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LOGÍSTICA E GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS Marcelo Ribas Simões Pires Rodrigo Mércio Silveira Logística e gestão da cadeia de suprimentos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar a revolução da cadeia de suprimentos. � Identificar o porquê de a integração da cadeia de suprimentos gerar valor. � Demonstrar a funcionalidade do sistema de informação da cadeia de suprimentos. Introdução Neste capítulo, você compreenderá o significado, as necessidades e as competências da logística. Observará também as mudanças ocorridas na chamada gestão da cadeia de suprimentos (SCM, do inglês supply chain managament) nos últimos anos. Por fim, você reconhecerá o contexto de desafios logísticos, ao identificar a importância da administração das operações, da integração dos canais de distribuição e de apoio à estratégia de cadeia de suprimentos. Análise da revolução da cadeia de suprimentos Você sabe o que é logística? O termo não é novo. É o processo de planejamento, de implantação e de controle do fluxo eficiente e eficaz de mercadorias, serviços e informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes. É relacionado aos estágios mais antigos da vida em sociedade, principalmente, no contexto militar. Basta pensar nas guerras e disputadas militares pelos quais a humanidade passou para perceber a difícil empreitada de deslocar homens, munições, armamentos, mantimentos e demais aparatos demandados na frente de batalha. Com essa base histórica, a associação entre atividade logística e ação de abastecimento Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 ou provisionamento de recursos é comum. Percebe-se nas empresas que a cadeia de suprimentos forma um gargalo, que poderia ser eliminado a partir de uma gestão mais adequada, agressiva e inovadora dos processos logísticos. Tal avanço confere amplas vantagens frente aos concorrentes, além de oferecer um retorno financeiro significativamente mais atrativo. Devido à grande necessidade organizacional, a evolução e consolidação das atividades logísticas elevaram a logística a um novo patamar, como um marcante elemento de vantagem competitiva no contexto do planejamento das organizações, em virtude da globalização, da concorrência acirrada e de mer- cados cada vez mais integrados. A logística passou a ser conhecida, então, por gestão da cadeia de suprimentos (SCM, do inglês supply chain management). De acordo com Figueiredo, Fleury e Wanke (2003, p. 27), gestão da cadeia de suprimentos é comumente entendida como “a gestão dos fluxos correlatos de informações e de produtos que vão do fornecedor ao cliente, tendo como contrapartida os fluxos financeiros”. Todavia, os autores esclarecem que: A definição de gerenciamento de cadeias de suprimento, apresentada em 1998 pelo Global Supply Chain Forum, está fundamentada em seu entendimento a partir de um conjunto de processos integrados. Em suas palavras “o ge- renciamento de cadeia de suprimentos consiste na integração dos principais processos de negócio a partir do consumidor final para o fornecedor inicial de produtos, serviços e informações que adicionam valor”. O gerenciamento de cadeias de suprimento seria, portanto, uma tarefa substancialmente mais complexa que a gerência logística do fluxo de produtos, serviços e informações relacionadas do ponto de origem para o ponto de consumo (FIGUEIREDO; FLEURY; WANKE, 2003, p. 28). A evolução histórica da cadeia de suprimentos Até o século XV, os processos logísticos eram comumente notados no âmbito militar. Em termos empresariais, a logística da produção era rudimentar em virtude da produção artesanal sob encomenda, em que o artesão era proprietário dos meios de produção e também detentor da força de trabalho. Entretanto, começaram a surgir artesãos que trabalhavam com ferramentas de outros artesãos: foi quando, na mesma oficina de produção, um processo de produção envolvia tanto proprietários dos meios de produção quanto trabalhadores assalariados – e a divisão de tarefas se consolidou. Essa nova configuração produtiva permitiu um aumento crescente da produção e permitiu que os arte- sãos se transformassem em empresários, ao atender demandas de clientes com Logística e gestão da cadeia de suprimentos2 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 um perfil distinto daqueles que faziam encomendas. Dessa forma, o processo produtivo passou a contemplar dois tipos distintos de clientes: a) o cliente mais exigente e de maior poder aquisitivo que fazia encomendas e exigia exclusividade; b) o cliente que adquiria o produto no comércio, sem exclusividade obrigatória. Estabeleceu-se, então, [...] uma nova ordem nas relações nas cadeias produtivas; mas com o cresci- mento do mercado e da demanda, ela se mostrou insuficiente e logo se tornou necessário buscar formas mais eficientes de se produzir e de se interagir com o mercado (PIRES, 2013, p. 3). Nesse contexto de Revolução Industrial, a divisão do trabalho e a espe- cialização de tarefas permitiram que o volume da produção fosse aumentado, com melhoria da qualidade do produto e maior produtividade do trabalho. Paralelamente, a conjuntura econômica decorrente da Revolução Industrial instituiu a divisão da sociedade em termos de detentores do capital – donos dos recursos de produção – e de assalariados – os desprovidos dos meios de produção. Estes passaram a vender sua força de trabalho aos capitalistas. As transformações socioeconômicas decorrentes da Revolução Industrial, “ainda persistem e balizam muitas questões referentes à atual gestão da cadeia de suprimentos”, de acordo com Pires (2011, p. 4). A partir do século XX, a indústria automobilística se expandiu e revolucionou o mercado a partir da linha de montagem e da especialização do trabalho. Esse imenso avanço foi fruto do fordismo, movimento de produção que fomentou a produção em massa. De acordo com Pires (2011), o objetivo de Henry Ford era a produção de automóveis em grande escala, para garantir custos de produção mais baixos que possibilitariam preços mais acessíveis e competitivos. Nessa mesma época, surgiram os primeiros estudos de Frederick Winslow Taylor sobre a 3Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 administração científica, cujos princípios foram amplamente aplicados por Ford. Todavia, Ford não entendia a ótica do cliente e tinha resistência quanto à diversificação de seus produtos. Assim, a partir de 1925, a General Motors, sob o comando de Alfred Sloan, superou a Ford no contexto da produção de automóveis, ao partir de uma proposta de diversificação de seus produtos: Já se podia perceber na gestão de Sloan algumas preocupações bem atuais na Gestão da Cadeia de Suprimentos. Entre outros, podemos citar a neces- sidade de: - Ter foco e conhecer os números e detalhes dos mercados onde atuamos; - Construir relações colaborativas nas cadeias de suprimentos; - Ter foco no negócio principal (core business); - Ter relações baseadas em valores reais, independentes, por exemplo, do nível de parentesco entre as empresas; - Obter sinergia nas relações nas cadeias de suprimentos (PIRES, 2013, p. 7). Todavia, a diversificação de produtos acarretou em um aumento dos custos, um problema que o setor automobilístico não conseguiu superar até hoje. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, a expansão logística se voltou às demandas militares. Entretanto, a partir do término da guerra em 1945, o mundo se defrontou com uma crescente demanda e com consumi- dores cada vez mais exigentes. Então, por volta das décadas de 1950-1960, as empresas passaram a se preocupar com a satisfação do cliente, segundo Nóbrega (2010, documento on-line), quando “surgiu o conceito de logística empresarial, motivado por uma nova atitude do consumidor. Os anos 1970 assistem à consolidaçãodos conceitos como o MRP (Material Requirements Planning)”, chamado de Planejamento das Necessidades Materiais (NÓ- BREGA, 2010, documento on-line). Foi entre as décadas de 1970-1980 que os japoneses surpreenderam o mundo com produtos de qualidade e baixo preço, conquista obtida com base no modelo de produção desenvolvido pela Toyota Motors, que ficou conhecido como Just In Time. O modelo era constituído por um conjunto de boas práticas e procedimentos, de acordo com Pires (2011): � avanços notáveis na redução dos tempos de montagem/configuração dos produtos, que permitiram redução nos volumes de itens em estoque; � fábricas com foco em um mix reduzido de produtos, o que reduzia a complexidade de gestão produtiva e permitia aos gestores direcionarem esforços para metas mais claras e objetivas; � produção puxada pelo sistema Kanban, cujo foco de produção era a demanda real: proporciona redução dos ciclos produtivos e aumenta Logística e gestão da cadeia de suprimentos4 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 a responsabilidade/comprometimento com todos os elos da cadeia produtiva; � foco na racionalização e gestão dos processos logísticos direcionado especialmente à gestão dos estoques e ao transporte; � desenvolvimento e gestão de relacionamentos colaborativos com for- necedores, em que desenvolvimento e gestão de parceiras em contexto inovador possibilitaram subcontratações de serviços e componentes. Por volta dos anos 1990, o Just In Time já havia se tornado uma prática inerente à gestão de processos de produção. Por sua vez, o surgimento do sis- tema Planejamento dos Recursos da Empresa, do inglês Enterprise Resources Planning (ERP), com foco no controle e integração de todos os departamen- tos ao setor produtivo e logístico, marcou a década de 1980 (PAOLESCHI, 2011). Já a partir dos anos 1990, com a consolidação da internet e de outras tecnologias, o fluxo de produtos pôde ser repensado a partir de informações mais confiáveis. Conforme esclarecem Bowersox et al. (2013), a tecnologia da informação provocou grandes mudanças: durante a década de 1990, o surgi- mento de computadores pessoais e da internet possibilitaram rápido acesso à informação. A internet se tornou comum e econômica para realizar transações e colocou o consumidor em contato direto com as empresas. Figueiredo, Fleury e Wanke (2013, p. 32) abordaram essa questão, ao expor que: [...] o acesso em tempo real às necessidades dos clientes ou consumidores finais poderia levar à criação de um canal de distribuição direto, não havendo mais intermediários entre clientes e fornecedores. A partir de então, “surgiram outros sistemas para agregar valor aos recursos da empresa, seus fornecedores e clientes. Entre eles, o Gerenciamento da cadeia de Suprimentos e a Cadeia do Consumidor, do inglês demand chain (DM)”, anunciou Paoleschi (2011, p. 18). Nesse novo cenário, a logística se ocupou de questões estratégicas da cadeia produtiva, ao alcançar novo patamar no âmbito das organizações: a logística, “nessa última etapa do desenvolvimento (...), é identificada como a última fronteira empresarial para exploração das vantagens competitivas”, conforme evoca Pozo (2015, p. 8). 5Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Mudanças na cadeia de suprimentos O novo enfoque que a logística assumiu nas organizações, de acordo com Bowersox et al. (2013, p. 4), é “a revolução da cadeia de suprimentos e o consequente renascimento logístico” no mundo dos negócios. Apesar de a cadeia de suprimentos e a logística serem imbricadamente inter-relacionadas no campo estratégico, elas são distintas: a cadeia de suprimentos trata da parceria entre empresas com vista à aquisição de vantagens competitivas; a logística é a logística é um subconjunto da cadeia de suprimentos e relacionada ao transporte e o posicionamento geográfico dos estoques, segundo Bowersox et al. (2013). Os autores também mencionam que “na era da informação, a realidade de conectividade de negócios continua a impulsionar uma nova ordem de relacionamentos denominada gestão da cadeia de suprimentos” (BOWERSOX et al., 2013, p. 3). Uma análise do conceito de cadeia de suprimentos possibilita a identificação de uma série de novos elementos que caracterizam essa “revolução”, dentre os quais se destacam: � a constituição de novos arranjos comerciais visa alavancar a competitividade; � uma rede eficaz de relações comerciais permite melhorar a produtividade do trabalho, ao eliminar o retrabalho e a improdutividade; � a prática tradicional dos canais de distribuição passou por uma revi- são para obter/ampliar os benefícios decorrentes da especialização e da economia em escala. A partir de relacionamentos comerciais, as empresas se associaram a fim de realizar atividades essenciais em conjunto. O trabalho em conjunto com outras as empresas, sob essa nova ótica estratégica, se apresenta como a melhor forma de garantir a perpetuação dos negócios; � a criação dos canais de marketing, também conhecidos como canais de distribuição, são consequência da alta dependência criada entre as empresas. Devido à diversidade de negócios trabalhados em rede, uma definição das atribuições de cada elo do negócio se tornou necessária: aspectos como liderança do processo, grau de compromisso com a cooperação entre os participantes e resolução de conflitos precisavam ser pensados de forma integrada e colaborativa. A fim de compreender a revolução da cadeia de suprimentos, é necessário ter em mente, sobretudo, que esse movimento pressupõe uma visão dife- Logística e gestão da cadeia de suprimentos6 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 renciada de gestão: é absolutamente nova visão de que parcerias e cadeias produtivas integradas podem ser mais rentáveis do que uma integração interna verticalizada. Elas também podem proporcionar diferenciais mais atraentes em mercados muito competitivos. Ou seja, a alta competitividade levou à cooperação e possibilitou que todos ganhassem, já que cada elo da cadeia de suprimento agrega valor ao produto de forma diferenciada. A cadeia de suprimentos e a geração de valor Para Porter (1989), denomina-se valor o que os clientes pagam às empresas pelos bens e serviços oferecidos. Esse é um conceito relativo, uma vez que está associado a um critério subjetivo de utilidade: a percepção de utilidade varia de pessoa para pessoa. Simchi-Levi e Kaminsky (2010, p. 434) esclarecem que, para o cliente, valor é “a maneira com que ele percebe tudo o que uma empresa oferece, incluindo produtos, serviços e outros intangíveis”. Bowersox et al. (2013, p. 6) também expõem essa ideia: “para explicar os benefícios e desafios básicos da gestão integrada, é importante observar que os clientes têm no mínimo três perspectivas de valor”: valor econômico, valor de mercado e relevância. No que se refere a valor econômico, o cliente busca maior qualidade pelo menor preço, o que pode ser proporcionado a eles a partir da produção em escala. Já a perspectiva de valor de mercado considera o conveniente acesso a grande variedade de produtos e serviços e a possibilidade de escolha frente a grande variedade de opções. Assim, conforme explicam Bowersox et al. (2013, p. 6), as empresas precisam disponibilizar ao cliente: [...] uma variedade de produtos no momento e no lugar certos para atingir a eficácia, e concentrar-se em obter economia de escopo na apresentação dos produtos/serviços. A criação de shopping centers com diversas lojas, lojas com marketing de massa em grande escala e operações de comércio eletrô- nico com diversos fornecedores são iniciativas para obter valor de mercado. Finalmente, o chamado valor de relevância significa que as empresas estão percebendo o que é cada vez mais importante para o cliente: a exclusividade. O exigente cliente do século XXI deseja produtos e serviços e exclusivos, de qualidade, a preçobaixo e de fácil acesso. Nesse ponto, cabe às empresas customizar seus produtos e serviços de forma a agregar-lhes valor. Assim, 7Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 consumi-los exercerá uma diferença real ao cliente. Bowersox et al. (2013, p. 6) partilham de sua percepção do conceito de valor de relevância: O valor de relevância significa os bens e serviços certos, refletidos pelo valor de mercado, a um preço justo, como demonstrado pelo valor econômico, mo- dificados, sequenciados, sincronizados e posicionados de forma a criar uma diversidade valiosa. Para um consumidor, por exemplo, relevância significa transformar ingredientes em refeições prontas para comer. No varejo de pro- dutos em geral, também significa transformar produtos em roupas da moda. Já na manufatura e na montagem, a relevância é alcançada pela integração de componentes específicos para criar produtos que aumentem a funcionalidade desejada por um cliente em particular. Ao combinar essas três perspectivas de valor dos clientes, as empresas constituem a conhecida “proposição de valores da gestão integrada”, conforme apresentado no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2013, p. 6). Valor econômico Valor de mercado Valor de relevância Menor custo total Variedade atraente Customização Eficiência da economia em escala Eficácia da economia de escopo Diversidade segmental Criação de bens e serviços Apresentação de bens e serviços Posicionamento de bens e serviços Estratégia de suprimento/ manufatura Estratégia de mercado/manufatura Estratégia da cadeia de suprimentos Quadro 1. Proposição de valores da gestão integrada. Simchi-Levi e Kaminsky (2010, p. 452) relatam que: A geração de valor é a força motriz por trás das metas de uma empresa, e a Gestão da Cadeia de Suprimentos é um dos meios importantes para consolidá- -la. A estratégia da cadeia de suprimentos afeta o valor para o cliente. Seus objetos de interesse influenciam cada um dos aspectos do valor para o cliente Logística e gestão da cadeia de suprimentos8 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 e precisam fazer parte de qualquer estratégia ou plano, não uma consideração posterior. É importante escolher a estratégia apropriada para relacionar o valor para o cliente ao mercado da companhia. A excelência na Gestão da Cadeia de Suprimentos se traduz em valor para o cliente em diversas dimensões, desde a disponibilidade e seleção, até a influência no preço em que um dado produto pode ser comercializado. Com base no exposto pelos autores acima, gerar valor ao cliente implica em se conhecê-lo, saber quais são seus gostos e preferências, o que exige um sistema de informações bem estruturado. O que é economia de escala e economia de escopo? Conforme Ladeia (2017, documento on-line), “economia de escala é um conceito econômico cujo significado é a possibilidade de reduzir o custo médio de determinado produto pela diluição dos custos fixos em um número maior de unidades produzidas”. Já de acordo com Pindyck e Rubinfeld (1992, p. 222 apud SZWARCFITER; DALCOL, 1997, p. 122), “economia de escopo está presente quando a produção conjunta de uma única firma é maior do que a produção que poderia ser obtida por duas firmas diferentes, cada uma produzindo um único produto”. A funcionalidade do sistema de informação da cadeia de suprimentos Para Bowersox et al. (2013, p. 7): [...] a estrutura e a estratégia da cadeia de suprimentos resultam de esforços para alinhar operacionalmente uma empresa com os clientes e com as redes de apoio de distribuidores e fornecedores, a fim de obter vantagem competitiva. Dessa forma, a integração à geração de valor envolve “desde a compra de matéria-prima até a entrega do produto e/ou serviço ao cliente final, para garantir eficácia, eficiência, relevância e sustentabilidade” (BOWERSOX et al., 2013, p. 7). 9Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 A estrutura da cadeia de suprimentos é apresentada na Figura 1. Figura 1. Estrutura da cadeia de suprimentos integrada. Fonte: Adaptada de Bowersox et al. (2013, p. 7). Já conforme o entendimento de Akkermans et al. (2003 apud PRADELLA; SILVA, 2005, p. 2), a cadeia de suprimentos envolve três fluxos distintos: Fluxo de material: representa o fluxo físico de produtos vindo dos fornecedo- res para os consumidores, bem como o fluxo reverso de retorno de produtos provenientes de serviços de reparo, garantia e reciclagem. Fluxo de informa- ções: representa a transmissão do pedido e o rastreamento do mesmo, o qual coordena o fluxo físico dos produtos. Fluxos financeiros: são representados os termos de crédito, cronogramas de pagamento e arranjos de propriedade e consignação. A partir do exposto, conclui-se que a gestão da cadeia de suprimentos engloba transporte e armazenagem de cargas e fluxo de informações (que vai desde a produção até consumo), o que confere à gestão da cadeia de suprimentos integrada uma complexidade ainda maior. Tal complexidade da Logística e gestão da cadeia de suprimentos10 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 gestão da cadeia de suprimentos pode ser amenizada pelo uso da tecnologia da informação, como expõe Baldwin (2001 apud NOGUEIRA, 2012, p. 2): A operação logística incorpora a tecnologia de informação como base para a movimentação e o armazenamento dos bens e serviços com o fluxo de informação, que precisam ser associados do início ao término da cadeia de suprimentos. Para Pires (2011), a gestão da cadeia de suprimentos se relaciona diretamente à confiabilidade do fluxo de informações entre fornecedores e clientes. Em consonância com Nogueira (2012), a tecnologia da informação é essencial no aprimoramento da excelência das operações logísticas, visto que hoje, por exemplo, é possível rastrear o movimento dos materiais eficientemente e em tempo real, em função da tecnologia da informação, quer em termos de quantidade, quer em termos de localização ou posição no estoque. Para Bowersox et al. (2013), a tecnologia da informação possibilita a gestão da cadeia de suprimentos mais facilmente: sistemas permitem iniciar e rastrear informações sobre processos, facilitam o compartilhamento de informações interna e externamente à empresa e auxiliam no processo decisório. Para justificar o fato de a informação oportuna e qualificada se tornar essencial nas operações de sistemas logísticos, quatro motivos são apontados pelos autores aqui citados: a) a informação adequada permite aos clientes, em tempo real, acesso à informação sobre situação do pedido, disponibilidade de produtos, rastreamento da entrega e faturamento; b) a informação adequada permite redução de itens em estoque e, por consequência, de recursos humanos no processo produtivo; c) a informação adequada confere flexibilidade com relação a como, quando e onde os recursos podem ser aplicados para possibilitar o desenvolvimento de vantagens competitivas; d) a troca de informações via web facilita a colaboração e redefine os relacionamentos na cadeia de suprimentos, à medida que aproxima mercados globais como se fossem locais. 11Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Os sistemas integrados de gestão empresarial, do inglês enterprise resource planning (ERP), “fornecem rastreamento e visibilidade global da informação de qualquer parte da empresa e de sua cadeia de suprimento” (PAOLESCHI, 2011, p. 18). Nesse sentido, os sistemas ERP da cadeia de suprimentos formam o elo que integra as atividades da cadeia de suprimentos, a exemplo do uso da tecnologia da informação na gestão da cadeia de suprimentos: a leitora de código de barras possibilita, tanto aos atacadistas como aos varejistas, verificar quais produtos demandam novas compras ou quais não estão tendo a demanda esperada e coletar informações emtempo real, para definir a posição de estocagem dos produtos nas prateleiras. Os sistemas de informação que promovem integração da cadeia de su- primentos estão embasados em quatro níveis de funcionalidade: sistemas de transações, controle administrativo, análise de decisões e planejamento estratégico (BOWERSOX et al., 2013). Os autores salientam que cada um desses sistemas possui as seguintes atribuições específicas: 1. Os sistemas de transações são responsáveis por: � gerenciamento de pedidos; � separação de pedidos; � preços e faturamento; � alocação de estoque; � expedição; � informações aos clientes. 2. Cabe aos sistemas de controle administrativos: � monitoramento financeiro, de custos e de ativos; � medição do serviço ao cliente; � medição da produtividade; � medição da qualidade. 3. Compete aos sistemas de análise e decisões: � programação de frota e roteirização; � níveis e gerenciamento de estoque; � localização e integração das instalações/rede; � análise de decisões; � integração vertical versus terceirização. 4. O planejamento estratégico, último nível do sistema, se ocupa de: � formulação de alianças estratégicas; � desenvolvimento e aperfeiçoamento de competências e oportunidades; � análise de serviço ao cliente. Logística e gestão da cadeia de suprimentos12 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Portanto, foco do Planejamento Estratégico é o mesmo que avaliação e refinamento da estratégia delineada para a cadeia de suprimentos a partir das informações geradas pelos sistemas citados acima. Por sua vez, os autores Simchi-Levi e Kaminsky (2010, p. 486) apontam que o principal objetivo da tecnologia da informação na cadeia de suprimentos “é formar um elo invisível entre ponto de produção e o ponto de entrega ou compra. A ideia é ter disponível um percurso de informação que acompanhe o percurso do produto”. A logística e a cadeia de suprimentos como ferramenta estratégica A logística é um processo que gerencia a movimentação e a armazenagem dos produtos e dos materiais de uma forma que permita um fluxo coordenado de atividades de fornecimento, de produção, de distribuição, além de informa- ções. Assim, é possível situá-la como uma estratégia de manufatura que está alinhada estrategicamente com todo o sistema organizacional (STOCK, GREIS E KASARDA, 1998). Entretanto, a utilização da logística como ferramenta estratégica pressupõe seu alinhamento com as estratégias da empresa como um todo, e não apenas com alguma parte específica de atuação do negócio. Para Bowersox e Closs (1996) as funções da logística podem ser percebidas como componentes combinados e nomeados conforme as áreas operacionais da empresa: compras, fabricação e distribuição física. A Figura 2 apresenta o processo, demonstrando que ele pode ser entendido em uma perspectiva de inter-relação dos fluxos de materiais e de informações. Todas estas áreas em conjunto e adequadamente relacionadas garantem a administração integrada de materiais, produtos semiacabados e produtos finais, que se movimentam entre as instalações, fontes de fornecimento e clientes da empresa. As decisões logísticas são interdependentes, de modo que as decisões tomadas em qualquer nível terão impacto nos outros (DIDONET; OLIVEIRA; ROCHA, 2002). 13Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 Figura 2. O sistema logístico. Fonte: Bowersox e Closs (1996) apud Didonet, Oliveira e Rocha (2002, documento on-line). Ao se discutir gerenciamento estratégico, é importante compreender em que contexto do ambiente estratégico a logística e a cadeia de suprimentos se inserem. O gerenciamento estratégico da logística tem sido um dos caminhos adotados pelas organizações frente ao ambiente altamente competitivo. Na pesquisa realizada por DIDONET, OLIVEIRA e ROCHA (2002), é possível identificar algumas ações e a sua relação com as diferentes formas de estratégias. Observe a Figura 3. Figura 3. Estratégias organizacionais e estratégicas logísticas. Fonte: Didonet, Oliveira e Rocha (2002, documento on-line). A produtividade e a eficiência podem ter um considerável aumento em função do gerenciamento logístico, parte importante da cadeia de suprimen- tos que pode auxiliar de diversas formas. Desse modo, a redução dos custos Logística e gestão da cadeia de suprimentos14 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 unitários passa a ser uma consequência natural, que se reflete no desempenho geral da empresa e demonstra que a logística está inserida nas estratégias organizacionais capazes de trazer vantagens competitivas para a empresa. Ela deve passar a ser vista como uma conexão entre o mercado e a atividade operacional da empresa, uma vez que toda a organização sofre a influência de sua ação, desde o gerenciamento de matérias-primas até a entrega do produto final. O adequado gerenciamento da cadeia de suprimentos e da logística é um sistema por meio do qual os clientes têm suas necessidades satisfeitas e está baseado na coordenação de fluxos de informações e de materiais que vão do mercado à empresa, às suas operações e aos fornecedores. Claramente, o gerenciamento logístico envolve um grande número de decisões que, inevita- velmente, afetarão os três níveis de estratégia de uma organização. BOWERSOX, D. J.; CLOSS D. J. Logistical management: the integrated supply chain process. 3. ed. New York: McGraw-Hill, 1996. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. DIDONET, S.; OLIVEIRA, L. C.; ROCHA, R. A Utilização da logística como ferramenta estratégica: o caminho seguido e os resultados obtidos por uma empresa gaúcha do segmento metal-mecânico. In: ENCONTRO DA ANPAD, 16.,2002, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: ANPAD, 2002. Disponível em http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ enanpad2002-gol-791.