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INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO GOLPE DE 1964 PAIVA, Eutes Sousa1 RU: 1810647 RESUMO Este trabalho de pesquisa tem como propósito discutir o papel e a influência da mídia, principalmente da imprensa que atuou de forma efetiva na elaboração do golpe de 1964 ocorrido em plena era da informação. Os objetivos específicos são: compilar depoimentos referentes à atuação da mídia durante o golpe e ilustrar situações relevantes para a pesquisa. A abordagem do tratamento da coleta de dados será pesquisa bibliográfica, uma vez que, a pesquisa bibliográfica implica em dados e informações necessárias para que sejam obtidos a partir do apuramento de autores especializados através de livros, artigos científicos, revistas, sites e entre outras fontes. Esse artigo busca explorar o papel da mídia no golpe de 1964, ressaltando a relação entre a imprensa e o governo durante a ditadura civil-militar brasileira. Entende-se que a ideologia deste regime militar, esteve como uma extensão nos grandes jornais, redes de televisão e rádio. Em 1964, tivemos um grande marco da história brasileira, aonde João Goulart após um discurso no Rio de Janeiro, exigiu a aprovação das reformas de base e a nacionalização das refinarias de Petróleo. O Jornalismo da época influenciou no processo histórico e nos mecanismos de uma verdadeira legitimação política. Palavras-chave: Ditadura. Golpe. Mídia. Militar. 1. INTRODUÇÃO A mídia e a majoritária imprensa além de ser testemunha foi participante no golpe de 1964 para destituir o presidente do poder executivo e a ditadura nela incubada, é de suma importância entendermos de que forma eram as manifestações, as expressões ideológicas tanto a favor como contra o governo naquele momento crítico que o país se encontrava. Mas qual seria o papel da mídia no golpe e por que quase toda a imprensa apoiou um movimento antidemocrático? Para entender a participação e tal apoio precisamos observar algumas características do cenário político que antecedeu o golpe. Existem vários fatores que contribuíram para esse apoio; primeiro a situação da Guerra Fria, o mundo estava muito polarizado entre capitalistas e comunistas, 1 Graduando do Curso de Licenciatura em História pelo Centro Universitário Internacional – UNINTER – Vitória da Conquista – BA. E-mail: ssoussa@hotmail.com. Comentado [LB1]: Olá Eutes, boa tarde. Sou a profa. Lucília Bonfim, orientadora desta U.T.A., avaliei seu trabalho em relação ao conteúdo e Normas da ABNT. Parabéns pelo artigo, ficou bem estruturado e está alinhado às orientações do Manual. Esta é a versão que será analisada pelos professores da Banca. Para preparar slides para sua apresentação, peço que leia as orientações indicadas ao lado do corpo de texto para corrigir o que foi solicitado, antes de elaborá-los. Veja nas últimas páginas do Manual as orientações sobre a etapa da apresentação. Boa sorte para você, profa. Lucília Bonfim. Comentado [LB2]: O conteúdo apresentado neste item está de acordo com as orientações do Manual. Comentado [LB3]: O conteúdo apresentado neste item está parcialmente de acordo com as orientações do Manual. A metodologia e modalidade não foram mencionadas. Comentado [LB4]: entender 2 entre a influência dos EUA e da URSS, estava muito recente ainda a passagem de Cuba para o comunismo e tudo isso assustava um pouco as pessoas. A classe média e a mídia nessa época sofriam grande influência da imprensa americana e se aproveitando disso os EUA ajudou a criar a ideia de que o Brasil estava a mercê de uma ameaça comunista e esse medo do comunismo acabou pesando para que parte da sociedade apoiasse o golpe, mas pesou também o conservadorismo exacerbado dos donos dos meios de comunicação que além de caírem na armadilha da ameaça comunista não se conformavam com as reformas de base de Jango, que eram reformas muito importantes para a sociedade naquele momento e isso acabou despertando forte oposição da grande imprensa que se tornaria o principal meio para a preparação do golpe. O Presente trabalho tem como base trazer o verdadeiro papel da mídia no golpe de 1964, que acarretou grande marco na história