Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Leticia Morais Infecções respiratórias agudas Introdução · Principal motivo de atendimento nas emergências pediátricas. · Importante causa de óbito · Fatores predisponentes: baixa cobertura vacinal, baixo peso ao nascer, desmame precoce, dificuldade de acesso à assistência médica. · Vias aéreas superiores: Fossas nasais, faringe, seios paranasais, laringe, traqueia. Resfriado comum Nasofaringite viral ou resfriado comum é a desordem infecciosa mais comum da infância, de natureza benigna e autolimitada. A definição anatômica de resfriado comum é de uma nasofaringite (ou rinofaringite) de etiologia viral que leva à inflamação da mucosa do nariz, faringe e seios paranasais. Infecção mais comum da infância. Risco de complicações bacterianas (Otite média aguda e sinusite bacteriana aguda). Etiologia Rinovírus (mais comum); vários sorotipos de rinovírus, coronavírus, vírus sincicial respiratório, adenovírus, influenza, parainfluenza. Patogênese Os vírus invadem as células epiteliais colunares ciliadas das vias aéreas superiores, promovendo uma resposta inflamatória local. A bradicinina é um importante mediador, porém a histamina não parece ter um papel significativo. A mucosa torna-se congesta (edemaciada, eritematosa) por vasodilatação, enquanto a produção de muco exacerba-se. As citoquinas atraem neutrófilos para o local, explicando a coriza purulenta, mesmo na ausência de superinfecção bacteriana. A rinorreia e a tosse resultam de estimulação de fibras colinérgicas locais. Dentro de 24 horas após o início da infecção, uma IgA específica encontra-se presente nas secreções e, após uma semana, anticorpos das classes IgG e IgM contra o vírus são encontrados no soro, conferindo imunidade, principalmente para o sorotipo de rinovírus responsável pelo quadro clínico. A infecção por rinovírus e por adenovírus traz imunidade permanente sorotipo-específica. Entretanto, como há inúmeros sorotipos diferentes, o paciente ainda poderá ter muitos resfriados por rinovírus ao longo de sua vida. O vírus influenza apresenta alta capacidade auto mutagênica e, por isso, mesmo o desenvolvimento de imunidade específica não é suficiente para prevenir novas infecções. A infecção por parainfluenza e o VSR não conferem imunidade duradoura. Manifestações Clínicas Coriza, obstrução nasal, roncos, garganta “arranhando”, tosse noturna (gotejamento pós-nasal – tosse irritativa), febre. Tratamento · Antipiréticos: dipirona, paracetamol, ibuprofeno. · Lavagem nasal · NÃO utilizar descongestionantes e anti-histamínicos (< 2 anos). · Mel, antes de dormir. (não utilizar em menos de 1 ano) Complicações das VIAS Otite Média Aguda – OMA Principal complicação bacteriana do resfriado comum Etiologia Streptococcus pneumoniae, haemophilus influenzae não tipavel, moraxella catarrhalis. Patogênese A base fisiopatológica é a disfunção da tuba auditiva, condição fundamental para o desenvolvimento da otite. Acredita-se que com a tuba auditiva obstruída, a ventilação da orelha média esteja prejudicada. Nesse momento, cria-se uma pressão negativa nesta câmara, estimulando a secreção de muco por seu epitélio. O muco acumula-se na orelha média, agora um espaço totalmente fechado. A infecção viral da tuba também pode contribuir diretamente para a formação deste muco. Episódios intermitentes de aspiração, refluxo ou insuflação da tuba podem lançar as bactérias colonizadoras da nasofaringe na cavidade da orelha média. Algumas dessas bactérias encontram o meio ideal para se proliferarem, produzindo a reação inflamatória piogênica que se manifesta como uma OMA. O acúmulo de pus na orelha média funciona como um “abscesso”, provocando abaulamento da membrana timpânica, que cursa com intensa otalgia, o principal sintoma da OMA. Se a OMA não for tratada, após alguns dias, a tendência é que o pus na orelha média encontre uma via de saída (auto drenagem), através de uma pequena perfuração na membrana timpânica. Nesse momento, a otalgia