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Antropologia Filosófica e Sociológica

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Indaial – 2020
FilosóFica e sociológica
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof.a Luciane da Luz
Prof. Pedro Fernandes Leite da Luz
2a Edição
antropologia
Elaboração:
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof.a Luciane da Luz
Prof. Pedro Fernandes Leite da Luz
Copyright © UNIASSELVI 2020
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Impresso por:
M152a
Maciel, Kelvin Custódio
Antropologia filosófica e sociológica. / Kelvin Custódio Maciel; 
Luciane da Luz; Pedro Fernandes Leite da Luz. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
192 p.; il.
ISBN 978-65-5663-215-5
ISBN Digital 978-65-5663-216-2
1. Antropologia filosófica. - Brasil. I. Maciel, Kelvin Custódio. II. 
Luz, Luciane da. III. Luz, Pedro Fernandes Leite da. IV. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 128
Prezado acadêmico! Bem-vindo ao estudo de Antropologia Filosófica e 
Sociológica, que vai lhe auxiliar em uma melhor compreensão do que consiste a Ciência 
Antropológica, como se situa no campo das Ciências Sociais, quais são seus objetos de 
estudo e quais os métodos de que se vale para o entendimento dos fenômenos relativos 
aos seres humanos. 
Também é nosso objetivo familiarizá-lo com as teorias antropológicas, as 
principais discussões nesta área de conhecimento e como se enfocam e refletem 
acerca da dimensão religiosa da vida humana. 
Na Unidade 1 nós definiremos o que é Antropologia, explicitaremos 
as etapas do fazer antropológico, os principais conceitos da área e o método 
específico desta disciplina. 
Na Unidade 2, nós travaremos contato com as principais teorias antropológicas e 
veremos como elas se relacionam com o desenvolvimento histórico da disciplina, também 
veremos alguns dos principais temas relacionados à investigação da Antropologia. 
Na unidade 3, será abordado as principais discussões acerca da antropologia 
filosófica, desde os gregos antigos até as formulações modernas. Serão privilegiados, 
nesta unidade, autores e textos considerados “clássicos” no percurso da história da 
filosofia, embora não exista uma lista universal que forneça quais seriam os “clássicos”. 
Com certeza, os autores, aqui apresentados, contribuem muito para o objetivo desta 
unidade: discutir uma visão geral sobre a perspectiva histórica da antropologia filosófica 
no ocidente. 
A terminologia antropologia é um conceito recente na história da filosofia, mas 
que abarca uma amplitude de pensamento que se inicia na Grécia Antiga, há mais de 
dois mil anos, nas primeiras civilizações do ocidente. A consolidação do termo se deu 
graças ao filósofo alemão Immanuel Kant, que intitulou uma de suas obras Anthropologie 
in Hinsicht (Antropologia de Um Ponto de Vista Pragmático), de 1798. Kant define a 
antropologia como a doutrina do conhecimento do homem ordenada sistematicamente. 
Portanto, quando nos referimos à antropologia filosófica, temos que ter em 
mente que se trata de uma ciência que tem, por objeto, o homem, em seus fundamentos 
últimos. Há dois usos clássicos do termo antropologia que fazem parte de outros 
campos do conhecimento. Por exemplo, as Unidades 1 e 2 tratam da antropologia 
sob a perspectiva etnológica, cultural, ou seja, quando olhamos para o homem sob o 
ponto de vista da sua origem histórica, e a antropologia física ou empírica, que tem, por 
prerrogativa, o estudo do homem sob o ponto de vista físico-somático. Evidente que 
existem muitas teorizações sobre a antropologia, haja vista a polissemia do termo, além 
do seu emprego nas ciências humanas. 
APRESENTAÇÃO
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
Nesta última unidade, iremos nos orientar sob o sentido filosófico do termo 
antropologia, cuja tarefa primordial é responder à pergunta: O que é o homem? Propomos 
a você, acadêmico, um convite a embarcar nessa aventura antropológica, que se inicia 
a partir do seu esforço em estranhar, pôr em questão o mundo que se apresenta como 
“natural”, ou seja, produto do processo de socialização dos homens em um tempo e 
espaço específicos. Nesse sentido, além de apresentar diferentes visões de homem sob 
a perspectiva da antropologia filosófica, você terá a liberdade de pensar e compreender 
sobre si mesmo, uma experiência verdadeiramente filosófica.
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof.a Luciane da Luz
Prof. Pedro Fernandes Leite da Luz
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
QR CODE
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — O QUE É ANTROPOLOGIA, OBJETO E MÉTODO ........................................................1
TÓPICO 1 — O QUE É ANTROPOLOGIA ...................................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 A ANTROPOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA ........................................................................... 7
3 A ANTROPOLOGIA NAPRÁTICA .........................................................................................9
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 12
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 13
TÓPICO 2 — ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E 
ANTROPOLOGIA SOCIAL ..................................................................................................... 15
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 15
2 ETNOGRAFIA ..................................................................................................................... 15
3 ETNOLOGIA .......................................................................................................................18
4 ANTROPOLOGIA CULTURAL ............................................................................................ 21
5 ANTROPOLOGIA SOCIAL ................................................................................................. 25
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 28
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 29
TÓPICO 3 — CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL ........................... 31
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 31
2 CULTURA .......................................................................................................................... 32
3 ETNOCENTRISMO ............................................................................................................ 46
4 RELATIVISMO CULTURAL ................................................................................................47
RESUMO DO TÓPICO 3 ......................................................................................................... 51
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 52
TÓPICO 4 — O TRABALHO DE CAMPO E A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ...................... 53
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 53
2 TRABALHO DE CAMPO .................................................................................................... 54
3 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ........................................................................................ 55
LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................59
RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................................ 63
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 64
UNIDADE 2 — AS ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E OS GRANDES TEMAS 
DA DISCIPLINA .................................................................................................................... 65
TÓPICO 1 — ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: EVOLUCIONISMO, DIFUSIONISMO, 
E ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE .....................................................................67
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................67
2 A ESCOLA EVOLUCIONISTA ............................................................................................ 68
3 PRINCIPAIS ANTROPÓLOGOS EVOLUCIONISTAS E SUAS TEORIAS SOCIAIS .............70
3.1 LEWIS HENRY MORGAN .....................................................................................................................70
3.2 EDWARD BURNET TYLOR ................................................................................................................ 73
4 A ESCOLA DIFUSIONISTA ................................................................................................76
4.1 O DIFUSIONISMO INGLÊS: A ESCOLA HIPERDIFUSIONISTA ...................................................... 77
4.2 DIFUSIONISMO ALEMÃO-AUSTRÍACO ...........................................................................................78
4.3 DIFUSIONISMO NORTE-AMERICANO: FRANZ BOAS E O HISTORICISMO OU 
PARTICULARISMO HISTÓRICO ............................................................................................................ 79
4.3.1 As duas principais comunidades estudadas por Franz Boas ....................................... 81
5 A ESCOLA DA CULTURA E PERSONALIDADE OU CONFIGURACIONISMO CULTURAL ........ 84
5.1 PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA ESCOLA DE CULTURA E PERSONALIDADE ......................85
5.1.1 Edward Sapir (1884-1939) ........................................................................................................85
5.1.2 Ruth Benedict (1887-1948) .....................................................................................................86
5.1.3 Margaret Mead (1901-1978) .....................................................................................................87
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 89
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 91
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 92
TÓPICO 2 — ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS: FUNCIONALISMO, 
ESTRUTURAL-FUNCIONALISMO, ESTRUTURALISMO, NEOEVOLUCIONISMO 
E PÓS-MODERNISMO .......................................................................................................... 93
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 93
2 AS ESCOLAS FUNCIONALISTA E ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA ............................. 93
2.1 A ESCOLA SOCIOLÓGICA FRANCESA – OS PRECURSORES DO 
FUNCIONALISMO E ESTRUTURAL-FUNCIONALISMO ................................................................94
2.2 A ESCOLA FUNCIONALISTA E SEU PRINCIPAL REPRESENTANTE: 
BRONISLAW MALINOWSKI .................................................................................................................95
2.2.1 Mas o que é Kula? .....................................................................................................................96
2.3 TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS DE MALINOWSKI .....................................................98
2.4 A ESCOLA ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA: RADCLIFFE-BROWN ..........................................99
2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A ESCOLA FUNCIONISTA 
E ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA .................................................................................................102
3 A ESCOLA ESTRUTURALISTA: CLAUDE LÉVI-STRAUSS .............................................103
3.1 PRINCIPAL REPRESENTANTE DA ESCOLA ESTRUTURALISTA: CLAUDE 
LÉVI-STRAUSS ..................................................................................................................................104
3.2 RELAÇÕES SOCIAIS, ESTRUTURA E MODELOS ........................................................................105
3.2.1 Natureza e história ..................................................................................................................106
3.2.2 Culturas simples e complexas .......................................................................................... 107
3.2.3 O que seriam os modelos consciente e inconsciente que Lévi-Strauss utiliza? ...........107
4 A ESCOLA NEOEVOLUCIONISTA ....................................................................................1084.1 LESLIE A. WHITE ................................................................................................................................108
5 ANTROPOLOGIA PÓS-MODERNA ................................................................................... 110
5.1 PRINCIPAIS AUTORES ..................................................................................................111
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 113
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 114
TÓPICO 3 — GRANDES TEMAS DA ANTROPOLOGIA: UNIÃO, CASAMENTO 
E PARENTESCO .................................................................................................................. 115
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 115
2 UNIÃO .............................................................................................................................. 115
3 CASAMENTO ................................................................................................................... 116
3.1 EXOGAMIA ............................................................................................................................................116
3.2 ENDOGAMIA ........................................................................................................................................ 117
4 MODALIDADES DE CASAMENTOS ..................................................................................117
4.1 PREÇO POR PROGÊNIE OU RIQUEZA DA NOIVA .........................................................................118
4.2 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DO PRETENDENTE À FAMÍLIA .....................................................119
4.3 TROCA DE PRESENTES ...................................................................................................................119
4.4 CAPTURA ...........................................................................................................................................120
4.5 MATRIMÔNIO POR AFINIDADE, SUBSTITUIÇÃO OU CONTINUAÇÃO: 
O LEVIRATO E O SORORATO ..........................................................................................................120
4.6 FUGA COM O AMADO ........................................................................................................................121
4.7 ADOÇÃO ...............................................................................................................................................121
5 SISTEMA DE PARENTESCO ............................................................................................122
5.1 CONCEITUANDO SISTEMA DE PARENTESCO ............................................................................. 122
5.2 ELEMENTOS QUE COMPÕEM O PARENTESCO .......................................................................... 123
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................132
UNIDADE 3 — FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA ...................................133
TÓPICO 1 — A CONCEPÇÃO DE HOMEM NA CULTURA GREGA ........................................135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................135
2 O HOMEM NA FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA ..................................................................136
3 OS SOFISTAS E A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA ..........................................................138
4 A ANTROPOLOGIA SOCRÁTICA-PLATÔNICA ................................................................ 141
5 A ANTROPOLOGIA ARISTOTÉLICA ............................................................................... 144
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................148
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................150
TÓPICO 2 — A CONCEPÇÃO DE HOMEM NO PERÍODO CRISTÃO-MEDIEVAL ..................153
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................153
2 A CULTURA MEDIEVAL: O HOMEM SEGUNDO A TRADIÇÃO BÍBLICA ..........................153
3 ANTROPOLOGIA PATRÍSTICA .......................................................................................156
4 ESCOLÁSTICA E A CONCEPÇÃO TOMISTA DE PESSOA ...............................................159
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................164
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................165
TÓPICO 3 — A CONCEPÇÃO DE HOMEM NA MODERNIDADE ........................................... 167
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 167
2 O HOMEM NO RACIONALISMO DE DESCARTES ............................................................168
3 A ANTROPOLOGIA NA IDADE CARTESIANA ...................................................................171
4 A ÉPOCA DA ILUSTRAÇÃO: KANT E A ANTROPOLOGIA PRAGMÁTICA ....................... 176
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................180
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................186
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................189
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 191
1
UNIDADE 1 - 
O QUE É ANTROPOLOGIA, 
OBJETO E MÉTODO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• levar o(a) acadêmico(a) a compreender o que é Antropologia, Etnologia e Etnografia;
• proporcionar ao(à) aluno(a) elementos para que distinga Antropologia Social e 
Antropologia Cultural;
• instrumentalizar o(a) acadêmico(a) com os conceitos fundamentais da disciplina, 
notadamente o de cultura;
• tornar o(a) aluno(a) capaz de caracterizar e utilizar o método antropológico.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – O QUE É ANTROPOLOGIA
TÓPICO 2 – ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ANTROPOLOGIA CULTURAL E 
ANTROPOLOGIA SOCIAL
TÓPICO 3 – CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
TÓPICO 4 – O TRABALHO DE CAMPO E A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
O QUE É ANTROPOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
Prezado acadêmico, bem-vindo ao estudo da disciplina Antropologia Geral 
e da Religião. Nesta primeira unidade nós veremos o que é Antropologia, seu objeto 
e método. 
 