brasileira, e ainda hoje é citado em livros de História, tornando referência de conquista para a mídia Brasileira. A Ditadura Militar foi instalada no Brasil, durante 21 anos, vindo de um golpe de Estado: tivemos durante este período uma verdadeira transição muito lenta e segura que foi executada pelos “donos do poder” da época que insistiram para a sua concretização em todo o território nacional. Os militares que assumiram o poder do governo procuraram manter-se fortes ao longo deste período de transição, procurando ter um reforçado poder de policiamento e investigação para a construção de uma ideologia para a sociedade Brasileira. De acordo com Weber (2000, p. 156) “governar de modo autoritário exige o controle da sociedade. Se for preciso obter seu consenso, será necessário recorrer ao apoio e à linguagem das mídias”. O governo militar buscou nas mídias (Televisão e Rádio), a sua propaganda oficial, para assegurar o total controle de seu sistema político e apresentar ao povo brasileiro seu modo de pensar e de reger o país. Diante deste contexto tem-se como problemas de pesquisa: a mídia é realmente politicamente isenta? A política governa a mídia ou é a mídia quem a governa? Como manter o papel social da imprensa contemporânea se ela é imprescindível à manutenção do capitalismo? Que tipo de relação ideológica e econômica os conglomerados de comunicação mantêm entre eles e com a política 3 brasileira? Há isenção no jornalismo nomeado independente? Há independência no jornalismo? O principal objetivo desse trabalho é expor e discutir o papel e a forte influência da mídia e da grande imprensa em geral na elaboração do golpe. Os objetivos específicos são: compilar depoimentos referentes à atuação da mídia durante o golpe de 1964; ilustrar situações relevantes para a pesquisa. 2 JORNALISMO POLÍTICO Timothy Cook (2011) concebe o jornalismo político tendo por base a mídia como instituição social singular, onde produz-se a notícia por meio de um processo coletivo norteado pelas rotinas mesmas do jornalismo que é uma instituição e também pelas escolhas implícitas nessas rotinas. Afirma o autor: A independência parcial do jornalismo em relação à política não impede, no entanto, que ele atue como instituição política e governamental. Além de disseminar as informações políticas, definindo o que é importante e o que é interessante, os jornalistas dão relevância aos atores políticos e certificam sua autoridade. O noticiário é o resultado de negociações conflituosas entre jornalistas e fontes, nas quais ganham peso, simultaneamente, as fontes oficiais e os valores inerentes às rotinas jornalísticas. (COOK, 2011, p. 203) Os jornalistas são atores políticos que, apesar de suas posturas partidárias e ideologias que aceitam precisam estabelecer seu papel político mediante a adesão a determinados princípios de objetividade e deferência aos fatos e estar conscientes de que seus atos terão consequências sociais e políticas. (COOK, 2011) O processo acima descrito envolve uma realidade sempre presente no trajeto relacional entre jornalista e fonte e diz respeito à ideologia que o perpassa como um todo, desde a coleta de informações, até a notícia como sua consequência. É nesse território que se insere a relação jornalismo e política, quando se encontram os atores em cena: jornalistas e/ou governos, bem como representantes de partidos, sejam detentores ou não de mandato. (BARRETO, 2006, p. 13) Políticos e jornalistas fazem parte de uma teia informativa perante um público que exige informações e despreza as informações ou escamote amento da Comentado [LB5]: O conteúdo apresentado é pertinente ao tema proposto e está de acordo com as orientaçõesdo Manual. 