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A síncope vasodepressora – também conhecida como síncope vasovagal, porém mais comumente conhecida como desmaio comum – é um processo observado com frequência, geralmente benigno e auto-limitante, que pode ser fatal se não for tratado corretamente. O desmaio tem sido associado com todas as formas de tratamento odontológico, particularmente com a extração dentária e outros tipos de cirurgia, procedimentos como a punção venosa e, mais frequentemente, com o uso de anestésicos locais (injetáveis). O desmaio tem sido observado em casos com o paciente sentado na cadeira odontológica e mesmo quando o indivíduo entra pela primeira vez no consultório. A síncope é uma perda da consciência transitória e abrupta associada com a inabilidade de manter um tônus postural. O episódio geralmente ocorre devido a uma hipoperfusão para o córtex cerebral e para o sistema ativador reticular cerebral. Ambas as estruturas dependem do metabolismo cerebral e da disponibilidade de oxigênio e glicose para o seu bom funcionamento. Primariamente, a síncope vasodepressora é uma situação relativamente inofensiva durante a qual a vítima cai tranquilamente no chão ou é deitada por uma segunda pessoa. Existe o potencial para lesões traumáticas relacionadas com a queda. O indivíduo recupera a consciência quase imediatamente, sob a restauração do fluxo sanguíneo ao cérebro, e dentro de um curto período parece ter se recuperado completamente. Mesmo possuindo esta natureza inócua, qualquer perda da consciência, embora breve, produz mudanças fisiológicas e pode colocar a vítima em perigo. 9 Exemplos incluem as mudanças cardiopulmonares que ocorrem secundárias a hipóxia ou anóxia, ambas sendo produzidas pela obstrução da via aérea no paciente inconsciente. Embora a síncope vasodepressora seja uma situação emergencial relativamente comum, geralmente pode ser evitada. Quando a síncope é reconhecida imediatamente e tratada adequadamente, poucos indivíduos passam por complicações sérias. Fatores Predisponentes Os fatores que podem precipitar a síncope vasodepressora são classificados em dois grupos. O primeiro grupo consiste nos fatores psicogênicos, como medo, ansiedade, estresse emocional e o recebimento de notícias não bem-vindas. Outros dois fatores neste grupo são a dor – especialmente repentina e inesperada – e a visão de sangue ou instrumentos odontológicos ou cirúrgicos (p. ex., a seringa de anestesia local). Esses fatores levam ao desenvolvimento da resposta “lutar ou fugir” e, na ausência de movimento muscular pelo paciente, produzem a perda transitória da consciência, conhecida como síncope vasodepressora. O segundo grupo consiste nos fatores não psicogênicos. Estes incluem sentar em posição ereta ou ficar de pé, o que permite ao sangue circular para a periferia, diminuindo o fluxo sanguíneo cerebral, abaixo dos níveis críticos (para manutenção da consciência); a fome em função da dieta ou ausência das refeições, o que diminui o suprimento de glicose para o cérebro, abaixo dos níveis críticos; exaustão; condição física inadequada; e ambientes quentes, úmidos e lotados. Prevenção A prevenção da síncope vasodepressora visa a eliminar os fatores que predispõem um indivíduo ao desmaio. A maioria dos consultórios odontológicos não é úmida, quente, nem cheia demais. O ar condicionado adequado elimina o fator calor. A fome do paciente, em função da dieta ou refeição ausente antes do tratamento odontológico, também deve ser considerada; todos os pacientes, mas especialmente os ansiosos, devem ser encorajados a comer um lanche ou fazer a refeição antes da consulta odontológica, para Síncope minimizar o risco de hipoglicemia, além da resposta psicogênica. Posicionamento Provavelmente, o fator contribuinte mais importante na maioria dos casos de síncope vasodepressora é a posição do paciente na cadeira odontológica. O risco de síncope vasodepressora aumenta significativamente num paciente apreensivo que esteja em pé ou sentado em posição ereta durante o tratamento. Com a introdução da cadeira odontológica anatômica e o advento da odontologia ergonométrica, a maioria dos pacientes não é mais tratada em posição ereta. Atualmente o paciente é atendido em uma posição supina ou semissupina (30-45 graus), uma prática que tem prevenido muitos casos de síncope vasodepressora no consultório odontológico. O