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‘ DOCÊNCIA EM SAÚDE ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE DIABÉTICO 1 Copyright © Portal Educação 2013 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842a Atenção farmacêutica ao paciente diabético / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013. 77p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-816-1 1. Diabetes – Medicamentos. 2. Diabetes Mellitus. I. Portal Educação. II. Título. CDD 616.462 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 8 2 DIABETES MELITO ........................................................................................................................ 9 2.1 HISTÓRIA DO DIABETES MELITO .............................................................................................. .9 2.2 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................................... 13 2.2.1 Realidade Mundial ..................................................................................................................... 14 2.2.2 Diabetes no Brasil ...................................................................................................................... 14 2.2.3 Importância social ...................................................................................................................... 16 2.3 CLASSIFICAÇÃO ......................................................................................................................... 17 2.3.1 Diabetes melito tipo um.............................................................................................................. 17 2.3.2 Diabetes melito tipo dois ............................................................................................................ 18 2.3.3 Diabetes melito gestacional (DMG) ........................................................................................... 18 2.3.4 Outros tipos de DM .................................................................................................................... 19 3 DIAGNÓSTICO ................................................................................................................................ 21 3.1 DETECÇÃO PRECOCE ............................................................................................................... 21 3 3.2 SINAIS E SINTOMAS DO DM ...................................................................................................... 21 3.3 FATORES DE RISCO PARA O DM .............................................................................................. 22 3.4 DIAGNÓSTICO DO DM ................................................................................................................ 23 3.5 DIAGNÓSTICO DO DIABETES GESTACIONAL ......................................................................... 23 3.5.1 Fatores de risco para o diabetes gestacional ............................................................................. 24 3.6 RASTREAMENTO DO DM ........................................................................................................... 24 4 FISIOPATOLOGIA .......................................................................................................................... 26 4.1 PÂNCREAS ENDÓCRINO ........................................................................................................... 26 4.2 SECREÇÃO DE INSULINA .......................................................................................................... 27 4.2.1 Fatores estimulantes .................................................................................................................. 27 4.2.2 Fatores inibidores ...................................................................................................................... 28 4.3 AÇÕES DA INSULINA .................................................................................................................. 29 4.3.1 Resistência à insulina ................................................................................................................ 30 5 COMPLICAÇÕES DIABÉTICAS ..................................................................................................... 32 5.1 COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DM ............................................................................................ 32 4 5.2 COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DM ........................................................................................ 32 5.2.1 Microangiopatias ........................................................................................................................ 33 5.2.2 Macroangiopatias ....................................................................................................................... 33 5.2.3 Neuropatia diabética .................................................................................................................. 33 5.2.3.1 Classificação clínica ................................................................................................................ 34 6 TERAPÊUTICA ............................................................................................................................... 35 7 CRENÇAS E MITOS ....................................................................................................................... 36 8 ORIENTAÇÃO DIETÉTICA ............................................................................................................. 37 9 EXERCÍCIOS FÍSICOS ................................................................................................................... 39 10 EDUCAÇÃO .................................................................................................................................. 41 11 TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA............................................................................................. 42 12 SENSIBILIZADORES DE INSULINA ............................................................................................ 45 12.1 BIGUANIDAS .............................................................................................................................. 45 12.1.1 Indicações e eficácia ................................................................................................................ 45 12.1.2 Restrições de uso e contraindicações...................................................................................... 46 5 12.2 GLITAZONAS ............................................................................................................................. 46 12.2.1 Indicações e Eficácia ............................................................................................................... 46 12.2.2 Restrições de uso e contraindicações...................................................................................... 47 13 SECRETORES DE INSULINA ...................................................................................................... 48 13.1 INDICAÇÕESE EFICÁCIA ......................................................................................................... 49 13.2 RESTRIÇÕES DE USO E CONTRAINDICAÇÕES .................................................................... 49 14 INIBIDORES DE ALFAGLICOSIDASES ....................................................................................... 50 14.1 INDICAÇÕES E EFICÁCIA ......................................................................................................... 50 14.2 RESTRIÇÕES DE USO E CONTRAINDICAÇÕES .................................................................... 50 15 INSULINAS.................................................................................................................................... 51 15.1 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO ....................................................................................................... 52 15.1.1 Subcutânea .............................................................................................................................. 52 15.1.2 Intravenosa .............................................................................................................................. 53 15.1.3 Intramuscular ........................................................................................................................... 53 15.2 PREPARAÇÃO DA INSULINA .................................................................................................... 54 6 15.2.1 Condições que alteram a absorção ......................................................................................... 54 15.2.2 Aplicação de insulina ............................................................................................................... 55 15.3 INÍCIO DO TRATAMENTO ......................................................................................................... 56 15.3.1 Esquemas terapêuticos............................................................................................................ 56 15.4 COMPLICAÇÕES DA INSULINOTERAPIA ................................................................................ 58 15.4.1 Alergia à insulina e resistência à insulina ................................................................................. 58 15.4.2 Hipoglicemia ............................................................................................................................ 58 15.4.3 Hiperglicemia ........................................................................................................................... 59 15.4.4 Fenômeno do Alvorecer (Dawn Phenomenon) e Efeito Somogyi ............................................ 59 16 OUTROS FÁRMACOS .................................................................................................................. 61 17 NOVAS PERSPECTIVAS.............................................................................................................. 62 18 ATENÇÃO FARMACÊUTICA ....................................................................................................... 63 18.1 METODOLOGIA DÁDER ............................................................................................................ 63 18.2 OFERECIMENTO DO SERVIÇO ................................................................................................ 65 18.3 REGISTRO DE PROCEDIMENTOS ........................................................................................... 65 7 18.4 COLETA DE DADOS .................................................................................................................. 65 18.5 DETECÇÃO DE PRMs ............................................................................................................... 66 18.6 INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA ............................................................................................. 67 18.7 ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA ............................................................................................... 69 18.8 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO .................................................................... 70 18.9 PARÂMETROS DE CONTROLE ................................................................................................ 70 18.9.1 Hemoglobina glicada (HbA1c) ................................................................................................. 71 18.10 AVALIAÇÃO DA ADESÃO TERAPÊUTICA .............................................................................. 72 18.11 PREVENÇÃO DAS COMPLICAÇÕES DIABÉTICAS ............................................................... 72 18.12 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES ............................................................................................ 73 19 CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 77 8 1 INTRODUÇÃO O Diabetes Melito (DM) constitui-se em um dos mais sérios problemas de saúde na atualidade. Apresenta-se como um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares (principal causa de morbimortalidade), envolvendo alto custo no seu controle e tratamento de suas complicações. Este caderno contém informações necessárias para o acompanhamento farmacoterapêutico do paciente diabético conforme preconizam os conceitos de Atenção Farmacêutica. Entretanto, a proposta é que não seja uma receita única de como fazer, mas sim um guia para a execução do serviço. Na prática diária cada profissional poderá desenvolver a sua forma de executar tal tarefa, visto que há diversos aspectos envolvidos, relativos ao DM, ao farmacêutico, aos recursos disponíveis e ao paciente. A Atenção Farmacêutica ao paciente diabético exige conhecimentos diversos que se estendem além da farmacologia dos agentes antidiabéticos. Considerando que se trata de uma doença crônica, multifatorial e progressiva, cada paciente necessita de uma avaliação individual do seu estado de saúde para a escolha do tratamento adequado. Essa avaliação também leva em conta aspectos socioculturais do paciente, visto que é essencial educá-lo para que ele se transforme no principal agente do seu tratamento. Inicialmente, estão dispostas informações sobre o DM desde a sua história até a sua terapêutica. Posteriormente, encontram-se conceitos sobre atenção farmacêutica e a utilização da metodologia Dáder para o acompanhamento farmacoterapêutico do paciente diabético. Há discussões e observações importantes sobre os problemas mais frequentes constatados durante esse acompanhamento, relativos ao paciente, ao tratamento e aos riscos na utilização de fármacos. A avaliação será feita sob a forma de casos clínicos em consonância com os objetivos do curso. O conteúdo apresentado é suficiente para que se conheça o que é diabetes, como se controla e se previne complicações, enfim, para que se compreenda o contexto exato da conduta adequada a cada paciente. Apesar da grande quantidade de informações, à medida que se estuda o assunto vê-se que todas elas são relevantes e certamente servirão de base para o farmacêutico, na educação do paciente e no entendimento da terapêutica. O Diabetes Melito é mais bem definido como um conjunto de síndromes de caráter 9 progressivo que envolve diversas áreas da ciência médica para o seu controle. Compreende-se, por isso, tratar-se de um assunto abrangente. 