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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 1 Câncer de mama SP 2.1 - SAÚDE DA MULHER, SEXUALIDADE HUMANA E PLANEJAMENTO FAMILIAR 1) DESCREVER A EPIDEMIOLOGIA E OS FATORES DE RISCO DO CÂNCER DE MAMA; O câncer de mama é na atualidade uma questão de saúde pública mundial. Sua incidência vem aumentando em praticamente todas as regiões do planeta. No Brasil ocorrem em torno de 58 mil casos novos de câncer de mama anualmente, com incidência estimada de 56,20 casos a cada 100 mil mulheres (Inca, 2018). Sem considerar os tumores de pele não melanoma, esse tipo de câncer também é o primeiro mais frequente nas mulheres das regiões Sul (74,30/100 mil), Sudeste (68,08/100 mil), Centro-Oeste (55,87/100 mil) e Nordeste (38,74/100 mil). Na região Norte, é o segundo tumor mais incidente (22,26/100 mil). O câncer de mama é o tumor que possui a maior incidência e a maior mortalidade na população feminina em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. O câncer de mama é o segundo mais comum no mundo e, de longe, o tipo de câncer mais frequente entre as mulheres, com estimativa de 1.670.000 novos casos diagnosticados em 2012 (25% de todos os casos de câncer) (Ferlay et al., 2014). A maioria dos casos ocorre em mulheres residentes em regiões mais desenvolvidas. As taxas de incidência variam de quase quatro vezes em todas as regiões do mundo, com taxas que variam de 27/100 mil habitantes, na África Oriental e na Ásia Oriental, a 96/100 mil habitantes na Europa Ocidental. O câncer de mama é classificado como a quinta causa de morte por câncer geral (522 mil óbitos) e, embora seja a mais frequente causa de morte por câncer em mulheres em regiões menos desenvolvidas (324 mil mortes, 14,3% do total), agora é a segunda causa de morte por câncer em regiões mais desenvolvidas (198 mil mortes, 15,4%), após o câncer de pulmão. No passado, o diagnóstico era feito durante exame clínico ou pela própria paciente quando já apresentava tumores com tamanhos possíveis de serem palpados. É consenso entre os autores que o tamanho do tumor e as condições dos linfonodos regionais são os fatores prognósticos de maior importância na mulher com câncer de mama. Quanto maior o tumor, maior a chance de metástase para linfonodo e menor a sobrevida. A detecção precoce compreende basicamente duas estratégias: o diagnóstico precoce, que significa abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas da doença, e o rastreamento, que significa a aplicação de teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões suspeitas de câncer em estádio pré-clínico. O estabelecimento de um programa de rastreamento apropriado não deve ser realizado para todas as mulheres, mas apenas para aquelas na faixa etária em que a incidência seja de tal ordem que justifique seu custo e benefício. Os programas nacionais de rastreamento devem ser adaptados de acordo com as condições de cada lugar, para que sejam efetivos, tenham boa acurácia e sejam economicamente viáveis. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) colocou para apreciação pública, em outubro de 2014, novas Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama, publicadas em 2015. O planejamento adequado para cada região vai permitir que programas adequados alcancem seu objetivo principal em longo prazo, que é diminuir a mortalidade por câncer de mama. O rastreamento deve contemplar populações de risco padrão para o desenvolvimento do câncer de mama, chamado de risco populacional. Existem diferenças regionais, e as mulheres apresentam determinado risco populacional de desenvolver um câncer de mama. No mundo, o risco de uma mulher com idade entre 0 e 74 anos apresentar câncer de mama durante a vida – risco cumulativo –, é de 4,6%, enquanto nas regiões mais desenvolvidas é de 7,9% e nas regiões menos desenvolvidas é de 3,2%. No Brasil, o risco é de 6,3%, nos EUA, de 10,3%, no Canadá, de 8,6% e no Reino Unido, de 10,1% (Ferlay et al., 2014). FATORES DE RISCO → Idade e Gênero: O câncer de mama é raro em mulheres com menos de 25 anos, mas sua incidência aumenta rapidamente após os 30 anos (Fig. 19.26); 75% das mulheres com câncer de mama têm mais de 50 anos de idade e somente 5% possuem idade inferior a 40 anos. A incidência em homens é apenas 1% daquela observada em mulheres. → História Familiar de Câncer de Mama: O risco maior é para indivíduos com vários parentes de primeiro grau afetados por câncer de mama de início precoce. Na maioria das famílias, acredita-se que várias combinações de baixa penetrância e genes de câncer “vulneráveis” são