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020. FIGUEIREDO, K. F.; FLEURY, P. F.; WANKE, P. (Orgs.). Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento do fluxo de produtos e dos recursos. São Paulo: Atlas, 2013. LADEIA, R. Economia de escala: afinal que bicho é esse? Administradores: o Portal da Administração, João Pessoa, 18 jun. 2017. Disponível em: <http://www.administradores. com.br/artigos/negocios/economia-de-escala-afinal-que-bicho-e-esse/105254/>. Acesso em: 22 maio 2018. NÓBREGA, T. R. História da logística. Administradores: o Portal da Administração, João Pessoa, 8 dez. 2010. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/ negocios/historia-da-logistica/50482/>. Acesso em: 22 maio 2018. 15Logística e gestão da cadeia de suprimentos Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 NOGUEIRA, A. S. Logística empresarial: uma visão local com pensamento globalizado. São Paulo, Atlas, 2012. PAOLESCHI, B. Logística industrial integrada. São Paulo: Érica, 2011. PIRES, S. R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. 19. ed. Rio de Janeiro: Elsevier: 1989. POZO, H. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: um enfoque para os cursos superiores de tecnologia. São Paulo: Atlas, 2015. PRADELLA, C. A.; SILVA, W. R. A evolução das cadeias de suprimentos e a contribui- ção do sistema ERP. Revista Gestão Industrial, Curitiba, v. 1, n. 2, p. 1-17, abr.-jun. 2005. Disponível em: <https://periodicos.utfpr.edu.br/revistagi/article/view/161>. Acesso em: 22 maio 2018. SIMCHI-LEVI, D.; KAMINSKY, P.; SIMCHI-LEVI; E. Cadeia de suprimentos: projeto e gestão. Porto Alegre: Bookman, 2010. STOCK, G. N.; GREIS, N. P.; KASARDA, J. D. Logistics, strategy and structure: a conceptual framework. 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Logística e gestão da cadeia de suprimentos16 Identificação interna do documento LHTIGF2WBZ-MR3BNH1 LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO Gisele Lozada Relação logística, economia e organizações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer o modo como a logística contribui para o comércio in- ternacional e os impactos econômicos decorrentes disso. � Avaliar os possíveis ganhos e as demandas logísticas por meio da globalização. � Identificar as principais estratégias de globalização e suas características. Introdução O fenômeno da globalização, tão difundido e absorvido pelas atuais economia e sociedade, possui uma forte conexão com a logística, tanto que agem mutuamente na promoção de mudanças, assim como são afetados por elas. A globalização, por exemplo, foi potencializada pelos avanços da logística e do comércio internacional, ao mesmo passo que a evolução na logística deu-se como reflexo da ampliação do comércio no cenário mundial, que impulsionou as relações econômicas entre diversos países. Esse cenário trouxe muitas oportunidades e muitos desafios, como o aumento dos mercados e a diversificação das alternativas de fabricação, que demandam operações mais complexas, principalmente no que diz respeito à função logística, fomentando a construção de cadeias de suprimentos globais. Neste capítulo, você estudará sobre as contribuições da logística para o comércio internacional e os impactos decorrentes disso, bem como os potenciais ganhos por meio do cenário formado por essa relação e, ainda, as principais estratégias aplicadas nele. Logística e comércio internacional Localizadas em um ambiente cada vez mais competitivo, as empresas têm buscado, nas últimas décadas, ampliar seus mercados, por meio da produção em diversos países onde possam aproveitar benefícios locais e, também, da comercialização de seus produtos e serviços no maior número de países possível. Nesse contexto, a logística vem desempenhando papel fundamental, sendo a função que permite que tais decisões possam ser de fato concretizadas. Isso, segundo Ballou (2006), levou ao movimento de internacionalização das indústrias, cujo principal impacto corresponde a uma economia mundial cada vez mais integrada. Esse cenário, por sua vez, leva a mais competitividade, estabelecendo uma espécie de ciclo, onde se estabelece uma constante busca pelo desenvolvimento das empresas e de seus negócios. Seguindo nessa mesma linha de pensamento, Dicken (2012) comenta que a economia global atual não possui mais fronteiras. A nacionalidade dos produtos e serviços deixou de ser um fator relevante, uma vez que o que realmente importa para consumidores é ter acesso a produtos melhores com preços menores. Isso pode ser compreendido como um evidente reflexo da ampliação dos mercados, que levou a uma maior distribuição das atividades econômicas (agora localizadas por todo o mundo), promovendo o comércio internacional, que muitos denominam “globalização”, ao focar no termo em sua conotação econômica. Em continuidade, Bowersox et al. (2014) apontam que a economia atual é fortemente marcada pela globalização, o que pode ser percebido pelo fato de que as empresas em geral, independentemente do tamanho ou setor, possuem alguma operação de nível global, demandando alguma matéria-prima ou algum produto para sua operação, ou mantendo clientes em outros países, o que as envolve no processo de fornecimento e entrega global. Assim, as empresas buscam desenvolver suas capacidades globais. A gama de razões que justificam a globalização é bastante ampla, envolvendo fatores, como a busca por vantagens decorrentes da produção de baixo custo — obtida por meio de fornecimento e manufatura mais baratos — e a proximidade do mundo desenvolvido — por meio do acesso a mercados em expansão. Essas razões motivadoras da globalização traduzem-se em objetivos que representam a sua fundamentação lógica, conforme descrita no Quadro 1, a seguir. Relação logística, economia e organizações2 Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2014). Objetivos Fundamentação lógica Aumentar a receita � Abrir mais mercados. � Expandir mais que os concorrentes. � Obter acesso a mercados que limitam o acesso sem operações locais. Conseguir economias de escala Reduzir os custos diretos � Obter vantagem da capacidade de produção disponível. � Obter vantagem de salários ou despesas imobiliárias mais baixas. � Reduzir os requisitos de combustível, diminuindo a distância ou alterando o modal de transporte. � Obter vantagem das diferenças dos requisitos de produção. Avançar a tecnologia � Obter acesso à tecnologia avançada que pode não estar disponível nos locais atuais. � Obter acesso a conhecimentos especializados ou habilidades de linguagem. Reduzir a carga tributária global da empresa � Obter benefícios fiscais locais ou regionais relacionados à propriedade, ao estoque ou à receita. � Obter reduções nos impostos de valor agregado devido à localização da produção ou de outros serviços com valor agregado (isto é, embalagem, gerenciamento de estoque, customização). Reduzir a incerteza de acesso ao mercado � Comprar produtos de locais que envolvem menos incerteza nos transportes. � Comprar produtos de locais que envolvem menos restrições de segurança. Melhorar a sustentabilidade � Obter produtos ou outros recursos (incluindo recursos humanos) de locais que tenham disponibilidade contínua de materiais e especialização, como energia ou profissionais treinados. Quadro 1. Fundamentação lógica da globalização 3Relação logística, economia e organizações Nesse cenário de operações globais, onde o comércio internacional é uma realidade, a logística desempenha um papel fundamental, reconhecida como o meio pelo qual organizações de diferentes países conseguem relacionar-se, promovendo a formação da cadeia de suprimentos global. Como reflexo, porém, as operações logísticas ganharam maior complexidade, o que levou, também, a um aumento nos custos a elas relacionados, principalmente em países fortemente industrializados. Afinal, as empresas passaram a investir mais na logística, tanto na operação das atividades quanto no desenvolvimento de novos métodos e tecnologias que permitam seu avanço e a potencialização das capacidades dependentes dela. Isso pode ser percebido pela comparação entre fatores, como custo logístico e produto interno bruto (PIB), como ex- posta no Quadro 2. Tal comparação está levando em consideração algumas nações, ao final da primeira década após a explosão da globalização — o que demonstra o rápido avanço da importância da logística no contexto —, bem como a relevante conexão entre os fatores comparados, uma vez que os custos logísticos já correspondiam a uma significativa fatia do PIB, em um espaço de tempo relativamente curto. Região País Logística (US$ milhões) PIB (US$ milhões) Logística (% do PIB) América do Norte Canadá México Estados Unidos Região 128.490 89.676 1.173.720 1.391.885 1.510.957 1.088.128 14.264.600 16.863.685 8,50% 8,24% 8,23% 8,32% Quadro 2. Gastos nacionais estimados com logística no ano de 2008 (Continua) Relação logística, economia e organizações4 Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2014). Quadro 2. Gastos nacionais estimados com logística no ano de 2008 Região País Logística (US$ milhões) PIB (US$ milhões) Logística (% do PIB) Europa Áustria BélgicaRepública Tcheca Dinamarca França Alemanha Reino Unido Grécia Hungria Irlanda Itália Holanda Noruega Polônia Portugal Espanha Suécia Região 25.907 46.749 16.418 22.423 188.005 341.371 169.947 51.770 8.721 22.122 152.238 83.106 44.475 54.920 11.898 151.513 44.864 1.436.445 415.321 506.392 217.077 342.925 2.865.737 3.667.513 2.674.085 357.549 156.284 273.328 2.313.893 868.940 456.226 525.735 244.492 1.611.767 484.550 17.981.814 