2 DIABETES MELITO O DM é uma síndrome de etiologia múltipla, resultante da falta parcial ou absoluta de insulina e/ou da incapacidade dela exercer de forma adequada os seus efeitos nos tecidos-alvo. Tais deficiências são originadas da redução da secreção pancreática de insulina. Constantemente apresenta-se acompanhada dedislipidemia, hipertensão arterial e disfunção endotelial. A característica fundamental é a hiperglicemia crônica além do metabolismo alterado de carboidratos, lipídeos e proteínas. O termo “Diabetes” deriva da palavra grega diabétés, que significa “sifão” e indica passagem “através de” para denotar abundante produção de urina observada em pacientes diabéticos. O termo “Melito” originário da palavra grega mellitus (“com mel”) foi acrescentado posteriormente para distinguir a doença do diabetes insípido, causada por deficiência do hormônio antidiurético. O estado hiperglicêmico mantido provoca complicações agudas e crônicas conforme o tempo e os níveis de glicose circulantes. As complicações agudas variam de acordo com a classificação do diabetes (tipo um ou tipo dois) e podem ser graves ou até fatais. As consequências desse estado, em longo prazo, provocam alterações micro e macrovasculares e neuropáticas, originando danos a tecidos, órgãos e nervos. O diabetes é uma enfermidade crônica que requer cuidado clínico contínuo e educação, para a prevenção de complicações agudas e para a redução do risco de complicações. Indivíduos diabéticos frequentemente usam variados tipos de medicamentos e necessitam de orientação adequada quanto à utilização dos mesmos. Nesse contexto, o farmacêutico pode se integrar à equipe contribuindo para o uso adequado de medicamentos, a prevenção das complicações diabéticas e a educação do paciente. 2.1 HISTÓRIA DO DIABETES MELITO 10 Trata-se de uma doença conhecida há mais de 3.000 anos pelos egípcios, mas foram dois médicos romanos, Arateus e Celsus (entre 30 e 90 anos da era cristã) que a denominaram diabetes. Cullen (1709 – 1790) acrescentou ao termo diabetes o adjetivo mellitus para distinguir a doença do diabetes insípido. No Brasil, essas expressões foram adaptadas para Diabetes Melito cujo significado, evidentemente é “sifão de mel”. O papiro Ebers, documento médico egípcio escrito cerca de 1.500 a.C., faz referência a uma doença caracterizada por emissão frequente e abundante de urina. O médico romano Celsus (30 anos a.C. até o ano 50 da era cristã), descreveu o diabetes como “uma poliuria indolor, mas com emagrecimento extremo e perigoso”. Arateus, médico romano (ano 30 – 90 da era cristã), descreveu uma doença cujos principais sintomas eram eliminação copiosa de urina (poliuria), sede incontrolável (polidipsia) e fraqueza (poliastenia) atribuindo-a a influências perniciosas que afetariam a bexiga e os rins. Observou ainda que, frequentemente, pessoas que apresentavam esses sintomas entravam em coma antes da morte. Estava consciente da gravidade daquele estado cuja falta de energia corporal não se revertia com farta alimentação. No século VI, os hindus relataram detalhadamente alguns sintomas da doença, mencionando, pela primeira vez, o sabor adocicado da urina, a qual denominaram madhumeda (urina doce). Avicena (980 – 1.027) atribuiu a perda das funções sexuais como um dos sintomas do diabetes. Pensava que o fígado estivesse comprometido nessa enfermidade e relacionou o furúnculo e a tuberculose como complicações frequentes da doença, mencionando a gangrena diabética e o sabor adocicado da urina. Willis (1621 – 1675) relacionou o diabetes a uma doença do sangue e distinguiu o diabetes melito do diabetes insípido. Brüner, em 1682, observou que a retirada do pâncreas provocava poliuria e polidipsia, sem, contudo, correlacionar este achado com o diabetes. Em 1788, Cawley estabeleceu a correlação entre diabetes e pâncreas ao observar, durante a autópsia de um diabético, a destruição desse órgão. Já em 1796, Rollo, médico pioneiro na proposta de restrição dietética para o tratamento de diabetes, identificou em um paciente, o hálito cetônico (“maçã passada”). Chevreul, em 1815, observou a relação de identidade entre o açúcar da urina dos diabéticos e o açúcar de uva, ao qual Peligot, em 1838, atribuiu o nome de glicose. 11 Von Fehling, em 1848, elaborou o reagente que tomou o seu nome, para a pesquisa de glicose na urina. Bouchardat (1806 – 1886) introduziu métodos de fermentação e redução do cobre para a pesquisa da glicose na urina. Valorizou a dieta no tratamento do diabetes, enfatizando a restrição de carboidratos e aconselhando a substituir a gordura, o álcool e os vegetais verdes. Recomendava, além disso, dias de jejum. Petters, em 1857, identificou a acetona na urina, em um caso de coma diabético, sendo Kussmaul em 1874, quem registrou a presença no sangue. A função glicogênica do fígado, considerada uma secreção interna, foi descoberta por Claude Bernard (1813 – 1878), que acabou por determinar que o diabetes apresentava um excesso de produção de açúcar por aquele órgão, demonstrando a importância do sistema nervoso na regulação da glicemia. Cantani (1837 -1893) adotou a restrição dietética e o jejum no tratamento do diabetes. A ele atribui-se a frase: “os remédios para o diabético devem ser procurados na quitanda e não na farmácia”. Langerhans, em 1869, observou estruturas celulares pancreáticas, às quais deu o nome de ilhotas, originando o nome ilhotas de Langerhans. Entretanto, na época, confundindo- as com gânglios linfáticos. Lancewraux e Lapièrre, em 1877, relataram a atrofia pancreática no diabetes. Pavy (1829 – 1911) percebeu a relação entre o nível de glicemia o grau de glicosúria e elaborou uma solução para a determinação de glicose na urina. A expressão “acidose”, para designar o aumento de corpos cetônicos no organismo, foi criada por Nauyn, em 1886. Analisando a importância do pâncreas na digestão das gorduras, os cirurgiões Mering e Minkowski, em 1889, constataram que, no cão, a retirada do órgão causava sintomas semelhantes ao do diabetes humano. A dieta da aveia foi criada por Von Noorden em 1985 e é considerada revolucionária no tratamento do diabetes. A correlação entre a degeneração das ilhotas de Langerhans e o diabetes foi estabelecida por Opie, em 1900, assim como o reconhecimento de função endócrina e a diferenciação do tecido acinoso pancreático. A obtenção de um extrato de ilhotas foi considerada possível, por meio da ligadura dos 12 canais excretores do pâncreas, resultando na atrofia do tecido acinoso. Tal extrato possivelmente poderia ser utilizado no tratamento de diabéticos. Esse feito atribui-se a Sobbolew e Schulze em 1902. Em 1907, Lane diferenciou pela primeira vez as células alfa das células beta nas ilhotas de Langerhans. O experimento de Massiglia, em 1912, comprovou que a glicosúria observada no diabetes deve-se à destruição das ilhotas de Langerhans e não do tecido acinoso do pâncreas. Fez tentativas de tratamento do diabetes com extratos desse órgão. Banting e Best, no ano de 1921, conseguiram descobrir e isolar a insulina, denominada na época por isletina em razão de sua origem nas ilhotas de Langerhans. Partiram do pressuposto que a secreção das ilhotas poderia ser destruída pela secreção do tecido acinoso. Esses pesquisadores experimentaram o extrato obtido, insulina, em cães pancreactomizados, melhorando consideravelmente os sintomas da doença. A descoberta da insulina representa a maior conquista para o tratamento da doença. Banting recebeu o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta. A primeira injeção de insulina foi realizada em 11 de janeiro de 1922 em um homem chamado Leonard Thompson, com finalidade terapêutica. A correlação entre hipófise e pâncreas foi demonstrada por meio de hipofisectomia e melhora do diabetes; e injeção de extratos hipofisários com agravamento da doença. Experimento realizado por Houssay e seus colaboradores em 1929 e que lhe valeu o Prêmio Nobel de Fisiologia. A retirada das glândulas suprarrenais de cães e gatos pancreatectomizados promove a melhora do diabetes. Fato comprovado por Long e Lukens, em 1936. A insulinasob a forma cristalina foi obtida em 1926 por Abel. O grupo de pesquisa dinamarquês de Hagerdorn, em 1936, foi o primeiro a obter um efeito prolongado da insulina por meio da ligação a uma proteína extraída do esperma de um tipo de peixe. Isso proporcionava a redução do número de injeções diárias necessárias ao tratamento. O efeito foi prolongado ainda mais com a adição de zinco à insulina/protamina, por Scott e Fisher no mesmo ano. No ano de 1937, Young, em continuidade aos trabalhos de Houssay, constatou que as injeções de doses elevadas de extrato do lobo anterior da hipófise, provocaram diabetes permanente em animais. 13 A injeção da substância aloxânio, em pesquisa realizada por Dunn, Sheehhan e McLetchie, em 1943, causou diabetes em animais, pela destruição específica das células beta do pâncreas. A insulina NPH (insulina, neutra, protamina de Hagerdorn, nome dado em homenagem ao pesquisador dinamarquês Hagerdorn) foi sintetizada por Krayebhul e Rosemberg em 1946, que proporcionou um avanço extraordinário na terapêutica insulínica. Hallas-Möller, entre 1951 e 1952, e seus colaboradores obtiveram as insulinas lentas, pela revisão da interação insulina-zinco, tornando-se desnecessária a adição de qualquer outra substância. A obtenção do glucagon sob a forma cristalina ocorreu em 1953, por Staub e colaboradores. O efeito hipoglicemiante das sulfonilureias foi redescoberto por Frank e Fuchs, ocasião em que foram elaboradas diversas drogas desse grupo de medicamentos. Unger, no ano de 1957, contribuiu para a obtenção das biguanidas, posteriormente banida do arsenal terapêutico devido a reações adversas graves. A insulina tem sua configuração química conhecida, descoberta por Sanger, em 1959, fato que lhe valeu o Prêmio Nobel de Química. A elaboração de insulinas purificadas e pouco imunogênicas, obtidas por meio de processos eletroforéticos e cromatográficos, fora realizada simultaneamente por dois grupos de pesquisa: o Schlichkrull (dinamarquês) e o Galloway (americano). A Dinamarca passou a produzir em escala industrial insulinas altamente purificadas, praticamente abolindo problemas decorrentes do uso como: lipodistrofia, alergia e resistência à insulina. Por meio da técnica de DNA recombinante, um grupo de pesquisadores de Boston, em 1977, e o grupo californiano, no ano seguinte, conseguiram a produção de insulina de rato e de insulina humana. A partir daí, por meio da técnica de DNA recombinante, aboliu-se as reações imunológicas com a utilização de insulinas humanas. 2.2 EPIDEMIOLOGIA O crescimento da incidência de diabetes no mundo preocupa as autoridades de saúde 14 de modo a considerá-la um grave problema de saúde pública. Tal fato levou a Organização Mundial da Saúde a classificar essa doença como epidemia emergente. A evolução tecnológica contribui, de forma decisiva, para a propagação de hábitos alimentares inadequados e ao sedentarismo, levando milhões de pessoas à obesidade. Essas circunstâncias, somadas ao estresse da vida moderna, acarretam o desenvolvimento do DM. 2.2.1 Realidade Mundial Dados atuais apontam para 171 milhões de pessoas portadoras de diabetes no mundo. Estimativas indicam que esse número será maior que o dobro em 2030; A incidência de DM na população em geral varia de 8% a 14%. Em faixas etárias acima de 60 anos cresce de 17% a 30%; Por volta de 3,2 milhões de mortes ocorridas a cada ano são atribuídas ao diabetes, isso equivale a seis mortes por minuto; A lista dos países que possuem maior número de doentes inclui: Índia, China, Estados Unidos da América, Indonésia, Japão, Paquistão, Rússia, Brasil, Itália e Bangladesh. Custos diretos para o tratamento do diabetes variam de 2,5% a 15% do orçamento da saúde, dependendo do local de prevalência e da sofisticação dos meios disponíveis para o tratamento. 2.2.2 Diabetes no Brasil No Brasil, o DM destaca-se dentre os principais agravos de saúde, pelo aumento da sua prevalência e pelas consequências a ele associadas. Há projeções para uma população de 11 milhões de diabéticos em 2010 no país. Dados do estudo multicêntrico de diabetes demonstraram uma taxa de prevalência de 7,6% na população de 30 a 69 anos. A tendência da taxa de prevalência de diabetes melito é 15 ascendente. Na maioria dos locais, um dos principais fatores a ser considerado nessa tendência é o envelhecimento progressivo da população. Um aspecto interessante é a importância da dieta alimentar como determinante no desenvolvimento do diabetes. Estudos com emigrantes japoneses e seus descendentes, nos EUA e no Brasil, indicam diferenças no perfil epidemiológico de morbimortalidade ao encontrado no país de origem. Tal fato se deve à adoção dos hábitos alimentares ocidentais. Alimentação japonesa constituída de soja e seus derivados, peixe e chá verde têm sido associados a fatores de proteção para doença isquêmica do coração e possivelmente diabetes. O Ministério da Saúde apresenta a taxa de 7,6% (1987) de prevalência na população brasileira. A dificuldade na atualização desses dados é pela frágil estrutura para realização de inquéritos populacionais, abrangentes e periódicos. Estudos amostrais são caros e necessitam de locais de apoio, examinadores capacitados, além de materiais, possibilidade de processamento e análise de dados. Para que se tenha uma ideia da variabilidade dos índices de prevalência, apresentamos, a seguir, uma tabela de algumas capitais brasileiras e suas respectivas taxas de prevalência de DM. FIGURA 1 - TAXA ESTIMADA DE PREVALÊNCIA DE DIABETES MELITO, AJUSTADA POR IDADE, NA POPULAÇÃO DE 30 A 69 ANOS, PARA O BRASIL E ALGUMAS CAPITAIS BRASILEIRAS, NO ANO DE 1988 Local Taxa (%) Brasil 7,60 Brasília 5,22 Belém 7,16 Fortaleza 6,48 João Pessoa 7,95 Recife 6,42 Salvador 7,87 Rio de Janeiro 7,47 São Paulo 9,66 Porto Alegre 8,89 FONTE: Estudo multicêntrico sobre a prevalência do diabetes melito no Brasil (BRASIL, 1991). 