4 verdade. Mas o jogo entre os interesses mercadológicos da mídia é permeado por fontes, preferencialmente, que prestam informações continuadas e que conta com a proteção do anonimato. Dessa forma, a mídia pode informar e não infirmar com base em fontes fidedignas, que, protegidas pelo anonimato, continuam ilesas das críticas do público ou dos sujeitos objetos da notícia como explica Miguel (apud BARRETO, 2006, p. 14): É importante lembrar ainda que “mídia” e “política” são, a rigor, abstrações. A relação entre elas toma a forma concreta de relações interpessoais entre agentes dos dois campos. Desejo orientar o foco [...] para os contatos entre jornalistas, de um lado, e líderes políticos, de outro. De maneira esquemática, é possível distribuí-lo em três categorias. Em primeiro lugar, os jornalistas “testemunham” eventos políticos que, ainda que possam ser pensados para divulgação na mídia, em princípio ocorreriam mesmo na ausência dela: debates e votações parlamentares, assinaturas de decretos e nomeações, atas de posse, reuniões partidárias. Depois, existem interações relativamente formalizadas entre repórteres e políticos, na forma de entrevistas (coletivas e individuais). Por fim, há a relação cotidiana entre os profissionais de imprensa e aqueles que, no jargão do meio, são chamados de suas “fontes”. Qualquer indivíduo que proporcione dados para a elaboração de uma reportagem é uma fonte. Quem interessa aqui, porém, é aquela fonte mais ou menos permanente, que fornece informações continuadas e, em algum grau, exclusivas ao mesmo repórter, muitas vezes com a garantia do anonimato na publicação da notícia. Os laços entre o jornalista e o político decorrem do consenso de “que a publicização de um acontecimento é a melhor maneira para que se demonstre que cada um cumpriu com o seu papel: o político em sua função de personagem da notícia, o jornalista como agente que relata o que se passou no cenário do poder”, conclui Barreto (2006, p. 13). 2.1 A MÍDIA Estudando a imprensa da época que antecedeu ao golpe podemos perceber que havia uma luta ideológica e midiática ao se analisar como eram produzidas algumas notícias dentro daquele contexto, e podemos ver como a imprensa em geral foi golpista. Um exemplo disso são as capas de jornais e suas manchetes: Comentado [LB6]: O conteúdo apresentado neste subitem é pertinente ao tema proposto. As correções indicadas devem ser retificadas. 5 Figura 1 – Jornal Ultima Hora; Correio da Manhã e Jornal do Brasil Fonte: Borges, 2011 Na figura 1 à esquerda vemos na capa do Jornal Última Hora (pode-se dizer que foi o único jornal que não aderiu ao golpe) que havia uma mobilização política e ideológica de classes populares e trabalhadoras como nunca tinha se visto história social do Brasil. As outras duas figuras ilustram as capas do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil, jornais que apoiavam o golpe e clamavam pela deposição do presidente João Goulart. Outros jornais como O Globo, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Dia, Tribuna da Imprensa e programas de Rádio também tiveram importante papel na elaboração do golpe. Isso nos mostra como a mídia no Brasil teve o poder de derrubar um presidente da República eleito democraticamente. A política moderna usa os meios de comunicação cada vez mais como meio de existência. Os governos buscam fazer-se notícia, do contrário suas ações caem no esquecimento. A mídia é o veículo principal de divulgação política. Essa política midiática vem transformando governantes em atores. Diante da espetacularização da política e de uma mídia cada vez mais partidária, viu-se a necessidade de pesquisar os limites de interdependência entre ambas como forma de entender o funcionamento da imprensa no Brasil. Comentado [LB7]: Indique o nome da figura na parte superior, em arial 12, espaço simples. Abaixo dela indique, em arial 10, espaço simples, a fonte de onde foi extraída. Quando for extraída de em site: Fonte: disponível em: www.XXXX Acesso em: dia/mês/ano. É NECESSÁRIO RETIFICAR TODAS AS INDICAÇÕES QUE CONSTAM NO ARTIGO. 