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Direitos dos Imigrantes e Orientações para o Atendimento Direitos Específicos6 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2021 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Educação Continuada SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretor de Desenvolvimento Profissional Paulo Marques Coordenador-Geral de Produção Web Carlos Eduardo dos Santos Equipe responsável Ana Beatrice Neubauer de Moura (Revisora de texto, 2021). Ana Carla Gualberto Cardoso (Diagramação, 2020). Ana Paula Medeiros Araújo (Direção de arte, 2021). Gabriel Silvestre Marques Boere (Implementador Rise 360º, 2021). Ivan Lucas Alves Oliveira (Coordenador de produção, 2021). Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos - MMFDH (Conteudista, 2020). Patrick Oliveira Santos Coelho (Implementador Moodle, 2021). Priscila Campos (Coordenadora de desenvolvimento, 2020). Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT / Laboratório Latitude e Enap. Curso produzido em Brasília, 2021. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 1: Introdução: Além do trabalhador migrante ..................... 5 Unidade 2: Migração e direitos da criança ........................................ 6 Unidade 3: Migração e direitos das pessoas com deficiência ............. 9 Unidade 4: Migração e direitos indígenas ....................................... 10 Unidade 5: Migração e igualdade racial .......................................... 12 Unidade 6: Migração e direitos das mulheres ................................. 13 Unidade 7: Migração e direitos LGBTI+ ........................................... 15 Unidade 8: Migrantes idosos .......................................................... 16 Glossário ........................................................................................ 18 Referências ..................................................................................... 20 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Neste módulo, serão abordados os direitos específicos de alguns grupos de migrantes, tais como crianças, pessoas com deficiência, indígenas, mulheres, LGBTI+, idosos. Também será abordada a relação entre migração e igualdade racial. Todos esses direitos devem ser levados em conta na assistência a migrantes. Unidade 1: Introdução: Além do trabalhador migrante 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer as diferentes situações dentro do conjunto de trabalhadores migrantes. Por muito tempo, a palavra “imigrante” remetia principalmente à ideia do trabalhador que partia para buscar melhores oportunidades econômicas em outro país. Muitas vezes, ela ainda é retratada como se referindo apenas aos trabalhadores que buscam oportunidades laborais em outros países, às vezes inclusive descritos por uma falsa oposição aos refugiados. Muitos já terão ouvido a seguinte descrição: “o refugiado é obrigado a sair do seu país, enquanto o migrante sai buscando melhores oportunidades econômicas”. Isso é uma falsa oposição: as situações que levam as pessoas a migrar são muito variadas, e incluem por vezes a migração forçada, assim como a migração por busca de melhores oportunidades laborais, em meio a um grande leque de outras motivações e contextos. Destaque h, h, h, h, É também importante lembrar que a migração pode ter como pano de fundo diversas motivações que se interconectam entre si e, por isso, muitas vezes é difícil estabelecer uma diferença clara entre migrações forçadas ou não. Igualmente, dentro do conjunto de trabalhadores migrantes, uma série de situações diferentes podem coexistir: assim como o grupo de migrantes, também o grupo de trabalhadores migrantes é muito diverso. A nova Lei de Migração contempla esta complexidade de diferentes maneiras e ela também deve ser levada em conta no atendimento a migrantes. M ód ul o Direitos Específicos6 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 2: Migração e direitos da criança 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de relacionar a migração e os direitos da criança. Os direitos das crianças, incluídas as crianças migrantes, são objeto de um instrumento próprio de direitos humanos: A Convenção dos Direitos da Criança (CDC), de 1989, que é o instrumento internacional de direitos humanos mais ratificado a nível mundial, ou seja, com o maior número de Estados que aderiram a ela. No Brasil, a Convenção inspirou a redação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é a referência para os direitos da criança na legislação nacional. A Convenção define uma criança como “todo ser humano menor de dezoito anos, a não ser que, pela lei aplicável à criança, a maioridade seja atingida antes” (artigo 1º). No ECA, “considera- se criança, para efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade” (artigo 2º). Ambos reconhecem a criança como sujeito de