16 A variação das taxas de prevalência sugere que diversos fatores podem interferir no desenvolvimento do DM, como hábitos de vida, condições ambientais e hereditariedade. A obtenção desses dados é fundamental para o planejamento das intervenções em saúde de forma eficaz e objetiva. 2.2.3 Importância social O DM é um preocupante problema de saúde pública, uma vez que dados epidemiológicos atingem proporções epidêmicas, associados a complicações que prejudicam a qualidade de vida, a sobrevida e a capacidade produtiva das pessoas. Envolve altos custos para o seu controle metabólico e cuidado com suas complicações. Abaixo, estão os dados mais relevantes sobre a importância do DM no contexto da saúde pública: Principal motivo de amputações de membros inferiores; Principal causa de cegueira adquirida; Cerca de 30% dos pacientes que se internam em Unidades Coronarianas Intensivas com dor precordial são diabéticos; É a sexta causa mais frequente de internação hospitalar como diagnóstico primário e é responsável (30% a 50%) por outras causas como cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, colecistopatias, acidente vascular cerebral e hipertensão arterial; Por volta de 26% dos pacientes dos programas de hemodiálise são portadores de DM. Doença frequentemente assintomática na fase inicial, debilitante, leva a complicações graves, permanentes e até fatais. Não raro, na ocasião do diagnóstico o paciente já se encontra com lesões permanentes como insuficiência renal, visual, vascular e/ou muitas outras. Em vista disso é necessário priorizar a prevenção e o diagnóstico precoce como medidas fundamentais para reduzir a morbimortalidade dos pacientes diabéticos. 17 2.3 CLASSIFICAÇÃO A classificação do DM está fundamentada na etiologia e não na terapêutica,como era anteriormente. Em vista disso, não se usa mais as expressões DM insulinodependente (IDDM) e não insulinodependente (NIDDM). A utilização de insulina como referência para a classificação gerava dúvidas em razão de existir circunstâncias em que ela é utilizada em pacientes que ainda produzem esse hormônio. O DM classifica-se em diabetes tipo um e dois, o gestacional e seis outros tipos menos frequentes: 2.3.1 Diabetes melito tipo um DM tipo um surge pela destruição das células beta produtoras de insulina, causada por uma resposta autoimune ou por causa desconhecida. Caracteriza-se por uma deficiência absoluta na produção de insulina. A forma que se instala mais rapidamente tem incidência maior em crianças e adolescentes. Em adultos, ela ocorre de forma mais lentamente progressiva e é conhecida como diabetes latente autoimune do adulto (LADA). A hiperglicemia permanente se manifesta quando 90% das ilhotas são destruídas. Dessa forma, o tratamento do DM tipo um, obrigatoriamente, tem que ser feito por meio da insulinoterapia. Uma característica marcante dos diabéticos tipo um é que esses têm tendência à cetose, podendo a cetoacidose diabética ser a manifestação inicial da doença em até 30% dos casos. O DM tipo um ocorre mundialmente com uma incidência bastante variável (corresponde a taxas entre 5% e 10% dos casos). Mostra-se mais comum na Finlândia, num patamar de 30 para cada 100.000 pessoas ao ano, e menor no Japão, com cinco para cada 100.000 pessoas ao ano. Nos Estados Unidos, a incidência anual é de aproximadamente 15 para 100.000 crianças, com uma prevalência de 2-3 para 1.000. No Brasil, a estimada incidência anual é de 8,4 para 100.000. A doença predomina em crianças e adolescentes com cerca de 18 80% dos casos surgindo antes dos 18 anos e, nos Estados Unidos, a idade pico para o diagnóstico situa-se entre 10 e 14 anos. Contudo, pode surgir em qualquer idade. As causas do DM tipo um ainda não estão inteiramente definidas. São encontrados vários fatores que estão ligados ao diabetes tipo um; incluem-se, entre eles, a suscetibilidade genética, os autoanticorpos, infecções virais (rubéola, caxumba e Coxsackie B4), o leite de vaca utilizado em crianças abaixo de dois anos e os radicais livres do oxigênio. 2.3.2 Diabetes melito tipo dois Doença insidiosa, predominantemente assintomática na fase inicial. Responsável por 80% a 90% dos casos de diabetes. Caracteriza-se pela resistência à insulina (diminuição da capacidade da insulina exercer os seus efeitos) acompanhada de redução da capacidade secretora das células beta. É diagnosticada frequentemente a partir dos 40 anos de idade. Existem formas menos comuns de DM tipo dois, tais como o de início precoce (que se manifesta entre os 25 e 40 anos). Além disso, nos últimos anos, tem havido em alguns países, como os Estados Unidos, um aumento dramático e quase exponencial na incidência do DM tipo dois em crianças e adolescentes. Tal fato parece estar diretamente relacionado a um aumento na taxa de obesidade nesse grupo. Doença cujos pacientes apresentam acidose apenas em ocasiões especiais, como em infecções graves. Estados hiperglicêmicos tendem ao coma hiperosmolar. Dentre as causas do DM tipo dois, o fator hereditário é mais determinante que no tipo um. Aliada a isso, ocorre uma forte evidência da influência decisiva com obesidade e sedentarismo. Estimativas apontam que 60% a 90% dos diabéticos tipo dois sejam obesos. 2.3.3 Diabetes melito gestacional (DMG) O diabetes gestacional é a alteração dos níveis glicêmicos que aparece ou é detectada pela primeira vez na gravidez. É definido como qualquer grau de intolerância à glicose com início ou detecção durante a gravidez. Habitualmente reverte após o parto, mas tende a recorrer em 19 gravidezes subsequentes. As gestantes com DMG estão sujeitas a complicações obstétricas, principalmente polidrâmnio, toxemia gravídica e ruptura prematura de membranas amnióticas e a uma maior frequência de parto cesárea. Além disso, há aumento do risco para desenvolverem no futuro DM tipo um e, sobretudo, tipo dois, bem como dislipidemia e hipertensão – aumento da morbidade e mortalidade perinatal também são encontrados. Macrossomia (peso > quatro quilos) é a anormalidade fetal mais característica, sendo observada em até 30% dos casos; pode predispor a traumas obstétricos e distocia de ombro se o parto for por via transvaginal. As causas do DMG são semelhantes às do DM tipo dois. A seguir, estão relacionados os fatores de risco para essa síndrome: Idade superior a 25 anos; Ganho excessivo de peso ou obesidade na gravidez atual; Aumento excessivo de gordura visceral; Parentes de 1º grau com diabetes; Baixa altura (1,50 m); Crescimento fetal excessivo, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual; Antecedentes obstétricos de morte fetal ou neonatal, de macrossomia (peso excessivo do bebê) ou de diabetes gestacional. Representa a principal complicação metabólica da gravidez e é observada em 1% a 14% das gestantes, dependendo da população estudada e do critério diagnóstico utilizado. Nos EUA, a prevalência é de aproximadamente 4% (cerca de 135.000 casos/ano) enquanto no Estudo Brasileiro sobre Diabetes Gestacional esse percentual foi de 7,6%. 2.3.4 Outros tipos de DM Ocorrem com menor frequência que os tipos um, dois e gestacional. Diversos fatores concorrem para o surgimento desse tipo de diabetes. Sabe-se que defeitos genéticos aliados a outras formas de doenças ou que o uso de fármacos diabetogênicos desencadeiam essa doença. 20 Resumidamente estão relacionados os principais tipos de DM, na figura seguinte, com suas respectivas classificações: Tipo um: doença autoimune com destruição das células betapancreáticas, incapacitando o pâncreas de produzir insulina; frequentemente surge na infância. Tipo dois: apresenta redução na produção de insulina, frequentemente acompanhada de resistência insulínica. Diabetes gestacional: surge na gravidez com resistência insulínica e relativa redução secretória, ou uma deficiência predominantemente secretória, com ou sem resistência insulínica. Outros tipos específicos: Defeitos genéticos na ação da insulina; Defeitos genéticos funcionais da célula beta; Doenças do pâncreas exócrino; Endocrinopatias; Induzidos por fármacos e agentes químicos; Infecções; Formas incomuns de diabetes imunomediado; Síndromes genéticas associadas. 21 3 DIAGNÓSTICO Na ocasião do atendimento aos pacientes, frequentemente serão solicitadas ao farmacêutico, opiniões a respeito de exames laboratoriais. Parâmetros de diagnóstico e de controle, do DM, permitem identificar indivíduos tratados erroneamente como “diabéticos” e ainda, detectar pré-diabéticos ou diabéticos não tratados. Grande parte dos pacientes possui um cartão de registro de suas glicemias de controle. O diabético, por mais estabilizado que esteja, manifestará pelo menos algum nível glicêmico acima do normal. Sempre que um paciente apresentar, constantemente, valores normais de glicemias e hipoglicemias o farmacêutico deverá suspeitar, inclusive do diagnóstico. 3.1 DETECÇÃO PRECOCE O diagnóstico precoce, evidentemente, é uma importante medida preventiva para se retardar o surgimento ou as complicações decorrentes do DM. Para a sua indicação, consideram-se os sinais, sintomas, fatores de risco para DM e componentes da Síndrome Plurimetabólica (condição clínica frequentemente associada ao diabetes, na qual o indivíduo apresenta hipertensão arterial, colesterol HDL baixo, doença cardiovascular e excesso de peso). 3.2 SINAIS E SINTOMAS DO DM Poliuria; Polidipsia; Polifagia; Emagrecimento; 22 Fraqueza/astenia/letargia; Prurido vulvar ou balanopostite; Redução brusca da acuidade visual; Hiperglicemia ou glicosúria em exames de rotina; Sinais ou sintomas relativos às complicações do DM (proteinúria, neuropatia periférica, retinopatia, ulcerações crônicas nos pés, doença vascular aterosclerótica, impotência sexual, paralisia oculomotora, infecções urinárias ou cutâneas de repetição). 3.3 FATORES DE RISCO PARA O DM Idade acima de 40 anos; História familiar (parentes próximos: pais, filhos, irmãos, etc.); Excesso de peso: índice de massa corpórea (IMC) >25 kg/m²; Obesidade (tipo androide ou central); Hipertensão arterial; Doença vascular aterosclerótica antes dos 50 anos; Hiperglicemia e/ou glicosúria anteriores; Abortos frequentes, partos prematuros, mortalidade perinatal, diabetes gestacional, polidrâmnio; Colesterol HDL baixo; Triglicerídeos acima de 200 mg/dl; Uso de medicamentos diabetogênicos (corticoides, anticoncepcionais, etc.); Sedentarismo. 23 3.4 DIAGNÓSTICO DO DM O desenvolvimento do DM passa por uma condição intermediária em que ele apresenta valores de glicemia de jejum alterados e tolerância à glicose diminuída. Para a avaliação desse estado utiliza-se o Teste Oral de Tolerância à Glicose (TTG). TABELA 1 - DIAGNÓSTICO DE DIABETES MELITO E TOLERÂNCIA À GLICOSE DIMINUÍDA (EM MG/DL) Jejum (8 horas no mínimo) 2h (após ingestão de 75g de glicose) Casual (a qualquer hora, sem jejum) Glicemia normal 70 - 99 <140 Tolerância à glicose diminuída 100 - 125 140 - 199 Diabetes melito ≥126 ≥200 ≥200 3.5 DIAGNÓSTICO DO DIABETES GESTACIONAL A gravidez exige parâmetros mais rígidos para o diagnóstico do diabetes. Rotineiramente, recomenda-se glicemia de jejum independentemente da presença de fatores de risco. O teste oral é indicado para gestantes com idade superior a 25 anos que se encontram entre a 24ª e 28ª semanas de gestação. O teste consiste na ingestão de 50 g de glicose e a dosagem no tempo basal e após 60 minutos. O diagnóstico positivo prevê: glicemia inicial ≥ 80 mg/dl ou, após uma hora da ingestão de 50g de glicose, ≥ 140 mg/dl. Nesse caso, exige-se a realização de um novo teste com a ingestão de 75 g de glicose. O teste será positivo caso: tempo inicial ≥126 mg/dl ou ≥ 140 mg/dl após a ingestão de 75g de glicose. Embora a glicemia 24 de jejum seja obrigatória no acompanhamento pré-natal, é importante que se conheça os fatores de risco para diabetes gestacional abaixo relacionados. 3.5.1 Fatores de risco para o diabetes gestacional Idade acima de 25 anos; Obesidade ou ganho de peso excessivo na gravidez atual; Deposição central excessiva de gordura corporal; História familiar de diabetes em parentes de 1º grau; Altura < 1,50 m; Hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual, crescimento fetal excessivo e polidrâmnio; Morte fetal ou neonatal, macrossomia ou diabetes gestacional em ocasiões anteriores. 3.6 RASTREAMENTO DO DM A busca de possíveis diabéticos pode ser feita por meio de uma triagem por glicemia capilar na qual, casos suspeitos são orientados para exames de diagnóstico específico. Abaixo estão relacionados critérios para o rastreamento. Idade superior a 45 anos: a cada 3 - 5 anos; De 1 - 3 anos (história de diabetes gestacional, 2 ou mais componentes da síndrome plurimetabólica, 2 ou mais fatores de risco); Uma vez por ano, ou mais frequentemente quando: glicemia de jejum alterada ou tolerância à glicose diminuída (100 - 126 mg/dl); presença de complicações do DM. 25 TABELA 2 - NÍVEIS GLICÊMICOS PARA RASTREAMENTO DO DM (GLICEMIA CAPILAR) GLICEMIA DE JEJUM DE 4 – 8 HORAS Resultado Interpretação Até 99 mg/dl Normal 100 - 125 mg/dl Duvidoso 126 - 199 mg/dl Alterado 200 - 270 mg/dl Provável DM ≥ 270 mg/dl Muito provável DM TABELA 3 - GLICEMIA AO ACASO (EM QUALQUER HORA DO DIA) < 140 mg/dl Normal 140 – 199 mg/dl Duvidoso 200 – 270 mg/dl Provável DM ≥ 270 mg/dl Muito provável O exame de glicemia capilar não é aceito para diagnóstico, mas permite uma rápida avaliação da condição do indivíduo, possibilita o controle metabólico e a detecção de possíveis problemas. O TOTG é solicitado sempre que glicemias de jejum indicam o estado pré-diabético, condição na qual o indivíduo se encontra prestes a desenvolver DM. O diagnóstico para DM é confirmado por duas glicemias de jejum, em dias diferentes, com valores acima de 126mg/dl. 26 4 FISIOPATOLOGIA O curso clínico da DM apresenta consequências resultantes de hiperglicemias constantes. Essas determinam a causa de mortalidade por doença cardiovascular em torno de 50% de todos os óbitos de pacientes com diabetes. As alterações fisiológicas causadas pelo DM relacionam-se diretamente com as funções da insulina. Para melhor compreendê-las é importante recordar a fisiologia do pâncreas endócrino. 