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A-POLÍTICA-DE-ASSISTÊNCIA-SOCIAL-E-SEGURANÇA-PÚBLICA

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1 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 ASSISTENCIA SOCIAL .............................................................................. 3 
2.1 Trajetória histórica da política de assistência social no sistema de 
seguridade social ..................................................................................................... 3 
3 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E FONTES DE FINANCIAMENTO 9 
3.1 Benefícios socioassistenciais da política de assistência social .......... 13 
4 A IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL 16 
4.1 Políticas públicas: conceito ................................................................ 19 
5 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NA ATUALIDADE........................ 24 
5.1 Contexto da política de assistência social pré-covid .......................... 26 
6 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ENFRENTAMENTO DA 
PANDEMIA DA COVID-19 ........................................................................................ 30 
6.1 Pandemia da COVID-19 e o exercício profissional no SUAS ............. 36 
7 PONDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O 
EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE ASSISTENTES SOCIAIS .................................... 44 
8 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .......................................................... 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
2 ASSISTENCIA SOCIAL 
 
Fonte: jpjunior.com 
O sistema de seguridade social brasileiro conta com três eixos principais, um 
dos quais, a política de assistência social, está regulamentado constitucionalmente e 
sofreu alterações significativas como adaptação às necessidades da população 
brasileira e sua situação de vulnerabilidade econômica e social. A análise desses 
fatores é de extrema importância para compreender o papel da seguridade social no 
contexto histórico da legislação brasileira e construir uma linha de raciocínio para essa 
compreensão (LEITE, 2021). 
2.1 Trajetória histórica da política de assistência social no sistema de 
seguridade social 
Falar sobre a temática da seguridade social e da assistência social exige, 
primeiramente, traduzir o que se entende por esses dois conceitos que caracterizam 
a trajetória dos direitos sociais na sociedade brasileira. A assistência social, por si só, 
representa uma política pública garantida pela CF do Brasil de 1988. É direito de todo 
cidadão que dela necessitar, com os objetivos de proteção a família, maternidade, 
infância, adolescência e velhice, amparar crianças e adolescentes carentes, promover 
a integração ao mercado de trabalho, habilitar e reabilitar pessoas com deficiência e 
 
4 
 
promover sua integração social e garantir o benefício mínimo à pessoa com 
deficiência e ao idoso sem meios de prover sua subsistência (BRASIL, 1988). 
Além disso, a política de assistência social é uma área interventiva do Estado, 
administrada pelo Conselho de Assistência Social e disposta na Lei Orgânica da 
Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742, de 1993, sendo assim direito do cidadão e 
dever do poder público. A política de assistência social integra a seguridade social 
brasileira, e suas ações governamentais pressupõem o uso de recursos do orçamento 
da seguridade social. Diante disto, a defesa da seguridade social compõe o projeto 
ético-político do Serviço Social, disposto no documento público denominado Carta de 
Maceió, em que os delegados reunidos afirmam a importância de reconhecer a 
seguridade social como “parte de uma agenda estratégica da luta democrática e 
popular no Brasil, visando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária” 
(CFESS, 2000). 
A partir desses conceitos, vamos então interligar as temáticas. A seguridade 
social é um sistema composto por três eixos principais de serviços públicos que 
integram os direitos relativos a saúde, previdência e assistência social. É, dessa 
forma, representada como um conjunto integrado de ações de políticas sociais que 
objetivam assegurar os direitos dos cidadãos (LEITE, 2021). 
Enquanto direito, a seguridade social está garantida também na CF do Brasil 
de 1988. Aparece no capítulo II do referido documento, que trata especificamente 
dessa temática e determina que é atribuição do poder público organizar a seguridade 
social com base em sete objetivos (BRASIL, 1988): 
1. universalidade da cobertura e do atendimento; 
2. Unificação e equivalência de benefícios e serviços às populações urbanas e 
rurais; 
3. A seletividade e distribuição dos benefícios e serviços prestados; 
4. A irredutibilidade do valor do benefício; 
5. Participar da contabilidade de custos na forma de patrimônio; 
6. Diversidade da base de financiamento; 
7. O caráter democrático e descentralizado da administração, com a 
participação de trabalhadores, empregadores, aposentados e governo em órgãos 
colegiados por meio de um quarteto de governança. 
 
5 
 
Portanto, a seguridade social engloba três políticas sociais. A primeira é a 
política de saúde, que “é direito de todos e dever do Estado”, como estabelece o art. 
196 da CF (BRASIL, 1988). 
A saúde é organizada pelos princípios da integralidade e da universalidade, 
contemplando todos que estão em território brasileiro. Em segundo lugar, temos a 
assistência social, que é uma política pública e de intervenção do Estado, 
administrada pelo Conselho de Assistência Social. Instituída pela CF de 1988, em seu 
art. 203, a assistência social é disciplinada pela LOAS, sendo de direito do cidadão e 
dever do Estado. Essa política social provê o atendimento das necessidades básicas 
em proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice e à pessoa 
portadora de deficiência, independentemente de contribuição à Seguridade Social, 
conforme arts. 203 e 204 da CF (BRASIL, 1988). 
Por fim, a terceira política diz respeito à previdência social. Ela é organizada a 
partir de uma lógica contributiva para garantir sua sustentabilidade, como princípio 
estruturante do sistema, que valida e legitima o programa de transferência de renda. 
A previdência social tem como objetivo assegurar aos seus beneficiários meios 
indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo 
de serviço, desemprego, reclusão ou morte daqueles de quem dependiam 
economicamente, conforme se extrai dos arts. 201 e 202 da CF (BRASIL, 1988). 
Esses três pilares da seguridade social refletem diretamente os direitos sociais 
e suas respectivas políticas, que têm o objetivo de combater os riscos sociais a que 
os cidadãos estão expostos conforme as determinações das relações sociais 
contraditórias intrínsecas ao modelo de sociedade capitalista. Antes de discutirmos 
essas políticas sociais individualmente — saúde, previdência e assistência social — é 
importante compreender a historicidadeda seguridade social, que surge da 
concepção de que o poder público — o governo — é responsável por oferecer as 
mínimas condições de assistência à população, relativamente ao mínimo de qualidade 
de vida. 
Compreende-se também que a responsabilidade não é unicamente do poder 
público, mas também da sociedade. Trata-se, dessa forma, de um sistema de 
proteção social direcionado a todos cidadãos que não têm condições suficientes para 
prover as necessidades sociais básicas do seu núcleo familiar, independentemente 
do motivo. Há, inclusive, dois modelos de benefícios previdenciários, evidenciados por 
 
6 
 
Boschetti (2009, p. 2): o bismarckiano e o beveridgiano, os quais representam “as 
primeiras iniciativas de benefícios previdenciários que vieram a constituir a seguridade 
social no século XX”. 
O modelo bismarckiano representa uma resposta às reinvindicações dos 
trabalhadores alemães no final do século XIX e refere-se a um sistema semelhante 
ao dos atuais seguros privados, em que os benefícios são condicionados a uma 
contribuição anterior e determinados proporcionalmente a essa contribuição. Por sua 
vez, o modelo beveridgiano surge posteriormente, no contexto da Segunda Guerra 
Mundial, e critica o modelo bismarckiano, sugerindo a instituição do Estado de Bem-
Estar Social. Nesse caso, os direitos dos cidadãos assumem um caráter universal, 
com o objetivo de garantir o mínimo de benefícios a todos que deles necessitem. 
Portanto, o modelo bismarckiano propõe dar suporte aos trabalhadores em 
situação de necessidade social decorrente da ausência de trabalho, enquanto o 
beveridgiano constitui uma luta contra a situação de pobreza. Esses dois princípios 
serviram como suporte para o surgimento de novos modelos de seguridade social, 
que se adaptaram à estrutura social e econômica de cada sociedade. Segundo 
Boschetti (2009), no Brasil podemos encontrar os princípios do modelo bismarckiano 
predominantemente na política de previdência social, enquanto o modelo 
beveridgiano é mais identificado na política de saúde e na política de assistência 
social. Diante dos modelos de sociedade existentes até o momento, os cidadãos 
necessitam de estratégias protetivas enquanto forma de evitar riscos à sua segurança 
e a paz social. Essa modalidade de cuidado “correlaciona-se com o próprio instinto de 
sobrevivência humano” (HORVATH JÚNIOR, 2011, p. 3). 
Frente a essa necessidade, são criadas estratégias protetivas como a 
caridade, a assistência social, o seguro social e a própria seguridade social. 
Constatamos, portanto, que a seguridade social surge como uma estratégia 
de proteção aos cidadãos que necessitam de apoio do poder público para 
sua sobrevivência. Como afirma Horvath Júnior (2011, p. 4 apud LEITE, 
2021), 
“A seguridade social é a proteção que a sociedade proporciona a seus 
membros mediante uma série de políticas públicas contra as privações econômicas e 
sociais”. Historicamente, a seguridade social surge como um processo evolutivo de 
estratégias de proteção que se desenvolveram a partir de ações filantrópicas e do 
reconhecimento do direito individual e direito social de cada cidadão, constituindo, 
 
