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■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ As autoras deste livro e a EDITORA ROCA empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelas autoras até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Adicionalmente, os leitores podem buscar por possíveis atualizações da obra em http://gen- io.grupogen.com.br. As autoras e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2014 pela EDITORA ROCA Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Rua Dona Brígida, 701 – Vila Mariana São Paulo – SP – CEP 04111-081 Tel.: (11) 5080-0770 www.grupogen.com.br | editorial.saude@grupogen.com.br Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da EDITORA ROCA LTDA. Capa: Paulo Vermelho Produção Digital: Geethik Ficha catalográfica G157e Galisa, Mônica Santiago, 1967- Educação alimentar e nutricional : da teoria à prática/Mônica Santiago Galisa ... [et.al.] – 1. ed. – Vila Mariana, SP : Roca, 2014. il. ISBN 978-85-277-2574-3 1. Nutrição. 2. Saúde – Aspectos nutricionais. 3. Hábitos alimentares. 4. Qualidade de vida. I. Título. 14-11851 CDD: 613.2 CDU: 613.2 Colaboradores Adriana Garcia Peloggia de Castro Nutricionista. Doutora em Nutrição em Saú-de Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Saúde Pública pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Gestão da Qualidade pela Universidade São Judas Tadeu. Docente dos cursos de Graduação, Pós-graduação e Mestrado profissional do Centro Universitário São Camilo. Andréa Lorenzi Berni Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Mestre em Saúde Materno-infantil pela Universidade de Santo Amaro (UNISA). Especialista em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Desnutrição Energético-proteica e Recuperação Nutricional pela UNIFESP. Docente do curso de Graduação em Nutrição do Centro Universitário SãoCamilo. Certificada em Gestão de Projetos em Educação Nutricional pelo Instituto Racine. Atuou como Nutricionista responsável técnica na Clínica Escola São Camilo. Caroline de Salve Nutricionista formada pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Nutrição Humana pelo Instituto Metabolismo e Nutrição (IMEN). Especialista em Nutrição e Pediatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFM-USP). Nutricionista responsável pelos atendimentos na Unidade de São Caetano do Sul. Nutricionista responsável por acompanhar atletas da equipe de natação de São Caetano do Sul. Consultora do jornal ABCD em Foco. Claudia Carvalheira Farhud Nutricionista formada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Mestre em Nutrição Humana Aplicada pela USP. Professora Assistente do Centro Universitário São Camilo. Cristiana Araújo Contijo Nutricionista. Mestranda em Ciência da Nutrição pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (DNS-UFV). Daniela Alves Silva Nutricionista. Mestranda em Ciência da Nutrição pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição do DNS-UFV. Dulce Lopes Barboza Ribas Nutricionista. Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Doutora em Saúde Pública pela FSP-USP. Professora Associada do Curso de Estudos e Pesquisas em Populações Indígenas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Eliane Rodrigues de Faria Nutricionista. Mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição do DNS-UFV. Franciane Rocha de Faria Nutricionista. Mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição do DNS-UFV. Janaina das Neves Graduada em Nutrição. Mestre em Neurociências e Comportamento pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Joana D. P. Mura Nutricionista Sanitarista. Pós-graduada em Saúde Pública. Especialista em Advocacia da Saúde pela USP. Especialista em Alimentação à Saúde pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). Especialista em Direitos Humanos à Saúde pela Associação Brasileira de Ações Integradas para o Desenvolvimento Humano (ABRADH). Docente da VP Consultoria Gastronomia Funcional (CVPe). Ex-presidente do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-3) e da ASBRAN. Juliana de Almeida Queiroz Parra Nutricionista. Pós-graduada em Nutrição e Saúde Aplicada às Práticas Pedagógicas (Educação Nutricional de Escolares) pela UNIFESP. Pós-graduada em Educação lúdica pelo Instituto Superior de Ensino Vera Cruz. Proprietária da Nutrir Kids – Produtos Didáticos para Trabalhar Educação Nutricional. Atua em consultório e na área de Assessoria e Consultoria Nutricional para escolas da rede privada de ensino. Juliana T. Grazini dos Santos Nutricionista. Mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP. Doutora em Informação e Comunicação/Popularização Científica pela Universidade Denis-Diderot (Paris 7). Presidente da Verakis – Medicação da Ciência da Nutrição. Julliana Augusto Sanches Bonato Nutricionista. Pós-graduada em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo e em Nutrição e Saúde Aplicada às Práticas Pedagógicas (Educação Nutricional de Escolares) pela UNIFESP. Pós-graduada em Educação Lúdica pelo Instituto Superior de Ensino Vera Cruz. Proprietária da Nutrir Kids – Produtos Didáticos para trabalhar Educação Nutricional. Atua em consultório e na área de Assessoria e Consultoria Nutricional para escolas da rede privada de ensino. Atua como Supervisora de Alunos de Pós-graduação da Clínica da Universidade São Camilo (Promove). Docente dos cursos de Pós-graduação da Universidade São Camilo. Katia Tonello Semmelmann Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Pós-graduanda em Nutrição Funcional e Fitoterapia. Nutricionista da Clínica Salutem – Nutrição e Bem-Estar. Leila Maria Biscólla Esperança Nutricionista formada pelo Centro Universitário São Camilo. Pedagoga pela Faculdade Carlos Pasquale. Licenciatura Plena pela FATEC-SP. Especialista em Saúde Pública pela UNIFESP. Mestre em Administração pelo Centro Universitário São Camilo. Educadora em Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Docente do Curso Técnico de Nutrição e Dietética na ETE Carlos de Campos por mais de 17 anos. Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo por mais de 25 anos. Atua na área de artes plásticas como escultora, com o nome artístico Leila Biscuola. Liliana Paula Bricarello Mestre em Ciências Aplicadas à Cardiologia pela UNIFESP. Especialista em Bioética e Pastoral da Saúde pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Nutrição em Cardiologia pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo(SOCESP). Especialista em Distúrbios Metabólicos e Risco Cardiovascular pelo Centro de Extensão Universitária (CEU). Docente dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Nutrição no Centro Universitário São Camilo. Luciana Trindade Teixeira Rezende Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Nutrição Clínica pela ASBRAN. Mestre em Nutrição pela UNIFESP. Docente dos cursos de Nutrição e de Medicina do Centro Universitário São Camilo. Lucy Aintablian Tchakmakian Nutricionista. Mestre em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutricionistas. Especialista em Gerontologia pela Associação Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Especialista em Administração Hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto. Coordenadora Adjunta e Docente do curso de Graduação em Nutrição e dos cursos de Pós-Graduação em Nutrição Clínica e Gerontologia do Centro Universitário São Camilo. Maria do Carmo Azevedo Leung Nutricionista. Especialista em Nutrição Clínica e Mestre em Administração (Gestão Organizacional das Instituições Hospitalares e da Saúde) pelo Centro Universitário São Camilo. Docente do curso de Nutrição da Universidade Anhembi Morumbi e do Centro Universitário São Camilo. Maria Helena Villas Boas Cancone Doutora em Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Titular do Departamento de Antropologia da PUC-SP. Professora e Orientadora nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Faculdade de Ciências Sociais) e em Gerontologia (Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde) da PUC-SP. Ex-membro de Comitê de Ética em Pesquisa na Área de Saúde. Atua nas áreas de Antropologia da Religião, Antropologia da Saúde/Doença, Envelhecimento e Cultura, com ênfase nos seguintes temas: umbanda, religião, saúde, corpo e envelhecimento. Associada à Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e à Associação de Cientistas Sociais da Religião do Mercosul (ACSRM). Mariana Doce Passadore Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Fisiologia do Exercício. Mestre em Ciências e Especialista em Desnutrição Energético-proteica e Recuperação Nutricional pela UNIFESP. Docente dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Nutrição do Centro Universitário São Camilo. Marize Melo dos Santos Doutora em Nutrição. Mestre em Nutrição em Saúde Pública. Professora Associada do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Marle S. Alvarenga Nutricionista. Mestre, Doutor e Pós-Doutor pela FSP-USP. Coordenador do Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares (GENTA). Supervisor do grupo de Nutrição do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFM-USP (AMBULIM). Neila Maria Viçosa Machado Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Patrícia Maria de Oliveira Machado Mestre em Nutrição e Especialista em Saúde da Família (Programa de Residência Multi-profissional em Saúde da Família) pela UFSC. Paula Penatti Maluf Psicóloga. Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE). Docente dos cursos de Psicologia e Nutrição do Centro Universitário São Camilo. Samantha Ottani Rhein Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista e Mestre pelo Departamento de Pediatria da UNIFESP. Docente do curso de Graduação e Pós-graduação em Nutrição do Centro Universitário Senac. Desenvolve atendimento nutricional domiciliar para pacientes pediátricos e clínicos. Atuou como Coordenadora e Nutricionista voluntária nos ambulatórios de Nutrição do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da UNIFESP (CAAA). Silvia Eloiza Priore Nutricionista. Mestre em Nutrição e Doutora em Ciências pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Coordenadora do Programa de Atenção à Saúde do Adolescente (PROASA). Docente do DNS-UFV. Sonia Maria Soares Rodrigues Pereira Cientista Social. Mestre em Comunicação pela Universidade Mackenzie. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Psicomotricidade. Docente do Centro Universitário São Camilo. Sylvia do Carmo Castro Franceschini Nutricionista. Mestre em Nutrição e Doutora em Ciências pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP). Professora Associada do DNS-UFV. Tessa Cristine Alves Rosa Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Nutrição Celular e Terapia Ortomolecular pela Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo (FACIS). Pós-Graduada em Nutrição Humana e Saúde pela Universidade Federal de Lavras. Pós-Graduada em Padrões Gastronômicos pela Universidade Anhembi-Morumbi. Nutricionista em diversas unidades da rede Sesc-SP. Coordenadora do Programa Mesa Brasil Sesc (Núcleos Itaquera e Carmo) entre 2007 e 2009, com ações na área de Segurança Alimentar e Nutricional e Educação em Alimentação Saudável. Vera Silvia Frangella Mestre em Gerontologia pela PUC-SP. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Especialista em Nutrição Clínica pela ASBRAN. Especialista em Terapia Nutricional Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE). Especialista em Administração de Serviços de Saúde pela FSP-USP. Agradecimento Grandes oportunidades para ajudar os outros raramente acontecem; porém, pequenas delas nos cercam todos os dias. Sally Koch Esta obra é fruto da ajuda de muitas pessoas que fazem parte da nossa vida. Por isso, agradecemos a Deus, por nos permitir insistir; aos nossos familiares, por sonharem conosco; e aos nossos alunos, por nos ensinarem que vale a pena viver e morrer, e que entre a vida e a morte existe a obra. A de vocês é de valor infinito e eterno, por isso divino. Não se mata, não se apaga, não se esquece, mas brota! Brota e floresce! Vocês fizeram florescer. As autoras Prefácio O Brasil está se descobrindo um país de gordinhas e gordinhos. As estatísticas registram elevados índices de sobrepeso e obesidade entre a população brasileira – uma tendência firme na direção do que já se verifica na maioria dos países ditos afluentes. Contudo, é claro que foram razões de saúde pública, e não meras preocupações estéticas, que catapultaram os (maus) hábitos alimentares e as atividades físicas para o centro da agenda dos órgãos de saúde pública. Ganhou visibilidade o consumo excessivo de alguns “vilões”, como refrigerantes, biscoitos e vários alimentos vendidos em redes de fast-food. Igualmente relevante, porém menos ressaltada, é a generalização mundo afora de dietas alimentares mais monótonas. Com variações no preparo e na composição das refeições, reduzida quantidade de produtos agroalimentares explica boa parte da energia ingerida pelas pessoas quando comem. Nesse grupo sobressaem a soja, o trigo, o milho, o arroz, os lácteos e as carnes. Vários fatores desencadeiam comportamentos de consumo alimentar que se distanciam do que seria uma alimentação adequada e saudável, isto é, adequada às circunstâncias socioeconômicas, culturais e ambientais em que vivem as pessoas, e saudável no modo como são repostas as necessidades do organismo humano. Os fatores mais gerais derivam da organização do sistema alimentar mundial, a começar pela própria integração em escala global da produção, da distribuição e do consumo de alimentos. A evolução recente do sistema alimentar resultou em um regime sob forte determinação das corporações empresariais, não raro apoiadas em políticas públicas e se valendo do poder indutor (com limitado escrúpulo) dos meios de propaganda que têm nos alimentos uma de suas principais fontes de faturamento. É verdade que o mesmo sistema alimentar comporta fluxos que tanto padronizam e homogeneízam hábitos alimentares quantodifundem produtos que expressam a diversidade sociocultural e ambiental. No entanto, não cabe dúvida sobre a predominância dos primeiros. O padrão de consumo alimentar daí resultante é a outra face da agropecuária especializada de grande escala (mecanizada e altamente consumidora de agrotóxicos), do comprometimento da biodiversidade, das cadeias integradas em que prevalecem a grande indústria alimentar e redes de supermercado, e da frágil regulação pública, quando existe. O distanciamento, no espaço e no tempo, entre a produção e o consumo acarreta sobreuso de recursos, deturpa a noção de qualidade e “desterritorializa” a alimentação. Fatores extraeconômicos devem também ser elencados, já que no consumo alimentar se expressa a complexidade do fenômeno do consumo em geral. Os alimentos que consumimos são portadores de valores e imagens. O ato de comer envolve uma dimensão de sociabilidade, hoje necessitando ser revalorizada. Esse e outros fatores remetem as escolhas alimentares a motivações muito além da necessidade de saciar a fome. Chega-se mesmo a tomar a comida como espetáculo, como o faz certo tipo de gastronomia. É esse campo complexo de reflexão e intervenção que este livro se propôs a abordar. O honroso convite para apresentá-lo se transformou no prazer de estimular a leitura de uma coletânea de artigos que prima pela riqueza do tratamento dado à educação alimentar e nutricional em termos dos aspectos enfocados e das matrizes analíticas das várias disciplinas mobilizadas. Louve-se também a perspectiva de reunir reflexão e pedagogia em uma obra que se volta, principalmente, para o público estudantil, mas que certamente despertará a atenção de todos os interessados no tema. A qualificação como educação alimentar e nutricional, em linha com o uso já consagrado no Brasil da noção de segurança alimentar e nutricional, obriga a ampliar o foco convencional que segmenta um objeto multidimensional. Os alimentos (os bens alimentares) e a alimentação (a apropriação que fazemos desses bens) não se separam, ao contrário do que pretendem os produtivistas. O ensinamento dos aspectos nutricionais, por sua vez, deve ter em conta as pessoas e os recursos naturais que estão na origem dos alimentos, os determinantes socioculturais da alimentação e os interesses econômicos que nela incidem, diferentemente de visões tecnicistas da nutrição. A coletânea está organizada de modo a proporcionar bases conceituais de variadas matrizes para analisar e atuar sobre os comportamentos alimentares e na educação alimentar e nutricional. Mais do que o oferecimento de um receituário, a perspectiva de problematizar as questões está presente nos artigos, como deve ser um livro com destinação acadêmica, sem deixar de extrair consequências práticas dos questionamentos. Alguns artigos se dedicam, especificamen-te, aos requisitos e desafios na implementação de programas de educação alimentar e nutricional, contribuição muito oportuna em face do estágio de desenvolvimento desses programas no país. Igualmente importantes são as abordagens de metodologias aplicáveis em áreas tão relevantes quanto a alimentação escolar e a atenção básica, ou no estabelecimento da conexão com a sustentabilidade ambiental. Embora não seja possível ressaltar todas as qualidades da publicação em um prefácio, espero ter conseguido motivar suficientemente o público leitor em geral, particularmente os estudantes que deverão tirar excelente proveito desta leitura. Renato S. Maluf CERESAN/CPDA/UFRRJ Parte 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Parte 2 17 18 19 Sumário Bases Conceituais Comunicação e Transmissão de Mensagens em Nutrição | Fundamentos, Teorias e Práticas Antropologia e Alimentação Educação Alimentar e Nutricional na Formação Acadêmica do Nutricionista Teorias Pedagógicas Comportamento Alimentar e Seus Componentes Modelo Transteórico no Comportamento Alimentar Empowerment | Magia do Poder na Comunicação Aconselhamento Alimentar para Crianças Aconselhamento ao Adolescente Aconselhamento ao Adulto Educação Alimentar e Nutricional Aplicada a Idosos Aconselhamento Nutricional para Atletas e Esportistas Aconselhamento Nutricional para Obesos Aconselhamento para Gestantes Abordagem no Transtorno Alimentar | Anorexia, Bulimia, Compulsão e Transtorno Alimentar