6,24% 9,23% 7,56% 6,54% 6,56% 9,31% 6,36% 14,48% 5,58% 8,09% 6,58% 9,56% 9,75% 10,45% 4,87% 9,40% 9,26% 8,22% Círculo do Pacífico Brasil China Egito Índia Hong Kong Japão Coreia do Sul Nova Zelândia Rússia Arábia Saudita Cingapura Taiwan Região 141.610 1.160.610 15.219 114.846 16.642 440.482 98.365 9.799 163.575 30.067 16.771 65.494 2.273.218 1.572.839 8.083.000 162.164 1.209.686 215.559 4.923.761 947.010 128.492 1.676.586 481.631 181.939 729.443 20.312.110 9,00% 14,36% 9,38% 9,49% 7,72% 8,95% 10,39% 7,63% 9,76% 6,24% 9,22% 8,98% 9,26% Demais países 4.648.152 15.492.391 30,00% Total 9.749.700 70.650.000 13,80% (Continuação) 5Relação logística, economia e organizações Além do reflexo nos custos logísticos, como mencionado, a globalização também demanda da função logística de maior complexidade, uma vez que operações globais são caracterizadas por maior grau de incerteza e variabili- dade, por reduzirem o controle e a visibilidade das empresas sobre as operações. � Maior incerteza: resultante de fatores, como distâncias maiores, prazos mais longos e menor conhecimento sobre o mercado. � Maior incerteza: decorrente de maior variação motivada por requisitos únicos de clientes e documentação ou, ainda, de ambientes políticos inconstantes. � Menor controle: resultante do uso intensivo de empresas de serviço internacionais, associado à potencial intervenção governamental em áreas, como alfândegas, e a restrições comerciais. � Menor visibilidade: decorrente de tempos maiores de trânsito e per- manência com reduzida capacidade de monitoramento e determinação exata da localização das cargas Em decorrência desse cenário de operações globais, a formação e conso- lidação da cadeia de suprimentos tornaram-se uma realidade cada vez mais marcante para a grande maioria das empresas. As operações globais geram muitas oportunidades para a melhoria do desempenho, particularmente em relação à receita, a volume e à participação de mercado, por exemplo, levando a necessidade do desenvolvimento e da aplicação de estratégias capazes de tornar as empresas aptas ao aproveitamento desses benefícios, bem como para que sejam capazes de lidar com os desafios decorrentes delas. Globalização e logística A globalização é um fenômeno que, segundo Dicken (2012), se manifesta em diferentes campos — como político, cultural e social —, mas que converge com maior significância no contexto econômico, visto que este último não é uma entidade isolada, mas impactada pelos campos inicialmente citados. Isso permite, de certa forma, explicar e ressaltar o fato de que o presente é focado na globalização no contexto econômico, em que questões, como comércio internacional e logística, ganham destaque. Relação logística, economia e organizações6 Como já mencionado, globalização e logística se relacionam diretamente, e essa relação promove impactos mútuos, além de, ao mesmo tempo, ganhos e novas demandas. A logística incentiva a globalização, ao mesmo tempo que a globalização exige mais da logística, trazendo a necessidade do gerenciamento e da integração da cadeia de suprimentos global. Se um sistema logístico eficaz já é importante para a integração da cadeia de suprimentos doméstica, no cenário da cadeia global, é ainda mais fundamental, especialmente para que o fornecimento, a manufatura e o comércio global sejam bem-sucedidos. Afinal, enquanto a logística doméstica é responsável por atividades de movi- mentação e armazenamento em um ambiente relativamente controlado, a global tem que fazer o mesmo em uma variedade de cenários que envolve fatores econômicos distintos, enquanto lida com a incerteza promovida, por exemplo, pela distância, demanda e diversidade decorrentes do comércio internacional. Entre os ganhos com a globalização (que é fortemente apoiada pela lo- gística), está a promoção de uma economia global integrada, onde, segundo Ballou (2006), as empresas conseguem projetar seus produtos e serviços ao mercado mundial, comercializando-os ao maior número de países possível. Além disso, podem usufruir de benefícios disponíveis em diferentes países, aproveitando daquilo que houver de melhor e mais vantajoso para sua opera- ção, como produzir em locais onde estiverem disponíveis matérias-primas, componentes e mão de obra a um menor custo. Porém, ao mesmo tempo que oportunizam ganhos, a globalização e inter- nacionalização das indústrias também trazem reflexos de demandas. Entre elas, Ballou (2006) destaca a maior dependência que as empresas passam a ter de seu desempenho e custos logísticos, a partir do momento em que intensifi- cam suas operações internacionais. Outro ponto importante, mencionado por Bowersox et al. (2014), que consiste em um desdobramento desse primeiro, é a exigência de que as empresas desenvolvam suas capacidades logísticas para que sejam capazes de participar do mercado cada vez mais global, podendo, assim, lidar com os desafios apresentados pelo cenário, enquanto aproveitam as oportunidades por ele apresentadas. Para que sejam capazes de melhorar sua capacidade global, Bowersox et al. (2014) apontam que as empresas precisam gerenciar sua função logística de forma adequada, uma vez que operações internacionais são significativamente diferentes das domésticas, sendo necessário que a empresa conheça essas diferenças e esteja preparada para lidar com elas. A partir dessa compreensão, as empresas passam a gerenciar suas atividades logísticas com base em cinco aspectos fundamentais: 7Relação logística, economia e organizações � estrutura do ciclo de atividades; � transportes; � considerações operacionais; � integração dos sistemas de informação; � formação de alianças. Sobre a estrutura do ciclo de atividades, cabe comentar que sua duração é significativamente diferente em operações domésticas e internacionais, sendo substancialmente maior nas operações internacionais. Isso faz com que as atividades logísticas internacionais apresentem menor consistência e flexibilidade, o que torna seu planejamento e sua coordenação mais difíceis, fazendo com que situações, como monitoramento da carga e antecipação de chegada, demandem muito mais esforço, além de gerar maior comprometimento de ativos, uma vez que o estoque em trânsito se torna significativo. Enquanto atividades domésticas apresentam tempos de trânsito de 1 a 5 dias e ciclos de atividades de 2 a 10 dias, as operações internacionais podem levar semanas ou até meses. Esse tempo tão mais longo pode ser justificado por razões, como as se- guintes, e suas respectivas motivações. � Dificuldades nas comunicações: diferenças de fuso horário e idioma. � Demora em transações financeiras: necessidade de tradução de cartas de crédito e diferentes moedas. � Requisitos especiais de embalagem: proteção dos produtos em trânsito por danos motivados por fatores, como condições climáticas (umidade, temperatura e outras). � Programação de fretes transoceânicos: frequentes atrasos em portos levam à demora nas liberações das instalações. � Liberações alfandegárias: ainda que meios eletrônicos para pré- -liberação sejam utilizados, o tempo para liberação de cargas ainda é muito elevado. Relação logística, economia e organizações8 Com relação a transportes, cabe comentar que esse aspecto, nas operações internacionais, é fortemente influenciado por fatores como propriedade e operação intermodal, privatização, cabotagem e restrições de infraestrutura. � Propriedade e operação intermodal: a remoção ou redução dasrestri- ções sobre direitos de propriedade e operação promovidas por arranjos de marketing e alianças entre países melhoraram substancialmente a flexibilidade dos transportes, facilitando a movimentação integrada. � Privatização: a privatização de transportadoras estatais internacionais trouxe regulação aos preços e mais qualidade aos serviços prestados, que passaram a apresentar maior segurança, flexibilidade e eficiência, aspectos promovidos por um ambiente de maior competitividade; � Cabotagem (movimentação entre portos): redução das restrições impostas sobre serviços de cabotagem, permitindo que transportadoras domésticas pudessem realizar movimentações internacionais, uma melhor utilização de equipamentos e a redução de custos do impacto ambiental, aumentando a eficiência do transporte e do comércio; � Restrições de infraestrutura: ainda que a tecnologia da informação e de manuseio tenha facilitado a rápida movimentação dos produtos em portos e aeroportos, o aumento do volume ainda resulta em con- gestionamentos substanciais, pois as operações globais demandam estruturas físicas com maior capacidade portuária e aeroportuária, o que vem fomentando o desenvolvimento e a ampliação desses fatores, ainda que orçamentos limitados em várias esferas tenham controlado o investimento em estrutura. No que tange a considerações operacionais, cabe comentar que existem inúmeros fatores que influenciam as cadeias de suprimentos globais, como: � idioma; � ajustes nacionais; � documentação; � negócios à base de trocas. Além disso, operações internacionais normalmente exigem diversos idio- mas, tanto para os produtos quanto para a documentação, trazendo complexi- dade também para a perspectiva logística envolvida com os produtos, uma vez que é necessário lidar com estoques destinados a diferentes idiomas. 