7 
 
segundo Castro e Lazzari (2018, p. 35), “o reflexo de três formas distintas de solução 
do problema: a da beneficência entre pessoas; a da assistência pública; e a da 
previdência social, que culminou no ideal de seguridade social”. No Brasil, a 
seguridade social é instituída pela CF de 1988, determinando-a como direito social e 
caracterizando que as três políticas fundamentais sociais são implementadas 
mediante: 
[...] ações assistenciais para aqueles impossibilitados de prover o seu 
sustento por meio do trabalho, para cobertura de riscos do trabalho, nos 
casos de doenças, acidentes, invalidez e desemprego temporário e para 
manutenção da renda do trabalho, seja por velhice, morte, suspensão 
definitiva ou temporária da atividade laborativa (MOTA, 2006, p. 40 apud 
LEITE, 2021). 
Assim, a perspectiva de proteção social que embasa a seguridade social, 
apresenta uma relação estreita com a assistência social. Conforme explana Sposati 
(SPOSATI, 2013, p. 662 apud LEITE, 2021), são três as vertentes da proteção social 
que podemos analisar: 
A primeira toma a proteção social como campo inerente ao trabalho 
profissional do assistente social cujo exercício requer preparo especializado, 
sobretudo para o trato de situações de vitimizações decorrentes de 
violências, entre outras formas; a segunda toma a proteção social enquanto 
campo de ampliação e conquista de direitos humanos e direitos sociais na 
sociedade do capital; e a terceira trata a proteção social, e suas diferentes 
políticas, como expressões do embuste do capital sobre o trabalho na 
sociedade de mercado (SPOSATI, 2013, p. 662 apud LEITE, 2021). 
No Brasil, a seguridade social surge como uma evolução da proteção social, da 
necessidade social de proteger os cidadãos dos riscos consequentes das situações 
de desigualdade social, política e econômica. Na realidade brasileira, o conceito de 
seguridade social inicialmente era caritativo e de inciativa privada, como exposto por 
Castro e Lazzari (2018), com a criação das Santas Casas de Misericórdia ainda no 
período colonial. Apenas no século XIX é mencionada a previdência social no Brasil, 
pelo Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara. Em termos legislacionais, o marco 
inicial da previdência social no Brasil é a publicação da Lei Eloy Chaves, em 1923, 
que criou a Caixa de Aposentadorias e Pensões mediante contribuições dos 
trabalhadores. Em 1942, foi criada a Legião Brasileira de Assistência. Ressalta-se 
que, àquela altura, considerava-se “previdência social como sendo a soma das ações 
 
8 
 
no campo do seguro social e das iniciativas assistenciais” (CASTRO; LAZZARI, 2018, 
p. 20). 
Anos depois, surgiu a Lei nº 8.212, de 1991, que dispõe sobre a organização 
da seguridade social, comumente conhecida como Lei Orgânica da Seguridade 
Social. Na CF de 1988, o art. 4º determina que a organização da assistência social na 
seguridade social deverá obedecer duas diretrizes: a descentralização político-
administrativa e a participação da sociedade, tanto na formulação quanto no controle 
das ações de assistência social, em todos os níveis. Sendo assim, as propostas 
orçamentárias são de responsabilidade de uma comissão composta por 
representantes de cada uma das três áreas (BRASIL, 1991). Nesse âmbito, a 
assistência social tem como princípios: 
I — supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências 
de rentabilidade econômica; II — universalização dos direitos sociais, a fim 
de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas 
públicas; III — respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu 
direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar 
e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; 
IV — igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de 
qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e 
rurais; V — divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos 
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos 
critérios para sua concessão (BRASIL, 1993 apud LEITE, 2021). 
Portanto, a importância da assistência social no sistema de seguridade social 
pauta-se nesse modelo de proteção das necessidades sociais, ampliando o acesso 
aos direitos sociais e promulgando o respeito a esses direitos e à estas necessidades. 
Temos, desse modo, um importante pilar na articulação entre a saúde e a previdência, 
garantindo estabilidade na relação entre sociedade e poder público, entre exigências 
sociais e intervenção governamental, tornando o sistema de seguridade social o que 
Boschetti (2009, p. 8) chama de um “sistema híbrido, que conjuga direitos derivados 
e dependentes do trabalho (previdência) comdireitos de caráter universal (saúde) e 
direitos seletivos (assistência)”. 
A trajetória da assistência social na seguridade social segue uma evolução 
linear, conforme as determinações de cada período histórico, com influências diversas 
que constituíam bases de proteção frente aos riscos sociais identificados no 
desenvolvimento da sociedade e nas relações de trabalho. A conjugação dessas três 
áreas principais e a integração de suas funções num sistema central contribuíram para 
 
9 
 
a instituição de um sistema protetivo à sociedade brasileira como um todo (LEITE, 
2021). 
3 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E FONTES DE FINANCIAMENTO 
 
Fonte: gesuas.com 
Para compreender a política de assistência social, é preciso também identificar 
quais são as diretrizes que norteiam as ações socioassistenciais, além de conhecer 
as fontes de financiamento disponíveis para a execução dessas medidas. Nesse 
sentido, há um conjunto de instituições que determinam os limites e também as 
possibilidades de ação de uma política pública. A política de assistência social 
brasileira é organizada segundo determinadas diretrizes, “um conjunto de instruções 
ou indicações para se tratar e levar a termo um plano ou ação; também subentendida 
como norma de procedimento” (QUINONERO et al., 2013, p. 49). 
Portanto, as diretrizes constituem o guia, o fundamento, para as ações da 
política de assistência social. Tais diretrizes estão dispostas na CF de 1988, no art. 
203 (BRASIL, 1988), na LOAS, art. 5º (BRASIL, 1993), e também na Política Nacional 
de Assistência Social (PNAS; BRASIL, 2005). Assim, vamos analisar cada uma das 
diretrizes (LEITE, 2021). 
 
Descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios, e o comando único das ações em cada esfera de governo 
 
 
10 
 
Essa diretriz, que consta do art. 203 da CF (BRASIL, 1988) e do art. 5º da LOAS 
(BRASIL, 1993), consiste na criação de instituições com competências legislativas 
dentro do seu âmbito de atuação, com a possibilidade de exercer atribuições próprias. 
Ou seja: o órgão central é dividido para distribuição da responsabilidade. Um exemplo, 
é um Ministério, responsabilidade do Governo Federal, no qual sua responsabilidade 
é repartida com Estados, através das Secretarias Estaduais e com os Municípios, 
através das Secretarias Municipais. Além da descentralização, cada esfera tem 
autonomia nas ações, sendo subordinada às leis impostas pelo poder central. 
 
Participação da população, por meio de organizações representativas, na 
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis 
 
Essa diretriz, que consta também do art. 203 da CF (BRASIL, 1988) e do art. 
5º da LOAS (BRASIL, 1993), refere-se à distribuição da responsabilidade com a 
sociedade civil, mediante a criação de espaços públicos que exercem uma função de 
ligação entre a população e os gestores locais, possibilitando o exercício da 
democracia e fomentando a consciência política dos cidadãos, bem como uma 
avaliação direta do comprometimento dos agentes políticos. 
 
Primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência 
social em cada esfera de governo 
 
Essa diretriz determina que, mesmo com a participação da população e da 
descentralização dos serviços, o governo federal é o responsável superior, com 
competências máximas para direcionar e conduzir as ações da política de assistência 
social. Portanto, a descentralização e a criação de organizações representativas não 
substituem as competências do Estado nas decisões. É importante deixar essa 
prioridade do Estado clara, para evitar exorbitância e a existência de sobrefunções 
(LEITE, 2021). 
As fontes de financiamento, por sua vez, constituem também uma importante 
estratégia que deve estar bem estruturada para garantir a responsabilidade nos 
gastos, primando pela transparência na prestação de serviços e organização de 
programas, projetos, ações e benefícios, e, diante das condicionalidades, garantindo 
 
11 
 
uma ação também por parte do requerente e da família, para assim atingir os objetivos 
previstos. Conforme a Lei Orgânica da Seguridade Social, em seu art. 10, o sistema 
de seguridade social será financiado por toda a sociedade, direta e indiretamente, 
conforme também está disposto na CF, art. 195, que determina que a seguridade 
social e assistência social os recursos utilizados serão provenientes dos orçamentos 
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, somados a contribuições 
sociais do empregador, do trabalhador e dos segurados da previdência social, bem 
como do importador de bens e/ou serviços do exterior (BRASIL, 1988, 1991). 
O orçamento é elaborado de forma integral pelos órgãos responsáveis da 
saúde, previdência social e assistência social, concedendo-se a gestão dos recursos 
a cada área. Desse modo, prioriza-se que a proteção social do cidadão esteja 
fundamentada e organizada conforme os orçamentos disponíveis, considerando que 
as transferências de recursos e as iniciativas de distribuição de renda não afetem os 
cofres públicos. Após a CF determinar, em seu art. 204, que as ações da política de 
assistência social serão realizadas conforme os recursos da seguridade social, 
também menciona que podem ser utilizadas outras fontes, citando que se faculta aos 
estados e ao Distrito Federal a vinculação de percentual da carga tributária para os 
programas de apoio à inclusão e promoção social (BRASIL, 1988). 
Porém, segundo Couri e Salvador (2017), tal regulamentação aconteceu 
somente com o surgimento da LOAS, em 1993, constituindo o Fundo Nacional de 
Assistência Social (FNAS), que passou a substituir o Fundo Nacional de Ação 
Comunitária (FNAC), conforme o art. 27 dessa lei. O FNAS objetiva oferecer recursos 
financeiros de modo a cofinanciar as ações governamentais da assistência social. 
Dessa forma, os repasses do FNAS para estados, municípios e Distrito Federal podem 
ser realizados de duas formas: pela transferência voluntária ou pelo repasse fundo a 
fundo — esta última a mais usual. A transferência voluntária, também chamada 
transferência convenial, é a entrega espontânea de um ente federativo a outro, por 
cooperação, auxílio ou assistência financeira, mas atualmente é menos utilizada. 
Enquanto isso, o repasse fundo a fundo exige certas condições, que, segundo o art. 
30 da LOAS, são a criação e o funcionamento de um Conselho de Assistência Social 
(CAS), de um Fundo de Assistência Social gerido pelo respectivo CAS, de um Plano 
de Assistência Social Estadual ou Municipal e a comprovação orçamentária dos 
recursos próprios (BRASIL, 2013). 
 