Não Especificado Percepções e Desafios no Acompanhamento Nutricional Implantação de Programas de Educação Alimentar e Nutricional Programa de Educação Alimentar e Nutricional | Diagnóstico, Objetivos, Conteúdo e Avaliação Inquéritos Alimentares Métodos de Ensino Expositivos e Laboratoriais Parte 3 20 21 22 Metodologias Ativas Educação Alimentar e Nutricional e Sustentabilidade Educação Alimentar e Nutricional na Atenção Básica em Saúde Educação Alimentar e Nutricional na Escola Índice Alfabético Parte 1 Bases Conceituais ▶ 1 Comunicação e Transmissão de Mensagens em Nutrição | Fundamentos, Teorias e Práticas Juliana T. Grazini dos Santos Introdução Quando trabalhamos e/ou intervimos na área da nutrição e, implicitamente, na alimentação, não podemos esquecer que, além dos determinantes biológicos, múltiplos fatores determinam a ingestão de alimentos. Dentre eles, devemos sempre levar em consideração a cultura, as características sociais e econômicas dos indivíduos e/ou determinadas populações, sua religião, seu nível intelectual, além dos aspectos emocionais que envolvem desde a escolha dos alimentos até a maneira como os preparamos e os ingerimos. Muitos autores das áreas das ciências sociais, principalmente da Sociologia e Antropologia, exploram esses determinantes, por isso é importante conhecê-los para os considerarmos quando nos comunicarmos com nossos pacientes, comensais, alunos etc. (Poulain, 2002; Fischler, 2010; Corbeau, 2008; entre outros). Em qualquer área de atuação, o nutricionista ou o especialista em Nutrição é constantemente desafiado pela capacidade de comunicação. Segundo Vitor Hugo Teixeira, nutricionista do Futebol Clube do Porto, de Portugal,1 somente 20% do trabalho de um nutricionista da área esportiva correspondem ao trabalho técnico; o restante resume-se a comunicação e transmissão de mensagens capazes de interferir no comportamento alimentar dos atletas. Saber comunicar é fundamental quando se trabalha na área do comportamento, mas promover hábitos alimentares é atuar junto ao comportamento alimentar. Logo, é primordial diferenciar informação de comunicação, para determinar ações e estratégias em educação alimentar. De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio, “informações” são fatos conhecidos ou comunicados acerca de alguém ou algo; “comunicação” é o processo de emissão, transmissão e recepção de mensagens por meio ou métodos e/ou sistemas convencionados. Informação é sempre sobre alguma coisa (tamanho de um parâmetro, ocorrência de um evento etc.) e, vista dessa maneira, não tem de ser precisa. Ela pode ser verdadeira ou mentirosa, ou apenas um som (como o de um beijo). Mesmo um ruído inoportuno feito para inibir o fluxo de comunicação e criar equívoco, seria, sob esse ângulo, um tipo de informação. Todavia, em termos gerais, quanto maior for a quantidade de informação na mensagem recebida, mais precisa ela será (Serra, 2007). O que Serra quer dizer é que devemos associar a maior quantidade possível de informações, ou seja, texto, imagem, som, odor, sabor e outras, para que a mensagem seja mais bem assimilada. Quanto mais associações fizermos, mais clara e precisa será a mensagem. O autor não fala de mensagem nem de comunicação, mas de informação, ou seja, de tudo aquilo que captamos, ouvimos, sentimos, vemos ou experimentamos. Daí a importância de diferenciar bem informação de comunicação, e mensagem de conteúdo. Comunicar é o ato que estabelece uma relação com o outro, de transmitir algo a alguém. É o conjunto de meios técnicos que possibilitam propagar/difundir uma mensagem para um público mais ou menos vasto e heterogêneo. A comunicação envolve a troca de informaçõese utiliza os sistemas simbólicos para esse fim. Existe uma infinidade de maneiras de se comunicar: conversando, fazendo gestos com as mãos, enviando mensagens pela internet; enfim, tudo o que permita interação e troca de informações entre pessoas. Em outras palavras e de maneira simplificada, quando se informa não se espera nenhum tipo de reação e, quando se comunica, transmite-se uma mensagem e, neste caso, espera-se algum tipo de reação por parte de quem a receba. Quando é noticiado no jornal que determinada proteína foi descoberta, não se espera nenhum tipo de reação dos leitores; porém, quando discutimos com um paciente e explicamos que a alimentação pode ser a causa da sua doença, esperamos que ele, de certa maneira, mude seus hábitos alimentares. Logo, quando informamos, não existe o compromisso com o receptor, apenas com a difusão da informação. Para informar existem também meios e técnicas, mas que não serão abordados especificamente neste texto. Para que haja comunicação é necessário haver um emissor e um receptor, alguém que envie uma mensagem e alguém que receba esta mensagem. Assim, é necessário definir quem é o emissor e quem é o receptor: quem está falando sobre alimentação e para quem vai falar. Obviamente, a existência de uma mensagem é necessária. Por isso, o emissor deve trabalhá-la muito bem e saber exatamente o que deseja transmitir. O ideal é que o emissor saiba o que espera que seu receptor receba como mensagem e gerencie muito bem o tipo de informação, as características do receptor e sua capacidade de recepção (compreensão, disponibilidade emocional, cultura, situação financeira etc.). Para que a mensagem chegue até o receptor, é necessário um meio de comunicação, que pode ser a fala, a escrita, a imagem ou o corpo. Esses meios, por sua vez, podem ser veiculados diretamente ou por meio de instrumentos de comunicação de massa (rádio, televisão, cinema, revistas e jornais eletrônicos ou não), ou pelas redes sociais, entre outros. Entre o emissor e o receptor, em virtude ou não do meio utilizado, aparecem os ruídos, ou seja, tudo aquilo que interfere e pode atrapalhar a emissão da mensagem e a recepção da mensagem e própria mensagem (Figura 1.1). Se transferirmos essa teoria, da maneira extremamente simplificada como foi apresentada, para a prática do especialista em alimentação e nutrição, podemos nominar os atores (receptor e emissor) e identificar suas características na comunicação, além de determinar os objetivos da comunicação, assim como o conteúdo e tipo de mensagem a ser transmitida e, principalmente nesta área, limitar os ruídos que possam aparecer. Quem pode ser considerado emissor: os especialistas e profissionais da área de alimentação e nutrição; os profissionais das áreas de saúde, alimentos, esporte, comportamento, educação; todos aqueles que, em virtude da sua prática profissional, são conduzidos ou “forçados” a falar de alimentos, alimentação e nutrição; os agentes de saúde; os leigos etc. Figura 1.1 Diagrama simplificado da teoria da comunicação. O emissor não é obrigatoriamente um especialista em alimentação e nutrição, e aí está toda a complexidade e riqueza da comunicação nessa área. Existem muitos emissores. Os profissionais especialistas, além de se posicionarem como emissores, devem também se posicionar como mediadores, colocando-se entre o emissor e o receptor, sempre com o intuito de diminuir os ruídos da comunicação. Este mediador pode trabalhar a mensagem emitida ou prepará-la, facilitando, desse modo, a compreensão do emissor. Nos dois casos é fundamental elaborar a mensagem em função dos objetivos de comunicação (que devem estar bem definidos) e do conhecimento profundo do receptor. Muitas das nossas mensagens não são comunicadas porque não sabemos direito o que realmente queremos que o receptor entenda, ou porque não conhecemos adequadamente o receptor, ou ambos. O emissor deve ter legitimidade naquilo que fala, ou seja, ser a pessoa mais indicada para a função – ou porque conhece muito bem o assunto, ou porque é uma figura muito carismática na percepção do receptor. Desse modo, o emissor pode ser o nutricionista, que conhece muito bem a mensagem a ser enviada e exerce influência na recepção da mesma, pelo fato de representar aquele que domina o assunto; ou um agente de saúde; uma secretária do consultório; um jornalista ou ator, que, por seu carisma, faz com que o receptor lhe confira algum nível de confiança. No primeiro caso, em que se trabalha a mensagem emitida, o especialista é o emissor; no segundo, ele é um mediador e deve elaborar a mensagem junto com o emissor, e não para o emissor. Além do conhecimento sobre a mensagem transmitida e o carisma junto ao receptor, o emissor deve estar atento à sua imagem e à coerência da mensagem enviada. Um nutricionista obeso, por exemplo, poderia falar sobre o tema alimentar, desde que fosse coerente com sua imagem, ou seja, ele poderia falar das singularidades e dificuldades de adotar um regime, ou sobre a autoaceitação. Entretanto, sua mensagem será dificilmente assimilada ou reconhecida como confiável se ele falar de regimes que funcionam. O emissor deve considerar a comunicação como uma estratégia complexa e séria, a fim de aumentar a eficácia da sua comunicação e estar preparado para as eventuais derrotas ▶ comunicacionais. Receptor O receptor, na área que nos interessa, é toda e qualquer pessoa que deve receber, assimilar e, sobretudo, compreender uma mensagem. Por