cirurgião-dentista que coloca os pacientes em posição ereta e não é capaz de mudar para a posição deitada ainda pode minimizar o risco de síncope vasodepressora. A injeção de anestésicos locais é dos procedimentos o que mais frequentemente precipita a síncope vasodepressora. Se o cirurgião-dentista puder administrar o anestésico local no paciente em posição supina, a síncope (perda real da consciência) raramente será vista. Após a administração tranquila do anestésico local, o paciente pode ser reposicionado, quando necessário, para o tratamento odontológico. Alívio da ansiedade Na maioria dos casos a síncope vasodepressora no consultório odontológico envolve fatores psicogênicos. Cada paciente potencial deve ser avaliado para presença de ansiedade odontológica. Se o paciente for muito ansioso, o tratamento odontológico deve ser modificado, para minimizar ou eliminar a ansiedade. Questionário de história médica O questionário de história médica fornece ao dentista alguma informação sobre a ansiedade do paciente frente ao tratamento odontológico. As questões a seguir podem ajudar a descobrir problemas em potencial. Questão 5: Você já teve problemas relacionados com tratamentos odontológicos anteriores? Questão 6: Você está sentindo dor neste momento? Comentário: Estas questões ajudam o paciente a voluntariamente providenciar informações sobre experiências com tratamentos odontológicos anteriores. Uma resposta afirmativa a qualquer uma dessas perguntas deve levar a um diálogo sobre a história médica e modificações no tratamento, a fim de diminuir as ansiedades do paciente. Considerações na terapia odontológica Uma vez reconhecida a ansiedade, ela deve ser tratada. Combinado com a colocação dos pacientes em posição supina ou reclinada, o uso da sedação deve ser considerado. O uso de sedação tem diminuído a incidência de síncope vasodepressora e outras emergências psicogênicas no tratamento odontológico. As vias comumente empregadas para administração medicamentosa na sedação consciente incluem a oral, intranasal, intramuscular, inalatória (com óxido nítrico [N2O] e oxigênio [O2 ]) e intravenosa. O conceito de tratamento total do paciente tem levado ao desenvolvimento de protocolos específicos para redução do estresse e sido responsável pelo número diminuído de situações fatais relacionadas ao estresse que surgem na odontologia. O uso destes protocolos pode eliminar quase totalmente todas as ocorrências de síncope vasodepressora e outras emergências psicogênicas no consultório. Manifestações Clínicas Os sinais e sintomas clínicos de síncope vasodepressora geralmente surgem rapidamente na presença de estímulo apropriado; entretanto, a perda real da consciência normalmente não ocorre imediatamente. Assim, indivíduos que experimentam síncope vasodepressora e que estão sozinhos raramente se machucam seriamente. Existe tempo suficiente para que os mesmos sentem ou deitem-se antes de perder a consciência. As manifestações clínicas da síncope vasodepressora podem ser agrupadas em três fases definidas: pré- síncope, síncope e pós-síncope (período de recuperação). Pré-síncope As manifestações prodrômicas da síncope vasodepressora são bem conhecidas. O paciente, na posição em pé ou sentado ereto, relata uma sensação de calor no pescoço e na face, perde a cor (fica pálido ou acinzentado), ficando molhado ou suando frio(principalmente na fronte). Neste momento o paciente relata que está passando mal ou que está “tonto”, podendo ainda relatar náusea. A pressão sanguínea neste momento é mantida próxima do nível basal, enquanto a frequência cardíaca aumenta significativamente (de 80 para 120 ou mais batimentos por minuto). À medida que a pré-síncope se desenvolve, dilatação pupilar, bocejo, hiperpneia (respiração mais profunda) e suor frio nas mãos e nos pés vão sendo observados. Tanto a pressão sanguínea quanto o batimento cardíaco ficam muito deprimidos (hipotensão e bradicardia) antes da perda da consciência. Neste momento, o paciente fica com a visão turva e tonto e ocorre a síncope. À medida que a síncope se desenvolve, o indivíduo geralmente exibe sintomas de alarme por alguns minutos, antes de perder a consciência. Se o paciente estiver em pé, a pré-síncope pode gerar perda da consciência num tempo relativamente curto (30 segundos), enquanto, se o paciente estiver na posição supina, a pré-síncope pode nunca chegar ao ponto de perda