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Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? 1. Associar lesões cutâneas com doenças infecciosas. . 2. Estudar etiologia, fatores de risco, epidemiologia, fisiopatologia, classificação clínica e baciloscópica associada ao quadro clínico, complicações, diagnóstico, diagnóstico diferencial (ptiríase, eczema e lúpus) e tratamento da hanseníase. Doença crônica, infectocontagiosa, causada por um bacilo capaz de infectar grande número de indivíduos (alta infectividade), embora poucos adoeçam (baixa patogenicidade). Essas propriedades não ocorrem em função apenas das características intrínsecas do agente etiológico, mas dependem, sobretudo, da relação com o hospedeiro e o grau de endemicidade do meio, entre outros aspectos. A hanseníase parece ser uma das mais antigas doenças que acomete o homem. Outrora motivo de estigma e exclusão, há mais de 20 anos, a doença tem tratamento capaz de curar a totalidade dos casos. ETIOLOGIA O Mycobacterium leprae é o agente causador da hanseníase. Tem forma de bastonete reto ou levemente encurvado e é encontrado isolado ou em aglomerados, “globias”, o que o difere do bacilo da tuberculose (M. tuberculosis), que se organiza em fila (fator corda). O bacilo multiplica-se lentamente, por volta de 11 a 16 dias — e esse é um dos mecanismos que fazem a doença ter longos períodos para desenvolvimento. É um parasita intracelular obrigatório que se instala nos macrófagos e nas células de Schwann e tem predileção pela pele e pelo sistema nervoso periférico. Não é cultivável em laboratório; é um Bacilo ÁlcoolÁcido-Resistente (BAAR), pois retém a fucsina básica pela parede celular, corando-se em vermelho pela técnica de Ziehl-Neelsen. Foi identificado em animais selvagens como tatu, macaco e chimpanzé, porém o homem ainda é considerado o único reservatório, ou seja, a única fonte de infecção. A transmissão ocorre a partir do contato, íntimo e prolongado, de indivíduo bacilífero não tratado, que tem como porta de entrada e fonte de transmissão as vias aéreas superiores, na maioria dos casos. O bacilo apresenta alta infectividade e baixa patogenicidade. Isso significa que consegue ser transmitido com razoável facilidade, mas costuma ser indolente, vivendo no homem muitos anos antes de causar lesões patogênicas graves. Havendo a infecção, o período de incubação é longo, de dois a sete anos, com média de cinco anos, e o tempo de transmissibilidade no paciente bacilífero compreende do início da doença até a primeira dose de rifampicina, capaz de eliminar os bacilos viáveis das vias aéreas superiores em 99,9%. O risco de adoecer depende de fatores ambientais, do grau de exposição ao bacilo — nível endêmico da região, condições socioeconômicas e de saúde, aglomerados etc. — e de fatores genéticos que conduzirão à destruição ou à multiplicação do bacilo pelo sistema imunológico do hospedeiro, determinando, respectivamente, resistência ou suscetibilidade à infecção pelo M. leprae. FATORES DE RISCO Os principais fatores de riscos para a transmissão da hanseníase são os contatos intradomiciliares, ou seja, os conviventes nos últimos cinco anos dos casos diagnosticados, grau de parentesco as condições de moradias, sanitárias, nutricionais interferem no panorama da manutenção da endemia, o abandono do tratamento, as Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? irregularidades do tratamento contra a hanseníase podem implicar na manutenção da cadeia de transmissão e surgimento de seqüelas e incapacidades, além da resistência a PQT, favorecendo a ocorrência de hanseníase em uma área endêmica tornando um grave problema de saúde pública. EPIDEMIOLOGIA Nacionalmente, a hanseníase continua a ser um problema de saúde pública, com prevalência variável nas diferentes regiões brasileiras, onde são caracterizadas desde áreas não endêmicas, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, até hiperendêmicas, como as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A taxa de prevalência de hanseníase caiu 68% nos últimos 10 anos no Brasil. A queda é resultado das ações voltadas para a eliminação da doença, intensificada nos últimos anos. Segundo o Ministério da Saúde, os estados que mantêm maior quantidade de casos novos de hanseníase são Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Pará, Piauí e Pernambuco. FISIOPATOLOGIA Reservatório O homem é reconhecido como a única fonte de infecção, embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados – tatu, macaco mangabei e chimpanzé. Os doentes com muitos bacilos (multibacilares – MB) sem tratamento – hanseníase virchowiana e hanseníase dimorfa – são capazes de eliminar grande quantidade de bacilos para o meio exterior (carga bacilar de cerca de 10 milhões de bacilos presentes na mucosa nasal). Modo de transmissão A transmissão se dá por meio de uma pessoa com hanseníase, na forma infectante da doença MB, sem tratamento, que elimina o bacilo para o meio exterior, infectando outras pessoas suscetíveis. Estima-se que 90% da população tenha defesa natural que confere imunidade contra o M. leprae, e sabe-se que a suscetibilidade ao bacilo tem influência genética. Assim, familiares de pessoas com hanseníase possuem chances maiores de adoecer. A principal via de eliminação do bacilo pelo doente e a mais provável via de entrada deste no organismo são as vias aéreas superiores (mucosa nasal e orofaringe), por meio de contato próximo e prolongado, muito frequente na convivência domiciliar. Por isso, o domicílio é apontado como importante espaço de transmissão da doença. Período de incubação Dura em média de 2 a 7 anos, não obstante haja referências a períodos mais curtos, de 7 meses, como também mais longos, de 10 anos. Período de transmissibilidade Os doentes com poucos bacilos – paucibacilares (PB) – não são considerados importantes como fonte de transmissão da doença devido à baixa carga bacilar. As pessoas com a forma MB, no entanto, constituem o grupo contagiante, mantendo-se como fonte de infecção enquanto o tratamento específico não for iniciado. Imunopatogenia Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Após a infecção pelo M. leprae, de 80 a 90% dos infectados evoluem para cura espontânea. Essa resistência inata ao bacilo tem sido relacionada ao gene NRAMP1 (Natural Resistance-Associated Macrophage Protein), localizado no cromossomo 2, que regula a atuação do macrófago a parasitas intracelulares. Nos casos dos paucibacilares, o macrófago tem papel importante na hanseníase por ser o hábitat do bacilo, por ativar as células T e destruí-lo. A reação de destruição ou multiplicação do bacilo no indivíduo infectado, assim como a forma clínica da doença, é determinada pelo mecanismo imunológico expresso geneticamente. Em outras palavras, o tipo de hanseníase que o organismo apresentará — paucibacilar ou multibacilar — depende da resposta imunológica predominante que o corpo consegue produzir. Quando predomina a resposta pelo linfócito T-helper 1 (Th1), ocorre a produção de IL-2 e gamainterferona (IFN-gama), que induzem a resposta imunocelular com ativação dos macrófagos contra o bacilo, levando à forma paucibacilar ou à cura. Quando predomina a resposta T-helper 2 (Th2), são produzidos IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10, que inativam o macrófago, propiciando a multiplicação do bacilo (forma multibacilar) e estimulando a imunidade humoral. Há proliferação de linfócitos B e produção de anticorpos específicos contra o antígeno da parede celular do M. leprae, o glicolipídio fenólico 1 (PGL-1). Apesar da produção de anticorpos anti-PGL-1, a resposta humoral é pouco eficaz para a eliminação do bacilo. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Suscetibilidade e imunidade Há uma forma de alta resistência à infecção pelo bacilo – a hanseníase tuberculoide–, na qual há manifestações em relação à exacerbação da resposta imunocelular, com limitação de lesões, formação de granuloma bem definido e destruição completa dos bacilos. Também pode ocorrer a forma de alta suscetibilidade – hanseníase virchowiana –, na qual há uma deficiência da resposta imunocelular, com excessiva multiplicação de bacilos e disseminação da doença para o tecido nervoso e vísceras. Entre essas duas formas polares, está a forma instável da doença – hanseníase dimorfa –, a qual pode permanecer como dimorfa ou apresentar características das formas clínicas tuberculoide ou virchowiana. Na hanseníase virchowiana, além da deficiência imunológica celular, observa-se a exacerbação e especificidade da resposta humoral. Pacientes com a forma virchowiana e dimorfa apresentam, no curso da evolução da doença, altas concentrações de anticorpos específicos ao M. leprae no soro, como o anti PGL-1, associados à depressão da imunidade celular. A eficácia da resposta imune é feita por células capazes de fagocitar a bactéria e destruí-la, representada apenas por sua fração antigênica – macrófagos, por meio do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Devido ao longo período de incubação, a hanseníase é menos frequente em menores