direitos e protegem todas as crianças, sem distinção alguma de nacionalidade ou condição migratória. Agora, assista ao Vídeo "A Viagem de Kahuany". Fonte: OIM. Em todas as questões relacionadas às crianças migrantes, é preciso ter em consideração primordial a sua condição de criança. O marco normativo e institucional de proteção à infância tem sempre prioridade em relação a outros marcos normativos, por exemplo, a legislação migratória. A Convenção conta com quatro princípios orientadores que, além de serem direitos definidos em artigos específicos, são transversais à interpretação de todos os temas relacionados aos direitos da criança. São eles: + O superior interesse da criança • Deve ser encarado como um direito substantivo da criança que o seu superior interesse seja uma consideração primordial em todos os assuntos que lhe digam respeito; • Ao mesmo tempo, é também um princípio interpretativo, o que implica que sempre se deve escolher a interpretação que satisfaça o maior interesse da criança; • Igualmente, é uma norma de procedimento, ou seja, todos os processos de tomada de decisões devem incluir uma avaliação das possíveis repercussões para a criança, sem prejuízo das garantias processuais. https://youtu.be/SjhpADTbvzs 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública + A não discriminação • Os direitos de todas as crianças devem ser respeitados e assegurados sem discriminação de nenhum tipo, incluindo por raça/cor, religião, gênero, idioma, opinião política, nacionalidade, origem, classe social, nacionalidade, situação migratória, estrutura familiar, entre muitos outros exemplos. • A responsabilidade dos Estados pelos direitos das crianças abarca todas as crianças na sua jurisdição, independente de nacionalidade ou situação migratória. • A não discriminação se refere à criança e também se amplia a seus pais, representantes legais e membros da família. + O direito à vida, à sobrevivência e ao desenvolvimento • Todas as crianças têm o direito a estar vivas, a sobreviver e a se desenvolver da melhor maneira possível. • Esse direito e princípio é de particular importância, no caso das crianças migrantes, na garantia do seu acesso ao território e permanência, em particular no que diz respeito ao princípio de não devolução. • Ele está também relacionado ao acesso a necessidades básicas como a saúde, o abrigamento, a alimentação, entre outros. + O direito a ser escutada • O direito a ser escutada é ao mesmo tempo individual e coletivo, ou seja, de cada criança e do conjunto de crianças. • É um processo participativo, e não um ato pontual. Portanto, implica o desenvolvimento de mecanismos de escuta e participação das crianças nos assuntos que sejam relevantes para elas. • Deve levar em consideração,reconhecer e respeitar as formas de comunicação próprias das crianças, inclusive as não verbais, por exemplo, as brincadeiras, a linguagem corporal e facial, o desenho, a pintura, o teatro e qualquer outra maneira que possa ser usada pela criança para expressar compreensão e opinião. • Há a obrigação de proteger a criança de eventuais consequências negativas que possam se derivar da expressão da sua opinião e narrativas. • Deve ocorrer em ambiente amigável para a criança. Por serem transversais a todos os temas relacionados aos direitos da criança, os quatro princípios também devem orientar a interpretação dos direitos da criança migrante, incluídas neste conceito todas as pessoas menores de 18 anos. O superior interesse da criança tem como objetivo assegurar a garantia de todos os direitos previstos na Convenção, além do desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral, psicológico e social da criança. Assim, a interpretação dada ao superior interesse não deve resultar em um obstáculo ao acesso aos outros direitos da criança. 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A Lei de Migração inclui a proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante como um dos seus princípios (artigo 3º, inciso XVII). Esse princípio é também mencionado ao estabelecer que uma criança ou adolescente migrante separado ou desacompanhado só poderá ser devolvida ao seu país de origem ou a um terceiro país se a devolução se mostrar favorável à garantia dos seus direitos. Um dos grandes desafios suscitados pela proteção dos direitos da criança é a compreensão da criança como sujeito de direitos, e não apenas como dependente dos pais, ou seja, os direitos da criança não são uma extensão ou continuação dos direitos dos pais. Assim, a criança migrante também tem garantidos os seus direitos humanos, os seus direitos enquanto criança e os seus direitos enquanto migrante. Agora assista ao Vídeo: “Quero começar minha vida novamente”: usar crianças-soldado é crime. Fonte: ONU Brasil, 20/05/2019. A criança e o adolescente podem fazer pedidos de refúgio independentes e têm direito a ter os seus