da consciência. Síncope Com a perda da consciência, a respiração pode (1) se tornar irregular, engasgada, ou em saltos; (2) se tornar silenciosa, superficial, e dificilmente perceptível; ou (3) cessar completamente (parada respiratória ou apneia). As pupilas dilatam e o paciente assume uma aparência mórbida. Movimentos convulsivos e a fasciculação muscular das mãos, pernas, ou musculatura facialsão comuns em pacientes que perdem a consciência e cujo cérebro fica hipóxico, mesmo por períodos de 10 segundos. A bradicardia, que se desenvolve no final da fase pré- síncope, continua. Uma frequência cardíaca de 50 batimentos por minuto ou menos é comum na síncope. Em episódios graves, períodos de assistolia ventricular completa têm sido registrados, mesmo em indivíduos normalmente saudáveis. O pulso fica fraco e filiforme. A perda da consciência também está associada com o relaxamento muscular generalizado que geralmente leva à obstrução parcial ou total da via aérea. A incontinência fecal pode ocorrer, especialmente quando a pressão sanguínea sistólica cai abaixo dos 70mmHg. Uma vez o paciente colocado em posição supina, a duração da síncope é extremamente curta, variando de alguns segundos a alguns minutos. Se o paciente permanecer inconsciente por mais de 5 minutos após o posicionamento e o tratamento adequado, ou se não tiver uma completa recuperação clínica em 15-20 minutos, outras causas, além da síncope, devem ser consideradas. Tais causas são importantes, especialmente se o paciente tiver mais do que 40 anos de idade e não exibir sintomas prodrômicos antes de perder a consciência. Pós-síncope (recuperação) Com o posicionamento adequado, a recuperação (retorno à consciência) é rápida. Na fase pós-síncope, o paciente pode mostrar palidez, náusea, fraqueza e sudorese, que pode durar por alguns minutos ou horas. Ocasionalmente, os sintomas persistem por 24 horas. Na pós-síncope imediata, o paciente pode experimentar um período curto de confusão ou desorientação. A pressão sanguínea arterial começa a aumentar neste momento; entretanto, ela pode não retornar aos níveis basais até depois de horas da síncope. A frequência cardíaca, que está diminuída, também retorna lentamente ao nível basal, e o pulso fica mais forte. Ainda, um ponto importante é que, na perda da consciência, a tendência para o paciente desmaiar outra vez pode persistir por horas se o paciente assumir uma posição sentada ou ficar em pé muito rápido. Fisiopatologia A síncope vasodepressora é mais comumente precipitada por uma diminuição no fluxo sanguíneo cerebral abaixo do nível crítico e é geralmente caracterizada por uma queda rápida na pressão sanguínea e diminuição da frequência cardíaca. Quando tais fatores predisponentes são vistos, um certo padrão de eventos se desenvolve. Pré-síncope O estresse, quer seja emocional(medo), quer seja sensorialmente (dor inesperada) desencadeado, faz com o que o organismo libere, na circulação sanguínea, quantidades maiores das catecolaminas adrenalina e noradrenalina. Sua liberação é parte do mecanismo corporal de adaptação ao estresse, conhecido comumente como resposta de “luta ou fuga”. Este aumento das catecolaminas resulta em mudanças na perfusão sanguínea dos tecidos, preparando o indivíduo para a atividade muscular aumentada (lutar ou fugir). Dentre as muitas respostas à liberação de catecolaminas estão a diminuição na resistência vascular periférica e um aumento no fluxo sanguíneo para muitos tecidos, especialmente para os músculos esqueléticos periféricos. Em situações onde esta atividade muscular antecipada ocorre, o volume sanguíneo, desviado para os músculos no preparo do movimento, retorna ao coração pela ação bombeadora dos músculos. Neste caso, a remoção periférica de sangue não ocorre; a pressão sanguínea fica acima do nível basal e os sinais e sintomas de síncope vasodepressora não se desenvolvem. Em contraste, em situações em que a atividade muscular planejada não ocorre (sentado em posição ereta na cadeira odontológica e “enfrentando tudo como se fosse homem”), o desvio de volumes maiores de sangue para os músculos esqueléticos aumenta sua concentração nos músculos e diminui significativamente o volume que retorna ao coração. Isto leva a uma diminuição relativa do volume de sangue circulante, causa queda da pressão arterial e diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. Os sinais