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OS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO DE ENSINO SST César Henrique de Moraes OS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO DE ENSINO / César Henrique de Moraes Ano: 2020 nº de p.: 18 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 OS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO DE ENSINO Apresentação Você já parou para pensar em como se constrói uma educação de qualidade? Entendemos que uma boa educação só pode ser posta em prática com um sistema de financiamento sólido. Agora iremos nos aprofundar em questões sobre o provimento e a manutenção das instituições públicas de ensino. Afinal, pensar em uma escola utópica é fácil! A parte difícil está em garantir esse espaço por meio do dinheiro público. Você está preparado para esse desafio? Vamos lá! Regras de utilização dos recursos para o ensino É bastante comum ouvirmos que o Brasil possui uma das maiores cargas tributárias mundiais. Pensamos também que essas arrecadações têm aumentado, mas os benefícios oferecidos não estão aumentando proporcionalmente. No entanto, isso não é verdade. Os impostos e cargas tributárias cobrados no Brasil em toda atividade profissional legalizada ainda ficam muito abaixo de outros países. Na Constituição Federal de 1988 existem artigos que tratam da transferência de recursos para a educação em diferentes níveis. O financiamento para a educação é descrito na LDB 9.394/96. Nela estão evidenciados: a origem dos recursos, como ele são vinculados à educação, os padrões de qualidade e como essas transferências devem ser realizadas para instituições privadas. Oliveira, R. P. de (2007) trata da transferência de recursos de uma esfera governamental para outra e revela que ela é fundamental, pois parte da União para os estados e municípios e possibilita uma educação com qualidade. 4 A responsabilidade pelo financiamento da educação no Brasil incide sobre todos os entes federados, sendo que cada um deles deve investir uma porcentagem mínima advinda da receita de impostos em seus sistemas de educação. Em seu artigo 69, a LDB relata que o nível de investimento será de 18% para a União e de 25% para os estados, Distrito Federal e municípios. Para saber Essas vinculações de recursos colocam a educação em situação de prioridade no contexto das políticas governamentais. Mas, para que sejam devidamente desembolsados, é necessário definir o que é considerado gasto em educação. O governo federal descreveu minuciosamente na LDB de 1996 o destino da verba pública em educação. Em seus artigos 70 e 71, constrói possibilidades que devem ser percorridas pelos governadores e prefeitos para que o dinheiro público seja bem empregado. São considerados gastos com educação: I – remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação; II – aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino; III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino; IV – levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino; V – realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas de ensino; VI – concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas; VII – amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; VIII – aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar. (BRASIL, 1996, s.p.). 5 O governo federal fiscaliza rigidamente os recursos que são destinados à educação Fonte: Plataforma Deduca (2020). Comprovadamente, em muitos municípios, a quantidade de recursos vindos de repasses dos governos federal e estadual supera, e muito, a receita de muitas secretarias importantes, como a da saúde ou a de obras. Para evitar que o dinheiro destinado à educação seja desviado, foi necessário que a legislação apontasse também o que não é considerada despesa com educação. Segundo o artigo 71 da LDB 9.394/96, não são considerados gastos com a educação: I – pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão; II – subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural; III – formação de quadros especiais para administração pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; IV – programas suplementares de alimentação, assistência médico- odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social; V – obras de infraestrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; VI – pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino. (BRASIL, 1996, s.p.). 