6 2.2 O GOLPE DE 1964 O crescimento econômico gerou novos problemas, como inflação e problemas com a urbanização. Em 1964, o Brasil enfrentou outra derrota militar do governo devido à incerteza econômica. Em 1º de abril de 1964, os militares assumiram o governo brasileiro. Ao contrário da tomada militar de Vargas, não havia dúvidas de que este era um regime ditatorial desde o seu início. A melhor contribuição do trabalho é chamar a atenção para importância das questões parlamentares, do Congresso, dos partidos políticos. Tal foco foi sistematicamente desprezado pela maioria dos analistas do regime militar. De fato, a literatura especializada, tendo enfatizado o papel dos empresários ou dos militares no golpe de 1964, tendeu, salvo raras exceções, a não considerar a dimensão político- institucional das crises do período no plano parlamentar. (FICO, 2004, p. 10) Estas análises marxistas apresentadas por Fico (2004) são as determinações econômicas de estrutura e a condição da expressividade do golpe de 1964, tendo como um grande desfalque uma análise detalhada de Jacob Gorender, em que determinava uma grande eclosão para o golpe, que encontrava no capitalismo brasileiro da época a necessidade da existência de um forte governo, que controlaria não apenas os brasileiros, mas internacionalmente, alavancando um impulso para a vinculação do Programa do Presidente João Goulart. Fico (2004) prestigia o trabalho de René Dreifuss, que foi considerado uma das maiores lideranças políticas para o domínio do capital multinacional. O movimento político-militar de abril de 1964 representou, de um lado, um golpe contra as reformas sociais que eram defendidas por setores progressistas da sociedade brasileira e, do outro, um golpe contra a incipiente democracia nascida em 1945. (TOLEDO, 2004, p. 13) A realização do Golpe de 1964 contra Jango, não seria possível sem a participação dos militares, que mesmo tendo um governo golpista, observa-se em meio à prepotência das lideranças militares golpistas civis proeminentes. Comentado [LB8]: O conteúdo apresentado neste subitem é pertinente ao tema proposto. As correções indicadas devem ser retificadas. 7 Figura 2 – O povo saudando Jango em sua vitória Fonte: Outras palavras, 2013 Os movimentos e lideranças partidários das reformas, que haviam originalmente construído sua força na luta pela posse de Jango e, em seguida, pelo restabelecimento dos plenos poderes presidenciais – em outras palavras, na defesa da ordem constituída e da legalidade – tinham evoluído, progressivamente, para uma linha ofensiva em que inclusive se contemplava o recurso à violência “revolucionária”... Enquanto isso, do outro lado, notórios conspiradores de todos os golpes... encontravam-se defendendo a Constituição e a legalidade da ordem vigente. (REIS, 2000, p. 8) Conforme Soares (1994), o golpe, porém, foi essencialmente militar, pois não foi idealizado ou realizado pela burguesia ou pela classe média, independentemente do apoio que estes lhes prestavam. As razões que os militares tinham para derrubar Jango foram o caos administrativo e uma verdadeira desordem política que contribuiu para o enfraquecimento de seu governo. De acordo com Fernandes (1975), podemos classificar o golpe de 1964, sendo uma conta revolução, que teve um rompimento com a ordem, “democrática”, colocando um poder de burguesia nacional e “interesses extensos”. Portanto, o ideal democrático da cúpula militar era um golpe coberto para uma autocracia de uma burguesia oligárquica nacional. A Burguesia com o seu papel interno e externo, implantou no governo de João Goulart, um movimento que acabou com a concretização social, de cunho socialista, que ameaçava uma ordem instituída, devidoao período da Guerra Fria e o evidente avanço comunista no governo implantado pelos militares para um Brasil totalmente contrarrevolucionário. A democracia era tomada pelos militares e civis que conduziram o movimento de 1964 como um regime político que não tinha que ser, 8 necessariamente, controlado pelos civis. Ou seja, a sua suposta democracia seria revigorada através da restauração de uma legalidade, de uma paz e de um progresso com justiça social a partir da atuação de um determinado grupo que estaria incumbido desta tarefa em nome de um todo abstrato definido como povo (REZENDE, 2001, p. 68). Dessa forma, a ambição militar era que a sociedade aceitasse um governo totalmente renovado, de acordo com os parâmetros e as ordenanças dos militares, para uma ideia totalmente social comunista, desaparecendo a democracia. De acordo com Wood (2011), se faz necessário, em primeiro lugar, não ter certas ilusões acerca do significado e dos efeitos da democracia no capitalismo. Isso representava não somente uma compreensão dos limites da democracia