e sintomas da pré-síncope estão relacionados a débito cardíaco diminuído, fluxo sanguíneo cerebral reduzido e outras alterações psicológicas. À medida que o sangue vai para os vasos periféricos e a pressão arterial cai, mecanismos compensatórios são ativados, para tentar manter um fluxo sanguíneo adequado ao cérebro. Estes mecanismos incluem os barorreceptores, que fecham os vasos sanguíneos periféricos por reflexo, aumentando o retorno do sangue venoso para o coração, e por reflexos na carótida e arco da aorta aumentam a frequência cardíaca. Estes mecanismos trabalham para aumentar o débito cardíaco e manter uma pressão sanguínea próxima ao normal, todos vistos no começo do período pré-síncope. Entretanto, se a situação ficar sem tratamento, estes mecanismos compensatórios fadigam (descompensam), manifestando-se pelo desenvolvimento de uma bradicardia reflexa. A diminuição da frequência cardíaca para menos de 50 batimentos por minuto é comum e gera queda significativa do débito cardíaco, associada à queda precipitada da pressão sanguínea para níveis abaixo do esperado na manutenção da consciência. Nestes casos, ocorre isquemia cerebral e o indivíduo perde a consciência. Síncope O nível crítico do fluxo sanguíneo cerebral para manutenção da consciência é estimado em 30mL de sangue por 100g de tecido cerebral por minuto. O cérebro adulto humano pesa aproximadamente 1.360 g (adulto jovem do sexo masculino de estatura mediana). O valor normal do fluxo sanguíneo cerebral é de 50 a 55mL por 100 gramas por minuto. Numa situação “lutar ou fugir”, em que o movimento muscular é ausente, e estando o paciente em posição ereta, a capacidade do coração para bombear este volume crítico de sangue fica dificultada e o fluxo sanguíneo cerebral mínimo não é atingido, gerando a síncope. Num indivíduo normotenso (pressão sistólica abaixo dos 140mmHg), este fluxo sanguíneo mínimo equivale à pressão sanguínea sistólica de 70mmHg. Para pacientes com aterosclerose ou pressão sanguínea elevada, este valor crítico pode ser atingido com a pressão sistólica acima dos 70mmHg. Clinicamente, a pressão sanguínea sistólica pode diminuir para 20- 30mmHg durante a síncope, com períodos de assistolia (pressão sanguínea arterialsistólica zero). Movimentos convulsivos, como as contraçõestônico- clônicas dos braços e pernas, ou movimentação da cabeça, podem ocorrer no decorrer da síncope. A isquemia cerebral durando somente 10 segundos pode gerar convulsões nos pacientes sem história prévia de desordens convulsivas. O grau de contração durante as convulsões depende do grau e da duração da isquemia cerebral. Quando presente, esta movimentação muscular geralmente é de curta duração e muito leve. Recuperação A recuperação geralmente é feita colocando-se a vítima em posição supina, com as pernas levemente elevadas. Isso melhora o retorno venoso ao coração e aumenta o fluxo sanguíneo cerebral, de tal forma que o mesmo exceda o nível crítico necessário para manutenção da consciência. O efeito que o posicionamento do paciente inconsciente e hipotenso, em posição supina, faz é o equivalente à administração intravenosa de 2 litros de fluidos. Sinais e sintomas, como fraqueza, suor e palidez, podem persistir por horas. O corpo fica fatigado e pode necessitar de 24 horas para retornar ao seu funcionamento normal após a síncope. Ainda, a remoção de qualquer fator que possa ter precipitado o episódio (seringa ou gaze com sangue) acelera a recuperação. Tratamento O tratamento de pacientes com síncope difere dependendo dos sinais e sintomas que o indivíduo exibe. Esta seção fala sobre o tratamento de quatro estágios separados da síncope: pré-síncope, síncope, recuperação tardia e pós-síncope. Pré-síncope Etapa 1: P (posição) Assim que surgirem os sinais e sintomas da pré-síncope, o procedimento deve ser interrompido e o paciente, colocado em posição supina, com as pernas levemente levantadas. Esta posição muda geralmente a progressão dos sintomas. O movimento muscular também ajuda no retorno venoso do sangue periférico. Se o paciente puder mover as pernas vigorosamente, terá menor chance de experimentar um desvio periférico significativo do sangue, minimizando a severidade da reação. Entretanto, o correto posicionamento do paciente é crucial. A prática comum (fora dos consultórios médicos e odontológicos) de colocar a cabeça da vítima entre as pernas, durante os