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EMENTA-ASPECTOS-SOCIOANTROPOLÓGICOS docx

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MATERIAL DIDÁTICO 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 
2 CONCEITO DE ANTROPOLOGIA ............................................................. 5 
2.1 Evolução epistêmica da Antropologia .................................................. 7 
2.2 Campos de estudos antropológicos ..................................................... 9 
2.3 Tendências do pensamento antropológico ......................................... 10 
3 OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA .......................................... 11 
3.1 Objetivo do trabalho antropológico ..................................................... 12 
3.2 Trabalho do antropólogo e olhar do outro .......................................... 13 
4 METODOLOGIA DA ANTROPOLOGIA .................................................... 16 
4.1 Influências do trabalho antropológico ................................................. 17 
4.2 Metodologias do fazer antropológico .................................................. 19 
4.3 Etnografia ........................................................................................... 20 
4.4 Pesquisa longitudinal.......................................................................... 21 
4.5 Survey ................................................................................................ 22 
4.6 Antropólogos importantes ................................................................... 22 
5 PERSPECTIVAS DE ANÁLISE ANTROPOLÓGICO ................................ 24 
5.1 Sociologia ........................................................................................... 25 
5.2 Psicologia ........................................................................................... 25 
5.3 Economia e política ............................................................................ 26 
5.4 Outras ciências ................................................................................... 27 
6 A ANTROPOLOGIA E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS ................. 28 
6.1 Clássica dicotomia entre natureza e cultura ....................................... 28 
6.2 Características da cultura ................................................................... 33 
6.3 Enfoques da cultura ........................................................................... 33 
6.4 Conteúdo cultural ............................................................................... 34 
 
3 
 
6.5 Ser humano: produto e produtor de cultura ........................................ 34 
6.6 Multiculturalismo e interculturalidade.................................................. 36 
6.7 Processos de urbanização sob o olhar da antropologia urbana ......... 37 
7 ANTROPOLOGIA E CIBERESPAÇO ....................................................... 40 
7.1 As redes sociais ................................................................................. 40 
7.2 Conceito, características e desafios da sociedade em rede ............... 41 
7.3 Antropologia e redes .......................................................................... 46 
7.4 Ciborgues: o corpo pós-humano ........................................................ 47 
7.5 Antropologia e internet ....................................................................... 49 
8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 CONCEITO DE ANTROPOLOGIA 
 
Fonte: https://www.brasilcultura.com.br/ 
 
A etimologia da palavra antropologia deriva de dois radicais gregos: 
“Anthropos”, que significa homem, e ‘logos’, que significa ciência. Trata-se, portanto, 
de uma ciência que estuda o ser humano. Mas o que isso quer dizer? Qual o sentido 
de estudar o homem? Qual homem é esse estudado pela Antropologia? Antropologia 
é Ciência? De que forma ela analisa a sociedade? A quem serve a Antropologia? Qual 
a sua contribuição? 
Começamos dizendo que a Antropologia se propõe olhar o ser humano de 
forma integral, considerando os aspectos biológicos, sociais e culturais. Nesse 
sentido, cabe observar, analisar e compreender as inúmeras dimensões atribuídas 
aos seres humanos enquanto um ser social, a fim de compreender a sua evolução ao 
longo do tempo. 
Os antecedentes do pensamento antropológico remetem-se à época da 
colonização europeia, a partir de 1492. Primeiro, foi a perplexidade ante o chamado 
“novo mundo”, após a conquista dos povos nativos e da colonização, compreendida 
como a imposição material, social e simbólica da Europa sobre os grupos indígenas. 
François Laplantine (2003) entende que o estudo do homem precisa ir além de 
um recorte temporal e territorial específicos, conforme ele mesmo diz: “A antropologia 
 
6 
 
não é apenas o estudo de tudo que compõe uma sociedade. Ela é o estudo de todas 
as sociedades humanas (a nossa inclusive), ou seja, das culturas da humanidade 
como um todo em suas diversidades históricas” (LAPLANTINE, 2003, p. 12). 
No século XIX, houve uma intensa atividade científica pela qual se constituíram 
e estabeleceram as principais disciplinas científicas e suas práticas. A Antropologia 
não foi exceção e, ainda mais, foi um bom objeto de estudo para entender os 
processos institucionais da ciência. Assim, em 1799, Louis-François Jauffret e Joseph 
de Maimieux fundam em Paris a primeira sociedade antropológica Société des 
Observateurs de l’Homme (BROCA, 1870, apud HERNÁNDEZ, 2015). 
A palavra “antropologia” aparece, pela primeira vez, na academia do 
Renascimento francês. No entanto, como disciplina acadêmica é relativamente jovem. 
Suas raízes podem ser encontradas no Iluminismo do século XVIII e início do século 
XIX na Europa e na América do Norte. Na medida em que as nações europeias 
estabeleceram colônias em diversas regiões do planeta, e os norte-americanos 
expandiam-se para o Oeste e para o Sul dominando os territórios indígenas, ficou 
claro para os colonizadores que a humanidade era extremamente variada. A 
Antropologia começou, em parte, como uma tentativa dos membros das sociedades 
científicas de registrar objetivamente e compreender essa variação. 
A curiosidade relacionada com esses povos e seus costumes motivaram os 
primeiros antropólogos amadores. Por profissão, eles eram naturalistas, médicos, 
clérigos cristãos, ou exploradores. A partir da segunda metade do século XIX, a 
Antropologia foi considerada uma disciplina acadêmica nas universidades norte-
americanas e ocidentais. Nos dias atuais, ela é considerada ciência (O’NEIL, 2013). 
Em suma, podemos definir Antropologia como uma ciência que objetiva 
descrever no sentido mais amplo possível o que significa ser humano (LAVENDA & 
SCHULTZ, 2014). 
A curiosidade é uma das características humanas. Após os estudosvoltados 
para desvendar os enigmas ocultos na natureza, o homem começa a observar-se a si 
mesmo, por meio de métodos científicos importados das Ciências Biológicas até que 
as próprias disciplinas das Ciências Humanas desenvolvessem suas metodologias. 
Com isso, essas aprendizagens iniciais sobre o estudo do homem vão dando 
corpo a um saber científico sobre os seres humanos e seu modo de vida, 
 
7 
 
possibilitando uma reflexão mais aprofundada em relação aos fenômenos das 
sociedades. 
 
 
Fonte: https://conhecimentocientifico.com/sociedade/ 
 
 
A antropologia é um movimento epistemológico importante no pensamento 
científico, pois o homem abandona a compreensão de se entender como centro do 
universo e começa a olhar o outro, a fim de interpretar outras formar de habitar o 
mundo. Trata-se sobretudo de ressignificar a sua relação com o outro diferente de si 
para compreender-se dentro de uma sociedade com múltiplas possibilidades de estar 
no mundo e de estilos de vidas. 
2.1 Evolução epistêmica da Antropologia 
A história da humanidade foi escrita a partir dos registros encontrados nas 
diversas culturas presentes no nosso planeta. O ser humano foi capaz de observar, 
especular, registrar o seus costumes e pensamentos. Podemos contar a nossa 
história porque o homem guardou e escreveu suas memórias e experiências. 
 
8 
 
Na Idade Clássica, os gregos foram os que mais reuniram informações sobre 
povos diferentes, deixando substanciosos registros e relatos dessas culturas. Nasce, 
assim, a Antropologia, no século V a.C., com a figura de Heródoto, que descreveu 
minuciosamente as culturas circundantes. É considerado o “Pai da Antropologia”. 
Chineses e romanos também deixaram descrições de povos diferentes. 
Até o século XVIII, formam poucos os avanços no campo da Antropologia. Entre 
os séculos XV e XVIII contava-se com as importantes contribuições dos cronistas, 
viajantes, soldados, missionários e comerciantes que procuravam pelas regiões 
exóticas, como por exemplo as Américas, e cujos habitantes eram alvo de pesquisas 
e explorações de todo tipo. No Brasil, alguns cronistas destacados foram: Pero Vaz 
de Caminha, Hans Staden, André Thevet, Saint-Hi-laire etc. Na América Latina foram 
importantes as crónicas e relatos de Bartolomeu de Las Casas, por exemplo. 
A Antropologia começa a ser considerada como ciência, partir de meados do 
século XVIII, com Linneu, quem classificou diversos animais, relacionando-os com o 
os primeiros primatas. Ele foi um dos primeiros a descrever as raças humanas. 
Será a partir o XIX, que a Antropologia começa a dar passos importantes e a 
se desenvolver, pois a descoberta de fósseis humanos e de dos restos arqueológicos 
possibilitaram os seus avanços. Na década de 1840, o investigador francês Boucher 
de Perthes, pela primeira vez, refere-se ao homem pré-histórico, baseado em seus 
achados (utensílios de pedra) de idade bastante recuada. John Lubbock recompilou 
dados existentes sobre a Cultura da Idade da Pedra e estabeleceu as diferentes 
culturas do Paleolítico e Neolítico (1865). 
A Antropologia sistematiza-se como ciência após Darwin ter trazido à luz a 
teoria evolucionista, com a publicação de suas duas obras: Origem das 
espécies (1859) e A descendência do homem (1871). A Antropologia Física tem, a 
partir daí grande impulso, e surgem os primeiros teóricos da nova ciência: Tylor, 
Morgan, Bachofen, Maine, Bastian. 
O progresso da Antropologia no século XX é resultado das descobertas 
anteriores relativas ao homem. Seus especialistas passam a desenvolver constantes 
pesquisas de campo, de caráter científico, incentivadas a partir dos trabalhos de Franz 
Boas, que é considerado o “Pai da Antropologia Moderna”. 
 
