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ENFRETAMENTO A VIOLENCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE PANDEMIA

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DIREITOS HUMANOS E SUSTENTABILIDADE SOCIAL: REFLEXÕES SOBRE O ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MDIREITOS HUMANOS E SUSTENTABILIDADE SOCIAL: REFLEXÕES SOBRE O
ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE
PANDEMIA
Lidiany de Lima Cavalcante
Isadora Lima de Souza
Marjory Batista da Rocha
Resumo: O cenário de pandemia transformou o que acreditávamos conhecer sobre o mundo e
as formas de enfrentamento às problemáticas. O distanciamento social imposto por um
inimigo invisível fomentou não apenas discussões e pesquisas, mas também agravou as
expressões da Questão Social, sobretudo a violência. O isolamento e a convivência, em longo
prazo, despertaram as faces da vitimização contra a mulher no contexto intrafamiliar. Os
dados revelaram a importância da intervenção estatal, a qual foi analisada no presente
trabalho por meio do 1º Juizado Especial no Enfrentamento a Violência Doméstica e
Intrafamiliar contra a mulher. Assim, o presente trabalho objetivou refletir sobre o como as
ações do Juizado Especial asseveram o enfrentamento a violência em tempos de pandemia,
assim como de que forma os Direitos Humanos são elencados diante da necessidade contínua
de sustentabilidade no âmbito das Políticas Públicas. Frente aos desafios, urge não apenas o
enfrentamento ao quadro de emergência sanitária, como também da violência contra as
mulheres, visto o mutismo existente em todas as suas perspectivas.
Palavras-chave: Violência Contra a Mulher. Espaço Socio-jurídico. Sustentabilidade e
Direitos.
1 INTRODUÇÃO
Os dias hodiernos sinalizam dinâmicas de vida e trabalho em contexto diferente da
qual a população estava habituada. Vive-se em uma realidade em que a distância e o
isolamento tornaram-se a única protoforma de segurança. Diante do cenário de pandemia, o
trabalho propõe uma reflexão sobre os desafios da Sustentabilidade dos Direitos Humanos
frente ao contexto de violência contra a mulher.
Ao ponderar a experiência sobre os atendimentos realizados no 1º Juizado Especial de
Combate a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, instância que faz parte do
Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, objetivou-se ponderar os desafios quanto ao
enfrentamento do referido quadro de violência diante dos tempos de pandemia de COVID19,
assim como refletir sobre as perspectivas que o agravamento da crise sanitária pode provocar.
Anais do V SERPINF e III SENPINF
ISBN 978-65-5623-100-6
https://editora.pucrs.br/
2 O MUNDO COM COVID19: CENÁRIO DE UMA PANDEMIA
O final do ano de 2019 foi marcado pela emergência sanitária que se inicia na China e
posteriormente invade o orbe de forma inimaginável. O mundo marcado pelas relações
capitalistas de ordem econômica se vê diante de um desafio silencioso e invisível. Diante
desse contexto, o mundo muda de direção. O contexto é marcado por uma doença causada
pelo novo Coronavírus, o que foi denominado como SARS-COV-2 ou COVID 19. O cenário
econômico, social e cultural sofreu alterações não previstas. Novas formas cotidianas de vida
foram exigidas, tais como a quarentena, o Lockdown e o isolamento social, para que a
humanidade pudesse amadurecer as formas de lidar com um inimigo invisível que pode ser
letal.
De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde (2020) órgão da OMS
(Organização Mundial de Saúde) até setembro do corrente ano, o mundo já tem mais de 28
milhões de casos confirmados com mais de 920 mil mortes. Os dados da OPAS (2020)
mostram ainda que o maior número de óbitos está na região das Américas, com mais de 14
milhões de casos e mais de quinhentas e vinte mil mortes), ou seja, mais da metade dos óbitos
apontados no mundo, seguida da região da Europa, com quase 5 milhões de casos e mais de
220mil mortes; em terceiro lugar encontra-se a região do Sudeste Asiático, com mais de 5
milhões de casos e quase 90 mil mortes até o dia 11 de setembro de 2020.
A realidade brasileira revela contextos que também demandam reflexões. Os dados
ultrapassam 4 milhões de casos com mais de 140 mil mortes. O país está em terceiro lugar em
número de casos, sendo o segundo em quantitativo de óbitos. São Paulo é o estado com maior
número de casos, com mais de 890 mil casos e mais de 32 mil mortes, seguido da Bahia,
Minas Gerais e Rio de Janeiro (OPAS, 2020).
Apesar de todo o ensejo apresentado, ressalta-se que a Pandemia aponta não apenas
problemáticas de naturezas biológicas e fisiológicas, mas também social e política, assim
como largos questionamentos sobre os desafios na busca da sustentabilidade humana diante
do referido cenário.
Anais do V SERPINF e III SENPINF
ISBN 978-65-5623-100-6
https://editora.pucrs.br/
3 SUSTENTABILIDADE SOCIAL E OS DESAFIOS COM O IMPACTO DO COVID19
A sustentabilidade social ao longo das últimas décadas conquistou grande destaque,
por relacionar estabilidade econômica e manutenção na melhoria do bem estar da população,
contribuindo, assim, para a efetivação da participação desta nas decisões coletivas. Entretanto,
de forma paralela, e em função da própria conjuntura econômica, social e política, no cenário
global e nacional tem se vivenciado uma era marcada pela grande produção de
conhecimentos, geração de riquezas e desenvolvimento tecnológico. (ROCHA E
RANCIARO, 2019)
O cenário, no caso brasileiro, evidencia a proliferação das diversas expressões da
Questão Social de forma simultânea. Isto porque, as assimetrias regionais no contexto
nacional relacionadas à degradação do meio ambiente, bem como a presença de um processo
econômico extremamente excludente, têm proporcionado um agravamento da situação de
pobreza e miséria no planeta e, consequentemente, no país, destacando os impactos
ocasionados pela pandemia do novo coronavírus.
Na perspectiva posta por Sachs (2002), o paradigma da sustentabilidade,
compreendido por meio da articulação de suas dimensões, quais sejam, social, econômica,
política, cultural, ambiental, ecológica e geográfica, possibilita a construção de um olhar que
não envolve apenas o ambiente, mas outros pontos, que de modo articulado devem atender as
diferentes necessidades da população.
A sustentabilidade procura a eficácia das dimensões de forma ampla e equitativa,
buscando a melhor forma de uso e manejo dos recursos naturais, no qual as riquezas da
natureza sejam preservadas para as gerações presentes e futuras, de acordo com a cultura e
trajetória de cada grupo social. Sachs (2002) expõe critérios para sustentabilidade destacando
sete de suas dimensões, dentre elas destacaremos as dimensões: social, cultural e política.
