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Carla Bertelli – 5° Período Cefaleia 1 – Entender a Classificação dos Tipos de Cefaleia Primária 2 – Compreender a etiologia, fisiopatologia, sintomas associados e o diagnóstico da cefaleia primária 3 – Analisar os sinais e sintomas de alarme associados à cefaleia primária 4 – Descrever a conduta diagnóstica e o tratamento farmacológico e não farmacológico da cefaleia primária Divide-se as cefaleias crônicas em primárias e secundárias, sendo a secundária relacionada às doenças neurológicas orgânicas ou sistêmicas que afetam o encéfalo. Em resumo, as nas síndromes primárias, a cefaleia e as manifestações associadas constituem a condição, já nos distúrbios secundários a cefaleia tem causas exógenas. A conduta terapêutica apropriada da cefaleia depende de uma abordagem diagnóstica cuidadosa que é baseada na compreensão dos mecanismos fisiológicos da dor na cabeça e nas características diferentes das síndromes primárias e secundárias de cefaleia. Os casos de cefaleia recorrente e incapacitante no atendimento primário são mais frequentemente enxaquecas. Cefaleia potencialmente fatal é incomum; contudo, cautela e supervisão adequada são necessárias para o diagnóstico e o tratamento apropriados desses casos. Fisiopatologia Geral Tipicamente, ocorre dor quando os nociceptores periféricos são estimulados em resposta a determinados fatores, como lesão tecidual ou distensão visceral. Nesse contexto, a percepção da dor constitui uma resposta fisiológica normal mediada por um sistema nervoso sadio. Entretanto, a dor também pode ocorrer em consequência de dano ou ativação inapropriada das vias produtoras de dor do sistema nervoso periférico ou central. A cefaleia pode resultar de um desses mecanismos ou de ambos. Existem relativamente poucas estruturas cranianas que geram dor, as quais incluem o couro cabeludo, a foice do cérebro, os seios da dura- máter e segmentos proximais das grandes artérias da pia-máter. Acredita-se que a maior parte do parênquima cerebral, o epêndima ventricular, o plexo corióideo e as veias da pia-máter não sejam capazes de produzir dor. As estruturas fundamentais envolvidas na cefaleia primária parecem ser as seguintes: • Os grandes vasos intracranianos, a dura-máter e os terminais periféricos do nervo trigêmeo que inervam essas estruturas • A porção caudal do núcleo trigeminal, que se estende nos cornos dorsais da medula cervical superior e recebe impulsos da primeira e segunda raízes nervosas cervicais (o complexo trigeminocervical) • As regiões rostrais de processamento da dor, como tálamo ventroposteromedial e o córtex • Sistemas moduladores da dor no cérebro, que modulam impulsos dos nociceptores trigeminais em todos os níveis das vias de processamento da dor e que influenciam funções vegetativas, como o hipotálamo e estruturas do tronco encefálico. A inervação dos grandes vasos intracranianos e da dura-máter pelo nervo trigêmeo é designada como sistema trigeminovascular. Os sintomas autonômicos cranianos, como lacrimejamento, hiperemia conjuntival, congestão nasal, rinorreia, edema periorbital, plenitude auditiva e ptose, são proeminentes nas cefalalgias autonômicas do trigêmeo (CAT) e também podem ser observados na enxaqueca. Esses sintomas autonômicos resultam da ativação das vias parassimpáticas cranianas; exames de imagem funcionais também sugerem que as alterações vasculares observadas na enxaqueca e na cefaleia em salvas, quando presentes, também são desencadeadas, de maneira semelhante, por esses sistemas autonômicos cranianos. Com frequência, esses sintomas podem ser confundidos com sinais de inflamação sinusal, resultando frequentemente em tratamento inadequado. A enxaqueca e outras síndromes de cefaleias primárias não são primariamente “cefaleias vasculares” como se acreditava antigamente; esses distúrbios não demonstram alterações vasculares, e os resultados dos tratamentos não podem ser previstos pelos efeitos vasculares. A enxaqueca é essencialmente um distúrbio cerebral e deve ser compreendida e tratada como tal. Cefaleias Crônicas Primárias • • • • Seu tratamento se divide em duas partes: abortivo ou profilático. É a ausência de etiologia exógena. Cefaleia De Tensão Causa mais comum de cefaleia primária (incidência de 40-70%) da população, mais comum no