9 
 
2.2 Campos de estudos antropológicos 
Os estudos antropológicos contam com uma basta quantidade de subáreas, 
motivo principal pelo qual dificilmente um antropólogo se autodesigne como tal sem 
mencionar alguma dessas especialidades dentro da própria antropologia. A maioria 
dos(as) antropólogos(as) responde que estudam Antropologia Biológica, Arqueologia, 
ou alguma outra subdisciplina do campo. Podemos considerar que, a partir do objeto 
de estudo, a antropologia seja considerada em duas perspectivas: material e imaterial. 
Por um lado, os antropólogos biológicos exploram os fatos relativamente objetivos e 
quantificáveis da Biologia Molecular e os mecanismos de herança genética e 
evolução. Por outro, os antropólogos culturais abordam a realidade subjetiva das 
atitudes, percepções e crenças culturais (O’NEIL, 2013). 
Pela diversidade de objetos de estudo, a Antropologia tornou-se um conjunto 
de quatro campos ou disciplinas especializadas: 
 
 Antropologia Biológica ou Física: estuda as bases biológicas do 
comportamento humano, bem como a evolução do homem. Inclui disciplinas como a 
Genética, Paleoantropologia, Primatologia, Etologia, Sociobiologia etc. 
 
 Arqueologia: estuda vestígios materiais de culturas humanas 
desaparecidas, como ossadas, palácios, pirâmides, fortalezas, vias de comunicação, 
ferramentas etc. e busca conhecer o passado das sociedades humanas. Descreve o 
auge e a decadência de culturas e os fatores que influenciaram o seu 
desenvolvimento. A Antropologia contribui na explicação das práticas culturais, tais 
como guerra, caça, horticultura, estratificação social etc. 
 
 Antropologia Linguística: estuda a variedade de línguas faladas pelo 
homem, a sua função e origem, bem como a influência da linguagem na cultura e vice-
versa. 
 
 Antropologia Cultural ou Social: o estudo comparativo das sociedades 
humanas: sua variabilidade cultural, estilos de vida, práticas, costumes, tradições, 
instituições, normas e códigos de conduta do passado e do presente (FERNANDEZ, 
2013). 
 
10 
 
2.3 Tendências do pensamento antropológico 
Tratando-se das principais tendências do pensamento antropológico 
contemporâneo, podemos verificar que as principais são: 
 antropologia americana; 
 antropologia britânica; 
 antropologia francesa 
 
Há autores que caracterizam diferentes escolas antropológicas, como: 
 evolucionismo social; 
 escola antropológica (ou sociológica) francesa; 
 funcionalismo; 
 culturalismo norte-americano; 
 estruturalismo; 
 antropologia interpretativa; 
 antropologia pós-moderna 
 
O quadro a seguir elucida as tendências gerais contemporâneas, com base em 
Laplantine (1989, p. 100). 
 
 
 
11 
 
3 OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA 
 
Fonte: https://www.significados.com.br/ 
 
A leitura da literatura antropológica desde suas origens e até mesmo a mais 
especializada dos tempos recentes adota como objeto de estudo em um grau menor 
ou maior a questão da hominização (condição biológica) e humanização 
(desenvolvimento das potencialidades e capacidades humana pela educação e a 
cultura). 
O primeiro é assunto tratado por aqueles que estudam o processo do 
desenvolvimento da natureza biológica do homem. O outro grupo está interessado no 
processo de humanização dos hominídeos. Eles começam sua tarefa a partir do 
momento no qual podem-se identificar que o ser humano possui os atributos 
conhecidos da vida coletiva do homem (HERNÁNDEZ, 2015). 
Apesar do interesse no modo de vida do homem, a Antropologia vem 
complexificando as formas de estudo desse objeto conforme a disciplina se 
desenvolve. As primeiras sociedades e culturas estudadas estavam longe, 
geograficamente, da morada dos pesquisadores, assim os antropólogos se 
preocupavam em conhecer seus sistemas sociais, buscando, nesses estudos, a 
totalidade dessas sociedades, em termos de sua estrutura e organização social. 
 
12 
 
Com o tempo, esses pesquisadores foram estudando sociedades mais 
próximas e reconheceram que valeria a pena se debruçar sobre manifestações 
culturais específicas, mais do que sobre a totalidade de suas ações sociais. 
E então, o estudo do homemfoi se concentrando em aspectos da vida social 
que expressam os fenômenos culturais diversos, como no âmbito religioso, das 
cerimônias, dos rituais cotidianos, entre outros. 
Logo, podemos dizer que a Antropologia foi ganhando feições e apostando em 
subáreas de conhecimento conforme as especificidades estudadas sobre o homem, 
como: a Antropologia da Saúde, Antropologia da Religião, Antropologia Visual, 
Antropologia Urbana, Antropologia da Alimentação, Antropologia Econômica, 
Antropologia Política, entre outros. 
Nesse sentido, criam-se problematizações teóricas que envolvem os diferentes 
modos de vida dos indivíduos que convivem na mesma sociedade. Soma-se a isso a 
questão de que a antropologia permite desnaturalizar as ações e as vivências 
humanas, como algo único e imutável em todas as sociedades, e ao mesmo tempo 
permite estudar os elementos culturais em cada contexto social. 
3.1 Objetivo do trabalho antropológico 
A definição de antropologia no dicionário enciclopédico encontra-se a seguinte 
conceituação do termo: 
 
Antropologia é um Ciência – um estudo sistemático que visa, através da 
experiência, observação e dedução, produzir explicações confiáveis de 
fenômenos, com referência ao mundo material e físico (WEBSTER’S NEW 
WORLD ENCYCLOPEDIA, 1993, p. 937). 
 
Assim, o objetivo principal da Antropologia é estudar a sociedade humana, 
instituições sociais e cultura, em sua forma mais elementar. Além de ser útil para a 
compreensão das sociedades humanas atuais, contribui no conhecimento da história 
humana e natureza das instituições sociais. Portanto, a Antropologia Social está 
intimamente relacionada com a História e a Arqueologia (NEENA, 2011). 
Guerra (2018) afirma que ao investigar as culturas humanas, a antropologia se 
volta para o conhecimento do comportamento cultural humano, fruto do aprendizado 
social. 
 
13 
 
A partir da compreensão da variedade de procedimentos culturais dentro dos 
contextos em que são produzidos, a Antropologia, como o estudo das culturas, 
contribui para erradicar preconceitos derivados do etnocentrismo, fomentar o 
relativismo cultural e o respeito à diversidade. 
 
3.2 Trabalho do antropólogo e olhar do outro 
Diante do debate teórico em como enquadrar as sociedades humanas, cabe 
imaginar como será o nosso encontro com alguém de uma cultura estranha a nós. O 
que importa, primeiramente, é que estejamos, de fato, interessados em conhecer e 
compreender o modo de vida de outras pessoas. Sejam pescadores, trabalhadores 
informais, dançarinos, empresários, gestores, entre outros, cabe a dedicação no 
encontro etnográfico. Para Cardoso de Oliveira (2000), é nesse encontro que se: 
 
Cria um espaço semântico partilhado por ambos interlocutores, graças ao 
qual pode ocorrer aquela “fusão de horizontes” – como os hermeneutas 
chamariam esse espaço –, desde que o pesquisador tenha habilidade de 
ouvir o nativo e por ele ser igualmente ouvido, encetando formalmente um 
diálogo de “iguais”, sem receio de estar, assim, contaminando o discurso do 
nativo com elementos do seu próprio discurso (CARDOSO DE OLIVEIRA, 
2000, p. 24). 
 
 
Cabe o diálogo entre pesquisador e pesquisado, de modo que a vivência em 
uma cultura é imprescindível para o primeiro poder acompanhar uma forma de ver a 
vida diferente daquela que ele conhece. Alguns processos de negociação podem ser 
mais demorados do que outros, mas é preciso que o pesquisado adquira certa 
confiança no pesquisador e no seu trabalho, para que a fusão de horizontes ocorra. 
Assim, o produto gerado pela pesquisa antropológica registrará os meandros 
desse encontro que permitiu acessar compreensões e explicações, que seriam 
inacessíveis sem a interlocução entre o pesquisador e o pesquisado, durante o 
trabalho de campo. 
Para isso, o autor ainda levanta algumas “faculdades do entendimento” 
(OLIVEIRA, 2000, p. 17), inerentes ao modo de conhecer o outro em Ciências Sociais, 
cujos atos cognitivos possibilitam que a mescla de horizontes seja material de reflexão 
do pensamento científico. São eles: olhar, ouvir e escrever. Vamos falar sobre cada 
um deles! O olhar pode ser, inicialmente, curioso ou mais atento, e aos poucos vai 
 