responsáveis por risco aumentado. Entretanto, cerca de 5% a 10% dos cânceres de mama ocorrem em pessoas que herdam mutações em genes Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 2 supressores de tumores altamente penetrantes em células de linhagens germinativas (discutidos posteriormente). Para esses indivíduos, o risco de câncer de mama pode ser superior a 90%. → Fatores Geográficos: Diferenças significativas nas taxas de incidência e mortalidade de câncer de mama foram relatadas em vários países. O risco é significativamente maior nas Américas e na Europa do que na Ásia e na África. Por exemplo, as taxas de incidência e mortalidade são cinco vezes maiores nos Estados Unidos do que no Japão. Alguns fatores de risco devem ser modificáveis porque os migrantes de áreas de baixa incidência para áreas de alta incidência tendem a adquirir as taxas de seus novos países. Acredita-se que a dieta, os padrões reprodutivos e as práticas de amamentação estejam envolvidos. De acordo com isso, as taxas de câncer de mama parecem aumentar em regiões do mundo que estão adotando hábitos ocidentais. → Raça/Etnia: A taxa mais alta de câncer de mama é em mulheres de ascendência europeia, em grande parte devido a uma maior incidência de cânceres RE- positivos. As mulheres hispânicas e afro-americanas tendem a desenvolver câncer em uma idade mais jovem e são mais propensas a desenvolver tumores agressivos. Acredita-se que tais disparidades são resultantes de uma combinação de diferenças genéticas, fatores sociais e acesso a cuidados de saúde. Esses fatores têm sido objetos de intensos estudos. → História Reprodutiva: A idade precoce da menarca, a nuliparidade, a ausência de aleitamento materno e a idade avançada na primeira gravidez estão associadas a risco aumentado, provavelmente porque cada um destes fatores aumenta a exposição das células epiteliais da mama “em risco” à estimulação estrogênica. → Radiação Ionizante: A radiação no tórax aumenta o risco de câncer de mama se a exposição ocorrer enquanto a mama ainda estiver em desenvolvimento. Por exemplo, o câncer de mama se desenvolve em 25% a 30% das mulheres submetidas à irradiação para linfoma de Hodgkin na adolescência e na faixa dos 20 anos, porém o risco para as mulheres tratadas de faixa etária maior não é elevado. → Outros Fatores de Risco: A obesidade pós- menopausa, a reposição hormonal pós-menopausa, a densidade mamográfica e o consumo de álcool também foram implicados como fatores de risco. O risco associado à obesidade provavelmente é devido à exposição da mama ao estrogênio produzido pelo tecido adiposo. Dessa forma, a obesidade só está associada a risco aumentado para tumores que expressam RE. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH), principalmente a terapia combinada de estrogênio e progesterona, aumenta o risco do câncer de mama. O risco elevado de desenvolver a doença diminui progressivamente após a suspensão da TRH. A TRH é o uso de hormônios para aliviar os sintomas da menopausa, fase em que os ovários deixam de produzir estrogênio e progesterona. 2) DESCREVER A FISIOPATOLOGIA DOCÂNCER DE MAMA E RELACIONAR COM AS MANIFESTAÇÃO CLÍ NICAS; Três características importantes distinguem a mama de outros órgãos. Em primeiro lugar, em vez de ser essencial para a sobrevivência, sua principal função é o suporte nutricional de outro indivíduo, o bebê. Em segundo lugar, a estrutura do órgão sofre mudanças marcantes ao longo da vida: expansão do sistema lobular após a menarca, remodelação periódica durante a idade adulta, especialmente durante e após a gravidez, e, finalmente, involução e regressão dos lóbulos. Finalmente, as mamas são visíveis eapresentam um significado social, cultural e pessoal, não compartilhado por outros órgãos. Todas essas características são importantes ao se considerar as origens, as apresentações e o tratamento das doenças mamárias. A unidade funcional da mama é o lóbulo, que é sustentado por um estroma intralobular especializado. As células epiteliais luminais internas produzem leite durante a lactação. As células mioepiteliais basais possuem função contrátil para assim auxiliar na ejeção do leite e também ajudam a sustentar a membrana basal. Os ductos são canais condutores de leite que alcançam o mamilo. O tamanho da mama é determinado principalmente pelo estroma interlobular, que aumenta durante a puberdade e involui com a idade. Cada constituinte normal é uma fonte de lesões benignas e malignas. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 3 Origem das doenças mamárias: As lesões epiteliais benignas incluem os papilomas intraductais que crescem em padrão sinusoidal abaixo do mamilo e a hiperplasia epitelial que surge nos lóbulos. As lesões epiteliais malignas são principalmente os carcinomas mamários, que podem permanecer in situ ou invadir a mama e se espalhar por metástase. As células especializadas do estroma intralobular (verde) podem gerar fibroadenomas e tumores filoides, enquanto o estroma interlobular (vermelho) pode originar uma variedade de tumores benignos e malignos raros. APRESENTAÇÕES CLÍNICAS DAS DOENÇAS MAMÁRIAS Os sinais e sintomas predominantes de doenças da mama são dor, alterações inflamatórias, secreção do mamilo, granulosidade, ou uma massa palpável. No entanto, poucos sintomas são tão graves que necessitem tratamento, sendo assim a principal razão para investigar a sua causa é avaliar a possibilidade de malignidade. A maioria das lesões sintomáticas da mama (>90%) é benigna. Ao se considerar as mulheres com câncer, cerca de 45% apresentam sintomas, enquanto o restante é diagnosticada por meio de exames de rastreamento. A dor (mastalgia ou mastodinia) é um sintoma comum, muitas vezes relacionado com a menstruação, possivelmente devido ao edema cíclico e inchaço. A dor localizada em uma área específica é geralmente causada pela ruptura de um cisto ou por trauma no tecido adiposo (necrose gordurosa). Praticamente todas as massas dolorosas são benignas, entretanto, por razões desconhecidas, uma pequena fração dos cânceres (cerca de 10%) causa dor. A inflamação resulta em uma mama edematosa e eritematosa. É rara e muitas vezes causada por infecções, que só ocorrem com alguma frequência durante a lactação e amamentação. Uma doença muito semelhante ao quadro inflamatório é o carcinoma “inflamatório” da mama (discutido posteriormente). A secreção do mamilo pode ser normal quando em pequeno volume e bilateral. A lesão benigna mais comum que produz secreção no mamilo é o papiloma, o qual surge nos grandes ductos embaixo do mamilo. As secreções que são espontâneas, unilaterais e sangrentas possuem maior risco para malignidade. Geralmente, granulosidade ou uma nodularidade difusa em toda a mama são provocadas pelo tecido glandular normal. Quando pronunciadas, os exames de imagem podem ajudar a determinar se uma massa discreta está presente. Massas palpáveis podem surgir de proliferações de células estromais ou de células epiteliais e geralmente são detectadas quando apresentam 2 a 3 cm de tamanho. A maioria (aproximadamente 95%) é benigna; essas lesões tendem a ser redondas ou ovais, com limites circunscritos bem definidos. Em contraste, os tumores malignos normalmente invadem vários planos de tecido e possuem margens irregulares. No entanto, como alguns tipos de cânceres crescem enganosamente como massas circunscritas, todas as massas palpáveis exigem avaliação. A ginecomastia é o único sintoma da mama comum nos homens. Existe um aumento tanto do estroma quanto das células epiteliais, resultante de um desequilíbrio entre os estrogênios, que estimulam o tecido mamário, e os androgênios, os quais neutralizam esses efeitos. Sintomas na apresentação clínica de doenças mamárias. (A) Sintomas comuns relacionados com a mama que levam os pacientes a procurar atendimento médico. (B) Apresentações do câncer de mama. Independentemente da apresentação de sintomas, a probabilidade de malignidade aumenta com a idade. Por exemplo, o risco de uma secreção do mamilo ser causada por câncer aumenta de 7% em mulheres com idade inferior a 60 anos para 30% em mulheres com mais de 60 anos. De modo semelhante, apenas 10% das massas palpáveis em mulheres com idade inferior a 40 anos são carcinomas, já em mulheres com mais de 50 anos esse percentual aumenta para 60%. O rastreamento mamográfico foi introduzido na década de 1980 como um exame para detectar carcinomas de mama assintomáticos em fase inicial e não palpáveis, antes da sua disseminação metastática. A mamografia cumpriu essa promessa, pois o tamanho médio dos carcinomas invasivos detectados por este exame é de cerca de 1 cm (significativamente menor do que os cânceres identificados por palpação) e destes apenas 15% sofrerão metástase para os linfonodos regionais no momento do diagnóstico. Atualmente, nos Estados Unidos, a maioria dos cânceres em mulheres com mais de 50 anos de idade é detectada por mamografia. Tal como acontece com as lesões de mama sintomáticas, a probabilidade de um Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 4 achado mamográfico anormal ser causado por uma lesão maligna aumenta com o avançar da idade, de 10% aos 40 anos para mais de 25% em mulheres