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Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 37 3 Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria Introdução As políticas econômicas do pós Segunda Guerra Mundial trouxeram uma men- talidade para as empresas de uma visão estritamente econômica. Como consequên- cia desta maneira de visualizar os mercados e de produzir, tem-se gerado grandes impactos ambientais, tornando os recursos naturais escassos, inclusive muitas fontes de matérias primas para a própria indústria. Estes modos de produção têm gerado discussões e geraram reflexões e mudanças na sociedade com o surgimento de novos conceitos em relação à segurança no trabalho, proteção e defesa do consumidor, qua- lidade dos produtos e agravamento da degradação ambiental. Para abordar esta temá- tica, este capítulo irá discorrer sobre o sistema de gestão ambiental nas empresas, a série ISO 14 000 e as características dos processos de certificação e auditoria. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria 38 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 3.1 Sistema de gestão ambiental O meio ambiente é um bem de interesse difuso e da coletividade, pois os recursos na- turais como água, solo, biodiversidade são vitais para a sobrevivência de todas as formas de vida. Sendo assim, a discussão sobre como devem ser geridos os aspectos ambientais é fundamental na atualidade com uma demanda prioritária da integração entre o ambiente, economia e sociedade. A gestão ambiental tem uma ligação direta com o termo Ökologie (Ecologia) que provém do antigo vocábulo grego oikos que significa casa, lugar onde se habita. Os termos oikopoióse e oikonomos expressavam a ação de fazer habitável a casa ou a gestão da casa. O oikos na época da cultura clássica era a unidade básica de produção e satisfação das necessidades vitais do cotidiano, e o oikonomos (economia) estava vinculado com as regras de gestão dos bens ou rendimentos domésticos. Nas sociedades modernas, fazer gestão de- fine-se como a ação de dirigir, regular, governar, administrar. Neste contexto, gestão ambiental pode ser entendida como a ação de gerir o ambiente, sendo este compreendido pelos recursos naturais e pelas relações sociais. Estas relações po- dem se originar no trabalho ou em casa, ou ainda, serem ampliadas no âmbito dos bairros, cidades e regiões. Podem, ainda, envolver diferentes países, continentes, oceanos ou o pla- neta como um todo. Como exemplo de uma gestão global, é possível citar a Organização das Nações Unidas – ONU, que realiza diversas conferências de gestão ambiental, abordando as mudanças climáticas, biodiversidade, recursos genéticos etc. Um passo importante que a sociedade global deu no sentido da integração das questões econômicas, ambientais e sociais foi o documento produzido pela ONU em 1987 chamado “Nosso Futuro Comum” ou “Relatório de Brundtland”. Esse documento foi o alerta sobre os recursos naturais serem limitados e, portanto, termos que buscar meios de proporcionar o bem-estar das gerações futuras, mas sem ignorar as necessidades da geração atual que já sofre por causa das disparidades sociais. Este documento trouxe pela primeira vez o con- ceito de desenvolvimento sustentável que tem como objetivo integrar e compatibilizar o desenvolvimento econômico e social e a qualidade ambiental (CAVALCANTI, 2012). Depois da divulgação do Relatório de Brundtland, amplamente debatido na Conferência Internacional para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a chamada RIO 92, os sistemas de gestão ambiental como, por exemplo, as normas da série ISO 14 000, Certificação FSC, Global Reporting Initiative – GRI; ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial; Análise dos Indicadores Ethos e o CDP – Carbon Disclosure Project começaram a se desenvolver e têm crescido consideravelmente como uma opção de gestão das organizações produtivas para equilibrarem suas necessidades de recursos natu- rais, padronizando seus processos produtivos, visando reduzir custos de produção e melhor imagem perante os seus consumidores. O processo de implantação de um sistema de gestão ambiental em indústrias gera mu- danças significativas na cultura e estrutura destas empresas, transformando os modos ope- rantes e a mentalidade dos seus trabalhadores, gestores e consultores. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 39 Diante de um cenário competitivo e com consumidores mais críticos e exigentes com re- lação à qualidade dos produtos desde sua fase inicial de sua cadeia produtiva até o consumo final, as empresas têm a necessidade de reduzir os custos e adequar os produtos e processos de produção às necessidades do mercado, respeitando as questões ambientais. Como exem- plo, as empresas devem priorizar o manejo sustentável de recursos naturais, que são fontes de matérias primas, e também ter cuidados com a emissão de resíduos, sejam eles líquidos, sólidos ou gasosos. Desta forma, o consumo responsável se tornou um ato político que tem pressionado as empresas a modernizarem seus sistemas de gestão para que proporcionem maior qualidade de produtos, viabilizem e suportem inovações tecnológicas, contribuam com o desenvolvi- mento sustentável, garantam o aumento da competitividade e, consequentemente, da sua própria lucratividade. Na busca de atender o consumo mais criterioso e para o cumprimento de legislações específicas sobre meio ambiente, os sistemas de gestão ambiental têm sido uma das alterna- tivas amplamente implantadas nas empresas para alcançarem estes objetivos. Em função desta pressão para administrar melhor a questão ambiental, as empresas que implantam um sistema de gestão ambiental têm que mudar sua cultura com a formali- zação e padronização de novos procedimentos operacionais, além do incentivo ao monito- ramento e à melhoria contínua, possibilitando a redução da emissão de resíduos e o menor consumo de recursos naturais. Vale ressaltar que a melhoria contínua é uma estratégia de gestão aplicada com a utili- zação de métodos sistemáticos a serem incorporados por equipes multifuncionais e interdis- ciplinares de todos os setores da empresa. Permite uma avaliação rigorosa e criteriosa sobre os problemas crônicos que afetam os resultados, observando suas causas de origem e per- mitindo o desenvolvimento de planos de ação para a solução e adequação dos problemas. Gonzales (2011), citando Jager et al. (2004), sugerem um modelo para a prática da me- lhoria contínua que busca integrar entendimento, competências, habilidades e comprome- timento das pessoas no sistema de produção da empresa. Uma vez que o mercado está ficando mais competitivo, fazer inovações para o atendimento de novas tecnologias se faz importante para a sobrevivência de uma empresa, principalmente para atender os limites dos recursos naturais e necessidades humanas. Quadro 1 – Modelo para a prática da melhoria contínua nas empresas. Melhoria da organização Entendimento Competências Habilidades Comprometimento Buscar Qual método Potencialidades Pró atividade O que melhorar? Como melhorar? Requisitos para melhorar? Prontidão para melhorar? Fonte: Elaborado pelo autor. Os sistemas de gestão ambiental podem ser sintetizados como uma possibilidade de desenvolver, implementar, organizar, coordenar e monitorar as atividades organizacionais Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria 40 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 relacionadas ao meio ambiente, visando ao cumprimento de instrumentos legais como leis, decretos, portarias e normas emitidas pelos órgãos federais, estaduais e municipais (SANCHES, 2013). A incorporação desta cultura de gestão de empresas busca, além de contribuir com a responsabilidade social e com o cumprimento da legislação, identificar oportunidades de re- dução do uso de materiais e energia, melhor destino de resíduose melhorar a eficiência dos processos, reduzindo as pressões na demanda dos recursos naturais. Em alguns casos como, por exemplo, indústrias que usam água para arrefecer seus processos produtivos, situadas em polos industriais que possuem como características os recursos hídricos bem degrada- dos como Cubatão/SP e Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul, o tratamento de efluentes na própria indústria tem um resultado satisfatório na melhora da qualidade do resíduo líqui- do, que em muitas vezes possui condições bioquímicas melhores do que o captado no curso d’água antes da entrada no processo. Um sistema de gestão ambiental tem como objetivo fornecer às empresas instrumentos administrativos que permitem reduzir os danos ao meio ambiente, mas de modo que seus benefícios econômicos excedam aos custos de sua implantação. O sistema de gestão ambiental deverá ser baseado em uma política ambiental docu- mentada e conter os seguintes planos