14 
 
sendo treinado para buscar gestos, atos, elementos culturais que sejam relevantes 
para conhecer mais a cultura do outro. 
Ainda que tenhamos lido sobre outros modos de vida, quando chegamos em 
outras sociedades, é possível que diferentes aspectos culturais chamem a nossa 
atenção. Assim, de modo empírico, vamos observando para acessar, conhecer, 
entender o que, em um primeiro momento, parece-nos estranho. 
Esse olhar vai se direcionando, se aperfeiçoando, se complexificando, 
tornando-se ferramenta de conhecimento da cultura do outro. Entretanto, somente 
observar não nos garante esse conhecimento. É preciso complementar o que vemos, 
com o que ouvimos. Assim como o olhar, o ouvir de forma mais atenta e apurada 
envolve uma aprendizagem de quem escuta, que se molda de acordo com os 
interesses desse conhecimento. 
Deixar de lados os ruídos e se dedicar a uma escuta atenta, que leve a 
compreender os simbolismos que veiculam o som, a voz, a música, entre outros. 
Durante o carnaval, a dimensão sonora de um desfile na avenida pode expressar a 
força de uma comunidade, alinhada em um mesmo canto, comemorando sua união e 
seus esforços para estarem ali. 
Cabe ouvir o outro em suas manifestações culturais, mas também entrevistá-
los para questionar o que não se entende, para aprender com quem discursa sobre 
seu modo de vida com facilidade, para entender o argumento que, às vezes, não faz 
muito sentido para quem escuta. Assim, esse ato cognitivo possibilita aprofundar a 
leitura sobre o outro. O que pode parecer óbvio para um, pode ser completamente 
entranho para outro. Ainda mais se a língua a qual estamos estudando não é a mesma 
que a nossa. 
Desde Malinowski (1976), recomenda-se que o próprio pesquisador conheça, 
aprenda e estude o idioma do outro, por mais diferente que possa ser do seu. Assim, 
a convivência entre os interlocutores vai fazendo com que a compreensão das 
palavras, juntamente aos gestos expressados, potencialize a relação dialógica entre 
eles, pesquisador e pesquisado. Tendo realizado o trabalho de campo, cabe registrar 
por meio da escrita, de forma descritiva, todos os elementos que te chamaram a 
atenção, contando, como história, os meandros do encontro etnográfico. 
É importante ter um diário de campo para anotar informações, descrever cenas, 
refletir mais profundamente sobre dúvidas, propor perguntas sobre o que viu e mesmo 
 
15 
 
olhar o diário futuramente, quando já tiver entendido coisas que antes você não 
compreendia sobre o outro, depois parecem tão evidentes. Também é através desse 
material que você poderá utilizar para informar outros pesquisadores sobre o que vem 
sendo estudado, e até mesmo trocar ideias e possibilidades interpretativas em relação 
ao fenômeno estudado. 
Como nos lembra Geertz (2002), é no estar lá que você vai ouvir e ver, ao 
vivenciar juntamente com o outro, momentos de seu estilo de vida, mas é no estar 
aqui, dentro do escritório, ao escrever, que poderá ter insigths, fazer relações, produzir 
organogramas, analisar os pormenores, dimensionando a interpretação do fenômeno 
estudado. Nesse sentido, o registro no diário de campo, a descrição densa ou mesmo 
a produção de um paper, possibilita um momento de produção intelectual a partir dos 
dados observados, sendo ela um papel chave para um estudioso das culturas e das 
sociedades. 
Inicialmente, o estranhamento sobre o outro faz com que o pesquisador seja 
sensibilizado a prestar mais atenção no que faz, no que diz, no que sente aqueles que 
são pesquisados. Mas é por meio desse longo processo de encontro etnográfico 
(OLIVEIRA, 2000) que a relação entre as culturas, nas suas diferenças e 
proximidades, possibilita que as experiênciasdo antropólogo se transforme em 
conhecimento científico. 
 
 
Fonte: http://www.juventudect.fiocruz.br/ 
 
http://www.juventudect.fiocruz.br/
 
16 
 
4 METODOLOGIA DA ANTROPOLOGIA 
 
Fone: https://www.actionlabs.com.br/ 
 
O propósito da ciência é criar conhecimento científico. Conhecimento científico 
refere-se a um corpo generalizado de leis e teorias para explicar um fenômeno ou 
comportamento adquiridos usando o método científico. As leis são padrões 
observados de fenômenos ou comportamentos, enquanto as teorias são explicações 
sistemáticas do fenômeno ou comportamento. Por exemplo, em Física, as leis de 
movimento de Newton descrevem o que acontece quando um objeto está em um 
estado de repouso ou movimento (a primeira lei de Newton), a força necessária para 
mover um objeto em repouso ou deter um objeto em movimento (a segunda lei de 
Newton) e o que acontece quando dois objetos colidem – ação e reação (terceira lei 
de Newton). 
A estratégia utilizada em qualquer pesquisa científica fundamenta-se em uma 
rede de pressupostos ontológicos e da natureza humana que definem o ponto de vista 
que o pesquisador tem do mundo que o rodeia. Esses pressupostos proporcionam as 
bases do trabalho científico, fazendo que o pesquisador tenda a ver e a interpretar o 
 
17 
 
mundo sob determinada perspectiva. É absolutamente necessário que possam ser 
identificados os pressupostos do pesquisador em relação ao homem, à sociedade e 
ao mundo em geral. Fazendo isso, pode-se identificar a perspectiva epistemológica 
utilizada pelo pesquisador. Essa perspectiva orientará a escolha do método, 
metodologia e técnicas a serem utilizados em uma pesquisa. 
4.1 Influências do trabalho antropológico 
O trabalho do antropólogo foi se constituindo como disciplina com o passar dos 
anos. Para a realização de uma pequena genealogia desse processo, é necessário 
considerar a história e retomar o momento em que povos de continentes diferentes se 
encontraram pela primeira vez. 
Um marco dessa trajetória foram as grandes navegações do século XV. Nesse 
período, como você sabe, surgiu o interesse dos europeus por povos que habitavam 
terras afastadas das suas. Naquele momento histórico, a ideia dos europeus não era 
somente conhecer como os povos até então desconhecidos moravam e o que faziam. 
Eles desejavam principalmente se familiarizar com o modo de vida desses povos para 
melhor dominá-los, subordiná-los e até escravizá-los, já que eram tidos como 
“primitivos”. Assim, para os europeus, esses povos que viviam além-mar eram 
considerados menos humanos e deveriam se submeter à civilização para acessar o 
“progresso”, o “conhecimento” e a “ciência”. Esse pensamento dos europeus é o que 
se chama de etnocentrismo. 
Segundo Rocha (1984, p. 5), “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o 
nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e 
sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a 
existência”. Assim, o etnocentrismo não é característico somente dos europeus, mas 
de todo grupo social existente, como reforça Laraia (2001, p. 75): 
 
O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É como uma crença de 
que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única 
expressão. As autodenominações de diferentes grupos refletem este ponto 
de vista. Os Cheyene, índios das planícies norte-americanas, se 
autodenominavam "os entes humanos"; os Akuáwa, grupo Tupi do Sul do 
Pará, consideram-se "os homens"; os esquimós também se denominam "os 
homens"; da mesma forma que os Navajo se intitulavam "o povo". Os 
australianos chamavam as roupas de "peles de fantasmas", pois não 
acreditavam que os ingleses fossem parte da humanidade; e os nossos 
 
18 
 
Xavante acreditam que o seu território tribal está situado bem no centro do 
mundo. É comum assim a crença no povo eleito, predestinado por seres 
sobrenaturais para ser superior aos demais. Tais crenças contêm o germe do 
racismo, da intolerância e, frequentemente, são utilizadas para justificar a 
violência praticada contra os outros. A dicotomia "nós e os outros" expressa 
em níveis diferentes essa tendência. Dentro de uma mesma sociedade, a 
divisão ocorre sob a forma de parentes e não parentes. Os primeiros são 
melhores por definição e recebem um tratamento diferenciado. A projeção 
desta dicotomia para o plano extra grupal resulta nas manifestações 
nacionalistas ou formas mais extremadas de xenofobia. O ponto fundamental 
de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a reação, ou pelo menos 
a estranheza, em relação aos estrangeiros. 
 
 
Então, o encontro entre colonizadores e outros povos permitiu a coleta de 
descrições, desenhos e materiais de outras culturas. Mas tudo ainda ocorria de 
maneira bastante exploratória e sem uma metodologia específica. Os materiais 
coletados não tinham status de veracidade e eram tidos mais como relatos, cartas e 
romances que contavam, de forma até fantasiosa e macabra, a vida de outros povos. 
Somente no século XVIII é que a antropologia começa a se consolidar como 
disciplina, definindo seu objeto de estudo, delimitando formas de estudá-lo e 
produzindo análise científica sobre esse objeto. É o que explica Laplantine (2003, p. 
7): 
 
 […] apenas no final do século XVIII é que começa a se constituir um 
saber científico (ou pretensamente científico) que toma o homem como objeto 
de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o 
espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os 
métodos até então utilizados na área física ou da biologia. Isso constitui um 
evento considerável na história do pensamento do homem sobre o homem. 
[…] Trata-se, desta vez, de fazer passar este último do estatuto de sujeito do 
conhecimento ao de objeto da ciência. […] Para que esse projeto alcance 
suas primeiras realizações, para que o novo saber comece a adquirir um 
início de legitimidade entre outras disciplinas científicas, será preciso esperar 
a segunda metade do século XIX, durante a qual a antropologia se atribui 
objetos empíricos autônomos: as sociedades então ditas “primitivas”, ou seja, 
exteriores às áreas de civilização europeias ou norte-americanas. A ciência, 
ao menos tal como é concebida na época, supõe uma dualidade radical entre 
o observador e seu objeto. 
 