9Relação logística, economia e organizações Uma operação internacional pode ser realizada com produtos técnicos, como compu- tadores e calculadoras, que tendem a apresentar características locais, como idioma tanto no produto (como caracteres do teclado) quanto em seus manuais. Para reduzir o problema, uma alternativa muito utilizada são embalagens em diversos idiomas. Algo semelhante também é feito com a documentação relativa aos produtos, em decorrência da exigência de que seja elaborada nas diversas línguas para cada país pelo qual a carga deve passar. Porém, soluções como esta aumentam o tempo e o esforço das operações internacionais, já que documentos complexos têm de ser traduzidos antes do carregamento. Como saída alternativa, as empresas vêm utilizando transações eletrônicas padroni- zadas, que permitem que essas dificuldades de comunicação e documentação sejam superadas com menores esforço e tempo. Outra consideração operacional relevante é formada por ajustes nacionais com relação a alguns fatores que, mesmo apresentando pequenas diferenças entre países, podem aumentar significativamente o número de itens e os níveis de estoque. Estes ajustes são relativos a fatores como características de desempenho, propriedades técnicas, considerações ambientais e requisitos de segurança: � característica de desempenho — funções específicas dos produtos, como restrições de velocidade ou processos; � propriedades técnicas — tomadas de energia, documentação e sistema métrico; � considerações ambientais — produtos químicos que podem ser usados ou o tipo e a quantidade de resíduo gerado; � requisitos de segurança — desligamento automático e documentação especializada. Além disso, tem-se uma consideração operacional que diz respeito à grande quantidade de documentação necessária para as operações internacionais, considerando que elas exigem uma documentação substancial, por meio da qual são apresentadas informações do conteúdo de pedidos, meios de transporte, financiamento e controle governamental. Relação logística, economia e organizações10 Entre os documentos envolvidos em uma operação internacional, estão: carta de crédito para exportação, ordem de pagamento, conhecimento de embarque, certificados de origem e de seguro, entre outros — todos muito importantes, contendo várias informações relevantes para a transação. Por fim, tem-se, ainda, uma consideração operacional relativa à forma de pagamento utilizada nas operações internacionais: embora muitas empresas prefiram transações em dinheiro, existe uma alta incidência de negócios à base de troca em situações internacionais. Nesse formado, um vendedor concorda em receber produtos como pagamento ou comprar produtos do comprador como parte de um acordo de vendas. Ainda que esses acordos tenham como principais consequências as financeiras, eles também têm grandes implicações para a logística no que se refere ao manejo dos produtos recebidos como paga- mento. Outra modalidade semelhante praticada nas operações internacionais é chamada drawback, que consiste em situações em que uma empresa paga um imposto alfandegário para importar produtos de um país estrangeiro, mas ele pode ser reembolsado ou devolvido se os próprios itens ou um produto comparável forem exportados. Nessa modalidade, ainda que não ocorram movimentações físicas de produtos, é necessária uma considerável troca de informações, o que também faz parte do processo logístico como um todo. Já com relação à integração dos sistemas de informação, cabe iniciar pelo comentário de que esse é um grande desafio promovido pela globalização. Considerando que muitas empresas se tornam globais por meio de aquisições e fusões, a integração dos sistemas é normalmente um fator complicador. Como a integração operacional entre empresas requer a capacidade de direcionar pedidos e administrar estoques eletronicamente em todo o mundo, a integração da tecnologia de apoio corresponde a um relevante investimento de capital. Nesse contexto, são necessários dois tipos de integração de sistemas de apoio às operações globais: � sistemas de transações ou ERP global — necessário para compartilhar dados sobre clientes, fornecedores, produtos e recursos financeiros, de modo a fornecer informações comuns e consistentes; 11Relação logística, economia e organizações � sistema de planejamento global: necessário para maximizar a utilização geral de ativos de manufatura e logísticos, ao mesmo tempo que permite atender aos requisitos de serviço ao cliente. Por fim, no que diz respeito à formação de alianças, cabe comentar que esse é um fator de grande relevância nas operações internacionais. A formação de alianças elimina a necessidade de a empresa que opera internacionalmente fazer contato com diversos agentes em todo o mundo a cada nova transação (como varejistas, atacadistas, fabricantes, fornecedores e prestadores de serviços). A partir das alianças formadas, as relações da empresa com esses diferentes agentes já ficam formatadas, garantindo maior agilidade e segurança na opera- ção. Alianças com transportadoras e fornecedores de serviços especializados, por exemplo, que já são importantes no contexto das operações domésticas, são ainda mais relevantes nas operações de comércio internacional, em que a quantidade de alternativas e a complexidade imposta pela globalização são bastante significativas, fazendo das alianças praticamente uma exigência para que as empresas possam conduzir suas atividades de forma adequada. Assim, alianças internacionais viabilizam acesso ao mercado e à especialização, enquanto reduzem o risco inerente das operações globais. Esses aspectos mencionados por Bowersox et al. (2014) como pontos a serem observados e atendidos pelas empresas globais no gerenciamento de suas atividades logísticas são também amparados pelas considerações de Ballou (2006), que, de forma sintética, aponta a ideia de que a globalização e a internacionalização da indústria trazem a demanda por um desempenho logístico mais rápido e preciso (o que pode ser atingido por meio dos aspectos mencionados pelo primeiroautor), situando a logística em um nível de maior relevância para essas empresas. Outro fator relevante mencionado por Ballou (2006) diz respeito ao fato de que as expectativas dos clientes em relação aos serviços logísticos são cada vez maiores. A adoção de procedimentos just-in-time aliados à reposição constante de estoques são alguns dos fatores que levam os consumidores a esperar que o processamento logístico de seus pedidos seja cada vez mais ágil e seguro, para os quais a disponibilidade de produtos e entrega imediata e correta dos mesmos são condições consideradas básicas e normais. O autor ainda comenta que esse cenário é potencializado pelo relevante papel desempenhado pela internet nas operações de consumo, que trouxe para a realidade das empresas o e-business, por meio do qual a execução das transações comerciais se dá pela internet — o que é ainda mais relevante no cenário da globalização e do comércio internacional. Esse contexto, segundo Relação logística, economia e organizações12 Chopra e Meindl (2015), se estende às operações da cadeia de suprimentos, que envolvem não somente produtos, mas também um considerável fluxo de informações que inclui fatores, como negociações, reservas, pedidos, transações financeiras, rastreamento de pedidos, entre outros. Você pode saber mais sobre esse significativo papel do e-business no contexto da cadeia de suprimentos e da logística na obra Gerenciamento da cadeia de suprimentos, de Chopra e Meindl (2015). Em síntese, cabe comentar que a globalização exige cada vez mais integra- ção na cadeia de suprimentos. Afinal, à medida que as empresas expandem seu foco e suas operações para mercados internacionais, amplia-se também a demanda pela competência logística, em razão de que as cadeias de supri- mentos, as variações e as incertezas ficam maiores. Além disso, os desafios operacionais dos sistemas logísticos globais variam significativamente em cada parte do mundo, obrigando que as organizações sejam capazes de lidar com uma grande diversidade de cenários econômicos, políticos, culturais, regulatórios e linguísticos. Todo esse contexto traz novas oportunidades e ganhos, mas também novos desafios e demandas, cujo foco central consiste em posicionar a empresa de tal forma que possa desenvolver sua competência logística global, sabendo lidar com desafios para que possa aproveitar oportunidades e benefícios oferecidos pelo mercado globalizado. Estratégias de globalização De acordo com Chopra e Meindl (2015), para que uma empresa seja bem- -sucedida, é necessário que ela estabeleça e promova o alinhamento de dois tipos básicos de estratégias: competitiva e de cadeia de suprimentos. Ou seja, a empresa precisa definir como pretende conduzir suas operações, como a possível decisão de aderir à globalização e internacionalização de suas ope- rações, situação em que o desempenho logístico é um aspecto fundamental, levando à necessidade do gerenciamento da cadeia de suprimentos. 