Inscrita na tradição do conhecimento científico, embora tendo se constituído 
enquanto ciência somente no final do século XIX, a Antropologia, ramo tardio das Ciências 
Sociais, irá nos servir em nossa caminhada na compreensão dos fenômenos humanos, 
notadamente, no caso deste Caderno de Estudos, no que diz respeito à Religião.
 
Para utilizarmos a Antropologia como ferramenta paranossa prática profissional 
e crescimento pessoal, é preciso saber no que consiste exatamente, quais as pretensões 
e alcance deste saber e como o mesmo pode nos ajudar a entender o fenômeno religioso. 
 
Como toda ciência, a Antropologia apresenta um objeto que lhe é próprio e uma 
abordagem metodológica característica. Também se constrói por etapas e apresenta 
diversos campos de investigação, como veremos nesta unidade.
 
Aqui apresentaremos a você, nosso(a) atento(a) leitor(a), não só as definições 
mais aceitas desta disciplina, explicitando do que ela se ocupa (qual o objeto de sua 
investigação), mas também as maneiras pelas quais a Antropologia se aproxima da 
realidade que ela pretende elucidar, como se constrói o edifício do saber antropológico 
(com suas diversas etapas), quais seus campos de pesquisa e ainda alguns de seus 
conceitos mais importantes e a maneira própria deste conhecimento científico proceder 
na elucidação dos problemas de que trata (seu método característico). 
 
Assim, no Tópico 1 definiremos Antropologia, a partir de sua fundação enquanto 
ciência, na visão dos praticantes e teóricos deste saber, para levar você, acadêmico(a), 
a ser capaz de refletir criticamente acerca do fazer antropológico.
 
No Tópico 2 veremos as diferentes etapas e áreas deste conhecimento, para 
que você, estudante da UNIASSELVI, seja familiarizado com o campo semântico da 
disciplina e o alcance deste saber, a partir da análise de como este se forja e do que 
se ocupa.
 
4
No Tópico 3 trataremos de alguns dos conceitos mais importantes da Antropologia, 
conceitos estes que são fundamentais para a compreensão da especificidade do olhar 
antropológico e de seu objeto, para que você aprofunde seu entendimento do que trata 
a Antropologia.
 
Por fim, no Tópico 4 nós veremos a Antropologia na prática, o método próprio 
desta ciência, que a distingue das demais Ciências Sociais, para que você, nosso(a) 
aluno(a), possa saber como se faz, afinal, o conhecimento antropológico.
 
Esperamos que esta primeira unidade vá despertar sua curiosidade e interesse 
em saber mais a respeito da Antropologia e de como ela pode nos ajudar a compreender 
este fenômeno complexo que é o ser humano.
NOTA
Aqui utilizaremos ser humano em vez de “homem” para nos referirmos 
ao “anthropos” (o objeto da Antropologia) por entendermos, dentro da 
visão antropológica do fenômeno humano, que nossa espécie apresenta 
uma enorme diversidade de gêneros (às vezes dentro de uma mesma 
sociedade) o que torna o termo “homem” inapropriado para definir o 
conjunto dos seres humanos.
FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DE POPULAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DO NORDESTE BRASILEIRO
FONTE: <http://msalx.viajeaqui.abril.com.br/2013/08/29/1431/5tY2z/ilustra-final-jubran.
jpeg?1377804486>. Acesso em: 31 mar. 2015.
A partir de seu próprio nome, Antropologia, podemos inferir do que se ocupa 
esta disciplina, que, de agora em diante, será alvo de seus estudos, Prezado acadêmico 
da UNIASSELVI. De fato, este nome de origem grega é revelador do foco desta ciência.
 
5
Vejamos: o mesmo compõem-se de dois substantivos daquela língua clássica, 
a saber, anthropos, o ser humano, e logos, estudo (ou ainda razão e lógica). 
 
Antropologia trata-se assim do “Estudo do Ser Humano”, definição que a põe 
inserida na tradição científica, no campo das Ciências Humanas, próxima, portanto, 
da Sociologia e da Economia, por exemplo. Nesta perspectiva, a mesma investiga a 
constituição e a dinâmica da experiência humana, tanto em suas relações internas, 
quanto aquelas com o meio circundante. 
 
De acordo com Gomes (2013, p. 11), outra tradução possível para Antropologia 
seria “Lógica do Ser Humano”, o que colocaria alguns dos focos e análises desta matéria 
em sintonia com determinadas áreas da Filosofia, como a Lógica, a Metafísica e a 
Hermenêutica, na busca do sentido da experiência humana em sua especificidade. 
FIGURA 2 – REPRODUÇÃO DA LINHAGEM QUE CONSTITUIU NOSSA ESPÉCIE
FONTE: <http://www.ahistoria.com.br/wp-content/uploads/historia-da-evolucao-humana.jpg>. 
Acesso em: 8 abr. 2015.
Gomes (2013) chama a atenção para o fato de que, embora a origem do nome 
seja grega, não foram os gregos que inventaram a Antropologia, ainda que eles não se 
furtassem a especular sobre a condição humana. Isto devido ao etnocentrismo deste 
povo, que se julgava superior às demais nações de seu tempo.
NOTA
Etnocentrismo: conceito fundamental da Antropologia, no qual nos 
aprofundaremos mais adiante, mas que aqui adiantamos tratar-se da tendência 
natural de toda cultura humana de considerar-se superior as demais.
6
Ora, para o fazer antropológico é preciso a superação do entrave colocado pelo 
etnocentrismo e se admitir a unidade da espécie humana. É necessário reconhecer que, 
apesar de nossas imensas diferenças culturais, somos uma só humanidade. 
 