6 Tal situação chama a atenção, visto que a lei também disponibiliza o que não pode ser considerado gasto em educação para evitar equívocos ou má fé dos gestores públicos. Isso ocorre porque o financiamento da educação básica em nosso país envolve muitos recursos, o que faz com que muitas prefeituras visem a esse dinheiro para outros fins. Desse modo: De fato, a arrecadação tem aumentado expressivamente em termos reais e como proporção do PIB. Mas também é verdade que os órgãos responsáveis pela administração tributária padecem de inúmeras restrições de natureza financeira, administrativa, legal e política que permitem e até estimulam a prática de evasão em suas diferentes modalidades. (BATISTA JÚNIOR, 2000, p. 2). Citação Como tudo isso se trata de dinheiro público, é necessário que haja comprovação da destinação dessa verba. Desse modo, de acordo com o artigo 72 da LDB 9.394/96, tudo o que foi gasto será apurado pelo Poder Público. No plano material a regra é clara. No entanto, o padrão de qualidade que desejamos para os alunos não fica explícito na LDB 9394/96. O valor de “custo por aluno” instituído é apenas uma divisão simples do que se tem disponível em caixa, e não um cálculo que considera o necessário para a educação do aluno. Assim que as regras para a utilização dos recursos públicos foram regulamentadas, os legisladores da LDB 9.394/96 entenderam que os recursos federais não deveriam ser a única origem do financiamento da educação pública. Então, para garantir o provimento da educação fundamental, foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), com a Emenda Constitucional nº 14/1996 e, posteriormente, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), com a Emenda Constitucional nº 53/2006. 7 O FUNDEB é uma fonte de recursos para a educação nos estados e nos municípios Fonte: Plataforma Deduca (2020). Na prática, o FUNDEF e o FUNDEB são contas bancárias administradas pelo governo federal formadas por recursos originados na arrecadação de impostos estaduais e municipais. Ao final do tempo de vigência do primeiro fundo, os legisladores decidiram criar o segundo. Portanto, cada estado e município tem atualmente suas contas do FUNDEB. Ao final do ano, ele é contabilizado e redistribuído para aqueles que contribuíram. Caso algum estado não atinja a média de arrecadação entre todos os estados federados, a União tem o compromisso de complementar até o mínimo estipulado — e esse é o único momento em que o governo investe recursos nesse fundo. Os gestores públicos, prefeitos e governadores perceberam o potencial financeiro que esses fundos possuíam e se esforçaram para conseguir essa fonte de recursos, que é vinculada ao número de alunos matriculados. Tanto é que o Brasil expandiu grandiosamente as matrículas de alunos no ensino fundamental no ano em que o FUNDEF passou a vigorar. Para saber Com o FUNDEB, o número de alunos em outrasmodalidades de ensino, além do fundamental, também foi incentivado pelos estados e pelos municípios, propiciando uma crescente municipalização integral do ensino básico. 8 Essa municipalização envolve muito mais responsabilidade do prefeito, que tem de compor um sistema de ensino municipal a partir de suas próprias informações. Segundo Souza e Faria, isso: [...] resultou numa maior responsabilização direta do município na captação de suas demandas, no monitoramento de gastos e na inspeção do cumprimento das metas federais e/ou estaduais estabelecidas, agora não unicamente pelo poder público local, mas também pela via da responsabilização da sociedade. (SOUZA; FARIA, 2005, p. 31). Com o FUNDEF e o FUNDEB, o movimento das políticas públicas influenciou severamente a visão dos estados e dos municípios a respeito do ensino básico e o modo com qual se responsabilizam por ela. Em uma análise final, é válido ressaltar que existem dificuldades para o financiamento da educação básica. Nesse sentido, Oliveira, D. A. (2009, p. 92) menciona que: O MEC aponta as atuais dificuldades de financiamento da educação, afirmando que os recursos disponíveis em cada uma das esferas não são suficientes para o pleno atendimento das demandas, e ao mesmo tempo [...] a má distribuição dos recursos. Você gostaria de saber mais a respeito do funcionamento do FUNDEB? Acesse o link e entenda mais as regras e a importância dessa fonte de recursos para a educação básica: <http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb> Saiba mais A colaboração entre os governos federal, estadual e municipal para o ensino Como aprendemos, as três esferas governamentais atuam simultaneamente na área educacional e, para que haja mais eficiência e resultados, concomitantemente com a redução de custo é adotado um regime de colaboração. 