sexo feminino. Se caracteriza por uma cefaleia de caráter opressivo, frontoccipital ou temporo-occipital bilateral, de intensidade leve a moderada (não acorda o paciente, não precisa parar os seus afazeres), duração prolongada (horas ou dias), geralmente se origina no período vespertino ou noturno, após um dia estressante A CTT caracteriza-se por um desconforto da cabeça bilateral, em aperto e semelhante a uma faixa, de Cefaleia Carla Bertelli – 5° Período intensidade leve a moderada. Em geral, a dor progride lentamente, flutua na sua intensidade e pode persistir de modo mais ou menos contínuo durante muitos dias. Diferentemente da migrânea, a CTT é, nos demais aspectos, indefinida e carece de manifestações associadas, como náuseas, vômitos, fotofobia, fonofobia, osmofobia, caráter latejante e agravamento com o movimento. É provável que a CTT seja causada por um distúrbio primário de modulação da dor do sistema nervoso central isoladamente, ao contrário da migrânea, que envolve um distúrbio mais generalizado da modulação sensorial. – Analgésicos (dipirona, paracetamol, AINE) e/ou relaxantes musculares (tizanidina), técnicas de relaxamento. á – Antidepressivos Tricíclicos (amitriptilina ou nortriptilina). As abordagens comportamentais, incluindo relaxamento, também podem ser efetivas. Enxaqueca (migrânea) Segunda principal causa, prevalência de 15% na população, mais comum no sexo feminino. Cefaleia de caráter pulsátil, geralmente unilateral, de intensidade moderada a severa (pode acordar o paciente, impedir seus afazeres), duração variável de 4 a 72h, associada a náuseas, vômitos, fotofobia, fonofobia. Pode ser desencadeada pelo consumo de vinho, período menstrual. Pródromo: alteração do humor, mal-estar nas 24-48h precedentes. Enxaqueca sem aura (conhecida como enxaqueca comum) – forma mais comum. (conhecida como enxaqueca clássica) – sinais e sintomas neurológicos focais que precedem, acompanham ou surgem após a crise de cefaleia. A pode ser representada por: escotomas cintilantes, parestesias periorais ou dimidiadas, hipoestesias ou paresias dimidiadas, vertigem + diplopia (enxaqueca basilar), hemiplegia (enxaqueca hemiplégica familiar). A sensibilidade sensorial que é característica da migrânea provavelmente resulta de uma disfunção dos sistemas de controle sensoriais monoaminérgicos localizados no tronco encefálico e no diencéfalo. A ativação das células no núcleo trigeminal resulta na liberação de neuropeptídios vasoativos, particularmente o peptídio relacionado com o gene da calcitonina (CGRP), nas terminações vasculares do nervo trigêmeo e no interior do núcleo trigeminal. Os dados também sustentam o papel da dopamina na fisiopatologia da migrânea. Os sintomas da migrânea podem ser induzidos, em sua maioria, por estimulação dopaminérgica. Foram identificados genes de migrânea em estudos de famílias com migrânea hemiplégica familiar (MHF), que revelam a participação dos canais iônicos, sugerindo que alterações na excitabilidade das membranas podem predispor à migrânea. ã ó – um estilo de vida regular, incluindo uma dieta saudável (com horários regulares para se alimentar), exercícios, padrões rotineiros de sono, evitar o consumo excessivo de cafeína e de álcool e reduzir ao máximo alterações agudas nos níveis de estresse (p. ex., por meio de biofeedback, meditação ou ioga). As modificaçõesno estilo de vida que são efetivas para reduzir a frequência das cefaleias devem ser mantidas de modo rotineiro, visto que proporcionam uma abordagem simples e custo-efetiva para o manejo da migrânea. Se essas medidas não conseguirem evitar uma crise, há necessidade, então, de medidas farmacológicas abortivas. – AINH, derivados da ergotamina, isometepteno (Neosaldina®), agonistas serotoninérgicos (sumatriptano, naratriptano, etc.), estes últimos os de maior eficácia. Deve ser administrado o mais precoce possível (logo no início da cefaleia). Carla Bertelli – 5° Período á – 1ª linha – betabloqueadores (propranolol, atenolol), antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina) e flunarizina (essa não comercializada nos EUA). Como alternativas para o tratamento, temos: antiepilépticos (valproato e topiramato); antagonistas da serotonina (ergotamina, di-hidroergotamina, metisergida, pizotifeno e ciproeptadina); anti-inflamatórios não esteroidais (ácido acetilsalicílico, derivados da indometacina, derivados do ácido mefenâmico e tolfenâmico, diclofenaco, piroxicam, naproxeno, clonixinato de lisina, nimesulida, lumiracoxibe e celecoxibe). Estes são usados para o tratamento preventivo de curto prazo como, por exemplo, a enxaqueca menstrual; e uma miscelânea de substâncias como a tizanidina, vitamina B2 (riboflavina) e a vitamina B6 (piridoxina). Cefaleia em Salvas Causa incomum de cefaleia; mais comum em homens de meia-idade. Sinônimos: cefaleia histamínica, cluster headache. Caracteriza-se por ocorrer diariamente durante um período curto (semanas), seguindo-se um longo período assintomático. Daí o nome “em salvas”. São vários episódios sucessivos, geralmente noturnos, de cefaleia frontorbitária unilateral, muito intensa (acorda o paciente), duração curta (15-180min) e associados a lacrimejamento, congestão nasal e conjuntival e edema periorbitário ipsilateral A dor é profunda, habitualmente retro-orbital, frequentemente de intensidade excruciante, não flutuante e de qualidade explosiva. Uma característica central da cefaleia em salvas é a sua periodicidade. Ocorre pelo menos uma das crises diárias de dor aproximadamente na mesma hora todos os dias para a duração de um surto de cefaleia em salvas. O início é noturno em cerca de 50% dos pacientes. Os pacientes com cefaleia em salvas tendem a ser inquietos durante as crises e podem andar de um lado para outro, balançar ou esfregar a cabeça para obter alívio; alguns podem até mesmo se tornar agressivos durante as crises. Esse comportamento contrasta nitidamente com os pacientes com migrânea, que preferem permanecer imóveis durante as crises. provavelmente é um distúrbio que envolve neurônios marca-passos centrais na região hipotalâmica posterior, explicando, assim, a sua periodicidade. Outras manifestações características da cefaleia em salvas incluem sintomas ipsilaterais de ativação craniana parassimpática autonômica: hiperemia conjuntival ou lacrimejamento, rinorreia ou congestão nasal ou disfunção craniana simpática, como ptose. – oxigenoterapia (máscara facial com 10-12 L/min de O2 por 15- 20min) ou sumatriptano, 6 mg, subcutâneo, máximo de três injeções por dia á – Verapamil (droga de escolha), carbonato de lítio, ergotamina. Diagnóstico Geral Crucial para o diagnóstico apropriado da cefaleia é a obtenção de uma anamnese abrangente e precisa. Dentre os componentes da anamnese de pessoas com cefaleia estão os seguintes: ✓ çã abrupta versus insidiosa; contexto no qual a cefaleia surgiu (p. ex., traumatismo cranioencefálico recente, inclusive cirurgias de cabeça/pescoço, doenças virais, gravidez/pós-parto) ✓ cronicidade, duração e frequência dos episódios de cefaleia; intervalo de tempo até intensidade máxima; diurna versus noturna ✓ í por exemplo, surda, aguda, em caráter de pressão, pulsátil, em caráter de punhalada, lancinante, em caráter de queimação ✓ unilateral versus bilateral; hemicraniana constante ou alternante ✓ çã por exemplo, retro-orbitária, frontal, temporal, occipital ✓ inclusive incapacidade e interferências nas atividades laborais/cotidianas ✓ çã padrão diferente de episódios anteriores de cefaleia ✓ hipersensibilidade sensorial (p. ex., a luz, ruído, sons, odores, movimentos); náuseas/vômitos; alterações visuais; dormência/formigamento na face ou nos membros; fraqueza motora focal; comprometimento da fala; atordoamento/vertigem; disfunção cognitiva ✓ çõ ô lacrimejamento, congestão conjuntival, edema facial ou periorbitário, ptose, alterações na pupila; Carla Bertelli – 5° Período congestão nasal ou rinorreia; plenitude auricular ou zumbido ✓ í ó manifestações apresentadas dias a horas antes dos episódios de cefaleia (p. ex., bocejos, sonolência, aumento da sede, alterações do padrão urinário/intestinal, rigidez da nuca) ✓ : por exemplo, ciclo menstrual; “pular” refeições; falta de sono ou dormir demais; estresse ou relaxamento após estresse; alterações barométricas ou de altitude; posição (decúbito versus posição ortostática); manobras de Valsalva ou esforço físico; luzes fortes, ruído ou odores; álcool etílico; cafeína e determinados alimentos (como aqueles contendo nitratos ou glutamato monossódico) ✓ ó A história patológica pregressa (HPP), a revisão dos sistemas, a história social, a medicação concomitante, os