Esta perspectiva, que possibilita a reflexão antropológica, só se coloca 
numa época mais recente da humanidade, a partir do Iluminismo, quando começa a 
especulação filosófica, a princípio, acerca das possibilidades da existência e da ação 
humana (GOMES, 2013). 
FIGURA 3 – FILÓSOFOS ILUMINISTAS REUNIDOS EM DEBATE
FONTE: <http://files.seculodasluzes.webnode.com.br/200000006-67d3168ccf/50000000.jpg>. 
Acesso em: 8 abr. 2015.
Desta maneira, de um ângulo filosófico, a Antropologia seria uma forma de se 
pensar a diversidade da experiência humana, que se reflete nas diferentes culturas. 
Posteriormente, com a introdução da teoria da evolução, a Antropologia aproxima-se 
mais do campo científico, procurando integrar a especificidade do ser humano em um 
contínuo com a natureza.
 
Assim, a Antropologia comporta dois aspectos, tanto como Filosofia da cultura, 
quanto ciência do ser humano, procurando ora interpretar, ora explicar as características 
próprias da humanidade. 
 
Mais recentemente, com o desconstrucionismo pós-moderno do fazer 
antropológico, a Antropologia tem sido considerada como uma forma particular de 
literatura, sendo, portanto, tida como uma arte. Um dos autores que advoga este ponto 
de vista é James Clifford, que junto com George E. Marcus foi responsável por um livro 
emblemático da visão pós-moderna em Antropologia (Writing Culture: The Poetics and 
Politics of Ethnography, University of California Press, 1986), sendo os dois os principais 
autores a realizar a desconstrução das etnografias clássicas em Antropologia. 
 
7
Dentro da perspectiva destes autores a Antropologia seria a arte da crítica 
cultural, onde a cultura reveste-se de um caráter polissêmico, sendo que a interpretação 
do antropólogo é apenas uma das possíveis, junto com aquelas de seus interlocutores, 
membros das culturas estudadas.
FIGURA 4 – OS DOIS PRINCIPAIS AUTORES DA CORRENTE PÓS-MODERNA EM ANTROPOLOGIA, 
JAMES CLIFFORD (À ESQUERDA DA FOTO) E GEORGE E. MARCUS EM UMA PRAÇA PARISIENSE
FONTE: Disponível em: <https://typhoon-production.s3.amazonaws.com/uploads/image_
attachment/image_attachment/543/inline_clifford___marcus_resized.jpeg>. Acesso: 9 abr. 2015.
2 A ANTROPOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA
Arte, Filosofia ou Ciência? Você deve estar se perguntando, querido(a) 
acadêmico(a). Bom, você já deve ter percebido que a Antropologia comporta diferentes 
aspectos da realidade dos grupos sociais. Neste Caderno de Estudos nos concentraremos 
na dimensão científica da Antropologia.
 
Neste sentido, a exemplo de Marconi e Presotto (2001), consideramos que a 
Antropologia, dentro do campo científico, comporta três aspectos, em virtude de sua 
abordagem própria (que procura ver o fenômeno humano com um todo), a saber:
a) Enquanto Ciência Social, procurando conhecer o ser humano em sua dimensão 
de participante de grupos sociais organizados diversos, como uma determinada 
sociedade, por exemplo.
b) Enquanto Ciência Humana, voltando-se para a totalidade da experiência humana, 
como sua história, usos e costumes, linguagem e demais fenômenos relacionados ao 
ser humano.c) Enquanto Ciência Natural, a Antropologia investiga as características psicossomáticas 
do ser humano e sua evolução no mundo natural.
 
8
Vemos assim que a abordagem antropológica do ser humano pretende ser 
total, contemplando sua dimensão física, sociocultural e ainda filosófica. Em suas 
investigações procura a Antropologia captar e transmitir o modo de vida dos povos que 
estuda em todos os aspectos possíveis. 
 
Desta maneira a Antropologia tem como objetivo conhecer o ser humano 
em sua totalidade, tanto em seu aspecto biológico (através dos estudos da evolução 
de nossa espécie), quanto cultural (investigando seu comportamento, vida social 
e produção cultural). De acordo com Marconi e Presotto (2001) em nenhuma outra 
disciplina científica encontraríamos uma investigação tão sistemática e unificada das 
manifestações e atividades humanas.
 
Enquanto Ciência da Humanidade e da Cultura, a Antropologia apresenta um 
enorme campo de investigação, abrangendo todo o planeta habitado e na dimensão 
temporal, pelo menos há dois milhões de anos (quando surgiram os primatas que 
acabaram evoluindo no ser humano moderno), procurando cobrir ainda todas as 
sociedades de que se tem registro (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
A distribuição da humanidade através do tempo.
FIGURA 5 – MAPA MOSTRANDO A DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DO SER HUMANO
FONTE: <http://www.conevyt.org.mx/cursos/cursos/cnaturales_v2/interface/main/recursos/
antologia/imagenes/cnant_1_1_1.jpg>. Acesso em: 9 abr. 2015.
Prezado acadêmico, certamente, pelo que dissemos até agora, você já deve 
intuir que a Antropologia é um discurso humano (literário, científico e filosófico, 
simultaneamente) acerca de tudo o que diz respeito à experiência humana, e sua 
singularidade. Contribui assim a Antropologia para a compreensão teórica do que é ser 
humano, em todos os sentidos e dimensões que dizem respeito à humanidade, em si e 
para si, a partir de si mesma, de seu logos, sua razão autorreflexiva. 
 
9
E a Antropologia faz isso à sua própria maneira, com seus métodos e teorias 
produzidas e utilizadas neste campo da ciência, que lhe dão uma exclusividade 
legitimadora diante do conhecimento humano. Procuraremos esclarecer neste caderno, 
ao máximo a você aluno(a) da UNIASSELVI, com o intuito de ajudá-lo(a) a refletir 
criticamente a respeito da experiência humana, notadamente a experiência religiosa.
O êxtase religioso, experiência humana do divino.
FIGURA 6 – XAMÃ, VESTINDO MÁSCARA, EM TRANSE DURANTE RITO DE SUA CULTURA
FONTE: <http://www.xamanismo.com.br/twiki/pub/Universo/SubUniverso1191191114It010/te.jpg>. 
Acesso em: 10 abr. 2015.
3 A ANTROPOLOGIA NA PRÁTICA
Mas seria só isso? A Antropologia limitar-se-ia a ser mais uma teoria (com 
sua especificidade, bem verdade) em meio a outras que procuram dar conta do que 
somos nós? 
 
Sendo a Ciência do ser humano e da cultura por excelência (MARCONI; 
PRESOTTO, 2001), a Antropologia conjuga ao aspecto teórico, também a dimensão 
prática. Ela nos ajuda não só a pensarmos acerca de nós mesmos, mas igualmente nos 
auxilia em efetivarmos mudanças para melhor em nossa vivência no mundo e darmos 
conta, de maneira mais eficaz, das questões que nos são próprias.
 
Se os teóricos puros em Antropologia buscam atingir aquele conhecimento total 
(ou idealmente total) do ser humano, que resulte em uma compreensão mais apurada da 
humanidade, o fazem com o intuito de levar este saber a aplicações práticas que tragam 
benefícios efetivos para as diferentes populações humanas com as quais trabalham.
 
10
Os antropólogos estão conscientes e zelam para que a aplicabilidade do 
conhecimento que produzem seja pautada por determinados princípios que são 
imprescindíveis e indissociáveis de um exercício ético da profissão. É importante que 
você, nosso(a) aluno(a), conheça que princípios são estes.
 
O mais importante é o respeito à diversidade cultural e aos diferentes valores que 
cada cultura apresenta. Dentro desta perspectiva, a ação do antropólogo e a aplicação 
de seu saber deve conduzir-se pelo reconhecimento da autonomia dos grupos humanos 
e o direito destes à autodeterminação. 
 
Todos os povos têm de ter reconhecido e garantido o direito de produzirem 
sua própria cultura, tê-la para si e mudá-la a partir de sua própria dinâmica e lógica 
interna. Os membros das diferentes culturas têm o direito de ter suas crenças, hábitos, 
costumes e ideologias próprios, que lhes conferem suas identidades. 
 
A partir desta perspectiva os conhecimentos antropológicos podem e devem 
ser aplicados de maneira prática, visando o bem-estar das populações. Desta forma, a 
Antropologia aplicada teria os seguintes papéis (MARCONI; PRESOTTO, 2001):
a) Contribuir para a solução de problemas causados em função da diversidade cultural, 
minimizando conflitos resultantes de desequilíbrios e tensões que se originam nas 
diferenças culturais, procurando garantir o respeito às especificidades culturais.
b) Colocar o conhecimento antropológico a serviço da solução de problemas de fundo 
social, político e econômico dos diferentes povos.
FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL DO BRASIL POR REGIÕES
FONTE: Disponível em: <http://www.infojovem.org.br/wp-content/uploads/2009/06/Diversidade-
Brasileira1.bmp>. Acesso em: 10 abr. 2015.
11
Efetivamente a Antropologia tem contribuído para a solução de problemas e 
desafios colocados pelo colonialismo, advogando pelos direitos dos povos nativos e 
zelando pela preservação cultural destas populações. 
O conhecimento antropológico tem ajudado na implantação de projetos de 
desenvolvimento em diversas áreas (colonização de terras, reforma agrária, fortalecimento 
comunitário e da economia local etc.) e ainda na promoção da coexistência pacífica em 
nações multiculturais e na garantia de territórios de povos indígenas e quilombolas.
 