13Relação logística, economia e organizações Em colaboração, Bowersox et al. (2014) e Ballou (2006) comentam que a globalização tem forte impacto sobre a cadeia de suprimentos, demandando das empresas integrantes das cadeias globais um alto desempenho logístico. Desse modo, segundo Bowersox et al. (2014), é necessário que a empresa tenha consciência da complexidade que a globalização impõe à operação, para que, assim, possa tomar importantes decisões, como a determinação de seu posicionamento no cenário, a definição de como desempenhará sua operação e que estratégia que adotará. Com relação às estratégias, pode-se dizer que as organizações têm a possibilidade de escolher entre quatro estratégias básicas, que são: � nenhuma estratégia internacional; � estratégia doméstica múltipla; � estratégia global; � estratégia transnacional. Cada uma delas contém características particulares e traz implicações distintas sobre a cadeia de suprimentos, conforme apresentado na Figura 1, a seguir. Figura 1. Estratégias de globalização. Fonte: Bowersox et al. (2014, p. 281). Relação logística, economia e organizações14 Perceba que a dimensão horizontal refere-se à capacidade de resposta local, enquanto a vertical representa o nível de integração global. Avaliando as relações entre as dimensões, é possível perceber como as empresas sem estratégia internacional conseguem evoluir. Embora a categoria de “nenhuma estratégia internacional” possa ter uma capacidade de resposta local no país de origem, normalmente ela não demonstra qualquer capacidade de resposta fora desse país. Por outro lado, a “estratégia doméstica múltipla” pode ser muito focada nos mercados individuais, mas não há um caminho lógico para a integração global. Uma vez que cada divisão regional provavelmente tomaria as decisões para satisfazer melhor as necessidades dos seus clientes e regiões, haveria um esforço limitado movendo cada região para um plano integrado global. Na verdade, sem uma visão e uma motivação global forte, a tendência natural seria a de uma empresa multidoméstica permanecer assim. A empresa com estratégia global move-se para uma operação global mais ampla, com customizações e operações para o mercado local. No entanto, existe uma sede global central que tende a orientar a estratégia e as operações. São empreendidos esforços para padronizar “produtos e soluções mundiais”, e as atividades são realizadas — e frequentemente centralizadas — no melhor local, a partir de uma perspectiva global. Quando escolhe pela opção de nenhuma estratégia global, a empresa estará decidindo apenas por operações domésticas. Ou seja, embora possa haver algumas transações internacionais de terceirização ou entrega, não há estratégia ou plano voltado para a organização e o aumento das operações internacionais. Essa definição traz vantagens e desvantagens para a empresa. � Vantagens: cabe destacar que operações puramente domésticas são significativamente menos complexas, exigindo uma demanda mínima de coordenação entre a cadeia de suprimentos e as outras funções da empresa. � Desvantagens: importante mencionar que a ausência de uma estratégia internacional traz dificuldades para responder a clientes que operem globalmente, assim como limita o crescimento nos mercados locais. Já quando escolhe pela estratégia doméstica múltipla, a empresa opta por operar em vários países, tendo seu país-sede como território de atuação dominante. Nesse caso, as operações realizadas fora do país-sede são con- sideradas internacionais e frequentemente tratadas como secundárias em relação às operações domésticas. Muitas vezes, as operações internacionais são utilizadas como apoio às operações domésticas, sendo geralmente voltadas 15Relação logística, economia e organizações para o suprimento de matérias-primas e bens de revenda. A empresa tem que lidar com cadeias de suprimentos distintas e parcialmente autônomas em cada região do globo em que atua, uma vez que as operações logísticas e da cadeia de suprimentos dentro de cada região são independentes uma das outras. � Vantagens: a empresa pode concentrar-se nos mercados locais, mini- mizando as necessidades de coordenação geral. � Desvantagens: a empresa não responde bem aos clientes globais e tem dificuldades para desenvolver economias em escala. No caso de decisão pela estratégia global, a empresa opta por operações transfronteiriças com alguma customização para o mercado local, cenário em que normalmente há uma única sede que coordena as operações globais, enquanto as atividades logísticas e da cadeia de suprimentos ocorrem nas diversas regiões onde a empresa atua. Nesses casos, transações entre regiões ou países são tratadas como transferências internas ou como relações pontu- ais cliente–fornecedor. Cada região ou país concentra-se nas características do mercado regional e, embora haja motivos para coordenar as atividades da cadeia de suprimentos entre regiões, não há grande foco na reduçãoda complexidade da fabricação e logística. A integração mais avançada dá-se em relação às finanças, que são integradas globalmente, enquanto outras formas de integração, como a de desenvolvimento de produtos, planejamento e cadeia de suprimentos, são menos comuns. � Vantagens: capacidade de se concentrar em vários mercados locais, satisfazendo necessidades dos clientes locais, com a capacidade de tirar vantagem de produtos globais. � Desvantagens: dificuldade para responder de forma integrada aos clien- tes globais e não ser escalável. Por fim, quando opta pela estratégia transnacional, a empresa mantém operações regionais em todo o globo, enquanto utiliza estruturas centrais que aumentam a eficácia das atividades e o desempenho da organização. Além disso, embora existam operações regionais, diferentes atividades podem estar situadas em regiões distintas, como forma de assegurar uma maior perspectiva global. Nesse caso, as empresas podem optar por manter uma quantidade limitada de centros de atendimento ao cliente, de instalações de controle da produção e de centros de compras. Essa estratégia é geralmente adotada por Relação logística, economia e organizações16 empresas caracterizadas por uma combinação de marcas globais, produzidas e comercializadas no mundo inteiro, com sistemas e gestão integrados que permitem coordenar as operações globais, mas que, ao mesmo tempo, são sensíveis às considerações regionais e locais. � Vantagens: facilidade na definição do foco global para desenvolvimento e fornecimento de soluções, proporcionando economias de escala e sendo expansível, tanto para empresas domésticas quanto globais. � Desvantagens: requer coordenação e integração de informações bem- -desenvolvidas, ao mesmo tempo que reduz a capacidade da empresa em responder às singularidades de cada mercado. Como visto na Figura 1, as empresas evoluem, migrando entre as diferentes estratégias de globalização. Por conta disso, é possível considerar que cada uma dessas estratégias se configura como estágios de globalização. Com isso, logística e cadeia de suprimentos globais apresentam características distintas nos diferentes estágios, em relação a determinadas perspectivas, conforme sintetizado no Quadro 3, a seguir. Estágios de globa- lização Produtos Estraté- gia de mercado Estraté- gia da cadeia de supri- mentos Estraté- gia de gestão Desen- volvi- mento de recursos humanos Nenhuma estratégia interna- cional Produto padrão para o mercado local Estratégia única focada no mercado local Direto ao cliente Finanças simples Intuitivo, com especia- lização limitada Estratégia doméstica múltipla Comercia- lização e logística domés- ticas Clientes domés- ticos Colabo- ração Transação condu- zida por finanças integradas Gestão com foco no país de origem Quadro 3. Características diferenciais das estratégias de globalização (Continua) 17Relação logística, economia e organizações Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2014). Quadro 3. Características diferenciais das estratégias de globalização Estágios de globa- lização Produtos Estraté- gia de mercado Estraté- gia da cadeia de supri- mentos Estraté- gia de gestão Desen- volvi- mento de recursos humanos Estratégia global Custo- mização para os mercados locais Foco em áreas es- pecíficas do mer- cado que podem atravessar fronteiras interna- cionais Subsidiá- rias com presença local Ope- rações descen- tralizadas com res- ponsabili- dade pela rentabili- dade local Alta direção com certa experiên- cia inter- nacional Estratégia transna- cional Marcas globais e ope- rações integradas Clientes globais Fluxo mundial de recur- sos-chave Planeja- mento centrali- zado em escritórios globais Treina- mento e experiên- cia inter- nacionais (Continuação) Perceba que, à medida que a empresa evolui de “nenhuma estratégia in- ternacional” para uma “estratégia transnacional”, embora haja mais sinergia entre produtos, marketing e operações, também há desafios crescentes em relação à gestão e ao desenvolvimento de recursos humanos. O mesmo ocorre com as estratégias domésticas múltiplas, globais e transnacionais, que podem influenciar as decisões logísticas em diversas dimensões. Por isso, é preciso que a empresa avalie cuidadosamente esses impactos, para que possa, além de decidir a estratégia a ser adotada, também definir como conduzir sua migração entre as várias estratégias possíveis, escolhendo aquela que for capaz de lhe proporcionar melhores desempenho e resultados. Relação logística, economia e organizações18 BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 616 p. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2014. 472 p. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gestão da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operações. 6. ed. São Paulo: Pearson, 2015. 544 p. DICKEN, P. Mudança global: mapeando as novas fronteiras da economia mundial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 632 p. 19Relação logística, economia e organizações Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 G389 Gestão patrimonial e logística no setor público / Bruno Maldonado Barcellos ... [et al.]; revisão técnica: Felipe Nunes Duarte. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 234 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-168-6 1. Administração. 2. Patrimônio. 