de 15 anos de idade; contudo, em áreas de maior prevalência ou detecção da doença em focos domiciliares, aumenta a incidência de casos nessa faixa etária. CLASSIFICAÇÃO O Brasil adotou, inicialmente, a classificação de Madri, proposta por Rabello em 1953, que introduziu o conceito de polaridade da doença e considera o quadro clínico, a baciloscopia — esfregaço de raspado de lesões suspeitas ou da linfa obtida do lóbulo de orelha, do joelho ou do cotovelo, corado pela técnica de ZiehlNeelsen — e a reação de Mitsuda. Esta consiste em um teste que avalia a hipersensibilidade tardia celular com a aplicação intradérmica de um antígeno do Mycobacterium leprae, a lepromina, e leitura em três a quatro semanas: se o teste for positivo, sugere resposta celular presente; se negativo, resposta celular ausente. Rabello classificou dois polos estáveis e opostos: a Hanseníase Tuberculoide (HT) — polo imunopositivo — e a Hanseníase Virchowiana (HV) ou Lepromatosa (HL) — poloimunonegativo; e dois polos instáveis: a Hanseníase Indeterminada (HI) e a Hanseníase Dimorfa (HD) ou Borderline (HB), que se direcionam para um dos polos anteriores, conforme a evolução da doença. Em 1966, Ridley e Jopling sugeriram outra classificação, que inclui a HI como forma inicial da doença e outras cinco formas clínicoimunológicas representadas na Figura 10.5. Apesar de completa, essa classificação se mostrou demorada e de difícil realização na prática clínica, retardando o início da terapêutica. Isso levou a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1988, a sugerir a Classificação Operacional com apenas duas formas, a paucibacilar e a multibacilar, conforme a baciloscopia. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Atualmente, como a OMS, o Ministério da Saúde do Brasil preconiza a Classificação Operacional para fins de definição imediata de esquema terapêutico. São classificados como paucibacilares os indivíduos com baciloscopia negativa, poucos bacilos visualizados e até cinco lesões e/ou somente um tronco nervoso acometido, e multibacilares aqueles com mais de cinco lesões e/ou mais de um tronco nervoso acometido e/ou baciloscopia positiva. Isto é, a baciloscopia positiva classifica o paciente como multibacilar, independentemente do número de lesões. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Portanto, apesar de ainda haver esforço para subdividir os tipos de lesões em tuberculoide-tuberculoide, tuberculoide-dimorfa, dimorfa-dimorfa, dimorfa- virchowiana e virchowiana, a classificação que deve ser guardada é a de paucibacilar e multibacilar. MULTIBACILAR Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? As lesões apresentadas na Figura 10.7 indicam característica de hanseníase dimorfa. Os pacientes apresentam lesões que lembram a forma tuberculoide, mas, como são várias e de tamanho grande, são características da virchowiana. Como apresentam características dos dois polos, são definidas como virchowianas. PAUCIBACILAR Na Figura 10.8, a lesão apresenta formas que não ultrapassam 10 cm, com poucas lesões. São placas bem definidas, características de forma tuberculoide. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Figura 10.8 - Hanseníase tuberculoide Figura 10.9 - Lesão indeterminada No caso da Figura anterior, observa-se lesão hipocrômica com anestesia. Lesões como essa geralmente são de passagem para cura ou para outras formas de hanseníase. COMPLICAÇÕES As complicações da hanseníase, muitas vezes, confundem-se com a evolução do próprio quadro clínico da doença. Muitas delas dependem da resposta imune dos indivíduos acometidos, outras estão relacionadas à presença do M. leprae nos tecidos e algumas decorrem das lesões neurais características da hanseníase. Complicações diretas Decorrentes da presença do bacilo na pele e outros tecidos, principalmente em quantidades maciças, como é o caso dos pacientes MB. Rinite hansênica decorre da massiva infiltração da mucosa do trato respiratório superior. A ulceração da mucosa septal leva à exposição da cartilagem com necrose e sua perfuração, ou mesmo perda completa desse suporte da pirâmide nasal. Se houver comprometimento dos ossos Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? próprios nasais, o colapso nasal é completo, com o surgimento do característico nariz desabado ou “em sela”. Na arcada dental superior, a invasão óssea permite o afrouxamento dos incisivos superiores com sua perda. A destruição da espinha óssea nasal anterior elimina o ângulo obtuso nasolabial, deixando-o em ângulo agudo, o que leva a um aspecto simiesco se já houver o colapso nasal antes referido. Na mucosa oral, os principais sinais podem ser observados na gengiva na porção anterior da maxila, palato duro e mole, úvula e língua. Clinicamente, as lesões se apresentam, geralmente assintomáticas, como nódulos que necrosam e ulceram. Contudo, o comprometimento lingual pode ser sintomático. O grau de envolvimento do palato está relacionado à duração da doença, que, dependendo da evolução do processo infiltrativo, pode levar à perfuração. Na área ocular, a triquíase decorre de processo inflamatório do próprio bulbo piloso ou por atrofia dos tecidos que apoiam os folículos, com posicionamento anômalo do cílio podendo atingir córnea e conjuntiva. O comprometimento massivo dos bulbos, com perdas tanto ciliares como supraciliares, pode levar à madarose ciliar e supraciliar. As alterações da íris podem ser descritas como atrofias irianas do estroma, do epitélio pigmentário ou totais, nódulos inespecíficos e nódulos específicos (pérolas irianas), irites agudas, irites crônicas, sinéquias anteriores e sinéquias posteriores. Esses comprometimentos oculares são importantes e necessitam de acompanhamento constante de atenção oftalmológica ou prevenção ocular. Por fim, os frequentes infiltrados in"amatórios de pálpebras e pele da região frontal permitem o surgimento de rugas precoces e pele redundante palpebral, resultando em blefarocalase. Complicações devido à lesão neural Podem ser divididas em primárias e secundárias, sendo as primeiras decorrentes do comprometimento sensitivo e motor e as outras, resultantes dessas. Os troncos nervosos mais acometidos, no membro superior, são o nervo ulnar, nervo mediano e nervo radial. A lesão do nervo ulnar acarreta a paralisia dos músculos interósseos e lumbricais do quarto e quinto dedos da mão. Estabelece-seassim um desequilíbrio de forças no delicado aparelho "flexo-extensor dos dedos. A falange proximal é hiperextendida e os "flexores profundos " flexionam exageradamente as falanges distais – resultado é a mão em garra. O nervo mediano, acometido na região do punho, leva à paralisia dos músculos tênares, com perda da oposição do polegar. A lesão do nervo radial, menos acometido entre eles, conduz à perda da extensão de dedos e punho, causando deformidade em “mão caída”. No membro inferior, a lesão do tronco tibial posterior leva à garra dos artelhos e importante perda de sensibilidade da região plantar, com graves consequências secundárias (úlceras plantares). A lesão do nervo fibular comum pode provocar a paralisia da musculatura dorsiflexora e eversora do pé. O resultado é a impossibilidade de elevar o pé, com marcada alteração da dinâmica normal da marcha (“pé caído”). Na face, a lesão do ramo zigomático do nervo facial causa paralisia da musculatura orbicular, com consequente impossibilidade de oclusão das pálpebras, levando ao lagoftalmo. As complicações secundárias são devidas, em geral, ao comprometimento neural, embora requeiram um segundo componente causador. Este é o caso da úlcera plantar que, decorrente da alteração de sensibilidade da região plantar, necessita de uma força de fricção e trauma continuado nessa região para que a úlcera surja. Da mesma forma, a perda da sensibilidade autonômica, que inerva as glândulas sebáceas sudoríparas, leva à perda da pliabilidade da pele, deixando-a seca e frágil ao trauma. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Complicações devido às reações A hanseníase é doença de evolução crônica, mas durante seu curso podem ocorrer de forma abrupta complicações das reações como: febre alta, dor no trajeto dos nervos, surgimento de lesões da pele (placas ou nódulos) e piora do aspecto de lesões preexistentes. Esses quadros são denominados reações hansênicas ou estados reacionais. Trata-se de alterações do sistema imunológico que se expressam por manifestações inflamatórias agudas e subagudas, e ocorrem com maior frequência nas formas MB, durante ou depois do tratamento com PQT. As reações também levam a algumas complicações específicas, como é o caso da orquite aguda dolorosa, podendo ocasionar atrofia testicular e o surgimento posterior de ginecomastia. Da mesma forma, amiloidose pode ser uma complicação em casos virchowianos, com frequentes reações do tipo 2. No aparelho ocular, os estados reacionais podem levar a complicações específicas como as esclerites, uveítes, irites e iridocilites. As medidas de prevenção ocular são fundamentais para evitar lesões irreversíveis no globo ocular, inclusive a cegueira. DIAGNÓSTICO O diagnóstico instituído pela OMS e preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil define hanseníase com base em um ou mais das seguintes alterações: presença de lesões de pele com alteração da sensibilidade, presença de espessamento neural e/ou baciloscopia positiva. Como a baciloscopia só é positiva em pacientes multibacilares, o diagnóstico muitas vezes é clínico, principalmente em pacientes com poucos bacilos. Diante de uma suspeita de hanseníase, deve-se realizar uma anamnese completa, com história clínica e epidemiológica e avaliação dermatoneurológica detalhadas. As lesões da hanseníase têm alteração de sensibilidade tátil, térmica e/ou dolorosa. A pesquisa Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? da sensibilidade deve ser feita em toda lesão suspeita, orientando o paciente sobre o exame e solicitando-o para que feche os olhos e compare a área acometida com a área sã. A sensibilidade tátil pode ser avaliada com algodão seco; a térmica, com tubo de vidro com água fria e quente ou algodão embebido em éter (para a fria); e a dolorosa, com ponta de agulha estéril ou com monofilamento de nylon (estesiômetro). Inicialmente, a sensibilidade começa a ser alterada pela percepção térmica, em seguida, a dolorosa e, posteriormente, a tátil. Os principais troncos neurais acometidos são face, trigêmeo e facial; nos membros superiores, o ulnar e o mediano; nos membros inferiores, o fibular comum e o tibial posterior. A doença evolui com processo inflamatório dos nervos periféricos (neurites) por lesão direta do bacilo e/ou por dano secundário decorrente da resposta imunológica do hospedeiro. São acometidas fibras sensitivas (tátil, térmica e dolorosa); motoras, que podem levar a paresia, paralisia, perda de força e atrofia muscular, incapacidades e deformidades; autonômicas, com perda da sudorese (anidrose). A neurite pode ser aguda, de evolução abrupta, caracterizada por dor (neuralgia), hipersensibilidade à palpação, edema e espessamento do nervo; ou crônica, de evolução insidiosa, que cursa com alteração sensitiva, espessamento, paresia e perda da força muscular. A forma crônica pode manifestar-se ou não com dor (neurite silenciosa). A avaliação neurológica inclui: • Inspeção de olhos, nariz, membros superiores e inferiores; • Palpação dos nervos periféricos; • Avaliação da força muscular; • Avaliação da sensibilidade ocular e cutânea; • Teste da pilocarpina (para identificar áreas de anidrose) e da histamina. Uma descrição mais detalhada da avaliação neurológica pode ser encontrada em manuais do Ministério da Saúde. No entanto, deve-se frisar que qualquer forma de hanseníase apresenta alterações de nervos. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? As neurites apresentam como características: • Nervos espessados e fibrosados; • Intumescidos; • Dor espontânea ou ao toque, em graus variáveis; • Exacerbação da sensibilidade local e/ou territorial; • Evolução para comprometimento sensitivo-motor e perda da função; • Pode ocorrer paralisia súbita. Lembrar que o diagnóstico clínico é essencial na maioria dos casos. Entretanto, o exame complementar de importância diagnóstica é a baciloscopia com pesquisa de BAAR (técnica de Ziehl-Neelsen). O teste de Mitsuda auxilia na classificação antiga e não tem valor diagnóstico. A biópsia da lesão, na qual podem ser encontrados macrófagos carregados de bacilos, chamados células de Virchow, e do nervo pode ser usada nos casos de dúvida para esclarecimento diagnóstico. Outros exames, como sorologia anti-PGL-1, imuno-histoquímica e PCR são usados unicamente em pesquisa, com pouca utilidade na prática clínica. Existem diferenças entre os tipos de pacientes paucibacilares ou multibacilares. O diagnóstico baseia-se na identificação de sinais e sintomas; uma vez diagnosticado, o caso de hanseníase deve ser classificado, operacionalmente, para fins de tratamento. Essa classificação também é feita com base nos sinais e sintomas da doença: ▶ Paucibacilares (PB): casos com até cinco lesões de pele; ▶ Multibacilares (MB): casos com mais de cinco lesões de pele. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial inclui doenças que levam a alterações neurológicas e de pele. É importante ressaltar que, entre as doenças dermatológicas, a hanseníase é a única que leva à alteração da sensibilidade. Ptiríase A pitiríase versicolor (PV), também conhecida como pano branco, tínea flava ou tínea versicolor, trata-se de uma infecção fúngica superficial causada por um fungo lipofílico e dimórfico da flora normal da pele, nomeado Malassezia furfur. É uma afecção clínica comum, que costuma se apresentar como máculas hipopigmentadas, hiperpigmentadas ou eritematosas no tronco e extremidades superiores proximais, principalmente. Epidemiologia Embora tenha distribuição universal, é muito mais prevalente nos trópicos. Afeta principalmente adolescentes e jovens adultos, em virtude da maior atividade das glândulas sebáceas nessa faixaetária. Contudo, pode ocorrer em crianças, com a particularidade de que nessa fase as lesões em face são as mais comuns. Não possui caráter contagioso e afeta igualmente ambos os sexos. Patogênese e fatores de risco Alguns fatores predispõem à tínea versicolor, podendo ser classificados em fatores endógenos e exógenos. Os fatores exógenos incluem: • Clima quente e úmido (o que ajuda a explicar a maior prevalência da doença nos trópicos); • Roupas e cosméticos oclusivos. Como fatores endógenos, podemos citar: • Hiperidrose; • Desnutrição; • Uso de terapia contraceptiva oral; • Imunossupressão induzida por corticoesteroides. É importante salientar que a manifestação clínica da pitiríase versicolor não está relacionada a falta de higiene. Nessa patologia, a hipopigmentação das lesões é explicada pela produção de ácidos dicarboxílicos pelo fungo, com destaque ao ácido azelaico, que age inibindo competitivamente a tirosinase e possui efeito tóxico direto sobre os melanócitos. A patogênese da hiperpigmentação, por sua vez, não é completamente entendida. Quadro Clínico Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? O termo “versicolor” refere-se às diferentes possibilidades de alteração da pigmentação cutânea que ocorrem nessa doença. As lesões podem ser hiperpigmentadas, hipopigmentadas ou eritematosas, variando entre indivíduos com tons de pele similares e, inclusive, entre diferentes áreas do corpo do mesmo paciente. Em adolescentes e adultos, distribuem-se preferencialmente no tronco e extremidades superiores proximais, sendo menos comuns na face e regiões intertriginosas. Em crianças, são mais comuns na face. A maioria dos pacientes é assintomática, porém parte deles relata prurido. O prejuízo estético das lesões costuma ser a maior queixa relacionada à pitiríase versicolor dentro dos consultórios. Diagnóstico O diagnóstico da tínea versicolor tem um forte componente clínico e deve surgir como suspeita diagnóstica sempre que houver um paciente com máculas coalescentes hipo ou hiperpigmentadas, em região de tronco, pescoço, abdome, face e extremidades proximais, podendo ser pruriginosas ou não. Nesse contexto, o sinal de Zileri positivo (a presença de descamação fina na superfície das lesões após distensão da pele) ou de Besnier (descamação fina após o raspar da lesão com as unhas) reforçam a suspeita diagnóstica. De toda a forma, devido à considerável quantidade de entidades nosológicas que fazem diagnóstico diferencial com a pitiríase versicolor, é interessante que haja confirmação diagnóstica através do exame micológico com hidróxido de potássio (considerado positivo se houver o encontro de esporos e pseudo-hifas após a clarificação das escamas) ou pelo uso da lâmpada de Wood. São alguns dos quadros que fazem diagnóstico diferencial com a tínea versicolor: vitiligo, pitiríase rósea, sífilis secundária, dermatite seborreica e pitiríase alba. Esses diagnósticos devem ser considerados principalmente diante da má resposta ao tratamento clínico. Tratamento Apesar de haver relatos de remissão espontânea, a doença pode persistir se não tratada. O tratamento pode ser feito através de agentes tópicos ou sistêmicos. A terapia tópica é o tratamento de escolha na maioria das vezes, ficando o tratamento sistêmico reservado aos pacientes com lesões que acometem grandes áreas, doença recidivante ou falha no tratamento tópico. É importante salientar que a persistência da despigmentação não é um bom indicativo de falha do tratamento tópico. Agentes tópicos O tratamento feito com sulfeto de selênio 2,5% na forma de xampu por 1 a 2 semanas,aplicado 1x ao dia, apresenta bons resultados. Assim como o uso de “azóis” tópicos, com destaque ao cetoconazol creme – o mais estudado entre eles. Cetoconazol a 2% deve ser aplicado 1x ao dia, diariamente, por duas semanas. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? O uso de terbinafina tópica a 1% também se mostrou efetivo em pequenos ensaios clínicos randomizados. Agentes sistêmicos Para o tratamento sistêmico da PV, lança-se mão dos “azóis” orais, como fluconazol, com dose recomendada de 150 mg/semana por 3 semanas, ou itraconazol. Diferentemente da terbinafina tópica, a terbinafina oral não é efetiva para o tratamento, assim como a griseofulvina. Após o tratamento, a área despigmentada pode persistir como uma mácula hipocrômica residual por meses ou anos e a recidiva da doença é frequente, sendo igual a 60% no primeiro ano após o tratamento e 80% no segundo. Prevenção Pacientes que sofrem com a reaparecimento frequente da doença, em especial os pacientes imunossupressos, podem se beneficiar do uso de terapia profilática oral ou tópica, principalmente durante as estações mais quentes. Para esse fim, lança-se mão da profilaxia tópica com sulfeto de selênio 2,5% ou cetoconazol 2% na forma de xampu, aplicados no corpo inteiro por cerca de 10 minutos, uma vez ao mês. Se essa terapia não for efetiva, uma opção viável é o uso de 400 mg de itraconazol VO, dividido em duas doses, 1x ao mês. Eczema O termo eczema é frequentemente usado indistintamente de dermatite. Quando o termo eczema é usado sozinho, ele geralmente se refere a dermatite atópica. No entanto, segundo a sociedade brasileira de dermatologia, eczema é um tipo de dermatose que se caracteriza por apresentar vários tipos de lesões. Inicialmente observam-se eritema, pápulas e/ou vesículas, exsudação e crosta. As dermatoses eczematosas são comuns, representando aproximadamente 10 a 30% das consultas dermatológicas em diferentes populações e grupos étnicos. Tipos específicos de dermatite eczematosa são mais comuns em algumas faixas etárias. Por exemplo, a dermatite atópica é muito mais comum em crianças do que em adultos, enquanto o eczema numular é tipicamente visto em adultos mais velhos. Eczema atópico ou dermatite atópica O eczema atópico é reconhecido como uma doença de base genética, com expressão variável e influenciada por factores ambientais. É uma doença inflamatória da pele, de caráter pruriginosa, que ocorre com mais frequência em crianças, mas também afeta adultos. O aspecto é de pele seca, prurido intenso e hiper reatividade cutânea a vários estímulos ambientais. A apresentação clínica varia com a idade. A face, o couro cabeludo e as superfícies extensoras dos membros estão envolvidas em bebês e crianças pequenas. As áreas de flexão estão envolvidas em crianças mais velhas e adolescentes e as mãos e rosto estão envolvidos em adultos. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? O tratamento de dermatite atópica leve a moderada são inicialmente tratados com corticosteróides tópicos e emolientes. Pacientes com dermatite atópica moderada a grave que não é controlada com terapia tópica inicial podem requerer tratamento com fototerapia, imunossupressores tópicos ou sistêmicos para atingir o controle adequado da doença. Eczema de contato ou dermatite de contato Eczema de contato refere-se a qualquer dermatite decorrente da exposição direta da pele a uma substância. Existem dois tipos de dermatite de contato a irritativa e a alérgica. Na dermatite alérgica de contato, um alérgeno induz uma resposta imune, enquanto na dermatite irritante de contato, a própria substância desencadeadora danifica diretamente a pele. Os alérgenos ou irritantes comuns incluem plantas, metais (por exemplo, níquel em joias), conservantes, fragrâncias, cosméticos e antibióticos tópicos. A dermatite alérgica, muitas vezes, provoca uma erupção vermelha no local em que a substância entrou em contato. A reação alérgica surge de 24 a 48 horas após a exposição. Na dermatite irritante, os sintomas são mais discretos,com pouca coceira e sensação de dor e queimação. Ela torna a pele seca, vermelha e áspera, sendo que fissuras podem se formar no local. As mãos são um local comum da dermatite de contato.. Eczema seborreico O eczema seborreico, ou dermatite seborreica, é uma inflamação cutânea crônica e bastante comum, que possui períodos de piora e remissão, caracterizada por manchas eritematosas, descamativas em algumas áreas da face, couro cabeludo e orelhas. Para pacientes com dermatite seborréica, o tratamento é feito com creme, para tronco ou e região intertriginosa, e soluções faciais, para o rosto, de corticosteróide tópico de baixa potência, agentes antifúngicos tópicos (cetoconazol o mais utilizado) ou uma combinação dos dois. Eczema numular O eczema numular é uma dermatite inflamatória que se caracteriza por lesões eritematosas discóides, pruriginosas e bem delimitadas, dispersas pelos membros superiores e inferiores.É mais frequente em indivíduos do sexo masculino com idade superior a 50 anos. A sua etiologia é desconhecida, embora já tenham sido identificados fatores associados ao seu aparecimento, nomeadamente xerose cutânea, alergia de contacto aos metais e sensibilização ambiental a aeroalérgenos. O tratamento inclui a aplicação de emolientes e corticoides tópicos. Na maioria dos casos o prognóstico é excelente, com remissão das lesões após duas a quatro semanas de tratamento. Eczema de estase A eczema de estase, ou dermatite de estase, é uma dermatose inflamatória dos membros inferiores inferiores, simétrica, que ocorre em pacientes com insuficiência venosa crônica. A má drenagem da região se apresenta com manchas eritematosas, Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? descamativas, eczematosas e hiperpigmentação nas pernas cronicamente edematosas. O manejo envolve o tratamento da insuficiência venosa. Eczema disidrósico ou disidrose As erupções disidrosiformes são lesões vesiculares, pruriginosas, mais comumente nas extremidades dos membros, geralmente de caráter crônico e recidivante. Representam cerca de 20% dos quadros eczematosos das mãos. Os fatores que desencadeiam as desidroses ainda não estão estabelecidos, dificultando sua terapêutica. O tratamento geralmente envolve medidas gerais de higienização das mãos e o uso de corticóides tópicos de alta potência. Lupus Eritematoso Sistêmico O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é a doença mais caracteristicamente associada a autoimunidade (produção de autoanticorpos). Tem apresentação clínica variável e muito polimórfica, podendo afetar múltiplos órgãos ou sistemas. Possui evolução crônica caracterizada por períodos de exacerbação e remissão parcial ou completa. EPIDEMIOLOGIA O LES possui forte associação estrogênica, sendo mais comum em mulheres jovens (idade fértil) na proporção de 10:1 homem. A distribuição étnica é universal, apesar de parecer haver uma predileção por afrodescendentes. FISIOPATOLOGIA A etiologia do LES é multifatorial e envolve fatores genéticos, ambientais e hormonais. FATORES GENÉTICOS Existe prevalência aumentada em parentes de primeiro grau e em gêmeos monozigóticos, 17 vezes e 29 vezes maior que população geral, respectivamente. A deficiência de componentes da via clássica do complemento como C1q (principal) e C4 conferem alta chance de desenvolver a doença. Também existe associação com HLA DR2 e DR3, além de outros polimorfismos genéticos (PTPN22, TREX 1, STAT 4, IFR5, TLR7 entre outros). FATORES HORMONAIS O estrógeno tem uma função imunorregulatória, funcionando de maneira semelhante ao Blyss/BAAF, uma vez que diminui a apoptose de linfócitos B e acelera a sua maturação. Também estimula macrófagos e linfócitos T. Fatores ambientais O fator ambiental mais importante é o estímulo da luz ultravioleta (UV), responsável pela indução do apoptose de queratiócitos e consequentemente ativação macrofágica e amplificação da resposta imune. Portanto a exposição solar configura importante fator tanto de trigger quanto de piora do quadro clínico. O tabagismo também é um fator de risco modificável assim como o pó de sílica. Algumas drogas estão associadas ao lúpus fármaco-induzido como a hidralazina e procainamida. Também parece haver associação com a gênese da doença, o estímulo Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? imune de infecções, principalmente virais como Epstein Barr (EBV), parvovírus, citomegalovírus (CMV). ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS Após quaisquer interações entre os fatores etiológicos citados previamente, ocorrem alterações no sistema-imune que são “chave” na fisiopatologia do LES. Ocorre perda da autotolerância, ou seja, os indivíduos não toleram seus próprios antígenos e desencadeiam uma resposta imunológica. Os linfócitos B estão persistentemente ativados, consequentemente produzindo autoanticorpos, e induzidos no processo de maturação pelo BAFF, conhecido como estimulador de linfócito B (Blys). Esse aumento da sobrevida do linfócito B não é regulado pelo linfócito T regulador adequadamente. Os imunocomplexos ativam sistema imune inato via Toll Like (TLR 9 ou TLR7), assim as células dendríticas são ativadas e produzem IL1 e TNFα (responsáveis pela inflamação). Também ocorre aumento da expressão de IFN alfa pelos linfócitos T, redução do clearence dos imunocomplexos circulantes e dos restos apoptóticos dos macrófagos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS SINTOMAS GERAIS Os sintomas gerais incluem febre, perda de peso, inapetência, fadiga e vale enfatizar que são totalmente inespecíficos. A linfadenopatia também pode estar presente especialmente em crianças. A febre deve ser exaustivamente investigada, uma vez que pode se tratar tanto de atividade de doença quanto a quadro infeccioso associado. MANIFESTAÇÕES MUCOCUTÂNEAS As manifestações mucocutâneas são extremamente comuns e podem ser divididas em inespecíficas e específicas, sendo as específicas classificadas em agudas, subagudas e crônicas. Das manifestações agudas, o eritema ou rash malar e a fotossensibilidade são as mais comuns e afetam de 50% a 70% dos pacientes. O eritema malar é também conhecido como “asa de borboleta”, afeta o dorso do nariz, região malar e poupa o sulco nasolabial, tem aspecto edematoso ou maculopapular, não deixa cicatriz e pode ser induzido pela exposição solar. Vale lembrar que as lesões cutâneas no LES são exacerbadas ou desencadeadas pela exposição solar, a qual por sua vez, também está associada a trigger de atividade sistêmica. O lúpus eritematoso cutâneo subagudo tem associação com anti-Ro em até 90% e caracteriza-se por 2 variedades: a papuloescamosa ou psoriasiforme e anular. As lesões não causam atrofia e não deixam cicatriz e geralmente se localizam no dorso e membros, são extremamente fotossensíveis. O lúpus eritematoso cutâneo crônico tem como seu principal representante o lúpus discoide, que se manifesta com lesões esféricas eritematosas elevadas com descamação e evoluem para cicatriz e atrofia, são mais comuns em couro cabeludo, face e pescoço. Outras manifestações de lúpus cutâneo crônico são paniculite lúpica e lúpus eritematoso hipertrófico. A paniculite lúpica se manifesta como um nódulo firme e profundo em couro cabeludo, coxas, face, braços e nádegas, histologicamente trata- Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? se de uma paniculite lobular. Se a paniculite lúpica se situar abaixo de uma lesão discoide esta recebe o nome de lúpus profundo. As lesões inespecíficas envolvem úlceras orais, lesões bolhosas, livedo reticular, lúpus pernio, vasculite cutânea e alopecia. A alopecia tende a ser difusa e não cicatricial, pode estar associada a atividade de doença ou a efeito colateral de drogas. Já as úlceras orais ou nasais em geral são indolores. MANIFESTAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS Artralgia ou artritesão as manifestações mais comuns e tendem a acometer pequenas e grandes articulações, simetricamente e de caráter inflamatório com rigidez matinal prolongada. Diferente da artrite reumatoide, o acometimento articular do LES é não erosivo e suas deformidades são reversíveis e associadas a frouxidão ligamentar, conhecido como Artropatia de Jaccoud. Deve-se estar atento a probabilidade de osteonecrose (fêmur mais comum) decorrente de evento adverso do corticoide ou a presença de antifosfolípides, e artrite séptica, especialmente quando monoartrite. Miosite também pode estar presente e se associa a atividade de doença, mas também pode ser decorrente de evento adverso de tratamento (corticoides e antimaláricos). MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS Qualquer uma das linhagens pode estar acometida no LES. O achado hematológico mais comum é anemia de doença crônica (50% dos pacientes). A leucopenia e linfopenia também são comuns e estão associados a atividade de doença ou a efeito colateral de imunossupressores. Ressalta-se que a anemia hemolítica, contemplada pelo critério classificatório, está presente em apenas 10% dos casos. Trombocitopenia pode preceder em anos as outras manifestações, está presente em 1/3 dos pacientes e pode ser decorrente de atividade lúpica ou secundária a Síndrome Antifosfolípide. Em alguns pacientes com diagnóstico de LES podemos evidenciar a síndrome de Evans que consiste em anemia hemolítica associada à plaquetopenia. Na presença de pancitopenia deve-se estar atento a possibilidade de uma temível complicação associada à atividade de LES, a síndrome hemofagocítica. MANIFESTAÇÕES CARDÍOVASCULARES A manifestação cardíaca mais comum é a pericardite, com ou sem derrame. A miocardite também pode ocorrer e se apresenta clinicamente com sinais e sintomas de insuficiência cardíaca ou taquicardia persistente associado a elevação de enzimas musculares. Das alterações vasculares o Fenômeno de Raynaud está presente em 30% dos casos e se caracteriza por uma hiper-reatividade de arteríolas digitais após exposição ao frio e aspecto clínico trifásico: palidez, cianose e eritema. MANIFESTAÇÕES PULMONARES O acometimento pulmonar mais comum é a pleurite. Derrame pleural também é comum, possui característica de exsudato, glicose elevada e podem ser detectados células LE no líquido pleural. A pneumonite lúpica é rara e se manifesta com febre, tosse e infiltrados pulmonares. Uma complicação rara, porém Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? extremamente grave, é a hemorragia alveolar e deve ser suspeitada na presença de dispneia ou insuficiência respiratória associado a queda de hemoglobina e infiltrados pulmonares. Hipertensão arterial pulmonar também pode ocorrer mas é incomum. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS As queixas gastrointestinais mais comuns como dor abdominal e dispepsia são inespecíficas e podem estar relacionadas a evento adverso medicamentoso, monilíase, úlcera péptica, esofagite e outras causas não associadas a atividade lúpica. Em caso de peritonite deve-se descartar a presença de peritonite infecciosa e vasculite mesentérica, a última extremamente grave, com consequente infarto de alças intestinais. Pancreatite, hepatite, vasculite mesentérica, peritonite estéril e enteropatia perdedora de proteínas são manifestações associadas ao LES. MANIFESTAÇÕES RENAIS As manifestações renais estão presentes em até 74% dos indivíduos, geralmente ocorrem nos primeiros cinco anos de doença e são determinantes de pior prognóstico. Curiosamente quando estes pacientes evoluem para insuficiência renal dialítica, habitualmente melhoram as demais manifestações do LES e a recidiva renal em pacientes transplantados é extremamente rara, girando em torno de 3%. Negros e hispânicos tendem a ter doença renal mais grave do que brancos. Os glomérulos tendem a ser o principal alvo e a positividade do anti-dsDNA e queda de complemento estão associados a nefrite lúpica em atividade. A apresentação clínica é variável, desde alteração do sedimento urinário isoladamente até insuficiência renal aguda com urgência dialítica, por esse motivo o rastreamento de rotina com urina I e relação proteína/creatinina é tão importante. As lesões renais podem ser classificadas histologicamente em: mesangial mínima, mesangial proliferativa, proliferativa focal, proliferativa difusa e membranosa. Os padrões proliferativos (III e IV) tendem a se manifestar clinicamente com hematúria, proteinúria, leucocitúria, hipertensão, disfunção renal, positividade do anti-dsDNA e queda de complemento. Já a membranosa se apresenta com proteinúria, frequentemente nefrótica e complemento normal. Vale ressaltar que os depósitos imunes vistos a imunofluorescência apresentam padrão granular, diferente da glomerulonefrite das vasculites ANCA (imunofluorescência negativa) e Goodpasture (padrão linear). As indicações de biópsia renal são: proteinúria ≥ 500mg em 24 horas E presença de hematúria dismórfica ou cilindros hemáticos; proteinúria ≥ 1g em 24 horas; perda de função renal sem causa aparente. Na prática clínica nem sempre é possível realizar a biópsia renal e NÃO devemos ATRASAR o início do tratamento nesses casos. Outras manifestações renais menos comuns no LES incluem nefrite túbulo-intersticial, trombose de veia renal e microangiopatia trombótica. MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS A atividade lúpica neurológica pode ocorrer em qualquer época da doença e não acompanha necessariamente atividade sistêmica, podendo aparecer isoladamente. As manifestações neuropsiquiátricas atribuíveis ao LES podem ser classificadas em Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? sistema nervoso periférico ou sistema nervoso central. A fisiopatologia do acometimento neurológico é variada e a vasculite por si só é rara, sendo mais comum a vasculopatia não inflamatória, trombose, presença de antifosfolípides e anticorpos antineuronais. Cefaleia, transtorno de humor, psicose, distúrbio cognitivo e convulsões são os sintomas mais comuns e, nos casos de coreia, distúrbio cognitivo, mielite transversa e acidente cerebrovascular, deve-se pesquisar a presença de anticorpos antifosfolípides. O diagnóstico é muitas vezes desafiador pela falta de exames complementares que sejam específicos. No geral, o exame físico, análise liquórica, eletroencefalograma e ressonância magnética auxiliam, porém falta especificidade. A psicose e a depressão tem relação com anti-P. MANIFESTAÇÕES OCULARES A manifestação ocular mais comum é a ceratoconjuntivite seca e felizmente tende a ser leve. Já quadros graves como vasculite retiniana, uveíte e esclerite são menos comuns. Eventos adversos de tratamento como glaucoma e catarata pelo uso crônico de corticoide ou degeneração macular pelo uso de antimaláricos podem ocorrer. LÚPUS INDUZIDO POR DROGAS Trata-se de sinais e sintomas