12 
 
Assim, os fundos tornam-se um importante mecanismo para a transparência 
das ações e dos recursos. Vale esclarecer que todos financiamentos de benefícios, 
serviços, projetos e programas estabelecidos pela LOAS devem ser realizados com 
recursos da União, dos estados, municípios e Distrito Federal, além das contribuições 
sociais e as receitas que compõem o FNAS. Após a criação do FNAS, em 1999, a 
Portaria nº 42 atualiza a discriminação de despesas por funções e cria a Função 
Orçamentária nº 8 — Assistência Social, que antes era discriminada como Assistência 
e Previdência Social. Assim, prioriza cada política em sua área específica, dando 
autonomia orçamentária à assistência social no Orçamento Público Brasileiro 
(BRASIL, 1999). 
Identificar as diretrizes e as fontes de financiamento da assistência social 
brasileira significa compreender que a oferta de proteção especial não significa uma 
distribuição injusta dos recursos dos contribuintes, e sim que é feita uma redistribuição 
da renda conforme as necessidades sociais destacadas na realidade brasileira. Afinal, 
não podemos esquecer que a seguridade social é um sistema que prevê a proteção 
dos cidadãos conforme suas necessidades: 
...] advindas da condição de desproteção,de inseguranças sociais que não 
se limitam ao fator renda, pois se têm dimensões protetivas socioassistenciais 
relacionadas a acolhida, autonomia, pertencimento, vinculação e convivência 
familiar, social e comunitária, além daquela referente ao acesso e garantia de 
direitos sociais (QUINONERO et al., 2013, p. 51 apud LEITE, 2021). 
As fontes de financiamento das políticas públicas que integram o sistema de 
seguridade social são o instrumento que materializa a execução desse sistema e que 
delimita os limites e também as possibilidades de intervenção, para traduzir essas 
necessidades em ações e serviços fiáveis. Assim, não são executadas ações nem 
disponibilizados programas, projetos e benefícios sem uma organização estruturada 
conforme as possibilidades financeiras do país. A política de assistência social e a 
política de saúde e de previdência social são estrategicamente orientadas e 
organizadas mediante o planejamento de diferentes instituições que trabalham 
conjunta e integralmente, a fim de garantir a correta distribuição de funções e de 
recursos. A análise social, histórica, política e econômica do Brasil apresenta essas 
demandas e a necessidade de intervenção do poder público na problemática social. 
Assim, é importante compreender, enquanto profissional, a lógica que configura as 
fontes de financiamento da política de assistência social (LEITE, 2021). 
 
13 
 
3.1 Benefícios socioassistenciais da política de assistência social 
A política de assistência social provê serviços, programas e benefícios aos 
cidadãos, conforme discorremos ao longo deste texto. A parti daí, examinemos então 
os benefícios assegurados pela assistência social, que são divididos em duas 
modalidades: Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) e 
Benefícios Eventuais. São considerados benefícios socioassistenciais e, conforme 
ressalta Agostinho (2020), não podem ser confundidos com os benefícios 
previdenciários. O BPC é destinado à pessoa idosa com 65 anos ou mais e também 
à pessoa com deficiência que comprove não possuir meios próprios de subsistência 
ou possibilidade de ser sustentado por sua família. Segundo a LOAS, a família implica 
o cidadão idoso ou com deficiência, a cônjuge ou companheiro, os pais, madrasta ou 
padrasto, irmãos, filhos ou enteados solteiros e menores tutelados que vivam na 
mesma residência (BRASIL, 1993). 
O BPC, constitui, portanto, uma garantia de renda mínima básica, no valor de 
um salário mínimo, para oferecer condições de sobrevivência a quem não tem outra 
forma de renda. Conforme o PNAS, esse direito à renda reflete o princípio da certeza 
na assistência social, ou seja, a ação de provimento mesmo mediante a não 
contribuição do cidadão, e ainda expõe a responsabilidade do Estado para quem dele 
necessita, tornando-se, assim, um benefício de prestação direta. O BPC representa 
um investimento social, responsável por retirar milhões de brasileiros da situação de 
extrema pobreza, promovendo inclusão social. Além disso, os cidadãos requerentes 
devem satisfazer uma série de critérios de elegebilidade, além de não ser cumulativo 
com outros benefícios no âmbito da seguridade social (BRASIL, 2005). 
Por sua vez, os Benefícios Eventuais, conforme a LOAS, são “as provisões 
suplementares e provisórias que integram organicamente as garantias do Suas 
[Sistema Único de Assistência Social] e são prestadas aos cidadãos e às famílias em 
virtude de nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e de 
calamidade pública” (BRASIL, 1993, art. 22). Portanto, são estratégias para suprir 
necessidades em situação de eventualidade e de vulnerabilidade temporárias, 
objetivando auxiliar o cidadão a ultrapassar o momento de dificuldade. Ao contrário 
do BPC, o valor do Benefício Eventual é definido pelos estados, municípios e Distrito 
 
14 
 
Federal, conforme os respectivos planos orçamentários, além dos critérios de acesso 
e prazos existentes. 
Os Benefícios Eventuais cumprem dupla função: prevenir a violação de direitos 
e também reparar direitos violados, o que acontece por meio de ações estratégicas 
de integração entre os serviços da proteção social básica e da proteção social 
especial, que se materializam na forma de trabalho social junto às famílias, 
compreendidas como núcleo de investigação para as necessidades individuais, 
sociais e comunitárias. Além desses benefícios socioassistenciais, há também 
programas de transferência de renda que são destaque na política de assistência 
social. O carro-chefe dos programas sociais do governo brasileiro é o programa Bolsa 
Família, além do Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil (Peti). 
A transferência de renda é uma iniciativa da política de assistência social como 
garantia do direito social que assegura a sobrevivência de famílias em situação de 
pobreza, por meio do acesso à renda mínima e promoção da autonomia destas 
famílias. É uma estratégia de enfrentamento à pobreza e principalmente de inclusão 
social de milhares de famílias brasileiras. O Bolsa Família foi criado em 2003, como 
um programa de transferência de renda com três eixos principais: complemento de 
renda, acesso a direitos e articulação com outras ações governamentais para 
estimular o desenvolvimento das famílias. Sua gestão é descentralizada, havendo 
atribuições tanto do governo federal quanto dos estados, municípios e Distrito Federal, 
de acordo com as demandas setoriais. O programa atende famílias em situação de 
pobreza e extrema pobreza, condicionadas a um limite de renda de R$ 89,00 mensais 
por pessoa, e famílias com crianças ou adolescentes até 17 anos, com renda entre 
R$ 89,01 e R$ 178,00 mensais por pessoa. 
O programa Bolsa Família tem como foco central a família, entendida como 
unidade nuclear ampliada por pessoas que possuem laços de parentesco, e 
podem ser formadas por um grupo doméstico e que viva sob o mesmo teto e 
que precisam manter-se pelo recurso dos seus membros. Outros programas 
existentes até o momento não consideravam a família nuclear ampliada, com 
todos os seus membros, independente de laços de parentalidade ou não 
(RUSCHEL; JURUMENHA; DUTRA, 2015, p. 5 apud LEITE, 2021). 
Diferentemente do BPC, o valor do Bolsa Família é calculado de acordo com a 
composição e a renda da família beneficiária, representando a soma de vários tipos 
de benefícios previstos no programa. Há o benefício básico e os benefícios variáveis, 
podendo chegar a cinco por família: Benefício Variável Vinculado à Criança ou ao 
 
15 
 
Adolescente de 0 a 15 anos, Benefício Variável Vinculado à Gestante, Benefício 
Variável Vinculado à Nutriz. Também há o Benefício Variável Vinculado ao 
Adolescente (até dois por família) e o Benefício para Superação da Extrema Pobreza, 
em valor calculado individualmente para cada família. 
 
Seguridade social e assistência social 
 
Por sua vez, o Peti teve início em 1996, como uma ação do governo federal 
para uma situação específica de trabalho infantil na região Centro-Oeste. Sua 
cobertura foi ampliada para alcançar progressivamente todo o país, mediante 
implantação de políticas públicas direcionadas ao enfrentamento do trabalho infantil. 
Em 2005, o Peti foi integrado ao Bolsa Família e em 2011 foi instituído pela LOAS 
como um programa intersetorial que integra transferência de renda, trabalho social 
com famílias e oferta de serviços socioeducativos para crianças e adolescentes em 
situação de trabalho. Para se ter acesso ao BPC, aos Benefícios Eventuais, ao Bolsa 
Família ou ao Peti, é preciso cadastrar-se no Cadastro Único para Programas Sociais 
do Governo Federal, conhecido também como Cadastro Único ou Adônico, de 
responsabilidade dos municípios e do Distrito Federal, podendo, em alguns locais, 
realizar-se os cadastros nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) 
(LEITE, 2021). 
Porém, a inscrição no Cadastro Único não garante a elegibilidade, ea seleção 
das famílias é realizada por um sistema informatizado. Ademais, os benefícios e 
programas são dinâmicos, sedo avaliadas as condicionalidades periodicamente. É 
possível identificar, portanto, a existência de duas modalidades de programas de 
transferência de renda no Brasil: o BPC, para idosos e pessoas com deficiência, e o 
Bolsa Família, para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Esses 
programas objetivam combater as desigualdades sociais e econômicas que se 
desenrolam no cerne das relações sociais brasileiras, considerando que há um 
conjunto de fatores que levam à situação de vulnerabilidade e injustiça social. Frente 
a isso, a política de assistência social busca identificar essas demandas e 
necessidades e intervir de forma a minimizar esses efeitos (LEITE, 2021). 
 