melhora e a criança elimina secreção purulenta pelo ouvido (otorreia). A suscetibilidade do lactente a infecções repetidas do trato respiratório é considerada um fator predisponente significativo. A presença de irmãos, a permanência em creches, o refluxo gastroesofágico, a alimentação com mamadeiras, a natação (especialmente em piscinas aquecidas), a exposição passiva à fumaça de cigarro, o edema alérgico e a presença de massas nasofaringianas (incluindo a hipertrofia de adenoides) podem influenciar o desenvolvimento de otite média em algumas crianças. A liberação de citoquinas e mediadores inflamatórios leva à obstrução e disfunção da tuba auditiva, com acúmulo de secreção dentro da orelha média, a qual funciona como um meio de cultura para bactérias; Hipertrofia da adenoide: a adenoide é a tonsila faríngea, descrita como uma massa linfoide “esparramada” na parede posterior e no teto da nasofaringe. Alguns autores utilizam o termo “adenoides” (em vez de “adenoide”), embora seja uma estrutura única. Em crianças entre seis meses a três anos de idade, a adenoide atinge o seu maior crescimento, sofrendo um processo natural de involução após esta faixa etária, até praticamente desaparecer na adolescência. Algumas crianças apresentam a adenoide bem hipertrofiada, o que provoca obstrução do óstio tubário e predispõe à OMA de repetição. Manifestações Clínicas Otalgia, irritabilidade, levar a mão no ouvido, choro intenso, otorreia. Diagnóstico Otoscopia – normal (Membrana timpânica transparente, brilhante, côncava, móvel) – pneumático. Opaca, hiperemiada e abaulada (abaulada é a maior especificidade da OMA). Tratamento Analgésicos: dipirona, paracetamol, ibuprofeno. Avaliar antibioticoterapia ( 6 meses a 2 anos se otorreia com OMA ou OMA com sintomas graves, OMA bilateral sem otorreia ou OMA unilateral sem otorreia). >2 anos ATB se otorreia com OMA, OMA com sintomas graves. Sintomas graves: aparência toxica, otalgia > 48 horas, febre >39°C nas ultimas 48 horas e acompanhamento duvidoso. USO obrigatório de ATB < 6 MESES PRESENÇA DE OTORREIA PRESENÇA DE SINAIS DE GRAVIDADE OMA BILATERAL EM <2 ANOS. MALFORMAÇÕES CRANIOFACIAIS SÍNDROME DE DOWN IMUNODEFICIÊNCIA. ATB 1° Escolha: Amoxicilina 50mg/kg/dia – 5 a 10 dias. 90mg/kg/dia a depender do mecanismo de resistência. 2° Escolha: Amoxicilina + Clavulanato SE: uso recente de amoxicilina <30 dias; falha terapêutica (48-72h), otite + conjuntivite (haemophilus) Complicações Perfuração timpânica – resolução espontânea. Otite média secretora – conduta expectorante melhora em três meses. Após 3 meses: otorrino cirugia – efusão. Sinusite Bacteriana Aguda Etiologia: = OMA Manifestações Clínicas Tosse persistente, secreção nasal, descarga nasal clara ou purulenta, febre. Quando pensar em quadro bacteriano?! Quadro arrastado – persistência dos sintomas por 10 ou mais dias. Quadro grave – febre alta > 39°C e coriza purulenta por >3 dias consecutivos. Quadro que piora: Bifásico. Diagnóstico CLÍNICO!!!!!! Tratamento Amoxicilina 45-50mg/kg/dia. Manter por mais 7 dias após melhora clínica. Faringite Aguda Etiologia: rinovírus, enterovírus, adenovírus, coronavírus. Estreptococo-beta-hemolítico do grupo A (S.pyogenes) Manifestações Clínicas Mais comum entre 5-15 anos Manifestações inespecíficas Febre alta abrupta desde o inicio Dor de garganta importante Exsudato amigdaliano Petéquias no palato estreptocócica, porém não é patognomonico. Linfadenopatia cervical ou submandibular Avaliação complementar Cultura de orofaringe (PADRÃO-OURO) – mais sensível Testes rápidos – especifico, mas pouco sensível. Tratamento Profilaxia primária de febre reumatica: Penicilina Benzatina – dose única IM Amoxicilina VO por 10 dias. Macrolídeos (Azitromicina) – não deve ser a primeira escolha. O ATB previne a febre reumática se utilizada nos primeiros nove dias após o inicio e previne o surgimento de complicações supurativas. O ATB NÃO previne o surgimento de GNPE Faringites Agudas – Virais - adenovírus Febre faringoconjuntival – faringite + conjuntivite Herpangina – Coxsakie A – febre alta, úlceras orofaringe – ttosintomático e suporte de hidratação. Mononucleose Infecciosa – virús EBV – faringite + adenomegalia generalizada + esplenomegalia – atipia linfocitária. Questões de Residência 1- Criança de 8 anos de idade, sexo feminino, comparece a um pronto atendimento por apresentar, há dois dias, quadro de febre 37,9 °C, dor de garganta, obstrução nasal e rinorreia. Ao exame físico, constata-se criança em um bom estado geral, hidratada e apenas hiperemia de orofaringe. Demais elementos do exame físico dentro da normalidade. Mediante a esse caso, assinale a alternativa incorreta. A) Uma alteração na cor ou consistência da secreção nasal é um indicativo para iniciar antibioticoterapia. B) Trata-se de um resfriado comum e habitualmente pode durar até uma semana. C) O tratamento indicado para esse caso baseia-se no uso de apenas sintomáticos. D) Uma das complicações desse quadro pode ser otite média. 2- Com relação às rinossinusites agudas em crianças, identifique como Verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas: (V) A infecção viral de vias aéreas superiores é o principal fator de risco para o desenvolvimento de rinossinusite aguda bacteriana. (V) Obstrução dos óstios sinusais, disfunção do aparelho ciliar e espessamento de secreções nasais são importantes fatores na sua patogênese. (F) Permanência de sintomas após 5 dias, aumento ou reaparecimento de secreção nasal e tosse ou febre após melhora inicial devem levar à suspeita de rinossinusite aguda bacteriana. (V) Secreção nasal mucopurulenta por 4 dias acompanhada de febre acima de 39°C ou permanência de sintomas por mais de 10 dias são indicativos da necessidade de prescrição de antibiótico. (F) O uso de corticoide intranasal diminui o número de dias de tratamento com antibiótico. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA, de cima para baixo. V-V-F-V-F 3- Numa criança de três anos com quadro de otite média aguda, qual dos achados abaixo não justifica, obrigatoriamente, o uso de antibiótico: A) Otorreia purulenta. B) Otalgia há mais de 48 horas. C) Otalgia moderada a intensa. D) Febre maior que 39°C. E) Otite média aguda bilateral. 4- Qual, dentre os sinais e sintomas abaixo, NÃO sugere o diagnóstico de faringoamigdalite estreptocócica? A) Gânglios cervicais palpáveis dolorosos B) Hiperemia e edema de orofaringe C) Petéquias no palato D) Tosse e/ou rouquidão 5- de 7 anos iniciou subitamente com quadro de febre alta e odinofagia. Nega outras alterações como diarreia ou tosse. Ao exame físico apresenta petéquias em palato, exsudato purulento abundante em ambas as tonsilas. Ausculta pulmonar e cardíaca sem alterações, ausência de conjuntivite. Analise as alternativas abaixo sobre este caso. I - O antibiótico de escolha para o principal agente deste caso é a penicilina, apesar de ocorrer resistência em até 10% dos casos. II - Em pacientes com alergia à penicilina uma boa alternativa é o sulfametoxazol-trimetroprim. III - A utilização de antiinflamatórios não auxilia no desconforto e melhora clínica mais rápida. IV - Adiar o inícic do tratamento até 9 dias do início do quadro não aumenta o risco de complicações não supurativas. Estão corretas apenas as alternativas A) 1 e II. B) 1 e III. C) II e IV. D) III e IV. E) II, III e IV. 6- Menina, 6a, chega na unidade de emergência com quadro clínico de febre alta há cinco dias, disfagia e sialorreia. Nos últimos dois dias, vem queixando-se de dor em região cervical posterior e mãe percebeu alteração da voz. Exame físico: regular estado geral; TAx.: = 39°C; FR = 34 irpm; FC = 140 bpm; tempo de enchimento capilar = 2 segundos; adenomegalia cervical anterior esquerda, móvel, diâmetro 3 cm, sem sinais inflamatórios. Orofaringe: dificuldade de abertura da cavidade oral. Neurológico: rigidez cervical presente. O diagnóstico é: A) Meningite bacteriana. B) Supraglotite. C) Abscesso retrofaríngeo. D) Adenite bacteriana.
Compartilhar