sinais e sintomas da pré-síncope, deve ser descontinuada. Dobrar-se desta forma pode impedir o retorno do sangue, por obstrução parcial da veia cava inferior, resultando numa diminuição ainda maior no fluxo sanguíneo para o cérebro. Além disso, se o paciente perder a consciência enquanto coloca sua cabeça entre as pernas, esta posição (com a face para baixo) não facilita o manejo da via aérea. Etapa 2:C→A→B (circulação - vias aéreas - respiração) Uma vez que a vítima ainda esteja consciente no período présíncope e possa falar, C, A, B são avaliados como sendo adequados. Etapa 3: D (tratamento definitivo) O O2 pode ser administrado usando-se uma máscara facial, ou a amônia pode ser colocada sob o nariz do paciente para acelerar o retorno da consciência. Após o tratamento da pré-síncope, tentativas devem ser feitas para determinar a causa do episódio, enquanto o paciente se recupera. Modificações nos próximos tratamentos odontológicos devem ser feitas, para minimizar a recidiva. Como não houve perda de consciência, o tratamento odontológico planejado pode ser continuado se o dentista e o paciente sentirem que é adequado. Em caso de dúvida, o tratamento deve ser postergado. Figuras: A, Amônia aromática como estimulante respiratório. A cor muda para rosa quando o pacote é aberto. B, Um sachê de amônia aromática é esmagado entre os dedos do socorrista e mantido próximo ao nariz da paciente para estimular uma movimentação. O tratamento adequado da síncope vasodepressora segue o tratamento básico recomendado para todos os pacientes inconscientes: P→C→A→B. Etapa 1: verificação da consciência. O paciente (vítima) sofrendo de síncope vasodepressora demonstra falta de resposta ao estímulo sensorial. Etapa 2: ativação do sistema de emergência médica do consultório odontológico. Os membros da equipe devem realizar as tarefas atribuídas. Etapa 3: P. A primeira e mais importante etapa no tratamento da síncope é a colocação da vítima em posição supina. Ainda, uma pequena elevação das pernas ajuda a aumentar o retorno do sangue periférico. Esta etapa é vital porque a grande maioria das manifestações clínicas observadas na síncope resulta de um fluxo sanguíneo cerebral inadequado. A falha em colocar a vítima na posição supina pode resultar em morte ou dano neurológico permanente secundário à isquemia cerebral prolongada. Este dano pode ocorrer em 2-3 minutos se a vítima se mantiver em posição ereta. A posição supina é então preferida para o tratamento de pacientes inconscientes. Entretanto, mulheres nos estágios finais da gravidez e que perdem a consciência representam a exceção mais importante à posição básica. Etapa 4: C→A→B (suporte básico de vida, quando necessário). A vítima deve ser examinada imediatamente quanto à presença ou não de pulso central e quanto à respiração. Na maioria dos casos de síncope vasodepressora, nos quais o paciente tem pulso presente, o procedimento de inclinação da cabeça e elevação do mento estabelece com sucesso a patência das vias aéreas. Para verificar a circulação, o pulso carotídeo deve ser palpado. Embora raros, episódios breves de assistolia ventricular se desenvolvem na síncope. Na maioria dos casos, entretanto, um pulso fraco, filiforme, é palpável. A frequência cardíaca é geralmente muito baixa. Entretanto, mais frequentemente, a vítima começa a recuperar a consciência no momento em que ela é colocada em posição supina. A verificação da patência da via aérea e da respiração adequada são os passos seguintes. Uma via aérea adequada está presente quando o tórax do paciente se move e o ar exalado pode ser ouvido e sentido. A respiração espontânea geralmente é evidente na síncope; entretanto, a ventilação artificial pode ser necessária em alguns casos nos quais a respiração espontânea cessa. O posicionamento da vítima e o estabelecimento de uma via aérea patente geram retorno rápido da consciência. Figura: A patência da via aérea pode ser obtida pelo uso do método de inclinação da cabeça e elevação do mento. Figura:A adequação da via aérea pode ser determinada pelo uso da técnica “ver, ouvir, sentir”. Etapa 5: D (tratamento definitivo) Etapa 5a: uso do O2. O O2 pode ser administrado ao paciente com síncope ou pós-síncope, em qualquer momento do episódio. Etapa 5b: monitoramento dos sinais vitais. Os sinais vitais, incluindo a pressão arterial sanguínea, frequência cardíaca e frequência