 
 
16 
 
4 A IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL 
 
Fonte: ms.gov.br 
A inclusão na sociedade, a luta contra a discriminação e a busca por igualdade 
de oportunidades são temas inerentes aos direitos humanos e à sua discussão atual. 
No Brasil, esses temas são ligados a inúmeros grupos relacionados a questões de 
gênero, classe, etnias e, também, de pessoas com deficiência. 
Esse conceito teve origem nos Estados Unidos e, segundo Souza (2006), não 
existe uma definição única ou melhor do que é política pública, mas a maioria das 
ideias sobre ela está intimamente relacionada ao papel do Estado e às ações do 
governo. 
Segundo Santos (2012, p. 5), “Políticas públicas são políticas que surgem na 
esfera do Estado e que têm como objetivo atingir a sociedade como um todo ou partes 
dela […]. Já Adams (2006) apresenta uma definição mais completa, entendendo 
política pública como um conjunto de ações permanentes que asseguram e ampliam 
direitos civis, econômicos, sociais e coletivos de todos, que devem ser amparados em 
lei, sendo de responsabilidade do Estado (financiamento e gestão) e com controle e 
participação da sociedade civil. Por essas definições, as políticas públicas são 
responsabilidade do Estado, mas também dos cidadãos, ou seja, as políticas públicas 
só atingirão seus objetivos a partir da compreensão e da ajuda dos cidadãos em seu 
desenvolvimento. Para que as políticas públicas funcionem, são necessários os 
seguintes estágios: 
 
17 
 
As políticas públicas possuem um processo de formação de longo e médio 
prazo consistente nas fases de reconhecimento do problema público; 
formação de uma agenda pública; formulação da política pública em si; 
processo político de tomada de decisão e de implementação da política 
pública; execução da política pública; acompanhamento, monitoramento e 
avaliação da política pública e, por fim, a decisão sobre a continuidade, 
reestruturação ou extinção da política pública (BENEDITO; MENEZES, 2013, 
p. 58 apud LEITE, 2021). 
Assim, o governo forma uma agenda, na qual vai organizar e detectar os 
problemas existentes. A partir disso, começa a formulação da política pública em si, a 
tomada de decisão, a sua execução e, por fim, ocorre a avaliação. Quando uma 
política é direcionada à educação, os professores atuam em sua discussão, em sua 
implementação propriamente dita e em seu acompanhamento, muitas vezes, dando 
feedbacks sobre sua continuidade. 
Historicamente, no Brasil, as pessoas com deficiência (APCD) foram 
classificadas como “incapazes”, “inválidas” e “inúteis” (SASSAKI, 2005), sendo, assim, 
merecedoras de caridade e assistência do Estado. Garcia (2014) aponta que esse 
status “[...] foi se alterando com a percepção de que tais indivíduos podem e devem 
estar inseridos nos ambientes sociais comuns a todas as pessoas, além de, com os 
suportes e adaptações necessárias, terem plena capacidade de trabalho [...]”. 
O autor destaca que esse processo não foi linear e homogêneo, de modo que 
ainda hoje ocorrem comportamentos inadequados e discriminatórios em relação a 
essas pessoas. No Brasil, os primeiros discursos sobre os direitos das APCD com a 
reivindicação do direito à convivência social ocorreram na década de 1960 (FRANÇA; 
PAGLIUCA, 2009). 
Santos Al. (2012) indicam que isso se deu pela mobilização dos diferentes 
segmentos da sociedade em prol das demandas das pessoas com deficiência e 
possibilitou avanços no processo de politização das questões sociais, o que ajudou o 
Estado a assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento de políticas públicas, para 
atender as demandas desse grupo social (FRANÇA; PAGLIUCA; BAPTISTA, 2008). 
Segundo Garcia (2014), a deficiência passou, de fato, a ser objeto de políticas 
públicas na década de 1980, tendo como grande impulso inicial os movimentos 
sociais, que ganharam força a partir da proclamação, pelas Nações Unidas, do “Ano 
Internacional da Pessoa Deficiente”, em 1981. 
Garcia (2014) destaca a importância desses movimentos para as pessoas com 
deficiência no Brasil: 
 
18 
 
Assim, ao longo da década de 1980, o movimento social das pessoas com 
deficiência se articula institucionalmente e vai conquistando espaços de 
participação. Felizmente, esse processo coincide e é estimulado pelo 
momento de redemocratização vivido pelo País, culminando com a 
proclamação da Constituição de 1988 (que estabelece uma série de direitos 
para as “pessoas portadoras de deficiência”, terminologia utilizada na época) 
Santos et al. (2012) apontam que a Constituição Federal de 1988, em relação 
às pessoas com deficiência, destaca três objetivos: cuidar da saúde e da assistência 
públicas, dar proteção e oferecer garantias às pessoas portadoras de deficiências. Um 
ano depois da promulgação da Constituição Federal, surge a Lei nº. 7.853/89, a 
primeira legislação de políticas públicas para a área. Essa lei definiu a Política 
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, além de criar a 
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Deficiente (CORDE), vinculada 
ao então Ministério da Ação Social (GARCIA, 2014). Ainda sobre essa lei, destaca-se 
que: 
A Lei nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989, posiciona o apoio às pessoas 
portadoras de deficiências e a sua integração social, no que concerne à 
saúde, conferindo ao setor ações de promoção e prevenção; a concepção de 
uma rede de serviços especializados em reabilitação e habilitação; o acesso 
aos estabelecimentos de saúde e do tratamento apropriado no seu interior, 
conforme normas técnicas e padrões preestabelecidos; atendimento 
domiciliar de saúde ao deficiente grave não internado; e a expansão de 
programas de saúde direcionados para as pessoas portadoras de 
deficiências, desenvolvidas com a participação popular (Art. 2º, Inciso II) e o 
Decreto 3.298, de 1999, que regulamenta a referida Lei (BRASIL, 2002, p. 19 
apud SANTOS et al., 2012, p. 114). 
Santos et al. (2012) apontam que a Política Nacional para a Integração da 
Pessoa Portadora de Deficiência promove a proteção, o bem-estar pessoal, social e 
econômico, conferindo, também, o respeito às pessoas com deficiência e a igualdade 
de oportunidades, sem privilégios ou paternalismos. Essa política também reforça 
mecanismos de desenvolvimento diante da sociedade — principalmente em relação 
a todas as iniciativas governamentais direcionadas a educação, saúde, trabalho, 
edificação pública, seguridade social, transporte, habitação, cultura, esporte e lazer — 
e tem como objetivo acesso, integração e permanência em todos os serviços 
oferecidos à comunidade. 
 
19 
 
4.1 Políticas públicas: conceito 
Agora que você já sabe o que é política, vamos entender o que é uma política 
pública. Esse conceito também dá margem para variadas definições, segundo Meada 
em 1995, Lynn em 1980, Peers em 1986, de em 1984, que seguem uma Políticas 
públicas mesma linha teórica tendo como foco o governo como promotor de ações 
que influenciam a vida dos cidadãos. Para sua reflexão, neste texto, trabalharemos 
com a definição de Las well “[...] decisões e análises sobre política públicaimplicam, 
em linhas gerais, responder as questões: quem ganha o quê, por que é que diferença 
faz” (TEIXEIRA, 2017). 
Existem críticas a essa abordagem por superestimar os aspectos racionais e 
procedimentais das políticas públicas, alguns autores argumentam que elas ignoram 
a essência da política pública, além de que, ao centrarem-se nos governos, essas 
definições obscurecem o seu aspecto conflituoso e os limites que cercam as decisões 
dos governos. São dois os elementos fundamentais das políticas públicas: 
 Intencionalidade pública: é a motivação para se estabelecer ações para 
tratamento ou resolução de um problema. 
 Problema público: é a diferença entre a situação atual vivida (status quo) e 
uma situação ideal possível à realidade coletiva. Veja a representação de problema 
público da Figura (TEIXEIRA, 2017). 
 
Fonte: TEIXEIRA, 2017. 
 