4.1 PÂNCREAS ENDÓCRINO O pâncreas é uma glândula endócrina e exócrina, ao mesmo tempo. Cerca de 99% de suas células têm função exócrina, as quais liberam enzimas digestivas para o duodeno, por meio de ductos pancreáticos. A porção endócrina é constituída de grupos de células insulares (ilhotas de Langerhans), heterogêneas, responsáveis pela síntese e secreção do glucagon (célulasα), de insulina (células β), de somatostatina (células ∂) e polipeptídio pancreático (células F). Cada um desses hormônios tem funções específicas que se encontram abaixo destacadas: Insulina: armazenamento energético; Glucagon: mobilizador de energia; Somatostatina: ações no trato gastrintestinal, sobre as células α e β; suprime as secreções de glucagon e de insulina; Peptídeo Pancreático: inibe a secreção das enzimas pelo componente exócrino do pâncreas. 27 4.2 SECREÇÃO DE INSULINA As ilhotas de Langherans são ricamente inervadas pelo sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático). O estímulo dos receptores α2 adrenérgicos inibe a secreção de insulina, enquanto o estímulo β2 adrenérgico e vagal aumentam a secreção de insulina. Geralmente, qualquer situação que ative o sistema nervoso autônomo (hipotermia, hipoxia, cirurgia, grandes queimados) suprime a secreção de insulina por estímulo α2 adrenérgico. Dessa forma, a liberação de insulina é aumentada por antagonistas α2 adrenérgicos e diminuída por β- bloqueadores. A concentração de glicose no sangue é o fator mais importante que regula a secreção de insulina. Quando a concentração plasmática de glicose aumenta, a secreção de insulina é estimulada. A glicose oral tem mais capacidade de estimular a secreção de insulina do que a administrada via intravenosa. A glicose entra na célula β, onde seu metabolismo aumenta os níveis intracelulares de ATP. Isso ocasiona o fechamento de um canal de K+ dependente de ATP na membrana plasmática despolarizando o potencial de membrana. Essa despolarização abre os canais de Ca++ dependentes de voltagem, ocasionando um aumento do [Ca++] intracelular. Esse aumento desencadeia a exocitose dos grânulos secretores contendo insulina. Liberada, a insulina inibe a gliconeogênese e aumenta a captação tecidual de glicose e, assim, mantém os níveis glicêmicos dentro dos limites de normalidade. Outros fatores também estimulam a secreção de insulina, como: ácidos graxos, aminoácidos, corpos cetônicos e diversos outros. O controle da secreção de insulina ocorre pela combinação de fatores estimulantes e inibidores, e na presença de ambos prevalece o estímulo da glicose. 4.2.1 Fatores estimulantes Glicose; Aminoácidos (arginina, leucina); 28 Hormônios liberados pelas células neuroendócrinas do intestino, durante a digestão; Ativaçãoseletiva dos receptores β; isoproterenol; Inibidores da monoaminaoxidase; Bloqueio dos receptores α: fentolamina; Drogas colinomiméticas e estímulo vagal; Xantinas; Prostaglandinas; Sulfonilureias. 4.2.2 Fatores inibidores Adrenalina, noradrenalina (receptores α); Estímulo dos receptores α: exercício, hipoxia, cirurgia, queimaduras graves; β-bloqueadores; Diazóxido; Somatostatina. Quando os níveis plasmáticos de glicose diminuem, o glucagon é liberado para degradar o glicogênio (glicogenólise), estimular a gliconeogênese hepática a partir dos aminoácidos. O glucagon ainda estimula a lipólise, no tecido adiposo, aumentando a oferta de ácidos graxos livres que são convertidos em glicose no fígado. O metabolismo de ácidos graxos produz cetoácidos. No tecido muscular, o glucagon promove a liberação de aminoácidos que serão utilizados na conversão de glicose. Resumidamente pode-se dizer que o glucagon estimula a glicogenólise e a gliconeogênese. O efeito final é a elevação dos níveis de glicose, ácidos graxos e cetoácidos, no sangue. Em condições fisiológicas, a liberação de insulina ou glucagon frente às variações dos níveis de glicose mantém a glicemia em concentrações normais. 29 4.3 AÇÕES DA INSULINA A insulina é conhecida como um anabolizante natural, pela sua função de promover armazenamento de combustível orgânico. É liberada no sistema porta e metabolizada principalmente no fígado, rins e músculos. Os tecidos-alvos mais importantes de ação da insulina são: fígado músculo e tecido adiposo. A insulina liga-se a um receptor de membrana celular e exerce os seus efeitos nesse nível. Alguns receptores estão presentes em todas as células, incluindo aquelas onde a insulina é classicamente ativa (musculares, hepatócitos e adipócitos) e as células não dependentes de insulina (células sanguíneas, cérebro e células gonodais). Após a ligação insulina-receptor ocorre uma série de eventos no interior da célula promovidos pelo receptor de insulina (cascata de fosforilação, desfosforilação, geração de suposto mediador da ação de insulina e outros sinais) que, finalmente, resultam nos efeitos conhecidos da insulina no metabolismo dos carboidratos lipídeos e proteínas. TABELA 4 - EFEITOS DA INSULINA Tecidos Inibe ou diminui Estimula ou aumenta Hepático Glicogenólise; Gliconeogênese; Cetogênese. Síntese de glicogênio e ácidos graxos; Síntese de glicerol e ácidos graxos. Adiposo Lipólise. Síntese de glicerol e ácidos graxos. Muscular Catabolismo proteico; Efluxo de aminoácidos. Captação de aminoácidos; Síntese de proteínas; Síntese de glicogênio. 30 4.3.1 Resistência à insulina É um estado no qual a captação de glicose pelos tecidos (especialmente muscular e hepático) está diminuída frente à ação da insulina; em resposta, ocorre uma elevação compensatória dos níveis plasmáticos de insulina com a finalidade de manter a glicemia em concentrações normais. Na resistência à insulina observa-se uma correlação invertida entre os níveis de ácidos graxos livres circulantes e a sensibilidade à insulina. Acredita-se que as células adiposas volumosas tenham um ritmo acelerado de lipólise. Conquanto a isto, dislipidemias proporcionam altos níveis de ácidos graxos livres circulantes. Esses ácidos graxos aumentam a resistência à insulina por meio da competição de substratos, ou seja, aumentando a oxidação de lipídeos em detrimento da oxidação de glicose. Tal mecanismo de competição por substratos encontra na obesidade uma grande oferta de substratos gordurosos e torna-se a via de resistência à insulina. Descobriu-se que os ácidos graxos livres inibem o transporte de glicose para o interior da célula estimulada pela insulina, a fosforilação de glicose para a glicogênese e o ciclo de Krebs (inibição da atividade da síntese do glicogênio muscular). Considera-se também que os ácidos graxos livres alterem o conteúdo lipídico da membrana celular. Com isso, o acesso da insulina aos seus receptores modifica-se e, consequentemente, também a sua ligação e ação. A obesidade desempenha papel desencadeante na síndrome de resistência à insulina, cujo grau é maior quando o tecido adiposo está localizado na região central do corpo (obesidade androide). Nem todos os obesos são diabéticos, todavia, a maioria dos pacientes com DM tipo dois são obesos. A homeostase glicêmica em obesos não diabéticos é mantida à custa de hiperinsulinemia. Por esse motivo, entende-se obesidade como o principal fator ambiental desencadeante do DM tipo dois. Os pacientes diabéticos tipo um não apresentam fatores clássicos de risco vascular (obesidade central, hipertensão, dislipidemia), tão frequentemente observados em diabéticos tipo dois. Essa condição proporciona um risco menor de desenvolver complicações cardiovasculares que os diabéticos tipo dois. A fisiopatologia do DM decorre da diminuição dos efeitos da insulina, seja pela redução de oferta circulante, da resistência à insulina ou de ambos. Como se sabe, a deficiência insulínica diminui a captação tecidual de glicose, aumenta a neoglicogênese e, por conseguinte, 31 eleva os níveis de glicose sanguíneos. Quando a hiperglicemia resultante ultrapassa o limiar de reabsorção renal, a glicose é eliminada na urina (glicosúria). A hiperglicemia também aumenta a osmolaridade sanguínea acarretando a desidratação dos tecidos, que aliadas à glicosúria ocasiona diurese abundante (poliuria) e muita sede (polidipsia). O aumento do metabolismo lipídico e proteico, junto às perdas hidroeletrolíticas, estabelece emagrecimento, proporcional à deficiência insulínica encontrada. 32 5 COMPLICAÇÕES DIABÉTICAS Complicações agudas (elevação rápida) e crônicas (mesmo em níveis baixos) ocorrem por meio dos seguintes mecanismos: aumento na produção de espécies reativas de oxigênio; acúmulo de sorbitol pelo aumento na atividade da aldose-redutase; ativação da proteína C quinase (PKC); diminuição da produção de óxido nítrico; produtos finais de glicação avançada. 5.1 COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DM No diabetes tipo um, os estados hiperglicêmicos tendem à cetose e, em casos mais graves, à cetoacidose pela deficiência acentuada de insulina resultando lipólise excessiva. Em diabéticos tipo dois, raramente ocorre cetose porque os níveis de insulina ainda são capazes de suprimir a lipólise excessiva. A hiperglicemia nesses pacientes tende ao coma hiperosmolar não cetótico (desidratação acentuada dos tecidos). 5.2 COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DM Em longo prazo, as consequências do descontrole metabólico observado no DM determina o aparecimento das complicações crônicas. Contribuem ainda para o desenvolvimento dessas complicações os principais fatores de risco: longa duração da doença, mau controle metabólico, presença de hipertensão arterial sistêmica, tabagismo e alcoolismo, complicações preexistentes e gestação. A hiperglicemia crônica reúne condições de evolução para 33 microangiopatias, macroangiopatias, e neuropatias diabéticas cujas doenças associadas serão apresentadas a seguir. 5.2.1 Microangiopatias Doenças oculares como: retinopatia, catarata, glaucoma e ceratopatia (úlceras de córnea). Nefropatias (insuficiência renal) cujos fatores agravantes são: hipertensão arterial sistêmica, infecção urinária de repetição ou crônica, agentes nefrotóxicos (contrastes radiológicos endovenosos, anti-inflamatórios não hormonais, aminoglicosídeos). 5.2.2 Macroangiopatias Cardiopatia isquêmica; Doença coronária de pequenos vasos (insuficiência cardíaca e arritmias); Doença cerebrovascular (maior causa de morte); Doença vascular periférica. 5.2.3Neuropatia diabética Compreende um conjunto de síndromes que comprometem o sistema nervoso periférico sensitivo, motor e autonômico de inúmeras formas. É a complicação mais comum do DM e acomete 40% dos pacientes. 34 5.2.3.1 Classificação clínica Polineuropatias simétricas, difusas e persistentes: Sensitivo-motora simétrica distal; Autonômica; Fibras pequenas. Mononeuropatias focal/multifocal reversíveis: Craniana; Radiculopatia toracoabdominal; Amiotrofia (proximal motora, femural); Focal (membro); Compressiva; Formas mistas. Rapidamente Reversível Neuropatia de hiperglicemia (associada ao rápido controle glicêmico: insulina e hipoglicemiante oral). As complicações diabéticas constituem a causa do elevado risco de morbimortalidade do DM. Todas as medidas terapêuticas visam à redução desse risco. A noção das formas de evolução das complicações diabéticas, agudas ou crônicas, possibilita uma intervenção segura, de modo a prevenir complicações mais sérias. 35 6 TERAPÊUTICA Os objetivos terapêuticos visam controlar as complicações agudas e crônicas, reduzir mortalidade e promover qualidade de vida ao paciente. Dois experimentos clínicos importantes demonstraram a necessidade de trazer o controle glicêmico para níveis próximos da normalidade. O Diabetes Control and Complications Trial (DCCT), estudo de grande porte em diabéticos tipo um, demonstrou que o uso intensivo de insulina diminui o risco de desenvolvimento de retinopatia, nefropatia e de neuropatia. Da mesma forma o United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS) – ensaio clínico randomizado, controlado – demonstrou a importância do controle glicêmico na prevenção do desenvolvimento dessas mesmas complicações. Entretanto, as metas para o tratamento do DM incluem, além do controle glicêmico, o controle da dislipidemia, pressão arterial e a manutenção do índice de massa corpórea (IMC) dentro de 20 – 25 Kg/m². Para a obtenção das metas terapêuticas do DM utilizam-se, além de medicamentos, medidas não medicamentosas. Tais medidas são coadjuvantes indispensáveis em todos os casos de diabetes. Constituem-se de um plano alimentar e de atividade física adequados à condição individual de cada paciente. As medidas medicamentosas para o diabetes visam mimetizar a resposta pancreática ao estímulo da glicose, proporcionando uma quantidade maior de insulina conforme a elevação dos níveis de glicose; e visam ainda redução da resistência à insulina e redução da absorção de carboidratos. 36 7 CRENÇAS E MITOS Não são poucas as pessoas que, baseadas em crenças infundadas sobre o diabetes, não adotam as medidas terapêuticas necessárias. O farmacêutico deve modificar esses conceitos, trazendo a verdade científica ao paciente, de maneira respeitosa e inteligente. Inclusive a educação do paciente é parte do seu tratamento. O objetivo é obter adesão à melhor conduta terapêutica. Produtos naturais, como ervas medicinais, são popularmente indicados para o tratamento do diabetes. Eles não apresentam padronização da concentração de princípios ativos, ou ainda, são frequentemente confundidos, devido à grande diversificação das espécies. Constantemente observa-se, em pacientes diabéticos, a variação de sensibilidade frente a um mesmo medicamento quando produzido por laboratórios diferentes. Porquanto, não é recomendável a utilização dessas alternativas. O cuidado em desfazer crenças e mitos visa impedir que mais um fator possa interferir no difícil controle do DM. Os mais frequentes são: “A insulina vicia o paciente deixando-o insulinodependente”: absolutamente infundada; “A homeopatia cura o diabetes”: não há trabalhos científicos que comprovem a validade da terapêutica; Batata Yacón: resultados preliminares de estudos apontam para a sua capacidade de redução de glicose; Chás caseiros (pata de vaca, carqueja, alcachofra, jambolão): não há comprovação científica que atestem tanto a eficácia quanto a inocuidade. 