com idade superior a 50 anos. O carcinoma da mama é a doença maligna mais comum em mulheres em todo o mundo (excluindo-se o câncer de pele não melanoma) e causa a maioria das mortes por câncer em mulheres. Embora a incidência nos Estados Unidos tenha reduzido em 2002 e em seguida estabilizado (mudanças atribuídas à diminuição no uso da terapia hormonal na pós- menopausa e à estagnação do número de mulheres submetidas ao rastreamento mamográfico), a incidência e a mortalidade no mundo estão aumentando em um ritmo alarmante. Acredita-se que os principais fatores subjacentes a esta tendência nos países em desenvolvimento são as mudanças sociais que aumentam o risco de câncer de mama - especificamente, gestações tardias, menos gestações e diminuição da amamentação - combinada à falta de acesso a melhores cuidados de saúde. O risco de câncer de mama ao longo da vida é de 1 em 8 para as mulheres que vivem até os 90 anos nos Estados Unidos. Previa-se que cerca de 250 mil cânceres de mama seriam diagnosticados em 2016 e que aproximadamente 40 mil mulheres morreriam dessa doença, mortalidade menor apenas em relação ao câncer de pulmão. Desde meados da década de 1980, a taxa de mortalidade caiu de 30% para menos de 20%. Esta diminuição é atribuída tanto ao avanço do rastreamento, que detecta alguns tipos de câncer antes de metastizarem, quanto ao tratamento sistêmico mais eficiente. Quase todas as doenças malignas da mama são adenocarcinomas (>95%). No sistema de classificação mais útil clinicamente, os cânceres de mama são divididos com base na expressão de receptores hormonais — receptorde estrogênio (RE) e receptor de progesterona (RP) — e a expressão do receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2, também conhecido como ERBB2), em três grandes grupos: • RE positivo (HER2-negativo; 50%-65% dos cânceres). • HER2 positivo (RE-positivo ou negativo, 10%-20% dos cânceres). • Triplo negativo (RE, RP e HER2 negativos, 10%-20% dos cânceres). Estes três grupos apresentam diferenças marcantes nas características do paciente, aspectos patológicos, resposta ao tratamento, padrões metastáticos, tempo de recidiva e desfecho. Dentro de cada grupo há subtipos histológicos adicionais, e alguns deles também possuem importância clínica. Um sistema de classificação alternativo com substancial sobreposição baseia-se no perfil da expressão gênica. Este sistema, atualmente utilizado sobretudo no contexto da pesquisa clínica, classifica os cânceres de mama em quatro tipos principais: • Luminal A. A maioria são cânceres RE-positivos de menor grau que aqueles HER2-negativos. • Luminal B. A maioria são cânceres RE-positivos de maior grau, que podem ser HER2-positivos. • HER2-enriquecido. A maioria superexpressa o HER2 e não expressa o RE. • Semelhante ao basal. A maioria se assemelha às células mioepiteliais basais no tocante ao perfil de expressão gênica, e são RE-negativos e HER2- negativos. PATOGENIA Os três principais subtipos de câncer de mama definidos pela expressão diferencial de receptores hormonais e HER2 surgem através de caminhos mais ou menos distintos, e que envolvem a aquisição progressiva de mutações condutoras nas células epiteliais do sistema ductal/lobular. Os fatores que contribuem diretamente para o desenvolvimento do câncer de mama podem ser agrupados em: • Genéticos; • Hormonais; e • Ambientais. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 5 Principais vias de desenvolvimento do câncer de mama. A via mais comum (seta amarela) provoca o desenvolvimento de cânceres RE-positivos. As lesões precursoras morfologicamente reconhecidas incluem a atipia epitelial plana, a HDA e o CDIS, que compartilham certos eventos genômicos com os carcinomas invasivos RE- positivos, tais como ganhos no cromossomo 1, perdas no cromossomo 16 e mutações do PIK3CA (o gene que codifica PI3K). Esses tipos de câncer são classificados como “luminais”, com base no perfil de expressão gênica. Este é o tipo de câncer mais comum em indivíduos com mutações germinativas do BRCA2. Menos comuns são os cânceres que superexpressam o HER2 devido à amplificação do gene (seta verde). Esses cânceres podem ser RE- positivos ou negativos e geralmente estão associados a mutações do gene TP53 na linhagem germinativa. Uma possível lesão precursora é a adenose apócrina atípica, que compartilha características com o CDIS apócrino. O tipo de câncer de mama menos comum, porém molecularmente mais peculiar, é aquele negativo tanto para RE quanto HER2 (“triplo negativo”; seta azul). Esses cânceres possuem perda da função dos genes BRCA1 e TP53 e são