 
Você também deve atentar à contribuição das ciências biológicas para a 
constituição da disciplina da antropologia. Afinal, a metodologia de classificação e 
comparação realizada pelas ciências biológicas influenciou os primeiros ensaios sobre 
o homem em sociedade. Eriksen e Nielsen (2007, p. 28) trazem mais informações 
sobre esse período: 
 
19 
 
 
Finalmente, surgiu a ciência internacionalizada. O pesquisador global se 
torna uma figura popular — e o protótipo é, naturamente, Charles Darwin 
(1809–1882), cuja Origem das espécies (1859) se baseava em dados 
coletados durante uma circum-navegação de seis anos ao redor do globo. 
[…] Não surpreende que a antropologia tenha surgido como disciplina nesse 
período. O antropólogo é o pesquisador global prototípico que depende de 
dados detalhados sobre pessoas do mundo todo. Agora que esses dados se 
tornavam disponíveis, a antropologia podia estabelecer-se como disciplina 
acadêmica 
 
 
Assim, a antropologia passa a desenvolver estudos sobre o homem, mas esses 
estudos não são algo focado em um ou outro homem, e sim nas sociedades humanas 
como um todo. Com isso, a pretensão da antropologia é de “[...] constituir os ‘arquivos’ 
da humanidade em suas diferenças significativas” (LAPLANTINE, 2003, p. 12). 
4.2 Metodologias do fazer antropológico 
Mas o que faz o antropólogo? Ele vai a campo e faz etnografia ao conversar 
com as pessoas, anotar o que vê e o que dizem, tirar fotos ou fazer vídeos e pesquisar 
documentos. Posteriormente, ele produz relatórios, discute com seus pares e reflete 
sobre o que viu e ouviu.Ou seja, essa disciplina envolve o fazer antropológico, que é 
aprendido na teoria e também no cotidiano de trabalho. Agora você pode se perguntar 
o seguinte: quem não é antropólogo pode utilizar algumas metodologias próprias do 
fazer antropológico? A resposta é sim. Contudo, para haver legitimidade, deve-se ter 
o cuidado de não banalizar as metodologias do fazer antropológico. É o que evidencia 
Oliveira (2011, p. 120–121): 
 
A apropriação, por outras áreas, das teorias e metodologias antropológicas 
nos levam a pensar e repensar nossa identidade intelectual, bem como o 
fazer antropológico nesta era pós-tudo, como diria Geertz. A ampliação do 
que vem sendo produzido, em termos de conhecimento acadêmico, na 
interface entre a antropologia e as diversas áreas do conhecimento, longe de 
constituir uma ameaça para o campo da antropologia, perfaz um 
engrandecimento da produção acadêmica nesta área, ainda que devamos 
tomar cuidado com o que se está produzindo, quais os limites e quais os 
diálogos travados com a literatura antropológica, com seus conceitos e 
referenciais teóricos, afinal, como nos coloca Dauster (2007), não podemos 
resumir o diálogo da antropologia com as demais áreas do conhecimento a 
uma utilização instrumental da etnografia, até mesmo porque esta constitui 
mais que “técnica” de coleta de dados, mas sim uma forma de interpretar a 
realidade social, cujo substrato encontra-se atrelado a um campo de 
conhecimento específico e a questões suscitadas pela antropologia. 
 
 
20 
 
 
Desse modo, você pode perceber que o fazer antropológico implica conhecer 
as ferramentas e teorias da área da antropologia, mas também requer certa postura 
do pesquisador em meio ao grupo social estudado. Afinal, como o objeto de estudo é 
o ser humano, os desafios da pesquisa incluem as formas de relacionamento entre 
pesquisadores e pesquisados. A seguir, você vai ver algumas metodologias do fazer 
antropológico que compõem a cientificidade da disciplina e que a consolidam como 
mais um dos campos de estudos das ciências humanas. 
4.3 Etnografia 
 
Fonte: https://carmattos.com/ 
 
A primeira metodologia que você vai conhecer aqui é a etnografia. Ela propõe 
a observação e a participação em grupos sociais orientadas por problemas de 
 
21 
 
pesquisa. Assim, o pesquisador busca se inserir no grupo com certas ideias 
preconcebidas, podendo retificá-las ou modificá-las completamente. 
A proposta de Malinowski (1998) inclui ficar um longo período de tempo com o 
grupo para compreendê-lo, evitando fazer apenas viagens rápidas. Cuche (1999, p. 
45) reforça essa mesma ideia ao dizer que “A transformação de uma etnografia de 
viajantes ‘que apenas passam’ em uma etnografia de estada de longa duração 
modificou completamente a apreensão das culturas particulares”. 
Eckert e Rocha (2008) explicam melhor essa questão: 
 
A pesquisa etnográfica, constituindo-se no exercício do olhar (ver) e do 
escutar (ouvir), impõe ao pesquisador ou à pesquisadora um deslocamento 
de sua própria cultura para se situar no interior do fenômeno por ele ou por 
ela observado através da sua participação efetiva nas formas de sociabilidade 
por meio das quais a realidade investigada se lhe apresenta (ECKERT; 
ROCHA, 2008, p. 2). 
 
Então, ainda que o modo de pesquisar cada grupo social tenha suas 
especifidades, cabe compreender os principais pontos a que o pesquisador deve estar 
atento a fim de encarnar uma postura condizente com o fazer antropológico proposto. 
 
4.4 Pesquisa longitudinal 
A segunda metodologia que pode ser realizada no âmbito do fazer 
antropológico é a pesquisa longitudinal. Aqui, a ideia é que as “[...] pessoas de um 
único grupo são estudadas em diferentes épocas de suas vidas” (BOYD; BEE, 1977, 
p. 42). Cunha (2014) discorre sobre essa questão ao evidenciar as possibilidades e 
potencialidades do estudo longitudinal na etnografia: 
 
Mudando a conjuntura, uma nova investigação terá provavelmente de 
formular novas questões, em vez de limitar-se a alimentar as mesmas 
questões com novos dados ao longo do tempo. Ao prosseguir no rumo 
traçado de início, o risco é, paradoxalmente, o de distorcer a historicidade que 
se procura captar precisamente através de uma revisitação do terreno. 
Revisitação não equivale, pois, a replicação. É precisamente a ausência de 
rigidez da abordagem etnográfica que se pode revelar a mais adequada para 
captar o sentido das transformações. (CUNHA, 2014, p. 411) 
 
 
22 
 
Contudo, nem sempre um trabalho acadêmico realizado por estudantes, por 
conta dos prazos, permite esse tipo de estudo. Assim, esse tipo de metodologia não 
é tão comum, ainda que alguns pesquisadores optem por ela. 
 
 
4.5 Survey 
Por último, você deve conhecer a metodologia do survey (questionário). Ela é 
a mais utilizada em pesquisas sociológicas e pode ajudar o antropólogo a mapear 
aspectos da cultura e analisar comportamentos a partir da amostra de um grupo social. 
Nesse sentido, pode-se utilizar o survey para pesquisas políticas, questões sociais, 
situações de consumo, entre outros. A ideia é desvendar aspectos que não são 
facilmente explicáveis. Além disso, um mesmo questionário pode ser aplicado em 
diferentes públicos. Dessa forma, é possível apreender o que muda de um para outro. 
Bryman (1989) sistematiza as informações sobre o assunto: 
 
[...] a pesquisa de survey implica a coleção de dados [...] em um número de 
unidades e geralmente em uma única conjuntura de tempo, com uma visão 
para coletar sistematicamente um conjunto de dados quantificáveis no que 
diz respeito a um número de variáveis que são então examinadas para 
discernir padrões de associação [...] (BRYMAN, 1989, p.104). 
 
 
Essas variáveis têm de ser analisadas previamente pelos pesquisadores para 
que eles possam verificar se elas podem ajudá-los a compreender a realidade. Afinal, 
“[...] uma variável, por definição, deve ter variação; se todos os elementos na 
população têm a mesma característica, esta característica é uma constante na 
população e não parte de uma variável” (BABBIE, 1999, p. 124). 
4.6 Antropólogos importantes 
Uma das perguntas relativas ao estudo do homem é como coletar dados sobre 
os diferentes grupos. Não basta viajar, especular ou ter curiosidade, mas organizar, 
sistematizar, processar e interpretar dados e observações. Assim, como fontes de 
pesquisa, os antropólogos podem utilizar desde livros, documentos e objetos até 
depoimentos, vivências e observação. Dessa forma, os principais métodos de estudo 
 
23 
 
utilizados na antropologia envolvem pesquisas de campo, como a etnografia e a 
observação participante — que consiste basicamente em vivenciar experiências e 
práticas de outras culturas, com imersão, para entendê-las. Essas pesquisas foram 
desenvolvidas por importantes antropólogos ao longo da história, como: 
 
 o antropólogo polaco Bronislaw Malinowski, que conviveu com povos 
nativos australianos no século XX e registrou os seus estudos 
etnográficos no livro Os argonautas do Pacífico Ocidental; 
 o americano Franz Boas, que estudou povos nativos e esquimós norte-
americanos; 
 o francês Marcel Mauss, que estudou a reciprocidade entre sociedades, 
além de religiões e sociedades esquimós; 
 o francês Claude Lévi-Strauss, que escreveu sobre antropologia 
estrutural, mitos e parentesco, além de ter vivido alguns anos no Brasil, 
considerado fundador do estruturalismo na antropologia; 
 o estadunidense Clifford Geertz, da antropologia contemporânea, 
realizou estudos de campo e publicou obras como O saber local: novos 
ensaios em antropologia interpretativa. 
 
No Brasil, importantes antropólogos contemporâneos são referências em 
estudos, pesquisas e obras, como Darcy Ribeiro, que escreveu sobre a formação do 
povo brasileiro e educação, Gilberto Freyre, Roberto DaMatta, Roberto Kant de Lima, 
Lilia Schwarcz, além de Alba Zaluar, entre outros. 
 
 
Fonte: http://cursocertificado.com.br/24 
 
5 PERSPECTIVAS DE ANÁLISE ANTROPOLÓGICO 
 
Fonte: https://lereaprender.com.br/ 
 
Inúmeras subdivisões podem apresentar o campo de estudos da Antropologia, 
assim, optamos por identificar os subconjuntos que traçam as perspectivas de análise 
que compuseram o desenvolvimento da disciplina ao se relacionar com outras 
ciências, trocando experiências e conhecimentos. 
Como ciência social, oferece e recebe dados teóricos e metodológicos da 
Sociologia, da História, da Psicologia, da Geografia, da Economia e da Ciência 
Política. Como ciência biológica ou natural, liga-se à Biologia, à Genética, à Anatomia, 
à Fisiologia, à Embriologia, à Medicina. Também a Geologia, a Zoologia, a Botânica, 
a Química e a Física vêm oferecendo indispensável contribuição aos estudos 
antropológicos na busca da compreensão dos problemas comuns a todas essas 
disciplinas. 
A Antropologia, considerada a mais jovem das ciências, teve que aguardar o 
desenvolvimento dos conhecimentos ligados à Geologia, à Genética, à Biologia, à 
Sociologia para que pudesse se desenvolver. Pode-se afirmar que, somente após os 
conhecimentos da célula e da evolução terem sido formulados e aplicados ao homem, 
é que a Antropologia se sistematizou e progrediu como ciência do homem. 
 