isso, é imprescindível e de extrema importância conhecer o máximo possível o indivíduo ou grupo de pessoas que deve ou necessita compreender e assimilar a mensagem. O pior e mais comum erro cometido em algumas áreas da saúde, embora estejamos evoluindo neste contexto, ainda acontece muito na área da nutrição. Trata-se do fato de considerar o receptor pronto, apto e receptivo às mensagens, somente porque, de modo injusto, decidimos que ele deve receber mensagens. Ora, mesmo que o receptor esteja apto e motivado para recebê-las, é extremamente importante saber quem é essa pessoa, o que ela pode e deve saber e compreender sobre determinado assunto e, principalmente, como deve ser feita a abordagem para que ela seja sensível à informação recebida que será decodificada em mensagem. Muitas vezes, decidimos que a melhor maneira de resolver alguns problemas é pela abordagem cognitiva; porém, na maioria dos casos, essa abordagem é ineficaz. Por isso, a maioria dos programas de alimentação e nutrição que investem somas exorbitantes na comunicação não é eficaz. Uma mensagem por si só não é capaz de mudar padrões de comportamento, sejam eles alimentares ou não. Segundo Leclercq apud Andrien e Beghin, 1993): Nem o indivíduo nem o grupo regem sua conduta de maneira totalmente racional: a transmissão de novos conhecimentos raramente é suficiente para modificar um comportamento. A educação alimentar e nutricional deve também ter objetivos sob o plano afetivo, objetivos definidos em termos de motivação, autoestima e valores. Dificilmente um adolescente em época de vestibular vai assimilar uma mensagem do tipo: “não coma entre as refeições, você pode ter problemas no futuro”. Do mesmo modo, um grupo de mulheres vítimas de violência masculina não poderá assimilar uma mensagem do tipo: “coma mais verduras e legumes”. Isso porque as motivações dessas pessoas são outras, e a nossa mensagem deve ser adaptada se for extremamente necessária no contexto em que queremos comunicar. Ninguém vai investir em uma publicidade de regimes durante as semanas que precedem a Páscoa, simplesmente porque o momento é de comer chocolate, e o regime fica para depois. Logo, não devemos insistir em mensagens que não tenham razão de ser em certos momentos, para certos grupos ou pessoas, ou em certas culturas. Quem pode ser receptor? Um paciente, um médico, um grupo de médicos, um grupo de adolescentes, um consumidor, um leigo, um grupo de nutricionistas, uma mãe, um diabético, um expert em neurologia, um artista. Qualquer pessoa ou grupo de pessoas podeser um receptor, mas, antes de mais nada, temos de conhecê-los. Portanto, antes de construir uma mensagem, precisamos conhecer muitíssimo bem nosso receptor, desde sexo e idade até crenças, costumes, cultura, histórico alimentar, valores atribuídos aos ▶ ▶ alimentos, ritos e rituais alimentares etc. Esses elementos por si sós já podem definir uma boa mensagem. Mensagem A mensagem não é aquilo que se fala ou transmite de maneira inteligível, mas sim o que desejamos que o receptor capte. Sob esse ponto de vista, ela não precisa ser explícita. A mensagem deve ser simples e curta. Embora uma consulta dure em torno de 45 min a 1 h, devemos esperar que apenas uma mensagem seja emitida por encontro. Isso não quer dizer que não haverá nada a dizer ou escutar, mas que, de tudo o que falamos e ouvimos, se uma única mensagem for veiculada e bem recebida, nossa comunicação obteve sucesso. A dificuldade dos profissionais especialistas é selecionar, dentre tudo o que sabem, um único elemento para ser comunicado. Isso porque temos sempre a ansiedade de querer falar tudo de uma vez e por completo. No entanto, não podemos cair nessa armadilha. As pessoas vivem muito bem sem todos os conhecimentos que temos; elas comem por diversas razões e não somente por terem conhecimentos. Devemos selecionar mensagens importantes e transmiti-las uma a uma. Esse processo é mais lento, porém mais eficaz e eficiente. Quando comunicamos algo durante uma consulta, devemos organizar as mensagens dentro de um cronograma, junto com os nossos objetivos nutricionais e outros, e comunicar gradualmente. Quando comunicamos para um grupo de pessoas pontualmente, é necessário escolher algumas mensagens ou somente uma, a mais importante, em função do objetivo da nossa intervenção. Por exemplo, se fizermos um grupo focal para discutir sobre equilíbrio alimentar, decidimos que nosso público deve sair de lá sabendo apenas que não precisa deixar de tomar leite integral, e não dominando todas as estratégias para equilibrar sua alimentação. Quando organizamos um encontro entre o nutricionista e um grupo de uma comunidade para falar sobre a obesidade, por exemplo, não precisamos abordar todas as causas e consequências do problema; podemos falar de atividade física e dar uma volta no quarteirão com as pessoas.2 Meios Depois de definida a mensagem, é preciso selecionar por qual meio ela vai ser transmitida. Não optaremos por palestras quando nossos receptores forem adolescentes, por exemplo, mas podemos pensar em redes sociais, festas, baladas e outros. Também não vamos optar pelas maratonas nos parques para grupos de idosos. Estes meios podem ser interpessoais, sociais ou de massa. Os interpessoais são aqueles que permitem, facilitam e sustentam a comunicação entre as pessoas; os sociais são aqueles que direcionam as mensagens para grupos de pessoas restritos; e os de massa são aqueles que veiculam a mensagem para a maior quantidade de pessoas possível. Por esses meios de comunicação, espera-se ▶ ■ que, em um lapso de tempo bem curto, muitas pessoas sejam alcançadas por uma única e mesma mensagem. Além disso, os meios de comunicação podem ser cartazes, panfletos, flyers, cinema, novela, séries, internet, jornais, revistas, rádio, livros, outdoor, outbus, podcast, revista em quadrinhos, televisão, CD-ROM, telefone, teatro, museus, exposições etc. A escolha de um meio de comunicação, na maioria das vezes, é definida pelo orçamento disponível. Somente fazendo a relação entre os recursos financeiros, o material humano disponível, os objetivos de uma estratégia de comunicação, as características do público-alvo, o tipo de mensagem a ser veiculada e o espaço de tempo em que se deve comunicar é que se pode definir qual meio poderá, deverá e será utilizado. Ruídos Em comunicação, ruído é tudo que influencia, atrapalha ou impossibilita a emissão e/ou recepção de uma mensagem. Os ruídos tecnológicos, por exemplo, resultam de defeitos e interferências dos meios de comunicação. Neste capítulo, os ruídos serão relacionados com as características do emissor e do receptor e com a emissão e recepção de mensagens que podem dificultar a comunicação sobre alimentos, alimentação e nutrição. Adequação da linguagem Quando, como e por que usar ou não usar gírias, linguagem rebuscada e palavras técnicas? A linguagem deve ser adaptada ao receptor; afinal, não se fala da mesma maneira com especialistas e com pacientes, por exemplo. Termos técnicos devem ser usados quando a comunicação se dá entre especialistas, mas excluídos do vocabulário ao nos comunicarmos com pessoas leigas. Também não devemos subestimar a capacidade de compreensão dos receptores ou infantilizar a linguagem com frases do tipo: “é um caminhãozinho que carrega o açúcar”. Aqui também podemos mencionar que, quando falamos com pessoas estrangeiras que não conhecem bem a nossa língua, temos a tendência de mexer exageradamente os lábios, falar alto e devagar. Por quê? Ora, a pessoa com quem falamos não tem problemas de audição nem cognitivos, ela somente não conhece o nosso idioma. Portanto, as palavras e frases estrangeiras devem ser utilizadas somente se o receptor for capaz de compreendê-las. Esse tipo de linguagem é aceito em congressos, mas deve ser evitado em discussões e palestras para um público heterogêneo. Além disso, é preciso treinar a eloquência e saber manter um fluxo constante de fala sem ser cansativo, lento ou parecer inseguro. Quando falamos demais, ninguém ouve; é coisa demais! Quando as frases não “surgem”, nosso emissor se sente inseguro; afinal, se nem nós conseguimos verbalizar, como ele pode acreditar que a mensagem é pertinente? ■ ■ ■ ■ ■ Coerência Já foi comentado anteriormente que todas as mensagens devem ser coerentes, não somente com o emissor, mas também com o receptor. Por exemplo, se falarmos para um público de baixa renda, evitaremos roupas de marca, esnobismos, dentre outros. Se emitirmos uma mensagem sobre aleitamento materno, será melhor não ir com a pastinha daquela indústria que fabrica alimento concorrente. Na coerência também podemos mencionar o fato de propor alimentos caros, fora de época ou indisponíveis para os receptores. Não devemos enviar mensagens do tipo “coma carne” para vegetarianos, ou “tome iogurte” para quem tem aversão ao leite. Ambiente propício Locais com muito barulho ou excesso de pessoas circulando – aquele simpático indivíduo que dá um recado bem no meio do evento; o telefone celular que toca; microfones que não funcionam; salas escuras, pequenas ou grandes demais, frias ou quentes demais; locais complicadíssimos para aceder e/ou