Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Júlia Demuner - MED UVV XXIX Circulação Pulmonar - Aires cap.43, Guyton cap.38 e Cecil cap.88 A função mais conhecida e importante da ventilação pulmonar é a de fornecer oxigênio ao sangue venoso e dele remover o excesso de gás carbônico (CO2), arterializando-o. Nos tecidos periféricos, ocorrem processos inversos: o sangue capilar recebe CO2 proveniente dos tecidos e a eles cede parte do O2 que transporta. Espaço Morto Anatômico O volume de gás contido nas vias respiratórias de condução e transição (do nariz aos bronquíolos respiratórios) corresponde ao espaço morto anatômico, porquanto, como já foi visto, não há trocas gasosas significativas nesse segmento das vias respiratórias. Em cada inspiração, cerca de 2/3 do volume corrente alcançam os alvéolos, e o 1/3 final fica retido no espaço morto, ou seja, a composição do gás aí contido é muito semelhante à do ar ambiente. Cumpre ressaltar, também, que o primeiro gás a atingir os alvéolos na inspiração corresponde àquele deixado no espaço morto pela expiração precedente . ! Normalmente, em um jovem (18 anos) do sexo masculino com 1,8 m de altura, o volume do espaço morto aproxima-se de 150 mℓ. Espaço Morto Fisiológico O espaço morto fisiológico é, na realidade, a soma do espaço morto anatômico com outros volumes gasosos pulmonares que não participam da troca de gases. Por exemplo, em uma certa região do pulmão que é ventilada, mas não perfundida, o gás que chegou a esses alvéolos não pode participar das trocas e é, funcionalmente, “morto”. Conclui-se, então, que o espaço morto fisiológico é sempre maior que o anatômico. Ventilação Alveolar Denomina-se ventilação alveolar à porção da ventilação global que, a cada minuto, alcança a zona respiratória. A importância fundamental da ventilação pulmonar é a de renovar continuamente o ar nas áreas de trocas gasosas dos pulmões, onde o ar está próximo à circulação sanguínea pulmonar. Essas áreas incluem os alvéolos, sacos alveolares, ductos alveolares e bronquíolos respiratórios. Distribuição da Ventilação Tanto a ventilação como a perfusão e, consequentemente, a relação ventilação-perfusão não são uniformes ao longo do pulmão. A ventilação é maior na base pulmonar e decresce em direção ao ápice, essa desigualdade ocorre devido aos valores de pressão intrapleural ao longo do pulmão , principalmente, por conta da gravidade, além disso, no ápice pulmonar a pressão intrapleural é mais negativa que na base, pois o pulmão repousa sobre a sua base. A pressão na base é maior (menos negativa) que no ápice, com isso, os alvéolos desta região são menores que os do ápice na situação de repouso. Com a contração muscular inspiratória , a pressão intrapleural cai em todo o espaço pleural, porém, os alvéolos do ápice se enchem menos que os da base, pelo fato de já partirem de um volume inicial maior e, portanto, já estavam mais rígidos, isto é, sua complacência era menor que a dos alvéolos basais. ! Caso um indivíduo estivesse de cabeça para baixo, pelas mesmas razões descritas anteriormente, o ápice passaria a ser a região dependente e ventilaria melhor. Em um indivíduo de pé ou sentado, o pulmão assenta sobre a pleura diafragmática devido ao seu peso, ao passo que pende da pleura apical. Portanto, a pressão intrapleural é menos subatmosférica na base que no Júlia Demuner - MED UVV XXIX ápice, consequentemente, os alvéolos do ápice se encontram mais insuflados que os da base ao final da expiração e em uma região menos íngreme da curva volume vs. pressão do pulmão. Assumindo-se que a contração muscular inspiratória gere –3,5 cmH2O (ΔP) em toda a superfície pleural, a variação de volume (ΔV) será maior na base , pois a complacência de seus alvéolos supera a dos alvéolos apicais. Distribuição da Perfusão No pulmão, há dois tipos de circulação: a pulmonar e a brônquica (sistêmica). A primeira tem por função principal a arterialização do sangue por meio de trocas gasosas no nível alveolocapilar , ao passo que a segunda nutre as estruturas pulmonares , com exceção dos ductos alveolares e alvéolos (banhados pela circulação pulmonar), não participando da hematose. Normalmente, o fluxo é grande na circulação pulmonar (igual ao débito cardíaco), com resistência e níveis pressóricos