Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 1 Semiologia do Abdome HABILIDADES MÉDICAS 2022.1 ANATOMIA O abdome pode ser dividido em quatro quadrantes quando traçamos uma linha vertical e outra horizontal sobre a cicatriz umbilical: → QUADRANTE SUPERIOR DIREITO → QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO → QUADRANTE INFERIOR DIREITO → QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO E também pode ser dividido em nove regiões quando traçamos as duas linhas hemiclaviculares acrescidas de uma linha no rebordo costal e outra linha na crista ilíaca. Com base nos quadrantes conseguimos estimar a localização de algumas estruturas na cavidade abdominal: QUADRANTE SUPERIOR DIREITO: → Maior parte do fígado; → Vesícula biliar; → Parte do intestino delgado; → Parte do intestino grosso; → Parte do pâncreas; → Parte do estômago. QUADRANTE INFERIOR DIREITO: → Apêndice; → Parte do intestino delgado; → Parte do intestino grosso; → Parte do ovário (mulher); QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO: → Baço; → Maior parte do estômago; → Parte do intestino delgado; → Parte do intestino grosso; → Parte do pâncreas; → Parte do fígado QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO: → Parte do intestino delgado; → Parte do intestino grosso; → Parte do ovário; EXAME CLÍNICO – HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL ONDE DÓI → Localização; IRRADIA PARA ALGUM LUGAR → Irradiação; QUANDO COMEÇOU → Cronologia; COMO É A DOR → Qualidade da dor; QUANTO DÓI → Intensidade da dor; FATORES ATENUANTES E DESENCADEANTES → Melhora e piora; OUTRAS MANIFESTAÇÕES → Pertinentes. Costuma-se fazer relação de algumas doenças com a localização da dor, como: Dor epigástrica → doenças gastroduodenais; Dor subcostal direita → doença hepatobiliar; Dor pélvica → doenças ginecológicas; DOR DIFUSA: → Peritonite; → Pancreatite aguda; → Anemia Falciforme; → Apendicite (fase precoce); → Trombose Mesentérica; → Gastroenterite; → Aneurisma Dissecante; → Obstrução Intestinal; → Diabetes Mellitus. DOR NO QUADRANTE SUPERIOR DIREITO: → Colicistite Aguda e Cólica Biliar; → Hepatite aguda; → Abscesso Hepático; → Hepatomegalia Congestiva; → Úlcera Duodenal perfurada; → Pancreatite Aguda (bilateral); → Apendicite Retrocecal; → Herpes-Zóster; → Isquemia miocárdica; → Pneumonia de Lobo inferior direito. DOR NO QUADRANTE INFERIOR DIREITO: → Apendicite; → Enterite Regional; → Diverticulite de Meckel; → Hematoma de parede abdominal; Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 2 → Gravidez ectópica rota; → Cisto ovariano torcido; → Doença inflamatória pélvica; → Mittelshmerz; → Endometriose; → Cálculo Ureteral; → Vasculite Seminal; → Abscesso de psoas; → Adenite Mesentérica; → Hérnia inguinal estrangulada/encarcerada. DOR NO QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO: → Gastrite; → Pancreatite aguda; → Infarto/Ruptura esplênica; → Isquemia miocárdica; → Pneumonia de lobo inferior esquerdo. DOR NO QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO: → Diverticulite de Sigmoide; → Gravidez ectópica rota; → Cisto ovariano torcido; → Doença inflamatória pélvica; → Mittelshmerz; → Endometriose; → Cálculo Ureteral; → Vasculite Seminal; → Abscesso de psoas; → Adenite Mesentérica; → Hérnia inguinal estrangulada/encarcerada. A INTENSIDADE da dor pode ser mensurada em escala visual analógica, escala qualitativa, escala numérica e escala de faces. → Dor com grande intensidade e duração maior que 6 horas aumenta a chance de laparotomia. → Dor que melhora em poucas horas diminui a chance de laparotomia. INÍCIO DA DOR: → Súbita sem sintomas prévios: sugere isquemia, perfuração de víscera, rotura de AAA. → Aumento progressivo da intensidade: sugere colicistite aguda, pancreatite aguda, obstrução delgada. → Desconforto vago e depois se localiza e aumenta a intensidade: sugere apendicite aguda, hérnia encarcerada, obstrução do delgado distal e cólon, diverticulite. QUALIDADE, GRAVIDADE E PERIODICIDADE: → Constante e aguda: víscera perfurada. → Dor vaga, profunda, tipo cólica: obstrução de delgado. → Surda e constante: infarto intestinal. → Intensa, grave, com paciente agitado: obstrução ureteral. → Paciente prefere ficar quieto: peritonite. IRRADIAÇÃO: → Para o ombro direito e escápula: colecistite aguda. → Para o dorso: pancreatite aguda. → Para região inguinal ou perineal: litíase ureteral. FATORES DE MELHORA/PIORA: → Melhora com alimentação: úlcera duodenal. → Piora com alimentação: úlcera gástrica, colelitíase, câncer de estômago. → Piora com a movimentação: irritação peritoneal. OUTRAS MANIFESTAÇÕES: → Vômitos: podem ser consequentes à dor ou devido à própria doença abdominal. → Obstrução proximal do delgado: muitos vômitos e pouca distensão. → Vômitos claros: obstrução antes da ampola de Vater. → Vômitos biliosos: obstrução depois da ampola de Vater. → Obstrução de cólon: vômitos raros, podem ser fecalóides. → Dor abdominal + icterícia: doenças hepatobiliares. → Dor abdominal + hematúria: doenças urológicas. → Dor abdominal + amenorreia: gravidez ectópica. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 3 EXAME FÍSICO Inspeção 1) TIPOS DE ABDOME (FORMAS E VOLUME) → Plano → Globoso → Pendular ou ptotico (vísceras) → Batráquio → Avental (tecido gorduroso) → Escavado ou escafóide 2) PELE → Cicatrizes → Estrias → Veias dilatadas → Erupções cutâneas → Equimoses 3) UMBIGO (CICATRIZ UMBILICAL) → Hérnias (Manobra de Valsalva) → Diástase do reto abdominal 4) SIMETRIA → Massas abdominais → Visceromegalias → Abaulamentos → Retrações 5) PRESENÇA DE MOVIMENTOS → Peristaltismo → Pulsações → Movimentos respiratórios Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 4 Ausculta DEVE SER REALIZADA ANTES DA PERCUSSÃO E PALPAÇÃO TÉCNICA → Ouvir por 2 a 5 minutos → Divisão em 4 quadrantes 1) AVALIAR PERISTALTISMO → Aumento: Diarreia; Fase inicial da obstrução. → Diminuído: Íleo paralítico; Peritonite. → Peristalse de luta: períodos de silêncio intercalados com hiperatividade peristáltica. → Borborigmos: Roncar do estômago com líquido. 2) PRESENÇA DE SOPROS VASCULARES → Aorta → Artéria renal → Artéria ilíaca → Artéria femoral 3) PRESENÇA DE ATRITOS → Ausculte sobre Fígado e Baço – a presença de atritos pode indicar inflamação de superfície peritoneal de órgão. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 5 Percussão DEVE SER REALIZADA COM O PACIENTE EM DECÚBITO DORSAL OBJETIVOS → Quantidade e distribuição de gazes; → Possíveis massas sólidas ou presença de líquidos; → Dimensões do fígado e baço. SONS Normais → Timpânicos e Maciços; → Hipertimpanismo: obstrução intestinal, meteorismo, volvo, pneumoperitoneo; → Submaciço: menor quantidade de ar ou superposição de uma víscera maciça sobre uma alça intestinal. HEPATIMETRIA Tamanho → 6 a 12 cm da linha hemiclavicular (lobo direito) e 4 a 8 cm da linha média esternal (lobo esquerdo) Localização normal → Hipocôndrio direito e região epigástrica. → Deve-se delimitar a região com macicez do fígado superiormente e inferiormente em duas linhas, na hemiclavicular direita e na linha médio-esternal. Para essa delimitação deve-se iniciar em um ponto de timpanismo até alcançar a macicez. Os dois pontos na linha