 
 
20 
 
Implementação de políticas públicas 
 
O processo de implementação de uma política pública é dinâmico e não linear 
e ocorre no momento em que as decisões de políticas se traduzem em ações. Para 
isso, a análise do contexto em que se está implementando uma política é importante 
para sua eficácia. Embora diversos fatores contextuais possam ser importantes para 
um determinado caso, quatro demandam uma atenção especial: 
1. Grau de estabilidade política: se houver apoio político considerável para a 
saída do programa de ação a ser produzido, o ambiente pode ser considerado 
“favorável” para o processo de implementação de políticas públicas, também mais 
forte. 
2. O grau de mudança no ambiente político e econômico externo: lento ou 
rápido. A maneira como o ambiente político geral como facilitador se cruza com o ritmo 
da mudança pode fornecer 'pistas' para as perspectivas de implementação. 
3. Abertura do processo de políticas públicas: refere-se ao grau em que o 
processo é influenciado por uma série de atores, em vez de ter uma base de tomada 
de decisão estreita. Isso significa que, em um país com forte diversidade cultural e 
ideológica, somadas a presença forte de ONGs e liberdade de imprensa, a formulação 
de políticas será inevitavelmente moldada por um grande número de atores, diferente 
do que ocorreria em um país em que a formulação de políticas é restrita a uma 
pequena elite. 
4. A extensão da descentralização no setor público: A descentralização tem 
sido um dos temas centrais do debate sobre desenvolvimento nas últimas décadas. 
Está relacionada ao grau em que essas tendências afetarão as formas como as 
decisões relacionadas à adoção de políticas são tomadas, os recursos mobilizados e 
os atores administrativos e não burocráticos para a implementação. Nesse sentido, 
podemos dizer que a "maneira" como se concebe o problema da implementação de 
uma política pública é moldada por uma análise das necessidades da sociedade. 
Deve-se notar que no momento da implementação, dois pontos são fundamentais: 
primeiro, é necessário determinar se o problema é organizacional-administrativo e se 
sua solução depende do estabelecimento de metas e do controle dos subordinados. 
No segundo momento, deve-se analisar se o problema de implementação se deve a 
um conflito de interesses. A solução para os problemas de implementação é construir 
 
21 
 
instituições ou mecanismos que criem um contexto colaborativo para os participantes. 
(TEIXEIRA, 2017). 
 
 
Políticas públicas na realidade brasileira 
 
A seguir você verá uma relação com algumas políticas públicas nacionais que 
foram regulamentadas em legislações específicas: 
 Política Nacional do Meio Ambiente – Lei Federal nº 6.938/1981. 
 Política Nacional de Recursos Hídrico – Lei Federal nº 9.433/1997. 
 Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei Federal nº 12.305/2010. 
 Política Nacional de Educação Ambiental – Lei Federal nº 9.795/1999. 
 Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) – Decreto Federal nº 
6.047/2007. 
 Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) – Lei Federal nº 
12.608/2012. 
 Política Nacional do Idoso – Lei Federal nº 8.842/1994. 
 Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – Decreto Federal nº 
5.948/2006. 
 Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Lei 
Federal nº 7.853/1989. 
 Política Nacional de Cultura Viva – Lei nº 13.018/2014. 
 Política Nacional Sobre Drogas – Resolução nº 3/GSIPR/CH/ CONAD/2005. 
 Política Nacional de Desenvolvimento Urbano – Resoluções da 2ª Conferência 
Nacional das Cidades/2005. 
Agora, você verá as que não foram regulamentadas em legislação específica: 
 Política Nacional de Assistência Social – 2004. 
 Política Nacional de Enfretamento à Violência contra as Mulheres – 2011. 
 Política Nacional de Educação Infantil. 
 Política Nacional de Saúde Bucal – 2004. 
 Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – 
2007 
 
22 
 
 Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão da Saúde – 2004. 
 Política Nacional de Controle do Tabaco – 2005. 
 Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). 
 Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater) – 2004. 
 Política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde 
(PNEPS – SUS) – 2012. 
 Política Nacional de Habitação – 2004. 
 Política Nacional de Juventude – 2010. 
v Todos os seus mecanismos são encontrados no artigo primeiro da LOAS/1993 
(BRASIL, 1993), em que: [...] a assistência social, direito do cidadão e dever do 
Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos 
sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da 
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. 
O PNAS se destina a todo cidadão e/ou grupos que se encontram em situação 
de vulnerabilidade e riscos: famílias com perdas de vínculos e afetividades, 
desvantagens econômicas, pessoal, uso de substâncias psicoativas, violências, tudo 
que apresente risco pessoal e social. Incluem-se população em situação de rua, 
adolescentes em conflitos com lei, indígenas, quilombolas, idosos e pessoas com 
deficiência. 
A proteção social básica tem como objetivo prevenir situações de risco com o 
desenvolvimento de potencialidades e fortalecimento de vínculos familiares. Como 
exemplo, temos os mecanismos da proteção social básica, o Benefício de Prestação 
Continuada (BPC) para pessoas com deficiência e idosos com mais de 65 anos, sendo 
de competência direta do Governo Federal, com gastos em torno de 8 bilhões de reais, 
tendo atendido 3,6 milhões de pessoas em 2012; e o Programa de Atenção Integral a 
Família (PAIF) trabalho de caráter continuado que visa fortalecer a função de proteção 
das famílias, prevenindo a ruptura de laços, promovendo o acesso e usufruto de 
direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. 
O principal local em que ocorre a operacionalização da proteção social básica 
é o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). E o que seria a proteção 
social especial? Trata-se da atuação em situações de exclusão social, violação dos 
direitos dos membros da família e/ou rompimento de vínculos familiares. Projeto 
destinado a famílias ou indivíduos em situação de risco pessoal e social, por 
 
23 
 
ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de 
substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, 
trabalho infantil ou/ou abandono familiar. Como exemplo temos o Programa de 
Erradicação ao Trabalho Infantil (PETI) e Programa de Combate à Exploração Sexual 
de Crianças e Adolescentes. O principal local em que ocorre a operacionalização da 
proteção social especial é o Centro de Referência Especializado da Assistência Social 
(CREAS). Temos também o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que atua 
como instrumento de gestão da PNAS. Seu conceitoe base de organização referem-
se a um modelo de gestão descentralizado administrativamente e com participação 
de toda sociedade civil, focado no atendimento primordial das famílias com o uso de 
serviços, programas e benefícios. 
A divisão do trabalho no SUAS é baseada nos seguintes referenciais: 
supervisão social (sistematização da informação), previdência social (segurança de 
acolhimento, renda e vida familiar) e defesa social e institucional (atendimento digno, 
atendimento qualificado, direito ao tempo e à informação). 
Uma das características fundamentais das políticas públicas brasileiras é a 
fragmentação, o que, por vezes, é a causa problema em razão das muitas 
divergências entre determinadas agências de controle, principalmente quando o 
assunto é burocrático. Outra característica importante da política pública brasileira é 
sua descontinuidade administrativa, em que o órgão responsável considera a política 
pública no interesse de seus gestores. Com isso em mente, a cada mudança de cargo 
ou governo, as políticas implementadas mudam. Mais recentemente, a gestão das 
políticas públicas tornou-se mais democrática e o Estado tem desempenhado um 
papel mais próximo de uma sociedade civil organizada. Estamos vendo o início de um 
esforço político menos focado, no qual a população está envolvida com maior 
comprometimento e importância nas políticas públicas no Brasil (TEIXEIRA, 2017). 
 
24 
 
5 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NA ATUALIDADE 
 
Fonte: informasus.ufscar.br 
A política de assistência social vem enfrentando momentos desafiadores nos 
últimos cinco anos. Após uma década de intenso processo de ordenamento e 
expansão, com a consolidação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a 
crise econômica e as políticas de ajuste fiscal romperam a trajetória de ampliação do 
gasto público na área observada em anos anteriores. 
Essa ruptura teve um impacto particularmente negativo dado o contexto em que 
tal restrição de recursos se efetuou: ela se viu acompanhada por uma piora do quadro 
social, com aumento do desemprego, da pobreza e da desigualdade socioeconômica 
– todos os fatores que ampliam a demanda por assistência social (IPEA, 2021). 
Em 2019, esta tendência geral manteve-se, mas com algumas particularidades. 
Este ano, reduzir a importância dos benefícios assistenciais estão na agenda política 
do governo federal, retrocedendo as políticas de transferência de renda, além de 
reduzir o acesso ao Benefício Monetário Continuado (BPC) e enfraquecer as 
instituições participativas - Comissão Tripartite Intergestionária (CIT) e Conselhos de 
Assistência (CNAS) – que fazem parte do quadro estabelecido pela Constituição de 
1988 (CF/1988) e fortalecidos com a chegada do Suas. Com esse pano de fundo de 
fragilização de uma política de assistência social – que, ainda assim, é dotada de 
institucionalidade e capilaridade no território nacional, contando com dezenas de 
 
25 
 
milhares de centros socioassistenciais presentes em todos os municípios do país –, 
que a pandemia da Covid-19 aterrissa no Brasil, colocando o tema da assistência no 
centro da agenda. 
Se, por um lado, a precarização dos serviços e a redução da cobertura de 
benefícios, como o Bolsa Família (PBF) e o BPC em 2019, como será visto neste 
capítulo, constituíram um obstáculo para a garantia da proteção social para os grupos 
populacionais, cada vez mais ameaçados pela crise social, económica e sanitária, por 
outro lado, o acervo histórico de conhecimentos e experiências relativos à 
implementação de serviços e benefícios foi essencial 
para poder reagir rapidamente às urgências requisito (IPEA, 2021). 
Destaca-se, nesse quesito, a instituição do Auxílio Emergencial em 2020, que 
simultaneamente exemplifica o uso das capacidades legadas pelo histórico de 
institucionalização da política e as tensões e fragilidades características do período 
mais recente. Esta assistência baseia-se na antiga experiência do Commonwealth 
Economic Fund (CEF) neste campo, incluindo o conhecimento técnico operacional 
acumulado durante o processo de registro de programas sociais para as populações 
mais pobres. No entanto, foi implementado sem o envolvimento da Rede de 
Assistência Social, que historicamente tem e continuará a desempenhar um papel 
importante na promoção e apoio ao acesso aos benefícios da assistência social. Este 
capítulo enfoca questões relacionadas à assistência social, entendida como eixo 
fundamental do sistema previdenciário brasileiro. Seus aspectos centrais são 
considerados - prestação de serviços, entrega de benefícios, financiamento de 
políticas, mecanismos de governança interfederal e participativa, etc. - e discute os 
aspectos mais salientes dos últimos anos, especialmente o que foi observado no final 
de 2019, o impacto da pandemia na política ao longo de 2020, e por fim algumas 
perspectivas para o futuro. 
Na seção 2, fazemos uma breve análise sobre os rumos da política de 
assistência social antes de se confrontar com a pandemia da Covid-19, dando 
especial atenção ao ano de 2019 – primeiro ano da atual gestão do governo federal. 
Na seção 3 abordamos as medidas mais importantes adotadas pelo governo 
federal para o enfrentamento da Covid-19 na área de assistência social e apontamos 
os desafios mais importantes em sua implementação. 
 