genomicamente instáveis. A maioria dos cânceres triplo- negativos é classificada como “semelhante ao basal” pelo perfil de expressão genética. GENÉTICA As mutações condutoras em genes de câncer que contribuem para a carcinogênese da mama podem ser subdivididas em herdadas e adquiridas. As principais mutações em células da linhagem germinativa, que conferem suscetibilidade ao câncer de mama, afetam os genes que regulam a estabilidade genômica ou aqueles envolvidos em vias de sinalização que estimulam o crescimento. O BRCA1 e BRCA2 são genes supressores de tumores clássicos, o câncer surge somente quando ambos os alelos estão inativados ou defeituosos. Os genes BRCA1 e BRCA2 codificam proteínas necessárias para o reparo de certos tipos de danos ao DNA. Eles são normalmente expressos em várias células e tecidos diferentes, e o motivo pelo qual as mutações nesses genes na linhagem germinativa conduzem principalmente a um risco aumentado de câncer de mama e câncer de ovário seroso (discutido anteriormente) permanece obscuro. O grau de penetrância, a idade de início e a suscetibilidade a outros tipos de cânceres diferem entre as várias mutações do BRCA1 e BRCA2 em linhagem germinativa, no entanto a maioria dos portadores desenvolve câncer de mama até os 70 anos de idade, em comparação ao risco médio de cerca de 12% das mulheres desenvolverem câncer de mama. Por razões pouco claras, as mutações do BRCA2 são primariamente associadas a tumores RE-positivos, enquanto as mutações do BRCA1 mostram uma forte associação com os tipos de câncer triplo negativo. Outros genes mutados associados ao câncer de mama familiar incluem o TP53 (denominado “guardião do genoma”), e o PTEN (um importante regulador negativo da via PI3K-AKT pró-crescimento), este último já mencionado anteriormente como fator de risco para o desenvolvimento do carcinoma endometrial como parte da síndrome de Cowden. Como seria de se esperar, as vias em que os genes familiares de câncer de mama atuam são muitas vezes afetadas também nos cânceres de mama esporádicos. As mutações somáticas nos genes BRCA1 e BRCA2 são raras nos cânceres esporádicos, porém o BRCA1 é inativado por metilação em até 50% dos cânceres triplo-negativos. As mutações somáticas no gene TP53 são comuns no câncer de mama, particularmente nos tipos triplo-negativo e HER2-positivos, enquanto as mutações que ativam a via de sinalização PI3KAKT são frequentemente encontradas em cânceres de mama esporádicos RE-positivos e HER2-positivos. Uma mutação condutora comum, clinicamente importante no câncer de mama, é a amplificação do gene HER2. O HER2 é um receptor de tirosina cinase que promove a proliferação celular e se opõe à apoptose através da estimulação das vias de sinalização RAS e PI3K-AKT. Os cânceres que superexpressam HER2 são patogenicamente distintos e altamente proliferativos. No passado, eles possuíam um prognóstico ruim; entretanto, a disponibilidade de agentes terapêuticos que visam especificamente o HER2 melhorou acentuadamente o prognóstico de pacientes com tumores HER2- amplificado. INFLUÊNCIAS HORMONAIS Os estrogênios estimulam a produção de fatores de crescimento, tais como o fator transformador de crescimento-α, o fator de crescimento derivado de plaquetas, o fator de crescimento de fibroblastos, entre outros, os quais podem promover o Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 6 desenvolvimento de tumores através de mecanismos parácrinos e autócrinos. Além disso, o RE regula dezenas de outros genes de modo estrogênio dependente, alguns dos quais são importantes para o desenvolvimento ou crescimento tumoral. As influências hormonais provavelmente induzem a proliferação celular durante o desenvolvimento de cânceres, a partir de lesões precursoras que tipicamente expressam fortemente RE, para carcinomas completamente malignos e até mesmo metastáticos. A importância do estrogênio é claramente demonstrada pelos benefícios terapêuticos dos antagonistas do estrogênio, os quais reduzem o desenvolvimento de cânceres REpositivos em mulheres de alto risco e ainda são pilares no tratamento de tumores RE-positivos. FATORES AMBIENTAIS Acredita-se que as influências ambientais sejam responsáveis pela incidência variável de câncer de mama em grupos geneticamente homogêneos (p. ex., mulheres japonesas que vivem no Japão e nos Estados Unidos) e pelas diferenças geográficas na incidência do câncer de mama, como discutido anteriormente. MORFOLOGIA A localização mais comum dos tumores de mama é no quadrante superior externo (50%), seguido pela porção central (20%). Cerca de 4% das mulheres com câncer de mama possuem tumores primários bilaterais ou lesões sequenciais na mesmamama. Os cânceres de mama são classificados morfologicamente conforme sua penetração ou não na camada basal. Aqueles que permanecem dentro desse limite são denominados carcinomas in situ e aqueles que se espalharam para além da camada basal são designados como carcinomas invasivos. As principais formas de carcinoma de mama são classificadas conforme descrito a seguir: A. Não invasivo 1. Carcinoma ductal in situ. 2. Carcinoma lobular in situ. B. Invasivo 1. Carcinoma ductal invasivo (inclui todos os carcinomas que não são de tipo especial) - 70% a 80%. 