pedidos considerados, levando em consideração a sua condição de criança. Crianças que estão sob ameaça de recrutamento para conflitos armados podem pedir refúgio no Brasil, mesmo que o recrutamento seja feito por grupos paraestatais. A criança migrante que se encontre em situação de risco para a sua integridade física ou emocional requer proteção toda vez que: • Manifeste ter sido vítima de violência ou apresente lesões físicas visíveis ou dano psicológico que possam indicar situações de violência; • Manifeste necessitar e não estar recebendo algum tipo de atenção em saúde, inclusive se o trajeto migratório foi longo e arriscado para a sua integridade física e psíquica; • Manifeste ou mostre sinais de estar desarraigada, sem comunicação ou sem recursos e querer reunir-se com sua família; e • Manifeste ou mostre sinais de precisar de outros tipos de proteção. https://youtu.be/iiSttg-LENo https://youtu.be/iiSttg-LENo 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 3: Migração e direitos das pessoas com deficiência 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de relacionar a migração e os direitos das pessoas com deficiência. No Brasil, as pessoas com deficiência possuem plena capacidade legal, de maneira que podem realizar todos procedimentos relativos à regularização migratória em condições de igualdade e sem discriminação alguma. Elas são, ainda, protegidas pela Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Pessoas imigrantes com deficiência podem também acessar todas as políticas públicas de inclusão social da pessoa com deficiência. Aquelas que cumpram os requisitos podem acessar o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015): Art. 2º. Consideram-se pessoas com deficiência aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Para os imigrantes com deficiência, o processo migratório pode ser particularmente desafiador, especialmente em contextos de migração forçada. Por vezes, a deficiência pode ser consequência de eventos que acontecem ao longo do processo migratório, como acidentes ou doenças. Pessoas com deficiência podem estar mais vulneráveis ao abuso e à exploração durante o processo migratório; elas também sofrem com o risco de ser excluídas do acesso a serviços, particularmente em contextos de crise, se não houver uma consideração adequada aos aspectos de acessibilidade, visando à redução das barreiras ao acesso dos imigrantes com deficiência aos serviços. Igualmente, é importante notar que, para alguns imigrantes, viver com uma deficiência pode ser uma importante motivação para migrar: por exemplo, para obter serviços médicos ou de reabilitação aos quais não têm acesso no seu país de origem ou para participar em um mercado laboral que possa ser mais inclusivo, entre muitos outros motivos. 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 4: Migração e direitos indígenas 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de relacionar a migração e os direitos indígenas. Os direitos dos povos indígenas no Brasil são garantidos pela Constituição Federal, pelo Decreto nº 5.051/2004, que promulga integralmente no Brasil a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Lei nº 6.001/1973 conhecida como Estatuto do Índio. A legislação brasileira reconhece o princípio da não discriminação e, também, o direito dos povos indígenas à livre escolha dos seus meios de vida e subsistência, além do acesso à educação, saúde, justiça, assistência social e demais serviços. Destaque h, h, h, h, Segundo a Funai (s.d.), no Brasil, os critérios utilizados para a definição de indígena se baseiam em dois elementos principais: A autodeclaração e a consciência da sua identidade indígena. O reconhecimento dessa identidade por parte do grupo de origem. Os povos indígenas transfronteiriços são os que habitam territórios atravessados pelos limites dos Estados nacionais e cuja mobilidade, ainda que cruze fronteiras internacionais, se produz dentro de áreas territoriais ancestrais, dentro das fronteiras étnicas onde esses povos exerceram e exercem o direito consuetudinário. Os povos indígenas são protegidos por instrumentos específicos, tais como a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, a Declaração sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias, a Convenção nº 169 da OIT e a Convenção Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Neles, destacam-se o respeito ao caráter pluricultural dos povos indígenas, o reconhecimento da sua personalidade jurídica, o direito a manter os seus sistemas específicos de família e organização social, e o direito à sua cultura, idioma e tradições. Destaque h, h, h, h, Nenhum dos direitos dos imigrantes no Brasil está restrito a não indígenas. Indígenas migrantes devem ter seus direitos fundamentais protegidos pela legislação migratória e pela legislação indigenista. Um desafio importante é a superação de visões