25 
 
Mantém relações interdisciplinares mais íntimas com as ciências que centram 
seu interesse especificamente no estudo do homem e que emprestam a ela os dados 
pesquisados e acumulados em relação a todos os aspectos da existência humana: 
Sociologia, Psicologia, Economia Política, Geografia Humana, Direito e História. 
A Antropologia vem firmando-se como ciência do homem que exige, cada vez 
mais, a cooperação entre os seus especialistas e os de outras ciências, pois cada 
série de problemas requer a utilização de métodos específicos altamente técnicos. 
5.1 Sociologia 
De todas as ciências sociais, a Sociologia é a que mantém relações mais 
íntimas com a Antropologia, em função de seus interesses teóricos e práticos, 
salvaguardando a especificidade de cada uma. Antropólogos e sociólogos 
emprestam-se mutuamente os dados obtidos nas pesquisas, que passam a ter, com 
esses especialistas, tratamento teórico adequado. 
Antropologia e Sociologia auxiliam-se na compreensão do caráter global do 
homem, enquanto reunido em sociedade. A primeira empresta o seu conceito de 
cultura, largamente utilizado pela Sociologia, que, por sua vez, enfatiza o conceito de 
sociedade. Como afirma o antropólogo Kluckhohn (1972, p. 284), “a abordagem 
sociológica tem-se inclinado para o que é prático e presente, a antropológica, para o 
que é pura compreensão e passado”. 
Ambas valem-se de teorias, conceitos, métodos e técnicas desenvolvidos pelos 
seus especialistas. 
5.2 Psicologia 
As relações entre essas duas ciências são bastante estreitas, uma vez que 
ambas têm como foco de interesse o comportamento humano. A Antropologia ocupa-
se do comportamento grupal, e a Psicologia, do comportamento individual. 
Os antropólogos buscam, nos dados levantados pelos psicólogos, explicações 
para a complexidade das culturas e do comportamento humano e para a interpretação 
dos sistemas culturais relacionados com os tipos de personalidade correspondentes. 
 
26 
 
Indagam-se, assim, quais seriam os motivos da conduta social e qual o papel da 
cultura no processo de adaptação humana. 
Fatores biológicos, ambientais e culturais são as variáveis explicativas das 
diferenças individuais que determinam os diversos tipos de personalidade básicos das 
culturas. Na tarefa de proceder a esse conhecimento, antropólogos e psicólogos 
auxiliam-se mutuamente, fornecendo dados que propiciam a compreensão de 
problemas comuns. 
5.3 Economia e política 
As relações interdisciplinares com a Economia e a Política são justificadas, uma 
vez que a Antropologia, ao se preocupar com a globalidade da cultura, enfatiza o 
conhecimento das instituições econômicas e políticas. 
Todo grupo humano, por mais simples que seja, tem sua organização 
econômica sistematizada, com base nos recursos disponíveis e no trabalho realizado. 
A Economia, tendo criado uma série de teorias, é capaz de explicar, de modo 
geral, todo o procedimento econômico humano. Por outro lado, a Antropologia, 
documentando numerosos sistemas existentes na Terra, tem uma perspectiva mais 
ampla das organizações econômicas. Desse modo, ambas podem trocar informações 
valiosas para a melhor compreensão desse setor da cultura. 
Toda sociedade se organiza politicamente por meio de um complexo de 
instituições que regula o poder, a ordem e a integridade do grupo. Nas sociedades 
simples, a organização política varia muito, relacionando-se quase sempre com o 
ritual, o sagrado e os laços de parentesco. 
Antropólogos e cientistas políticos encontram um ponto em comum. Se, por um 
lado, a Política se desenvolveu no sentido de compreender as várias modalidades de 
formas de governo e de Estado, por outro, os focos de interesse da Antropologia, sob 
esse aspecto, são imensos. O intercâmbio de ideias enriquece o campo das duas 
ciências do homem. 
 
27 
 
5.4 Outras ciências 
A História permite a reconstrução das culturas que já desapareceram, 
indagando, muitas vezes, sobre as origens dos fenômenos que se relacionam com o 
homem. Por meio da Etno-história, é possível a reconstrução de culturas ágrafas do 
presente que estiveram ou estão em contato com a civilização. 
A contribuição da Geografia Humana aos estudos antropológicos é inestimável, 
interessando-se ambas pela adaptação do homem e pela modificação do meio 
ambiente. O geógrafo estuda as mudanças do habitat provocadas por tecnologias 
novas, por inovações culturais etc. O estudo do meio físico de um grupo tribal é foco 
de atenção tanto do antropólogo quanto do geógrafo humano. 
O conhecimento da Biologia, em geral, e da Biologia Humana, em especial, deve 
fazer parte da formação do antropólogo físico, que tem seu interesse centrado na 
evolução do homem. Antropologia e Biologia mantêm íntimas relações que facilitam 
sobremaneira a tarefa dos seus especialistas. 
As ciências auxiliares, em geral, que se interessam por variadas áreas de 
experiência humana estão em condições de dar respostas adequadas a questões e 
problemas específicos. 
Além dessas, várias outras ciências como a Geologia, a Paleontologia, a 
Metalurgia, a Arquitetura, a Engenharia, a Zoologia, a Botânica, a Fisiologia, a 
Anatomia, a Farmacologia, a Astronomia e as Artes, em geral, podem colaborar com 
o antropólogo nas suas mais variadas atividades. 
 
 
Fonte: http://portalmariliense.com/portal/ 
 
 
28 
 
6 A ANTROPOLOGIA E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS 
 
Fonte: https://jornalproenca.pt/ 
 
Desde seu surgimento, a antropologia estuda a origem e o desenvolvimento 
humano, pensando nos processos pelos quais a sociedade e os povos passaram (e 
passam). Assim, por meio desse estudo, entende-se o que é natural e cultural no ser 
humano, ou se é possível estabelecer uma relação de compreensão com o que não é 
humano de modo não hierárquico. Compreender a relação entre a sociedade e o 
indivíduo no sentido constitutivo e os modos de existência e experiência de vida nas 
cidades também é próprio ao estudo antropológico. Neste capítulo, você estudará 
como a abordagem e as críticas contemporâneas à dicotomia entre natureza e cultura 
ocorrem e a importância do estudo antropológico em relação à vida nas cidades e os 
problemas decorrentes do processo de urbanização. 
6.1 Clássica dicotomia entre natureza e cultura 
A necessidade de definir o que é natural e cultural no indivíduo se trata de um 
problema secular, sendo que a relação entre o que se determina e o que se cria surgiu 
como questionamento já na obra do filósofo grego Aristóteles. Em sua teoria, existe 
uma distinção entre a constituição humana e a da natureza, assim, os seres humanos 
são classificados como não objetivos; e a natureza estásubmetida às leis e ordens. 
Nesse sentido, a natureza é ordenada e, segundo o pensamento aristotélico, sua 
ontologia se refere à investigação científica de suas leis; já a ontologia do ser humano 
seria subjetiva e relacionada àquilo que é próprio de uma produção cultural. Portanto, 
a partir da concepção aristotélica, a natureza começou a ser tratada como uma 
realidade externa pronta para ser descoberta em seu funcionamento. 
 
29 
 
Já a concepção do termo cultura é própria, em seu primeiro uso, dos romanos 
e advém do verbo colere, em latim, que significa o trabalho no campo, com a colheita. 
Os romanos empregavam tal verbo tanto para se referir à colheita e ao processo de 
produção de agricultura como ao cultivo das virtudes, intelectualidade e propriedades 
do espírito. Essa compreensão da cultura evoluiu em alguns aspectos, mas continuou 
a incluir faculdades do espírito e da intelectualidade até o surgimento da corrente 
filosófica Iluminista, a qual defendia que o uso da razão seria suficiente para os 
indivíduos saírem da menoridade intelectual. 
Portanto, o refinamento do espírito e da mente ocorria pela capacidade racional 
do ser humano. Um filósofo que intensificou e protagonizou essa forma de entender 
cultura e natureza no movimento Iluminista foi René Descartes (1596-1650). Na obra 
“O discurso do método” (1637), Descartes apresenta sua teoria sobre um método para 
se chegar à verdade. Portanto, o método é o racional e considera como se pode provar 
que você existe e que a realidade ao seu redor não é apenas uma formação da sua 
imaginação. 
 Para o filósofo, prova-se que existe refletindo: se penso é porque existo. A 
razão seria a responsável por garantir a existência, e não os sentidos que podem 
enganar. Do mesmo modo, por ser externa, a natureza pode ser investigada em suas 
leis por meio do método racional. O sentido do termo cultura permaneceu assim até o 
final do século XIX, quando surgiram os estudos de antropologia e sociologia. Nesse 
contexto, ela começou a ser entendida como tudo o que constitui um povo, por 
exemplo, as tradições, a língua, as técnicas, o conhecimento, etc. 
Foi propriamente com a antropologia que a problematização dessa dicotomia 
teve início. Já as primeiras correntes filosóficas que marcaram essa nova abordagem 
antropológica são o racionalismo e o empirismo, os quais partem do questionamento 
sobre o conhecimento e sua fonte — a razão ou a experiência. Posteriormente, essas 
noções foram superadas com a teoria newtoniana, que defende que tudo está 
submetido às leis universais, naturais e eternas. Desse modo, a antropologia se 
concentrava em classificar tudo que compunha esse universo cultural: 
 
[...] há uma natureza humana tão regularmente organizada, tão perfeitamente 
invariante e tão maravilhosamente simples como o universo de Newton. 
Algumas de suas leis talvez sejam diferentes, mas existem leis; parte da sua 
imutabilidade talvez seja obscurecida pelas armadilhas da moda local, mas 
ela é imutável (GEERTZ, 2008, p. 25). 
 