37 8 ORIENTAÇÃO DIETÉTICA Na ocasião da orientação ao paciente diabético não cabe ao farmacêutico prescrever um plano alimentar individualizado. Todavia, nessa oportunidade, podem ser esclarecidas e reforçadas orientações já recebidas de profissionais da área, visto que o plano alimentar é uma medida fundamental para um bom controle metabólico. Considerando diabéticos tipo dois, a dieta e a atividade física previnem o aparecimento do DM e levam os níveis glicêmicos à normalidade, especialmente na fase inicial da doença. Tais medidas são importantes, também, no controle da pressão arterial e dislipidemia, frequentemente associadas ao DM. É importante ressaltar que ações não farmacológicas (dieta e atividade física) são essenciais, também, para o controle metabólico do diabético tipo um. De acordo com as metas terapêuticas mencionadas anteriormente, é necessário manter o indivíduo com IMC nos limites de 20 - 25 kg/m². Por conseguinte, diabéticos com sobrepeso (IMC 25 - 30 Kg/m²) ou obesos (IMC acima de 30 Kg/m²) deverão ser orientados para a redução do peso. Diabéticos com IMC abaixo de 20 kg/m², conforme avaliações médicas poderão ser orientadas para a recuperação do peso e do bom estado nutricional. O risco aumentado de doenças cardiovasculares e comorbidades associadas (hipertensão arterial e dislipidemia) direcionam o diabético para uma dieta com restrição nas quantidades de sódio e alimentos ricos em gordura saturada e colesterol. O consumo diário de sal deve ser de cinco gramas na hipertensão controlada e dois gramas na hipertensão grave. As refeições devem ser fracionadas (DM tipo um: seis/dia, sendo três grandes e três pequenas; DM tipo dois: quatro - seis/dia) distribuindo a quantidade de carboidratos para evitar o risco de hipo ou hiperglicemias. Deve-se estimular o consumo de alimentos ricos em fibras (cereais integrais, frutas, verduras e legumes) porque promove maior controle dos lipídeos sanguíneos, melhora o trânsito intestinal e retarda o esvaziamento gástrico. A dieta alimentar deve ser individualizada considerando o estado nutricional e evolutivo do DM em cada paciente. Faz-se necessário considerar diversos aspectos relativos ao indivíduo como hábitos socioculturais, condição financeira, atividade física, profissão e doenças intercorrentes. 38 FIGURA 2 - OS DEZ PASSOS PARA A MANUTENÇÃO DO PESO SAUDÁVEL FONTE: Adaptado do Protocolo de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus: Ministério da Saúde, 2002. Na educação alimentar, a proposta da redução do consumo de alimentos inadequados é mais aceita do que a restrição deles, entretanto, sempre que possível, deve-se estimular a substituição por alimentos mais saudáveis. Na orientação farmacêutica, o simples registro do peso do diabético, em cada visita, estimula a adesão ao plano alimentar. Nunca dizer ao paciente: “você está gordo, precisa emagrecer”, ou “você está com grande chance de sofrer um problema cardiovascular, a sua doença é grave”. Afirmações como essas fazem o paciente sentir-se discriminado e resulta em baixa adesão terapêutica. A maioria dos pacientes sabe da gravidade e dos elevados fatores de risco a que estão submetidos. É preciso estabelecer uma relação de respeito e confiança, esclarecendo as recomendações do plano alimentar estabelecido por profissionais médicos ou nutricionistas. 1) Comer frutas e verduras variadas, pelo menos duas vezes por dia; 2) Consumir feijão pelo menos quatro vezes por semana; 3) Evitar alimentos gordurosos como carnes gordas, salgadinhos e frituras; 4) Retirar a gordura aparente das carnes e a pele aparente do frango; 5) Nunca pular refeições, fazer três refeições e, pelo menos, um lanche por dia. Nolanche, escolher uma fruta; 6) Evitar alimentos ricos em açúcar simples como refrigerantes, doces e outras guloseimas; 7) Alimentar-se com calma e nunca diante da televisão; 8) Aumentar a atividade física. É possível movimentar-se em qualquer lugar; 9) Preferir escadas ao elevador. Caminhar sempre que possível. Evitar o sedentarismo; 10) Acumular trinta minutos de atividade física todos os dias. 39 9 EXERCÍCIOS FÍSICOS A atividade física proporciona enormes vantagens para o controle metabólico de todos os pacientes diabéticos. Sabe-se que ela previne ou retarda o aparecimento do diabetes tipo dois, diminui a resistência à insulina, podendo reduzir a necessidade de medicamentos. Entretanto, devem ser tomados alguns cuidados para se evitar complicações. Abaixo, estão relacionadas mais vantagens e cuidados na atividade física para diabéticos: Vantagens: Auxilia no controle da hipertensão arterial; Reduz os níveis séricos de triglicérides e aumenta o HDL colesterol; Ajuda no controle e na redução do peso; Diminui o estresse, a fadiga e a depressão. Cuidados: Supervisão médica (avaliação do estado geral do paciente) para determinar limitações da atividade e esforço adequados e, ainda, prescrever observações necessárias à condição específica; Não apresentar lesões nos pés (calos, traumas, micoses, etc.)1; O diabético deve ter consigo a identificação do seu estado (diabético) e orientações em caso de hipoglicemia (ingerir imediatamente um tablete de açúcar, suco com açúcar ou refrigerante não dietético); Apresentar níveis glicêmicos > 100 mg/dl e < 250mg/dl; Ser capaz de identificar hipoglicemia; Evitar exercícios em horários próximos aos picos de ação da insulina (evitar hipoglicemia); Atividade física superior a uma hora de duração requer alimentação suplementar. 1 Lesões nos pés podem desencadear uma complicação crônica (pé diabético) associada à neuropatia diabética (ocasiona insensibilidade) e à vasculopatia periférica (deficiência circulatória), responsável por 50 a 70% das amputações não traumáticas. 40 A caminhada é recomendada para se prevenir osteoporose. Aos pacientes que sentem dores, ocasionadas por essa atividade, recomenda-se a hidroginástica devidamente orientada. O tipo de exercício, a intensidade e a frequência devem ser determinados por profissionais habilitados. Como a hipoglicemia é um risco iminente, nessa atividade, faz-se necessário enunciar os principais sinais de hipoglicemia para diferenciá-los de uma hiperglicemia, cujas condutas terapêuticas são antagônicas. TABELA 5 Hipoglicemia Hiperglicemia Início rápido Polidipsia (muita sede) Polifagia (muita fome) Poliuria (urina abundante) Sudorese fria Polifagia (muita fome) Pele úmida ou normal Pele e boca secas Tremores frequentes Astenia Astenia (nem sempre) Cansaço Irritabilidade (nem sempre) Alterações da personalidade (nem sempre) O uso de betabloqueadores e a neuropatia autonômica podem mascarar sinais de hipoglicemia. A coincidência de alguns sinais pode gerar dúvidas na determinação do verdadeiro estado (hiper ou hipoglicemia). Nesses casos, a glicemia capilar é imprescindível. Como foi mostrado, há muitas restrições e cuidados a serem tomados na orientação de atividade física ao paciente diabético. A supervisão médica é indispensável. 41 10 EDUCAÇÃO A expressão “educação de paciente diabético” é frequentemente utilizada na terapêutica antidiabética. As medidas como dieta, atividade física e hábitos de vida saudáveis (abandono de vícios como cigarro e bebida) impõem disciplina ao indivíduo. Além disso, o paciente deve receber todas as orientações necessárias para tornar-se o mais importante agente no controle da sua saúde. O processo educativo deve ser gradativo, constante, respeitar as potencialidades e limitações de cada paciente. A educação do paciente pode ser avaliada utilizando-se como parâmetros o controle metabólico, as complicações agudas e crônicas e a adesão terapêutica. 42 11 TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA Quando as medidas não farmacológicas falham, utiliza-se a terapêutica medicamentosa para a obtenção do controle metabólico. A conduta terapêutica varia de acordo com o tipo de diabetes (um ou dois) e com a capacidade pancreática de secretar insulina. No caso do diabetes tipo um, sabe-se que o pâncreas é incapaz de responder satisfatoriamente a qualquer estímulo (secreção mínima ou nula) e a utilização de insulina é imediata. Todavia, podem ser utilizados agentes orais combinados à insulina: fármacos que atuam sobre a resistência à insulina (sensibilizadores de insulina) ou que reduzem a absorção de carboidratos (inibidores de alfaglicosidades) para evitar hiperglicemia pós-prandial. Durante a gravidez a insulina também pode ser indicada para normalizar os níveis glicêmicos não controlados pela dieta. Recomenda-se o uso de sensibilizadores de insulina aos diabéticos tipo dois que apresentam resistência à insulina (IMC ≥ 25 kg/m²). Constatada a elevação dos níveis glicêmicos adiciona-se outro agente podendo ser um inibidor de alfaglicosidases (hiperglicemia pós-prandial) ou um secretor de insulina (nos casos de redução da capacidade secretora pancreática). Deve-se considerar a glicotoxicidade ocasionada por níveis glicêmicos elevados e mantidos por muito tempo. Essa hiperglicemia diminui a capacidade de resposta pancreática a estímulos, sendo confundida com exaustão definitiva do pâncreas (incapacidade de produzir insulina). Esse evento deve ser tratado com insulina para restabelecer a função secretora pancreática, o que possibilita novamente o uso de agentes orais. O diabético tipo dois pode não responder adequadamente aos sensibilizadores de insulina (diabéticos tipo dois, magros) e utilizarem os secretores de insulina e posteriormente insulina. Enfim, o diabético tipo dois possui como alternativa terapêutica um variado número de agentes disponíveis. É importante ressaltar que pacientes magros não apresentam boa resposta aos sensibilizadores de insulina; o uso de secretores de insulina e insulina, em pacientes obesos, acarreta ganho de peso. A insulina pode ser utilizada (em diabéticos tipo dois) em intercorrências como cirurgias, infecções e acidente vascular cerebral. As metas terapêuticas para o controle do diabetes estão abaixo relacionadas. Quando o paciente apresenta resultados superiores aos limites estabelecidos é necessário intervir para se manter o controle metabólico. 43 TABELA 6 - METAS TERAPÊUTICAS PARA O DM TIPO 2 Glicose Plasmática (mg/dl) Ideal Aceitável Jejum 110 126 2 horas pós-prandial 140 160 Hemoglobina glicada (HbA1c %)2 Limite superior do método Colesterol (mg/dl) Total < 200 HDL > 45 LDL < 100 Triglicérides (mg/dl) < 150 Pressão Arterial (mmHg) Sistólica < 130 Diastólica < 80 Índice de Massa Corporal (kg/m²) 20 - 25 FONTE: adaptado de Atualização para Atenção Básica, Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial – casos clínicos: Ministério da Saúde, 2002. 2 HbA1c: determinação da porcentagem hemoglobina glicada, resultante da reação espontânea com a glicose. Quando elevada, indica que houve episódios hiperglicêmicos, ainda que a glicemia de jejum esteja normal. 44 FIGURA 3 - ESQUEMA TERAPÊUTICO DO DIABETES MELLITUS O UKPDS demonstrou a tendência degenerativa e progressiva do DM tipo dois. Observa-se, com o passar dos anos, a evolução para a falência secundária (quando os agentes orais tornam-se ineficazes para o tratamento) e a total dependência de insulina exógena. Adeterminação exata de cada fase é fundamental para a escolha da terapêutica adequada. Mudanças de estilo de vida Antidiabéticos orais em monoterapia Antidiabéticos orais em combinação e insulina Diabetes melito (diagnóstico) Insulina 45 12 SENSIBILIZADORES DE INSULINA Constituídos pelos grupos das biguanidas (metformina) e das glitazonas (rosiglitazona e pioglitazona). Erroneamente são chamados de “hipoglicemiantes orais”: não estão relacionadas a episódios hipoglicêmicos porque não interferem na quantidade de insulina circulante. Possui a capacidade de diminuir a resistência à insulina, esta descrita na fisiopatologia do DM. O mecanismo de ação, e as restrições de uso serão discutidos individualmente. 12.1 BIGUANIDAS Esse grupo é representado apenas pela metformina (Glifage®, Glucoformim®, Dimefor® e outros). Age reduzindo a resistência à insulina por meio dos seguintes mecanismos: Inibição da neoglicogênese (responsável por 75% de sua ação anti-hiperglicêmica); Melhora da sensibilidade periférica à insulina (que leva à redução da insulinemia); Redução do apetite e aumento da saciedade, o que contribui para a redução ponderal. 12.1.1 Indicações e eficácia A metformina está particularmente indicada como tratamento inicial dos pacientes obesos. Como monoterapia, a metformina reduz a glicemia de jejum em 20% a 30%, a glicemia pós-prandial em 30% a 40% e a HbA1c em 1% a 2% (valor absoluto). A sua eficácia é comparável a das sulfonilureias. Conforme demonstrado no UKPDS, a metformina foi à única droga capaz de reduzir a incidência de problemas cardiovasculares. Apresenta a vantagem de reduzir o peso, de dois a três quilos durante os primeiros seis meses de tratamento. 46 12.1.2 Restrições de uso e contraindicações Até 20% dos pacientes sentem desconforto gastrintestinal (diarreia, dor abdominal, paladar metálico, náuseas e anorexia); Contraindicada na presença de disfunção renal (creatinina > 1,5 mg/dl), doenças ou circunstâncias que predisponham à acidose láctica, uso abusivo do álcool, cirurgias e exames que utilizam contrastes radiográficos; A única interação clinicamente significativa é com a cimetidina, que pode elevar os níveis plasmáticos da metformina em até 40%. 12.2 GLITAZONAS Representado pela Rosiglitazona (Avandia®) e Pioglitazona (Actos®), melhora a resistência à insulina por meio dos seguintes mecanismos: Aumentam a disponibilidade de transportadores de glicose (GLUT4); Condicionam a transformação de adipócitos novos, mais sensíveis à ação da insulina; Age mais perifericamente (tecidos muscular e adiposo) do que no fígado. 12.2.1 Indicações e Eficácia Reduzem a glicemia em torno de 20%; Útil na síndrome metabólica por elevação dos níveis de HDL colesterol (5 a 10%) e redução dos níveis de triglicerídeos (10 a 15%); Não predispõem à acidose lática e podem ser utilizadas em pacientes, com insuficiência renal leve e moderada. 47 12.2.2 Restrições de uso e contraindicações Promovem ganho ponderal (dois a três quilos), especialmente quando utilizados em associação com insulina e sulfonilureias; Contraindicados na insuficiência hepática e renal, alcoolismo, insuficiência cardíaca e gravidez. 