assimilacionistas que, embora ultrapassadas pela Constituição Federal, podem continuar a fazer parte do imaginário social brasileiro. Como apontado no estudo Aspectos jurídicos da atenção aos indígenas migrantes da Venezuela para o Brasil (2018), ao pensar o acolhimento, atendimento e acompanhamento dos fluxos 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública migratórios indígenas, a proteção da identidade indígena e o direito à autonomia devem ser entendidos como direitos fundamentais, no sentido de garantir o respeito às formas diferenciadas de vida e organização de cadapovo indígena, assim como o esforço para superar visões, ideários e práticas assimilacionistas. Síntese das recomendações na assistência a indígenas migrantes. Yamada e Torelly (2018). OIM. Aspectos jurídicos da atenção aos indígenas migrantes da Venezuela para o Brasil. Disponível em: <https://publications.iom.int/books/aspectos-juridicos-da- atencao-aos-indigenas-migrantes-da-venezuela-para-o-brasil>. https://publications.iom.int/books/aspectos-juridicos-da-atencao-aos-indigenas-migrantes-da-venezuela-para-o-brasil https://publications.iom.int/books/aspectos-juridicos-da-atencao-aos-indigenas-migrantes-da-venezuela-para-o-brasil 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 5: Migração e igualdade racial 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de relacionar a migração e igualdade racial. Migrantes podem se encontrar particularmente expostos à discriminação, seja por dinâmicas de opressão relacionadas à sua raça, cor, etnia, religião ou origem. O racismo, assim como todas as formas de discriminação, é um dos fatores estruturais que podem contribuir para a vulnerabilidade em contexto migratório. Segundo a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial: Destaque h, h, h, h, Qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência, origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano (em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública. No Brasil, a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Decreto nº 4.886/2003) pressupõe que o combate às desigualdades raciais e a promoção da igualdade racial devem ser considerados no conjunto das políticas de governo, incluindo, portanto, a migração. A PNPIR reconhece o peso do racismo contra a população negra e afrodescendente no Brasil, enfocando esforços na superação do racismo contra esse grupo. As ações de proteção contra o racismo, as ações afirmativas para a efetivação da igualdade de oportunidades e as políticas de promoção da igualdade racial podem ser acessadas também pela população imigrante, em especial pela população imigrante negra e indígena. 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 6: Migração e direitos das mulheres 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de relacionar a migração e os direitos das mulheres. As mulheres compõem cerca de 48% do total de migrantes internacionais no mundo (UN, 2019). Mulheres migram sozinhas ou acompanhadas de suas famílias, por muitos motivos, incluindo a busca de condições de vida mais igualitárias ou para escapar de violações dos seus direitos humanos nos países de origem (Global Forum on Migration and Development, 2017). Gráfico com a proporção de homens e mulheres entre migrantes internacionais. Fonte: OIM (2019). “World Migration Report 2020”. Disponível em: https:// publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf. As violações dos direitos humanos das mulheres no país de origem podem dar origem a uma reivindicação de proteção internacional como refugiada, já que pode ser considerada perseguição por pertencimento a um determinado grupo social. As mulheres e as meninas migrantes podem estar mais expostas à discriminação, à violência, ao tráfico de pessoas e ao abuso sexual durante o ciclo migratório. Assim como ocorre nos demais casos, todos os direitos garantidos às mulheres no Brasil protegem também as mulheres imigrantes. Ou seja, elas têm acesso a todas as políticas públicas intersetoriais que buscam promover a igualdade, implementar oportunidades de projeção econômica e social e garantir proteção contra a violência. Igualmente, as mulheres e as meninas imigrantes têm direito a acessar os serviços públicos https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública de saúde caso queiram recorrer às hipóteses de interrupção de gravidez admitidas no Direito brasileiro: gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher ou anencefalia do feto. Uma vez que a legislação pode variar entre países, a mulher imigrante que relate a necessidade de buscar esse serviço de saúde deve ser informada das hipóteses existentes segundo o Direito brasileiro. 