 
30 
 
 
Entretanto, tal concepção foi alterada a partir da publicação do livro de Charles 
Darwin (1809-1882), “Sobre a origem das espécies e a seleção natural” (1859), cuja 
teoria evolucionista encerra com a percepção newtoniana. Na medida em que a 
evolução das espécies começou a ser vista como um processo, surgiram estudos que 
demonstram que o mesmo ocorreu com a sociedade e os povos. 
Assim, essa teoria influenciou os estudos antropológicos, de modo que, no 
século XX, a antropologia desenvolveu um estudo cultural, o qual abordou a cultura 
por duas vertentes: a primeira era mais originária, e a segunda ganhou mais espaço 
nessa área. Inicialmente, a antropologia cultural compreendia o ser humano a partir 
de duas estruturas, a biológica e a cultural, depois, a partir do pressuposto de que a 
cultura é mais determinante do que a estrutura biológica. 
Se, em um primeiro momento, os estudos antropológicos partiram de uma 
universalidade biológica em que as diferenças entre os povos ocorriam de acordo com 
os níveis de desenvolvimento deles, posteriormente, a história cultural começou a ser 
mais valorizada. Nesse contexto, para um parecer científico acerca do ser humano, 
seria necessário comprovar uma natureza universal da humanidade. 
A partir deste paradoxo, após a Segunda Guerra Mundial, algumas correntes 
antropológicas começaram a apresentar novos estudos relacionados à dicotomia 
entre natureza e cultura, entre os principais nomes que marcaram a área no século 
XX está Claude Lévi-Strauss (1908-2009), considerado o inventor do corrente 
estruturalismo. 
Lévi-Strauss defendia a dicotomia entre natureza e cultura sob o argumento de 
que a cultura nunca foi “capaz de afirmar sua existência e originalidade a não ser 
cortando todas as passagens adequadas a demonstrar sua conivência originária 
comas outras manifestações da vida” (LÉVI-STRAUSS, 1982, p. 26). 
Na obra de Lévi-Strauss, o dualismo é a própria possibilidade de ressignificação 
dessa estrutura, sendo a vida regida por dois determinismos: o mental e o do meio — 
o primeiro cuida das necessidades do espírito, e o segundo coage. Portanto, esses 
determinismos assumem peso igual na constituição do ser humano, já a cultura 
começa a ser pensada como uma constante em relação à natureza, que ora a substitui 
e ora a utiliza. 
 
31 
 
O determinismo mental (da cultura) trabalha as estruturas relativas às 
informações que recebe; e o determinismo do meio (da natureza) abastece 
simbolicamente o pensamento, ambos trabalham em correlação. Houve muitos 
críticos à obra de Lévi-Strauss, entre eles, se ressaltaram Philippe Descola e Bruno 
Latour. Descola foi orientando de Lévi-Strauss no doutorado, e sua tese apresentou 
algumas críticas à teoria dualista lévi- -straussiana. Ele ainda defendeu que o 
dualismo natureza e cultura é um paradigma que foi aprofundado especificamente na 
modernidade ocidental e, na tese La nature domestique, realizou um estudo 
etnográfico sobre os povos ameríndios da Amazônia, sobretudo os Achuar. 
Nesse estudo, Descola argumentou que essa dicotomia não existe na 
cosmologia ameríndia, na qual a natureza é participante ativa na cultura deles, por 
isso, o domínio natural e o cultural se completam. Portanto, a crítica de Descola a 
Lévi-Strauss envolve o argumento de que, na teoria deste, a natureza não incide na 
atividade simbólica: “incidência dos fatores ecológicos sobre todos esses aspectos da 
vida social que não podem ser considerados produtos da atividade simbólica” 
(DESCOLA, 2011, p. 38). 
Isso decorre também de Lévi-Strauss reconhecer certa primazia e 
superioridade das produções mental e cultural sobre a natural. Já Latour (1994) 
argumenta no mesmo sentido que Descola, porque, para ele, a oposição entre 
natureza e cultura decorre da fenda que foi aprofundada na modernidade. Em sua 
obra, “Jamais fomos modernos”, ele afirmou que, com as invenções modernas e a 
contribuição filosófica, começou-se a distinguir entre o que é humano e o que não é. 
Assim, a máquina purificadora moderna criou um abismo entre o que seria 
humano e tudo o que não era, como objetos, natureza, entre outras “coisas”. Tal 
dicotomia somente é superada pela resistência dos híbridos, um conceito que designa 
aquele/ aquilo que transita entre os dois domínios (natural e cultural), que foram 
separados pela modernidade. A crítica de Latour cabe à antropologia na medida em 
que esta foi inventada pelos modernos, na tentativa de compreender os que não eram 
considerados modernos. Portanto, ao focar nas culturas, a antropologia aprofundou 
ainda mais a cisão dicotômica, porque seus estudos não tratam da natureza, mas, 
sim, da cultura, corroborando com a cisão entre extremos. Latour propôs uma 
antropologia que se dedicasse ao centro, aos híbridos de natureza e cultura. Nesse 
 
32 
 
contexto, há também a crítica à modernidadefilosófica. Latour acusou a ontologia 
moderna de acirrar essa cisão, apresentando três estratégias: 
 
 A separação entre a política dos seres humanos e a da natureza, como 
é ilustrada com a invenção da ciência política pelo filósofo Thomas 
Hobbes e da ciência política da natureza, instituída por Boyle — a 
criação de laboratórios. 
 A filosofia kantiana ao estabelecer a primazia da razão sobre a natureza 
e o mundo. Assim, o sujeito basta em sua racionalidade, o que causa 
um distanciamento entre ele e a natureza. 
 A limitação do sujeito ao discurso, como foi aprofundada no século XX. 
O ser humano é o sujeito do discurso, portanto, para compreender 
categorias como natureza, cultura, sociedade e ser, deve separá-los. 
 
Segundo Latour, há apenas natureza-culturas, portanto, a antropologia não 
consegue se debruçar sobre a cultura para superar a dicotomia natureza e cultura, 
pois esta é uma invenção devido ao afastamento do ser humano em relação à 
natureza na modernidade, assim como a noção de natureza universal. Protagonizado, 
em grande parte, pelo pensamento do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, o 
perspectivismo ameríndio aborda a relação entre natureza e cultura a partir dos povos 
ameríndios, na contemporaneidade. 
De acordo com Viveiros de Castro (1996), trata-se de uma inversão na forma 
de pensar essa relação, se para os ocidentais a noção de natureza sempre foi 
compreendida a partir da universalidade e a cultura como a particularidade de cada 
povo; para os povos ameríndios, a cultura é universal e a natureza particular. 
Assim, para os ameríndios, o que distingue os corpos é a natureza, sendo a 
cultura universal, pois engloba tudo que existe — os corpos são o que singularizam. 
Isso, segundo Eduardo Viveiros de Castro, demonstra que a relação entre natureza e 
cultura, a partir do perspectivismo, ocorre por meio de um multiculturalismo e um 
multinaturalismo de forma igualitária, sem que haja a valorização de um ponto ou de 
outro, somente a perspectiva. Portanto, a animalidade não é considerada inferior à 
humanidade em detrimento da ausência de cultura, mas, sim, a ressignificação desta 
como um outro modo de vida, de uma outra simbologia. 
 
33 
 
6.2 Características da cultura 
As definições anteriormente referidas indicam a presença de diversos atributos 
fundamentais da cultura (KOTTAK, 2010): 
 
 A cultura é apreendida: toda pessoa começa, ao nascer, a interação com 
os outros e pelo processo de enculturação internaliza uma tradição cultural. 
 A cultura é simbólica: cultura consiste em ferramentas, implementos, 
utensílios, vestuário, ornamentos, costumes, instituições, crenças, rituais, 
jogos, obras de arte, linguagem etc. (WHITE, 1949, p. 3). 
 A cultura é compartilhada: ela é um atributo do indivíduo como membro 
de grupos. 
 A cultura e a natureza: a cultura toma as necessidades biológicas 
naturais compartilhadas com outros animais e nos ensina como expressá-
las em determinadas formas. Por exemplo, as pessoas têm que comer, mas 
a cultura nos ensina o que, quando e como. 
 A cultura é totalizante: está profundamente enraizada na sociedade e 
configura completamente as nossas vidas: personalidade, valores e forma 
de viver. 
 Os elementos da cultura estão interligados: as culturas não são uma 
coleção aleatória de costumes. As culturas são sistemas integrados e 
estruturados. Se uma parte muda (por exemplo, a Economia) as outras 
partes também mudam. 
6.3 Enfoques da cultura 
As diversas definições, referidas anteriormente, permitem apreender a cultura 
como um todo, sob os vários enfoques. 
A cruz, por exemplo, pode ser vista sob essas diferentes concepções: 
 
 ideia: quando se formula sua imagem na mente; 
 abstração do comportamento: quando ela representa, na mente, 
um símbolo dos cristãos; 
 
34 
 
 comportamento aprendido: quando os católicos fazem o sinal da 
cruz; 
 coisa extrassomática: quando é vista por si mesma, 
independentemente da ação, tanto material quanto imaterial; 
 mecanismo de controle: quando a Igreja a utiliza para afastar o 
demônio ou para obter a reverência dos fiéis. 
 