2. Carcinoma lobular invasivo - cerca de 10% a 15%. 3. Carcinoma com características medulares - aproximadamente 5%. 4. Carcinoma mucinoso (carcinoma coloide) - aproximadamente 5%. 5. Carcinoma tubular - aproximadamente 5%. 6. Outros tipos. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Conforme discutido anteriormente, em populações não rastreadas (incluindo mulheres jovens, para as quais o rastreamento não é indicado), a maioria dos cânceres de mama é detectada pela paciente afetada como uma massa palpável. Tais carcinomas são quase todos invasivos e tipicamente possuem pelo menos 2 a 3 cm de tamanho. Ao menos metade desses cânceres já terá se espalhado para os linfonodos regionais. Em populações rastreadas com idades mais avançadas, cerca de 60% dos cânceres de mama são descobertos antes que os sintomas estejam presentes. Cerca de 20% são carcinomas in situ. Os carcinomas invasivos detectados através do rastreamento em mulheres mais velhas possuem um tamanho de 1 a 2 cm e apenas 15% já apresentarão metástase para linfonodos. Os cânceres palpáveis na faixa etária mais avançada são frequentemente cânceres de “intervalo” — cânceres que aparecem de repente entre os intervalos do rastreamento periódico. Compreensivelmente, muitas vezes os cânceres de intervalo são altamente proliferativos e geralmente são de alto grau. O desfecho clínico para uma mulher com câncer de mama pode ser previsto com base nas características moleculares e morfológicas do câncer e no seu estadiamento no momento do diagnóstico. Os fatores que influenciam o prognóstico incluem: → Tipo biológico. O tipo biológico do câncer é avaliado por uma combinação do aspecto histológico, grau (incluindo a taxa de proliferação), expressão de receptores hormonais e expressão de HER2. A proliferação é avaliada pela quantidade de mitoses e está intimamente ligada à capacidade de resposta à quimioterapia citotóxica. Isso ocorre porque as células de câncer de crescimento rápido são mais sensíveis aos agentes que danificam o DNA ou que de outra forma interferem na divisão celular. A expressão de receptores de estrogênio ou progesterona prediz a resposta à terapia antiestrogênica. O crescimento de cânceres que possuem receptores hormonais pode ser inibido por muitos anos com essa terapia e é possível que as pacientes sobrevivam por longos períodos com metástases à distância. No entanto, a resistência pode eventualmente se desenvolver — em alguns tipos de câncer devido a mutações no gene que codifica o RE. Em contraste, não há terapia disponível direcionada para cânceres triplo-negativos, que são tratados com quimioterapia. Os cânceres que não respondem à terapia inicial metastizam e geralmente causam a morte da paciente. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 7 A superexpressão do HER2 é observada em cerca de 20% dos cânceres de mama. O HER2 continua a ser um dos exemplos mais bem caracterizados de uma terapia eficaz direcionada para uma lesão molecular específica do tumor. Antes da terapia-alvo, que pode ser constituída por anticorpos bloqueadores ou por pequenos inibidores moleculares do HER2, os resultados eram semelhantes aqueles observados em pacientes com carcinomas triplo-negativos. Ainda assim, as taxas de resposta completa excedem 60% quando a terapiaalvo é combinada à quimioterapia e as perspectivas melhoraram significativamente para esses pacientes. → O perfil de expressão do RNA é um método mais recente de subclasificação do câncer. Para os cânceres de mama muitos dos genes que predizem o prognóstico estão envolvidos na proliferação. O maior valor clínico desses ensaios consiste na sua capacidade de identificar pacientes com câncer de crescimento lento e responsivos ao antiestrogênio, os quais podem ser poupados da toxicidade da quimioterapia. → Estadiamento tumoral. “Estádio” é uma medida da extensão do tumor no momento do diagnóstico e é importante para todos os tipos biológicos de carcinoma. Baseia-se em características do tumor primário (T), no envolvimento de linfonodos regionais (N) e na presença de metástases à distância (M). 