perigosos – influenciam, e muito, a receptividade da mensagem. Por isso, esses “detalhes” também devem ser controlados. O ambiente, se possível, deve ser neutro, mas familiar. Se o público- alvo for constituído de mulheres de uma comunidade, será melhor evitar a casa de alguém ou a creche se, por acaso, a população não for simpatizante da direção. Momento certo da mensagem O momento, horário e dia em que se transmite a mensagem também são importantes. Falar de alimentação no horário em que as crianças saem da escola e as mães têm de sair correndo para buscá-las; em um dia depois da enchente que destruiu metade da comunidade; a uma semana do carnaval dentro da comunidade que desfila; em uma sexta-feira no final da tarde para adolescentes não é sábio, visto que não são os momentos, horários e dias mais adequados. Se o receptor não estiver concentrado, a mensagem não será sequer “processada”. Conteúdo Cuidado com o conteúdo! Mencionar temas que não são do interesse dos receptores ou desviar o assunto atrapalha muito a recepção da mensagem. Se não temos o dom da piada, se somos tímidos e facilmente frustráveis, não devemos nos aventurar por brincadeirinhas, piadinhas etc. O importante é ser natural, ter empatia e muito respeito pelo receptor. Postura A postura que adotamos também é importante e pode se tornar um ruído; por isso, o ideal é sempre nos adaptarmos ao nosso receptor. Entretanto,ser ultrajovem com adolescentes ou sérios demais com pessoas idosas não é a solução. Devemos agir naturalmente, mas sempre tentando nos ▶ • • • • • • aproximar do receptor sem querer nos transformar. A distância também é importante para que a mensagem seja credível. O fato de o primo ter dito que a publicidade mencionou que o jornal entrevistou fulano, dentre outros exemplos, poderia ser considerado um ruído se estivéssemos tratando de informação e, nesse caso, falaríamos de cacofonia. Em comunicação as informações adversas e/ou contrárias não são relevantes, pois se parte do princípio de que uma comunicação eficaz é muito mais imponente do que as informações contrárias. Planejamento em comunicação O planejamento consiste em responder algumas perguntas clássicas: A quem eu devo me dirigir? O que eu vou comunicar? Quando eu devo ou posso enviar minha mensagem? Por que eu preciso emitir esta mensagem (objetivos)? Como eu vou enviar estas mensagens (meios)? Por intermédio de quem esta mensagem vai ser emitida (escolha do emissor)? Para responder essas perguntas, devemos considerar oito etapas: ▶ Diagnóstico ou análise da situação. Primeiro devemos coletar o máximo de informações sobre o tema que desejamos comunicar (o que a ciência menciona, o que a mídia veicula, tabus, ditos populares etc.), nosso público-alvo (sexo, idade, situação econômica e social, conhecimentos sobre o assunto, cultura etc.), nossas possibilidades materiais, financeiras e humanas, o tempo disponível, o tempo exigido, dentre outras. ▶ Estratégia. Fase em que definimos os objetivos da nossa comunicação e definimos a mensagem a ser veiculada. ▶ Escolha dos meios. Nessa fase definem-se quais meios devem e podem ser utilizados em função do público-alvo, do tipo de mensagem e dos objetivos propostos. ▶ Criação. Em publicidade, essa fase consiste em elaborar e desenvolver um conceito. Em educação, saúde, prevenção da doença ou promoção da saúde, trata-se de contextualizar e “materializar” a mensagem, definindo também um conceito. ▶ Orçamento. Momento em que se calcula e prevê todo o investimento necessário. É uma etapa muito importante, porque tudo o que for recurso material e humano deve ser considerado. No quesito “recursos humanos”, toda e qualquer pessoa envolvida deve ser incluída, e seus honorários, calculados em função de sua experiência, seu nível educacional e, sobretudo, seu tempo investido. ▶ Pré-teste e correções, se necessário. O ideal é fazer o teste de um projeto para corrigir eventuais falhas ▶ antes de aplicá-lo em grande escala. ▶ Aplicação e avaliações periódicas. Essa é a etapa de desenvolvimento de um projeto, quando o colocamos em prática. Neste momento, avaliações periódicas são extremamente importantes para que possamos corrigir algumas imperfeições ou disfunções, as quais dificilmente são previstas no momento de concepção da ideia. Essas avaliações ajudam a remanejar um projeto, adaptá-lo ou mesmo evitar que ele seja concluído com falhas que poderiam ter sido corrigidas. ▶ Avaliação final. Avaliar um projeto é extremamente importante e fundamental; afinal, só podemos concluir se ele foi eficaz ou eficiente, se ele deve e pode ser aplicado novamente, em que ponto falhamos e em qual acertamos, quando elaboramos uma avaliação final detalhada e adequada. Em geral, esta etapa é menosprezada, e nem sempre o método de avaliação é adequado ao projeto. Nesses casos, acabamos nos enganando, porque perpetuamos projetos ineficientes ou extinguimos outros sem razões pertinentes. Às vezes, não acordamos a avaliação com nossos objetivos e pensamos que eles não foram alcançados; ou esperamos alcançar alguns resultados que nunca serão alcançados. Isso porque a estratégia, os meios e os materiais utilizados não foram condizentes com o projeto, e se tivéssemos estabelecido uma boa estratégia, talvez esses resultados tivessem sido alcançados. Ideias Existem alguns exemplos e ideias para que a comunicação e a difusão de mensagens nas áreas de alimentação e nutrição sejam mais abrangentes e eficazes. Há grupos populacionais que são “esquecidos” e com os quais se trabalha pouco. Quase não há comunicação com: presidiários; mendigos; grupos de classes profissionais como taxistas, zeladores, seguranças, garis, motoristas de ônibus, empresários, dirigentes de empresas, publicitários e jornalistas, feirantes, pilotos de avião, aeromoças etc.; pessoas que têm um ritmo de vida singular e particularmente diferente, as quais necessitam de atenção e estímulo para adotarem práticas de vida mais saudáveis. Também é preciso falar dos meios que deveriam ser explorados para a comunicação. Quase não se pensa em exposições, museus, bares, cinemas, novelas e teatro como meios de comunicação. Estamos sempre correndo atrás da publicidade e nem nos damos conta de como as atitudes de alguns personagens novelescos são nefastas e induzem à interpretação errônea da alimentação saudável. Por exemplo, desde que comecei a me interessar pelo assunto, ainda vejo café da manhã irrealista nas novelas. Na França costuma-se transmitir muitas mensagens por meio do teatro de prevenção, uma técnica que necessita de muito conhecimento e que não se resume a criar uma peça de teatro e discutir com o espectador. Nesse tipo de ação, o público-alvo define a mensagem junto com os especialistas; ele também é ator e veiculador da mensagem definida. Assim, o profissional é simplesmente o mediador ▶ ▶ 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. entre o diretor de teatro de prevenção, os redatores e o elenco – compostos pelo público-alvo. Não se trata de brincar de diretor de teatro; é necessário conhecimento técnico específico, o qual somente os profissionais da área das artes cênicas têm.3 Conclusão Para finalizar, cito as palavras de Edgar Morin, um célebre sociólogo francês que resume o conceito de comunicação, todas as suas nuances e particularidades: Para cada estímulo ou influência, existem outros estímulos ou influências antagônicos, complementares, mais ou menos carregados de significação para cada indivíduo. A comunicação ocorre em situações concretas, acionando ruídos, culturas, bagagens diferentes e cruzando indivíduos diferentes. Ela é sempre multidimensional, complexa, feita de emissores e de receptores (cujo poder multidimensional não pode ser neutralizado por uma emissão de intencionalidade simples). O fenômeno comunicacional não se esgota na presunção de eficácia do emissor. Existe sempre um receptor dotado de inteligência na outra ponta da relação comunicacional. A mídia permanece um meio. A complexidade da comunicação continua a enfrentar o desafio da compreensão. Atividades Escolha três tipos de receptor: um colega de profissão, um leigo e um grupo de leigos. Defina um tema sobre o qual possa enviar uma mensagem. Escolha aquele de que mais gosta: higiene dos alimentos, anemia, novos alimentos, composição química de um alimento etc. Tente conversar com os receptores e definir quem são eles, identificando sexo, idade, nível educacional, valores sociais, cultura, religião, tabus, crenças, rituais, o que conhecem sobre o tema escolhido, o que pensam etc. Analise todas as informações coletadas e faça uma lista com as que julgar que seu receptor conheça. Com a lista de informações, tente refletir sobre as características dos receptores e o que é realmente pertinente que eles saibam. Em seguida, elabore uma mensagem. Escolha o meio pelo qual essa mensagem será emitida: telefone, conversa no bar da faculdade, festa, rede social, e-mail etc. Adapte a mensagem ao meio que escolheu. Emita sua mensagem. Uma semana depois pergunte aos seus receptores o que eles pensam ou sabem sobre o assunto escolhido. Repita os exercícios 8, 9 e 10 pelo menos 3 vezes, readaptando a linguagem, avaliando os ruídos, alterando a maneira de agir etc. Avalie o que os seus receptores entenderam da sua mensagem e quando compreenderam que você estava emitindo algum tipo de mensagem. ▶ Referências bibliográficas ALMEIDA M.D.V. et al. Sources usedand trusted by nationally-representative adults in The European Union for information on health eating. European J. Clin. Nut.; 1997, 51(suppl. 