A cultura, portanto, pode ser analisada, ao mesmo tempo, sob vários enfoques: 
ideias (conhecimento e filosofia); crenças (religião e superstição); valores (ideologia e 
moral); normas (costumes e leis); atitudes (preconceito e respeito ao próximo); 
padrões de conduta (monogamia, tabu); abstração do comportamento (símbolos e 
compromissos); instituições (família e sistemas econômicos); técnicas (artes e 
habilidades) e artefatos (machado de pedra, telefone). 
 
6.4 Conteúdo cultural 
Refere-se ao caráter simbólico, dimensão artística e valores culturais que têm 
por origem ou expressam identidades culturais (UNESCO, 2005). 
Para Neena (2011), cada sociedade tem uma cultura própria. Assim, no mundo, 
as pessoas em diferentes sociedades têm culturas diferentes. Essas culturas não são 
apenas diversificadas, mas também desiguais. Com as diversidades e disparidades 
culturais, podem--se observar certas semelhanças culturais. Os povos podem adorar 
deuses diferentes em maneiras diferentes, mas todos têm uma religião. Eles podem 
ter ocupações diversas, mas todos procuram ganhar a vida. Detalhes de seus ritos, 
cerimônias, costumes etc. podem diferir, mas todos eles, no entanto, têm alguns 
rituais, cerimônias, costumes etc. Além disso, as pessoas das diversas sociedades 
possuem diversos bens materiais. Assim, esses componentes materiais e imateriais 
constituem o “conteúdo cultural” de uma sociedade. 
6.5 Ser humano: produto e produtor de cultura 
Como vimos anteriormente, a cultura pode ser definida como tudo aquilo que o 
ser humano produz ou que sofre a sua intervenção, de forma que, segundo Ribeiro 
(1999), até uma galinha pode ser considerada cultura. Portanto, tudo o que vemos ao 
 
35 
 
olhar ao nosso redor é cultural e foi produzido pelo ser humano, pois a realidade, como 
afirmou Freire, é a realidade humana, produzida pelo ser humano. Você deve 
concordar que o trabalho é muito importante para o ser humano, pois lhe dignifica, o 
torna útil e capaz de modificar a realidade, desde que não seja um trabalho em que 
seja explorado. Logo, não há exagero nenhum em dizer que o ser humano é produtor 
de cultura. Além disso, somos seres sociais que vivem em grupo, dotados de 
sociabilidade, ou seja, uma necessidade intrínseca de viver em grupo e/ou 
comunidades, pois não somos dados ao isolamento. Ainda, nossa educação, ou seja, 
as nossas aprendizagens, desenvolvidas ao longo da vida, são fruto dos processos 
de socialização que estabelecemos nos diferentes grupos sociais que integramos ao 
longo da nossa vida. Há também a enculturação, como vimos, por meio da qual 
aprendemos os hábitos da nossa cultura e tradição. 
Segundo a professora Aranha (2010), o processo de socialização tem início 
pela influência da comunidade sobre os indivíduos. É conhecida a história das 
meninas-lobo encontradas na Índia, em 1920, vivendo em uma matilha. O 
comportamento delas em tudo se assemelhava ao dos lobos: andavam de quatro, 
comiam carne crua ou podre, uivavam à noite, não sabiam rir nem chorar. Só iniciaram 
o processo de humanização quando foram encontradas e passaram a conviver com 
pessoas. 
O mundo cultural é, dessa forma, um sistema de significados já estabelecidos 
por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra um mundo de valores dados, 
onde ela se situa. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de sentar, 
andar, correr, brincar, o tom de voz nas conversas, as relações sociais, tudo, enfim, 
se acha estabelecido em convenções. Até a emoção, que é uma manifestação 
espontânea, sujeita-se a regras que dirigem de certa maneira a sua expressão. A 
condição humana resulta, pois, da assimilação de modelos sociais: a humanização se 
realiza mediada pela cultura. 
Se, como afirma Aranha (2010) noexcerto acima, a humanização se realiza 
mediada pela cultura, não é possível dissociar a sociabilidade e a socialização da 
cultura e dos processos de enculturação, pois é por meio delas que nos tornamos 
quem somos. É claro que não cabe exclusivamente ao processo de enculturação nos 
definir; somos constituídos pelos grupos sociais dos quais fazemos parte, pelas 
experiências que vivenciamos e por aquelas culturas com as quais temos contato. 
 
36 
 
6.6 Multiculturalismo e interculturalidade 
 
O multiculturalismo, ou pluralismo cultural, dá-se por meio da convivência com 
diferentes grupos sociais de diferentes culturas em um mesmo território. Por meio do 
contato com outros grupos culturais, ocorre o processo de aculturação. A aculturação 
é o processo pelo qual os sujeitos adquirem traços ou se adaptam às outras culturas 
com as quais têm contato. O processo de aculturação permite o sincretismo cultural e 
religioso, uma vez que, a partir do contato com outras culturas e religiões, o sujeito 
acaba adquirindo os hábitos e costumes daquela sociedade ou grupo social, dando 
origem, muitas vezes, a novos hábitos e novas práticas culturais. 
No Brasil, a aculturação permitiu às culturas indígenas e africanas adquirirem 
traços das outras culturas. Houve também a aculturação religiosa, por meio da qual 
as religiões de matriz indígena e africana adquiriram traços das outras religiões. Essa 
troca entre as culturas é conhecida também como interculturalidade, que nada mais é 
do que o intercâmbio cultural entre as sociedades — é quando sociedades com 
culturas diferentes interagem, e uma acaba assimilando os hábitos da outra, sem 
perder os seus hábitos culturais. 
Alguns autores trabalham o conceito de interculturalidade como sinônimo de 
multiculturalismo. Em uma sociedade globalizada é comum que exista o que os 
antropólogos chamam de assimilação, que nada mais é do que o processo de 
mudança que um grupo étnico pode experimentar quando se muda para um país no 
qual uma outra cultura é dominante. Porém, essa mudança não é inevitável e nem 
necessária, desde que o grupo não se sinta ameaçado ou constrangido por agir 
conforme a sua cultura. 
Em situações em que as pessoas são pressionadas ou questionadas acerca 
dos seus hábitos e culturas, é mais comum que exista a assimilação cultural, até como 
uma forma de autodefesa. Uma sociedade multicultural não só socializa os indivíduos 
na cultura dominante (nacional), mas também cria uma cultura étnica e permite, assim, 
a compreensão das semelhanças e diferenças entre as culturas, sem fazer qualquer 
julgamento. Contudo, em uma sociedade tão plural culturalmente, é necessário 
aumentar a vigilância contra os preconceitos e as intolerâncias. E, para isso, o diálogo 
e o respeito são imprescindíveis. 
 
37 
 
6.7 Processos de urbanização sob o olhar da antropologia urbana 
 
 
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/ 
 
Geralmente, a figura do antropólogo é associada a alguém que se dedica aos 
estudos etnográficos de culturas que não participam das sociedades ocidentais, em 
uma relação de proximidade, como os povos primitivos e nativos de regiões mais 
distanciadas. Apesar de, em seus primórdios, a antropologia clássica ter abordado 
mais esses estudos, a mais contemporânea se voltou também ao estudo sobre o 
processo de urbanização e a vida urbana dos indivíduos. 
Nesse contexto, a vida na cidade parece ser de mais fácil acesso para o estudo 
antropológico, cuja inauguração aconteceu, em grande medida, a partir dos estudos 
sociológicos feitos pela Escola de Chicago, na primeira metade do século XX. O grupo 
de etnógrafos se dedicou a empreender os métodos de observação sobre os povos 
indígenas norte-americanos, em relação às suas práticas sociais, aos seus costumes 
e modos de vida nas cidades de Chicago, formando a antropologia urbana. 
Não existe apenas um fator que levou ao surgimento de uma nova área de 
estudos da antropologia (sobre a vida na cidade) e ao processo de urbanização, 
 
38 
 
porque muitas mudanças ocorreram no contexto social no século XX, desde as 
alterações geográficas e econômicas resultantes das guerras aos processos de 
migração de cada região, de acordo com situações múltiplas. 
Por exemplo, no Brasil, houve o surgimento das favelas devido à exclusão 
social de pessoas negras (após a abolição da escravidão), desajustadas e pobres, em 
busca de melhores condições de vida e trabalho. Entretanto, o que se pode afirmar é 
que o processo de urbanização gerou muitos impactos tanto para os que já habitavam 
nas cidades como para os que migraram. Portanto, problemas sociais relacionados à 
marginalidade, pobreza e discriminação étnica começaram a atingir grandes 
proporções e se tornaram objeto de estudo antropológico. Isso também foi um desafio, 
pois o estudo nos grandes centros precisava de adaptações e reformulações dos 
métodos utilizados até então pela antropologia clássica. Desse modo, desde os anos 
de 1960, diversos antropólogos desenvolveram métodos antropológicos e 
epistemológicos que atendessem a esse novo cenário de pesquisa. 
Assim, a antropologia urbana começou a tentar compreender o processo de 
urbanização a partir de três vertentes: urbanização, urbano e pobreza urbana. Entre 
muitas dificuldades, uma de grande relevância foi a produção etnográfica, devido ao 
tamanho das cidades, tornando-se um problema avaliar as partes e o todo, bem como 
um problema teórico e de metodologia, pois os processos de análise etnográfica 
ocorriam em outro contexto. Nesse sentido, uma vez que este estudo ficou caro, o 
método etnográfico se reformulou para buscar uma articulação entre os seguimentos 
e planos para a unidade de determinada cidade. 
A antropologia urbana se debruçou sobre vários seguimentos e aspectos da 
vida urbana, surgindo, neste contexto, diferentes métodos etnográficos. Contudo, 
mesmo com diferentes métodos e a complexidade do processo de urbanização de 
cada cidade, em geral, tal ramo de estudo tentou compreender a experiência de vida 
urbana. Portanto, é objeto de estudo a diversidade étnica e cultural dos sujeitos que 
habitam e visitam esses locais, como turistas, moradores fixos ou não, imigrantes, 
minorias, etc. Isso também serve para a diversidade de gênero, de sexualidade, as 
necessidades ou determinações físicas e biológicas, por exemplo, número de pessoas 
com doenças psíquicas, necessidades especiais, entre outras. Estuda-se ainda 
diferenças políticas, religiosas, ideológicas, educacionais, comportamentais, todos os 
modos de vida que determinado local possui e qual sua relação com a cidade. 
 