3) DIFERENCIAR OS TIPOS DE CÂNCER DE MAMA (PROGRESSÃO DOS DIFERE NTES SUBTIPOS); CARCINOMA (IN SITU) NÃO INVASIVO Existem dois tipos morfológicos de carcinoma de mama não invasivos: carcinoma ductal in situ (CDIS) e carcinoma lobular in situ (CLIS). Os termos ductal e lobular são enganosos, já que se acredita que ambos os tipos de CIS (carcinoma in situ) surjam de células do ducto terminal que dão origem aos lóbulos. O CLIS geralmente expande os lóbulos envolvidos, enquanto o CDIS distorce os lóbulos formando espaços semelhantes a ductos. Por definição, ambos os tipos “respeitam” a membrana basal e não invadem o estroma nem os canais linfovasculares. Carcinoma in situ. (A) Carcinoma lobular in situ (CLIS). (B) Carcinoma ductal in situ (CDIS). O CDIS envolve parcialmente o lóbulo na metade inferior desta micrografia e apaga completamente os lóbulos superiores, resultando em uma aparência semelhante a ducto. (C) Detecção mamográfica de calcificações associadas ao CDIS. O CDIS apresenta uma grande variedade de apresentações histológicas, incluindo o tipo sólido, comedo, cribriforme, papilar, micropapilar e “agregado”. A aparência nuclear varia de monótona (grau nuclear baixo) à pleomórfica (grau nuclear alto). O subtipo peculiar comedo é caracterizado por uma necrose central extensa que produz tecido necrótico semelhante a dentifrício, o qual por sua vez extrusa de ductos seccionados com aplicação de pressão suave. As calcificações frequentemente estão associadas ao CDIS, resultantes da calcificação de debris necróticos ou material de secreção. O CDIS constitui apenas 5% dos cânceres de mama em populações não rastreadas, porém pode alcançar uma taxa de até 30% em populações rastreadas, em grande parte devido à capacidade da mamografia detectar calcificações. As atuais estratégias de tratamento para o CDIS utilizam a cirurgia e a irradiação para eliminar a lesão. O tratamento com agentes antiestrogênicos, como o tamoxifeno, também diminui o risco de recorrência de CDIS RE-positivos. O prognóstico é excelente, com mais de 97% de sobrevida a longo prazo. Se não for tratado, o CDIS evolui para câncer invasivo em cerca de um terço dos casos, geralmente na mesma mama e quadrante que o CDIS precedente. A doença de Paget do mamilo é causada pela extensão do CDIS até os ductos lactíferos e para dentro da pele contígua ao mamilo, produzindo um exsudato crostoso unilateral sobre o mamilo e a pele areolar. Ao contrário da doença de Paget do pudendo feminino (descrita anteriormente), a doença de Paget do mamilo deriva da extensão in situ de um carcinoma subjacente. O prognóstico do carcinoma de origem é afetado pela presença da doença de Paget e é determinado por outros fatores (discutidos na seção Características Clínicas). O CLIS possui aparência uniforme. As células são monomórficas, com núcleos suaves e esféricos e são observadas em aglomerados fracamente coesos dentro dos lóbulos. O CLIS é quase sempre um achado acidental porque, ao contrário do CDIS, raramente está associado a calcificações. Por isso, a incidência do CLISpermaneceu inalterada em populações rastreadas por mamografia. Aproximadamente um terço das mulheres com CLIS eventualmente desenvolve carcinoma invasivo. Ao contrário do CDIS, os carcinomas invasivos precedidos de um diagnóstico de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 8 CLIS podem surgir em qualquer mama - 2/3 na mesma mama e 1/3 na mama contralateral. Assim, o CLIS é tanto um marcador de um risco aumentado de carcinoma em ambas as mamas quanto um precursor direto de alguns tipos de câncer. As opções de tratamento atuais incluem acompanhamento clínico e radiológico frequente, quimioprevenção com tamoxifeno ou, menos comumente, mastectomia profilática bilateral. CARCINOMA INVASIVO (INFILTRANTE) Padrões histológicos característicos dos subtipos de carcinoma invasivo: O carcinoma ductal invasivo é um termo utilizado para todos os carcinomas que não podem ser subclassificados em um dos tipos especializados descritos adiante. A maioria dos cânceres (70%-80%) pertence a esse grupo. Esse tipo de câncer normalmente está associado ao CDIS. O aspecto microscópico varia desde tumores com túbulos bem desenvolvidos e núcleos de baixo grau até tumores constituídos por lâminas de células anaplásicas. Muitos carcinomas ductais invasivos produzem uma resposta desmoplásica que substitui a gordura da mama normal (resultando em densidade mamográfica) e eventualmente forma uma massa