A Antropologia igualmente tem dado sua contribuição às sociedades complexas 
e industrializadas, não só ajudando-as a conviver de maneira justa e equânime com 
outros povos, mas também procurando apresentar soluções à crise colocada pelas 
relações sociais próprias das nações capitalistas.
FIGURA 8 – VISTA AÉREA DA COMUNIDADE DA ROCINHA, UMA DAS MAIORES FAVELAS DA 
AMÉRICA LATINA, TENDO AO FUNDO O BAIRRO DE SÃO CONRADO, DE ALTO PODER AQUISITIVO
FONTE: Disponível em: <http://static.todamateria.com.br/upload/54/21/5421c7a093384-
desigualdade-social-no-brasil.jpg>. Acesso em: 10 abr. 2015.
Prezado acadêmico, a esta altura de nosso Caderno de Estudos nós esperamos 
que você já seja capaz de definir, a partir do que expusemos, o que seja Antropologia. 
Vejamos agora, em nosso próximo tópico, as etapas do fazer antropológico e as principais 
áreas deste saber.
12
• Neste Tópico nós vimos o escopo da Antropologia, no que consiste e do que se 
ocupa, caracterizando-a enquanto um discurso racional e sistemático acerca de 
nós mesmos, na nossa especificidade enquanto seres vivos.
 
• Também contemplamos a Antropologia sob a ótica científica, localizando-a neste 
campo do conhecimento e caracterizando-a enquanto Ciência Humana, na área 
das Ciências Sociais.
 
• Igualmente nos ocupamos em especificar as atividades desenvolvidas pelos 
antropólogos, explanando a utilidade prática do conhecimento antropológico e 
como vem sendo empregado em nosso país.
RESUMO DO TÓPICO 1
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Responda às seguintes perguntas:
1 O que é Antropologia?
2 O que foi preciso superar, e quando isto se deu, para que a Antropologia tivesse gênese?
3 Como a Antropologia se coloca enquanto Ciência Social?
4 Cite uma das aplicações práticas do conhecimento antropológico.
AUTOATIVIDADE
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15
ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, 
ANTROPOLOGIA CULTURAL E 
ANTROPOLOGIA SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
Prezado acadêmico, neste segundo tópico de nosso Caderno de Estudos 
veremos as diferentes etapas do fazer antropológico, a saber, a etnografia e a etnologia, e 
os dois principais campos da Antropologia,ou seja, aqueles que investigam os domínios 
cultural e social de nossa espécie.
 
Aqui cabe um esclarecimento: a exemplo de Lévi-Strauss (1967 apud MARCONI; 
PRESOTTO, 2001), consideraremos a etnografia e a etnologia como etapas distintas da 
construção da Antropologia enquanto ciência. 
 
Dizemos isso por que outros autores (ver GOMES, 2013, p. 63) consideram a etnografia 
e a etnologia como ramos da ciência da cultura, enquanto que alguns antropólogos têm a 
etnografia e a etnologia como métodos procedimentais da disciplina Antropologia.
2 ETNOGRAFIA
Afinal, o que seria Etnografia? Vejamos a origem etimológica da palavra para tentar 
entendê-la. Etnografia vem do grego έθνος, ethno - nação, povo e γράφειν, graphein – 
escrever. Literalmente “etnografia” tem o sentido de “escrever sobre os povos” (HOEBEL; 
FROST, 2006, p. 8). 
FIGURA 9 – O ETNÓGRAFO E ANTROPÓLOGO BRASILEIRO ROQUETTE-PINTO EM CAMPO
FONTE: <http://www.fm94.rj.gov.br/application/assets/img/img_historico_02.jpg>. 
Acesso em: 10 abr. 2015.
16
Assim, etnografia seria a maneira pela qual a Antropologia coletaria os dados de 
que lança mão em suas especulações, sendo resultado do contato entre a subjetividade 
do antropólogo e aquela dos membros das culturas que estuda. Podemos, desta 
maneira, afirmar que a etnografia consiste em um “estudo descritivo das sociedades 
humanas” (HOEBEL; FROST, 2006, p. 8-9). 
 
Aqui cabe destacar que as primeiras etnografias não foram feitas por 
antropólogos, de fato, muito antes da constituição da Antropologia enquanto Ciência 
já tínhamos descrições de outros povos feitas por pensadores de diferentes culturas. 
 
Em seus primórdios, mesmo a Antropologia trabalhava com relatos acerca de 
populações nativas feitos por exploradores, missionários, funcionários administrativos, 
viajantes, comerciantes, soldados e demais indivíduos que tiveram contato com povos 
distintos e os descreveram. Somente a partir do final do século XIX que os antropólogos 
passaram a ir a campo e realizarem as descrições dos povos por eles investigados.
FIGURA 10 – O ANTROPÓLOGO MALINOWSKI RECOLHENDO INFORMAÇÃO ACERCA DOS 
TROBIANDESES ENTRE ESTES
FONTE: <http://conceito.de/wp-content/uploads/2011/11/etnografia-238x171.jpg>. 
Acesso em: 10 abr. 2015.
Presentemente grande parte das etnografias são realizadas por antropólogos 
que passaram por treinamento nas diferentes técnicas antropológicas contemporâneas 
de coleta de dados e registro de culturas distintas, técnicas que implicam o convívio 
empático e participativo junto aos povos por eles estudados (HOEBEL; FROST, 2006).
 
De fato, uma das grandes “provas iniciáticas” da Antropologia está em realizar 
a etnografia da cultura acerca da qual o antropólogo pretende refletir. Idealmente 
todo antropólogo deveria iniciar sua carreira produzindo uma descrição etnográfica 
de algum povo, cultura, ou grupo social, alvo de suas pesquisas.
 
17
Embora tenha um caráter prático, a etnografia não é livre da influência das 
teorias produzidas em Antropologia, uma vez que toda etnografia é informada por 
certo referencial teórico que lhe dá uma estrutura e enfoque próprio, muito embora 
as descrições etnográficas não se ocupem de problemas teóricos, nem formulem 
hipóteses ou teses acerca dos fenômenos sociais e culturais que descreve.
FIGURA 11 – O ETNÓGRAFO DE ORIGEM ALEMÃ CURT NIMUENDAJÚ (AO CENTRO DA IMAGEM, 
SENTADO) RECOLHENDO DADOS EM CAMPO
FONTE: <https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSiKdqwjr7QXaPzwkTE2-
4WQRBL0BrX4Xd3fM4TjzV6Q4-eCYD5>. Acesso em: 10 abr. 2015.
Vemos assim que etnografia originalmente designa a descrição e o estudo de 
uma determinada cultura ou povo, sendo, de preferência, sistemática e abrangente, 
contemplando todos os aspectos, da religião à economia, dos povos que investiga 
(GOMES, 2013), sendo um documento que é a base empírica da legitimação da 
Antropologia enquanto ciência.
 
Lévi-Strauss (1967, p. 14 apud MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 27) diz que a etnografia: 
consiste na observação e análise de grupos humanos considerados 
em sua particularidade (frequentemente escolhidos, por razões 
teóricas e práticas, mas que não se prendem de modo algum à 
natureza da pesquisa, entre aqueles que mais diferem do nosso), 
e visando à reconstituição, tão fiel quanto possível, da vida de cada 
um deles.
 
Assim o etnógrafo seria aquele especialista no conhecimento “exaustivo” da 
cultura dos povos que investiga, realizando a observação, descrição, reconstituição 
e análise de diferentes populações nativas, coletando material de forma abrangente 
acerca de todos os aspectos culturais possíveis de serem observados e descritos por ele 
para a compreensão dos povos pesquisados (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
18
FIGURA 12 – O ANTROPÓLOGO FRANCÊS LÉVI-STRAUSS FAZENDO ETNOGRAFIA ENTRE OS 
NAMBIKWARA, GRUPO INDÍGENA BRASILEIRO DO MATO GROSSO E RONDÔNIA
FONTE: <http://www.cella.com.br/blog/wp-content/uploads/2009/11/claudep.jpg>. 
Acesso em: 10 abr. 2015.
3 ETNOLOGIA
Prezado acadêmico, agora você já deve estar ciente de que a etnografia, isto é, a 
descrição científica de um determinado povo, grupo social ou cultura, é a primeira etapa 
do fazer antropológico. Mas qual seria a etapa seguinte? Esta, querido(a) estudante, 
seria a Etnologia. Mas o que ela vem a ser?
FIGURA 13 – CAPAS DE ALGUNS DOS PRIMEIROS ESTUDOS EM ETNOLOGIA PRODUZIDOS NO BRASIL
FONTE: Capa 1: <http://twixar.me/FWhm>. Acesso em 10 abr. 2015. 
Capa 2: <http://twixar.me/LWhm>. Acesso em: 10 abr. 2015.
Capa 3: <http://twixar.me/WWhm>. Acesso em: 10 abr. 2015.
19
Dentro do ponto de vista que adotamos aqui podemos dizer que a etnologia é 
a etapa seguinte da edificação do saber antropológico, após o levantamento de dados 
e informações feitas na fase da etnografia. Seria, assim, a etnologia a reflexão, ou 
estudo baseado nos fatos documentados no registro de uma cultura, tendo em vista 
a apreciação analítica e sua comparação com dados semelhantes de outras culturas.
 