9 O regime de colaboração é construção coletiva Fonte: Plataforma Deduca (2020). As políticas públicas convergem para um mesmo caminho na educação nacional. No entanto, apesar de estar presente em diversas leis que tratam da educação, o regime de colaboração ainda não é devidamente regulamentado. Sendo assim, é possível que cada ente federado entenda esse regime de uma maneira específica e regional. Por existirem diversos entendimentos sobre o regime de colaboração, cada sistema de ensino pode adotar os aspectos que lhes interessam com base em uma gestão democrática. No entanto, o aspecto negativo é que cada ente federado pode acabar se esquivando de várias responsabilidades. O artigo 8º da LDB 9.394/96 descreve o regime de colaboração. Na Constituição vigente, o tema está presente nos artigos 23, 24, 211 e 214. Lembrem-se, a redação do artigo 211 afirma que a “[...] União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino” (BRASIL, 1988, s.p., grifo nosso). De acordo com a legislação atual, entendemos que todo o sistema educacional nacional foi constituído a partir da colaboração dos entes federados. Mesmo no caso da municipalização, o estado e a União não se ausentam de suas responsabilidades e colaboram de diferentes maneiras com a educação. Para saber 10 O grande objetivo da educação nacional é a qualidade do ensino. O artigo 214 da LDB 9.394/96 complementa a ideia de colaboração e traça diretrizes em comum entre os entes federados: Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. (BRASIL, 1996, s.p., grifo nosso). Esses artigos nos fazem entender que estados e municípios devem seguir algumas regras. Apesar da ampla autonomia que podem adotar para si, deve haver consenso. Para além das diretrizes descritas na LDB 9.394/96, existem ações típicas para cada um dos entes federados em um regime de colaboração de acordo com a CF/88 (BRASIL, 1988). • Financiamento da educação. • Elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE). • Estabelecimento de diretrizes e currículos para uma base nacional comum. • Criação e manutenção de uma avaliação nacional, cujos resultados nortea- rão os caminhos e as metas para cada sistema de ensino. • Formalização de criação de oportunidades para o ensino fundamental ba- seado no custo/aluno para estabelecer um padrão mínimo de qualidade. • Recensear, fazer chamada pública e zelar pela frequência dos alunos. 11 Os estados e os municípios, em regime de colaboração, têm o dever de definir as formas de oferta do ensino fundamental que assegurem a distribuição proporcional das responsabilidades, estabelecendo padrões de qualidade baseados no custo por aluno. Atenção Em um plano mais prático, o regime de colaboração pode se desdobrar de inúmeras maneiras, como o FUNDEB e o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Quando o assunto é financiamento, tanto o antigo FUNDEF quanto o atual FUNDEB se destacam como uma via em que o regime de colaboração funciona corretamente ao criar um fundo que integra recursos do município e do estado. Até mesmo a fiscalização da utilização dos recursos do FUNDEF é integrada, sendo que os gastos são avaliados pelo poder público municipal, estadual e federal. Mas, para além dos aspectos financeiros, existem as justificativas pedagógicas que fundamentam a implementação gradual da descentralização e da gestão democrática. Segundo o Conselho Nacional de Educação (CNE): A forma de organização e funcionamento da educação brasileira, em Regime de Colaboração, é o arranjo proposto no desenho institucional de nosso regime federativo, de distribuição de competências e responsabilidades entre os atores dos sistemas de ensino, de modo a preservar, ao mesmo tempo, a unidade nacional e a autonomia dos entes federados. Trata-se de conciliar autonomia com interdependência entre os entes federados. (BRASIL, 2012a, p. 3). O FUNDEB recebe algumas críticas, e uma delas diz respeito à colaboração entre os entes federados, que ocorre apenas no aspecto financeiro, ignorando a área pedagógica. Mas o regime de colaboração também pode ser constituído através de projetos pedagógicos como o PNAIC, um compromisso adotado por todos os entes federados com o objetivo claro de universalizar a alfabetização já no 3º ano do ensino fundamental. Segundo a definição disponibilizada na página oficial do PNAIC: A intenção é promover a cooperação federativa e apoiar a constituição de equipes de coordenadores vinculados às redes de ensino para que 12 estas assegurem o acompanhamento das ações do programa e avaliem a aprendizagem dos estudantes, responsabilizando-se também: (a) pela definição de metas a serem alcançadas; e (b) pelos resultados da alfabetização em seus estados e municípios. (BRASIL, 2012b, s.p.). O governo federal Financia os livros didáticos e a formação contínua dos professores em cada estado da