executivos. Quadro 2 – Planos executivos de um sistema de gestão ambiental (SGA). Indicador Ação Atendimento à le- gislação e processos administrativos Objetivos, métodos e um cronograma para aten- der aos requisitos ambientais e compromis- sos assumidos de forma voluntária. Procedimentos para manter a documentação adequada. Responsabilidades para cada tarefa e dis- ponibilidade de recursos. Ações corretivas, preventivas e procedimentos de emergência. Capacitação e Comunicação Plano de treinamento de funcionários com atualizações perió- dicas para definir metas do SGA, responsabilidades e riscos. Monitoramento do SGA Plano de auditoria periódica do desempenho da organi-zação e como o SGA ajudou a atingir esses objetivos Fonte: Elaborado pelo autor. Em um sistema de gestão ambiental é importante priorizar alguns fatores ambientais que normalmente são comuns a todos os empreendimentos e também possuem normas legais especificas de proteção. São eles. • Dejetos banais e perigosos; • Poluições do ar, da água, sonora e visual; • Consumo e economia de energia; • Conhecimento das fontes de matérias-primas; • Fauna e flora associadas à empresa. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 41 Dentro disto é possível estabelecer os principais objetivos de um sistema de gestão am- biental a ser buscado pela empresa, que estão apresentados no quadro 3. Quadro 3 – Principais objetivos de um sistema de gestão ambiental. Objetivos de um sistema de gestão ambiental Respeitar o direito ambiental; Controlar os riscos para a área; Controlar os custos dos dejetos; Melhorar o desempenho do sistema de gestão com a introdução de um novo ângulo crítico; Se diferenciar em relação à concorrência; Valorizar a imagem da empresa. Fonte: TEMPLUM. Adaptado. 3.2 Série ISO 14 000 A sigla ISO significa Organização Internacional para Normalização (International Organization for Standardization). Tem sua sede localizada em Genebra, Suíça, e foi fundada em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, com uma estratégia de reorganização e recons- trução econômica e produtiva dos países afetados pelas consequências desta guerra. O principal objetivo da ISO é desenvolver e promover, por meio de sistemas de ges- tão, normas e padrões que possam ser inseridos nas redes mundiais do setor econômico e produtivo e que busquem alinhar o consenso dos diferentes países do mundo de forma a fomentar e potencializar as relações comerciais internacionais. Na atualidade, 119 países são membros da ISO, e a representante do Brasil é a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT que trabalha com 180 comitês técnicos (CT) e cente- nas de subcomitês e grupos de trabalho nos aprimoramentos e validações das normas. Passados quase 50 anos das primeiras iniciativas sobre a implantação de normas de ges- tão ambiental – que teve sua primeira discussão na conferência das Nações Unidas realizada em Estocolmo (Suécia) no ano de 1972, em que se discutiu os limites do desenvolvimento com críticas severas aos modos desenvolvimentistas adotados e que vem sendo aplicados até a atualidade, percebeu-se que a implantação de um sistema de gestão ambiental não é algo simples e envolve critérios multifacetados dentro do campo econômico, social, ambien- tal, político, cultura e educacional. Foi a partir da Conferência das Nações Unidas, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a cha- mada “Rio 92” ou “Eco 92”, que a ONU priorizou o fomento a esta prática de gestão por todos os países, lançando a norma ISO 14 000 como uma meta a ser alcançada pelas empresas. A série ISO possui uma estrutura sistêmica e é regida por procedimentos e critérios, podendo destacar os seguintes: • Política ambiental sustentada pela diretoria executiva e por acionistas da empresa; Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria 42 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 • Diagnóstico e mapeamento dos aspectos socioambientais e dos impactos significa- tivos relativos à atividade da empresa; • Levantamento de legislação aplicável e cumprimento das mesmas; • Planejamento de objetivos e metas que sustentarão a cultura da certificação ambiental; • Estabelecimento de um programa de gestão ambiental na empresa; • Constante capacitação dos atores sociais envolvidos nos processos produtivos da empresa, visando ao conhecimento dos procedimentos e protocolos de gestão; • Execução de um plano de comunicação do sistema