39 
 
Portanto, o estudo etnográfico da antropologia urbana parte de um duplo em 
relação a cada contexto: a perspectiva de quem foi estudado, independentemente de 
qual aspecto, e a perspectiva do antropólogo que realizou esse estudo. Segundo Augé 
(1994, p. 51), emprega-se o lugar antropológico, que é o sentido simultâneo de quem 
observa e daquele que está sendo observado. 
Trata-se do ponto de vista do observado, que se comunica para ser entendido, 
e cabe ao antropólogo reconhecer, entre as alternativas, a escolha dele por aquilo ou 
tal caminho, chegando a uma unidade de análise ou etnográfica, a qual tenta 
compreender um fenômeno devido ao seu alcance social inteligível. Mediante esse 
processo, torna-se possível entender os impactos sociais da urbanização das cidades, 
por uma proximidade e um distanciamento. 
Nesse sentido, a antropologia demonstra a importância em compreender a 
organização social e os modos de vida na cidade, uma vez que enfatiza a relevância 
dos registros múltiplos dos agentes sociais. Assim, a antropologia urbana dignifica os 
atores sociais em todas as relações que estabelecem com uma cidade, como sua 
função, seu trajeto, suas dificuldades e sua existência. A identidade de diversas 
existências é significada a partir de um estudo mais aprofundadoe de perspectiva dos 
atores que compõem essa sociedade. 
Conclui-se que esta importante área da antropologia faz os modos de vida 
serem compreendidos de forma mais completa. Por exemplo, como se poderia 
entender os problemas de determinado grupo que vive certa situação sem o estudo 
etnográfico, ou como se poderia pensar em soluções para os problemas urbanos sem 
um estudo aprofundado que considere tanto os seus impactos para toda a sociedade 
como o ator social que vive determinada realidade? Nesse contexto, a antropologia 
urbana cria a própria condição de compreensão de si, como ator social, e a 
possibilidade de agência em relação às problemáticas urbanas. 
 
 
 
40 
 
7 ANTROPOLOGIA E CIBERESPAÇO 
 
Fonte: https://br.depositphotos.com/ 
 
7.1 As redes sociais 
Manuel Castells (2000), sociólogo espanhol, considerado o principal estudioso 
da sociedade de informação e a sociedade em rede, afirma que, 
 
a revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo 
introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede. Essa 
sociedade é caracterizada pela globalização das atividades econômicas 
decisivas do ponto de vista estratégico, por sua forma de organização em 
redes; pela flexibilidade e instabilidade do emprego e pela individualização da 
mão de obra. Por uma cultura de virtualidade real construída a partir de um 
sistema de mídia onipresente, interligado e altamente diversificado 
(CASTELLS, 2000, p. 17). 
 
https://br.depositphotos.com/
 
41 
 
Para Castells (2005): 
 
o nosso mundo está em processo de transformação estrutural desde há duas 
décadas. É um processo multidimensional, mas está associado à emergência 
de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de 
comunicação e informação, que começaram a tomar forma nos anos 1960 e 
que se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Nós sabemos que a 
tecnologia não determina a sociedade: é a sociedade. A sociedade é que dá 
forma à tecnologia de acordo com as necessidades, valores e interesses das 
pessoas que utilizam as tecnologias [...]. Frequentemente, a sociedade 
emergente tem sido caracterizada como sociedade de informação ou 
sociedade do conhecimento. Eu não concordo com esta terminologia. Não 
porque conhecimento e informação não sejam centrais na nossa sociedade. 
Mas porque eles sempre o foram, em todas as sociedades historicamente 
conhecidas. O que é novo é o fato de serem de base microeletrônica, através 
de redes tecnológicas que fornecem novas capacidades a uma velha forma 
de organização social: as redes (CASTELLS, 2005, p.17) 
 
Continua o autor, afirmando que “as redes de comunicação digital são a coluna 
vertebral da sociedade em rede, tal como as redes de potência (ou redes energéticas) 
eram as infraestruturas sobre as quais a sociedade industrial foi construída” 
(CASTELLS, 2005, p. 18). 
Nos primeiros anos do século XXI, a sociedade em rede não era a sociedade 
emergente da Era da Informação: ela já configurava o núcleo das nossas sociedades. 
De fato, nós temos um já considerável corpo de conhecimentos recolhidos na última 
década por investigadores acadêmicos, por todo o mundo, sobre as dimensões 
fundamentais da sociedade em rede, “ incluindo estudos que demonstram a existência 
de fatores comuns do seu núcleo que atravessam culturas, assim como diferenças 
culturais e institucionais da sociedade em rede, em vários contextos” (CASTELLS, 
2005, p. 19). 
7.2 Conceito, características e desafios da sociedade em rede 
De acordo com Castells (2000): 
 
o século XXI não tinha que estabelecer uma nova sociedade. Mas fez. Assim, 
mais do que nunca a sociedade precisa de Sociologia, no entanto, não de 
qualquer tipo de Sociologia, precisa-se de uma que estude cientificamente os 
processos de constituição, organização e mudança que, juntos e em sua 
interação, constituem a estrutura social de uma nova sociedade, que 
provisoriamente chamo “a sociedade da rede” (CASTELLS, 2000, p 693). 
 
 
42 
 
A sociedade em rede, em termos simples, é uma estrutura social baseada em 
redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na 
microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram, processam e 
distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes. A 
rede é a estrutura formal (MONGE, CONTRACTOR, 2003). 
É um sistema de nodos interligados. E os nodos são, em linguagem formal, os 
pontos onde a curva se intersecta a si mesma. As redes são estruturas abertas que 
evoluem acrescentando ou removendo nodos de acordo com as mudanças 
necessárias dos programas que conseguem atingir os objetivos de performance para 
a rede. Esses programas são decididos socialmente fora da rede, mas, a partir do 
momento em que são inscritos na lógica da rede, a rede vai seguir eficientemente 
essas instruções, acrescentando, apagando e reconfigurando, até que um novo 
programa substitua ou modifique os códigos que comandam esse sistema operativo. 
Para Castells (2000), as dimensões principais da mudança social dessa nova 
sociedade são as seguintes: 
 
1. É um novo paradigma tecnológico, com base na implantação de novas 
tecnologias da informação e incluindo a engenharia genética como a 
tecnologia da informação da matéria viva. Seguindo Claude Fischer 
(1992), a tecnologia, como cultura material, isto é, como um processo 
socialmente incorporado, não é um fator exógeno que influi na 
sociedade. Assim, as novas tecnologias de informação permitem a 
formação de novas formas de organização e interação social baseadas 
em redes de informação. 
2. A globalização, compreendida como a capacidade tecnológica, 
organizacional e institucional dos componentes centrais de um 
determinado sistema (por exemplo, a Economia) para trabalhar como 
uma unidade em tempo real ou escolhido em escala planetária. Isto é 
historicamente novo, em contraste com as formas anteriores de 
internacionalização avançada, que não podiam se beneficiar de 
tecnologias de informação e comunicação capazes de lidar com o 
tamanho atual, a complexidade e a velocidade do sistema global, como 
foi documentado por David Held et al. (1999). 
 
43 
 
3. A inclusão das manifestações culturais dominantes em um hipertexto 
interativo e eletrônico, que passa a ser o marco de referência para o 
processamento simbólico que surge de todas as fontes e mensagens. A 
internet (mais de 3 bilhões de pessoas conectadas) vincula indivíduos e 
grupos entre si e ao hipertexto de multimídia compartilhada. Este 
hipertexto constitui a espinha dorsal de uma nova cultura, a cultura da 
virtualidade real, na qual a virtualidade se torna um componente 
fundamental do ambiente simbólico e, portanto, da experiência como 
seres comunicantes. 
4. Como uma consequência das redes globais da Economia, da 
comunicação, do conhecimento e da informação, o estado-nação perde 
importância. Sua existência como aparelho de poder é profundamente 
transformada, ou são desconsiderados ou reorganizados em redes de 
soberania compartilhada formada por governos nacionais, instituições 
supranacionais (como a União Europeia, OTAN ou NAFTA), governos 
regionais, governos locais e ONGs, todos interagindo em um processo 
negociado de tomada de decisões. Como resultado, a questão da 
representação política também é redefinida, uma vez que a democracia 
foi constituída com um caráter nacional. Em outro eixo de mudança 
estrutural, há uma crise fundamental do patriarcado, provocada pelos 
movimentos das mulheres e aumentada pelos movimentos sociais gays 
e lésbicos, desafiando a heterossexualidade como alicerce da família. 
Assim, é difícil imaginar, pelo menos nas sociedades industrializadas, a 
persistência das famílias patriarcais como norma. Essa crise leva a 
redefinir a sexualidade, a socialização e, finalmente, a formação de 
personalidade. Porque a crise do Estado e da família, em um mundo 
dominado por mercados e

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