federação. Os estados Por meio de suas secretarias de educação, organizam a divisão desses recursos entre os municípios, além de fiscalizar o funcionamento e a frequência dos professores nos cursos online. Os municípios Promovem encontros presenciais dos professores e também se organizam para que ocorra, na prática com os alunos, tudo o que foi planejado. Apesar do regime de colaboração ser uma grande ideia para a educação brasileira, existem algumas críticas quanto à sua funcionalidade e regulação,dentre as quais está: A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 211, institui o regime de colaboração, porém não ocorreu a necessária articulação entre os sistemas de ensino. [...] isso ocorre em virtude de a construção histórica da política de educação no país ser de competição e não de colaboração entre os vários âmbitos governamentais. (MARTINS, 2012, p. 82). Por fim, deve haver uma maior regulamentação e responsabilidade dos entes federados com maiores fontes de recurso para que haja a integração das esferas federal, estadual e municipal na busca pela melhoria na qualidade da educação. Até esse momento apresentamos diversos conceitos, tal como o regime de colaboração. Você deve estar sempre atento à possibilidade de haver aspectos favoráveis e contrários a cada um dos conteúdos estudados. A educação é um campo político, portanto não há unanimidade em nenhum assunto. 13 Natureza e função dos conselhos de acompanhamento e controle social: uma introdução Com as promulgações da Constituição Federal em 1988, que determinou a realização da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, esta estabeleceu no art. 8º e no art. 9º a descentralização, como forma de garantir a qualidade do ensino por meio da autonomia dos estados e municípios. A descentralização se estendeu até as escolas, tornando-as centros para as tomadas de decisões. Nesse sentido, a gestão escolar na atualidade busca interagir com os processos político-sociais, transformação da realidade, formação cidadã, busca da autonomia que mantenha a práxis, a interdisciplinaridade, considere a avaliação e busca de metas de qualidade, que influencie sua instituição sobre todas as ações e aspectos da educação, englobando também os aspectos administrativos e operacionais (LUCK, 2015, p. 49-50). A busca pela melhoria da qualidade do ensino deve perseguir rumos contrários aos adotados anteriormente pelos gestores públicos: [...] quando a educação é valorizada e legitimada pela Teoria do Capital Humano, quando serão promovidas ações na área educacional voltadas para a modernização da escola e a preocupação com os métodos e técnicas que se caracterizam pela neutralidade, objetividade e racionalidade. (FORTUNA, 2005, p. 17). Citação Os gestores escolares devem direcionar sua atuação para uma perspectiva sociocrítica, em que as iniciativas, os interesses e as interações participativas dos funcionários da escola, assim como da comunidade, sejam valorizados, mas considerando as obrigações do Estado (LIBÂNEO; TOSCHI; OLIVEIRA, 2012). 14 Em uma gestão democrática os gestores escolares devem considerar a opinião da comunidade da escola na tomada de decisões Fonte: Plataforma Deduca (2020). Tudo isto está no cumprimento da legislação no âmbito escolar no que diz respeito às questões técnico-administrativas concernentes aos sistemas de ensino que vamos analisar neste tópico. Dissemos anteriormente que a Constituição Federal preconiza a autonomia das escolas e a descentralização dos sistemas de ensino. Afirmamos ainda a relativa autonomia das instituições escolares face à legislação governamental de estados e municípios às quais as instituições estão submetidas. Segundo Libâneo, Toschi e Oliveira (2012), as ações de natureza técnico- administrativa englobam a legislação educacional e as normas administrativas; os recursos físicos, materiais, didáticos e financeiros; a direção e a administração e suas vertentes. A gestão pública também deve proceder à organização da legislação e dos recursos destinados para o bom funcionamento da escola com o objetivo de atender à função prioritária, que é a elevação da qualidade do ensino. Com a criação de sistemas de financiamento mais sólidos para a educação, em meados da década de 1990, surgem programas governamentais para a melhoria do ensino público que passaram a ser implementados, tais como: Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), distribuição de livros didáticos, recursos multimídias (TV Escola, criação e distribuição de softwares educacionais), distribuição de verbas direto para as escolas, avaliações externas, dentre outros. Mas com tantos financiamentos e políticas educacionais, qual o papel que a sociedade civil tem no processo de escolha e de fiscalização do que é investido? 