respiratória, devem ser monitorados, registrados e comparados aos valores basais do paciente, para determinar a severidade da reação e o grau de recuperação. Etapa 5c: procedimentos adicionais. Estes procedimentos incluem o afrouxamento de roupas restritivas, como gravatas, colarinhos (que diminuem o fluxo sanguíneo ao cérebro) e cintos (que diminuem o retorno do sangue venoso das pernas), e o uso de estimulantes respiratórios, como a amônia aromática. Para utilizar o sachê de amônia, o socorrista deve esmagá-lo entre os dedos e segurá-lo próximo ao nariz do paciente. A amônia, por ter um odor nocivo, estimula a respiração e o movimento muscular. Se o cirurgião-dentista mantém o sachê de amônia perto da cadeira odontológica, a síncope pode acabar antes mesmo de a assistência adicional se tornar necessária. Uma toalha fria pode ser colocada sobre a fronte do paciente ou cobertores podem ser utilizados, se a vítima sentir frio ou estiver tremendo. Se a bradicardia persistir, um medicamento anticolinérgico, tal qual a atropina, pode ser considerado, para administração tanto intravenosa como intramuscular. À medida que a vítima recupera a consciência, é importante que o dentista e aequipe de emergência mantenham a compostura. Ainda, o estímulo que precipitou o episódio (uma seringa, um instrumento ou peça de gaze com sangue) deve ser removido do campo de visão do paciente. A presença de um membro da equipe odontológica aterrorizado ou o fator precipitante pode induzir um segundo episódio de síncope. Frequentemente a hipoglicemia está envolvida – associada ao medo do tratamento odontológico – como fator precipitante do episódio de síncope. A administração de “açúcar” na forma de suco de laranja ou refrigerante não dietético pode ser bastante benéfica. Recuperação tardia Se a vítima não recuperar a consciência depois das diversas etapas de tratamento ou ainda não se recuperar completamente dentro de 15-20 minutos, outra causa para a síncope deve ser considerada e o serviço de emergências médicas, ativado. Na verdade, o cirurgião-dentista pode desejar ativar o serviço de emergências médicas em qualquer momento durante a síncope e deve continuar a providenciar as etapas de tratamento indicadas para o suporte básico de vida, enquanto espera pela chegada da ambulância. Possíveis causas de demora na recuperação do paciente incluem: convulsão, acidente vascular encefálico, ataque isquêmico transitório (AIT), arritmias cardíacas e hipoglicemia. Se outra causa de perda de consciência (hipoglicemia) se tornar óbvia, e se medicamentos, equipamentos e equipe apropriadamente treinada estiverem presentes, o cirurgião-dentista deve iniciar o tratamento definitivo. Na ausência de uma causa óbvia, entretanto, o dentista deve continuar o suporte básico de vida e se possível iniciar a infusão intravenosa, quando capacitado. Pós-síncope Depois da recuperação da síncope (perda da consciência com qualquer duração), o paciente não deve passar por tratamento adicional pelo resto do dia. A possibilidade de uma segunda síncope é maior na fase pós-síncope; o corpo humano requer por volta de 24 horas para retornar ao seu estado normal. Antes de dispensar o paciente, o cirurgião-dentista deve determinar o evento primário e outros fatores (fome ou medo) que possam ter contribuído para isto. Esta informação deve ser usada para formular um plano de tratamento futuro que possa evitar episódios adicionais. Arranjos devem ser feitos para que uma pessoa com interesse na saúde e segurança do paciente (membro da família) leve o paciente até sua casa. O fato de permitir que o paciente saia do consultório sem escolta e dirija para sua casa coloca-o (e aos outros) em risco, pela possibilidade de episódios recorrentes. Fornecer uma escolta é obrigatório, sempre que o indivíduo perder a consciência, mesmo que seja em distâncias ou períodos curtos. Medicamentos básicos utilizados: O2, amônia e atropina, “açúcar” (p. ex. suco de laranja, refrigerante não-dietético). Assistência médica: A assistência raramente é necessária, uma vez que a consciência normalmente retorna rapidamente, assim que o paciente é adequadamente posicionado e as vias aéreas, respiração e circulação são tratadas. Uma recuperação tardia da consciência ou um retorno tardio à condição normal do SNC demanda ativação do serviço médico de emergência.
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