Etnologia define-se também por seu método próprio, denominado por Espina 
Barrio (2005, p. 37) como “método comparativo transcultural”, tendo por base os dados 
empíricos levantados na etnografia, comparam-se as informações particulares de cada 
povo com o intuito de inferir algo a respeito da humanidade. 
 
Trata-se de, a partir de estudos aprofundados em uma determinada população 
humana, de caráter empírico, revelar algo da humanidade em geral, pela comparação 
entre os diferentes povos, remetendo então ao campo da teoria acerca do ser humano.
 
Espina Barrio (2005, p. 21) chama a atenção para o fato de a etnologia ir além 
das descrições das diferentes culturas, feitas pela etnografia, com o intuito de, pela 
comparação entre as diversas etnografias, “analisar as constantes variáveis que se 
dão entre as sociedades humanas, e estabelecer generalizações e reconstruções da 
história cultural”.
 
Etnologia, desta forma, apresenta-se como o estudo dos diferentes povos, como 
a palavra, de origem grega, revela: éthnos, povo; logos, estudo. Mas, como já dissemos em 
relação à etnografia, foi somente a partir do Iluminismo que se estabeleceu um estudo 
de cunho verdadeiramente científico da humanidade, a partir da comparação entre os 
povos. Embora já na antiguidade clássica alguns autores comparassem os costumes 
das diferentes populações humanas de seu tempo, somente com a ideia de unidade da 
espécie humana constitui-se a ciência da Antropologia.
 
De fato, a primeiro emprego moderno do termo etnologia é do final do século 
XVIII, o chamado século das luzes, e foi de Kóllar, jurista e etnólogo na corte do império 
Austro-Húngaro. Este autor definia etnologia como: "a ciência das nações e povos, ou, 
o estudo dos eruditos no qual investigam nas origens, línguas, costumes e instituições 
das várias nações, e finalmente, na pátria e antigas sedes para poder julgar melhor as 
nações e povos de seus próprios tempos". (FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Etnologia>. Acesso em: 14 abr. 2015).
 
Definição que deixa claro as bases científicas da prática etnológica, fundada em 
dados empíricos, na comparação e na concepção de uma humanidade única.
Na figura abaixo, o autor Adam František Kollár de Keresztén.
20
FIGURA 14 – KÓLLAR AUTOR QUE CUNHOU E DEFINIU O TERMO “ETNOLOGIA”
FONTE: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/93/AFKollar_1779.jpg/220px-
AFKollar_1779.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2015.
Enquanto etapa do fazer antropológico, a etnologia insere-se no campo da 
ciência da cultura, consistindo em, a partir de dados coletados e registrados em uma 
etnografia, comparar as informações concernentes a diversas culturas e analisá-los e 
interpretá-los, tendo em vista as semelhanças e diferenças apresentadas, na tentativa 
de compreender o ser humano em suas inter-relações e relações com o meio ambiente. 
Procura igualmente o etnólogo ver e analisar o ser humano, tanto enquanto indivíduo, 
quanto como membro de uma determinada sociedade ou cultura, ao mesmo tempo em 
que tenta revelar como operam e se modificam. (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
 
Para Gomes (2013) a etnologia teria um estatuto científico superior à 
etnografia, consistindo em um “estudo comparativo de etnografias” estudo este 
que facilitaria a reflexão mais aprofundada dos temas e traços comuns aos povos 
comparados, lançando bases, desta maneira, a produção de teorias mais amplas, de 
caráter antropológico. Este autor vê assim uma hierarquia entre os termos etnografia-
etnologia-antropologia, que ele diz ser amplamente aceita pelos antropólogos.
 
A etnologia, análise científica dos povos, suas culturas e suas trajetórias, 
enquanto tal, ao longo do tempo, supera a preocupação etnográfica buscando, dentro da 
perspectiva da ciência, revelar e compreender as relações que as diferentes populações 
estabelecem com o ambiente, natural e social, onde vivem, bem como a relação dos 
seres humanos com os grupos dos quais fazem parte e das culturas entre si e suas 
diferenças (HOEBEL; FROST, 2006).
As diferenças culturais e a unidade da espécie humana.
21
FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL E APELO À CONSCIENTIZAÇÃO DA 
UNIDADE DA HUMANIDADE
FONTE: <http://www.numeroreal.com.br/cerp/wp-content/uploads/2014/08/mafalda.jpg>. 
Acesso em: 14 abr. 2015.
Esperamos ter deixado claro a você, Prezado acadêmico, o que é etnologia. 
A partir de agora veremos dois dos campos principais da Antropologia, dois enfoques 
distintos desta ciência, que representam duas tradições diferentes da mesma, a saber: 
a Antropologia Cultural e a Antropologia Social.
4 ANTROPOLOGIA CULTURAL
A princípio, dentro da tradição norte-americana, a Antropologia divide-se em 
quatro grandes áreas de investigação, a saber: 
a) A Antropologia Física ou Biológica, que estuda o ser humano em suas características 
biológicas, procurando determinar a origem e evolução de nossa espécie (a partir 
do achado de fósseis de hominídeos e pré-hominídeos), sua anatomia, fisiologia e 
características fenológicas, tanto em populações humanas atuais, quanto nas antigas.
FIGURA 16 – ANTROPÓLOGO FÍSICO EXAMINA RESTOS DE OSSADAS HUMANAS NA ESPANHA
FONTE: <http://twixar.me/JZhm>. Acesso em: 14 abr. 2015.
22
b) A Arqueologia, que investiga a evolução das sociedades humanas ao longo da 
história, focando exclusivamente naquelas extintas e sem escrita, e tendo por 
base os vestígios arqueológicos, isto é, os objetos, utensílios, pinturas, restos de 
habitações e demais sinais da ocupação humana de um determinado local, revelados 
por escavações sistemáticas e de acordo com a metodologia desta ciência, tentando 
reconstruir nosso passado.
FIGURA 17 – ARQUEÓLOGOS ESCAVANDO ANTIGO SÍTIO DE OCUPAÇÃO HUMANA
FONTE: <http://www.abrhestagios.com.br/img/noticia/0959415001411151811arqueologia-a.jpg>. 
Acesso em: 22 maio 2015. 
c) A Linguística, que se ocupa das línguas humanas, no que diz respeito à sua estrutura 
interna, suas conexões, história, dinâmica de mudança e, notadamente, o significado 
que estas conferem à cultura e à expressão do ser humano em uma dada sociedade, 
dentro da perspectiva que é a língua o meio privilegiado pelo qual nossa espécie 
apreende o mundo e lhe dá sentido.
FIGURA 18 – CHARGE DEMONSTRANDO A VARIEDADE LINGUÍSTICA E CULTURAL BRASILEIRA
FONTE: Disponível em: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/
images?q=tbn:ANd9GcSXDNEDRYWWPBQ52l8_B6280yzRR0lB5DMM74epL-HyISz-XcyRBg>. 
Acesso em: 14 abr. 2015.
d) Por fim a Antropologia Cultural, na qual nos aprofundaremos a seguir.
23
É possível, Prezado acadêmico, que você tenha visto em outros livros de 
Antropologia uma divisão diferente da que aqui apresentamos. Isto é natural, uma vez 
que estas divisões refletem visões e tradições diferentes da disciplina. Nenhuma está 
mais correta que a outra, mas todas ajudam a sistematizar o campo e ilustrar o imenso 
escopo da Antropologia, que, como você já deve ter percebido, procura dar conta da 
totalidade da experiência humana. 
 
A Antropologia Cultural igualmente pode ser definida de diversas maneiras e, 
conforme a tradição na qual se insere o autor que dela trata, pode abarcar diferentes 
aspectos da realidade que procura elucidar.
 
Espina Barrio (2005, p. 19) define Antropologia Cultural como “... o estudo e 
descrição dos comportamentos aprendidos que caracterizam os diferentes grupos 
humanos”. Este autor prossegue informando que o ofício do antropólogo cultural 
consiste em investigar os feitos e obras materiais e sociais criados por nossa espécie 
ao longo de sua história e que nos possibilitou nos relacionarmos entre nós nas 
diversas sociedades e a se apropriar e transformar o meio ambiente de maneira a 
garantir nossa sobrevivência.
 
Para Marconi e Presotto (2001) a Antropologia Cultural apresentaria o maior 
e mais abrangente campo da ciência antropológica. Comportaria, na visão das 
autoras, o estudo do ser humano enquanto ser cultural, isto é, produtor de cultura. 
O antropólogo cultural investigaria as diferentes culturas humanas, ao longo 
do tempo e em todo o espaço ocupado por nossa espécie, levantando a origem e 
desenvolvimento destas, suas semelhanças e diferenças. Seu interesse primordial está 
em conhecer o comportamento humano em sua dimensão cultural, ou seja, as formas 
pelas quais nós agimos em função da cultura da qual fazemos parte. 
 