Na Dimensão Social o autor destaca alguns apontamentos para a efetivação dos
direitos sociais tais como: alcançar a homogeneidade social, distribuição de renda justa,
emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida e a igualdade no acesso dos recursos e
serviços sociais (SACHS, 2002). Trazendo a bailaa premissa encontrada no Capitulo II, no
Art.6º da Constituição Federal do Brasil de 1988:
Anais do V SERPINF e III SENPINF
ISBN 978-65-5623-100-6
https://editora.pucrs.br/
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (EC no 26/2000, EC no 64/2010 e EC no 90/2015) (BRASIL,
1988)
Com base na dimensão política (SACHS, 2002) que trata a democracia definida em
termos de apropriação universal dos direitos humanos, desenvolvimento de um nível razoável
de coesãoDIREITOS HUMANOS E SUSTENTABILIDADE SOCIAL: REFLEXÕES SOBRE O ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE PANDEMIA Lidiany de Lima Cavalcante Isadora Lima de Souza Marjory Batista da Rocha Resumo: O cenário de pandemia transformou o que acreditávamos conhecer sobre o mundo e as formas de enfrentamento às problemáticas. O distanciamento social imposto por um inimigo invisível fomentou não apenas discussões e pesquisas, mas também agravou as expressões da Questão Social, sobretudo a violência. O isolamento e a convivência, em longo prazo, despertaram as faces da vitimizaçãocontra a mulher no contexto intrafamiliar. Os dados revelaram a importância da intervenção estatal, a qual foi analisada no presente trabalho por meio do 1º Juizado Especial no Enfrentamento a Violência Doméstica e Intrafamiliar contra a mulher. Assim, o presente trabalho objetivou refletir sobre o como as ações do Juizado Especial asseveram o enfrentamento a violência em tempos de pandemia, assim como de que forma os Direitos Humanos são elencados diante da necessidade contínua de sustentabilidade no âmbito das Políticas Públicas. Frente aos desafios, urge não apenas o enfrentamento ao quadro de emergência sanitária, como também da violência contra as mulheres, visto o mutismo existente em todas as suas perspectivas. Palavras-chave: Violência Contra a Mulher. Espaço Socio-jurídico. Sustentabilidade e Direitos. 1 INTRODUÇÃO Os dias hodiernos sinalizam dinâmicas de vida e trabalho em contexto diferente da qual a população estava habituada. Vive-se em uma realidade em que a distância e o isolamento tornaram-se a única protoforma de segurança. Diante do cenário de pandemia, o trabalho propõe uma reflexão sobre os desafios da Sustentabilidade dos Direitos Humanos frente ao contexto de violência contra a mulher. Ao ponderar a experiência sobre os atendimentos realizados no 1º Juizado Especial de Combate a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, instância que faz parte do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, objetivou-se ponderar os desafios quanto ao enfrentamento do referido quadro de violência diante dos tempos de pandemia de COVID19, assim como refletir sobre as perspectivas que o agravamento da crise sanitária pode provocar. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ 2 O MUNDO COM COVID19: CENÁRIO DE UMA PANDEMIA O final do ano de 2019 foi marcado pela emergência sanitária que se inicia na China e posteriormente invade o orbe de forma inimaginável. O mundo marcado pelas relações capitalistas de ordem econômica se vê diante de um desafio silencioso e invisível. Diante desse contexto, o mundo muda de direção. O contexto é marcado por uma doença causada pelo novo Coronavírus, o que foi denominado como SARS-COV-2 ou COVID 19. O cenário econômico, social e cultural sofreu alterações não previstas. Novas formas cotidianas de vida foram exigidas, tais como a quarentena, o Lockdown e o isolamento social, para que a humanidade pudesse amadurecer as formas de lidar com um inimigo invisível que pode ser letal. De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde (2020) órgão da OMS (Organização Mundial de Saúde) até setembro do corrente ano, o mundo já tem mais de 28 milhões de casos confirmados com mais de 920 mil mortes. Os dados da OPAS (2020) mostram ainda que o maior número de óbitos está na região das Américas, com mais de 14 milhões de casos e mais de quinhentas e vinte mil mortes), ou seja, mais da metade dos óbitos apontados no mundo, seguida da região da Europa, com quase 5 milhões de casos e mais de 220mil mortes; em terceiro lugar encontra-se a região do Sudeste Asiático, com mais de 5 milhões de casos e quase 90 mil mortes até o dia 11 de setembro de 2020. A realidade brasileira revela contextos que também demandam reflexões. Os dados ultrapassam 4 milhões de casos com mais de 140 mil mortes. O país está em terceiro lugar em número de casos, sendo o segundo em quantitativo de óbitos. São Paulo é o estado com maior número de casos, com mais de 890 mil casos e mais de 32 mil mortes, seguido da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro (OPAS, 2020). Apesar de todo o ensejo apresentado, ressalta-se que a Pandemia aponta não apenas problemáticas de naturezas biológicas e fisiológicas, mas também social e política, assim como largos questionamentos sobre os desafios na busca da sustentabilidade humana diante do referido cenário. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ 3 SUSTENTABILIDADE SOCIAL E OS DESAFIOS COM O IMPACTO DO COVID19 A sustentabilidade social ao longo das últimas décadas conquistou grande destaque, por relacionar estabilidade econômica e manutenção na melhoria do bem estar da população, contribuindo, assim, para a efetivação da participação desta nas decisões coletivas. Entretanto, de forma paralela, e em função da própria conjuntura econômica, social e política, no cenário global e nacional tem se vivenciado uma era marcada pela grande produção de conhecimentos, geração de riquezas e desenvolvimento tecnológico. (ROCHA E RANCIARO, 2019) O cenário, no caso brasileiro, evidencia a proliferação das diversas expressões da Questão Social de forma simultânea. Isto porque, as assimetrias regionais no contexto nacional relacionadas à degradação do meio ambiente, bem como a presença de um processo econômico extremamente excludente, têm proporcionado um agravamento da situação de pobreza e miséria no planeta e, consequentemente, no país, destacando os impactos ocasionados pela pandemia do novo coronavírus. Na perspectiva posta por Sachs (2002), o paradigma da sustentabilidade, compreendido por meio da articulação de suas dimensões, quais sejam, social, econômica, política, cultural, ambiental, ecológica e geográfica, possibilita a construção de um olhar que não envolve apenas o ambiente, mas outros pontos, que de modo articulado devem atender as diferentes necessidades da população. A sustentabilidade procura a eficácia das dimensões de forma ampla e equitativa, buscando a melhor forma de uso e manejo dos recursos naturais, no qual as riquezas da natureza sejam preservadas para as gerações presentes e futuras, de acordo com a cultura e trajetória de cada grupo social. Sachs (2002) expõe critérios para sustentabilidade destacando sete de suas dimensões, dentre elas destacaremos as dimensões: social, cultural e política. Na Dimensão Social o autor destaca alguns apontamentos para a efetivação dos direitos sociais tais como: alcançar a homogeneidade social, distribuição de renda justa, emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida e a igualdade no acesso dos recursos e serviços sociais (SACHS, 2002). Trazendo a bailaa premissa encontrada no Capitulo II, no Art.6º da Constituição Federal do Brasil de 1988: Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (EC no 26/2000, EC no 64/2010 e EC no 90/2015) (BRASIL, 1988) Com base na dimensão política (SACHS, 2002) que trata a democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos, desenvolvimento de um nível razoável de coesão social. Eficáciado sistema de prevenção de guerra da ONU na garantia da paze na promoção da cooperação internacional, um pacote Norte-Sul de ecodesenvolvimento, baseado no princípio de igualdade,controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio ambiente, prevençãodas mudanças globais negativas, proteção da diversidade biológica (e cultural) e gestão do patrimônio global, comoherança comum da humanidade. Tendo compreendido a sustentabilidade social e do que ela trata, podemos então a partir do conceito apresentado, evidenciar um processo de (in)sustentabilidade social no Brasil, com agravantes na área de saúde e assistência social durante a pandemia. O Brasil construiu, em seu marco jurídico-normativo, um bom planejamento para o serviço de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma política pública, que se materializa em uma série de serviços gratuitos e tem uma ampla concepção de saúde, onde esta é compreendida como acesso ao que construído coletivamente, mas apropriado privadamente (BRAVO, 1996). No entanto, desde o seu nascedouro, na Constituição Federal de 1988, o SUS vem vivendo imensos boicotes, deste citamos apenas três: o desfinanciamento público (a exemplo da Emenda Constitucional (EC) nº 95/2016,que congelou por 20 anos o investimento da saúde e na educação); a sistemática alteração do seu modelo de gestão para perspectivas privatizantes - Plano de Atendimento a Saúde (PAC), em São Paulo, e “cooperativa”, no Rio de Janeiro, nos anos 1990 -, Organizações Sociais (OSs) desde o governo federal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Fundações Estatais de Direito Privado (FEDPs) e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) desde a década passada; e o avanço do setor privado criando uma ideologia da impossibilidade da assistência pública à saúde de qualidade, expulsando amplos segmentos que, iludidos com a compra do plano de saúde, julgam não ser fundamental a defesa do SUS (MATOS, 2014; BRAVO et al, 2015). (MATOS, p. 2, 2020). Nesse cenário nosso sistema de saúde se viu sobrecarregado para a quantidade de contaminados que crescia e hoje ainda se mantém alto em nosso país, graças aos discursos de gestores públicos, que minimizaram a problemática, dando voz a modalidade de capitalismo Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ neoliberal que prega desumanamente uma política em que a economia não pode parar, mas o trabalhador pode se despir de tudo, inclusive da vida. Tais fatores constroem a argumentação de um processo de (in)sustentabilidade social iniciado ainda em 2016 com o golpe contra a presidente Dilma Roussef. (ROCHA e RANCIARO, 2019) Não apenas os ataques a saúde, mas também a previdência social e educação demonstram esse processo crescendo e se tornando cada vez mais perceptível, conforme os retrocessos nos direitos sociais nos distanciam de uma sociedade mais justa e equitativa. 