26 
 
Na seção 4, são traçadas as perspectivas delineadas para a proteção social 
brasileira – e, em particular, para a política de assistência social – diante da atual crise 
econômica e do recrudescimento da pandemia num cenário em que regras fiscais, 
como o teto de gastos, impossibilitam a ampliação de gastos com as políticas sociais. 
Por fim, destaca-se nas considerações finais que o legado do recuo na trajetória de 
consolidação da política nos últimos vinte anos, juntamente aos novos desafios 
trazidos com a pandemia, pode levar à incapacidade do Estado de oferecer proteção 
às mais diversas situações de vulnerabilidade atendidas pela política de assistência 
social (IPEA, 2021). 
5.1 Contexto da política de assistência social pré-covid 
 
A pandemia da Covid-19, que chegou ao Brasil no início de 2020, atingiu o país 
em meio à aplicação de uma agenda de reformas centrada na austeridade e na 
redução do papel do Estado. O teto de gastos, instituído pela Emenda Constitucional 
(EC) no 95, de 15 de dezembro de 2016, tem apresentado impactos nas políticas 
sociais como um todo, e na política de assistência social não é diferente, como 
veremos ao longo da seção. Esta regra fiscal determinou que o crescimento anual das 
despesas primárias não deve ultrapassar a inflação do ano anterior. Na prática, essa 
medida resultou em um congelamento real do gasto primário federal nos níveis de 
2016 por pelo menos dez anos, sem levar em conta as mudanças na dinâmica 
socioeconômica e demográfica (PAIVA et al., 2016). Na prática, essa medida leva a 
uma tendência de redução do gasto per capita em políticas sociais, levando em 
consideração o crescimento populacional (DWECK, 2020). 
Diante desse cenário de crise econômica e da implementação de políticas de 
austeridade no período pré-pandemia, nos últimos anos houve um aumento da 
pobreza e da desigualdade social, com efeitos diferenciados entre as diferentes faixas 
de renda, após o Brasil ter experimentado uma grande conquista na termos de 
distribuição na primeira década do século XXI. 
Segundo Barbosa, Ferreira de Souza e Soares (2020), para os mais pobres, a 
recessão iniciada em 2015 perdurou até 2019, enquanto para os mais ricos havia 
sinais de recuperação e crescimento a partir de 2016. De 2015 a 2019, os dados da 
 
27 
 
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Contínua, apontados por 
Barbosa et al. (2020), indicam que houve um aumento na desigualdade de renda no 
país, medido pelo coeficiente de Gini, que aumentou de 0,525 em 2015 para 0,543 
em 2019. Segundo os autores,houve retrocesso de uma década em termos 
distributivo, com aumento das taxas de pobreza entre 2014 e 2017, seguidas por 
estabilidade até 2019. Dessa forma, eles salientam que os arranjos de proteção social, 
como os benefícios sociais e previdenciários, não foram capazes de reduzir o impacto 
da crise na renda dos mais pobres. No capítulo de assistência social da edição anterior 
deste boletim, sinalizou-se que a adoção do teto de gastos por parte do governo 
federal poderia impactar não só as despesas discricionárias, mas também as 
obrigatórias (Ipea, 2020), que no âmbito da assistência social referem-se ao PBF e 
BPC. 
Os gastos obrigatórios – constituem a maioria das despesas primárias – 
exercem forte pressão sobre os discricionários, pois tendem a crescer acima da 
inflação. Como as despesas primárias não podem crescer acima da inflação, o ajuste 
recai, num primeiro momento, sobre as despesas discricionárias. No segundo 
momento, porém, uma forma de desescalar essa tensão é examinar o valor das regras 
de entrada e benefícios (Paiva et al., 2016). 
A dinâmica de crescimento desses benefícios em 2019, embora afete 
indiretamente o crescimento dos gastos, fatores serão explicados mais adiante. 
Embora o impacto seja menos pronunciado em termos de gastos totais com essas 
concessões - pois observamos um aumento dos gastos com essas políticas de 
transferência de renda em 2019 em relação a 2018 - vale destacar que, em 2019, os 
dois Esta política reduz significativamente o número de beneficiários. A Tabela mostra 
a evolução dos serviços assistenciais e dos gastos previdenciários. Em relação a 
2018, os gastos do PBF aumentaram 6% em 2019, valor considerado significativo em 
relação às mudanças observadas nos anos anteriores (2016 a 2019). 
Tal incremento é explicado pelo pagamento de uma parcela extra do benefício, 
que ganhou a alcunha de 13o do Bolsa Família e havia sido prometida na campanha 
presidencial de 2018. O pagamento suplementar, no entanto, parece ter ocorrido às 
custas da redução de beneficiários, na medida em que houve uma economia nos 
gastos com o pagamento para milhares de pessoas que deixaram o programa, sem 
que os que estivessem na fila para a concessão fossem inseridos no lugar dos que 
 
28 
 
deixaram. Nesse sentido, decidiu-se pela redução do número de pessoas participando 
do PBF para conceder a 13a parcela aos que permaneceram. Em relação aos gastos 
com BPC, em 2019, a tabela aponta para um incremento de 4,28% em relação a 2018. 
Uma hipótese para tal crescimento ancora-se no aumento do valor médio do BPC 
diante do pagamento de parcelas em atraso na concessão do benefício devido ao 
aumento da fila de espera em 2019 (IPEA, 2021). 
 
 
 
29 
 
 
Fonte: IPEA, 2021. 
Em relação às despesas discricionárias – que podem ser objeto de 
contingenciamento ao longo do ano e consequentemente são as primeiras a serem 
cortadas para adequação fiscal, destacam-se as trajetórias de financiamento dos 
serviços socioassistenciais, responsáveis pela maior parte destas despesas, e do 
Programa Criança Feliz (PCF). Ainda que em 2019 os repasses federais destinados 
aos serviços socioassistenciais tenham aumentado em relação a 2018, novamente 
 
30 
 
tiveram sua regularidade comprometida, uma vez que praticamente a metade destas 
transferências aos entes foram realizados apenas no último mês do ano. 
Em relação ao PCF, o teto de gastos não impediu seu crescimento. Conforme 
detalhado em outras edições deste Boletim (Ipea, 2019; 2020), o PCF tem sido 
prioridade para a administração federal da política. Em 2016, quando não existia, as 
transferências para os serviços sociais representavam cerca de 85% das despesas 
discricionárias. Com a criação do programa, em 2017, os repasses aos serviços 
responderam por 81% e os do PCF por 5%; em 2018 e 2019, essa composição das 
despesas discricionárias foi de 75% e 10%, respectivamente (IPEA, 2021). 
6 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ENFRENTAMENTO DA 
PANDEMIA DA COVID-19 
 
Fonte: marcozero.org 
Durante a pandemia da Covid-19, foram implementadas diversas medidas 
relativas às transferências monetárias de caráter assistencial – BPC, PBF e criação 
do Auxílio Emergencial – como forma de mitigar os prejuízos socioeconômicos 
derivados da pandemia. 
O aumento da vulnerabilidade gerada pelo choque econômico demandou a 
rápida implementação de uma iniciativa mais ampla de transferência de renda, cuja 
discussão foi protagonizada pelo Legislativo nacional. Ao mesmo tempo, levou o 
governo federal a realizar repasse de financiamento extraordinário para os serviços 
 
31 
 
socioassistenciais, ainda que isso tenha ocorrido com atrasos no repasse dos 
recursos ordinários para oferta dos serviços continuados. A necessidade de garantir 
a segurança sanitária de trabalhadores e usuários também levou à elaboração de 
diretrizes e orientações para o atendimento e abrigamento dos usuários, sendo 
algumas delas divulgadas apenas meses depois do início da pandemia e outras 
recebidas com polêmica, como a mobilização de comunidades terapêuticas (CTs) 
para o atendimento da população de rua (IPEA, 2021). 
 