Este aspecto da pesquisa das maneiras pelas quais se apresenta o 
comportamento humano também é destacado por Hoebel e Frost (2006, p. 7) em relação 
à Antropologia Cultural: “... trata das características do comportamento civilizado nas 
sociedades humanas passadas, presentes e futuras.”
 
NOTA
Mais adiante nos deteremos mais aprofundadamente no conceito de cultura 
dentro da perspectiva antropológica.
24
Podemos ver que a Antropologia Cultural foca preferencialmente na pesquisa 
acerca do desenvolvimento das sociedades humanas no mundo, ao longo de 
toda sua história. Ela investiga os comportamentos apresentados pelos diferentes 
grupos humanos, pesquisando, entre outros temas, os costumes, hábitos, práticas 
e convenções de origens sociais e culturais, o surgimento e desenvolvimento das 
diferentes instituições que apresentamos, como a família, a religião e outros, bem como 
a evolução das diferentes técnicas que nossa espécie desenvolveu para lidar com o 
mundo natural e prover nossas necessidades.
A cultura determina nosso comportamento. 
FIGURA 19 – MULHERES GANESAS PARTICIPANDO DE RITO DE SUA CULTURA
FONTE: <http://cdn5.yorokobu.es/wp-content/uploads/1ghana.jpeg>. Acesso em: 17 abr. 2015.
De uma maneira geral a Antropologia Cultural está mais ligada à tradição norte-
americana da ciência antropológica. Mais adiante neste caderno iremos ver como a 
gênese e o desenvolvimento da Antropologia nos E. U. A. ficou marcada pelo conceito 
de cultura, cujo papel fundamental na reflexão antropológica norte-americana pode ser 
visto ao longo da história da antropologia neste paísnas diversas escolas da disciplina 
que lá floresceram.
Na imagem a seguir, Franz Boas, fundador da Antropologia norte-americana.
25
FIGURA 20 – O ANTROPÓLOGO FRANZ BOAS DEMONSTRA UM RITO DO POVO QUE ESTUDOU
FONTE: <https://encrypted-tbn1.gstatic.com/
images?q=tbn:ANd9GcT21zYLNgQ0v0_3K9eGBUwOpwmXm_11gZv_tN-65bv9JsopZ2PH>. 
Acesso em: 18 abr. 2015
Já a Antropologia Social está indelevelmente ligada à tradição britânica da 
Antropologia, mas no que consiste esta última?
5 ANTROPOLOGIA SOCIAL
Para Espina Barrio (2005) a Antropologia Social se ocuparia de problemas 
relativos à estrutura social, a saber: aqueles referentes às relações que os membros 
de uma determinada sociedade estabelecem entre si, e com os de fora, e as diferentes 
instituições sociais humanas, como a família, o parentesco, os diferentes grupos sociais 
de caráter político e semelhantes, que determinam a forma e o conteúdo destas relações.
 
Marconi e Presotto (2001) chamam a atenção para o fato de a Antropologia 
Social focar seus estudos naqueles processos culturais e da estrutura social manifestos 
na sociedade e nas instituições sociais. 
 
Segundo estas autoras o ofício do antropólogo social centra-se na análise das 
diferenças e semelhanças observáveis entre os diversos grupos humanos, no que tange 
às maneiras pelas quais estes inculcam, regulam e normatizam as relações sociais que 
os indivíduos estabelecem entre si, enquanto membros de uma dada sociedade. 
 
Neste sentido a Antropologia Social privilegia aqueles aspectos da vida social 
que são relativos à família e ao parentesco e ainda ao domínio do econômico, do político, 
do religioso e do jurídico, entendendo-os enquanto partes de um todo articulado que os 
determina, a saber: a sociedade. 
 
26
Desta forma (MAIR, 1972 apud MARCONI; PRESOTTO, 2001), caberia ao 
antropólogo social fazer a observação das relações sociais entre os membros de uma 
sociedade, em sua totalidade. Observando e estudando a sociedade como um todo, 
a partir de suas diferentes instituições, o antropólogo social seria capaz de chegar a 
determinar a estrutura e organização de dada sociedade.
 
Para Hoebel e Frost (2006) a principal característica da Antropologia Social 
está em seu enfoque sincrônico e sua recusa à diacronia, isto é, a Antropologia Social 
não se preocupa com a reconstituição histórica das instituições que observa em uma 
dada sociedade, mas antes privilegia a comparação com outras observáveis em outras 
sociedades. Para estes autores os antropólogos sociais são especialistas nas relações 
sociais manifestas na família e no parentesco, bem como nos diferentes grupos 
etários, na organização política e jurídica e nas atividades econômicas, aquilo que eles 
denominam como estrutura social.
Religião, uma instituição social que estrutura a sociedade.
FIGURA 21 – RITO RELIGIOSO DOS INDÍGENAS DO NOROESTE AMAZÔNICO
FONTE: <http://img.socioambiental.org/d/260823-1/noroeste_43.jpg>. Acesso em: 18 abr. 2015.
Prezado acadêmico, esperamos que você já seja capaz de diferenciar a 
Antropologia Cultural da Antropologia Social. Já deu para perceber que uma privilegia 
a cultura e a outra a sociedade em seus estudos. Mas isto coloca um problema, pois as 
diferenças entre “social” e “cultural”, como coloca Marconi e Presotto (2001), não seriam 
tão substanciais assim. As diferenças estariam, não tanto no conteúdo, mas antes nas 
tendências e enfoques teóricos, onde a Antropologia Cultural se vincula à tradição 
norte-americana, enquanto que a Antropologia Social à britânica da Antropologia.
 
Para Espina Barrio (2005) enquanto que a Antropologia norte-americana foi mais 
influenciada pelo conceito de cultura, na Antropologia britânica teve mais peso o conceito de 
sociedade. Se os antropólogos norte-americanos estavam mais preocupados com os valores 
dos povos que estudavam, seus colegas britânicos privilegiavam as “vinculações concretas”, 
isto é, as relações sociais, que os constituíam. 
Radcliffe-Brown, antropólogo britânico seminal que influenciou todas as 
gerações seguintes de antropólogos na Grã-Bretanha.
27
FIGURA 22 – CHARGE DE RADCLIFFE-BROWN OBSERVANDO NATIVOS AFRICANOS
FONTE: <http://www.visindavefur.is/myndir/radcliffe_brown2_210203.jpg>. Acesso em: 18 abr. 2015.
Prezado acadêmico, esperamos que esta leitura do segundo tópico de 
nosso Caderno de Estudos tenha-lhe sido proveitosa, proporcionando-lhe aquele 
conhecimento básico que o(a) guiará daqui para frente na busca do conhecimento 
antropológico e despertando sua curiosidade. 
 
Chegou a hora de nos aprofundarmos na investigação daqueles conceitos 
fundamentais da disciplina que orientam o olhar e o interesse, a saber: os conceitos de cultura, 
etnocentrismo e relativismo cultural, que faremos em nosso próximo tópico.
FIGURA 23 – CHARGE REPRESENTANDO AS DIFERENTES RELIGIÕES PRESENTES EM NOSSO PAÍS 
E O ARTIGO DA CONSTITUIÇÃO QUE GARANTE A LIBERDADE RELIGIOSA NO BRASIL
FONTE: <http://tocantinsembrasilia.com.br/wp-content/uploads/2014/01/diversidade-religiosa-740x600.jpg>. 
Acesso em: 18 abr. 2015.
28
RESUMO DO TÓPICO 2
• Neste tópico vimos o que é etnografia, caracterizando-a enquanto registro total e 
pormenorizado de um determinado povo, procurando descrever todos os aspectos 
da vida social e da sua cultura.
 
• Também contemplamos neste tópico o que é etnologia, definindo-a enquanto estudo 
comparativo dos diferentes povos, a partir das etnografias disponíveis, procurando 
destacar as semelhanças e diferenças, de maneira a esclarecer a especificidade da 
experiência humana no mundo.
 
• Igualmente nos ocupamos em discorrer acerca da Antropologia Cultural e da 
Antropologia Social, associando a primeira aos estudos acerca das diferentes 
culturas, em suas expressões próprias e em sua influência nos diferentes domínios 
da ação e reflexão humanas, e a segunda as investigações que dizem respeito às 
instituições sociais e a estrutura da sociedade, a partir das relações sociais presentes 
nos diversos grupos humanos organizados.
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Responda às seguintes perguntas:
1 Quais são as características que fazem de um relato acerca de um determinado povo 
uma etnografia?
2 Qual a base sobre a qual se dá a reflexão etnológica e no que consiste?
3 Qual o foco privilegiado do olhar do antropólogo cultural?
4 O que procura determinar a Antropologia Social e a partir do que ela constrói sua reflexão?
AUTOATIVIDADE
30
31
TÓPICO 3 - 
CULTURA, ETNOCENTRISMO E 
RELATIVISMO CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
UNIDADE 1
Prezado acadêmico, já falamos anteriormente em cultura aqui neste Caderno 
de Estudos, você certamente já ouviu esta palavra e deve ter uma ideia do que seria isto. 
Mas será que o conceito antropológico de cultura corresponde ao que o senso comum 
diz a respeito dela? 
 
