com a natureza como sendo a mãe terra,
permanecendo a invocar seus agrados em rituais, compondo máscaras, fazendo
gra�smos e pinturas corporais para se assemelhar a ela. São os povos originários,
tribos africanas, ameríndios e outros indígenas ao redor do globo.
Ainda que muitas vezes sua arte seja tomada como primitiva, os objetos e registros
deixados por estes povos são de detalhamento técnico impressionante,
demonstrando muita sensibilidade e apreço pelo fazer artístico.
A utilização de objetos, como máscaras ou cocares está centralmente ligada a rituais,
que incorporam ainda elementos da poesia do canto (como imitação da ação
humana no ato de narrar bem como da palavra mágica), da performance, da música
e da dança. Rituais que tinham intenção da transmissão de tradições culturais e
identitárias, e entendimentos a respeito do universo e da criação.
Figura 5. Arte da Africa Fonte: BLACKHAWK MUSEUM. Art of Africa. Disponível
em: < https://blackhawkmuseum.org/art-of-africa/ >. Acesso em: 16 abr. 2019.
Você quer ler?
Segismundo Spina, no livro Na madrugada das formas poéticas traça todo um
resgate histórico da utilização da palavra como magia de alteração da realidade pelas
culturas mais ancestrais.
3. Egito Antigo
A arte no Egito Antigo estava fortemente ligada à religião também. Desde os túmulos
que garantiriam a entrada do faraó no mundo dos mortos e o Livro dos Mortos que
demonstrava todos os requisitos preparatórios para, depois da morte, garantir que a
deusa Maat fosse generosa ao considerar os feitos da pessoa em vida na terra.
Esta produção artística servia fundamentalmente como forma de comunicação do
https://blackhawkmuseum.org/art-of-africa/
https://blackhawkmuseum.org/art-of-africa/
Esta produção artística servia fundamentalmente como forma de comunicação do
pensamento, da cultura e da religião nos diferentes períodos do império, assim como
para registro e manutenção das crenças e desígnios. Estava, bem como, a serviço dos
interesses das classes dominantes, da teocracia e da nobreza. Pela forma como era
registrada, sempre de maneira magistral e monumental, era mesmo só esta elite que
poderia �nanciá-la. Restando ao povo apenas objetos mais modestos ou admiração
aos monumentos.
A função social da arte era bem delimitada e o artista tinha um lugar de�nido e
regulado no interior do estrato social. As disposições de representação artísticas
eram rígidas e a pro�ssão era passada de pai para �lho – sendo que o aprendiz
começava desde a infância para atender às exigências técnicas e dogmáticas.
Ainda que tenha sido essa categoria social uma das grandes responsáveis por
transmitir a noção de cultura egípcia que chega até nós, seu trabalho não era autoral
e o lugar que o artista ocupava era diferente do que vemos hoje na modernidade. O
trabalho era coletivo e muitas vezes extremamente árduo, se formos considerar
também como artistas e artesãos toda a legião de escravos que trabalhou na
construção de pirâmides, es�nges e monumentos diversos. Além disso, o
reconhecimento pela conclusão das obras era atribuído aos nobres e faraós
responsáveis pelos projetos.
No Egito, os suportes que encontramos para a arte eram centralmente os papiros, as
paredes de templos, palácios e túmulos, bem como obras arquitetônicas e objetos
fabricados de diferentes materiais.
Dada à dimensão das composições em templos e túmulos, a representação artística
era feita em equipes de artesãos, cada um com as respectivas tarefas, formando
uma verdadeira linha de produção.
As cores dos desenhos e hieróglifos eram feitas a partir de diferentes minerais e
substratos, sendo que cada uma delas tinha uma associação mística que transmitia
simbolismos pré-estabelecidos e designados a colorir �guras especí�cas. A tintura
preta, por exemplo, era fabricado à base de carvão e simbolizava ou a noite / morte
ou a fertilidade / regeneração, e com ela se pintava sobrancelhas, perucas, olhos e
bocas.