 Auxílio Emergencial 
 
Criado pela Lei no 13.982/2020, de 2 de abril de 2020, o Auxílio Emergencial 
figura como a medida assistencial de maior destaque e abrangência em resposta à 
Covid-19. Num primeiro momento, o governo anunciou a criação de um auxílio no 
valor de R$ 200,00 por pessoa, para apoiar trabalhadores informais, desempregados 
e microempreendedores individuais (MEIs) que integrem família de baixa renda, por 
três meses, o que beneficiaria de 15 milhões a 20 milhões de pessoas. Com a pressão 
do Congresso e da sociedade, o substitutivo apresentado no Legislativo propôs um 
auxílio no valor de R$ 500,00. A discussão da medida avançou no sentido da 
ampliação e detalhamento do seu público-alvo, além de majorar para R$ 600,00 o 
valor de cada parcela. Após sua aprovação e sanção, a lei definiu a concessão do 
auxílio monetário aos indivíduos maiores de 18 anos sem vínculo de emprego formal, 
cuja renda familiar mensal seja de até meio SM per capita ou até 3 SMs no total. 
Apesar de ser limitado a dois beneficiários por família, o auxílio pode ser pago em 
dobro para arranjos monoparentais femininos. 
Sua operação definiu-se com base em três grupos: 
i) beneficiários do PBF; 
não beneficiários PBF inscritos no CadÚnico até 2 de abril de 2020; e 
ii) cidadãos não inscritos no CadÚnico (chamado informalmente de 
extracad). 
A concessão inicial foi de três parcelas mensais, sendo posteriormente 
ampliada para mais duas parcelas (Brasil, 2020b, art. 9-A). Com o prolongamento do 
contexto pandêmico, em setembro de 2020, foi instituído o Auxílio Emergencial 
Residual,48 no valor de R$ 300,00, pago de maneira subsequente à quinta parcela do 
 
32 
 
Auxílio Emergencial, mensalmente, até 31 de dezembro de 2020, no limite de quatro 
parcelas. 
 O Auxílio Residual independeu de requerimento, pois foi concedido a todos os 
beneficiários do Auxílio Emergencial inseridos nos novos critérios de elegibilidade e 
limitadores de acesso ao benefício. A concessão do Auxílio Emergencial foi 
praticamente automática tanto para beneficiários PBF quanto para demais inscritos 
no CadÚnico. Após cruzamento com outros registros administrativos federais com 
vistas à verificação da elegibilidade, sondou-se a eventual existência de conta-
corrente ou poupança na Caixa Econômica Federal (CEF) ou no Banco do Brasil (BB) 
por parte da pessoa elegível e, em caso positivo, o depósito era efetuado. Em caso 
negativo, gerava-se uma poupança digital na CEF. Para o terceiro grupo (extracad), o 
requerimento foi necessário, tendo sido criado o aplicativo Auxílio Emergencial da 
CEF, no qual o requerente informa seu CPF, dados de seu rendimento monetário e 
composição familiar, declarando estar ciente da necessidade de registrar as 
informaçõesfidedignas. O solicitante também cadastrou a conta corrente ou poupança 
para acessar o auxílio e caso não tivesse, foi criada uma conta poupança social digital 
sem comissões. Posteriormente, foi identificado um subgrupo de beneficiários 
considerados particularmente vulneráveis entre o público extracad, que recebeu 
atendimento pessoal para realizar um cadastro assistido em uma unidade dos 
Correios. 
A Secretaria de Cidadania foi responsável por administrar o socorro 
emergencial e direcionar as despesas decorrentes em 
, Seu trabalho é compartilhado pela Empresa de Tecnologia e Informação 
Previdenciária (Dataprev)., responsável pela análise da elegibilidade da pessoa ao 
benefício e pela geração da folha de pagamento; e CEF, a quem cabe disponibilizar 
as plataformas para requerimento e pagamento. 
Segundo o Ministério da Cidadania, o pagamento do Auxílio Emergencial 
alcançou um público de 68,2 milhões de pessoas, para os quais foram distribuídos 
cerca de R$ 294 bilhões em 2020, conforme tabela. Vale dizer que isso equivale a 
32% da população brasileira. Mais da metade do auxílio (56%) foi pago ao público 
extracad, que anteriormente não figurava em situação de pobreza na base do 
CadÚnico. Cerca de 95% dos beneficiários do Bolsa Família receberam o Auxílio 
Emergencial, pois este configurou vantagem para aqueles. 
 
33 
 
 
 
Fonte: IPEA, 2021. 
 
A PNAD Covid-19 (IBGE), por sua vez, informa que, em agosto de 2020 – mês 
da quinta e última parcela para quem começou a receber o Auxílio Emergencial desde 
abril de 2020 – 43,9% de domicílios foram alcançados pelo Auxílio Emergencial. O 
valor médio do benefício naquele mês foi de R$ 908,00, sendo maior nas regiões Norte 
(R$ 972,00) e Nordeste (R$ 965,00), em que logrou alcançar a maior parte dos 
domicílios, conforme tabela: 
 
 
Nos meses seguintes, além de seguir o pagamento das parcelas finais do 
Auxílio Emergencial para quem começou a recebê-lo até julho de 2020, iniciou-se o 
pagamento das parcelas do Auxílio Emergencial Residual, o qual teve público 
beneficiário e, principalmente, valor mais restrito. Por essa razão, em novembro de 
 
34 
 
2020, o percentual de domicílios beneficiados caiu um pouco, chegando a 41%, com 
um valor médio do benefício bem inferior, de R$ 558,00 (IPEA, 2021). 
Cabe apontar também alguns problemas que afetaram a gestão do Auxílio 
Emergencial, muitos dos quais detalhados por Bartholo et al. (2020). Foram 
identificadas limitações de ordem tecnológica – execução do requerimento via app, 
seu tempo de análise e acesso ao benefício para aqueles sem vínculo anterior com o 
sistema bancário – e operacional – filas excessivas e aglomerações para saque do 
benefício, expondo os beneficiários e aumentando o risco de propagação do vírus 
causador da Covid-19. O indeferimento das solicitações também careceu, no início, 
de maior detalhamento do motivo para os cidadãos que, mesmo depois de 
equacionado pelo app, continuou com teor muito técnico, dificultando sua 
compreensão por pessoas de baixa escolaridade. Nesse sentido, é de salientar que 
foram criadas oportunidades de recurso contra decisões de indeferimento do auxílio 
emergencial, por motivos que poderiam ser reanalisados a partir de bases de dados 
atualizadas mensalmente. Nesse caso, o cidadão poderia se candidatar novamente 
ou interpor recurso por requerimento ou extrajudicial, por meio de convênio com o 
Ministério Público Federal (DPU). 
O manuseio de aplicativos digitais passa longe de ser trivial para a população 
vulnerável à pobreza, seja por falta de acesso ou problemas do aparelho celular, ou 
ainda de conexões à internet, seja pela falta de familiaridade com este tipo de 
tecnologia ou dificuldades de leitura e interpretação de texto, principalmente entre a 
população mais idosa. Neste sentido, cabe destacar a estranheza causada pela falta 
de articulação dos serviços assistenciais – acostumados a lidar com o público de baixa 
renda – no fluxo de concessão do Auxílio Emergencial, tendo em vista tratar de medida 
convergente com a segurança de renda, afiançada pela Política Nacional de 
Assistência Social – PNAS (2004). 
Isso se evidencia tanto pela concentração da sua operacionalização no sistema 
bancário quanto na parceria com os Correios para auxiliar no requerimento do público 
de ultravulneráveis – em vez de utilizar a estrutura dos CRAS, os quais operam o 
CadÚnico e estão familiarizados com o atendimento das pessoas em situação de 
pobreza. Além disso, deve-se notar que os riscos e vulnerabilidades que afetam as 
famílias e os indivíduos apresentam desafios e necessidades que podem ir além da 
dimensão de renda. Somente por meio da prestação simultânea de serviços a 
 
35 
 
assistência social pode garantir plenamente a promoção e a proteção de direitos, 
como a segurança do acolhimento, conforme estabelecido na PNAS (2004) e outros 
documentos orientadores da política (IPEA, 2021). 
Vale também destacar os mecanismos de controle adotados como forma de 
evitar o pagamento indevido do Auxílio Emergencial – mediante acordo de cooperação 
técnica firmado com o TCU – além da disponibilização de canal para devolução de 
valores e da obrigatoriedade de apresentar a declaração de ajuste anual relativa ao 
exercício de 2021 caso a renda anual em 2020 seja superior ao limite de isenção. 
Relatório de Acompanhamento do TCU apontou que, entre abril e julho de 2020, cerca 
de 440 mil beneficiários do auxílio apresentaram indícios de recebimento indevido, 
apurados a partir de cruzamentos com outros registros administrativos que apontaram 
o não cumprimento de algum critério de elegibilidade (TCU, 2020). 
O TCU apontou ainda diversos desafios relacionados à pouca efetividade dos 
controles de concessão do Auxílio Emergencial, como o fato de que a composição 
familiar seja auferida apenas com base nas declarações presentes no CadÚnico ou 
realizadas no aplicativo da CEF. O controle destes critérios apenas pela análise de 
dados é limitado, razão pela qual o relator recomenda ser “importante a volta das 
entrevistas e acompanhamento das famílias pela Rede Suas ao fim da pandemia, 
dentro das capacidades operacionais dos órgãos”. Em outras palavras, o próprio TCU 
dá a entender que as bases de dados disponíveis são insuficientes para se apurar os 
critérios legais para o recebimento do Auxílio Emergencial, cabendo à rede 
socioassistencial continuar acompanhando essas famílias, incluindo ou atualizando 
suas informações no CadÚnico. A rede, no entanto, tem sido alijada do processo de 
operacionalização do auxílio, o que foi reforçado por gestores municipais e estaduais 
em manifestações públicas. 
 Diversos estudos têm conseguido constatar a importância do Auxílio 
Emergencial na mitigação dos efeitos da crise econômica decorrente da pandemia. 
Além de promover a bancarização inédita da população, o benefício aumentou a renda 
média domiciliar per capita em R$ 178,00 e conseguiu proteger os mais pobres, pelo 
menos em termos de privação financeira (Barbosa e Prates, 2020). Em agosto de 
2020, pico dos pagamentos da ajuda emergencial, havia 50,2 milhões de pobres no 
Brasil, uma queda de 15 milhões em relação a 2019. Outros estudos estimaram o 
impacto do Auxílio Emergencial sobre o produto interno bruto (PIB), considerando que 
 