3. Setor público. I. Barcellos, Bruno Maldonado. CDU 658.7 Revisão técnica: Felipe Nunes Duarte Graduado em Administração de Empresas e Processos Gerenciais Especialista em Administração Estratégica Consultor em Logística Empresarial e Comércio Exterior Estratégia em logística Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conhecer as principais abordagens estratégicas da logística integrada. Avaliar como o nível de serviço ao cliente impacta as decisões estra- tégicas de desempenho logístico. Identi� car as variáveis estratégicas que impactam os níveis de serviço ao cliente. Introdução As definições relativas aos níveis de estoques, localizações de instalações e demais variáveis relacionadas à cadeia de suprimentos exercem im- pacto direto nos custos empresariais e na percepção da organização pelo mercado. Por isso, se constituem em algumas das decisões estratégicas mais importantes para alguns segmentos econômicos. Dessa forma, é importante um refinado planejamento para a realização da gestão desses pontos. Neste texto, você irá conhecer as principais definições estratégicas relacionadas à logística e compreender a sua estreita relação com a proposta de valor e nível de serviço esperado pelos clientes e usuário dos serviços logísticos. Definindo a estratégia logística Para formular a estratégia logística, é necessário avaliar as relações entre níveis alternativos de serviço ao cliente e custos associados. Embora existam difi culdades substanciais na medição de receita, a avaliação comparativa do desempenho do serviço e dos custos marginais associados oferece uma forma de se aproximar de um projeto ideal do sistema logístico. A abordagem geral consiste em: 1. Determinar a rede de menor custo total. 2. Medir a disponibilidade do serviço e a capacidade associados ao projeto do sistema de menor custo total. 3. Conduzir a análise de sensibilidade relacionada diretamente aos serviços e custos incrementais com geração de receita. 4. Finalizar o plano. Determinar a menor rede de custo total significa avaliar, entre as opções disponíveis, seja com transportadoras, prestadores de serviços ou veículos próprios, quais as opções com os menores custos totais, ou seja, que no com- posto de todas as atividades logísticas necessárias ao processo – normalmente armazenagem, manuseio, transporte e atualizaçãode informações – apresenta o menor custo. Medir a disponibilidade do serviço e a capacidade associados ao pro- jeto do sistema de custo total consiste em, após identificadas as escolhas de menor custo, avaliar quais as condições de atendimento da demanda. Um exemplo prático seria, entre três possibilidades de transportadora, identificar a de menor custo. Nesta etapa busca-se avaliar em quanto tempo a opção de menor custo realiza a atividade em comparação com as demais. Conduzir a análise de sensibilidade relacionada diretamente aos ser- viços e custos incrementais com geração de receita é o momento em que o gestor avalia se a opção de menor custo não gera perdas de receitas ou se a escolha por uma opção de custo intermediário gera ganhos adicionais que compensem a escolha. Por fim, a tomada de decisão para finalizar o plano é especificamente o papel gerencial do gestor logístico, em que, com base nas análises preliminares, ele irá definir a estratégia. Estratégia de menor custo total Uma estratégia de menor custo total busca uma rede do sistema logístico com os menores custos fi xos e variáveis. Um projeto de sistema para conseguir o menor custo total é orientado apenas por trade-off de custos. Em relação aos relacionamentos básicos, um projeto de menor custo total é apresentado a seguir. O nível de serviço ao cliente associado a um projeto logístico de menor custo resulta da política de estoque de segurança e da proximidade física entre depósitos e clientes. O nível geral de serviço ao cliente associado ao sistema de menor custo total é denominado nível de serviço limite. Estratégia em logística88 O nível de serviço é extremamente impactado pelas necessidades de trans- portes, assim, em estratégias de menor custo total, os prazos de entrega serão maiores, pois os custos com transportes (expressivos no custo total logístico) serão minimizados com a utilização de estratégias que otimizem as cargas, logo, o objetivo passa a ser o custo baixo e não a entrega rápida. Nível de serviço ao cliente A defi nição do posicionamento quanto ao nível de serviço ao cliente é deter- minante para todas as demais decisões estratégicas de desempenho logístico. Basicamente, o nível de serviço é relacionado à qualidade do serviço logístico. Para o cliente ou usuário de serviço logístico, os requisitos de qualidade normalmente são o prazo de entrega, a segurança e o atendimento. Então, podemos dizer que uma empresa que entrega em um prazo menor que os concorrentes, com mais segurança e menores danos aos produtos e fornece feedback do status dos pedidos, oferece um nível de serviço melhor do que aquelas que têm entregas mais demoradas. O grande desafio do nível de serviço é que melhores níveis geralmente significam mais custos, portanto, o desafio do gestor é compreender como a estratégia logística da empresa quer ser percebida pelos usuários e equalizar as ações necessárias. Para estabelecer um nível de serviço limite, é necessário iniciar a reenge- nharia da rede com políticas relacionadas à disponibilidade e à capacidade de estoque desejadas. É prática comum basear a capacidade do serviço ao cliente no sistema existente de recebimento e processamento de pedidos, nas operações de armazenamento baseadas no tempo padrão de atendimento a pedidos, nas instalações existentes e no tempo de entrega baseado na capacidade dos meios de transporte existentes. Dadas essas premissas, o desempenho atual oferece o ponto de partida para a avaliação das melhorias potenciais no serviço. O ponto de partida típico para a análise de disponibilidade do serviço ao cliente é prever o desempenho de acordo com uma taxa de atendimento geralmente aceitável. Muitas vezes, o padrão predominante no setor é usado como primeira aproximação. Por exemplo, se a disponibilidade de estoque de segurança for estabelecida em 97,75% para a probabilidade combinada de incerteza na demanda e no tempo de entrega, deve-se esperar que aproximadamente 98 de cada 100 itens pedidos sejam entregues conforme especificado. O estoque de segurança costuma ser calculado considerando a demanda média diária e o prazo de reposição. 89Estratégia em logística Suponha que um mercado venda em média 50 kg de arroz por dia, e o prazo de reposição do fornecedor, a partir do momento que o pedido é feito até a entrega, seja de 8 dias. Assim, o estoque de segurança será dado pela demanda diária multiplicada pelo número de dias. Para o exemplo, o estoque de segurança será de 400 kg de arroz. Figura 1. Rede de menor custo total. Fonte: Bowersox et al. (2013, p. 306). Influências do nível de serviço nas decisões estratégicas O fato de uma rede inicial ser projetada para alcançar o menor custo logístico não signifi ca que o serviço limite ao cliente será́ baixo. O tempo entre a entrada do pedido do cliente até́ a entrega do produto em um sistema de menor custo é , supostamente, maior na média do que em redes alternativas que foram modifi cadas para melhorar o desempenho geral do serviço. Estratégia em logística90 No entanto, clientes localizados perto de uma instalação de armazena- mento em todas as redes têm potencial para receber entregas rápidas. Como a localização de menor custo tende a favorecer áreas de alta concentração de demanda, uma quantidade substancial de clientes terá́ potencial para entregas rápidas. Com uma estimativa da duração esperada do ciclo do pedido em mãos, os gerentes estão em condição de comprometer-se com prazos de entrega ao cliente. Uma política de serviço poderia ser a seguinte: A entrega de pedidos à área A será́ de 3 dias, a partir do recebimento do pedido no depósito. É nossa política conseguir atender 98% de todos os pedidos dentro desse período. O desempenho real de um sistema logístico é medido pelo grau em que os padrões de serviço são atingidos. Dada a quantificação das variáveis envol- vidas, o serviço limite relacionado ao sistema de menor custo total oferece o ponto de partida para o desenvolvimento da plataforma de serviço básico de uma empresa. O próximo passo na formulação da política é testar a conveni- ência do nível de serviço limite para o cliente. Percepção do nível de serviço pelo cliente/usuário O serviço limite resultante do projeto logístico de menor custo total oferece uma base para a análise de sensibilidade do serviço. A capacidade de ser- viço básico de uma rede pode ser aumentada ou diminuída pela variação na quantidade de depósitos, mudança em um ou mais ciclos de atividades para aumentar a velocidade, ou a consistência das operações e/ou mudança na política de estoque de segurança. A estrutura de armazenamento do sistema logístico estabelece o serviço que pode ser prestado sem alteração do ciclo produtivo ou da política de estoque de segurança. Para ilustrar a relação entre a quantidade de depósitos e o tempo de serviço resultante, suponha que uma medida importante é o percentual atendido da demanda em determinado intervalo de tempo. O impacto geral do acréscimo de depósitos ao sistema é apresentado na Tabela 1, na qual são ilustrados diversos pontos de interesse, o primeiro deles sendo o serviço incremental em uma função decrescente. 91Estratégia em logística Fonte: Bowersox et al. (2013, p. 310). Número de instalações Percentual atendido da demanda por duração do ciclo de atividades (horas) 24 48 72 96 1 15 31 53 70 2 23 44 61 76 3 32 49 64 81 4 37 55 70 85 5 42 60 75 87 6 48 65 79 89 7 54 70 83 90 8 60 76 84 90 9 65 80 85 91 10 70 82 86 92 11 74 84 87 92 12 78 84 88 93 13 82 85 88 93 14 84 86 89 94 Tabela 1. Capacidade de serviço dentro de intervalos de tempo como função da quanti- dade de instalações. Por exemplo, os cinco primeiros locais de armazenamento oferecem de- sempenho 24 horas a 42% de todos os clientes. Para dobrar esse percentual de serviço de 42% para 84%, são necessários nove depósitos adicionais, ou um total de 14. Outro ponto de interesse seria
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