hemiclavicular direita irão especificar as bordas superior e inferior do lobo direito; e os dois pontos na linha médio-esternal irão especificar as bordas superior e inferior do lobo esquerdo. → Ausênciade macicez pode indicar atrofia hepática, interposição de alça ou pneumoperitôneo (Sinal de Jobert). Sinal de Jobert: percussão do hipocôndrio direito com detecção de timpanismo. É indicativo de pneumoperitôneo (ar na cavidade abdominal). PESQUISA DE ASCITE Grande Volume → Abdome globoso; 1,5L; Aumento da resistência da parede; Cicatriz umbilical plana ou protusa. SINAL DE PIPAROTE Médio Volume → Piparote negativo; Pesquisa de macicez móvel (mobilização de líquido na cavidade abdominal em consequência da mudança de posição); Pesquisa de semicírculo de Skoda. Pequeno Volume < 500 mL → Papirote com paciente em ortotatismo, bexiga vazia. PERCUSSÃO DOS RINS – SINAL DE GIORDANO (PUNHO PERCUSSÃO) Com a pessoa sentada na maca e mantendo mãos nos joelhos, você pode fazer o exame direto ou indireto. Manobra Direta → Utiliza a mão do avaliador, com a borda ulnar golpear o dorso do paciente, com força suficiente para promover um estímulo doloroso – mas não para ferir a pessoa ou causa dor só pela manobra. Deve ser feito em ambos os lados. Manobra Indireta → Na manobra indireta coloca-se sua outra mão entre o dorso e o punho antes do teste. Em caso positivo, ele pode sugerir calculose retal, pielonefrite, nefrolitiase, lombalgia mecânica aguda. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 6 PERCUSSÃO DO BAÇO Técnica 1 → Percussão da região inferior e da parede torácica anterior - Espaço de Traube: esse espaço se encontra nos dois últimos (9º e 10º) espaços intercostais na linha axilar anterior esquerda; deve ser percutido enquanto o paciente realiza uma inspiração profunda. O normal é não apresentar macicez, sua presença indica esplenomegalia. Técnica 2 → Pesquisa do sinal de percussão esplênica. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 7 Palpação 1) PALPAÇÃO SUPERFICIAL → Parede abdominal e vísceras que podem alcançar a parede; OBJETIVOS → Tranquilizar e relaxar o paciente; → Avaliar a sensibilidade; → Avaliar a resistência da parede; → Presença de pulsações; → Avaliar reflexo cutâneo abdominal; 2) PALPAÇÃO PROFUNDA → Delimitar órgãos e massas abdominais. • Localização; • Forma; • Tamanho; • Consistência; • Sensibilidade; • Pulsações; • Mobilidade. 3) PALPAÇÃO DO FÍGADO Técnica de Lemos-Torres → Mão esquerda por baixo do paciente, paralela à 11ª e 12ª costela; palpe com a mão direita. Técnica de Mathieu → Técnica do gancho ou “mão em garras”. AVALIAR → Borda; → Sensibilidade; → Limites; → Superfície; → Consistência; 4) PALPAÇÃO DO BAÇO → O baço normalmente não é palpável. Paciente em decúbito dorsal → Mão esquerda por baixo do paciente, na região posterolateral superior do abdome; palpe com as polpas digitais da mão direita; comece da região periumbilical em sentido diagonal ao hipocôndrio esquerdo; tente perceber o baço na inspiração profunda. Paciente na posição de Schuster → Muda-se a posição do paciente para decúbito lateral direito com os membros inferiores levemente fletidos e com o braço sobre a cabeça. Realiza a palpação da mesma forma, buscando encontrar o baço na inspiração profunda. 5) PALPAÇÃO DO RIM → São órgãos retroperitoneais normalmente não palpáveis. → É realizada com as duas mãos visando a “captura” do rim. Método de Devoto → Paciente em decúbito dorsal. Método de Israel → Paciente em decúbito lateral com as pernas levemente fletidas. 