baixos, enquanto na circulação brônquica a pressão é sistêmica, com resistência elevada e perfusão reduzida. A heterogeneidade da perfusão pulmonar pode ser explicada pelas diferenças de pressão hidrostática no interior dos vasos sanguíneos. Zonas do Pulmão Pode haver uma região no ápice do pulmão (zona 1) onde a pressão arterial pulmonar não consiga vencer a coluna hidrostática e seja inferior à pressão alveolar, neste caso, os capilares são colapsados e não há perfusão. Esta região, onde há ventilação sem perfusão, é conhecida como espaço morto fisiológico e não existe em indivíduos normais. Um pouco mais abaixo no pulmão (zona 2 e 3), a pressão arterial pulmonar já é francamente maior que a pressão alveolar e o fluxo sanguíneo faz-se, portanto, pela diferença de pressão entre a artéria e o alvéolo. Tendo em vista que a pressão arterial vai aumentando em direção à base pulmonar e a pressão alveolar é a mesma em todo o pulmão, a diferença de pressão responsável pelo fluxo se eleva progressivamente. O valor normal da relação V/Q é 0,8 - 1,0. No ápice , a relação V/Q é 2,5 vezes maior do que o valor ideal, logo, corresponde a uma área mais ventilada e menos perfundida → espaço morto fisiológico. Na base , a relação V/Q é 0,6 vez menor que o valor ideal, logo, corresponde a uma área menos ventilada e mais perfundida → desvio fisiológico ou shunt . Relação Ventilação-Perfusão Dois fatores determinam a PO2 e a PCO2 nos alvéolos: a intensidade da ventilação alveolar e a intensidade da transferência de O2 e CO2 , através da membrana respiratória. Essas discussões pressupunham que os alvéolos são ventilados igualmente e que o fluxo de sangue dos capilares alveolares é o mesmo em cada alvéolo. Entretanto, mesmo nas condições normais até certo ponto e, especialmente em muitas doenças pulmonares, algumas áreas dos pulmões são bem ventiladas, mas não recebem quase Júlia Demuner - MED UVV XXIX nenhum fluxo sanguíneo, enquanto outras áreas contam com excelente fluxo sanguíneo, mas pouca ou nenhuma ventilação. Em qualquer uma dessas condições, a troca gasosa através da membrana respiratória fica seriamente comprometida, e a pessoa pode sofrer angústia respiratória grave, a despeito tanto de ventilação total e um fluxo sanguíneo pulmonar total normais, mas com a ventilação e o fluxo sanguíneo indo para diferentes partes dos pulmões. Portanto, conceito altamente quantitativo foi desenvolvido para nos ajudar a entender a troca respiratória quando não existe balanceamento entre a ventilação alveolar e o fluxo sanguíneo alveolar. Esse conceito é denominado proporção ventilação-perfusão . Proporção Va/Q Em termos quantitativos, a proporção ventilação-perfusão é expressa como Va/Q. Quando aVa (ventilação alveolar) é normal, em determinado alvéolo, e Q (fluxo sanguíneo) também está normal, no mesmo alvéolo, diz-se que a proporção ventilação/perfusão (Va/Q) está normal . No entanto, quando a ventilação (Va) é zero, porém ainda existindo perfusão (Q) do alvéolo, a Va/Q é zero, além disso, no outro extremo, quando existe ventilação adequada (Va), mas a perfusão (Q) é zero, a proporção Va/Q é infinita. Na proporção zero ou infinita, não ocorre troca gasosa através da membrana respiratória do alvéolo afetado, o que explica a importância desse conceito. Relação Va/Q Igual à Zero Quando Va/Q é igual a zero, ou seja, sem qualquer ventilação alveolar, o ar nos alvéolos entra em equilíbrio com o O2 e o CO2 no sangue , porque esses gases se difundem entre o sangue e o ar alveolar. Sabendo que o sangue venoso normal tem PO2 de 40 mmHg e PCO2 de 45 mmHg , os gases do sangue e os gases alveolares entram em equilíbrio, fazendo com que haja fluxo sanguíneo, mas nenhuma ventilação . Relação Va/Q Igual ao Infinito Quando Va/Q é igual ao infinito o efeito é totalmente diferente, uma vez que agora não ocorre fluxo sanguíneo capilar para transportar O2 para fora e trazer CO2 para os alvéolos. Portanto, em vez de os gases alveolares entrarem em equilíbrio com o sangue venoso, o ar alveolar fica quase igual ao ar inspirado umidificado , ou seja, o ar inspirado não perde O2 para o sangue e não ganha CO2 do sangue. Assim, visto que o ar umidificado e inspirado normal tem PO2 de 150 mmHg e PCO2 de 0 mmHg , essas serão as pressões parciais desses dois gases