exames de imagem e os exames laboratoriais também devem ser revisados detalhadamente porque a causa da cefaleia pode ser assim revelada. O exame físico deve incluir avaliação abrangente e neurológica com atenção especial aos seguintes pontos: sopros na cabeça ou no pescoço, pulsação e dor à palpação da artéria temporal, dor à palpação de nervo occipital, simetria e tamanho das pupilas, fundoscopia (pesquisa de papiledema e pulsações venosas retinianas), campos visuais e movimentos dos músculos extraoculares, sensibilidade facial (inclusive respostas corneanas) e função motora. A primeira meta do diagnóstico consiste na diferenciação entre cefaleia benigna (geralmente uma síndrome primária) e uma condição subjacente grave (cefaleia secundária). Existem alguns instrumentos disponíveis para ajudar a identificar uma cefaleia potencialmente fatal (usando os chamados sinais de alerta ou bandeiras vermelhas). Por outro lado, “bandeiras brancas ou verdes” podem sugerir um cenário mais benigno. Sinais de Alerta Causas alarmantes de cefaleia secundária que demandam avaliação urgente incluem meningite, hemorragia intracraniana, evento isquêmico agudo, tumor ou lesão obstrutiva, glaucoma, sinusite purulenta, trombose de veia cortical/seio craniano, dissecção de artéria carótida/vertebral, apoplexia hipofisária, síndrome de encefalopatia reversível posterior (SERP) e síndrome de vasoconstrição cerebral reversível (SVCR). Para os pacientes que apresentaram infarto isquêmico há pouco tempo e desenvolvem cefaleia de início recente também deve ser solicitada imediatamente tomografia computadorizada (TC) de crânio, sobretudo aqueles que receberam agentes trombolíticos. Os distúrbios tireóideos (mais frequentemente hipotireoidismo) também costumam se acompanhar de cefaleia. Apesar das atuais recomendações das diretrizes, muitos médicos solicitam exames de imagem demais em cenários benignos. A American Headache Society (AHS) criou as recomendações “Escolha com Sabedoria” (Choosing Wisely) em relação à necessidade de exames de neuroimagem: Carla Bertelli – 5° Período • Exames deimagem não são necessários quando os pacientes apresentam cefaleia estável que atende aos critérios de enxaqueca • Não solicitar TC para pacientes com cefaleia quando for possível solicitar ressonância magnética (RM), exceto em situações de emergência. Bandeiras Verdes Determinadas características clínicas falam a favor de cefaleia primária benigna. Questionários simples que podem ajudar a identificar enxaqueca (migrânea) incluem ID Migraine, um conjunto de três questões sobre fotofobia, náuseas e incapacidade funcional. Se houver duas das três manifestações, um diagnóstico de enxaqueca é provável (com 81% de sensibilidade e 75% de especificidade). Se as três manifestações ocorrerem, existe uma probabilidade de 93% de atender os critérios diagnósticos da IHS para enxaqueca. Avaliação da Cefaleia na Emergência Quando o paciente chega ao setor de emergência, é necessário verificar se existem sinais de alarme (“bandeiras vermelhas”). Quando presente os sinais de alarme deve-se seguir uma investigação diagnóstica. Os exames laboratoriais úteis para a investigação de cefaleia no setor de emergência incluem os seguintes: • Painel metabólico abrangente • Hemograma completo • Coagulograma, gonadotrofina coriônica humana beta (β-HCG, teste de gravidez) • Provas de função tireóidea • VHS e CRP (se houver a suspeita de arterite temporal). Se houver a suspeita de hemorragia intracraniana ou lesão expansiva, primeiro deve ser solicitada uma TC de crânio sem contraste. Uma RM de cérebro pode ser realizada posteriormente para caracterização adicional. A solicitação de exames de imagem vasculares (angiorressonância magnética/angiotomografia computadorizada, venorressonância magnética/venotomografia computadorizada ou angiografia convencional) pode ser aventada nas circunstâncias descritas anteriormente. Em outras condições pode ser necessária punção lombar, a menos que uma etiologia possa ser estabelecida de outro modo. A exclusão de causas secundárias subjacentes é sugestiva de cefaleia não potencialmente fatal. Da mesma forma, o achado de bandeiras brancas ou verdes fala a favor de cefaleia primária, mais frequentemente enxaqueca (migrânea). Tratamento Os princípios fundamentais do tratamento