capitalista da época, mas o fato de que até mesmo um Estado capitalista democrático pode ser restringido pelas exigências de acumulação de capital, e o fato de que a democracia liberal deixa essencialmente intacta a exploração capitalista, mas também, e ainda mais particularmente, uma verdadeira desvalorização da democracia no Brasil. Uma primeira etapa iria de 1964 ao Ato Institucional nº 5, de dezembro de1968. Nela se observa um enfrentamento de tendências dentro da “área revolucionária”. O foco principal de divergência era representado pelo caráter atribuído à “revolução”. Seria ela uma intervenção transitória,cirúrgica, por assim dizer, do tipo “devolver e limitar”, para uns restauradora da ordem constitucional, para outros reformadora dessa ordem, mas destinada a refluir como processo? Ou essa intervenção seria o início de um processo revolucionário permanente, que não deveria ser enquadrado nos limites da legalidade convencional? O Ato Institucional nº 5, ao cabo do período assinalou a vitória da segunda opção. Com o AI-5, as força armadas se tornaram o Poder Dirigente sobre a nação.” (DREIFUS; DULCI, 1983, p.93-94) Uma grande ferramenta dos militares era a censura estampada em todo Território Nacional veiculada pela mídia, apenas o que iria ser transmitido à sociedade Brasileira, tendo apenas notícias aos civis, que satisfizessem aos interesses dos militares. A censura começou em 1972, lá pelo mês de maio, no começo do mês. Recebemos um telefonema da Superintendência da Polícia Federal, avisando que a censura prévia iria começar no dia seguinte, com a visita do censor na redação. Foi respondido que ninguém faria censura no jornal, a não ser com comunicado oficial por escrito ao sr. Cardeal Arns... Ele exigia este oficio por escrito e declarasse quem em Brasília se responsabilizava por essa medida e em São Paulo também, quem é que assumiria essa responsabilidade (OSP, junho de 1978, lauda 1) 9 Neste relato do Jornal O SÃO PAULO da época, o Diretor, relatou que a censura no ano de 1972 se concretizou nos meios de comunicação, com um aviso prévio dos militares para barrar informações que não lhes interessavam, passando, assim, a exibir programações que primeiro tinham que passar pelo governo, para que depois fossem exibidas ou divulgadas nos meios brasileiros de comunicação. Figura 3 – O que acontecia com o Meio de comunicação que não respeitava uma ordem dos militares da época Fonte: Magalhães, 2014 Um editorial do Carta Maior assinado pelo jornalista Altamiro Borges (2011) traz uma série de trechos veiculados na mídia no período em que se deu o golpe militar de 1964, demonstrando a preparação ideológica para que tal evento ocorresse. Borges (2011) aponta o jornal O Globo como um simpatizante do golpe que derrubou o presidente eleito democraticamente, João Goulart (Jango); foi o imperialismo estadunidense, concomitantemente com os interesses dos latifundiários e burguesia nativa que coadunaram forças para derrubar o governo de João Goulart. A imprensa ficou marcada por uma ampla participação para preparar o golpe e para disseminar a ideologia dos golpistas, apoiando sua escalada de perseguição política, tortura e mortes pela causa. 10 Calcados na crítica ao comunismo que atribuíam a Jango, os meios de comunicação assumiram uma postura contrária ao presidente e intensificaram os noticiários denegrindo a figura de Jango como podemos ver no comentário a seguir: O ex-presidente João Goulart foi vítima da intensa polarização entre direita contra esquerda – capitalismo contra comunismo – da década de 1960. Naquela década, quem não era capitalista era comunista e vice-versa, não tinha meio termo. Era o auge da Guerra Fria entre EUA e União Soviética, a Corrida Armamentista. Tudo piorou com o assassinato do presidente americano John F. Kennedy. Os americanos queriam vingança e começaram a fazer uma limpa nos países propensos a se unir ao bloco comunista. Começaram no “seu quintal”, como alguns americanos chamam as Américas do sul e central. Arquitetaram Golpes de Estado para derrubar presidentes que tinham alguma ligação com a União Soviética mesmo que por apenas diplomacia. Os americanos pretendiam varrer o comunismo das Américas. Os Estados Unidos da América deram todo suporte para as Forças Armadas de vários países sul-americanos derrubarem os governos democráticos. Há fortes indícios que a Operação Condor contou com forte apoio americano. (JANGO, 2014) O Jornal O Globo exaltava as atitudes dos militares, colocando-os como heróis que resgataram a ordem, protegendo os brasileiros de seus inimigos. “Salvos da comunicação que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos. Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”. O Globo, 2 de abril de 1964. Colocam o exército como salvador da ameaça vermelha, ou seja, comunista que estaria infiltrada no governo. “Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada..., atendendo aos anseios nacionais de paz, tranquilidade e progresso... As Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal". O Globo, 2 de abril de 1964. O ufanismo do resgate da democracia não coaduna com a figura dos militares. O Jornal O Globo apresenta o regime militar como resgate da democracia, distorcendo as definições dos regimes, pois ditadura é ausência de democracia e não o contrário. “Ressurge a democracia! Vive a nação dias gloriosos... Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. Como Comentado [LB9]: Não ocorre divisão de parágrafo em citação longa, mesmo que tenha no texto lido. Comentado [LB10]: sem aspas retificar as demais citações que estão indicadas da mesma forma 11 dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a âncora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada”. O Globo, 4 de abril de 1964. 2.3 JORNAIS QUE APOIARAM O GOLPE Os jornais O Estado de São Paulo, Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil, O Estado de Minas apoiou incondicionalmente o golpe militar e tais posturas podem ser checadas na Tabela 1: Tabela 1: Notícias dos principais jornais da épocaFonte: Elaboração própria (baseado em Jango, 2014) Os jornais Folha de São Paulo e Jornal do Brasil prestaram apoio aos ditadores que praticavam tortura e assassinatos em nome da causa. Comentado [LB11]: O conteúdo apresentado neste subitem é pertinente ao tema proposto. As correções indicadas devem ser retificadas. 12 “Um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social – realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama”. Folha de S. Paulo, 22 de setembro de 1971. Em 1973, o Jornal do Brasil anuncia que após quase uma década do golpe militar, o país encontrava-se em amplo desenvolvimento, destacando-se entre outros países. “Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela não moveu o país, com o apoio de todas as classes representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de responsabilidades”. Jornal do Brasil, 31 de março de 1973. Desse modo, vimos que os jornais destacam o empenho dos militares para gerar o desenvolvimento do Brasil, pois optaram por apoiar o regime militar instaurado em 1964 que durou 20 anos, sendo interrompido com o movimento das Diretas Já em 1984. 3 A IMPRENSA E OS MILITARES A Imprensa da época estava sob censura, podendo apenas mostrar ao povo brasileiro o que realmente seria do interesse do governo, muitos dos empresários destas mídias, eram obrigados a cumprir a ordem, e davam as notícias, com a linguagem e as imagens, que eram exigida pelos militares, informando somente o que interessavam, caso tivesse um descumprimento, a rede de comunicação era colocada fora do ar. Em 1964 (...), jornais, rádio e televisão, trabalhando unidos para a tarefa, levaram o presidente Goulart ao exílio, já deposto, em “operação” realizada em menos de um mês. Os dois editores de primeira página do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, assinalaram, nos últimos dias de março, os termos finais da ofensiva. A imprensa (...), acolitando o rádio e a televisão (...) foi a alavanca que destruiu (...) presidentes eleitos. (SODRÉ, 1999, p. XIV). A imprensa dava-se este comportamento, por causa da aliança que tinha com o governo da época, tendo nas principais mídias como jornais, rádio e televisão, como os verdadeiros meios de propaganda e programação, baseadas Comentado [LB12]: O conteúdo apresentado neste item é pertinente ao tema proposto. As correções indicadas devem ser retificadas. 