no alvéolo. Relação Va/Q Normal Quando existe tanto ventilação alveolar normal quanto fluxo sanguíneo na capilaridade alveolar normal (perfusão alveolar normal), a troca de O2 e CO2 através da membrana respiratória é quase ideal, sendo a PO2 do ar alveolar de 104 mmHg em média, e a PCO2 de 40 mmHg em média. Júlia Demuner - MED UVV XXIX Diagrama Va/Q A curva no diagrama representa todas as combinações possíveis de PO2 e PCO2 entre os limites de Va/Q iguais a zero e a infinito, quando as pressões gasosas no sangue venoso estão normais e a pessoa está respirando ar à pressão do nível do mar. Assim, o ponto v− é a plotagem de PO2 e PCO2 quando Va/Q é igual a zero e, neste ponto, a PO2 é igual a 40 mmHg e a PCO2 é igual a 45 mmHg, que são os valores no sangue venoso normal. Na outra ponta da curva, quando Va/Q é igual a infinito, o ponto I representa o ar inspirado, mostrando que a PO2 é 149 mmHg, enquanto a PCO2 é zero . Também marcado na curva, tem-se o ponto que representa o ar alveolar normal quando Va/Q está normal, ponto em que a PO2 é 104 mmHg e a PCO2 é 40 mmHg. Efeito Shunt (Va/Q Abaixo do Normal) Sempre que Va/Q estiver abaixo do normal, ocorre ventilação inadequada para prover o oxigênio necessário e oxigenar completamente o sangue que flui pelos capilares alveolares, logo, determinada fração do sangue venoso (sangue derivado) que passa pelos capilares pulmonares não é oxigenada . Além disso, alguma quantidade de sangue adicional flui pelos vasos brônquicos, em vez de pelos capilares alveolares, normalmente cerca de 2% do débito cardíaco, esse sangue é também sangue derivado, não oxigenado. ! Efeito Shunt: redução da relação V/P. Ventilação insuficiente e perfusão normal . (PNEUMONIA). Efeito Espaço Morto (Va/Q Acima do Normal) Quando a ventilação de alguns alvéolos for grande mas o fluxo de sangue alveolar for baixo , existe muito mais oxigênio disponível nos alvéolos do que pode ser transportado para fora dos alvéolos pelo sangue circulante, assim, diz-se que a ventilação desses alvéolos é desperdiçada . A ventilação das áreas de espaço morto anatômico das vias respiratórias também é desperdiçada, e a soma desses dois tipos de ventilação desperdiçada é denominada espaço morto fisiológico. ! Efeito Espaço Morto: aumento da relação V/P. Há ventilação, mas não perfusão suficiente . (CHOQUE) Júlia Demuner - MED UVV XXIX DPOC A maioria das pessoas que fumam durante muitos anos desenvolve graus variados de obstrução brônquica , em grande parte dessas pessoas, essa condição acaba ficando tão grave que desenvolvem sério aprisionamento de ar alveolar , com consequente enfisema. O enfisema, por sua vez, faz com que muitas das paredes alveolares sejam destruídas e, assim, duas anormalidades ocorrem nos fumantes, causando Va/Q anormal: - Primeira, na medida em que muitos dos pequenos bronquíolos são obstruídos , os alvéolos, além das obstruções, não são ventilados , causando Va/Q que se aproxima de zero (efeito shunt). - Segunda, nas áreas do pulmão onde as paredes alveolares foram destruídas , mas ainda resta ventilação alveolar, grande parte da ventilação é desperdiçada por causa do fluxo sanguíneo inadequado para transportar os gases sanguíneos (efeito espaço morto). Assim, na doença pulmonar obstrutiva crônica, algumas áreas do pulmão exibem derivação fisiológica séria (shunt), e outras áreas exibem espaço morto fisiológico sério. Ambas essas condições diminuem imensamente a efetividade dos pulmões como órgãos trocadores de gases, às vezes reduzindo sua efetividade para até um décimo da normal. Barreira Hematoaérea O pulmão é um órgão especializado para trocas gasosas de modo a prover o O2 ao sangue e remover o CO2 do sangue. A troca de gases por difusão passiva ocorre através da barreira hematoaérea , formada por extensões citoplasmáticas de células alveolares do tipo I, por uma lâmina basal dupla, sintetizada por células alveolares do tipo I e células endoteliais, por extensões citoplasmáticas de células endoteliais contínuas e pela membrana plasmática das hemácias. As células alveolares do tipo II contribuem indiretamente para o processo de trocas gasosas ao secretar o surfactante , um complexo de proteínas e lipídios que reduz a tensão superficial do alvéolo e evitar o colabamento alveolar.
Compartilhar