48 13 SECRETORES DE INSULINA São constituídos em dois grupos: as sulfonilureias (clorpropamida, glibenclamida, plipizida, gliclazida e glimepirida) e as glinidas (repaglinida e nateglinida). Podem ser denominados de “hipoglicemiantes orais”, pois são responsáveis pela elevação dos níveis de insulina. Quanto ao tempo de ação pode-se dizer que as sulfonilureias são secretores de ação prolongada e as glitazonas são secretagogos de ação rápida. As sulfonilureias diferem basicamente quanto à sua meia-vida, vida e potência, mas na dose plena têm eficácia semelhante. A clorpropamida, embora consagrada pelo tempo (mais antiga do grupo), está associada a níveis pressóricos elevados e alta incidência de hipoglicemias (especialmente em idosos) em função da sua meia-vida prolongada (36 horas). O UKPDS demonstrou não haver redução da incidência de retinopatia e nem de redução da mortalidade cardiovascular durante a utilização dessa droga. Mesmo não oferecendo um bom controle metabólico, a clorpropamida (Diabinese®) continua sendo muito utilizada. A sulfonilureias e glinidas comumente encontradas no mercado são: TABELA 7 Sulfoniureias Clorpropamida Diabinese® Glibenclamida Daonil® Glipizida Minidiab® Gliclazida Diamicron® e Diamicron MR® Glimepirida Amaryl® e Glymepil® Glinidas Repaglinida Novonorm®, Prandin® e Gluconorm® Nateglinida Starlix® 49 Atuam diretamente em receptores específicos (para sulfonilureias e glinidas distintamente), estimulam a secreção de insulina por meio de um mecanismo semelhante ao estímulo da glicose sobre a célula beta: Agem em um receptor celular específico, promovendo a abertura de um canal de K+; Com a saída do K+ ocorre a despolarização da membrana e abre-se um canal de Ca++ dependente de voltagem; A entrada do Ca++ resulta em secreção de insulina. 13.1 INDICAÇÕES E EFICÁCIA Indicados quando piora o controle glicêmico, apenas com sensibilizadores de insulina e medidas não medicamentosas (declínio na secreção de insulina). Reduzem a glicose plasmática em 60 a 70 mg/dl e a HbA1c de 1,5 a 2%. Por volta de 60% a 70% dos pacientes tratados apresentam boa resposta às sulfonilureias. 13.2 RESTRIÇÕES DE USO E CONTRAINDICAÇÕES Ganho de peso (três a cinco quilos); Hipoglicemias principalmente com sulfonilureias de ação prolongada (clorpropamida e glibenclamida); Insuficiência hepática ou renal; Diabetes melito tipo um; Gravidez; Infecções graves, grandes cirurgias, trauma e estresse; Acidose ou pré-acidose. 50 14 INIBIDORES DE ALFAGLICOSIDASES As alfaglicosidades intestinais (sacarase, glicoamilase, maltase e isomaltase) agem sobre os carboidratos para facilitar a absorção. A inibição dessas enzimas diminui a absorção de carboidratos e, por conseguinte, os níveis sanguíneos de glicose também são reduzidos. O mais conhecido representante do grupo é a acarbose (Glucobay). 14.1 INDICAÇÕES E EFICÁCIA Indicada a pacientes com hiperglicemia moderada (125 a 150 mg/dl), HbA1c aumentada (hiperglicemia pós-prandial); Utilizada em monoterapia ou associada às sulfoniureias ou metformina; Reduz a glicemia de jejum entre 25 e 30 mg/dl. 14.2 RESTRIÇÕES DE USO E CONTRAINDICAÇÕES Contraindicada em casos de hipersensibilidade, cetoacidose diabética, cirrose hepática, doença inflamatória intestinal, úlcera do cólon, obstrução intestinal, gravidez, lactação e uso em crianças; Provoca transtornos gastrintestinais (flatulência, meteorismo, diarreia) em aproximadamente 30% dos pacientes. 51 15 INSULINAS A insulina é uma molécula proteica, composta de cadeias de aminoácidos ligados por pontes de dissulfeto. É um hormônio relativamente estável, cuja potência se mantém até o prazo de validade quando armazenada entre 2 e 8 ºC. Insulina em uso pode ser mantida em temperatura ambiente (< 30º C) ao abrigo da luz e calor. Os variados tipos de insulina, disponíveis hoje, apresentam-se na concentração de U- 100 (cem unidades internacionais por ml). Cada UI (unidade internacional) corresponde a 36 μg de insulina. Quanto ao tempo de ação classificam-se em: ultrarrápida (UR), rápida (R) ou regular, intermediária (NPH, N) ou lenta (L), de ação prolongada ou ultralenta (UL) e a insulina glargina. Existem ainda as pré-misturas de insulinas (insulinas com diferentes tempos de ação, misturados): N+Re N+UR. Quanto à origem podem ser: humana, suína ou mista (suína + bovina). As insulinas humanas possuem um tempo de ação mais rápido e uma duração mais curta que as de origem animal. São indicadas para tratamento de crianças, gestantes e idosos, porque apresentam menor potencial imunogênico e menor risco de hipoglicemia do que as insulinas de origem animal. A diversidade de insulinas disponíveis possibilita variados esquemas terapêuticos. Tal fato se deve ao grande número de fatores que interferem nos níveis glicêmicos: frequência e quantidade de refeições/dia, atividade física (gasto calórico), doenças associadas, interações medicamentosas, estilo de vida, nível de estresse, resposta individual frente à insulina, local de aplicação das injeções e complicações decorrentes do uso da insulina. A adaptação a um determinado esquema é avaliada pela monitorização (controle por meio de diversos testes de glicemia/dia, feito pelo paciente). Mesmo estando adaptado a um determinado esquema, o paciente deve manter o controle das glicemias (automonitorização) para se evitar hiper ou hipoglicemias. Para melhor compreender os esquemas terapêuticos, é necessário observar as principais apresentações de insulinas disponíveis e seu respectivo tempo de ação: 52 TABELA 8 Tipo de insulina Início de ação Pico de ação Duração efetiva Duração máxima Ultrarrápida (UR) humana < 15 min. 0,5-1,5h 3-4h 4-6h Rápida animal 0,5-2h 3-4h 4-6h 6-10h Rápida humana 0,5-1h 2-3h 3-6h 6-8h Intermediária (NPH) animal 4-6h 8-14h 16-20 20-24h Intermediária (NPH) humana 2-4h 6-10h 10-16h 14-18h Lenta (L) animal 4-6h 8-14h 16-20h 20-24h Lenta (L) humana 2-4h 6-12h 12-18h 16-20h Ultralenta (U) animal 8-14h mínimo 24-36h 24-36h Ultralenta (U) humana 6-10h 10-16h 18-20h 20-24h Nota: Insulina glargina: apresenta o início da ação entre uma e duas horas; ação efetiva por 24 horas e não apresenta pico de ação. 15.1 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO 15.1.1 Subcutânea A insulina pode ser injetada por seringas, canetas ou bombas de infusão. Por via subcutânea deve ser aplicada na posição de 90º em relação à superfície de aplicação. Em pessoas magras e crianças deve-se injetar a 45º. A utilização de seringas exige habilidades no manuseio de injeções. Grande parte dos problemas decorrentes da utilização de insulinas deve- se a erros durante a aplicação (especialmente em idosos). Todos os passos devem ser revisados (técnica de aplicação) detalhadamente com o paciente. As canetas de insulina são 53 mais fáceis de manusear e mais seguras do que as seringas. As bombas de infusão são aparelhos de alta precisão, pequenos (do tamanho de um aparelho celular, aproximadamente), de fácil transporte; injeta insulinas de ação lenta (controle basal) e de ação rápida para horário de refeições, exige treinamento adequado para a utilização. 15.1.2 Intravenosa Utilizada em situações de emergência (crises hiperglicêmicas). A insulina regular é a única que pode ser administrada nessa via. 15.1.3 Intramuscular Utilizada em casos de cetoacidose diabética sem desidratação intensa e nem choque ou na dificuldade de acesso venoso. 54 15.2 PREPARAÇÃO DA INSULINA FIGURA 4 FONTE: Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes mellitus: Manual de Hipertensão Arterial e Diabetes mellitus, Ministério da Saúde, 2002. 15.2.1 Condições que alteram a absorção O local da aplicação de insulina influi na velocidade de absorção. É maior no abdômen e menor nas nádegas, com absorção intermediária na coxa e parte superior do braço. As aplicações de uma determinada hora devem ser feitas sempre na mesma área. Por exemplo, a injeção matinal no abdômen e a noturna na coxa. O aumento do fluxo sanguíneo no local da injeção, provocado por exercícios, calor local e massagens aceleram a absorção. Lavar as mãos com água e sabão; Fazer assepsia da tampa do frasco com algodão e álcool; Para homogeneizar a insulina, rolar o frasco entre as mãos. Nunca agitar o frasco; Retirar o protetor de agulha da seringa evitando contaminação; Puxar o êmbolo da seringa até a marca da quantidade de insulina a ser utilizada; Injetar o ar dentro da seringa para facilitar a saída da insulina do frasco; Virar o frasco e a seringa para baixo e aspirar a quantidade de insulina necessária; Observar se há bolhas de ar. Para retirá-las bater com o dedo onde elas estão. Se necessário injetar a insulina de volta para o frasco e aspirar novamente. 55 Profundidade da injeção: quando aplicada logo abaixo da pele tem absorção mais rápida do que a aplicada no tecido subcutâneo. Pessoas que apresentam tecido adiposo espessado (obesas) têm retardo na absorção de insulina quando injetadas na gordura subcutânea. 15.2.2 Aplicação de insulina FIGURA 5 FONTE: Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes mellitus: Manual de Hipertensão Arterial e Diabetes mellitus, Ministério da Saúde, 2002. Grande parte dos problemas decorrentes da utilização de insulinas deve-se a erros durante a aplicação (especialmente em idosos). Todos os passos devem ser revisados (técnica de aplicação) detalhadamente com o paciente. A administração de insulinas requer cuidados seja qual for o recurso utilizado. A sofisticação dos meios possibilita um controle metabólico melhor e evidentemente encarece o tratamento. Fazer assepsia da pele com algodão e álcool, esperar secar. Manter a distância de, pelo menos, dois centímetros da aplicação anterior; Elevar a área da aplicação fazendo uma prega cutânea no local. Introduzir a agulha em um ângulo de 90º (em pessoas magras ou crianças pequenas injetar em um ângulo de 45º); Soltar a prega cutânea, verificar a presença de sangue na seringa. Caso seja em grande quantidade, despreze a preparação e reinicie em outro local; Manter a seringa em ângulo de 90º, injetar a insulina, retirar a seringa e pressionar levemente o local utilizando algodão com álcool. 56 15.3 INÍCIO DO TRATAMENTO São consideradas as características individuais do paciente e de suas atividades físicas e ocupacionais. Nessa fase, as necessidades de insulina variam de 0,2 – 0,5 U/kg/dia. A dose pode aumentar, na primeira semana, para um valor médio de um U/kg/dia. Em casos de infecções e na puberdade, o valor médio pode chegar a 1,5 U/kg/dia e, na prática de atividades físicas, o valor médio pode diminuir para menos de 0,5 U/kg/dia. Valores superiores a dois U/kg/dia de insulina e glicemia acima de 250 mg/d indicam resistência imunológica à insulina. Com a utilização de insulinas humanas, esse fato tornou-se raro. Na fase inicial de tratamento, às vezes, observa-se uma redução a níveis muita baixos de insulina. Esse fato indica recuperação da função das células beta afetadas pela hiperglicemia (glicotoxicidade). Essa fase é denominada de fase de lua de mel ou período de remissão e pode durar semanas ou meses; é mais comum em adultos ou em adolescentes do que em crianças. A dose de insulina, mesmo reduzida a níveis muito baixos, deve ser mantida por precaução. Não se dispensa a monitorização para se prevenir hipoglicemias. O tratamento se fundamenta em: mudanças no estilo de vida (dieta e atividade física) e automonitorização (participação ativa do paciente no controle da doença). Por esse motivo, o paciente necessita ser educado para tornar-se capaz de avaliar o seu estado e modificar a terapêutica de acordo com as suas necessidades. 15.3.1 Esquemas terapêuticos Há uma grande variedade de esquemas de insulinoterapia. Serão discutidos apenas os três mais frequentes. Esquema um: duas doses de insulina de ação intermediária (NPH), sendo uma dose aplicada pela manhã (2/3 da dose total)e a outra à noite (1/3). Se houver elevação da glicemia de jejum, aumentar a dose noturna e para elevação da glicemia antes do jantar, aumentar a dose matinal de insulina. Esse esquema é indicado para diabéticos com dois/três 57 anos de evolução da doença. O ajuste das doses deve ser realizado entre três e cinco dias de intervalo, com base nas glicemias antes das refeições e duas horas após as refeições. Esquema dois: semelhante ao anterior, sendo que dessa vez associa-se insulina de ação rápida (R ou UR) com as de ação intermediária ou lenta (NPH ou L). Da dose total de insulina, 65% pode ser NPH ou L (2/3 antes do café da manhã e 1/3 antes do jantar). Os 35% restantes podem ser de insulina R ou UR distribuídas antes das refeições de acordo com a ingestão calórica. Esse esquema aproxima-se mais da resposta fisiológica, entretanto o risco de hipoglicemia persiste. O ajuste de dose deve ser feito com base nas glicemias antes e após as refeições e durante a madrugada (três horas). Esse esquema está indicado para diabéticos com mais de cinco anos de evolução da doença. Na preparação de misturas, a insulina R ou UR deve ser aspirada inicialmente, procedendo-se depois a aspiração da insulina NPH ou L. Após a preparação, a mistura deve ser injetada imediatamente. O excesso de zinco contido nas insulinas NPH ou L retardam o início da ação da insulina R ou UR. Existem misturas disponíveis comercialmente (pré-misturas) de insulina NPH +insulina R ou UR. Esquema três: consiste na utilização de insulina basal (50%) da dose diária total. Pode ser com insulina NPH, L, UL. A utilização de insulina glargina, como basal desse esquema, pode requerer uma quantidade maior de insulina e, como não faz pico, permite um controle melhor. Os 50% restantes podem ser de R ou UR divididas em doses de acordo com as refeições. Um esquema recomendado para pacientes com atividade física e alimentação irregular é o de três doses de insulina regular (60-65% da dose total), antes das principais refeições. A dose basal pode ser à noite ao se deitar (35-40% da dose total). Os diversos esquemas de múltiplas doses constituem a insulinoterapia intensiva, demonstrada no DCCT capaz de reduzir grande parte das complicações crônicas. Entretanto, quando se aproxima dos níveis glicêmicos normais (< 126mg/dl), aumenta-se a incidência de hipoglicemia. Sabe-se que de 4-5% das mortes de pacientes diabéticos tipo um têm relação com hipoglicemia. 