13 conforme estabeleciam a ideologia em que os militares exigiam para divulgar a população Brasileira. Em agosto, a censura começou a ser feita, todas as quintas feiras, depois de todo material, à noite, depois da composição, paginação pronta, quando o pessoal do jornal se retirava, terminando seu trabalho, tirando as matérias das máquinas. Chegavam ai os censores, as vezes um a vezes dois, e faziam seus cortes. A princípio nós conseguimos, uma vez apenas, deixar espaços em branco. Depois também isso foi proibido (OSP, junho de 1978, lauda 1). A censura prévia ao semanário ter durado até 8 de junho de 1978 – Conforme Pereira (1982) termina-se da mesma forma em que havia começado: pelo telefone e sem nenhum documento que dissesse respeito ao assunto - “Em 1977, O São Paulo tentou, sem êxito, acabar com a censura com processo na justiça sob o argumento de que era inconstitucional” (SERBIN, 2001, p. 349). Um dos documentos enviados para publicação no seminário, vetado pelos censores da ditadura militar, consiste no Diário do Congresso Nacional Dos Miliares, datada de 6 de agosto de 1977, narrando uma discussão a respeito de término da imposição da censura prévia do semanário O São Paulo. Tendo em vista que outros meios de comunicação o término da imposição da censura prévia, por parte dos militares, iniciou a partir de 1975, com a chegada de Geisel à presidência. Conforme Gorender (1987), a ditadura militar alcançou o ápice do fechamento, o que trouxe consequências imediatas. Essa censura foi um ato inflexível impôs o controle total da imprensa. Deixaram de circular publicações de oposição nos principais meios de comunicação como Jornais, Rádio e Televisão, algumas pessoas foram presas e forçadas a sair do país e se asfixiou a vida social de uma nação. Educadores universitários sofreram uma persevera punição da aposentadoria compulsória e emigraram para ensinar no exterior. 14 Figura 4 – Tanques ocupam a Avenida Presidente Vargas Fonte: Commons, 2016 Embora o jornal “O Povo” fosse, no Inveterado [primeiro período, de 1963 a 1966, em que o governador Virgílio Távora esteve no poder no Estado do Ceará], alinhado a um partido político, a UDN, em função dos laços de seu proprietário, Paulo Sarasate, com esse partido e, consequentemente com Virgílio Távora, não se pode deixar de observar o crescimento do jornal durante essa fase: compra de equipamentos mais modernos, elevação do número de páginas, etc. Era a lenta transição do jornal “O Povo” de “jornal-político” a “jornal-empresa” que se iniciava com o Inveterado. (NUNES, 1994, p. 65) A aliança com os militares “os donos do poder” interessava aos proprietários das grandes redes de comunicações brasileiras, pois o acordo firmado como grande negócio, que se eram expandia e tinha uma verdadeira modernização na estrutura de suas empresas. Conforme Weber (2000), o Governo foi o propulsor do crescimento e da modernização das mídias, tendo como ideal o crescimento econômico para o seu negócio; os militares faziam propostas irrecusáveis aos grandes proprietários, que não tendo outra alternativa mais viável aceitavam para que sua emissora não fosse impedida de executar suas comunicações. A censura teve um papel fundamental no sistema de controle ideológico e, consequentemente da propaganda. Todo os assuntos, temas e dúvidas em relação às afirmações da propaganda oficial tinham sua divulgação proibida (GARCIA,1990, p.91) 15 A censura englobava a mídia de um modo geral como: Rádio, Jornal e Televisão, mas também era nos livros publicados pela editora que exercia uma exigência no vocabulário para que o leitor pudesse ler de forma que não colocasse o Regime Militar como um perigo para a sociedade; as músicas brasileiras não ficavam de fora, também era confiscadas para ter a certeza que suas letras não atingiriam o poder político militar. O Cantor Chico Buarque foi um dos que foram perseguidos pelo regime militar, aonde a ditadura colocava em seu disco as músicas que o cantor iria cantar em seus shows. Figura 5 – Chico Buarque sendo barrado em seu show por cantar músicas que desagradavam o regime militar da época Fonte: Observatório da Imprensa Os artistas Brasileiros também sofriam com as perseguições políticas em que os militares exerciam; alguns não poderiam cantar suas músicas, antes que o regime olhasse a letra; para assim ser lançado nacionalmente em todo território Nacional, os que se recusavam eram detidos pela polícia local, sendo até presos por desacato a autoridade. 