2):S16-22. AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Communicating science-based food and nutrition information. J. The Am. Diet.Assoc.; 2001, 101(10):1144-5. ANDRIEN M., BEGHIN I. Nutrition et communication. Paris: L’Harmattan; 1993. BELL R.A. et al. 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Voir réultats de recherche pour cet auteur Etes-vous un auteur? Infos sur La Plate- forme Auteurs. Pragmatics of human communication | A study of interactional patterns, pathologies and paradoxes. New York: W.W. Norton & Company; 1967. WELLEMAN. In: ORTEGA R.M. et al. Claims and errors in food and nutrition advertising broadcast by two Spanish television channels. Journal of Human Nutrition and Dietetics; 1995, 8:353-62. WILKIE T. Sources in science: who can we trust? The Lancet; 1996, 347(11):1308-12. 1 Com base em informaçõo coletada em janeiro de 2012. 2 Nesse caso, não se trata de prescrever atividade física, mas, sim, de incentivar a prática de exercício físico. 3 Proponho uma pesquisa sobre o Programme National Nutrition Santé (Manger Bouger), o qual, na França, em sua evolução, vem fazendo uma campanha de comunicação muito interessante (www.mangerbouger.fr/pnns). ▶ 2 Antropologia e Alimentação Dulce Lopes Barboza Ribas Maria Helena Villas Boas Concone Introdução Dependendo de como se lê a proposta deste capítulo, ela pode parecer absolutamente redundante. De fato, nada é mais antropológico – aquilo que se refere ao ser humano (sp) – que a comida. Mais do que isso: nada é mais biológico – relativo à vida – que a alimentação; afinal, sem o alimento “que lhe é próprio”, a vida se acaba. Evidentemente, não é esse prisma genérico que nos interessa. Quando se fala na vertente antropológica da alimentação, refere-se, sem dúvida, à perspectiva humana do assunto, mas filtrada pela visão disciplinar da antropologia. Ora, qual seria, então, essa perspectiva disciplinar e até que ponto ela poderia contribuir para outras tantas perspectivas disciplinares e dialogar com elas? O estudo da alimentação é um vasto domínio multidisciplinar, do qual a antropologia recortou um nicho de pesquisas e análises que se oferecem à interlocução. A importância de entender a alimentação e o alimento (a relação com o alimento, os significados a ele atribuídos, as relações interpessoais que a alimentação proporciona e seus aspectos afetivos e de identidade etc.) leva à formação de um campo fundamental para os estudos antropológicos, tanto para os dias de hoje quanto para a tentativa de entender os caminhos da evolução humana. Isso porque a evolução do comportamento humano também se realiza por meio das interações entre os hábitos alimentares, as relações ecológicas e as instituições culturais. Tomando a questão pelo ângulo da sobrevivência, percebe-se que, no campo da paleontologia em geral e da zoologia, o estudo da alimentação ajuda a entender as conexões de várias espécies com o ambiente e as ligações intra e interespécies, como as relações de dependência,o comensalismo, a competição etc. Nos estudos da paleontologia humana, o antropólogo e paleontólogo Richard Leakey escreveu o seguinte na década de 1980: Alguns biólogos estão começando a desviar a atenção da cabeça e a dirigi-la para o estômago como explicação do que aconteceu na evolução humana. Os alimentos, a maneira como são coletados e processados são vitais na determinação do comportamento animal. Ao adotar esta abordagem, a antropologia se aproxima mais do estudo de outros mamíferos na busca da origem dos hominídeos. (…) A primeira tentativa importante de compreender as origens humanas em termos de regime alimentar surgiu somente há uma década, quando Clifford Jolly, da Universidade de Nova York, propôs sua hipótese de consumo de cereais. (…) A maioria dos primatas é de criaturas altamente sociáveis, que vivem em tropas e mantêm intensas interações pessoais. Os humanos modernos não são exceção e nem o eram os hominídeos de dois milhões de anos atrás. A forma exata da sua vida social deve provavelmente ter sido determinada em ampla medida pelo modo como sobreviviam, pelos alimentos que comiam e pela distribuição desses recursos alimentares no meio ambiente. É, entretanto, muito difícil afirmar com segurança alguma coisa sobre os alimentos ingeridos por nossos ancestrais (Leakey, 1981). Essa citação já mostra interesses comuns entre os estudos voltados a tempos remotos e aos de hoje, como é o caso da referência à sociabilidade. O autor sugere, em outro momento, que o lugar das mulheres no processo de preparo e distribuição dos alimentos deve ter sido fundamental para o desenvolvimento da comunicação e discorre também sobre os numerosos trabalhos de análise dos dentes fósseis de hominídeos, que lançaram alguma luz sobre a dieta principal da espécie. Relacionando dentes e cérebro, os estudos puderam traçar, por exemplo, diferenças importantes entre os australopitecos e o Homo. Como sugerem os especialistas, o aumento da capacidade craniana no Homo “pode ter ajudado a encontrar novos alimentos, ampliando, assim, sua base econômica”, o que, por sua vez, levou ao desenvolvimento de um sistema social de apoio a esse novo tipo de economia. Relações dialéticas entre pressões do meio ambiente (incluindo, evidentemente, recursos de alimentação), respostas culturais (protoculturais) e adaptações físicas vão moldando os caminhos da evolução. O significado dessas relações seminais quanto a questões sobre sua interdependência e a relação “natureza/cultura” não precisa ser enfatizado. A oposição entre cultura e natureza é particularmente retratada em obras de Claude Lévi-Strauss, como O Cru e o Cozido (1991), Do Mel às Cinzas (1966) e A Origem dos Modos à Mesa (1968). Para o antropólogo, a diferença entre o cru e o cozido fundaria a própria cultura, distinguindo-a da natureza. Sobre a importância simbólica das técnicas do cozimento, Lévi-Strauss publicou O Triângulo Culinário (1965). Trocando em miúdos: a relação seminal referida anteriormente obriga o polo da cultura a demarcar seu próprio campo, diferenciando-o do polo da natureza. É uma oposição simbólica com consequências práticas. Além dos diversos aspectos que a alimentação abrange, convém lembrar as abordagens provindas de diferentes áreas do conhecimento – sociologia, botânica, medicina, zoologia, arqueologia, geografia, agronomia, economia – que auxiliam no entendimento da história da alimentação humana. Por exemplo, a zoologia e a botânica, descrevendo os animais e as plantas, marcaram a passagem da história natural para a biologia com a classificação das espécies, formalizando as relações entre os seres vivos. A medicina mostra-se igualmente uma rica fonte de informações para a história da alimentação e as prescrições dietéticas de diversas épocas, desde os tratados médicos de Hipócrates, Galeno e Celso até os contemporâneos. Revela, ainda, o conhecimento desenvolvido em cada época sobre alimentação e suas repercussões na saúde dos organismos. Não é nossa intenção trilhar esses caminhos especializados. Queremos apenas marcar a íntima relação que existe entre alimentação e antropologia como estudo do ser humano e como processo humano. No entanto, a abordagem antropológica sobre alimentação variou significativamente durante a história desse campo disciplinar, mesmo que tal perspectiva tenha contribuído para os estudos sobre alimentação/nutrição. A abordagem, a que chamaremos “clássica”, enfatizou a relação entre os homens e os alimentos de uma perspectiva cultural. Assim, em contextos culturais específicos, quais são os alimentos e suas fontes? Que alimentos são consumidos? Há distinção de consumo em situações específicas (cerimoniais ou cotidianas, festivas ou não, religiosas ou profanas etc.)