A religião egípcia era ainda considerada uma alta e complexa �loso�a, pelo panteão e
por todos os conhecimentos de sua mitologia compreendiam e organizavam a
sociedade em seus mais variados aspectos. Este sistema de crenças e ideias era
modi�cado ao longo dos mais de 3.500 anos de duração do império egípcio e de sua
vasta extensão ao correr do rio Nilo. Mas era sua repleta gama de deuses, mitos,
rituais e crenças, registrados das mais diferentes maneiras, que mantinham a coesão
do poder à época.
A arte egípcia então detém esse lugar central de manter e disseminar a cultura e a
tradição desta sociedade ao longo de tantos anos.
Saiba mais!
Hieróglifos são sinais que compõe sistemas de escritas de povos da antiguidade,
como os Egípcios. Eram símbolos sagrados dos mais variados tipos e diferiam do
alfabeto, pois representavam diretamente objetos ou ideias e não fonemas. Somente
a classesacerdotal e os escribas conheciam a arte de ler e decifrar tais escritos e
neles se grafavam toda a doutrina religiosa, bem como os conhecimentos históricos
do Egito.
4. A Grécia Antiga
Enquanto o Egito era um império, que organizava diferentes cidades, povos e
povoados, a Grécia antiga era uma região ocupada por diferentes povos (helênicos),
com línguas e culturas próprias, organizadas independentemente em cidades
conhecidas por “polis”. As duas mais conhecidas e importantes são Atenas e Esparta,
que guerrearam por in�uencia na Guerra do Peloponeso. Estas polis tinham
perspectivas civilizatórias quase opostas – uma cultuava mais a discussão de ideias, a
�loso�a e a organização urbana, enquanto a outra o treino físico, a estratégia militar
e a arte da guerra.
O panteão grego é bastante conhecido na cultura ocidental, graças à importância
que as civilizações posteriores deram a este povo. Os principais deuses eram doze, o
dodecateão, residindo no Monte Olimpo. E cada cidade costumava ter um
determinado deus como guardião, erguendo templos em seu louvor e lhe dispondo
de oferendas e festivais. Os gregos tinham bastante curiosidade sobre o futuro e
consultavam oráculos e sacerdotisas quanto ao seu futuro.
A mitologia grega conta, ainda, com uma in�nidade de lendas e �guras míticas
menores, mas em geral todas são retratadas, transmitidas e exaltadas nos diferentes
meios artísticos.
Os gregos, assim como os egípcios, eram bastante ligados à escrita. Mas diferente de
seus precursores, não utilizavam hieróglifos, mas um sistema alfabético.
Diferente ainda dos egípcios, em que religião e política coexistiam harmonicamente
ao ponto quase de se confundirem, na Grécia o exercício da razão e as práticas
�losó�cas disputavam espaço com a mitologia e as crenças. Chegando ao ponto de,
em alguns momentos, �lósofos terem sido perseguidos por seus pensamentos e
condenados à morte.
Você quer ler?
Os indícios que assemelham Grécia e Egito são vários e aqui temos mais um ponto
em que a historiogra�a pode ser alvo de críticas vorazes de historiadores
divergentes. George Monah escreveu o livro Stolen Legacy – evidências da presença
egípcia na cultura grega, em que argumenta com diversos documentos a apropriação
da cultura grega por sobre os conhecimentos egípcios. Este crédito ao grande
império africano até hoje não foi atribuído. Leia mais acessando o link:
<https://www.geledes.org.br/os-gregos-roubaram-�loso�a-dos-africanos-por-yeye-
akilimali/>.
Na arte grega, vemos a poesia despontar. No intervalo entre mitologia e �loso�a, tem
um espaço privilegiado, retratando a relação dos humanos com os deuses, nas
famosas epopeias, abordando os feitos dos heróis em guerras ou jornadas pessoais
de aprendizagem. Na cultura grega já vemos o advento da persona do artista,
abrindo-se espaço para participações autorais, já não sendo assimilados sob os
desígnios diretos dos líderes políticos.
E quais são as consequências?
O teatro também aparecerá, já dissociado de momentos ritualísticos, a
representação ganha bastante força e diversas peças são produzidas e encenadas.
Na cultura grega, esta arte se divide em dois gêneros: a tragédia e a comédia. A
primeira tem um aspecto mais educativo direcionado ao povo, buscando passar
ideias sobre a condição humana e as jornadas de aprendizagem diante do confronto
com as determinações divinas. O segundo tipo mostram seres humanos que
decaíram por faltas morais e visam entreter e divertir a população. O advento do
teatro está ligado, ainda assim, a homenagens em grandes festivais rendidos a
Dionísio, deus das artes e do vinho.