de gestão ambiental para todos os atores sociais envolvidos nos processos produtivos da empresa; • Elaboração de protocolos padronizados de monitoramento e controle operacional; • Elaboração de um plano de contingenciamento de emergências; • Diagnóstico e monitoramento dos significativos impactos ambientais gerados pela empresa; • Elaboração de protocolos padronizados para corrigir não conformidade; • Elaboração de protocolos padronizados para gerenciamento dos registros e ocorrências; • Estabelecimento de cronograma de auditorias e eventuais correções de procedimentos; • Monitoramento e replanejamento do sistema de gestão ambiental da empresa. Por fim, a ISO 14 000 traz para dentro da empresa um processo de gerenciamento ba- seado na melhoria contínua, garantindo redução ou mitigação dos impactos negativos re- lativos ao meio ambiente com ações executivas de comando e controle no âmbito da gestão ambiental da empresa. As normas ISO 14 000 tiveram sua elaboração por um comitê técnico da organização (ISO), que era constituído por inúmeros representantes dos países membros, e foram orga- nizados e elaborados na década de 90, entre 1993 e 1996. Todas as normas de certificação, sejam elas para qualquer área, passam por um processo de aquisição de experiências, em que são revistas as falhas em seus diferentes estágios de desenvolvimento. No Brasil elas foram traduzidas e adequadas para a legislação vigente pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e têm em média uma revisão sugerida pela ISO a cada cinco anos. Pressionado pelo incremento de sensibilização e conscientização ambiental do público após a Rio 92, ressaltando que este incremento pode ser verificado em quase todos os paí- ses por todos os continentes, o consumo se tornou um ato de cidadania e político exigindo melhoria na qualidade dos produtos associados com a redução dos impactos ambientais negativos gerados pelos processos produtivos. Neste contexto, a ISO 14 000 tem feito toda a diferença nos negócios de empresas que especialmente possuem mercados internacionais, deixando-as mais competitivas e em am- pla expansão de negócios. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 43 O consumidor começou a selecionar o que leva para sua casa, dando prioridade para os produtos que possuem certificados de qualidade, garantindo transparência nos processos produtivos com a proteção ambiental e busca da equabilidade social. Somado aisto, têm surgido inúmeros instrumentos legais nos âmbitos federais, estaduais e municipais que são pressionados por órgãos de financiamento internacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID com restrição a processos produtivos com potencial de degradação ambiental. Desta forma, um sistema como a ISO 14 000 que permite à empresa apresentar planos e executar ações em conformidade com a preservação dos recursos naturais, é fortalecido e amplamente apropriado por diversas empresas por todo o mundo. Em uma profunda revisão bibliográfica, Rieksti (2012) fez uma sistematização das nor- mas que fazem parte da ISO 14 000, orientando às empresas estabelecerem procedimentos administrativos de redução dos impactos ambientais em suas atividades produtivas. No quadro 4, está listado a relação das normas pertencente à família ISO 14 000 e seus objetivos. Quadro 4 – Relação das normas pertencente à família ISO 14 000 e seus objetivos. Norma Objetivo ISO 14 001 Trata dos principais requisitos para as empresas identifi- carem, controlarem e monitorarem seus aspectos ambien- tais, por meio de um sistema de gestão ambiental. ISO 14 004 Complementa a ISO 14001 provendo diretrizes adicionais para implantação de um sistema de gestão ambiental. ISO 14 005 Guia para a implementação em fases de um sistema de gestão am-biental para facilitar sua adoção por pequenas e médias empresas. ISO 14 006 Norma para ecodesign. ISO 14 020 Conjunto de normas que tratam de selos ambientais. ISO 14 031 Guia para avaliação de desempenho ambiental. ISO 14 033 Diretrizes e exemplos para compilar e comuni-car informações ambientais quantitativas. ISO 14 040 Conjunto de normas para conduzir análises de ci-clo de vida de produtos e serviços. ISO 14 045 Requisitos para análises de eco-eficiência. ISO 14 051 Norma para MFCA – Material Flow Cost Accounting, ou em tradução literal, contabilidade de custos dos fluxos de materiais, uma ferra- menta de gerenciamento que busca maximizar a utilização de recur- sos, principalmente em manufatura e processos de distribuição. ISO 14 063 Trata de comunicação ambiental por parte das empresas. ISO 14 064 Contabilização e verificação de emissões de gases de efeito es-tufa para suportar projetos de redução de emissões. ISO 14 065 Complementa a ISO 14064 especificando os requisitos para cer- tificar ou reconhecer instituições que farão validação ou verifica- ção da norma ISO 14064 ou outras especificações importantes. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria 44 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 Norma Objetivo ISO 14 066 Requisitos para as empresas que farão a validação e a ve-rificação de emissões de gases de efeito estufa. ISO 14 067 Norma para pegada de carbono em produtos, tratan- do de requisitos para contabilização e comunicação de emis- sões de gases de efeito estufa associados a produtos. ISO 14 069 Guia para as empresas calcularem a pegada de carbono em seus produtos, serviços e cadeia de fornecimento. Fonte: Elaborado pelo autor. 3.2.1 ISO 14 001 Dentro da série ISO 14 000, está a norma ISO 14 001, que é uma importante ferra- menta de gerenciamento das atividades das empresas que têm potencial de impactar os recursos naturais. Entre as características presentes na ISO 14 001 pode-se destacar o espírito compreen- sivo, da proatividade, do desenvolvimento do conceito de sistema e da aplicabilidade e proteção do meio ambiente. Quadro 5 – Principais características presentes na ISO 14 001. Característica Descrição Compreensiva Todos os membros da organização participam na proteção ambiental, envolvendo todos os atores sociais (os clientes, os funcionários, os acionistas, os fornecedores e a sociedade). Pro-atividade Foca na ação e no pensamento pró-ati- vo, em lugar de reação a comandos de co- mando e controle dos superiores. Desenvolve o conceito de sistema Adota um único sistema de gerenciamen- to permeando todas as funções da organiza- ção atingindo todos os seus departamentos. Proteção do meio ambiente São utilizados processos técnicos e de ges- tão para identificar todos os impactos am- bientais e propor soluções sistêmicas. Aplicabilidade É aplicável por diferentes áreas produtivas a qual- quer tipo de organização, industrial ou de serviço, de qualquer porte e de qualquer ramo de atividade. Fonte: Elaborado pelo autor. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 45 3.3 Certificação e auditoria 3.3.1 Auditoria Ambiental A auditoria ambiental, segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, através da Resolução 381 de 2006, consiste em um “processo sistemático de inspeção, análise e avaliação das condições gerais ou específicas de uma determinada empresa em relação a fontes de poluição, eficiência dos sistemas de controle de poluentes, riscos ambientais, le- gislação ambiental, relacionamento da empresa com a comunidade e órgão de controle, ou ainda do desempenho ambiental da empresa”. Dada a importância do tema, a referida resolução do Conama traz diretrizes aos pro- cedimentos de auditoria e padronização para as empresas que fazem este tipo de trabalho. Para os gestores das empresas, vale a atenção no processo de auditoria, pois ela não é uma simples avaliação em que se analisam diversos indicadores. Possui como característica a isonomia e independência dos profissionais que executam a auditoria na empresa, sendo rigorosamente analisados os itens de cada setor da empresa com a verificação de eventuais ocorrências de desacordo com as normas pré-estabelecidas no processo de certificação. O objetivo da auditoria ambiental, conforme a Resolução Conama 381/2006, deve conter um mínimo de conteúdo para ter a legitimidade que as normas de certificação impõem. No quadro 6, estão destacadas algumas delas. Quadro 6 – Principais objetivos da auditoria ambiental conforme a Resolução do Conama número 381 de 2006. Objetivo Descrição Conformidade legal Verifica se está sendo cumprida a legislação vi-gente em seus processos de produção. Desempenho ambiental Verifica se a empresa está em conformidade com as normas legais e regras específicas do setor produtivo quanto ao de- sempenho ambiental setorial, aplicáveis à unidade produtiva. Sistema de ges- tão ambiental Verifica por meio de indicadores se a empresa está com o sistema de gestão ambiental implantado e sua conformi- dade com as regras e normas do objeto de certificação. Desativação Verifica se uma empresa já desativada está provocan-do danos ao meio ambiente e à população do entorno. Responsabilidade ambiental Verifica se a empresa possui passivos ambientais e as suas responsabilidades de mitigação e compensação. Locais contaminados Verifica o nível de contaminação de um determinado local na área de influência direta das atividades produtivas da empresa. Gestão geral Verifica se a gestão dos recursos está sendo eficiente para o processo produtivo, para minimização da geração de resíduos, para o uso de energia e demais insumos. Fonte: Elaborado pelo autor. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria 46 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 A auditoria também possui algumas características específicas: pode ser do tipo inter- na, quando é efetuada para uso interno da empresa por membros da mesma ou mesmo por outra empresa contratada para avaliar os resultados do sistema; e também pode ser feita de forma externa, quando é efetuada por empresa externa de auditoria independente e que os resultados serão avaliados por terceiros. 3.3.2 Certificação no processo do ISO 14 000 A certificação é um processo em que uma empresa terceira de auditoria certifica que a empresa verificada está cumprindo as conformidades referenciadas das normas para deter- minado setor produtivo. Este procedimento deve ter o reconhecimento por um mecanismo chamado “acredita- ção”, que é deferidopelo poder público na esfera federal, em que atualmente o órgão acre- ditador é o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro. O processo de certificação é iniciado no momento em que a empresa declara estar apta por já desenvolver de maneira voluntária inúmeras ações de proteção ao meio ambiente, ou também quando for iniciar um novo projeto em que já é possível incorporar o sistema de gestão ambiental no processo. O tempo de duração de uma certificação é de 3 anos, sen- do que a cada 6 meses a empresa deve ser auditada para verificar o seu sistema de gestão ambiental, observando se ele está cumprindo aos requisitos da norma. No caso de existir alguma não conformidade com a norma, o certificado poderá não ser revalidado. É importante ressaltar que a certificação ambiental se tornou para a empresa uma im- portante ferramenta na busca de novos mercados consumidores a nível internacional, além de poder ser beneficiária de linhas de créditos monetários especiais pelas entidades finan- ceiras como os bancos que, com taxas de juros reduzidas para empresas certificadas, fomen- tam ainda mais este tipo de gestão. Somado a isto, está a legitimidade do produto junto ao consumidor que o diferencia e potencializa sua divulgação entre seus pares. Isto traz benefícios econômicos a curto, médio e longo prazo para as empresas, que, além de terem a possibilidade de aumento nas vendas, reduzirão o consumo de recursos naturais em seus processos produtivos, tornando a sua atividade socioambientalmente responsável. A obtenção da certificação ambiental está ligada diretamente com a definição de forma clara, objetiva e simples da política ambiental da empresa e o que deve ser atingido em ter- mos de meio-ambiente no resultado do trabalho de todos os seus funcionários. Uma vez implantado, o sistema de gestão ambiental, que contém uma série de regras e procedimentos, a obtenção ou mesmo a manutenção de uma certificação ambiental se dará pelas auditorias que vão monitorar por meio da verificação interna dos cumprimentos dos requisitos pré-estabelecidos e a cada seis meses via auditoria externa será oficializado e co- municado ao Inmetro das conformidades ou não. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 47 O selo de certificação poderá ser utilizado e vinculado nos programas de comunicação institucional abrangendo a produção de vídeos de divulgação de produtos ou da empresa, slogans de marketing e outras formas de comunicação com o consumidor. Além dos benefícios para a própria empresa, a incorporação de políticas de certificação am- biental tem possibilitado um grande avanço na conservação de recursos naturais como florestas, águas, solo, ar, isto associado com geração de trabalho, renda e respeito ao trabalhador. Na área florestal, por exemplo, a certificação está associada a um plano de manejo da paisa- gem produtiva, seja ela com florestas nativas ou plantadas de pinus ou eucalipto. Nas florestas nativas, o plano de manejo determina um limite de exploração sem