16 4 METODOLOGIA De acordo com a metodologia, este estudo se classifica como descritivo devido pelos seus objetivos, porque descreve características de um objeto de estudo específico. Pela natureza dos dados, é classificado como qualitativa por buscar a compreensão e a interpretação de fenômenos. (GONSALVES, 2012) Köche (2011) concebe várias formas de conhecer, no entanto, a ciência moderna trouxe um método prático e eficaz na busca da verdade, compreendido pelo experimento, em formular hipóteses, repetir a experimentação para averiguar as hipóteses e formular generalizações ou leis ou teorias.Para a produção desse trabalho foi realizado um estudo qualitativo, por meio de revisão bibliográfica sistematizada, utilizando artigos publicados nacional e internacional mente, no período compreendido entre 2007 a 2019, abordando o tema aspectos o papel da mídia no golpe de 1964. A pesquisa foi realizada em plataformas digitais, tais como: Scielo, sendo utilizados os seguintes termos para a pesquisa: “Ditadura”; “Golpe”; “Mídia”. O levantamento foi realizado nos meses de abril a outubro de 2019; os critérios de inclusão foram coerência com o tema, desta forma, foram utilizados 20 artigos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final deste trabalho, podemos apresentar alguns raciocínios à guisa de conclusão, sem, no entanto, ter o intuito de esgotar o assunto, mas sim, de gerar uma reflexão acerca da tomada do poder pelos militares em abril de 1964. O Golpe de 1964 foi um grande movimento que anulou o processo de eleições diretas que foi realizada no ano 1960, tendo um resultado histórico no governo Brasileiro; os militares estavam procurando provas para trabalhar no processo de tomada de poder e análises como base, constando razões que incentivassem o grande desmoronamento da eleição democrática, tendo a sociedade desamparada pelo grande declínio do governo. Faz-se também necessário ressaltar que o plano dos militares era também de proibir ou censurar a imprensa, para não passar a sociedade Brasileira, uma imagem de crueldade e ao mesmo tempo de poder por parte dos militares que estavam no poder da Pátria. Os atos destes militares simbolizaram a face mais Comentado [LB13]: O conteúdo apresentado neste item está de acordo com as orientações do Manual. Comentado [LB14]: O conteúdo apresentado neste item está de acordo com as orientações do Manual. 17 emblemática de disputas de poder que o Brasil já presenciou durante o Golpe de 1964. O processo noticioso é um jogo praticado por equilibristas, onde a notícia é resultado de imbricações socioeconômicas, políticas complexas e múltiplas. Desse jogo, participam o jornal, o jornalismo, o poder agregado e ainda interesses mercadológicos inerentes ao veículo midiático. Entendemos que o objetivo geral dessa pesquisa que era “expor e discutir o papel e a forte influência da mídia e da grande imprensa em geral na elaboração do golpe” foi atingido ao revelarmos que jornais como O Globo, Jornal do Brasil criticavam ferrenhamente o presidente João Goulart, atribuindo-lhe o caráter de comunista. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Emanoel, Jornalismo e política: a construção do poder. Estudos em Jornalismo e Mídia Vol. III Nº 1 – 1º semestre de 2006. p. 11-22. BORGES, Altamiro. A mídia e o golpe militar de 64. Carta Maior. 31 de março de 2011. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-midia-e- o-golpe-militar-de-64/4/16829>. Acesso em: 21 Nov. 2019. CANIELLES, Ariela dos Santos; OLIVEIRA, Avelino da Rosa. A Emancipação Humana: uma Abordagem a partir de Karl Marx. V Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo. Marxismo, Educação E Emancipação Humana 11, 12, 13 E 14 de abril de 2011. Florianópolis/SC: UFSC, 2011. p. 1-18. COMMONS. 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