4 OS REFLEXOS NO ÂMBITO SOCIOJURIDICO: CONFINAMENTO E VIOLÊNCIA. O Serviço Social na atualidade tem passado por diversos desafios dentre eles o avanço do conservadorismo na profissão e os reflexos da pandemia do novo coronavírus para a categoria. Em tempos de retrocessos e precarização de Políticas Públicas, parte da categoria de Assistentes Sociais encontra-se passiva ao que vem se transformando o país no que Boschetti (2015) chamou de agudização da barbárie. O preconceito fortalece o pensamento conservador que está na base de propostas ideopolíticas que permeiam o campo da política, da economia, da cultura e das relações sociais em geral. De acordo com Fávero (2018) o Serviço Social no Sociojurídico compreende além do judiciário, a Defensoria Pública, o Ministério Público e o Sistema Prisional e de Segurança (as organizações que executam medidas socioeducativas com jovens e adolescentes e dentre outros). Espaços propícios ao avanço de requisições conservadoras devido a prerrogativas institucionais que lhes conferem poder de controle e disciplinamento de conflitos individuais e sociais pelo Estado burguês, sobretudo numa conjuntura local e mundial em que a intolerância e a indiferença aos desejos e necessidades humanas, sociais e direitos do outro revelam faces extremas, permeadas pela barbárie. O Serviço Social no âmbito sociojurídico, atua com base nas expressões coletivas da Questão Social manifestadas na vida dos usuários atendidos e suas famílias. Assim, o Assistente Social nesse espaço tem seu trabalho caracterizado por uma prática de operacionalização de direitos, de compreensão das problemáticas enfrentadas pelo sujeito no seu cotidiano e suas relações com o judiciário. Com o suporte técnico-operativo, teóricometodológico e ético-político, o Serviço Social é reconhecido como profissão relevante nas Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ decisões forenses, tendo em vista que o profissional realiza estudos sociais, entrevistas, promoção de inquirição, diagnósticos e informações de ordem social. (FÁVERO, 2008). E ainda, o espaço profissional permite uma reflexão e análise da realidade social vivida pela população da efetivação das leis, bem como direitos na sociedade, possibilitando assim o desenvolvimento de ações e campanhas que possam ampliar o alcance dos direitos humanos. (SOUZA E CAVALCANTE, 2020) Destacando neste tópico o âmbito sociojuridico como objeto de análise dos reflexos da pandemia no trabalho do Assistente Social, nos deparamos com uma questão sociocultural latente, a violência doméstica e familiar contra mulher em tempos de confinamento e isolamento social. A inserção do profissional de Serviço Social pode indicar avanço e risco no âmbito Sociojurídico, pois indica que os profissionais dessa área construíram uma pratica e acumularam um saber especifico sobre a realidade particularizada com contexto judicial. Não apenas isso, mas enfrentam o grande desafio de reconhecer, nessa especificidade, sua atuação profissional, se propondo a ver na subjetividade de cada pessoa os atravessamentos de classe, raça, idade, gênero e orientação sexual. Durante muito tempo na história, o patriarcado foi incontestável e era legitimado com base nos papéis de gênero pré-determinados. A mulher em condição de submissão e o homem que detinha todo o poder, submetendo o sujeito feminino a sua vontade. A violência tem sido usada milenarmente para dominar para fazer a mulher acreditar que seu lugar na sociedade é estar sempre submissa ao poder masculino resinada quieta acomodada como as telhas do telhado ou como as escamas dos peixes. (TELES E MELO, p.13, 2002) Esse cenário foi acentuado no período da pandemia, pois as mulheres estavam confinadas com seus agressores e devido a alguma forma de dependência a denuncia ou quebra do ciclo da violência se torna mais difícil. Sendo necessária a adaptação da atuação do Assistente Social nesses casos. O 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em Manaus, o qual faz parte do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, com a finalidade de manter a celeridade dos processos bem como o apoio a essas mulheres, organizou cartilhas e encontros remotos para orientação processual a assistência psicossocial, bem como foram realizados os encaminhamentos necessários aos órgãos que também criaram medidas para atendimento remoto. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Nesse sentido, a Equipe Multidisciplinar1 do Juizado adaptou o Projeto “Maria Acolhe Online”, antes realizado presencialmente. Este trabalho tem o objetivo de oferecer informações sobre a tramitação processual e orientações psicossociais com o intuito de promover reflexões acerca da situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como, informações para acesso aos serviços institucionais neste atual cenário. Vale ressaltar que a primeiro momento não foi possível realizar o atendimento em grupo, devido à dificuldade de acesso das vítimas às plataformas citadas, por este fato os atendimentos iniciais foram realizados de forma individual. Para a realização deste trabalho, foram utilizadas as seguintes ferramentas: a) Contato telefônico para estabelecer o primeiro acolhimento e convite para participar do grupo on-line; b)Envio de link, através do aplicativo whatsapp, para preenchimento de questionário on-line para fins de identificação; c)Envio do convite, através do aplicativo whatsapp, constando a data, a hora e o link para acesso à sala de reunião pelo aplicativo Google Meet. Aborda-se, durante a apresentação, temas como desigualdade de gênero, feminismo, ciclo da violência, dados de feminicídio e de violência doméstica e familiar contra mulher, bem como suas consequências para família. No contexto da atividade, oferece-se ainda à Requerente as orientações para construção de plano de segurança (conjunto de estratégias para acionar nas situações de risco). Ademais, apresentam alguns dispositivos da Lei 11.340/06, tais como as formas de violências e medidas protetivas de urgência. A partir daí, há o prosseguimento com as orientações sobre acesso aos direitos, especialmente à assistência jurídica e psicossocial. Pondera-se ainda o reforço sobre a necessidade de acompanhamento dos processos, seja a ação de medidas protetivas,seja a ação penal (se for o caso). Em seguida, são disponibilizados os contatos para atendimento na Defensoria Pública do Estado do Amazonas/NUDEM e neste Juizado Especializado. E, finalmente, a Requerente é comunicada que a Equipe estará à disposição para atendimento psicossocial individualizado. 1 Relato com base em experiência de campo através de estágio supervisionado da acadêmica Isadora Lima de Souza, no 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, considerando ainda os resultados da Pesquisa de Iniciação Cientifica intitulada “Inclusões e Dissidências no âmbito Sociojurídico: a atuação de profissionais dos Juizados Especializados no Combate à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher junto às mulheres lésbicas que estão na encruzilhada da violência” realizada pela mesma. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Como resultado deste trabalho, foram atendidas em média 149 mulheres, com base nas respostas do formulário online elaborado pelo Juizado, também foi possível caracterizar alguns aspectos da violência, destacando dentre eles os tipos de violência doméstica, como vemos no gráfico 01, foi possível notar um aumento na prática de violência psicológica no período de isolamento. Também se destaca o aspecto socioeconômico de renda, como podemos ver no gráfico 02. Figura 01 - Tipos de Violência em 2020 Figura 02 - Renda das Vitimas em 2020 Fonte: Arquivo do Setor de Serviço Social do 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher. Organizado pela pesquisadora. Ressaltando que os dados são referentes exclusivamente aos atendimentos remotos. A violência em seu significado mais frequente faz referência ao uso da força física e psicológica, intelectual ou moral para obrigar outra pessoa a fazer algo que não tem vontade, constrangendo e privando de liberdade outra pessoa de manifestar seus desejos ou vontades. Uma forma de corrigir e submeter à outra pessoa seu domínio é uma violação dos direitos essenciais do ser humano. O fato é que as mulheres geralmente estão envolvidas emocionalmente com seus parceiros e dependem financeiramente deles, o que acaba resultando em sua submissão. Isso ocorre em qualquer esfera social independentemente do grupo econômico, religioso, social ou cultural. (DIAS, 2010) 0 20 40 60 80 100 120 140 Física Psicologica Moral Sexual Patrimonial 47% 27% 26% Sem renda Até meio salário mínimo Até um salário mínimo Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Trazendo a baila à dimensão cultural também destacada por Sachs (2002) onde a mudança no interior das continuidades por meio do equilíbrio entre respeito à tradição e inovação, pode ser a solução para a desigualdade de gênero. É relevante reconhecer que a violência doméstica é uma realidade que se faz presente no cotidiano e por vezes pode-se não percebê-la, o que desencadeia na naturalização das situações que não deveriam ser consideradas da referida forma. O Brasil está em quinto lugar no ranking de violência doméstica contra mulher com uma média de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde em 2017. Dessa forma, é necessário compreender a importância de debater temas que envolvam violência, desigualdade de gênero e diversidade sexual para que as gerações futuras possam encontrar um meio para vivenciar uma sociedade mais equilibrada e equitativa, pois a violência contra mulher se tornou uma característica cultural (Biroli, 2018), deixada como amarga herança de um passado colonial machista e patriarcal. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O cenário que relaciona o COVID19 transformou o mundo em todos os aspectos. Mas o inimigo é apenas invisível, sinalizado por um vírus que pode ser letal, mas também a violência contra a mulher, que revela o quanto ainda se assiste a um cenário de (in) sustentabilidade diante da eficácia das políticas públicas. A cruel pedagogia do vírus, já asseverada por Santos (2020) fomenta inúmeras expressões da Questão Social que se espraiam no cotidiano de mulheres, que vítimas de violência, não sabem aonde recorrer. Ressaltou-se o relevante papel do 1º Juizado Especial no enfrentamento a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, localizado na cidade de Manaus, um município com mais de dois milhões de habitantes segundo os marcadores do IBGE. As raízes do patriarcalismo e da misoginia pairam no cotidiano das famílias e elenca o fenômeno da violência contra a mulher de forma avassaladora. O contexto pandêmico fomenta não apenas o distanciamento social, mas também os aportes de exclusão, em que mulheres, negras, pobres e de periferia sentem primeiro. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Urge que programas como o que foi expresso no Juizado possam fomentar o empoderamento de mulheres, como também acionar os recantos mais profundos da cultura brasileira que ainda carrega as marcas do machismo e da misoginia de forma medular, para que se possa lutar efetivamente pela transformação para uma nova ordem societária, onde uns não sejam mais iguais que os outros e se possa ponderar efetivamente a sustentabilidade no âmbito dos Direitos Humanos. social. Eficáciado sistema de prevenção de guerra da ONU na garantia da paze na
promoção da cooperação internacional, um pacote Norte-Sul de ecodesenvolvimento, baseado
no princípio de igualdade,controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da
Precaução na gestão do meio ambiente, prevençãodas mudanças globais negativas, proteção
da diversidade biológica (e cultural) e gestão do patrimônio global, comoherança comum da
humanidade.
Tendo compreendido a sustentabilidade social e do que ela trata, podemos então a
partir do conceito apresentado, evidenciar um processo de (in)sustentabilidade social no
Brasil, com agravantes na área de saúde e assistência social durante a pandemia.