A arte grega é marcada pela perseguição da beleza. Aristóteles resume a intenção: “O
belo conduz o homem à perfeição”. A arte então busca representar as formas mais
inalcançáveis de beleza física, como nas esculturas de homens musculosos e de
musas estonteantes. O culto à beleza se retransmite na cultura da Grécia também
pelas práticas esportivas em diversas competições para revelar a maior aptidão
corporal. As olimpíadas, inclusive, advém da Grécia antiga, onde haviam eventos
semelhantes como as panateneias, competição que rende homenagem à deusa
Atena.
Ainda que esta prática não atingisse a re�nada perfeição das esculturas, os gregos
também eram requintados ceramistas, produzindo objetos para variadas funções
que inspiravam a beleza da criação humana nos cotidianos e transmitiam a cultura e
tradição daquele povo nas pinturas de suas superfícies.
A escultura grega visava valorizar a imagem do ser humano, dando-lhe uma
representação ideal, ainda que visando respeitar suas características físicas e
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emocionais com um retratismo clássico e naturalista. A representação dos
movimentos nas esculturas se altera ao longo do tempo nesta arte, deixando o
caráter estático para retratar os indivíduos em suas diferentes atividades,
endossando a ligação àquela cultura com o corpo. Os gregos visavam ainda um
retrato realista da anatomia humana, o que se pode observar na musculatura, em
tendões �exionados etc.
Uma última arte a destacar ainda é a arquitetura. Certamente todos conhecem as
colunas gregas, mas também há toda uma gama de construções públicas que se
destacam na imagem daquela cultura. Podemos citar as acrópoles, estruturas de
governo situadas dentro das ágoras, que por sua vez eram sistemas públicos
destinados a discussões públicas entre os cidadãos gregos. Assim como os
an�teatros, os templos e monumentos diversos.
Síntese
Chegamos ao �m desta unidade. Aprofundamos nossos conhecimentos acerca das
metodologias de se fazer história da arte. Aprendemos que os olhares que
direcionamos ao nosso passado também partem das ideias que temos na atualidade
sobre esta atividade humana. Pudemos viajar pela cultura de povos ancestrais até
duas grandes civilizações da antiguidade, a egípcia e a grega.
Nesta unidade você teve a oportunidade de:
Determinar diferentes formas de olhar para o passado na arte;
Decidir a respeito de qual bússola usar para buscar os conhecimentos históricos a
respeito da arte e cultura;
De�nir em que medida as obras de arte são documentos históricos e como utilizá-las
como tal;
Dissociar diferentes histórias da arte a partir de suas concepções, interesses e
objetivos;
Desvendar a arte nos primórdios da humanidade;
Visitar a cultura egípcia antiga e observar o papel da arte conectada à religiosidade;
Visualizar como a arte objetiva perseguir a beleza e a perfeição na Grécia Antiga;
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Bibliografia
ARNOLD, Dana. Introdução à história da arte . Trad. Jacquelina Valpassos. São
Paulo: Ática, 2008. Disponível em Biblioteca Virtual Universitária.
ANDE, Edna. LEMOS, Sueli. Egito. Arte na idade antiga . São Paulo: Callis, 2011.
Disponível em Biblioteca Virtual Universitária.
ANDE, Edna; LEMOS, Sueli. Grécia. Arte na idade antiga . São Paulo: Callis, 2011.
Disponível em Biblioteca Virtual Universitária.
FRIQUES, Manoel. Piauí é aqui: As pinturas rupestres piauienses entre a
Arqueologia e a História da Arte . VISUALIDADES, Goiânia v.15 n.2 p. 11-38, jul.-
dez./2017.
JANSON, H. W. JANSON, Anthony. Iniciação à história da arte . São Paulo: Martins
Fontes, 2018.
LOWY, Michel. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses "Sobre
o conceito de Historia” . Tradução de Wanda Nogueira Caldeira Brant / [tradução
das teses] Jeanne Marie Gagnebin, Marcos Lutz Müller. - Sao Paulo: Boitempo, 2005.

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