36 
 
as pessoas tendem a gastar esse dinheiro na compra de alimentos, vestuário, 
serviços, quitação de dívidas e outros itens que permitem a continuidade do 
funcionamento da economia, em especial nos municípios mais pobres. A estimativa 
era que, durante o prazo inicial de três meses, o auxílio seria responsável pela 
prevenção da perda de 3,1% do PIB em 2020, além de gerar 16,7 milhões de postos 
de trabalho (BRANCHER, MAGACHO E LEÃO, 2020). 
Por sua vez, Costa e Freire (2020) verificaram que o pagamento das cinco 
parcelas do auxílio representou um volume de recursos em proporção ao PIB nominalda ordem de 2,5%, sendo inclusive maior nas regiões Norte e Nordeste, as quais 
concentram maior proporção de pessoas em situação de pobreza (no Maranhão, 
chegou a 8,6% do PIB). 
Além disso, estudo de Salata e Ribeiro (2020) com base na PNAD Covid-19 
mostra que a desigualdade de renda caiu cerca de 11,3% na pandemia devido ao 
auxílio. Segundo os autores, a pandemia teria tido aumento próximo a 17,3%, 
alcançando 0,560 no coeficiente de Gini, caso este auxílio não tivesse sido 
implementado. É inegável que a concessão do Auxílio Emergencial tem sido 
fundamental para a mitigação dos efeitos da crise econômica decorrente do 
isolamento social necessário ao enfrentamento da pandemia, além de garantir a 
sobrevivência de boa parte da população brasileira que subitamente se viu privada 
dos seus meios de subsistência. Se, de um lado, não há como o estabelecimento de 
um benefício monetário de tamanha abrangência, criado em caráter emergencial, 
passar ileso a problemas de implementação; de outro, faz-se necessário incorporar 
seus aprendizados para que se possa continuar a garantir segurança de renda de 
maneira célere e eficiente aos novos contingentes que passaram a integrar o rol de 
pobreza em decorrência da pandemia (IPEA, 2021). 
6.1 Pandemia da COVID-19 e o exercício profissional no SUAS 
Todo o cenário relatado sobre o SUAS e a prática profissional dos assistentes 
sociais está se deteriorando em 2020 pela regulamentação das emergências 
sanitárias no país devido à pandemia do COVID19. Quanto ao SUAS, o caminho 
traçado foi o desmonte da ordem pública, com ataques ao controle social, ao 
 
37 
 
financiamento e à precarização das condições de trabalho e atendimento à população 
nos serviços (FREITAS, 2021). 
Freitas e Avellar (2020) traçam um panorama desse momento antes do início 
do decreto: uma política pública a caminho é então considerada essencial para 
atender às necessidades incontornáveis da população. É importante, mas não foi 
financiado para ter um bom desempenho e não foram identificadas condições de 
trabalho decentes. A saúde dos trabalhadores da SBV não tem sido uma questão que 
tenha sido trazida à tona pelas administrações políticas ao longo dos anos. Diante das 
formas de contágio causadas pelo novo corona vírus, as orientações das 
organizações de saúde e trabalho foram e são pautadas na demanda por instalações 
sanitárias mesmo para serviços essenciais. 
Freitas e Avellar (2020) destacam orientações sobre o fornecimento e 
treinamento sobre o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e 
equipamentos de proteção coletiva (EPC) para trabalhadores em geral; afastamento 
imediato de especialistas dos chamados grupos de risco; Reorganização dos 
processos de atendimento à população para evitar aglomerações e manter distância 
mínima entre as pessoas no local de trabalho; apoio em locais ventilados, apoio 
remoto e por marcação, pausas no trabalho em grupo; Faça visitas domiciliares 
somente em situações de extrema necessidade e urgência; Redução de jornada de 
trabalho e rodízio entre profissionais dos mesmos setores. 
Essas diretrizes foram emitidas por órgãos como a Secretaria de Estado do 
Trabalho, a Secretaria da Cidadania e ratificadas pelo Conselho Federal de 
Assistência Social e pelos Conselhos Regionais de Assistência Social (CRESS). 
Destacamos a publicação de um “Manifesto CFESS”8 sobre o impacto do coronavírus 
no trabalho dos assistentes sociais, publicado em 23 de março de 2020, poucos dias 
após a decretação da emergência de saúde pública em nosso país. Observamos 
também que tanto o CFESS quanto diferentes CRESS mantêm áreas em seus sites 
onde um conjunto de diretrizes para a categoria de assistente social neste momento 
de nossa história está sendo estabelecido em diálogo com nossa prática profissional. 
É de extrema importância que os profissionais do serviço social se engajem no diálogo 
com seus órgãos representativos. Importante texto com reflexões sobre o exercício 
profissional dos assistentes sociais e a pandemia, escrito por Matos (2020) e 
amplamente distribuído na categoria. O autor escreve sobre o medo que pode assolar 
 
38 
 
os profissionais no atendimento pessoal à população, mas que é necessária uma ação 
ética pautada na razão emancipatória para enfrentar esse momento. 
Ressalta a importância da criatividade profissional e da criação de estratégias 
de comunicação com a população e educação em saúde. Afirma a relevância de 
socializar a informação neste momento e defender nossas prerrogativas profissionais. 
Segundo ele, o provavelmente entende as tendências de um momento de 
incerteza, embora possamos dizer que a pandemia é uma situação de calamidade e 
os assistentes sociais possam ser chamados a agir nessas situações, precisamos 
estar atentos à narrativa que defende que "todas as pessoas deveriam." fazer 
qualquer coisa" por causa do contexto. Ele argumenta que esse "aviso" protege nossa 
"conduta profissional" e desencoraja a desespecialização. 
Matos (2020) também alerta para a observação de possíveis infrações 
trabalhistas. E essa questão também ocupou grupos ligados à política previdenciária, 
como os Fóruns dos Trabalhadores do Sistema Único de Previdência Social e os 
conselhos de classe. Isso pode ser verificado em notas do Fórum Nacional dos 
Trabalhadores do SUAS (FNTSUAS) e FETSUAS RJ (2020). 
A nota e demais documentos emitidos pela FETSUAS RJ10 mostram que no 
início da portaria de emergência sanitária, segundo relatos dos trabalhadores, a 
maioria das comunidades do Rio de Janeiro não possuía plano ou planejamento de 
emergência e não emitiu nenhum protocolo sanitário e segurança para os 
trabalhadores do SUAS. Muitos não forneceram EPIs adequadamente. Alguns 
municípios não tinham regulamentação de seus eventuais benefícios (as) 
trabalhadores denunciam que os empregos já estavam sendo desfeitos antes da 
pandemia e se tornaram completamente insalubres dadas as diretrizes sanitárias 
atuais. E destacam as fragilidades de tudo isso em uma pandemia que ocorre em ano 
eleitoral, atualizando traços como o clientelismo, a cultura do favoritismo e, em alguns 
casos, o uso da previdência com um claro propósito eleitoral. 
A Fundação Getúlio Vargas realizou pesquisa sobre serviços de assistência 
social e a pandemia de COVID19 e constatou que mais de 90,66% dos profissionais 
de assistência social tinham medo de contrair COVID19; que mais de 80% não se 
sentiam prontos para atuar em meio à pandemia e que 87,2% não receberam 
treinamento para atuar nesse contexto. Apenas 38,5% dizem ter recebido os 
equipamentos necessários para enfrentar o coronavírus (LOTTA, 2020). 
 
39 
 
Esta informação está de acordo com a relatada pelos profissionais à FETSUAS RJ 
(2020). Em 24 de abril de 2020, o Conselho Federal de Assistência Social do CFESS 
emitiu parecer jurídico sobre a falta de EPI para assistentes sociais. A empresa explica 
que entre as situações relacionadas com as condições de trabalho durante a 
pandemia, “a queixa mais frequente foi a falta de fornecimento e/ou fornecimento 
insuficiente de EPI aos profissionais da política de segurança social” (CFESS, 2020, 
p.2). 
O Parecer explica que a maioria das reivindicações sobre as comunidades 
notificadas no país vem da política previdenciária e traz reflexões sobre esse aspecto 
e o desmonte que o SUAS vem sofrendo e porque a política previdenciária concentra 
um número maior de trabalhadores em relação a outros campos profissionais. 
Concordamos com esta opinião e lembramos que os assistentes sociais são 
profissionais assalariados e que as condições objetivas para a realização do seu 
trabalho dependem das instituições empregadoras. Constatamos nos relatos e 
pesquisas que a falta de EPI é um dos muitos outros pontos que evidenciam a falta 
de condições adequadas para o desenvolvimento do trabalho na SUAS. 
É importante salientar que o grupo CFESS/CRESS

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