? Há diferenças de consumo quanto a gênero, gênero aliado ao estado (maternidade, paternidade), à idade ou às condições físicas (são ou doente)? Como são justificadas em cada caso as distinções de consumo? Há alimentos prescritos ou restritos? Quais e como, em cada realidade e situação? Como são conseguidos, providenciados e produzidos os alimentos? Quem produz? Quem prepara? Que significados lhes são atribuídos? No Brasil, esses temas foram explorados por antropólogos que trabalharam a partir de estudos de comunidade, sobre populações indígenas, perspectivas regionais. Desde a década de 1930, no ensino de etnografia patrocinado por Mário de Andrade (então secretário de cultura em São Paulo) e ministrado por Dina Dreyfus Lévi-Strauss (esposa de Claude), já se incluíam técnicas antropométricas herdadas da antropologia física. Estas são utilizadas até hoje em nutrição. Em outras palavras, já em 1936, Dina ensinava a seus alunos (grande parte deles estudiosos do folclore) como tomar e anotar medidas antropométricas de adultos e crianças e relacioná-las posteriormente com os modos de vida do grupo estudado, incluindo, evidentemente, as chamadas práticas alimentares. Outra linha de investigação, que poderíamos batizar ad hoc de socioantropológica, enfatizava preferencialmente as relações entre poder aquisitivo e alimentação, ou seja, classe social e alimentação. Esses trabalhos fugiam do modelo clássico anterior e foram desenvolvidos tanto por antropólogos que faziam a chamada antropologia urbana quanto por sociólogos. A interlocução entre diferentes campos disciplinares é clara, bem como as posturas engajadas. À guisa de exemplos, na década de 1980, foi apresentada a tese de Paulete Goldenberg (1981) na Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), tratando da desnutrição entre famílias de baixa renda no município de São Paulo. A pesquisadora valeu-se de uma abordagem sociológica para discutir renda e consumo alimentar, incluindo avaliação de mães e lactentes e já abordando o crescimento da indústria de alimentos infantis e seu impacto sobre as práticas de lactação. Outro exemplo: na década de 1970, foi publicado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) o primeiro boletim da instituição, um trabalho de Maria Lúcia Soboll (1973), nutricionista que fazia avaliação nutricional das cestas básicas de alimentos incluídas no pagamento de trabalhadores de indústrias paulistanas. A perspectiva socioeconômica associada à da nutrição era evidente. Nesse caso, a análise nutricional apareceu como um sólido aliado de reivindicações trabalhistas e conscientização de direitos. Este trabalho se inscreveu também no conjunto de homenagens então prestadas a Josué de Castro. Realmente, não podemos esquecer, fora do campo estrito da Antropologia e da Sociologia, os trabalhos desse médico e geógrafo que, a partir da década de 1940 (Geografia da Fome foi publicado em 1946), se interessou profundamente pelas questões relativas à nutrição, à pobreza e à saúde. Aliando perspectiva médica, sociológica, política e geográfica, os trabalhos de Castro causaram impacto no mundo acadêmico, cujos ecos se fazem sentir nas políticas sociais nos dias de hoje. Castro (1951) relacionava a fome endêmica com a propriedade de terras;assim, o tema alimentação pode significar vida e prazer, mas também sofrimento e morte. Crenças, tabus alimentares e motivações para as mudanças de hábitos alimentares foram amplamente exploradas pelas ciências sociais. Desenvolveram-se numerosas etnografias dos hábitos alimentares buscando-se contextualizá-los, isto é, interpretá-los culturalmente, uma vez que tanto o que se come quanto o que não se come expressam inúmeros significados. O antropólogo francês Claude Fischler (1995) identifica, em textos recentes, certos animais que são consumidos em determinadas regiões, mas são abominados em outras. Por exemplo, algumas espécies de formigas são consumidas por diversas etnias indígenas da América do Sul e por alguns grupos populacionais da Tailândia, Colômbia e África; porém, comer insetos em países europeus seria, segundo o cientista social, algo impensável. No entanto, podemos acrescentar que boa parte do interior brasileiro vê no içá uma saborosa iguaria sazonal, assim como o consumo de escargots ocupa um lugar privilegiado na França, de gourmandise, embora seja visto com desconfiança pela maioria de nós, eventuais comedores ou não de içás (abdomes de formiga tanajura). Em diversas culturas, as restrições alimentares são mais significativas com relação a animais, talvez porque eles tenham características que os aproximam dos seres humanos e, quanto mais se assemelham, mais são objetos de proibições. É o caso, por exemplo, do sangue dos animais, que remete à imagem da vida humana. De acordo com Fischler, a restrição severa para determinadas carnes não se baseia na fisiologia, mas em um sentimento de ordem moral ou estético. Segundo Hernández e Arnáiz (2005), em lugar de perguntarmos por que comemos certos alimentos, teríamos de questionar por que não ingerimos certas substâncias que são biologicamente comestíveis e estão ao nosso alcance. Montanari (2008) lembra que a comida não é ruim ou boa por si só, mas porque alguém ensinou a reconhecê-la como tal, e que o órgão do gosto não é a língua, mas o cérebro, culturalmente determinado, por meio do qual se aprendem e transmitem critérios de valoração. Essa rápida passada por interpretações e tendências em épocas diversas pode dar a impressão de que modos de abordagem foram sendo não apenas alterados como também substituídos em um processo cronológico. De fato, diversos tipos de abordagem conviveram e convivem, embora nem sempre de modo harmonioso. Novas linhas de investigação e novos temas de interesse se somam aos anteriores, e o intercâmbio entre perspectivas tende a se adensar em um processo de alargamento e incorporação temática, metodológica e teórica. Assim, o tema da identidade de grupos com base nos alimentos preferenciais ou nos modos de preparo se torna uma via de investigação cada vez mais palmilhada. Abdala (1997) publicou, por exemplo, Receita de Mineiridade: A Cozinha e a Construção da Imagem do Mineiro, em que apresenta a importância da cozinha na constituição de uma identidade. Recentemente, podemos encontrar um saudável esforço de conciliar perspectivas disciplinares e interdisciplinares nas abordagens da alimentação e da nutrição – aspectos de uma mesma questão. Esta questão, antropológica na origem, precisa de um enfoque multi e interdisciplinar que articule práticas e condições de vida, valores simbólicos, escolhas e nutrição. Em outras palavras, comer não é um assunto técnico, ou melhor, não se esgota em aspectos relacionados com a nutrição (valores mensuráveis). Comer envolve necessidades fisiobiológicas, sobrevivência, sociabilidade, afetividade, saberes, preferências, gostos, aprendizagens, obrigações, prazer. Tomemos de empréstimo duas das citações de Fischler contidas na obra de Maria Eunice Maciel (2001): Comer: nada mais vital, nada tão íntimo (…). Incorporando os alimentos, fazemos aceder ao auge da interioridade; (…) os alimentos devem se introduzir em nós, tornar-se nossa substância íntima (…). Alimentação é o domínio do apetite e do desejo, do prazer, mas também da desconfiança, da incerteza e da ansiedade. Se é possível avaliar o valor nutritivo do alimento (um combustível a ser liberado como energia e a sustentar o corpo), o ato de alimentar implica também um valor simbólico, o que complexifica a questão, pois requer outro tipo de abordagem (Fischler, 1995). Voltando ao trajeto da antropologia relativo aos estudos sobre alimentação e alimentos, recorreremos a outra fonte. Em artigo da antropóloga Ana Maria Canesqui (1976), publicado em 1988 e amplamente visitado, é traçado o percurso da antropologia brasileira no que concerne a nosso presente tema, desde as primeiras décadas do século 19 até a década de 1980. O levantamento realizado pela autora mostra que, de 1940 a 1970, a produção dos antropólogos versou sobre “práticas, hábitos e concepções de consumo”, privilegiando o estudo de populações rurais e urbanas pobres. Foi um período rico em pesquisas de comunidade e em estudos etnológicos e etnográficos. Numerosos trabalhos apresentavam e discutiam “crenças alimentares” (pré e pós-parto; em situação de doença; alimentos ditos frios ou quentes, carregados ou leves, reimosos ou não). A estudiosa mostra também o interesse por temas envolvendo alimentação e festividades (públicas ou privadas, religiosas ou não), além das relações entre religião e alimentação (restrições, “tabus” e consumos obrigatórios). A partir de meados da década de 1970, conforme pontua a autora, o interesse dos estudos se direcionou para a deterioração das condições de vida das camadas trabalhadoras. Então, como apontamos, ocorreu um abandono relativo do conceito de hábitos alimentares e a assunção de condições impostas pelos modos da organização ou da estrutura da sociedade. Logo, são diversos os trabalhos que tendem a estabelecer relação entre dieta, nutrição, salário, poder aquisitivo e importância da alimentação no montante dos gastos domésticos (já mencionamos alguns exemplos). Canesqui (1976) fala da caracterização de uma “dramaticidade social”, como a define o antropólogo Gilberto Velho. Na sua retomada desses anos do percurso, ela destaca autores e temas como estudos de representações, de conhecimento social e ideologia alimentar. Seu artigo termina apontando os caminhos necessários às futuras pesquisas: “elucidação do impacto das políticas governamentais alimentares para certo grupo”; “relação entre família e consumo”; “aparelhos produtores de ideologias, que imprimem direção às práticas de consumo das camadas subalternas”. Esse texto foi publicado em 1976. Entretanto, o que Canesqui aponta como estudos a serem feitos • • • • • • continua sendo, em larga medida, necessário; afinal, nada mais atual do que a necessidade de uma avaliação das políticas públicas voltadas à alimentação de grupos e segmentos específicos. Por exemplo: quais os impactos das cestas básicas para indígenas que vivem no espaço urbano? Quais