58 15.4 COMPLICAÇÕES DA INSULINOTERAPIA 15.4.1 Alergia à insulina e resistência à insulina Com a evolução do processo de fabricação, hoje há insulinas altamente purificadas, com menos contaminantes e consequentemente menos imunogênicas. Todavia, reações de hipersensibilidade podem ocorrer com insulinas de origem animal (3% dos pacientes) e mais raramente com insulinas humanas. Também é rara a resistência imunológica à insulina (quando se requer dose >2U/kg/dia). A substituição da insulina de origem animal por humana pode reverter o quadro. 15.4.2 Hipoglicemia Constitui a mais importante complicação da insulinoterapia. É temida pelos pacientes e frequentemente é motivo de abandono do tratamento (diabéticos tipo dois em falência secundária). Conforme foi mencionado, está relacionada com 4-5% das mortes de diabéticos tipo um. Condições clínicas que afetam a resposta fisiológica a baixos níveis de glicose, como a secreção inadequada de glucagon, insuficiência adrenal, tireoideana, hipofisária, renal, uso de betabloqueadores e do álcool podem acarretar hipoglicemia. As reações hipoglicêmicas podem ser de leves a graves, perceptíveis ou não. Em reações discretas o uso de 10 a 15 gramas de carboidratos pode ser o bastante para aumentar a glicemia. Nas hipoglicemias moderadas, nem sempre o uso de carboidratos normaliza os níveis glicêmicos. Nas hipoglicemias graves o tratamento deve ser parenteral, com glucagon ou glicose intravenosa. Uma parte considerável das hipoglicemias é causada por erro na administração das doses de insulina (doses incorretas, aplicação intramuscular) ou por omissão de refeições. 59 15.4.3 Hiperglicemia Como já se sabe, em diabéticos tipo um, quando o nível de glicose se eleva há uma tendência à cetose e, caso a elevação continue, cetoacidose (produção de cetoácidos pela falta de insulina). Essa condição pode ser avaliada por testes de cetonúria (corpos cetônicos na urina) e glicemia elevadas (> 200 mg/dl). A insulina regular (R) é indicada para a redução de hiperglicemias porque tem uma ação rápida e previsível. Insulina de ação lenta (NPH, L, UL) apresenta início de ação demorado, pico de ação imprevisível e prolongado e, por isso, inadequada para essa condição (hiperglicemia). Em glicemias acima de 300 mg/dl utiliza-se 0,1 U/Kg de insulina R subcutânea e monitoramento a cada duas horas. Quando a glicemia cair abaixo de 300 mg/dl, a dose de insulina reduz-se à metade. Em glicemias até 200 mg/dl não há necessidade de insulina regular. Foram consideradas apenas as utilizações da insulina. Certamente, há outros procedimentos na correção de hiperglicemias: reposição de eletrólitos, correção da acidose e outros. Ocasionalmente, pode ocorrer a inativação da insulina R por conservação inadequada (exposição à luz e calor). Esse fato deve ser considerado sempre que houver necessidade de doses elevadas de insulina R para a correção da hiperglicemia. 15.4.4 Fenômeno do Alvorecer (Dawn Phenomenon) e Efeito Somogyi O Fenômeno do Alvorecer é observado em pacientes com diabetes tipo um, tipo dois e em indivíduos normais adultos. Ocorre pelo aumento noturno de hormônio do crescimento impedindo a ação da insulina no alvorecer (resistência à insulina induzida pelo hormônio do crescimento), apresenta hiperglicemia de jejum. Pode ser corrigido aumentando-se a dose noturna de insulina. Doses inadequadas de insulina podem ocasionar hipoglicemia noturna e permanecer não diagnosticada por longos períodos. O paciente pode apresentar agitação durante o sono, pesadelos, sudorese intensa e até convulsão. Medidas da glicose noturna (por volta das três horas e também às sete horas) podem identificar o problema. Alguns pacientes reagem ao 60 excesso de insulina noturna (hipoglicemia) com a ativação dos mecanismos contrarreguladores (catecolaminas, cortisol, glucagon e hormônio do crescimento), resultando em hiperglicemia de rebote. Esse efeito acontece raramente, entretanto, pelo risco de se adotar uma conduta inadequada (aumento da dose noturna), deve ser investigado em todo paciente que apresenta hiperglicemia matinal. A educação do paciente é essencial para o sucesso terapêutico; Na dúvida sobre hiperglicemia ou hipoglicemia, a melhor opção é a glicemia capilar; Na vigência de problemas, revisar todos os detalhes relativos à terapêutica como posologia, técnica de aplicação, conservação da insulina, alimentação, atividade física, nível de estresse, doenças intercorrentes, utilização de outros fármacos, chás, produtos naturais e outros; As metas terapêuticas dependem das limitações do paciente. A segurança está em primeiro plano. A terapêutica insulínica requer orientação e cuidados permanentes. O acompanhamento fármaco terapêutico pode prevenir complicações na insulinoterapia. O profissional deve ser capaz de detectar riscos potenciais ou reais, esclarecer a terapêutica prescrita pelo médico ou encaminhar o paciente à nova consulta conforme a circunstância. 61 16 OUTROS FÁRMACOS A estreita relação entre diabetes e obesidade exige condutas efetivas para redução de peso. Está comprovado que pequenas perdas ponderais (10%) promovem melhora significativa da pressão arterial e do controle metabólico. As medidas não medicamentosas (plano alimentar e programade atividades físicas) não são efetivas para a grande maioria dos obesos. É nesse contexto que são utilizados agentes antiobesidade. Consideradas as restrições de uso, são utilizados inibidores de apetite (dietilpropiona, femproporex e mazindol), indutores da saciedade (sertralina e fluoxetina) e redutores da absorção intestinal de gorduras (orlistat). Há poucos estudos sobre a utilização desses fármacos em diabéticos. Fica a critério do médico a avaliação risco/benefício para essa opção terapêutica. 62 17 NOVAS PERSPECTIVAS Todo diabético sonha com a cura para a sua doença. Frequentemente procuram saber alguma novidade sobre a terapêutica. Atualmente as principais pesquisas que visam à cura do diabetes são: Transplante de pâncreas: é realizado juntamente com o rim, pois dessa forma apresenta menor rejeição. Requer a utilização de imunossupressores; Transplante de ilhotas: necessita de quatro doadores para cada paciente. São utilizados imunossupressores de baixa toxicidade; Engenharia genética: transformação de células do corpo em células produtoras de insulina, por meio da implantação de um gene relacionado com a produção de insulina; Pâncreas virtual: desenvolvimento de um aparelho capaz de reconhecer variações na glicemia e liberar insulina em quantidade equivalente; Neogênese de ilhotas: desenvolvimento de substâncias que possam estimular a formação de ilhotas a partir de células-tronco existentes no pâncreas adulto. Diante das pesquisas em andamento são evidenciadas as restrições como o uso de imunossupressores, falta de doadores e alto custo do tratamento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003). 63 18 ATENÇÃO FARMACÊUTICA Como se sabe, é exigência legal o conhecimento técnico e a atitude no ato da dispensação. A falta de um método para a detecção de possíveis problemas relacionados aos medicamentos dificulta a escolha da atitude a ser tomada, pelo farmacêutico. Os conceitos de atenção farmacêutica vêm ao encontro daqueles que esperavam uma forma mais efetiva e organizada da prática profissional. Atenção Farmacêutica é um conceito de prática profissional, em que o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. É o conjunto de atitudes, comportamentos, compromissos, inquietudes, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e destreza do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos em saúde e qualidade de vida dos pacientes. Enfim, Atenção Farmacêutica requer compromisso, envolvimento e iniciativa para garantir a melhor terapêutica aos pacientes. 18.1 METODOLOGIA DÁDER É um método de acompanhamento farmacoterapêutico que tem como objetivo resultados positivos na saúde do paciente. Consta de várias etapas que vão desde o oferecimento dos serviços a um paciente até a resolução dos possíveis problemas relacionados aos medicamentos (PRMs) na terapêutica. 1ª etapa: após o oferecimento do serviço e aceitação pelo paciente, registra-se uma ficha contendo dados pessoais como idade, peso, altura, profissão, prática de atividade física, lazer, vícios, etc. Deve conter, ainda, dados de pessoas que colaboram com os cuidados com a sua saúde. Todos esses dados são importantes para avaliar o estado em que se encontra o paciente, na fase inicial do acompanhamento. 2ª etapa: nesta fase investigam-se problemas de saúde e medicamentos utilizados pelo paciente. Registram-se, inicialmente, as queixas de saúde e posteriormente os 64 medicamentos, utilização de chás, produtos naturais, possíveis alergias ou hipersensibilidades medicamentosas. O paciente deve trazer todos os medicamentos que possui e identificar os que estão em uso e para que servem. O motivo que levou o paciente à consulta médica também deve ser registrado. Estes procedimentos podem condicionar a ordem de prioridade das intervenções (atitude frente a um problema de saúde) para resolver os PRMs. Na fase de intervenção são consideradas as prioridades do paciente e as do farmacêutico, originadas da fase de estudo. 3ª etapa: procura-se avaliar a efetividade do tratamento farmacológico: sinais observados (pé de risco, lesões na pele, etc.), sintomas descritos pelo paciente (dor, parestesia, deficiência visual, etc.) e parâmetros que mostrem a evolução do paciente (glicemia, HbA1c, pressão arterial, cetonúria, etc.). A avaliação da efetividade de um tratamento é feita em função da farmacocinética e farmacodinâmica do medicamento e das características do problema de saúde. Por exemplo, o ajuste de doses de insulina requer um prazo mínimo de três dias, tempo necessário para que a insulina atue de forma plena. 4ª etapa: são considerados todos os aspectos relativos ao medicamento (fase de estudo) como: posologia, mecanismo de ação, interações medicamentosas, farmacocinética (absorção, metabolismo e excreção). O conhecimento da posologia usual permite identificar um PRM de origem quantitativa e orientar a intervenção em função da quantidade utilizada pelo paciente. O mecanismo de ação ajuda a identificar PRMs especialmente relacionados à segurança. A farmacocinética auxilia a identificação do momento ideal para avaliação de um efeito, desejado ou não, e em casos de suspeita de interações medicamentosas (sinérgicas ou antagônicas). O mecanismo de ação, as possíveis contraindicações e precauções de uso alertam para possíveis problemas relacionados à segurança. A finalidade da utilização de uma metodologia é auxiliar na resolução de PRMs dos pacientes, priorizando intervenções. 65 18.2 OFERECIMENTO DO SERVIÇO A abordagem inicial do paciente para a realização da atenção farmacêutica deve ser planejada. Escolhida a área de atuação, no caso diabetes, deve ser mostrada ao paciente a importância do acompanhamento farmacoterapêutico na prevenção de complicações decorrentes do uso indevido de medicamentos. O paciente não deve ser forçado a aceitar o serviço e, caso aceite, deve assinar um termo de concordância com os procedimentos necessários para o dito acompanhamento (consentimento informado). 18.3 REGISTRO DE PROCEDIMENTOS Os registros podem ser feitos manualmente ou por meio da informática. O programa Windows® oferece recursos para registros de dados por intermédio do programa Microsoft® Access. Na ficha inicial são anotados dados pessoais do paciente conforme a metodologia Dáder. Em entrevistas posteriores devem ser anotados os parâmetros de controle (glicemias, etc.), a avaliação da adesão terapêutica e intervenção farmacêutica quando forem observados PRMs. O paciente deve possuir um cartão para o registro da sua monitorização (data e hora do valor encontrado) e dos sintomas ou intercorrências. 18.4 COLETA DE DADOS Inicialmente, a maioria dos pacientes demonstra pouco entusiasmo com a proposta de acompanhamento. Todavia, com a percepção de que ele é o foco principal do assunto e que há um verdadeiro interesse em prover a sua saúde, o paciente torna-se participativo e solícito. Cabe ao farmacêutico tornar as entrevistas proveitosas e ágeis sem ser indelicado com o paciente. As entrevistas devem ser feitas de modo que o paciente sinta a necessidade de falar a verdade. Grande parte dos pacientes omite fatos importantes como o não seguimento do plano 66 alimentar ou o uso inadequado de medicamentos. Nessa ocasião os parâmetros de controle servem como indicadores da real situação. 18.5 DETECÇÃO DE PRMs Problemas Relacionados aos Medicamentos são problemas de saúde, entendidos como resultados clínicos negativos, devidos à farmacoterapia que, provocados por diversas causas, conduzem ao não alcance do objetivo terapêutico ou ao aparecimentode efeitos não desejados (Primeiro Consenso de Granada, 1998). Classificam-se em seis categorias: TABELA 9 Indicação PRM um: o paciente tem um problema de saúde por não utilizar o medicamento que necessita; PRM dois: o paciente tem um problema de saúde por utilizar um medicamento que não necessita. Efetividade PRM três: o paciente tem um problema de saúde por uma ineficácia medicamentosa qualitativa; PRM quatro: o paciente tem um problema de saúde por uma ineficácia medicamentosa quantitativa. Segurança PRM cinco: o paciente tem um problema de saúde por uma insegurança medicamentosa qualitativa. PRM seis: o paciente tem um problema de saúde por uma insegurança medicamentosa quantitativa. FONTE: Segundo Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados com Medicamentos, 2004. Entendendo-se que: Problema de saúde é todo aquele que requer ou pode requerer uma ação por parte dos agentes de saúde (inclusive o próprio paciente); 67 Um medicamento é necessário quando foi prescrito ou indicado para um problema de saúde concreto que o paciente apresenta; Um medicamento é inseguro quando provoca ou agrava um problema de saúde. Para facilitar a identificação de PRMs aplica-se a sistemática proposta pelo Programa Dáder. Constituída por uma sequência de perguntas cujas respostas levam ao PRM correspondente: 1. O medicamento está indicado? NÃO PRM 2 SIM Origem Qualitativa PRM 3 2. O medicamento está sendo efetivo? NÃO Origem Quantitativa PRM 4 SIM Origem Quantitativa PRM 5 3. O medicamento está seguro? NÃO Origem Qualitativa PRM 6 SIM 4. Há algum problema de saúde não tratado? SIM PRM 1 18.6 INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA É o ato profissional realizado pelo farmacêutico em conjunto com o paciente, cujo objetivo é resolver um PRM real ou potencial detectado. Visa garantir que o medicamento faça o efeito esperado e proporcionar qualidade de vida ao paciente. Todos os procedimentos necessários devem ser documentados e autorizados pelo paciente. 