15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 7: Migração e direitos LGBTI+ 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de relacionar a migração e os direitos LGBTI+. As pessoas LGBTI+ no Brasil têm garantidas uma série de direitos e proteções sociais, que também incluem as pessoas imigrantes sem discriminação alguma em razão da sua nacionalidade ou situação migratória. Em diversas ocasiões, o STF já se pronunciou no sentido de reforçar que ninguém pode sofrer restrições aos seus direitos por causa da orientação sexual. Nesse contexto, a Lei de Migração é clara ao estipular que as proteções e garantias relativas à reunião familiar protegem a cônjuges e companheiros sem discriminação alguma, incluindo, portanto, todas as famílias de maneira igualitária. O direito ao uso do nome social está garantido nos documentos da administração federal, incluindo a CRNM. O sistema utilizado pela Polícia Federal (SISMIGRA) está adaptado à garantia desse direito e permite a realização do agendamento utilizando o nome social. A violação dos direitos humanos das pessoas LGBT no país de origem pode ser uma importante motivação que as leva a migrar. Atualmente, as relações consensuais entre pessoas do mesmo sexo são criminalizadas em 72 países, incluindo diversas formas de perseguição como prisão, punições corporais e inclusive pena de morte (ACNUR, 2018). Essas perseguições podem ocorrer pelo Estado ou de parte de grupos paraestatais. Destaque h, h, h, h, Segundo um levantamento realizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Brasil recebeu ao menos 369 solicitações de refúgio motivadas pela perseguição por orientação sexual, tendo deferido a maioria (143) das cerca de 170 que foram analisadas (ACNUR, 2018). Isto permite dizer que o país tem um histórico sólido de reconhecimento da necessidade de proteção internacional de pessoas com um fundamentado temor de perseguição devido à sua orientação sexual ou identidade de gênero. 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 8: Migrantes idosos 🎯 Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você será capaz de identificar os direitos dos migrantes idosos. A migração de pessoas idosas, segundo alguns autores, pode ser pensada em relação com as fases do ciclo de vida e as necessidades específicas das pessoas idosas (Campos e Barbieri, 2013). Estas podem incluir, por exemplo, a migração após a aposentadoria, a migração para reunir-se com familiares que haviam migrado antes ou a migração motivada pela busca do acesso a serviços de saúde que podem estar indisponíveis ou ser de mais difícil acesso no local de origem. Por outro lado, os migrantes idosos podem também ser pessoas que migraram em fases anteriores da vida e vivem o processo de envelhecimento no país de destino. Cabe ainda mencionar que a migração pode ser um projeto familiar intergeracional; por vezes, migrantes em idade ativa se estabelecem primeiro em um lugar, para depois trazer os seus pais idosos e/ou filhos pequenos. Assim, em muitos casos, os avós e netos ou netas migram juntos em um momento posterior, para reunir-se com seus familiares. Isto pode criar situações particulares em termos de guarda das crianças, que podem estar temporária ou definitivamente sob a responsabilidade dos avós. Destaque h, h, h, h, Os imigrantes idosos no Brasiltêm acesso aos direitos garantidos aos idosos brasileiros, tais como o acesso a bens culturais e às políticas de integração na comunidade, a proteção contra a discriminação, o direito ao acesso ao transporte público, o atendimento preferencial nos estabelecimentos públicos, comerciais, de prestação de serviços, entre outros. As pessoas imigrantes idosas residentes no Brasil têm direito ao acesso ao Benefício de Prestação Continuada, à Aposentadoria e à Aposentadoria Rural, sempre que cumprirem os requisitos de cada benefício. Pessoas idosas que tenham exercido sua profissão no Brasil e desejem retornar aos seus países de origem podem se beneficiar dos acordos internacionais em matéria de previdência social que o Brasil mantém com diversos países. Entre eles, se incluem os acordos Iberoamericano (do qual são parte a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, El Salvador, Equador, Espanha, Paraguai, Peru, Portugal, e Uruguai) e do Mercosul (do qual são parte a Argentina, Paraguai e Uruguai), ambos multilaterais. O Brasil tem ainda acordos bilaterais em matéria de previdência com a Alemanha, Bélgica, Cabo Verde, Canadá, Chile, Coreia, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Itália, Japão, Luxemburgo e Portugal. Esses acordos incluem tanto os segurados quanto os seus dependentes e, no geral, cobrem: 17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Aposentadoria por invalidez; • Prestações decorrentes por acidente de trabalho e doenças profissionais; • Aposentadoria por tempo de serviço; • Aposentadoria por idade; • Pensão por morte; e • Reabilitação profissional. A pessoa imigrante idosa que queira retornar ao seu país de origem, inclusive beneficiando-se de um dos acordos internacionais em matéria de previdência, pode também solicitar assistência para o retorno e a reintegração voluntária, como mencionamos. Esse apoio pode ser buscado nas representações consulares do país de origem ou em organizações internacionais, como a OIM. 