Todos nós já ouvimos falar de alguém que este seria “culto”, ou que determinada 
pessoa não teria nenhuma cultura, ou ainda que a população de um determinado bairro 
não tem acesso à cultura. 
 
Será que o uso desta palavra nestes casos tem alguma correspondência com a 
aplicação que o antropólogo faz dela?
FIGURA 24 – O SENSO COMUM TENDE A CONFUNDIR CULTURA COM AS MANIFESTAÇÕES 
ARTÍSTICAS, QUE, PARA O ANTROPÓLOGO, SERIAM APENAS EXPRESSÕES DESTA
FONTE: <http://chrisgar.com.br/blog/wp-content/uploads/2014/10/mais-cultura-logo.jpg>. 
Acesso em: 24 abr. 2015.
Bom, será disto que trataremos aqui neste tópico, procurando esclarecer a você, 
nosso atento e curioso acadêmico, no que consiste a Cultura, de acordo com o emprego 
científico deste léxico sob o ponto de vista da Antropologia.
 
Assim nós conceituaremos a palavra cultura de acordo com a visão antropológica, 
caracterizando e vendo o alcance deste conceito para a compreensão do ser humano 
sob a ótica desta ciência.
 
32
Igualmente trabalharemos outros conceitos correlatos que ajudam e 
complementam o entendimento do que seja cultura para a Antropologia e que a 
distinguem em sua compreensão própria do serhumano. 
 
Dentro desta perspectiva analisaremos no que consiste o etnocentrismo, uma 
característica universal de nossa espécie, e como a Antropologia desenvolveu, e com 
que fim emprega, o conceito de relativismo cultural.
 
Desta forma nós travaremos contato com o campo semântico relacionado ao 
conceito antropológico de cultura e o alcance teórico que tem para a disciplina, bem 
como as limitações que ele lhe impôs ao longo de sua história.
2 CULTURA
Se nós antropólogos tivéssemos que nomear aquele que seria nosso “conceito 
básico e central”, conforme afirmou Leslie A. White (In: KAHN, 1975, p. 129 apud MARCONI; 
PRESOTTO, 2001, p. 42), este seria, sem dúvida alguma, o conceito de cultura.
 
Como já mencionamos anteriormente, o senso comum difere da visão científica 
da Antropologia em sua compreensão do que seja cultura. De um modo geral as pessoas 
tendem a identificar cultura com o domínio do conhecimento acerca dos diferentes 
campos artístico e intelectual que se adquire pela instrução, desta forma alguém pode 
ser “culto” ou “inculto” na visão popular. 
 
Isto é algo que não se coaduna com a visão antropológica, que não emprega o 
termo com este sentido e nem faz juízo de valor em relação às diferentes culturas. Para 
a Antropologia todo o povo possui cultura, nenhuma cultura é qualitativamente superior 
à outra, nem pode alguém ser destituído de cultura. De fato, é a cultura que nos faz 
humanos, sendo ela uma característica distintiva de nossa espécie.
 
No sentido antropológico, cultura (ver MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 42) tem 
um significado mais amplo, designando o termo as maneiras pelas quais as pessoas 
orientam seu comportamento e suas crenças e que são aprendidos e transmitidos 
através da vida social no seio de um determinado grupo humano ou sociedade.
 
Ora, você, querido acadêmico, já deve, pelo exposto, ter intuído a importância 
que o conceito antropológico de cultura tem para a Antropologia e que, portanto, se 
desenvolveu junto com ela. 
 
De fato, isto se deu, ao longo de sua história a Antropologia vem elaborando e 
reelaborando o conceito de cultura, a partir das diferentes perspectivas teóricas que a 
disciplina desenvolveu para a compreensão do fenômeno humano.
 
33
O relativamente longo período em que a Antropologia floresceu e se desenvolveu 
a possibilitou refinar, aprimorar e adaptar o conceito de cultura às necessidades 
explicativas da disciplina, conforme as teorias que nasceram neste campo de reflexão e 
aos problemas relativos ao ser humano sobre os quais ela se deteve.
 
Então, conforme o período histórico e a orientação teórica do antropólogo, o 
conceito de cultura adquire diferentes feições, sem deixar, entretanto, sua centralidade 
e certas características que acompanham sua evolução.
 
De uma maneira geral têm os antropólogos compreendido cultura enquanto 
comportamento adquirido, enquanto abstração do comportamento, enquanto ideias, 
enquanto objetos imateriais, materiais ou ambos (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
 
Inicialmente a definição de cultura foi aquela dada pelo antropólogo britânico 
Edward B. Tylor, que assim se referia: “Cultura... é aquele todo complexo que inclui o 
conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos 
e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade.”
FIGURA 25 – O ANTROPÓLOGO EDWARD B. TYLOR, O PRIMEIRO A CONCEITUAR DE MANEIRA 
CIENTÍFICA CULTURA
FONTE: <https://encrypted-tbn1.gstatic.com/
images?q=tbn:ANd9GcQirq3YE0KRRgeYBfY4Ezu0o264iDh34j5gRy02S2IFFfPPZUIu8A>. 
Acesso em: 24 abr. 2015.
Seguindo Marconi e Presotto (2001) daremos aqui algumas definições de cultura 
aventadas por diferentes antropólogos ao longo da história da Antropologia que servem 
para ilustrar as mudanças que houve neste conceito e os diferentes vieses teóricos que 
orientavam os pesquisadores.
34
FIGURA 26 – O ANTROPÓLOGO AMERICANO RALPH LINTON
FONTE: <http://d.gr-assets.com/authors/1358767843p5/69487.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2015.
Segundo Franz Boas (apud MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 43), cultura seria “a 
totalidade das reações e atividades mentais e físicas que caracterizam o comportamento 
dos indivíduos que compõem um grupo social”.
FIGURA 27 – O ANTROPÓLOGO DE ORIGEM ALEMÃ FRANZ BOAS EM CAMPO ENTRE OS INUIT, 
VESTINDO ROUPA TÍPICA DESTE POVO
FONTE: <http://www.newstalk.com/content/000/images/000035/37889_60_news_hub_
multi_630x0.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2015.
Para Ralph Linton (apud MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 43) a cultura consistiria “... 
na soma total de ideias, reações emocionais condicionadas a padrões de comportamento 
habitual que seus membros adquirem por meio da instrução ou imitação e de que todos, 
em maior ou menor grau, participam”. Desta forma, em um sentido geral, para este autor 
a cultura representa “a herança social total da humanidade”.
35
De acordo com Malinowski (apud MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 43) poderíamos 
conceituar cultura como “o todo global consistente de implementos e bens de consumo, 
de cartas constitucionais para os vários agrupamentos sociais, de ideias e ofícios 
humanos, de crenças e costumes”.
FIGURA 28 – O ANTROPÓLOGO DE ORIGEM POLONESA MALINOWSKI ENTRE OS 
NATIVOS TROBIANDESES
FONTE: Disponível em: <http://www.tribalartbrokers.net/praisetribal/wp-content/
uploads/2013/05/804d19d75d6d31dca3c3f25430623a68.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2015.
Na visão de Kroeber e Kluckhohn (apud MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 43) 
cultura se considera como “uma abstração do comportamento concreto, mas em si 
própria não é comportamento”.
FIGURA 29 – O ANTROPÓLOGO AMERICANO KROEBER, À ESQUERDA DA FOTO, COM UM DE 
SEUS PRINCIPAIS INFORMANTES, O INDÍGENA ISHI
FONTE: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/47/Ishi.jpg/250px-Ishi.jpg>. 
Acesso em: 24 abr. 2015.
36
Definida por Leslie White cultura seria “quando coisas e acontecimentos 
dependentes de simbolização são considerados e interpretados num contexto 
extrassomático, isto é, face a relação que têm entre si, ao invés de com organismos 
humanos”.
FIGURA 30 – O ANTROPÓLOGO NORTE-AMERICANO LESLIE WHITE
FONTE: <http://www.nndb.com/people/327/000099030/leslie-a-white-1.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2015.
Uma definição mais recente seria aquela proposta por Clifford Geertz, onde 
“cultura deve ser vista como um conjunto de mecanismos de controle – planos, receitas, 
regras, instituições – para governar o comportamento”.
FIGURA 31 – O ANTROPÓLOGO ESTADUNIDENSE CLIFFORD GEERTZ
FONTE: <http://graphics8.nytimes.com/images/2006/11/01/arts/01geertz.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2015.
37
Podemos ver, através destas definições dadas como exemplo, a variabilidade 
do conceito antropológico de cultura ao longo da evolução da disciplina, variabilidade 
esta que revela as transformações que se deram nos paradigmas da Antropologia e que 
são sintomáticas das diversas escolas teóricas forjadas neste campo de conhecimento.
 