sugestivos de LES com início após o uso de medicamentos e que cessam após a suspensão destes. Os medicamentos mais associados ao lúpus farmacoinduzido são: hidralazina, procainamida, sulfonamidas, d- penicilamina, isoniazida, beta-agonista, anticonvulsivantes. A presença do autoanticorpo anti-histona também é temporária e está presente em 95-100% dos casos farmacoinduzidos. DIAGNÓSTICO ACHADOS LABORATORIAIS FAN O FAN (fator antinuclear) é realizado através de imunofluorescência indireta em células tumorais humanas Hep 2. Não é um teste específico e pode ser positivo em outras doenças reumatológicas, infecções, neoplasias e em indivíduos saudáveis. Está positivo em 99% dos pacientes com LES e os padrões característicos da doença são nuclear homogêneo e nuclear pontilhado grosso. Apesar de muitas vezes ser usado como um teste de triagem, existe LES FAN negativo (1%), em especial aqueles que já tiveram tratamento instituído e negativação do anti dsDNAou que apresentam lesões fotossensíveis e anti Ro positivo. Na presença de um FAN sugestivo, deve-se pesquisar os autoanticorpos relacionados ao padrão apresentado. Não é útil para seguimento. AUTOANTICORPOS Determinados autoanticorpos auxiliam no diagnóstico por serem mais específicos: anti dsDNA, anti Sm e anti-P. Outros autoanticorpos como anti Ro, anti La podem estar presentes mas não são específicos, estão associados ao lúpus neonatal, lúpus cutâneo subagudo e síndrome de Sjogren. O anti-dsDNA é o mais característico do LES, presente em 70% dos pacientes e relaciona-se com atividade sistêmica e nefrite lúpica. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? O anti-Sm é o mais específico de LES, presente em apenas 30% dos pacientes. Não possui associação com manifestação clínica específica. O anti-P tem valor diagnóstico e no acompanhamento da psicose lúpica, por estar relacionado com esta condição e períodos de atividade. Os antifosfolípides (anticardiolipina, anticoagulante lúpico e anti β2-glicoproteína) são frequentemente encontrados em pacientes com LES e estão associados a perdas gestacionais recorrentes, óbito neonatal e restrição de crescimento uterino, assim como fenômenos trombóticos arteriais e/ou venosos, síndrome esta chamada de antifosfolípide. COMPLEMENTO A via clássica do complemento é exaustivamente ativada no LES pela presença de anticorpos, sendo assim ocorre consumo de C3 e C4. O monitoramento dos níveis de complemento é importante no diagnóstico, seguimento dos pacientes e avaliação de atividade. Não se esqueça de que indivíduos que possuem deficiência intrínseca de complemento, especialmente de C1q e C4 são mais propensos a desenvolver LES. OUTROS A PCR (proteína C reativa), um importante reagente de fase aguda e que tem papel de monitorizar atividade de doença na artrite reumatoide e nas espondiloartrites, aqui em contrapartida não reflete atividade do LES e sua ascensão está associada a infecção concomitante. O hemograma é solicitado de rotina para pacientes com LES por trazer informações importantes como anemia, linfopenia e plaquetopenia, comuns na doença. Albumina sérica, relação proteína/creatinina em amostra isolada de urina, proteinúria 24 horas, pesquisa de dismorfismo eritrocitário e urina I são exames essenciais no rastreio da glomerulonefrite, uma vez ser na maioria das vezes assintomática, salvo casos avançados em que já há uremia e insuficiência renal. LES E GESTAÇÃO A gestação em pacientes lúpicas é sempre considerada de alto risco e está associada a maior incidência de prematuridade, retardo de crescimento intrauterino, hipertensão e diabetes gestacional. Dos imunossupressores os únicos liberados para uso são azatioprina, ciclosporina e tacrolimus. A hidroxicloroquina pode e deve ser usada na gestação, principalmente em paciente anti-Ro positivo, pelo risco de lúpus neonatal. TRATAMENTO MEDIDAS NÃO MEDICAMENTOSAS Das medidas não medicamentosas a mais importante é evitar a exposição a raios UV, por se tratar de fator de trigger e de piora de doença. Orienta-se o uso de chapéus, roupas de manga comprida e protetor solar mais de uma vez ao dia. Pacientes portadores de LES geralmente fazem uso prolongado de corticoides e deve- se estar atento a saúde óssea e risco de osteoporose induzida pelos glicocorticoides em pacientes usuários de doses ≥ 5mg de prednisona por mais de 3 meses. Sendo Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? assim, é aconselhável uma dieta rica em cálcio (1000mg/dia) e manutenção ou reposição dos níveis de vitamina D. Também devemos estimular a realização de atividade física tanto aeróbica quanto anaeróbica em pacientes com doença controlada, tanto pelo risco de miopatia induzida pelos glicocorticoides, como também pelo aumento de risco cardiovascular, uma vez se tratar de doença inflamatória sistêmica. Neste sentido, também é desencorajado o tabagismo e se estimula a perda de peso e uma dieta pobre em carboidratos e lipídios. Já pacientes com nefrite devem realizar dieta hipossódica. A anticoncepção e planejamento familiar costumam ser abordados rotineiramente por se tratar de uma doença que acomete principalmente mulheres em idade fértil e o tratamento, por sua vez, envolve medicações com potencial de teratogenicidade. No caso de doença ativa e uso de DMARDs teratogênicos orienta-se o uso de métodos de barreira e contraceptivo a base de progestágeno isolado via oral, injetável trimestral ou DIU. O uso de anticoncepcional combinado em geral é evitado principalmente em pacientes com antifosfolípides positivos, histórico de trombose e doença ativa. Vacinas a base de vírus morto como influenza e pneumocócica estão liberadas, mas vacinas a base de vírus vivo como sarampo e febre amarela não costumam ser liberadas em pacientes em uso de imunossupressores e sua indicação deve ser individualizada levando em conta risco/benefício, o reumatologista deve ser consultado. MEDICAMENTOSO A escolha do esquema terapêutico é individualizada e leva em consideração o sistema/órgão acometido e a gravidade. Glicocorticoides: são prescritos para todos os pacientes com doença ativa, pois são as únicas drogas capazes de controlar a atividade lúpica quase que instantaneamente. Sempre com a intenção de usar a mínima dose possível pelo menor tempo possível. A escolha da dose dependerá do tipo de acometimento e gravidade apresentado pelos pacientes. Em casos leves, por exemplo de quadro articular, é recomendável o uso de baixas doses (5 a 20 mg prednsiona/ dia), casos moderados 0,5mg/kg/dia e casos graves (nefrite proliferativa, sistema nervoso central) merecem pulsoterapia com metilprednisolona 1g ao dia por 3 dias, seguindo de prednisona 1mg/kg/dia. No caso de prescrição de pulsoterapia, orienta-se antes a profilaxia de estrongiloidíase disseminada, com ivermectina 12mg dose única. Hidroxicloroquina: indicada para todos os pacientes. Possui inúmeros benefícios, dentre eles: poupa corticoide, reduz risco de trombose, reduz flare da doença e melhora perfil lipídico. Não é considerada um imunossupressor, e sim um imunomoulador. A dose utilizada é de 5mg/kg/dia. Deve-se realizar acompanhamento oftalmológico regular para rastreio de maculopatia, seu principal efeito adverso. DMARDs: são imunossupressores usados como poupadores de corticoide. A escolha do imunossupressor depende do sistema/órgão acometido e a gravidade. O mais potente é a ciclofosfamida, um agente alquilante, usado nas manifestações mais graves (renal, sistema nervoso central) como terapia de indução, seus principais efeitos colaterais são citopenias, infertilidade e cistite hemorrágica, o último pode ser evitado com MESNA. Outros imunossupressores muito usados são: metotrexate (articular, Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? cutânea), azatioprina (renal, cutânea, sistema nervoso), micofenolato de mofetil (cutânea, renal, sistema nervoso). Os biológicos liberados para uso no LES são Belimumabe (anti Blys) e Rituximabe (anti CD-20). Ambos possuem indicação em casos graves e refratários. Suplementação de cálcio e vitamina D: ingestão de 1000mg de cálcio por dia e 800 a 1000UI/dia de Vitamina D, em pacientes usando corticoide cronicamente. Estatinas: aconselhado a prescrição se LDL ≥100. AAS: prescrito em casos de antifosfolípides positivos (ausência de manifestação clínica trombótica). Dose de 100mg ao dia. IECA e/ou BRA: recomendados como antiproteinúricos, adjuvantes no tratamento da nefrite lúpica. Meta PA<130X80mmhg. TRATAMENTO Desde 2018 a OMS preconiza mudança nos tratamentos de hanseníase visando aumentar a eficácia do tratamento. O Brasil não quis fazer a alteração até 2020, quando finalmente aceitou a mudança. Os tratamentos são supervisionados e agora mudam apenas no tempo detratamento: seis meses para paucibacilar e 12 meses para multibacilar. Os medicamentos são os mesmos, independentemente de ser paucibacilar ou multibacilar. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Os efeitos colaterais mais frequentes das medicações utilizadas no tratamento da hanseníase estão expostos no Quadro a seguir: ESTADOS REACIONAIS Os estados reacionais são reações do sistema imunológico do paciente ao M. leprae. Trata-se de um processo inflamatório agudo ou subagudo que pode ocorrer antes (abrindo o quadro), durante ou depois do fim do tratamento com a PQT. Pode ser desencadeado por vacinação, gestação/puerpério, infecções, medicamentos (iodeto de potássio, anticoncepcional oral) e estresse físico e/ou emocional, e é a principal causa de incapacidades e deformidades físicas. Os estados reacionais são classificados em dois tipos: reação tipo 1 ou Reação Reversa (RR) e reação tipo 2 ou eritema nodoso hansênico. Reação tipo 1 ou reação reversa Ocorre nos pacientes paucibacilares com frequência de 8 a 33% por um processo inflamatório desencadeado por hipersensibilidade tardia mediada por células. Relaciona-se com a resposta celular melhor que eles têm quanto aos multibacilares. Inicia-se, usualmente, nos primeiros seis meses de tratamento com a PQT e caracteriza-se por reagudizações de lesões preexistentes com novo aspecto eritematoinfiltrativo (erisipeliforme) e aparecimento abrupto de neurites (dor aguda e Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? espontânea) sem sintomas sistêmicos. Nervos comprometidos tornam-se intumescidos, com graus variáveis de dor, exacerbação da sensibilidade, local e/ou territorial, destacando-se o comprometimento dos sítios de predileção, como nervos ulnar, mediano, radial, tibial posterior e supraorbitário. Podem ocorrer edemas de mãos e pés, bem como surgimento agudo de “mão em garra” ou “pé caído”. O tratamento de escolha é o corticoide e é preconizada prednisona, de 1 a 2 mg/kg/d, até a melhora clínica ou a regressão do quadro, com redução de 5 a 10 mg a cada uma a duas semanas até a suspensão. Outros medicamentos de segunda linha podem ser usados, como ciclosporina e anti-inflamatórios não esteroides. Pode ser necessária a cirurgia descompressiva nos casos de abscesso de nervo. Como esses pacientes geralmente são paucibacilares, o teste de Mitsuda é positivo. O tratamento de reação tipo 1 é feito da seguinte maneira: • Iniciar prednisona na dose de 1 mg/kg/d ou dexametasona 0,15 mg/kg/d em casos de doentes hipertensos ou cardiopatas, conforme avaliação clínica; • Manter a poliquimioterapia se o doente ainda estiver em tratamento específico, não a reintroduzir em situação de alta; imobilizar o membro afetado em caso de neurite associada; • Avaliar a função neural sensitiva e motora antes do início da corticoterapia; • Reduzir a dose de corticoide conforme a resposta terapêutica; • Programar e realizar ações de prevenção de incapacidades. Reação tipo 2 ou eritema nodoso hansênico Ocorre em pacientes multibacilares, com frequência de aproximadamente 30%, podendo chegar a 50%, cujo mecanismo imunológico desencadeante é a formação e a deposição de imunocomplexos. Esses pacientes têm baixa resposta imunológica celular, ao contrário dos paucibacilares, e, por isso, o teste de Mitsuda é negativo. Pode ocorrer como primeira manifestação da doença, durante ou após o tratamento, e caracteriza-se por lesões novas com distribuição simétrica com aspecto de nódulos eritematosos dolorosos que podem evoluir para vesículas, pústulas, bolhas, úlceras e necrose. Além do quadro dermatológico, aparecem neurite aguda e sintomas sistêmicos como febre, astenia, mialgia, náuseas e artralgia, com acometimento de outros órgãos: edema de extremidade, iridociclite, epistaxe, orquite e linfadenite. A talidomida é o medicamento de escolha na dose de 100 a 400 mg/d, conforme a gravidade do quadro. Na impossibilidade do seu uso, prescrever prednisona na dose de 1 mg/kg peso/d, ou dexametasona na dose equivalente. Além disso, será preciso: • Manter a poliquimioterapia se o doente ainda estiver em tratamento específico e não a reintroduzir na situação de alta; • Associar corticosteroide em caso de comprometimento de nervos (bem definido após palpação e avaliação da função neural), segundo o esquema já referido; • Imobilizar o membro afetado em caso de neurite associada; • Monitorar a função neural sensitiva e motora; • Reduzir a dose da talidomida e/ou do corticoide conforme resposta terapêutica; • Programar e realizar ações de prevenção de incapacidades; • Na associação de talidomida e corticoide, usar ácido acetilsalicílico 100 mg/d como profilaxia para tromboembolismo. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Contraindicações da talidomida: em razão dos graves efeitos teratogênicos, a talidomida somente pode ser prescrita para mulheres em idade fértil após avaliação médica com exclusão de gravidez por meio de método sensível e mediante a comprovação de utilização de, no mínimo, dois métodos efetivos de contracepção para mulheres em uso de talidomida. Fenômeno de Lúcio Muitas vezes reconhecido como terceiro tipo de estado reacional. Ocorre necrose de arteríolas, com invasão maciça de M. leprae. É comum no México e na América Central, mas infrequente em outras regiões do mundo. Suas causas não são claramente definidas, mas a bacilemia em células endoteliais, associada a fenômenos trombóticos, é importante; entretanto, prováveis fatores imunológicos, como depósito de complexo imune em vasos da derme, genéticos, regionais e próprios do M. leprae são considerados como envolvidos na etiopatogenia dessa manifestação clínica. A presença do estado reacional não altera a conduta terapêutica com a PQT, ou seja, deve-se iniciar o tratamento do estado reacional e a PQT no caso de o estado reacional ter aberto o quadro de hanseníase; manter a PQT se o estado reacional surgir durante o tratamento; e não reiniciar a PQT se o estado reacional aparecer após o tratamento adequado. É importante diferenciar o estado reacional de um quadro de recidiva da hanseníase, conforme descrito no Quadro 11.7. No caso de recidiva, deve-se iniciar o tratamento com a PQT. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Quadro 10.9 - Diferenças entre reação reversa e eritema nodoso hansênico. HANSENÍASE E GRAVIDEZ As alterações hormonais da gravidez causam diminuição da imunidade celular, fundamental na defesa contra o Mycobacterium leprae. Portanto, é comum que os primeiros sinais de hanseníase, em uma pessoa já infectada, apareçam durante a gravidez e o puerpério, quando também podem ocorrer os estados reacionais e os episódios de recidivas. A gestação nas mulheres portadoras de hanseníase tende a apresentar poucas complicações, exceto pela anemia, comum em doenças crônicas. A gravidez e o aleitamento materno não contraindicam a administração dos esquemas de tratamento poliquimioterápico da hanseníase, que são seguros tanto para a mãe quanto para a criança. Algumas drogas são excretadas pelo leite, mas não causam efeitos adversos. Os recém-nascidos, porém, podem apresentar a pele hiperpigmentada pela clofazimina, ocorrendo a regressão gradual da pigmentação após a parada da PQT. 3. Elucidar o mecanismo de ação da rifampicina, dapsona e clofamizina. Rifampicina A rifampicina é um antibiótico semi-sintético, derivado da rifamicina, com atividade bactericida e de amplo espectro. Inibe o crescimento da maioria das bactérias gram- positivas e de numerosos microorganismos gram-negativos, como Escherichia coli, Pseudomonas, Proteus e Klebsiella. É altamente ativa contra Neisseria meningitidise Haemophilus influenzae. É ativa in vitro contra o Mycobacterium tuberculosis em concentrações de 0,005 a 0,2 µg/ml em meios semi-sintéticos. É também ativa contra cepas isoniazida-resistentes, e contra algumas micobactérias atípicas. Não há Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? resistência cruzada com outras drogas antimicobacterianas. É altamente ativa contra o M. leprae. Mecanismo de Ação: A rifampicina bloqueia a transcrição, inibindo a síntese de RNA. Inibe especificamente a RNA-polimerase-DNA-dependente (DDRP) da bactéria sensível, cessando a síntese de proteínas da célula bacteriana. Farmacocinética: Rifampicina é bem absorvida após administração oral, com melhor absorção em jejum, e distribuída pelos fluidos e tecidos do corpo, inclusive ossos, com biodisponibilidade próxima de 100%. Atravessa a barreira hematoencefálica e atinge boas concentrações em muitos órgãos e fluidos, incluindo o líquido cefalorraquidiano, exsudato de cavernas e líquido pleural. Meia-vida de 2,5 a 5 horas, mantendo concentrações terapeuticamente ativas no sangue por 12 a 16 horas, sendo maior em pacientes com obstrução biliar ou doença hepática. Cerca de 30% da dose oral é excretada na urina, mas a principal via de excreção é a bile. Parte desta excreção é reabsorvida pelo trato gastrointestinal. A droga pode conferir aos fluidos corporais cor de vermelho-amarronzada ou vermelho-alaranjada. Atravessa a barreira placentária, sendo secretada pelo leite materno. Não sofre acúmulo em pacientes com insuficiência renal. Indicações A rifampicina tem uso indicado na terapêutica de micobactérias (M. tuberculosis e M.leprae), gram (+) como estáfilos e estreptos, gram (-) como enterobactérias, meningococo, pseudomonas e hemófilos . Contraindicações A rifampicina é contraindicada para pacientes que possuem sensibilidade às rifampicinas, insuficiência renal grave e uso concomitante com contraceptivos orais ou fármacos hepatotóxicos. Os portadores de insuficiência hepática merecem atenção especial pelo risco de agravamento das condições do fígado. Efeitos adversos A rifampicina, em geral, costuma ser bem tolerada pelos pacientes. As reações adversas mais comuns incluem exantema, febre e náuseas e vômitos. O fármaco tem um grau relativamente importante de hepatotoxicidade e por isso, deve ser usado de maneira cautelosa em pacientes com doença hepática, alcoolistas e idosos devido ao aumento da incidência de disfunção hepática grave. Dapsona Dapsona é uma sulfona sintética, ativa contra o Mycobacterium leprae, M. tuberculosis e diversas outras espécies de micobactérias e contra o Pneumocystis carinii e Plasmodium sp. Pode mudar de cor com exposição à luz, sem alterações químicas. • Mecanismo de ação: Tem ação bacteriostática. Sua ação antibacteriana é inibida pelo ácido para-aminobenzóico (PABA) e por isso o mecanismo de ação parece ser similar às sulfonamidas que inibem a síntese do ácido fólico em organismos suscetíveis. Resistência do M. leprae pode se desenvolver durante o tratamento com dapsona, estimando-se que ocorra em 2 a 10% dos pacientes com lepra lepromatosa tratados com dapsona isoladamente durante muitos anos. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Farmacocinética: — Absorção completa após administração oral, com pico de concentração sérica em 2 a 8 horas. Distribuída na maioria dos tecidos e retida na pele, músculos, rins e fígado. Atravessa a placenta e é detectável no leite. — Meia-vida plasmática variável em 10 a 83 horas, com média em 20 a 30 horas. Metabolizada no fígado, excretada na urina e bile. Indicações Esse fármaco é indicado para um amplo espectro de bactérias gram-negativas e gram- positivas. Ainda, existe uma cobertura para alguns parasitas como plasmodium e toxoplasma spp. As principais doenças em que é utilizada a dapsona é na hanseníase e na dermatite herpetiforme. Outras doenças inflamatórias intestinais podem obter benefícios na sua utilização. Contraindicações A dapsona é contraindicada para pacientes que tenham hipersensibilidade a qualquer composto dessa medicação ou que tenham porfiria. Por mais que o fármaco cubra bactérias gram-positivas, ela não deve ser utilizada em faringites por infecção estreptocócica do grupo A. Ainda, é contraindicado para pacientes portadores de amiloidose renal avançada. Existem estudos controversos sobre o risco do uso da dapsona durante a gestação, no que diz respeito a causar ou não más formações fetais. Efeitos adversos Alguns efeitos adversos podem estar presentes ao uso desta medicação, sendo elas: • Febre; • Icterícia; • Palidez; • Manchas hemorrágicas; • Infecções de orofaringe; • Neutropenia e plaquetopenia. Ainda, exige bastante cautela nos pacientes portadores das seguintes doenças: • Doença cardíaca ou pulmonar; • Porfiria; • Deficiência de G6PD; • Diabetes descompensado; • Insuficiência hepática. Para evitar os efeitos adversos nesses pacientes, é necessário acompanhamento com alguns exames laboratoriais: • Hemograma; • Determinação de G6PD; • Função hepática e renal. Clofamizina Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Mecanismo de ação: A clofazimina exerce um efeito bactericida lento no Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen). A clofazimina inibe o crescimento micobacteriano e liga-se preferencialmente ao DNA da micobactéria. A clofazimina também atua na membrana celular micobacteriano, interferindo na cadeia respiratória e nos transportadores de íons, resultando em interferência no metabolismo de energia celular da micobactéria. A clofazimina exerce ainda atividade anti-inflamatória no tratamento das reações do eritema nodoso leproso, principalmente por meio da inibição da ativação e proliferação de linfócitos T. A clofazimina também pode interferir indiretamente na proliferação das células T, promovendo a liberação de prostaglandinas, especialmente de neutrófilos e monócitos. No entanto, seus mecanismos precisos de ação ainda não estão totalmente elucidados. Farmacocinética Absorção: Biodisponibilidade 45% a 62%, podendo aumentar quando o medicamento é administrado com alimentos. Pico de concentração plasmática 12 horas; de 1 a 6 horas em terapia crônica. Distribuição: Ligação a proteínas plasmáticas liga-se principalmente às beta- lipoproteínas séricas: saturáveis em concentrações plasmáticas de aproximadamente 10 mcg/ml. Solubilidade lipofílico, formando depósitos em tecidos adiposos e células do sistema retículo endotelial. Metabolismo: Inibidor da cyp2c8, cyp2d6 e cyp3a4/5. Eliminação: Meia-vida de eliminação: Aproximadamente 25 dias (intervalo: 6,5 a 160 dias) através das fezes, majoritariamente. Indicações: Indivíduos que apresentem um ou mais dos sinais cardinais, análise laboratorial ou dermatológica e/ou biópsia positivos para o diagnóstico de Hanseníase e que necessitam de poliquimioterapia (PQT): a) Lesão(ões) e/ou áreas da pele com alteração de sensibilidade; b) Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; e c) Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico. Contraindicações: Hipersensibilidade ao medicamento ou aos excipientes. Eventos adversos: As reações adversas graves são: obstrução abdominal, reações adversas gastrointestinais, prolongamento do QT, descoloração dos fluidos da pele e do corpo, outras reações da pele e efeitos psicológicos dessa descoloração da pele. As reações adversas com frequência de ocorrência maior que 1% são: pigmentação da pele em tom de rosa a preto acastanhado, ictiose, pele seca, erupção cutânea, prurido, dor abdominal epigástrica, diarreia, náusea, vômito, intolerância gastrointestinal, pigmentação conjuntival e corneana devido aos depósitos de cristaisde clofazimina nos olhos, olhos secos, irritação e coceira ocular, descoloração da urina e fezes, expectoração, aumento da glicemia, elevada taxa de sedimentação de eritrócitos, entre outros. 4. Entender o funcionamento da notificação compulsória para a hanseníase. Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? Doença infecciosa de notificação compulsória em todo o território nacional, de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, bacilo com predileção pela pele e nervos periféricos, caracterizada por manifestações clínicas típicas, tornando o seu diagnóstico simples, na maioria dos casos, porém, podendo ser confundida com outras neuropatias e dermatoses. A hanseníase figura entre as doenças de notificação compulsória pela sua magnitude, transcendência, por causar incapacidades e deformidades e por ser doença transmissível passível de tratamento e controle. A doença apresenta baixa vulnerabilidade pela inexistência de vacina específica, acometendo, sobretudo, adultos jovens, acarretando altos custos econômicos, tanto diretos, relacionados ao tratamento e à reabilitação, quanto indiretos, pela perda de anos produtivos, além do estigma social ainda associado à doença. 5. Compreender a prevenção da doença e os desafios do SUS para o controle da hanseníase. Prevenção A hanseníase é uma doença de notificação compulsória em todo o território nacional. As principais medidas de controle são o diagnóstico e o tratamento precoces e controle dos contatos íntimos, interrompendo o ciclo de transmissão da doença. Deve ser realizada a busca ativa de todos os contatos intradomiciliares que tenham residido ou residam com o caso-índice nos últimos 5 anos. A realização de BCG para contatos intradomiciliares teve mudanças indicadas pelo Ministério da Saúde em 2018 e não é mais recomendada a vacinação em contactantes. Desafios Os principais desafios para o controle da hanseníase no país são: a intensificação da vigilância epidemiológica nas áreas mais endêmicas, a manutenção de ações efetivas naquelas com estabilização da endemia, o fortalecimento da gestão descentralizada em estados e municípios, a garantia da atenção integral à pessoa com hanseníase e/ou às suas sequelas, a ampliação das ações de controle dentro de uma rede de cuidados Manifestações Externas Das Doenças Iatrogênicas SP 3.2 – E tem cura? (incluindo desde a atenção primária até a especializada, ambulatorial e hospitalar), a mobilização social e a ampliação de parcerias com as universidades, instituições científicas, entidades de classe profissionais e organizações não-governamentais, com a participação efetiva do controle social. Ver ainda: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_enfrentamento_hans eniase_2019.pdf https://www.gov.br/conitec/pt- br/midias/relatorios/2022/20220711_Relatorio_749_PCDT_da_Hanseniase_P67.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_enfrentamento_hanseniase_2019.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_enfrentamento_hanseniase_2019.pdf https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/2022/20220711_Relatorio_749_PCDT_da_Hanseniase_P67.pdf https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/2022/20220711_Relatorio_749_PCDT_da_Hanseniase_P67.pdf
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