os impactos positivos e negativos para a saúde dessas (e de outras) populações? Há ajustes necessários? Quais? A relação entre família e alimentação continua em foco, acrescida dos questionamentos relativos a alterações da pirâmide populacional e eventuais rebatimentos nas práticas familiares. Também nunca foram tão atuais as ações de “aparelhos produtores de ideologias alimentares”: se tomarmos os meios de comunicação como um desses aparelhos (extremamente poderosos), poderemos perguntar como eles impactam as práticas alimentares e a saúde da sociedade. Canesqui falava da premência do estudo dos impactos sobre “camadas subalternas”. De fato, preferimos falar “sociedade”, pois os efeitos de tais “aparelhos produtores de ideologias alimentares” são amplos, alcançando diferentes camadas sociais e impactando, talvez com maior força, a parcela mais jovem da população. Nesse ponto em particular, o recente trabalho de Silva Santos (2008) é esclarecedor. A autora fala em uma “cacofonia alimentar” dirigida a um público que assume vários papéis – consumidores, leitores, telespectadores, ouvintes, estudantes, pacientes etc.Discutindo questões relacionadas com um “projeto de corpo”, ela declara: (…) a dieta alimentar, ao lado da atividade física, se constitui em um dos pilares do projeto de construção do corpo do século 21. A prescrição dessas práticas engloba uma rotinização e, cada vez mais, uma interdependência na conquista do corpo ideal. (…) A produção e a indústria de alimentos produzem um complexo alimentar, fornecendo as condições materiais para a elaboração do projeto de construção corporal (Silva Santos, 2008). Vê-se, pois, que as questões elencadas começaram por menção quase restrita à alimentação, mas foram alargando-se, tornando-se complexas e assumindo papel cada vez mais abrangente em nossa sociedade contemporânea. De acordo com Montanari (2008), a frase de Anthelme Brillat-Savarin (1826), “Dize-me o que comes e te direi quem és”, tinha uma vertente psicológica e comportamental, em que o modo de comer revelaria a personalidade e o caráter do indivíduo. No entanto, colocada sob uma perspectiva histórica, a frase assumiria significados mais amplos, de natureza social (coletiva), indo além do individual. Há ainda outras questões relevantes e relativamente “modernas” que abrem um campo de envolvimento para nutricionistas, antropólogos, sanitaristas e outros profissionais: Uso de defensivos agrícolas e seus efeitos nas saúdes humana e animal Alimentos geneticamente modificados Mudança indiscriminada na dieta animal e suas consequências (o evento “vaca louca” foi um alerta) Uso de hormônios (que não é recente) Questões relacionadas com o meio ambiente motivadas pelo lucro Globalização e homogeneização da alimentação, com o aumento do consumo de alimentos • • • ▶ ▶ ■ 1. processados industrialmente Condutas de autoconsumo em transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, em torno dos quais há concepções de gênero e imagem corporal Excesso de peso e obesidade, apontados como graves problemas de saúde pública (estes estudos terão de enfrentar o simbolismo do excesso de peso e da magreza, o ideal estético, a apreciação do corpo gordo e robusto, ou a magreza e a elegância sendo vistas como virtudes) Desafio de transformar conhecimentos científicos, diretrizes e recomendações nutricionais em ações educativas que consigam modificar o comportamento alimentar dos indivíduos, introduzindo práticas saudáveis de alimentação e nutrição (sem perda dos significados e da capacidade crítica). Conclusão Para finalizar, queremos acentuar não apenas as possibilidades de interlocução entre diversas áreas de conhecimento e de interesse (no caso em questão, nossa ênfase recaiu sobre a antropologia), mas, sobretudo, ressaltar a necessidade dessa interlocução. Talvez a contribuição maior a ser tomada da antropologia seja o apelo à consideração e ao conhecimento da perspectiva “do outro”. A relativização pode ser um importante instrumento crítico. Sem dúvida, já existe uma consciência de que a prescrição dietética sem o suporte social e a inserção cultural resulta em rupturas do cotidiano com seus valores e crenças culinárias. Estudos revelam que intervenções nutricionais tradicionalmente adotadas têm sido consideradas com impacto mínimo (Sichieri e Souza, 2008; Jaime e Lock, 2009). Essas práticas, frequentemente, levam à ineficácia das prescrições dietéticas (Freitas et al., 2011). Compreender os elementos que influenciam o comportamento alimentar auxilia na formação e na manutenção de bons hábitos alimentares e no estado nutricional, além de contribuir para estratégias educacionais (Wheeler, 1985). Se não levarmos em conta a multidimensionalidade da alimentação, corre-se o risco de errar. Assim, a antropologia poderá auxiliar no diagnóstico da complexidade das escolhas alimentares. Qualquer política pública ou privada que queira intervir e/ou modificar deverá fazê-lo reconhecendo e conhecendo as numerosas expectativas que aparecem nos momentos de comer e de não comer, tendo em conta que o que comemos reflete a natureza complexa e contraditória da ordem social dominante (Hernández e Arnáiz, 2005). Atividades Oficina de culinária étnica Leitura e debate dos textos: 2. ▶ TEMPASS M.C. Os grupos indígenas e os doces brasileiros. Porto Alegre. Espa-ço Ameríndio. 2008, 2(2):98-114. Disponível em http://seer.ufrgs.br/EspacoAme rindio/issue/view/685/showToc. Acesso em 15 mar 2012. KATZ E. Alimentação indígena na América Latina: comida invisível, comida de pobres ou patrimônio culinário? Porto Alegre. Espaço Ameríndio; 2009, 3(1): 25-41. Disponível em http://www.seer.ufrgs.br/index.php/EspacoAmerindio/article/viewFile/8319/5217. Acesso em 15 mar 2012. Preparo, degustação e troca de receitas: Peixe assado em folha de bananeira, beiju e doce de banana sem açúcar. Referências bibliográficas ABDALA M.C. Receita de mineiridade: a cozinha e a construção da imagem do mineiro. Uberlândia: Edufu; 1997. CANESQUI A.M. Comida de pobre, comida de rico: um estudo sobre alimentação num bairro popular. Tese de Doutorado do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas; 1976. CASTRO J. Geografia da fome. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil; 1951. FISCHLER C. El (h)omnívoro | El gusto, la cocina y el cuerpo. Barcelona: Anagrama; 1995. FREITAS M.C.S., PENA P.G.L., FONTES G.A.V., SILVA D.O. Hábitos alimentares e os sentidos do comer. Mudanças alimentares e educação nutricional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011. GOLDENBERG P. Organização social e desnutrição em famílias de baixa renda no município de São Paulo. Tese de Doutorado da Escola de Saúde Pública da USP; 1981. HERNÁNDEZ C.J., ARNÁIZ M.G. Alimentación y cultura. Perspectivas antropológicas. Barcelona: Ariel; 2005. JAIME P.C., LOCK K. Do school based food and nutrition policies improve diet and reduce obesity? Pre Med; 2009, 48(1):45-53. LEAKEY R.E. A evolução da humanidade. São Paulo: Melhoramentos/Círculo do Livro; 1981. LÉVI-STRAUSS C. O cru e o cozido. São Paulo: Brasiliense; 1991. _____. Do mel às cinzas (Mitológicas). Paris: Plon; 1966. _____. Origem dos modos à mesa (Mitológicas III). Paris: Plon; 1968. _____. O triângulo culinário. Aix-en-Provence: L’Arc; 1965. MACIEL M.E. Cultura e alimentação, ou o que têm a ver os macaquinhos de Koshima com Brillat-Savarin? Porto Alegre. Horizontes Antropológicos; 2001, 7(16). MONTANARI M. Comida como cultura. São Paulo: Senac; 2008. SICHIERI R., SOUZA R.A. Estratégias para prevenção da obesidade em crianças e adolescentes. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro; 2008, 24(Supl. 2):209-34. SILVA SANTOS L.A. O corpo, o comer e a comida. Um estudo sobre práticas corporais e alimentares no mundo contemporâneo. Salvador: UFBA; 2008. SOBOLL M.L.M.S. Nível alimentar da população trabalhadora da cidade de São Paulo. Estudos socioeconômicos. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. 2. ed. São Paulo; 1973, n.1. VELHO O.G. Hábitos alimentares em grupos sociais de baixa renda. Série Antropologia. Universidade de Brasília; 1978, v.20. WHEELER E. Realism in nutrition education. New developments in nutrition education. Paris: Unesco (Nutrition Education Series 11); 1985, p. 22-8. ▶ ▶ 3 Educação Alimentar e Nutricional na Formação Acadêmica do Nutricionista Joana D. P. Mura Sandra Maria Chemin Seabra da Silva Introdução Discutir a formação do nutricionista, e especificamente dos conhecimentos adquiridos para a educação nutricional, faz com que repensemos nos marcos que influenciaram a concepção e a implementação de propostas inovadoras no campo da nutrição a partir da década de 1930. Assim, identificamos que, na realidade brasileira, a avaliação das políticas públicas é um campo tradicionalmente marcado pela carência de procedimentos sistemáticos. Do mesmo modo, é sabido que, atualmente, o comportamento alimentar ocupa papel central na prevenção e no tratamento de doenças, sendo muito importante para o crescimento e o desenvolvimento da nação. A carência sistemática de procedimentos, aliada à importância
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