Assim cultura é vista ora como ideias, ora como abstrações do comportamento, 
ora como comportamento, ora como algo extra somático, ora como os elementos 
materiais e imateriais do conhecimento humano e ainda como um mecanismo de 
controle do comportamento (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
 
Desta forma podemos ver que as definições de cultura refletem as diversas 
abordagens da disciplina ao problema colocado pela existência humana. Esta pode ser 
analisada a partir de diferentes enfoques, considerando-se a cultura como o conjunto 
de ideias que apresentamos, relativa, portanto ao domínio do conhecimento e da 
filosofia; as crenças que professamos, ligadas aos sistemas religiosos e as superstições; 
os valores que nos guiam, dizendo respeito ao campo da ideologia e da moral; as normas 
que seguimos, relacionadas aos costumes e as leis; nossas atitudes, reveladoras dos 
nossos preconceitos e postura diante do outro; os padrões de conduta usuais de nossa 
sociedade; a abstração do comportamento, isto é, os símbolos expressivos para nós;as 
instituições sociais, como família e sistema econômico; as técnicas, referente a nossa 
habilidade e arte e por fim os artefatos que produzimos (MARCONI; PRESOTTO, 2001).
A cultura determina nossos comportamentos e crenças.
FIGURA 31 – RITO RELIGIOSO DOS POVOS XINGUANOS
Fonte: <http://www.thecities.com.br/miniaturas/Brasil/Cultura/A_Cultura_
Brasileira/4_1258980357.8385.jpg>. Acesso em: 24 abr. 2015.
38
Aqui, prezado acadêmico, é preciso ter em mente que a cultura é algo que 
nos distingue enquanto espécie e que ela mesma é fruto das pressões evolutivas que 
nos forjaram. Ou seja, a cultura é algo próprio do ser humano, foi no processo de nos 
tornarmos humanos, através das mutações genéticas que levaram ao surgimento de 
nossa espécie, que nós desenvolvemos este extraordinário mecanismo adaptativo 
que é a cultura. Entretanto, foi esta mesma cultura que nos permitiu escapar dos 
determinismos biológicos. 
 
Assim o ser humano voa sem ter asas, cruza os oceanos sem ter escamas nem 
barbatanas, nada embaixo d´água sem ter guelras, mora no ártico sem ter pelagem 
espessa e realiza uma série de atividades para as quais sua natureza biológica não o 
preparou, mas cuja possibilidade se abriu a partir da cultura.
 
Para Hoebel e Frost (2006) a cultura consistiria em um sistema integrado 
de padrões comportamentais aprendidos na vida social e que são típicos de uma 
determinada formação social, não sendo, portanto, fruto de uma herança biológica. Isto 
coloca a questão de a cultura ser, em sua essência, não instintiva, ou seja, as diferentes 
expressões culturais não são inatas, mas totalmente arbitrárias, isto é, fruto do engenho 
e do desejo humano. Muito embora a cultura seja comportamento apreendido, ela é 
também, como dissemos antes, parte de nossa natureza, tanto quanto o andar bípede 
e a postura ereta que nos distingue.
 
Entre nós seres humanos a cultura sobrepuja inteiramente os instintos, é 
através do processo de socialização, no convívio com outros seres humanos, que nós 
aprendemos como satisfazer nossas necessidades básicas e é a cultura que determina 
a forma pela qual nós o faremos. Somente vivendo em sociedade que podemos 
desenvolver as habilidades necessárias à nossa sobrevivência, através do aprendizado 
de uma determinada cultura.
 
Vamos dar um exemplo para tentar clarificar este ponto para você acadêmico 
da UNIASSELVI. 
 
Todos os seres vivos têm que se alimentar, esta é uma necessidade básica 
inescapável, procurar alimento é instintivo em todas as espécies. Mas e entre nós? 
Embora seja um imperativo da natureza ingerir alimentos, aquilo que nós consideramos 
como um alimento próprio, as maneiras pelas quais nós os ingerimos, quando, na 
companhia de quem, de que forma e outras tantas variáveis, são aprendidas em 
sociedade pelo processo de endoculturação, isto é, através da introjeção no indivíduo 
da cultura da qual ele faz parte. 
 
Desta forma enquanto que em certos países asiáticos é perfeitamente lícito 
e desejável comer carne de cachorro, nos países do ocidente este fato é fortemente 
condenado pela cultura dos membros destas sociedades. Se em nosso país jamais 
ingeriríamos carne de caracol, na França esta é uma iguaria apreciada. Em determinados 
países africanos come-se com as mãos, enquanto que entre nós faz-se o uso de talheres, 
39
já na China come-se com o auxílio de duas varetas. Se entre nós comer sozinho é um 
ato normal, entre os Hüpda (povo indígena da Amazônia) ingerir algum alimento sem a 
companhia, ou o oferecimento a outrem, é uma ofensa grave. Nas grandes cidades é 
costume almoçar ao meio dia, já nos seringais do Acre o almoço é uma refeição tomada 
por volta das 10 h da manhã. Nenhum destes comportamentos é instintivo, mas antes 
determinado pela cultura dos diferentes povos que os apresentam.
A cultura determina nossa alimentação, não os instintos.
FIGURA 33 – BANCA DE INSETOS VENDIDOS COMO ALIMENTO NA TAILÂNDIA
FONTE: <http://img.estadao.com.br/thumbs/910/resources/jpg/8/8/1415931593288.jpg>. 
Acesso em: 28 abr. 2015.
Esperamos que sua compreensão de cultura por agora seja suficiente para nós 
aprofundarmos alguns assuntos relacionados com este tema. 
 
Um importante aspecto da cultura está em seu caráter simbólico, que se 
transmite preferencialmente através da linguagem, o método propriamente humano, 
não instintivo de transmitir ideias, emoções e desejos (HOEBEL; FROST, 2006, p. 19). 
Desta forma a cultura se expressa por meio de um conjunto de símbolos significantes 
que dão conteúdo a cultura da qual fazemos parte e que são aprendidos no processo de 
se adquirir a cultura de nosso grupo.
 
Nós seres humanos adquirimos a cultura da sociedade em que vivemos e a 
compreensão dos símbolos que dão expressão a ela, através de um processo, já mencionado 
aqui anteriormente, denominado de endoculturação. Mas no que ela consiste?
40
FIGURA 34 – A CULTURA ADQUIRE-SE DURANTE A VIDA SOCIAL DO INDIVÍDUO. EM NOSSA 
SOCIEDADE A ESCOLA É UM DOS ESPAÇOS PRIVILEGIADOS NESTE PROCESSO
FONTE: <http://www.pco.org.br/banco_arquivos/conoticias/imagens/19547.jpg>. 
Acesso em: 28 abr. 2015.
Endoculturação consiste no processo que se dá desde a infância e por toda a 
vida, nunca cessando, de aprendizado da cultura que fazemos parte e que estrutura o 
condicionamento de nossa conduta, conferindo assim estabilidade aquela cultura a qual 
pertencemos (MARCONI; PRESOTTO, 2001). É através do processo de endoculturação 
que a sociedade controla os atos, atitudes e comportamentos de seus membros, 
impedindo que ajamos de forma diferenciada em relação à nossa cultura, mas antes de 
acordo com ela. 
 
Todos nós adquirimos as crenças, o modo de vida, os valores e comportamentos 
da cultura a qual pertencemos, mas não dominamos todos os aspectos dela, uma vez 
que participamos diferentemente de nossa cultura, conforme nossa faixa etária, classe 
social, educação recebida, grupos sociais dos quais fazemos parte e trajetória de vida, 
entre outros condicionantes.
 
Desta forma embora faça parte de nossa cultura tocar violão, jogar futebol ou 
fazer cálculos matemáticos, nem todos temos estas habilidades ou as desenvolvemos 
plenamente. Entretanto, todos nós adquirimos ao longo da vida certos conhecimentos 
básicos de nossa cultura que nos permite socializar com seus diferentes membros. 
 
Consistindo a cultura em normas comportamentais ou de costumes, conforme 
Marconi e Presotto (2001), poderíamos classificar as normas em três classes distintas, 
condicionadas pelo nível de participação dos indivíduos nestas. Desta forma teríamos 
normas universais, especializadas, alternativas e aquelas sujeitas à variabilidade 
individual. 
 
Variando de uma sociedade a outra os padrões de conduta de uma determinada 
cultura apresentam coerência e coesão para todos os membros da sociedade no nível 
das normas universais desta cultura. Seriam aquelas normas determinantes de ideias, 
costumes, reações emocionais e comportamentos que se apresentam em comum 
41
para todos os membros daquela cultura. Nas sociedades simples estas normas são 
predominantes e se expressam através da língua, dos padrões morais dominantes e dos 
valores que orientam a vida social naquele grupo. As normas culturais universais, isto é, 
comum a todos os membros de uma determinada cultura, abarcam assim as tradições, os 
usos, as ideias, os costumes e as práticas que são compartilhados igualmente por todos.
FIGURA 35 – O CUMPRIMENTO, UMA NORMA COMPARTILHADA POR TODOS EM NOSSA CULTURA
FONTE: <https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSZtfJEdMkB0oiLxINrh3_00zO
Yoash-pL0ntshAgjc05VRbaGW>. Acesso em: 28 abr. 2015.
Já as normas especializadas consistiriam naquelas que são praticadas e 
seguidas por um determinado grupo que compõe aquela sociedade. Estas normas podem 
até ser aceitas e de conhecimento dos outros membros daquela cultura, mas não são 
praticadas, em função deles não pertencerem a grupos específicos que formam o

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