O Brasil construiu, em seu marco jurídico-normativo, um bom planejamento para o
serviço de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma política pública, que se
materializa em uma série de serviços gratuitos e tem uma ampla concepção de saúde, onde
esta é compreendida como acesso ao que construído coletivamente, mas apropriado
privadamente (BRAVO, 1996).
No entanto, desde o seu nascedouro, na Constituição Federal de 1988, o SUS
vem vivendo imensos boicotes, deste citamos apenas três: o
desfinanciamento público (a exemplo da Emenda Constitucional (EC) nº
95/2016, que congelou por 20 anos o investimento da saúde e na educação); a
sistemática alteração do seu modelo de gestão para perspectivas privatizantes
- Plano de Atendimento a Saúde (PAC), em São Paulo, e “cooperativa”, no
Rio de Janeiro, nos anos 1990 -, Organizações Sociais (OSs) desde o governo
federal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Fundações
Estatais de Direito Privado (FEDPs) e Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (EBSERH) desde a década passada; e o avanço do setor privado
criando uma ideologia da impossibilidade da assistência pública à saúde de
qualidade, expulsando amplos segmentos que, iludidos com a compra do
plano de saúde, julgam não ser fundamental a defesa do SUS (MATOS,
2014; BRAVO et al, 2015). (MATOS, p. 2, 2020).
Nesse cenário nosso sistema de saúde se viu sobrecarregado para a quantidade de
contaminados que crescia e hoje ainda se mantém alto em nosso país, graças aos discursos de
gestores públicos, que minimizaram a problemática, dando voz a modalidade de capitalismo
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neoliberal que prega desumanamente uma política em que a economia não pode parar, mas o
trabalhador pode se despir de tudo, inclusive da vida.
Tais fatores constroem a argumentação de um processo de (in)sustentabilidade social
iniciado ainda em 2016 com o golpe contra a presidente Dilma Roussef. (ROCHA e
RANCIARO, 2019) Não apenas os ataques a saúde, mas também a previdência social e
educação demonstramesse processo crescendo e se tornando cada vez mais perceptível,
conforme os retrocessos nos direitos sociais nos distanciam de uma sociedade mais justa e
equitativa.
4 OS REFLEXOS NO ÂMBITO SOCIOJURIDICO: CONFINAMENTO E
VIOLÊNCIA.
O Serviço Social na atualidade tem passado por diversos desafios dentre eles o avanço
do conservadorismo na profissão e os reflexos da pandemia do novo coronavírus para a
categoria. Em tempos de retrocessos e precarização de Políticas Públicas, parte da categoria
de Assistentes Sociais encontra-se passiva ao que vem se transformando o país no que
Boschetti (2015) chamou de agudização da barbárie. O preconceito fortalece o pensamento
conservador que está na base de propostas ideopolíticas que permeiam o campo da política, da
economia, da cultura e das relações sociais em geral.
De acordo com Fávero (2018) o Serviço Social no Sociojurídico compreende além do
judiciário, a Defensoria Pública, o Ministério Público e o Sistema Prisional e de Segurança (as
organizações que executam medidas socioeducativas com jovens e adolescentes e dentre
outros). Espaços propícios ao avanço de requisições conservadoras devido a prerrogativas
institucionais que lhes conferem poder de controle e disciplinamento de conflitos individuais
e sociais pelo Estado burguês, sobretudo numa conjuntura local e mundial em que a
intolerância e a indiferença aos desejos e necessidades humanas, sociais e direitos do outro
revelam faces extremas, permeadas pela barbárie.
O Serviço Social no âmbito sociojurídico, atua com base nas expressões coletivas da
Questão Social manifestadas na vida dos usuários atendidos e suas famílias. Assim, o
Assistente Social nesse espaço tem seu trabalho caracterizado por uma prática de
operacionalização de direitos, de compreensão das problemáticas enfrentadas pelo sujeito no
seu cotidiano e suas relações com o judiciário. Com o suporte técnico-operativo, teóricometodológico e ético-político, o Serviço Social é reconhecido como profissão relevante nas
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decisões forenses, tendo em vista que o profissional realiza estudos sociais, entrevistas,
promoção de inquirição, diagnósticos e informações de ordem social. (FÁVERO, 2008). E
ainda, o espaço profissional permite uma reflexão e análise da realidade social vivida pela
população da efetivação das leis, bem como direitos na sociedade, possibilitando assim o
desenvolvimento de ações e campanhas que possam ampliar o alcance dos direitos humanos.
(SOUZA E CAVALCANTE, 2020)
Destacando neste tópico o âmbito sociojuridico como objeto de análise dos reflexos da
pandemia no trabalho do Assistente Social, nos deparamos com uma questão sociocultural
latente, a violência doméstica e familiar contra mulher em tempos de confinamento e
isolamento social.
A inserção do profissional de Serviço Social pode indicar avanço e risco no âmbito
Sociojurídico, pois indica que os profissionais dessa área construíram uma pratica e
acumularam um saber especifico sobre a realidade particularizada com contexto judicial. Não
apenas isso, mas enfrentam o grande desafio de reconhecer, nessa especificidade, sua atuação
profissional, se propondo a ver na subjetividade de cada pessoa os atravessamentos de classe,
raça, idade, gênero e orientação sexual.
Durante muito tempo na história, o patriarcado foi incontestável e era legitimado com
base nos papéis de gênero pré-determinados. A mulher em condição de submissão e o homem
que detinha todo o poder, submetendo o sujeito feminino a sua vontade.
A violência tem sido usada milenarmente para dominar para fazer a mulher
acreditar que seu lugar na sociedade é estar sempre submissa ao poder
masculino resinada quieta acomodada como as telhas do telhado ou como as
escamas dos peixes. (TELES E MELO, p.13, 2002)
Esse cenário foi acentuado no período da pandemia, pois as mulheres estavam
confinadas com seus agressores e devido a alguma forma de dependência a denuncia ou
quebra do ciclo da violência se torna mais difícil. Sendo necessária a adaptação da atuação do
Assistente Social nesses casos. O 1º Juizado Especializado no Combate a Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher em Manaus, o qual faz parte do Tribunal de Justiça do
Estado do Amazonas, com a finalidade de manter a celeridade dos processos bem como o
apoio a essas mulheres, organizou cartilhas e encontros remotos para orientação processual a
assistência psicossocial, bem como foram realizados os encaminhamentos necessários aos
órgãos que também criaram medidas para atendimento remoto.
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Nesse sentido, a Equipe Multidisciplinar1
 do Juizado adaptou o Projeto “Maria Acolhe
Online”, antes realizado presencialmente. Este trabalho tem o objetivo de oferecer
informações sobre a tramitação processual e orientações psicossociais com o intuito de
promover reflexões acerca da situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, bem
como, informações para acesso aos serviços institucionais neste atual cenário. Vale ressaltar
que a primeiro momento não foi possível realizar o atendimento em grupo, devido à
dificuldade de acesso das vítimas às plataformas citadas, por este fato os atendimentos iniciais
foram realizados de forma individual.
Para a realização deste trabalho, foram utilizadas as seguintes ferramentas: a) Contato
telefônico para estabelecer o primeiro acolhimento e convite para participar do grupo on-line;
b)Envio de link, através do aplicativo whatsapp, para preenchimento de questionário on-line
para fins de identificação; c)Envio do convite, através do aplicativo whatsapp, constando a
data, a hora e o link para acesso à sala de reunião pelo aplicativo Google Meet.
 Aborda-se, durante a apresentação, temas como desigualdade de gênero, feminismo,
ciclo da violência, dados de feminicídio e de violência doméstica e familiar contra mulher,
bem como suas consequências para família. No contexto da atividade, oferece-se ainda à
Requerente as orientações para construção de plano de segurança (conjunto de estratégias
para acionar nas situações de risco). Ademais, apresentam alguns dispositivos da Lei
11.340/06, tais como as formas de violências e medidas protetivas de urgência.
 A partir daí, há o prosseguimento com as orientações sobre acesso aos direitos,
especialmente à assistência jurídica e psicossocial. Pondera-se ainda o reforço sobre a
necessidade de acompanhamento dos processos, seja a ação de medidas protetivas, seja a ação
penal (se for o caso). Em seguida, são disponibilizados os contatos para atendimento na
Defensoria Pública do Estado do Amazonas/NUDEM e neste Juizado Especializado. E,
finalmente, a Requerente é comunicada que a Equipe estará à disposição para atendimento
psicossocial individualizado.
1
 Relato com base em experiência de campo através de estágio supervisionado da acadêmica Isadora Lima de
Souza, no 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, considerando
ainda os resultados da Pesquisa de Iniciação Cientifica intitulada “Inclusões e Dissidências no âmbito
Sociojurídico: a atuação de profissionais dos Juizados Especializados no Combate à Violência Doméstica e
Familiar Contra a Mulher junto às mulheres lésbicas que estão na encruzilhada da violência” realizada pela
mesma.