comprometer os processos naturais de regeneração natural, o que tem fomentado uma floresta “em pé” gerar lucro. Na floresta plantada, é necessário que se recupere os cursos d’água, além de uma série de medidas de conservação do solo. Estas práticas têm causado impactos positivos na paisagem com maior proteção dos recursos naturais como a biodiversidade e a água (FSC, 2015). Nas áreas industriais, várias medidas que são obrigatórias para a obtenção da certifica- ção têm proporcionado uma significativa redução de resíduos para aterros, pelas práticas de redução, reuso e reciclagem, além do menor consumo de recursos hídricos que são reusados nos processos industriais e, quando descartados, atendem todos os padrões que são deter- minados pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Estas medidas têm levado à melhoria da qualidade das águas das microbacias onde estão instaladas as empresas – es- pecialmente as que têm potencial para causar impactos ambientais negativos. Ampliando seus conhecimentos Certificação e sustentabilidade ambiental: uma análise crítica (MARCOVITCH, 2012) As políticas ambientais ainda são apresentadas com um viés predomi- nantemente qualitativo, omitindo indicadores que quantifiquem a reali- dade a ser transformada e metas para alcançar objetivos. Vem se tornando quase uma conduta padrão nas declarações das Conferências das Partes o recurso às subjetividades do fraseado, em prejuízo de compromissos ou formas para cumpri-los. A Rio+20 saiu das manchetes para entrar na história. Deixou talvez um exemplo de mobilização dado pela sociedade civil e seus múltiplos grupos de representação. Do lado governamental, a herança foi menos exemplar. Chefes de Estado, apoiando-se na competência de seus diplo- matas, preferiram a busca de consenso, um novo nome para adiamento. Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria 48 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 Em lugar das métricas de sustentabilidade, a retórica inspirou na Cúpula do Rio a declaração final, sofridamente redigida. É sempre difícil aplacar as frustrações. Neste embate entre métricas verificáveis e jogos de palavras, a sociedade organizada vem escolhendo sempre o caminho da quantificação nas pro- postas. Orienta-se por indicadores, não por exortações. Os procedimentos que gera são muitas vezes imperfeitos, carecem de revisão ou novas meto- dologias, mas inegavelmente produzem eficácia maior que os discursos repetitivos. Uma leitura crítica e objetiva de informações dispersas em relatórios, livros, sítios digitais e outros meios de comunicação, revelou um cenário com as mais diversas métricas geradas em organizações sociais e adotadas por empresas em vários países. Todas relacionadas com o ambientalismo, um dos maiores legados éticos do século XX. Aqui, nos limites de uma introdução, busca-se atestar a consistência visível em tais indicadores, mas igualmente contribuir para o seu aperfeiçoamento, pois há notórias falhas a corrigir. Em contraponto ao apego da governança de Estado pelo artifício da elo- quência nas questões ambientais, a sociedade civil vem tentando for- mas verificáveis de controle nesta área. O leitor encontrará, nas páginas que se seguem, seis estudos numa direção de concretude, elaborados por pós-graduandos na disciplina Estratégias Empresariais e Mudanças Climáticas, ministradas pela FEA/USP durante o ano letivo de 2012.1 Aqui se comenta os conteúdos que foram escolhidos para esta publicação: “A Certificação FSC”; “ISO 14001 e a Sustentabilidade”; “Global Reporting Initiative – GRI”; “ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial”; “Análise dos Indicadores Ethos” e o “CDP –Carbon Disclosure Project”. O FSC, selo garantidor da origem florestal de madeiras nos mercados interno e externo, é administrado pela Forest Stewardship Council, uma organização não governamental focada na correta gestão das florestas do planeta, as quais, infelizmente, já ocupam o terceiro lugar entre os emis- sores mundiais de efeito estufa. Em tese, esta certificação garante que os produtos florestais à venda originaram-se de fontes responsavelmente geridas e que a checagem dos antecedentes foi feita em todas as respecti- vas cadeias de produção. A inabilidade governamental, em todos os países, para lidar com quei- madas e desmatamentos, provocou a criação desta poderosa ONG nos Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 49 Estados