6) PALPAÇÃO DA BEXIGA → Normalmente não é palpada; exceção quando distendida em que pode ultrapassar a sínfise pubiana; Volume de 400 a 600 mL. 7) PALPAÇÃO DA AORTA → Comprima firma e profundamente a região superior do abdome – um pouco a esquerda da linha média. → Presença de massa pulsátil maior que 3 cm pode indicar Aorta com Aneurisma Abdominal. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 8 9) PONTOS DOLOROSOS Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 9 Manobras especiais SINAIS Lapinsky → Dor à compressão da fossa ilíaca direita enquanto o paciente ou o próprio examinador eleva o membro inferior direito esticado. Sugere apendicite aguda. Chandelier → Dor intensa com a movimentação do útero. Sugere doença inflamatória pélvica. Danforth → Dor no ombro à inspiração profunda. Sugere hemoperitôneo. Fothergill → Massa abdominal que continua palpável mesmo com a contração da musculatura. Sugere hematoma do músculo reto abdominal. Kehr → Dor no ombro esquerdo, notadamente à palpação no Quadrante Superior Esquerdo. Sugere hemoperitôneo (lesão esplênica). Chilaiditi → Interposição temporária ou permanente do cólon ou intestino delgado no espaço hepatodiafragmático. Sugere síndrome de Chilaiditi; Tem Horn → Dor promovida pela tração do testículo esquerdo. Sugere apendicite aguda. Aaron → Dor epigástrica referida durante a compressão de McBurney. Sugere apendicite aguda. Torres-Homem → Dor na região hepática que dá lugar ao timpanismo na região. Sugere abcesso hepático. 1) SINAL DE CARNETT → Útil para diferenciar a dor abdominal de origem visceral da dor da parede abdominal. → O teste é realizado ao definir-se a área de maior dor à palpação. Em seguida, o paciente flete (flexiona/dobra) a parede abdominal e o ponto é palpado de novo. → A dor que é menos intensa à palpação com o abdome fletido tem alta probabilidade de ser visceral. E se a dor permanecer igual ou piorar com essa manobra, provavelmente é proveniente da parede abdominal (teste positivo) ou de causa não orgânica. 2) SINAL DE PSOAS → Pede-se ao paciente que se deite sobre o lado não afetado e estenda sua outra perna contra a resistência da mão do examinador. → Quando positivo (dor durante a manobra), sugere processo inflamatório adjacente ao músculo psoas. 3) SINAL DO OBTURATOR → Com o paciente em decúbito dorsal, o examinador flexiona a coxa dele com os joelhos fletidos e rota a perna, interna e externamente. → Quando positivo (dor hipogástrica durante a manobra), sugere processo inflamatório adjacente ao músculo obturador. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 10 4) SINAL DE MURPHY → A direita do paciente, apoie a mão direita (ou esquerda) na região posterior do flanco. Peça que o paciente inspire profundamente, enquanto você aprofunda a palpação com o polegar. Caso haja interrupção abrupta da inspiração, por causa de dor à compressão, é sugestivo de colicistite aguda. → Cessação abrupta do esforço inspiratório do paciente durante a palpação profunda do quadrante superior direito. 5) SINAL DE BLUMBERG → Dor no ponto de McBurney à descompressão súbita. Sugere irritação peritoneal secundária à apendicite aguda. 6) SINAL DE ROVSING → Caracteriza-se pelo aparecimento de dor no quadrante inferior direito durante a compressão exercida no lado esquerdo. Sugere irritação peritoneal, como na apendicite aguda e na pelveperitonite. Reto e Pelve 1) TOQUE RETAL → Faz parte do exame físico; precede a anuscopia. INDICADO EM → Quadro de abdome agudo; → Hematoquezia. 2) EXAME BIMANUAL DA PELVE (FEMININA) → Faz parte do exame físico; PERMITE OBSERVAR→ Massas uterinas; → Peritonite localizada na pelve; → Abscesso pélvico.
Compartilhar