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 Como resultado deste trabalho, foram atendidas em média 149 mulheres, com base nas
respostas do formulário online elaborado pelo Juizado, também foi possível caracterizar
alguns aspectos da violência, destacando dentre eles os tipos de violência doméstica, como
vemos no gráfico 01, foi possível notar um aumento na prática de violência psicológica no
período de isolamento. Também se destaca o aspecto socioeconômico de renda, como
podemos ver no gráfico 02.
Figura 01 - Tipos de Violência em 2020
Figura 02 - Renda das Vitimas em 2020
Fonte: Arquivo do Setor de Serviço Social do 1º JuizadoEspecializado no Combate a Violência Doméstica e
Familiar Contra Mulher. Organizado pela pesquisadora. Ressaltando que os dados são referentes
exclusivamente aos atendimentos remotos.
A violência em seu significado mais frequente faz referência ao uso da força física e
psicológica, intelectual ou moral para obrigar outra pessoa a fazer algo que não tem vontade,
constrangendo e privando de liberdade outra pessoa de manifestar seus desejos ou vontades.
Uma forma de corrigir e submeter à outra pessoa seu domínio é uma violação dos direitos
essenciais do ser humano. O fato é que as mulheres geralmente estão envolvidas
emocionalmente com seus parceiros e dependem financeiramente deles, o que acaba
resultando em sua submissão. Isso ocorre em qualquer esfera social independentemente do
grupo econômico, religioso, social ou cultural. (DIAS, 2010)
0
20
40
60
80
100
120
140
Física Psicologica Moral Sexual Patrimonial
47%
27%
26%
Sem renda
Até meio salário mínimo
Até um salário mínimo
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Trazendo a baila à dimensão cultural também destacada por Sachs (2002) onde a
mudança no interior das continuidades por meio do equilíbrio entre respeito à tradição e
inovação, pode ser a solução para a desigualdade de gênero.
É relevante reconhecer que a violência doméstica é uma realidade que se faz presente
no cotidiano e por vezes pode-se não percebê-la, o que desencadeia na naturalização das
situações que não deveriam ser consideradas da referida forma. O Brasil está em quinto lugar
no ranking de violência doméstica contra mulher com uma média de 4,8 assassinatos para
cada 100 mil mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde em 2017.
Dessa forma, é necessário compreender a importância de debater temas que envolvam
violência, desigualdade de gênero e diversidade sexual para que as gerações futuras possam
encontrar um meio para vivenciar uma sociedade mais equilibrada e equitativa, pois a
violência contra mulher se tornou uma característica cultural (Biroli, 2018), deixada como
amarga herança de um passado colonial machista e patriarcal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 O cenário que relaciona o COVID19 transformou o mundo em todos os aspectos. Mas
o inimigo é apenas invisível, sinalizado por um vírus que pode ser letal, mas também a
violência contra a mulher, que revela o quanto ainda se assiste a um cenário de (in)
sustentabilidade diante da eficácia das políticas públicas.
 A cruel pedagogia do vírus, já asseverada por Santos (2020) fomenta inúmeras
expressões da Questão Social que se espraiam no cotidiano de mulheres, que vítimas de
violência, não sabem aonde recorrer.
Ressaltou-se o relevante papel do 1º Juizado Especial no enfrentamento a Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, localizado na cidade de Manaus, um município com
mais de dois milhões de habitantes segundo os marcadores do IBGE.
As raízes do patriarcalismo e da misoginia pairam no cotidiano das famílias e elenca o
fenômeno da violência contra a mulher de forma avassaladora.
O contexto pandêmico fomenta não apenas o distanciamento social, mas também os
aportes de exclusão, em que mulheres, negras, pobres e de periferia sentem primeiro.
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Urge que programas como o que foi expresso no Juizado possam fomentar o
empoderamento de mulheres, como também acionar os recantos mais profundos da cultura
brasileira que ainda carrega as marcas do machismo e da misoginia de forma medular, para
que se possa lutar efetivamente pela transformação para uma nova ordem societária, onde uns
não sejam mais iguais que os outros e se possa ponderar efetivamente a sustentabilidade no
âmbito dos Direitos Humanos. 
ULHER EM TEMPOS DE PANDEMIA Lidiany de Lima Cavalcante Isadora Lima de Souza Marjory Batista da Rocha Resumo: O cenário de pandemia transformou o que acreditDIREITOS HUMANOS E SUSTENTABILIDADE SOCIAL: REFLEXÕES SOBRE O ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE PANDEMIA Lidiany de Lima Cavalcante Isadora Lima de Souza Marjory Batista da Rocha Resumo: O cenário de pandemia transformou o que acreditávamos conhecer sobre o mundo e as formas de enfrentamento às problemáticas. O distanciamento social imposto por um inimigo invisível fomentou não apenas discussões e pesquisas, mas também agravou as expressões da Questão Social, sobretudo a violência. O isolamento e a convivência, em longo prazo, despertaram as faces da vitimização contra a mulher no contexto intrafamiliar. Os dados revelaram a importância da intervenção estatal, a qual foi analisada no presente trabalho por meio do 1º Juizado Especial no Enfrentamento a Violência Doméstica e Intrafamiliar contra a mulher. Assim, o presente trabalho objetivou refletir sobre o como as ações do Juizado Especial asseveram o enfrentamento a violência em tempos de pandemia, assim como de que forma os Direitos Humanos são elencados diante da necessidade contínua de sustentabilidade no âmbito das Políticas Públicas. Frente aos desafios, urge não apenas o enfrentamento ao quadro de emergência sanitária, como também da violência contra as mulheres, visto o mutismo existente em todas as suas perspectivas. Palavras-chave: Violência Contra a Mulher. Espaço Socio-jurídico. Sustentabilidade e Direitos. 1 INTRODUÇÃO Os dias hodiernos sinalizam dinâmicas de vida e trabalho em contexto diferente da qual a população estava habituada. Vive-se em uma realidade em que a distância e o isolamento tornaram-se a única protoforma de segurança. Diante do cenário de pandemia, o trabalho propõe uma reflexão sobre os desafios da Sustentabilidade dos Direitos Humanos frente ao contexto de violência contra a mulher. Ao ponderar a experiência sobre os atendimentos realizados no 1º Juizado Especial de Combate a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, instância que faz parte do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, objetivou-se ponderar os desafios quanto ao enfrentamento do referido quadro de violência diante dos tempos de pandemia de COVID19, assim como refletir sobre as perspectivas que o agravamento da crise sanitária pode provocar. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ 2 O MUNDO COM COVID19: CENÁRIO DE UMA PANDEMIA O final do ano de 2019 foi marcado pela emergência sanitária que se inicia na China e posteriormente invade o orbe de forma inimaginável. O mundo marcado pelas relações capitalistas de ordem econômica se vê diante de um desafio silencioso e invisível. Diante desse contexto, o mundo muda de direção. O contexto é marcado por uma doença causada pelo novo Coronavírus, o que foi denominado como SARS-COV-2 ou COVID 19. O cenário econômico, social e cultural sofreu alterações não previstas. Novas formas cotidianas de vida foram exigidas, tais como a quarentena, o Lockdown e o isolamento social, para que a humanidade pudesse amadurecer as formas de lidar com um inimigo invisível que pode ser letal. De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde (2020) órgão da OMS (Organização Mundial de Saúde) até setembro do corrente ano, o mundo já tem mais de 28 milhões de casos confirmados com mais de 920 mil mortes. Os dados da OPAS (2020) mostram ainda que o maior número de óbitos está na região das Américas, com mais de 14 milhões de casos e mais de quinhentas e vinte mil mortes), ou seja, mais da metade dos óbitos apontados no mundo, seguida da região da Europa, com quase 5 milhões de casos e mais de 220mil mortes; em terceiro lugar encontra-se a região do Sudeste Asiático, com mais de 5 milhões de casos e quase 90 mil mortes até o dia 11 de setembro de 2020. A realidade brasileira revela contextos que também demandam reflexões. Os dados ultrapassam 4 milhões de casos com mais de 140 mil mortes. O país está em terceiro lugar em número de casos, sendo o segundo em quantitativo de óbitos. São Paulo é o estado com maior número de casos, com mais de 890 mil casos e mais de 32 mil mortes, seguido da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro(OPAS, 2020). Apesar de todo o ensejo apresentado, ressalta-se que a Pandemia aponta não apenas problemáticas de naturezas biológicas e fisiológicas, mas também social e política, assim como largos questionamentos sobre os desafios na busca da sustentabilidade humana diante do referido cenário. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ 3 SUSTENTABILIDADE SOCIAL E OS DESAFIOS COM O IMPACTO DO COVID19 A sustentabilidade social ao longo das últimas décadas conquistou grande destaque, por relacionar estabilidade econômica e manutenção na melhoria do bem estar da população, contribuindo, assim, para a efetivação da participação desta nas decisões coletivas. Entretanto, de forma paralela, e em função da própria conjuntura econômica, social e política, no cenário global e nacional tem se vivenciado uma era marcada pela grande produção de conhecimentos, geração de riquezas e desenvolvimento tecnológico. (ROCHA E RANCIARO, 2019) O cenário, no caso brasileiro, evidencia a proliferação das diversas expressões da Questão Social de forma simultânea. Isto porque, as assimetrias regionais no contexto nacional relacionadas à degradação do meio ambiente, bem como a presença de um processo econômico extremamente excludente, têm proporcionado um agravamento da situação de pobreza e miséria no planeta e, consequentemente, no país, destacando os impactos ocasionados pela pandemia do novo coronavírus. Na perspectiva posta por Sachs (2002), o paradigma da sustentabilidade, compreendido por meio da articulação de suas dimensões, quais sejam, social, econômica, política, cultural, ambiental, ecológica e geográfica, possibilita a construção de um olhar que não envolve apenas o ambiente, mas outros pontos, que de modo articulado devem atender as diferentes necessidades da população. A sustentabilidade procura a eficácia das dimensões de forma ampla e equitativa, buscando a melhor forma de uso e manejo dos recursos naturais, no qual as riquezas da natureza sejam preservadas para as gerações presentes e futuras, de acordo com a cultura e trajetória de cada grupo social. Sachs (2002) expõe critérios para sustentabilidade destacando sete de suas dimensões, dentre elas destacaremos as dimensões: social, cultural e política. Na Dimensão Social o autor destaca alguns apontamentos para a efetivação dos direitos sociais tais como: alcançar a homogeneidade social, distribuição de renda justa, emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida e a igualdade no acesso dos recursos e serviços sociais (SACHS, 2002). Trazendo a bailaa premissa encontrada no Capitulo II, no Art.6º da Constituição Federal do Brasil de 1988: Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (EC no 26/2000, EC no 64/2010 e EC no 90/2015) (BRASIL, 1988) Com base na dimensão política (SACHS, 2002) que trata a democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos, desenvolvimento de um nível razoável de coesão social. Eficáciado sistema de prevenção de guerra da ONU na garantia da paze na promoção da cooperação internacional, um pacote Norte-Sul de ecodesenvolvimento, baseado no princípio de igualdade,controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio ambiente, prevençãodas mudanças globais negativas, proteção da diversidade biológica (e cultural) e gestão do patrimônio global, comoherança comum da humanidade. Tendo compreendido a sustentabilidade social e do que ela trata, podemos então a partir do conceito apresentado, evidenciar um processo de (in)sustentabilidade social no Brasil, com agravantes na área de saúde e assistência social durante a pandemia. O Brasil construiu, em seu marco jurídico-normativo, um bom planejamento para o serviço de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma política pública, que se materializa em uma série de serviços gratuitos e tem uma ampla concepção de saúde, onde esta é compreendida como acesso ao que construído coletivamente, mas apropriado privadamente (BRAVO, 1996). No entanto, desde o seu nascedouro, na Constituição Federal de 1988, o SUS vem vivendo imensos boicotes, deste citamos apenas três: o desfinanciamento público (a exemplo da Emenda Constitucional (EC) nº 95/2016, que congelou por 20 anos o investimento da saúde e na educação); a sistemática alteração do seu modelo de gestão para perspectivas privatizantes - Plano de Atendimento a Saúde (PAC), em São Paulo, e “cooperativa”, no Rio de Janeiro, nos anos 1990 -, Organizações Sociais (OSs) desde o governo federal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Fundações Estatais de Direito Privado (FEDPs) e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) desde a década passada; e o avanço do setor privado criando uma ideologia da impossibilidade da assistência pública à saúde de qualidade, expulsando amplos segmentos que, iludidos com a compra do plano de saúde, julgam não ser fundamental a defesa do SUS (MATOS, 2014; BRAVO et al, 2015). (MATOS, p. 2, 2020). Nesse cenário nosso sistema de saúde se viu sobrecarregado para a quantidade de contaminados que crescia e hoje ainda se mantém alto em nosso país, graças aos discursos de gestores públicos, que minimizaram a problemática, dando voz a modalidade de capitalismo Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ neoliberal que prega desumanamente uma política em que a economia não pode parar, mas o trabalhador pode se despir de tudo, inclusive da vida. Tais fatores constroem a argumentação de um processo de (in)sustentabilidade social iniciado ainda em 2016 com o golpe contra a presidente Dilma Roussef. (ROCHA e RANCIARO, 2019) Não apenas os ataques a saúde, mas também a previdência social e educação demonstram esse processo crescendo e se tornando cada vez mais perceptível, conforme os retrocessos nos direitos sociais nos distanciam de uma sociedade mais justa e equitativa. 4 OS REFLEXOS NO ÂMBITO SOCIOJURIDICO: CONFINAMENTO E VIOLÊNCIA. O Serviço Social na atualidade tem passado por diversos desafios dentre eles o avanço do conservadorismo na profissão e os reflexos da pandemia do novo coronavírus para a categoria. Em tempos de retrocessos e precarização de Políticas Públicas, parte da categoria de Assistentes Sociais encontra-se passiva ao que vem se transformando o país no que Boschetti (2015) chamou de agudização da barbárie. O preconceito fortalece o pensamento conservador que está na base de propostas ideopolíticas que permeiam o campo da política, da economia, da cultura e das relações sociais em geral. De acordo com Fávero (2018) o Serviço Social no Sociojurídico compreende além do judiciário, a Defensoria Pública, o Ministério Público e o Sistema Prisional e de Segurança (as organizações que executam medidas socioeducativas com jovens e adolescentes e dentre outros). Espaços propícios ao avanço de requisições conservadoras devido a prerrogativas institucionais que lhes conferem poder de controle e disciplinamento de conflitos individuais e sociais pelo Estado burguês, sobretudo numa conjuntura local e mundial em que a intolerância e a indiferença aos desejos e necessidades humanas, sociais e direitos do outro revelam faces extremas, permeadas pela barbárie. O Serviço Social no âmbito sociojurídico, atua com base nas expressões coletivas da Questão Social manifestadas na vida dos usuários atendidos e suas famílias. Assim, o Assistente Social nesse espaço tem seu trabalho caracterizado por uma prática de operacionalização de direitos, de compreensão das problemáticas enfrentadas pelo sujeito no seu cotidiano e suas relações com o judiciário. Com o suporte técnico-operativo, teóricometodológico e ético-político, o Serviço Social é reconhecido como profissão relevante nas Anais do V SERPINFe III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ decisões forenses, tendo em vista que o profissional realiza estudos sociais, entrevistas, promoção de inquirição, diagnósticos e informações de ordem social. (FÁVERO, 2008). E ainda, o espaço profissional permite uma reflexão e análise da realidade social vivida pela população da efetivação das leis, bem como direitos na sociedade, possibilitando assim o desenvolvimento de ações e campanhas que possam ampliar o alcance dos direitos humanos. (SOUZA E CAVALCANTE, 2020) Destacando neste tópico o âmbito sociojuridico como objeto de análise dos reflexos da pandemia no trabalho do Assistente Social, nos deparamos com uma questão sociocultural latente, a violência doméstica e familiar contra mulher em tempos de confinamento e isolamento social. A inserção do profissional de Serviço Social pode indicar avanço e risco no âmbito Sociojurídico, pois indica que os profissionais dessa área construíram uma pratica e acumularam um saber especifico sobre a realidade particularizada com contexto judicial. Não apenas isso, mas enfrentam o grande desafio de reconhecer, nessa especificidade, sua atuação profissional, se propondo a ver na subjetividade de cada pessoa os atravessamentos de classe, raça, idade, gênero e orientação sexual. Durante muito tempo na história, o patriarcado foi incontestável e era legitimado com base nos papéis de gênero pré-determinados. A mulher em condição de submissão e o homem que detinha todo o poder, submetendo o sujeito feminino a sua vontade. A violência tem sido usada milenarmente para dominar para fazer a mulher acreditar que seu lugar na sociedade é estar sempre submissa ao poder masculino resinada quieta acomodada como as telhas do telhado ou como as escamas dos peixes. (TELES E MELO, p.13, 2002) Esse cenário foi acentuado no período da pandemia, pois as mulheres estavam confinadas com seus agressores e devido a alguma forma de dependência a denuncia ou quebra do ciclo da violência se torna mais difícil. Sendo necessária a adaptação da atuação do Assistente Social nesses casos. O 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em Manaus, o qual faz parte do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, com a finalidade de manter a celeridade dos processos bem como o apoio a essas mulheres, organizou cartilhas e encontros remotos para orientação processual a assistência psicossocial, bem como foram realizados os encaminhamentos necessários aos órgãos que também criaram medidas para atendimento remoto. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Nesse sentido, a Equipe Multidisciplinar1 do Juizado adaptou o Projeto “Maria Acolhe Online”, antes realizado presencialmente. Este trabalho tem o objetivo de oferecer informações sobre a tramitação processual e orientações psicossociais com o intuito de promover reflexões acerca da situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como, informações para acesso aos serviços institucionais neste atual cenário. Vale ressaltar que a primeiro momento não foi possível realizar o atendimento em grupo, devido à dificuldade de acesso das vítimas às plataformas citadas, por este fato os atendimentos iniciais foram realizados de forma individual. Para a realização deste trabalho, foram utilizadas as seguintes ferramentas: a) Contato telefônico para estabelecer o primeiro acolhimento e convite para participar do grupo on-line; b)Envio de link, através do aplicativo whatsapp, para preenchimento de questionário on-line para fins de identificação; c)Envio do convite, através do aplicativo whatsapp, constando a data, a hora e o link para acesso à sala de reunião pelo aplicativo Google Meet. Aborda-se, durante a apresentação, temas como desigualdade de gênero, feminismo, ciclo da violência, dados de feminicídio e de violência doméstica e familiar contra mulher, bem como suas consequências para família. No contexto da atividade, oferece-se ainda à Requerente as orientações para construção de plano de segurança (conjunto de estratégias para acionar nas situações de risco). Ademais, apresentam alguns dispositivos da Lei 11.340/06, tais como as formas de violências e medidas protetivas de urgência. A partir daí, há o prosseguimento com as orientações sobre acesso aos direitos, especialmente à assistência jurídica e psicossocial. Pondera-se ainda o reforço sobre a necessidade de acompanhamento dos processos, seja a ação de medidas protetivas, seja a ação penal (se for o caso). Em seguida, são disponibilizados os contatos para atendimento na Defensoria Pública do Estado do Amazonas/NUDEM e neste Juizado Especializado. E, finalmente, a Requerente é comunicada que a Equipe estará à disposição para atendimento psicossocial individualizado. 1 Relato com base em experiência de campo através de estágio supervisionado da acadêmica Isadora Lima de Souza, no 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, considerando ainda os resultados da Pesquisa de Iniciação Cientifica intitulada “Inclusões e Dissidências no âmbito Sociojurídico: a atuação de profissionais dos Juizados Especializados no Combate à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher junto às mulheres lésbicas que estão na encruzilhada da violência” realizada pela mesma. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Como resultado deste trabalho, foram atendidas em média 149 mulheres, com base nas respostas do formulário online elaborado pelo Juizado, também foi possível caracterizar alguns aspectos da violência, destacando dentre eles os tipos de violência doméstica, como vemos no gráfico 01, foi possível notar um aumento na prática de violência psicológica no período de isolamento. Também se destaca o aspecto socioeconômico de renda, como podemos ver no gráfico 02. Figura 01 - Tipos de Violência em 2020 Figura 02 - Renda das Vitimas em 2020 Fonte: Arquivo do Setor de Serviço Social do 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher. Organizado pela pesquisadora. Ressaltando que os dados são referentes exclusivamente aos atendimentos remotos. A violência em seu significado mais frequente faz referência ao uso da força física e psicológica, intelectual ou moral para obrigar outra pessoa a fazer algo que não tem vontade, constrangendo e privando de liberdade outra pessoa de manifestar seus desejos ou vontades. Uma forma de corrigir e submeter à outra pessoa seu domínio é uma violação dos direitos essenciais do ser humano. O fato é que as mulheres geralmente estão envolvidas emocionalmente com seus parceiros e dependem financeiramente deles, o que acaba resultando em sua submissão. Isso ocorre em qualquer esfera social independentemente do grupo econômico, religioso, social ou cultural. (DIAS, 2010) 0 20 40 60 80 100 120 140 Física Psicologica Moral Sexual Patrimonial 47% 27% 26% Sem renda Até meio salário mínimo Até um salário mínimo Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Trazendo a baila à dimensão cultural também destacada por Sachs (2002) onde a mudança no interior das continuidades por meio do equilíbrio entre respeito à tradição e inovação, pode ser a solução para a desigualdade de gênero. É relevante reconhecer que a violência doméstica é uma realidade que se faz presente no cotidiano e por vezes pode-se não percebê-la, o que desencadeia na naturalização das situações que não deveriam ser consideradas da referida forma. O Brasil está em quinto lugar no ranking de violência doméstica contra mulher com uma média de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde em 2017. Dessa forma, é necessário compreender a importância de debater temas que envolvam violência, desigualdade de gênero e diversidade sexual para que as gerações futuras possam encontrar um meio para vivenciar uma sociedade mais equilibrada e equitativa, pois a violência contra mulher se tornou uma característicacultural (Biroli, 2018), deixada como amarga herança de um passado colonial machista e patriarcal. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O cenário que relaciona o COVID19 transformou o mundo em todos os aspectos. Mas o inimigo é apenas invisível, sinalizado por um vírus que pode ser letal, mas também a violência contra a mulher, que revela o quanto ainda se assiste a um cenário de (in) sustentabilidade diante da eficácia das políticas públicas. A cruel pedagogia do vírus, já asseverada por Santos (2020) fomenta inúmeras expressões da Questão Social que se espraiam no cotidiano de mulheres, que vítimas de violência, não sabem aonde recorrer. Ressaltou-se o relevante papel do 1º Juizado Especial no enfrentamento a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, localizado na cidade de Manaus, um município com mais de dois milhões de habitantes segundo os marcadores do IBGE. As raízes do patriarcalismo e da misoginia pairam no cotidiano das famílias e elenca o fenômeno da violência contra a mulher de forma avassaladora. O contexto pandêmico fomenta não apenas o distanciamento social, mas também os aportes de exclusão, em que mulheres, negras, pobres e de periferia sentem primeiro. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Urge que programas como o que foi expresso no Juizado possam fomentar o empoderamento de mulheres, como também acionar os recantos mais profundos da cultura brasileira que ainda carrega as marcas do machismo e da misoginia de forma medular, para que se possa lutar efetivamente pela transformação para uma nova ordem societária, onde uns não sejam mais iguais que os outros e se possa ponderar efetivamente a sustentabilidade no âmbito dos Direitos Humanos. ávamos conhecer sobre o mundo e as formas de enfrentamento às problemáticas. O distanciamento social imposto por um inimigo invisível fomentou não apenas discussões e pesquisas, mas também agravou as expressões da Questão Social, sobretudo a violência. O isolamento e a convivência, em longo prazo, despertaram as faces da vitimização contra a mulher no contexto intrafamiliar. Os dados revelaram a importância da intervenção estatal, a qual foi analisada no presente trabalho por meio do 1º Juizado Especial no Enfrentamento a Violência Doméstica e Intrafamiliar contra a mulher. Assim, o presente trabalho objetivou refletir sobre o como as ações do Juizado Especial asseveram o enfrentamento a violência em tempos de pandemia, assim como de que forma os Direitos Humanos são elencados diante da necessidade contínua de sustentabilidade no âmbito das Políticas Públicas. Frente aos desafios, urge não apenas o enfrentamento ao quadro de emergência sanitária, como também da violência contra as mulheres, visto o mutismo existente em todas as suas perspectivas. Palavras-chave: Violência Contra a Mulher. Espaço Socio-jurídico. Sustentabilidade e Direitos. 1 INTRODUÇÃO Os dias hodiernos sinalizam dinâmicas de vida e trabalho em contexto diferente da qual a população estava habituada. Vive-se em uma realidade em que a distância e o isolamento tornaram-se a única protoforma de segurança. Diante do cenário de pandemia, o trabalho propõe uma reflexão sobre os desafios da Sustentabilidade dos Direitos Humanos frente ao contexto de violência contra a mulher. Ao ponderar a experiência sobre os atendimentos realizados no 1º Juizado Especial de Combate a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, instância que faz parte do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, objetivou-se ponderar os desafios quanto ao enfrentamento do referido quadro de violência diante dos tempos de pandemia de COVID19, assim como refletir sobre as perspectivas que o agravamento da crise sanitária pode provocar. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ 2 O MUNDO COM COVID19: CENÁRIO DE UMA PANDEMIA O final do ano de 2019 foi marcado pela emergência sanitária que se inicia na China e posteriormente invade o orbe de forma inimaginável. O mundo marcado pelas relações capitalistas de ordem econômica se vê diante de um desafio silencioso e invisível. Diante desse contexto, o mundo muda de direção. O contexto é marcado por uma doença causada pelo novo Coronavírus, o que foi denominado como SARS-COV-2 ou COVID 19. O cenário econômico, social e cultural sofreu alterações não previstas. Novas formas cotidianas de vida foram exigidas, tais como a quarentena, o Lockdown e o isolamento social, para que a humanidade pudesse amadurecer as formas de lidar com um inimigo invisível que pode ser letal. De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde (2020) órgão da OMS (Organização Mundial de Saúde) até setembro do corrente ano, o mundo já tem mais de 28 milhões de casos confirmados com mais de 920 mil mortes. Os dados da OPAS (2020) mostram ainda que o maior número de óbitos está na região das Américas, com mais de 14 milhões de casos e mais de quinhentas e vinte mil mortes), ou seja, mais da metade dos óbitos apontados no mundo, seguida da região da Europa, com quase 5 milhões de casos e mais de 220mil mortes; em terceiro lugar encontra-se a região do Sudeste Asiático, com mais de 5 milhões de casos e quase 90 mil mortes até o dia 11 de setembro de 2020. A realidade brasileira revela contextos que também demandam reflexões. Os dados ultrapassam 4 milhões de casos com mais de 140 mil mortes. O país está em terceiro lugar em número de casos, sendo o segundo em quantitativo de óbitos. São Paulo é o estado com maior número de casos, com mais de 890 mil casos e mais de 32 mil mortes, seguido da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro (OPAS, 2020). Apesar de todo o ensejo apresentado, ressalta-se que a Pandemia aponta não apenas problemáticas de naturezas biológicas e fisiológicas, mas também social e política, assim como largos questionamentos sobre os desafios na busca da sustentabilidade humana diante do referido cenário. Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ 3 SUSTENTABILIDADE SOCIAL E OS DESAFIOS COM O IMPACTO DO COVID19 A sustentabilidade social ao longo das últimas décadas conquistou grande destaque, por relacionar estabilidade econômica e manutenção na melhoria do bem estar da população, contribuindo, assim, para a efetivação da participação desta nas decisões coletivas. Entretanto, de forma paralela, e em função da própria conjuntura econômica, social e política, no cenário global e nacional tem se vivenciado uma era marcada pela grande produção de conhecimentos, geração de riquezas e desenvolvimento tecnológico. (ROCHA E RANCIARO, 2019) O cenário, no caso brasileiro, evidencia a proliferação das diversas expressões da Questão Social de forma simultânea. Isto porque, as assimetrias regionais no contexto nacional relacionadas à degradação do meio ambiente, bem como a presença de um processo econômico extremamente excludente, têm proporcionado um agravamento da situação de pobreza e miséria no planeta e, consequentemente, no país, destacando os impactos ocasionados pela pandemia do novo coronavírus. Na perspectiva posta por Sachs (2002), o paradigma da sustentabilidade, compreendido por meio da articulação de suas dimensões, quais sejam, social, econômica, política, cultural, ambiental, ecológica e geográfica, possibilita a construção de um olhar que não envolve apenas o ambiente, mas outros pontos, que de modo articulado devem atender as diferentes necessidades da população. A sustentabilidade procura a eficácia das dimensões de forma ampla e equitativa, buscando a melhor forma de uso e manejo dos recursos naturais, no qual as riquezas da natureza sejam preservadas para as gerações presentes e futuras, de acordo com a cultura e trajetória de cada grupo social. Sachs (2002) expõe critérios para sustentabilidade destacando sete de suas dimensões, dentre elas destacaremos as dimensões: social, cultural e política. Na Dimensão Social o autor destaca alguns apontamentos para a efetivação dos direitos sociais tais como: alcançar a homogeneidade social, distribuição de renda justa, empregopleno e/ou autônomo com qualidade de vida e a igualdade no acesso dos recursos e serviços sociais (SACHS, 2002). Trazendo a bailaa premissa encontrada no Capitulo II, no Art.6º da Constituição Federal do Brasil de 1988: Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (EC no 26/2000, EC no 64/2010 e EC no 90/2015) (BRASIL, 1988) Com base na dimensão política (SACHS, 2002) que trata a democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos, desenvolvimento de um nível razoável de coesão social. Eficáciado sistema de prevenção de guerra da ONU na garantia da paze na promoção da cooperação internacional, um pacote Norte-Sul de ecodesenvolvimento, baseado no princípio de igualdade,controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio ambiente, prevençãodas mudanças globais negativas, proteção da diversidade biológica (e cultural) e gestão do patrimônio global, comoherança comum da humanidade. Tendo compreendido a sustentabilidade social e do que ela trata, podemos então a partir do conceito apresentado, evidenciar um processo de (in)sustentabilidade social no Brasil, com agravantes na área de saúde e assistência social durante a pandemia. O Brasil construiu, em seu marco jurídico-normativo, um bom planejamento para o serviço de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma política pública, que se materializa em uma série de serviços gratuitos e tem uma ampla concepção de saúde, onde esta é compreendida como acesso ao que construído coletivamente, mas apropriado privadamente (BRAVO, 1996). No entanto, desde o seu nascedouro, na Constituição Federal de 1988, o SUS vem vivendo imensos boicotes, deste citamos apenas três: o desfinanciamento público (a exemplo da Emenda Constitucional (EC) nº 95/2016, que congelou por 20 anos o investimento da saúde e na educação); a sistemática alteração do seu modelo de gestão para perspectivas privatizantes - Plano de Atendimento a Saúde (PAC), em São Paulo, e “cooperativa”, no Rio de Janeiro, nos anos 1990 -, Organizações Sociais (OSs) desde o governo federal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Fundações Estatais de Direito Privado (FEDPs) e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) desde a década passada; e o avanço do setor privado criando uma ideologia da impossibilidade da assistência pública à saúde de qualidade, expulsando amplos segmentos que, iludidos com a compra do plano de saúde, julgam não ser fundamental a defesa do SUS (MATOS, 2014; BRAVO et al, 2015). (MATOS, p. 2, 2020). Nesse cenário nosso sistema de saúde se viu sobrecarregado para a quantidade de contaminados que crescia e hoje ainda se mantém alto em nosso país, graças aos discursos de gestores públicos, que minimizaram a problemática, dando voz a modalidade de capitalismo Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ neoliberal que prega desumanamente uma política em que a economia não pode parar, mas o trabalhador pode se despir de tudo, inclusive da vida. Tais fatores constroem a argumentação de um processo de (in)sustentabilidade social iniciado ainda em 2016 com o golpe contra a presidente Dilma Roussef. (ROCHA e RANCIARO, 2019) Não apenas os ataques a saúde, mas também a previdência social e educação demonstram esse processo crescendo e se tornando cada vez mais perceptível, conforme os retrocessos nos direitos sociais nos distanciam de uma sociedade mais justa e equitativa. 4 OS REFLEXOS NO ÂMBITO SOCIOJURIDICO: CONFINAMENTO E VIOLÊNCIA. O Serviço Social na atualidade tem passado por diversos desafios dentre eles o avanço do conservadorismo na profissão e os reflexos da pandemia do novo coronavírus para a categoria. Em tempos de retrocessos e precarização de Políticas Públicas, parte da categoria de Assistentes Sociais encontra-se passiva ao que vem se transformando o país no que Boschetti (2015) chamou de agudização da barbárie. O preconceito fortalece o pensamento conservador que está na base de propostas ideopolíticas que permeiam o campo da política, da economia, da cultura e das relações sociais em geral. De acordo com Fávero (2018) o Serviço Social no Sociojurídico compreende além do judiciário, a Defensoria Pública, o Ministério Público e o Sistema Prisional e de Segurança (as organizações que executam medidas socioeducativas com jovens e adolescentes e dentre outros). Espaços propícios ao avanço de requisições conservadoras devido a prerrogativas institucionais que lhes conferem poder de controle e disciplinamento de conflitos individuais e sociais pelo Estado burguês, sobretudo numa conjuntura local e mundial em que a intolerância e a indiferença aos desejos e necessidades humanas, sociais e direitos do outro revelam faces extremas, permeadas pela barbárie. O Serviço Social no âmbito sociojurídico, atua com base nas expressões coletivas da Questão Social manifestadas na vida dos usuários atendidos e suas famílias. Assim, o Assistente Social nesse espaço tem seu trabalho caracterizado por uma prática de operacionalização de direitos, de compreensão das problemáticas enfrentadas pelo sujeito no seu cotidiano e suas relações com o judiciário. Com o suporte técnico-operativo, teóricometodológico e ético-político, o Serviço Social é reconhecido como profissão relevante nas Anais do V SERPINF e III SENPINF ISBN 978-65-5623-100-6 https://editora.pucrs.br/ decisões forenses, tendo em vista que o profissional realiza estudos sociais, entrevistas, promoção de inquirição, diagnósticos e informações de ordem social. (FÁVERO, 2008). E ainda, o espaço profissional permite uma reflexão e análise da realidade social vivida pela população da efetivação das leis, bem como direitos na sociedade, possibilitando assim o desenvolvimento de ações e campanhas que possam ampliar o alcance dos direitos humanos. (SOUZA E CAVALCANTE, 2020) Destacando neste tópico o âmbito sociojuridico como objeto de análise dos reflexos da pandemia no trabalho do Assistente Social, nos deparamos com uma questão sociocultural latente, a violência doméstica e familiar contra mulher em tempos de confinamento e isolamento social. A inserção do profissional de Serviço Social pode indicar avanço e risco no âmbito Sociojurídico, pois indica que os profissionais dessa área construíram uma pratica e acumularam um saber especifico sobre a realidade particularizada com contexto judicial. Não apenas isso, mas enfrentam o grande desafio de reconhecer, nessa especificidade, sua atuação profissional, se propondo a ver na subjetividade de cada pessoa os atravessamentos de classe, raça, idade, gênero e orientação sexual. Durante muito tempo na história, o patriarcado foi incontestável e era legitimado com base nos papéis de gênero pré-determinados. A mulher em condição de submissão e o homem que detinha todo o poder, submetendo o sujeito feminino a sua vontade. A violência tem sido usada milenarmente para dominar para fazer a mulher acreditar que seu lugar na sociedade é estar sempre submissa ao poder masculino resinada quieta acomodada como as telhas do telhado ou como as escamas dos peixes. (TELES E MELO, p.13, 2002) Esse cenário foi acentuado no período da pandemia, pois as mulheres estavam confinadas com seus agressores e devido a alguma forma de dependência a denuncia ou quebra do ciclo da violência se torna mais difícil. Sendo necessária a adaptação da atuação do Assistente Social nesses casos. O 1º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em Manaus, o qual faz parte do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, com a finalidade de manter a celeridade dos processos bem como o apoio a essas mulheres, organizou cartilhas e encontros remotos para orientação processual a assistência psicossocial, bem como

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