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Glossário + Adolescente Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, adolescente é a pessoa entre 12 anos e 18 anos de idade. Uma vez que o Brasil é parte da Convenção dos Direitos da Criança, a definição da Convenção também se aplica ao Brasil, de maneira que os adolescentes também estão protegidos pela Convenção. + Assimilacionismo O assimilacionismo é uma política de perspectiva unidirecional de integração por meio da qual um grupo social ou étnico – geralmente uma minoria – adota as práticas culturais de outra – geralmente do grupo étnico ou social maioritário. Assimilacionismo envolve a absorção da língua, tradições, valores, moral e comportamento, geralmente levando a parte assimilada a se tornar menos distinguível socialmente em relação às outras partes da sociedade (Glossário OIM, 2019). + Criança A Convenção dos Direitos da Criança define uma criança como todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que pela lei aplicável a maioridade seja atingida antes. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, criança é a pessoa de 12 anos de idade incompletos. + Indígena De acordo com a Convenção nº 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais, povos indígenas são: a) povos tribais em países independentes, cujas condições sociais, culturais e econômicas os distingam de outros setores da coletividade nacional, e que estejam regidos, total ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou por legislação especial; b) povos em países independentes, considerados indígenas pelo fato de descenderem de populações que habitavam o país ou uma região geográfica pertencente ao país na época da conquista ou da colonização ou do estabelecimento das atuais fronteiras estatais e que, seja qual for sua situação jurídica, conservam todas as suas próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte delas. Na legislação brasileira, é todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem de outros setores da coletividade nacional. Os critérios utilizados consistem na autodeclaração e consciência de sua identidade indígena, somada ao reconhecimento dessa identidade por parte do grupo de origem. 19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública + LGBTI+ Um acrônimo para as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersex. + Pessoa com deficiência Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Referências ACNUR — ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS REFUGIADOS. Perfil das solicitações de refúgio relacionadas à orientação sexual e à identidade de gênero (OSIG). 2018. Disponível em: <https://datastudio.google.com/u/0/reporting/11eabzin2AXUDzK6_BMRmo- bAIL8rrYcY/page/1KIU>. Acessado em: 9 de nov. de 2020. CAMPOS, M. B.; BARBIERI, A. F. Considerações teóricas sobre as migrações de idosos. Revista Brasileira de Estudos de População, Rio de Janeiro, v. 30, 2013. GFMD. Global Forum on Migration and Development. Rights of migrant women: a child rights perspective. Child rights Bridging Paper, 2017. IPPDH. Instituto de Políticas Públicas e Direitos Humanos. Protección de niños, niñas y adolescentes en contextos de migración. Buenos Aires, 2019. QUAIS os critérios utilizados para a definição de indígena? Fundação Nacional do Índio. (s.d.) Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/todos-ouvidoria/23-perguntas- frequentes/97-pergunta-3. Acesso em: 18 jan. 2020. UN. United Nations. International migrant stock 2019. Department of Economic and Social Affairs, 2019. YAMADA, E.; TORELLY, M. (orgs.). Aspectos jurídicos da atenção aos indígenas migrantes da Venezuela para o Brasil. Brasília: OIM, 2018. Disponível em: <https://publications.iom.int/books/ aspectos-juridicos-da-atencao-aos-indigenas-migrantes-da-venezuela-para-o-brasil>. Acessado em: 9 de nov. de 2020. https://datastudio.google.com/u/0/reporting/11eabzin2AXUDzK6_BMRmo-bAIL8rrYcY/page/1KIU https://datastudio.google.com/u/0/reporting/11eabzin2AXUDzK6_BMRmo-bAIL8rrYcY/page/1KIU http://www.funai.gov.br/index.php/todos-ouvidoria/23-perguntas-frequentes/97-pergunta-3 http://www.funai.gov.br/index.php/todos-ouvidoria/23-perguntas-frequentes/97-pergunta-3 Unidade 1: Introdução: Além do trabalhador migrante Unidade 2: Migração e direitos da criança Unidade 3: Migração e direitos das pessoas com deficiência Unidade 4: Migração e direitos indígenas Unidade 5: Migração e igualdade racial Unidade 6: Migração e direitos das mulheres Unidade 7: Migração e direitos LGBTI+ Unidade 8: Migrantes idosos Glossário Referências
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