efetivo da cefaleia são tranquilização, hidratação adequada e controle apropriado de dor e das manifestações associadas (como náuseas). As metas terapêuticas incluem diagnóstico acurado da cefaleia, redução da incapacidade e retorno rápido à função normal, bem como prevenção do uso excessivo de medicação e de idas recorrentes ao setor de emergência. Apesar das evidências contra o uso de opioides no tratamento de cefaleia no setor de emergência, a administração desses agentes tem aumentado nos últimos anos. Na verdade, os opioides são os medicamentos mais frequentemente prescritos para enxaqueca no setor de emergência, enquanto as terapias específicas para enxaqueca (como triptanas e di- hidroergotamina) são pouco prescritas no setor de emergência. A campanha Choosing Wisely do American Board of Internal Medicine (ABIM) recomenda que opioides e formulações contendo butalbital não sejam usados como tratamento de primeira linha para a cefaleia recorrente. Butalbital está associado a uma frequência elevada de cefaleia por uso abusivo de analgésicos (“cefaleia de rebote”) e já foi banido em alguns países. Os opioides não são tão efetivos para o tratamento agudo de enxaqueca (migrânea) quanto fenotiazinas (p. ex., clorpromazina, proclorperazina e prometazina), di- hidroergotamina, cetorolaco e butirofenonas e têm mais efeitos colaterais. Além disso, os opioides reduzem a efetividade das terapias abortivas específicas para Carla Bertelli – 5° Período enxaqueca (migrânea), aumentam as taxas de recorrência com idas frequentes ao setor de emergência e uso excessivo da medicação e aceleram a evolução para enxaqueca crônica devido a um “estado de memória da dor”. Na Emergência Como já mencionado, a maioria dos pacientes com cefaleia que procuram o setor de emergência tem enxaqueca (migrânea). Para os casos de cefaleia leve sem náuseas, são recomendados antiinflamatórios não esteroides (AINEs) orais e/ou triptanas como tratamento de primeira linha Casos de cefaleia mais intensa associada ou não a náuseas podem ser tratados com hidratação venosa com uma dose única de antagonista de receptor de dopamina como clorpromazina, proclorperazina, prometazina ou metoclopramida, ambos com propriedades antieméticas e antinociceptivas. Os pacientes devem ser monitorados em relação ao desenvolvimento de acatisia ou outros efeitos colaterais extrapiramidais (sobretudo com o uso de proclorperazina e metoclopramida), que podem ser tratados ou prevenidos com a administração concomitante de difenidramina IV. Ácido valproico IV (10 a 15 mg/kg) também pode ser considerado para o tratamento de migrânea intensa. O acréscimo de dexametasona IV (4 a 10 mg) comprovadamente reduz a recorrência de cefaleia com um número necessário para tratar (NNT) de 10 quando a dexametasona é administrada antes da alta do setor de emergência. Para a dor refratária pode ser útil administrar di- hidroergotamina (DHE), na dose de 1 mg por via intravenosa/intramuscular/subcutânea. A recorrência de cefaleia após a alta do setor de emergência é extremamente frequente, ocorrendo em cerca de 75% dos pacientes nas primeiras 48 horas após a alta. Assim, é necessário acompanhamento ambulatorial cuidadoso. Naproxeno (500 mg VO) e/ou sumatriptana (100 mg VO) na hora de dormir são opções úteis como terapia abortiva por ocasião da alta do setor de emergência para evitar enxaqueca recorrente. O tratamento agudo de cefaleia em salvas inclui oxigênio a 100% via máscara com válvula unidirecional (10 a 12 ℓ/min durante 15 a 20 minutos) e/ou sumatriptana (6 mg SC). REFERÊNCIAS Louis, Elan, D. et al. Merritt - Tratado de Neurologia, 13ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2018. Rizzoli P, Mullally WJ. Headache. Am J Med. 2018 Jan;131(1):17-24. doi: 10.1016/j.amjmed.2017.09.005. Epub 2017 Sep 20. PMID: 28939471. Negro A, Delaruelle Z, Ivanova TA, Khan S, Ornello R, Raffaelli B, Terrin A, Reuter U, Mitsikostas DD; European Headache Federation School of Advanced Studies (EHF- SAS). Headache and pregnancy: a systematic review. J Headache Pain. 2017 Oct 19;18(1):106. doi: 10.1186/s10194-017- 0816-0. PMID: 29052046; PMCID: PMC5648730. Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia. 2018 Jan;38(1):1-211. doi: 10.1177/0333102417738202. PMID: 29368949.
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