15 Ao afirmar que os sistemas de ensino e a escola possuem autonomia para perseguir seus objetivos pedagógicos utilizando-se dos financiamentos disponibilizados pelo governo, é possível formalizar uma falsa sensação de que há liberdade integral no manejo dos recursos públicos. Mas, pelo contrário, existem dispositivos na sociedade que visam a garantir a destinação dos recursos públicos em áreas de interesse social. Eles são os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social, mais conhecidos como CACS. Os CACS são órgãos colegiados que permitem a participação popular e a gestão democrática, sendo que o cidadão retoma para si o poder de decisão. Desse modo: [...] esse controle permite à sociedade atuar nas políticas públicas em harmonia com o Estado, para estabelecer suas demandas, interesses e controle da execução de tais políticas. Dessa forma, os conselhos surgem como instrumentos que abrem caminhos viáveis de participação cidadã no processo de gestão. Ainda no contexto, é importante evidenciar a qualidade da informação contábil que, aliada ao controle social, pode fornecer subsídios para a tomada de decisão e avaliação de resultados. (MORENO et al., 2018 p. 18). Partindo desse princípio, os conselhos de acompanhamento e controle social, na gestão escolar, têm como principal objetivo assegurar a destinação correta dos recursos públicos para educação. Os CACS têm o objetivo de fiscalizar a destinação de recursos públicos Fonte: Plataforma Deduca (2020). 16 Os CACS sempre se utilizam da LDB 9.394/96 e da CF/88 para direcionar a avaliação do emprego das verbas públicas e seguem alguns questionamentos latentes: os gastos realizados são considerados gastos em educação de acordo com a legislação? Os serviços ou materiais adquiridos têm o preço praticado no mercado? Os serviços foram realmente prestados? Houve licitação ou concurso público? Logicamente, para essas informações serem analisadas, são necessários relatórios de ordem financeira e contábil. Já sabemos sobre as diretrizes do regime de colaboração, políticas de financiamento da educação básica e o CACS. Conciliando esses conhecimentos com a gestão democrática, seria possível uma unidade do CACS considerar que livros adquiridos pela prefeitura que contenham assuntos relacionados à educação sexual para jovens homossexuais como uma despesa inválida na área educacional? Questões Fechamento Em nossos estudos vimos que em muitos municípios, a quantidade de recursos vindos de repasses dos governos federal e estadual supera, e muito, a receita de muitas secretarias importantes, como a da saúde ou a de obras. E para evitar que o dinheiro destinado à educação seja desviado, foi necessário que a legislação apontasse também o que não é considerada despesa com educação, em seu artigo 71 da LDB 9.394/96. Para garantir o provimento da educação fundamental, foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), com a Emenda Constitucional nº 14/1996 e, posteriormente, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), com a Emenda Constitucional nº 53/2006. 17 Compreendemos a importância das três esferas governamentais aturem simultaneamente na área educacional e, para que haja mais eficiência e resultados, concomitantemente com a redução de custo é adotado um regime de colaboração. E, por fim, vimos que com as promulgações da Constituição Federal em 1988, que determinou a realização da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, esta estabeleceu no art. 8º e no art. 9º a descentralização, como forma de garantir a qualidade do ensino por meio da autonomiados estados e municípios. 18 Referências BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 12 fev. 2018. ________. Regime de colaboração entre os sistemas de ensino. Ministério da educação. Conselho Nacional de Educação. 2012a. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11616-pcp011- 12-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 12 fev. 2018. ________. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. 2012b. Disponível em <http://pacto.mec.gov.br/historico-pnaic>. Acesso em: 12 fev. 2018. BATISTA JÚNIOR, P. N. Fiscalização tributária no Brasil: uma perspectiva macroeconômica. São Paulo: USP, 2000. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/ publicacoes/textos/batistajrfiscalizatributos.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2018. FORTUNA, M. L. A Gestão escolar e subjetividade. São Paulo: Xamã, 2005. LIBÂNEO; J. C.; TOSCHI, M. S.; OLIVEIRA, J. F. 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