68 A intervenção mais frequente é junto ao prescritor, visto que o farmacêutico não altera prescrição medicamentosa. A melhor forma é por meio de informes terapêuticos sobre os problemas encontrados com sugestões para solução. Abaixo um exemplo de intervenção após detecção de um PRM 3 (ineficácia qualitativa): Farmácia, endereço e telefone. Prezado (a) Dr. (a), Como é do seu conhecimento, o (a) paciente X está tomando glibenclamida em dose máxima há mais de três meses. Observados os registros das glicemias de seu cartão, invariavelmente, encontram-se níveis glicêmicos acima de 250 mg/dl. Chama a atenção o gradativo emagrecimento do (a) paciente, fato que indica uma possível deficiência na secreção insulínica, assim como a sua queixa de poliuria, polidipsia e polifagia. Considerando que o medicamento em questão (glibenclamida) foi suficiente para controle metabólico, anteriormente, é possível que esteja acontecendo falência secundária da sulfonilureia, conforme é previsto na evolução da doença. Por essa razão, solicito que, excluída outra possibilidade, avalie o risco/benefício e considere a proposta de adicionar insulina ao tratamento, se assim achar necessário. Coloco-me à disposição em informar-lhe da evolução terapêutica. Atenciosamente Cidade, data. Farmacêutico Inscrição no CRF Do mesmo modo podem ser efetuados encaminhamentos a outros profissionais como: nutricionistas, enfermeiros, oftalmologistas, endocrinologistas, etc. A intervenção farmacêutica deve ser feita na concordância do paciente e redigida em três cópias. Uma fica arquivada na ficha do paciente, outra irá para o prescritor e a terceira para o paciente. 69 O farmacêutico não deve vacilar diante da constatação do uso desnecessário de um fármaco. Dessa forma, o lucro momentâneo significa prejuízos irreparáveis na moral e na ética. 18.7 ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA Após a primeira entrevista, faz-se um levantamento de todos os PRMs (conforme a sistemática de identificação - detecção de PRMs) encontrados e uma análise do plano terapêutico estabelecido pelo prescritor. Na segunda entrevista, discute-se com o paciente os problemas encontrados e as possíveis soluções (intervenção farmacêutica). Sabe-se que o plano terapêutico inclui medidas não medicamentosas e/ou medicamentosas. Nem sempre haverá um plano escrito pelo médico. Nesse caso, o paciente deve solicitar ao médico todas as medidas incluídas no tratamento, por escrito. Esclarecer ao paciente o plano terapêutico de acordo com a capacidade de entendimento do paciente. Por conta da grande quantidade de informações, o processo é gradativo e lento. Comece pelas informações mais importantes como o reconhecimento dos sinais e sintomas de hipoglicemia, hiperglicemia, educação alimentar, atividade física, abandono de vícios (tabagismo, fumo, etc.) e redução de peso (para obesos). As recomendações quanto ao uso de medicamentos devem ser feitas na presença de quem vai administrar o medicamento (nem sempre é o paciente). Detalhar a posologia, identificando os horários ou ilustrando com figuras (pacientes com dificuldade de leitura) correspondentes: um sol para a manhã, um prato de comida para o almoço e uma lua ou estrela para a noite. No caso das insulinas, exemplificar a técnica demonstrando ao paciente as doses na seringa, os locais e o modo de aplicação. Ao final, peça ao paciente que explique a posologia, reconhecendo cada medicamento e para que serve. Esclareça, até que não haja dúvidas. O processo educativo deve ser reavaliado, reforçado e enriquecido a cada entrevista. As fichas de acompanhamento devem ser elaboradas de forma prática e objetiva evitando desperdício de tempo. Evitar que as entrevistas se prolonguem (trinta minutos em média). Oriente funcionários para auxiliar na preparação para a entrevista (pesar, medir, providenciar o cartão de registro das glicemias, PA, peso, intercorrências, separação dos medicamentos do pacientes, etc.). 70 18.8 ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO No acompanhamento farmacoterapêutico, o farmacêutico deve estabelecer uma rotina de entrevistas de acordo com as necessidades do paciente. Na fase inicial de acompanhamento são necessárias visitas mais frequentes (semanais). Conforme o paciente apresente melhoras no controle metabólico, os intervalos podem ser mais espaçados. Os pacientes diabéticos devem ser acompanhados a cada trinta dias, no mínimo, especialmente os do tipo um. Para isso, organiza-se uma agenda de visitas para lembrar ao paciente (via telefone) do seu retorno à farmácia. 18.9 PARÂMETROS DE CONTROLE Os parâmetros de controle metabólico utilizados na monitorização do tratamento do DM, como já foi mencionado, são a glicemia capilar, hemoglobina glicada (HbA1c), glicosúria e cetonúria. Cada exame apresenta vantagens e indicações próprias. Quando se utiliza o teste de glicosúria para determinarglicemia, considerar as seguintes limitações: Pacientes diabéticos de longa duração, especialmente adultos, apresentam variação da capacidade de reabsorção renal de glicose, de modo que pode hiperglicemia acentuada sem glicosúria. Alguns indivíduos, especialmente crianças e mulheres grávidas, podem apresentar diminuição ou variação da capacidade de absorção renal de glicose, resultando em glicosúria com níveis glicêmicos normais. Os testes podem ser alterados pela ingestão de líquidos. A glicosúria negativa não distingue a hipoglicemia, euglicemia (nível normal) e uma hiperglicemia leve ou moderada. O teste sofre interferência de algumas drogas como a vitamina C e AAS podendo falsear resultados; grandes quantidades de cetona podem diminuir o aparecimento de cor nas tiras reagentes. 71 A cetonúria é especialmente importante aos diabéticos tratados com insulina. É indicativa de cetoacidose em evolução (requer assistência médica imediata). Está indicada nas seguintes situações: Doenças agudas e infecções; Glicemia persistentemente superior a 300 mg/dl; Durante a gravidez; Sintomas de cetoacidose: náuseas, vômitos, dor abdominal. Quando a cetonúria está associada a níveis baixos de glicemia ou glicosúria, indica falta de suprimento alimentar. Por outro lado, a cetose associada à hiperglicemia e outros fatores predisponentes (infecções estresse) indica deficiência insulínica. A glicemia capilar é recomendada para todos os pacientes em uso de insulina. Quando possível para aqueles em uso de sulfonilureias, especialmente os de difícil controle. A frequência apropriada para os diabéticos tipo dois é a suficiente para a obtenção das metas terapêuticas. Pode ser uma avaliação diária, em diversos períodos do dia (jejum, pré-prandial e pós-prandial, duas horas após as refeições) e pela madrugada (duas – três horas). É considerado um bom controle glicêmico quando 80 - 90% das avaliações glicêmicas apresentarem os seguintes valores: Glicemia de jejum: 80 - 120 mg/dl; Pós-prandial (1,5 - duas horas após as refeições): 80 - 160 mg/dl; Madrugada (duas - três horas): superior a 60 mg/dl. O controle é aceitável quando glicemias de jejum estiverem entre 121 - 140 mg/dl, e as pós-prandiais entre 161 – 180 mg/dl. Acima desses níveis, o controle é considerado ruim. 18.9.1 Hemoglobina glicada (HbA1c) Resultante da reação da glicose com a hemoglobina, relaciona-se diretamente com a concentração de glicose plasmática. Reflete o controle glicêmico do paciente, pelo período de 72 dois, três meses anteriores ao teste. Ou seja, indica que nesse período houve hiperglicemia se estiver elevada. Devido à variação dos métodos, não é possível estabelecer um valor. É considerado um bom controle o limite superior do método. 18.10 AVALIAÇÃO DA ADESÃO TERAPÊUTICA Não é sempre que a adesão terapêutica reflete um bom controle glicêmico. Todavia, ela pode indicar falha na escolha do tratamento, caso o paciente esteja seguindo adequadamente o plano terapêutico. Nas fichas de acompanhamento, devem ser registradas as evoluções da adesão terapêutica. São indicadores de boa adesão a regularidade das entrevistas, o conhecimento do plano de tratamento pelo paciente, o registro das glicemias (com horário) no cartão de monitorização do paciente, a redução do peso (obesos), o abandono de vícios e a adoção de atividade física regular. O controle do uso de medicamentos pode ser feito conferindo-se as quantidades que o paciente possui. A avaliação da adesão auxilia na orientação para as intervenções farmacêuticas. 18.11 PREVENÇÃO DAS COMPLICAÇÕES DIABÉTICAS A melhor forma de se prevenir complicações diabéticas é por meio do bom controle metabólico. Sabe-se que as complicações diabéticas podem ser agudas ou crônicas. As complicações agudas são caracterizadas por hiper ou hipoglicemias e as complicações crônicas são favorecidas pela longa duração da doença, mau controle metabólico, presença de hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, alcoolismo, complicações existentes e gestação. As complicações agudas ocorrem por erro na terapêutica medicamentosa (especialmente com insulinas), descontrole na dieta, atividade física mal orientada, omissão de refeições, ingestão excessiva de alimentos (alimentos ricos em glicose ou hipercalóricos), situações de estresse, uso de medicamentos. 73 As medidas preventivas devem ser explicadas ao paciente, assim como a conduta a ser tomada na vigência de uma complicação aguda (veja o item 15 Insulinas). O registro desses eventos pode prevenir a ocorrência de outros, quando uma situação semelhante estiver acontecendo. 18.12 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES Para esclarecer a forma de elaboração da ficha de acompanhamento farmacoterapêutico, veja os tópicos mais importantes: TABELA 10 Ficha Cadastral (utilizada na 1ª entrevista) 1) Dados Pessoais Nome: Data de nascimento: Endereço: Telefone: Estado civil: Escolaridade: Profissão: 2) Avaliação do Estilo de Vida Dieta alimentar: Hipocalórica? Hipossódica? Faz regularmente ou ocasionalmente? Não faz dieta? Atividade física: sedentário? Pratica algum tipo de atividade física? Com que frequência? Fumante: Quantos cigarros por dia? Bebe: Que quantidade? Outros tipos de vícios? (A determinação da quantidade por dia, às vezes, influi no controle; deve ser incentivado o abandono ou cobrada a redução do consumo). 3) Condições físicas Peso: Altura: IMC: (Quando obeso, explicar as vantagens da redução do peso). 74 Acuidade visual: Reduzindo? Estável? Condições dos rins: Urina bem? Estado dos pés: (Exame para identificar condição de risco: micoses, lesões, perda da sensibilidade, ressecamento, etc.). 4) Alergia ou hipersensibilidade medicamentosa Alérgico à: Apresentou reações adversas com uso de: 5) Automedicação Faz uso de chás ou produtos naturais ou outros medicamentos? Quais? (Solicitar ao paciente que traga, na próxima entrevista, todos os medicamentos de que faz uso para analisar possíveis interações, e prevenir situação de risco pelo uso indevido). 6) Motivo que o levou à consulta médica: (Pode identificar alguma doença não tratada). 7) Plano terapêutico estabelecido pelo médico: Nome do médico, telefone e endereço: Medidas não medicamentosas (dieta e atividade física): Medicamentos prescritos, posologia e demais orientações: 8) Fornecer um cartão para o registro dos exames de controle, explicar a importância de anotar a data e a hora da realização dos mesmos. 9) Marcar uma data (o mais rápido possível) para a próxima entrevista. Caso haja outra pessoa que auxilie no tratamento do doente, peça que ela venha também. 75 2ª Entrevista 1) Discutir com o paciente os problemas encontrados (PRMs) e as possíveis soluções (intervenções). Na falta de um plano não farmacológico, oriente o paciente que peça ao médico, na próxima consulta. Fazer uma solicitação por escrito, caso seja necessário. Anotar os PRMs encontrados e as intervenções feitas. 2) Agora, com todos os dados do paciente, conhecendo suas limitações e circunstâncias de risco, proceder as devidas orientações de acordo com o plano terapêutico. 3) Registrar os exames de controle metabólico. 4) Registrar e reforçar as medidas não medicamentosas (pesar o paciente, anotar a quantidade de cigarro, bebida e a intensidade e frequência da atividade física). Falar sobre as complicações diabéticas (principalmente as agudas). 5) Fazer uma avaliação da adesão terapêutica com base nos exames de controle e na checagem das orientações recebidas. 76 19 CONCLUSÃO O tratamento do DM tem por objetivos prevenir complicações,diminuir mortalidade e promover melhor qualidade de vida aos pacientes. Como se observa, o assunto DM é extenso. Qualquer tentativa de abordar todos os aspectos da terapêutica traduz-se em ilusória pretensão, entretanto, o tema desperta interesse e estímulo para a continuidade do aprendizado. O acompanhamento terapêutico de diabéticos pode trazer satisfação pessoal e profissional ao farmacêutico. A Atenção Farmacêutica certamente é de grande valia para a equipe de saúde, todavia, por não estar regulamentada, requer cautela, especialmente nas intervenções farmacêuticas. Deve-se tomar cuidado ao discutir PRMs com o paciente e os profissionais de saúde. Uma consideração inadequada pode resultar em uma questão de ordem ética. 77 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEGRA, Carmen J. et al. As bases barmacológicas da terapêutica. Editor consultor Alfred Goodman Gilman. Santiago-Chile: Impressos Universitária, 1996. ALTMAN, David F. et al. Farmacologia básica e clínica. Editoria de Bertram G. Katzung. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (ADA). 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