Unidos, em 1993. Foi uma consequência indireta das repercussões de matéria sobre degradação florestal publicada no The New York Times. A reportagem ocasionou a estruturação da Rainforest Alliance, que arre- gimentou milhares de associados e contribuiu, decisivamente, para o lan- çamento do FSC anos depois, vindo a ser a primeira certificadora acredi-tada pela nova organização. Vê-se, neste detalhe histórico, como se podem articular a imprensa livre e os movimentos sociais para suprir falhas da conduta dos Estados no enfrentamento dos danos ambientais. Não quer isto dizer, evidentemente, que as medidas da gestão privada sejam infalíveis ou acima de quaisquer ressalvas, pontos levantados mais adiante, com o destaque necessário. Antes, porém, fixemos as dimensões do mercado potencial do FSC e de outras organizações de perfil asseme- lhado, e também não governamentais. Somente o Brasil tem 477 milhões de hectares de floresta natural e 5,98 milhões de hectares em florestas plantadas, empregando em sua cadeia produtiva cerca de 9 milhões de pessoas. Para lidar com esta imensa fonte de produtos, o FSC é o segundo maior sistema de certificação do mundo, secundando o Programa para Reconhecimento dos Estoques de Certificação Florestal (PEFC, na sigla em inglês), que se volta para o apoio e melhoria de sistemas nacionais de certificação, como é o caso do Cerflor do Inmetro no Brasil. Mundialmente, o FSC contabiliza 152 milhões de hectares certificados contra 243 milhões com PEFC. Além destes dois, o ISO 14 001 também opera na área florestal. Outro importante aferidor da eficiência na gestão ambiental das empresas, o ISO 14 001, é objeto de análise no trabalho de Ana Carolina Riekstein. A norma vem sendo crescentemente adotada pelo setor privado. Já foram expedidos, em todo o mundo, cerca de 250 mil certificados, atestando que as empresas estudadas conseguiram montar um sistema de gestão ambiental conforme as suas prescrições. São benefícios principais das fer- ramentas previstas no ISO 14 001 a redução do uso de energia, matérias primas e lixos. A origem deste certificado ISO está na Rio 92, quando se formou um grupo voltado para fundamentação de procedimentos de gestão ambiental nas indústrias. O respectivo comitê surgiu no ano seguinte. Em 1993, esta norma ISO foi anunciada e publicada. Seis passos precedem a obtenção do certificado: desenvolver uma política ambiental; identificar as atividades que possuam interação com o meio ambiente; verificar requisitos legais e regulatórios; demonstrar prioridades da empresa e seus objetivos para Gestão Ambiental pelas normas da série ISO 14 000, certificação e auditoria 50 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 3 redução de impacto ambiental; ajustar a estrutura organizacional para tais objetivos, realizando treinamentos, devidamente comunicados e documen- tados; e checar, para eventual correção, o sistema de gestão ambiental. A certificação é obtida após a auditoria realizada por agências credencia- das no Inmetro e o primeiro prazo de validade estende-se por três anos, renovada mediante verificação. O ISO 14 001 pode ser decisivo para tra- zer vantagens competitivas, principalmente no caso de concorrências no exterior. No Brasil, esta certificação vem ampliando consideravelmente o seu espaço. Em 2010 o nosso país destacava-se entre os dez com maior aumento na obtenção destes instrumentos, chegando ao número de qua- tro mil, um recorde na América Latina. Atividades 1. Identifique na instituição em que estuda ou trabalha as seguintes questões do qua- dro abaixo, visando à implantação de um sistema de gestão ambiental. Melhoria da organização Entendimento Competências Habilidades Comprometimento Buscar Qual método Potencialidades Pró atividade O que melhorar? Como melhorar? Requisitos para melhorar? Prontidão para melhorar? Por meio de uma listagem, relacione as respostas, elabore um diagnóstico e apresen- te para os gestores do espaço estudado. 2. Identifique na instituição em que estuda ou trabalha se a instituição tem potencial de ser certificada pela norma ISO 14 001. Por meio do quadro abaixo descreva como são as características do local diagnosticado. Quadro: Principais características presentes na ISO 14 001. Característica Descrição Pontos a melhorar Compreensiva Pro-atividade Desenvolve o conceito de sistema Proteção do meio ambiente Aplicabilidade
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