irregular dura e palpável. Cerca de 50 a 65% dos carcinomas ductais são RE-positivos, 20% são HER2-positivos e 15% são negativos tanto para RE quanto para HER2. Padrões de crescimento de carcinomas de mama invasivos. (A) A maioria cresce como túbulos (carcinoma “ductal”) e estimula uma proliferação estromal desmoplásica reativa. Em mamografias (B), esses carcinomas aparecem como massas densas com margens espirais resultantes da invasão de tecido mamário radiolúcido adjacente. (C) Os carcinomas lobulares são compostos por células tumorais não coesivas que invadem como cordões lineares de células e induzem pouca resposta estromal. Consequentemente, em mamografias (D) os carcinomas lobulares geralmente aparecem como massas relativamente discretas e irregulares (setas). (E) Raramente, os carcinomas são constituídos por grupos de células firmemente aderidas, como neste carcinoma com características medulares ou então quando há abundante produção de mucina extracelular. (F) Tais tumores podem aparecer como massas bem circunscritas em mamografias, com características similares aquelas de lesões benignas. O carcinoma lobular invasivo é constituído por células infiltrantes que são morfologicamente semelhantes às células tumorais observadas no CLIS; na verdade, dois terços dos casos estão associados ao CLIS. Estes tumores compreendem de 10 a 15% de todos os carcinomas mamários. As células invadem o estroma individualmente e, muitas vezes, estão alinhadas em cordões de “células isoladas”. Embora a maior parte se manifeste como massas palpáveis ou como densidades mamográficas, um subgrupo significativo invade sem produzir uma resposta desmoplásica; tais tumores podem ser clinicamente ocultos e de difícil detecção por exames de imagem. Os carcinomas lobulares possuem um padrão único de metástase entre os cânceres de mama, pois frequentemente se espalham para o líquido cefalorraquidiano, superfícies serosas, sistema gastrointestinal, ovário, útero e medula óssea. Quase todos os carcinomas lobulares expressam receptores hormonais, enquanto que a superexpressão do HER2 é rara. Os carcinomas com características medulares são um tipo especial de câncer triplo-negativo, que inclui cerca de 5% de todos os cânceres de mama. Esses carcinomas geralmente crescem como massas arredondadas e podem ser de difícil distinção de tumores benignos em exames por imagem. Consistem em agrupamentos de células anaplásicas grandes associados a infiltrados linfocíticos pronunciados compostos predominantemente por células T. A presença de linfócitos está associada a um prognóstico favorável, pelo menos em parte devido a melhor resposta à quimioterapia em comparação a carcinomas pouco diferenciados sem infiltrados linfoides. Esse tipo de carcinoma é frequentemente observado em mulheres com mutações do gene BRCA1 na células da linhagem germinativa, porém a maioria das mulheres com esses carcinomas não são portadoras. O carcinoma mucinoso (coloide) é um tumor RE- positivo/HER2- negativo que produz quantidades abundantes de mucina extracelular. Esses tumores geralmente são moles e gelatinosos por causa da Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 9 presença de depósitos de mucina que criam uma massa expansiva bem circunscrita. O carcinoma tubular é outro tipo de câncer RE- positivo/HER2- negativo e quase sempre é detectado através da mamografia como uma pequena massa irregular. As células tumorais estão dispostas em túbulos bem formados e possuem núcleos de baixo grau. As metástases linfonodais são raras e o prognóstico é excelente. O carcinoma inflamatório é definido pela sua apresentação clínica, em vez de uma morfologia específica. Os pacientes apresentam uma mama inchada, eritematosa e sem massa palpável. O carcinoma invasivo subjacente geralmente é pouco diferenciado e se infiltra de modo difuso obstruindo os espaços linfáticos dérmicos, causando assim a aparência “inflamada”; no entanto, uma inflamação verdadeira está ausente. Muitos desses tumores sofrem metástase para locais distantes; a taxa de sobrevida global de cinco anos é inferior a 50% e compreensivelmente ainda menor naqueles com doença metastática no momento do diagnóstico. Cerca de metade expressam RE e de 40% a 60% superexpressam HER2. Todos os tipos de carcinoma invasivo da mama recebem um grau de 1 (baixo grau) até 3 (alto grau) com base no pleomorfismo nuclear, na formação de túbulos e na proliferação. Os núcleos de baixo grau são semelhantes em aparência aos núcleos das células normais. Os núcleos de alto grau são maiores e apresentam contornos nucleares irregulares resultantes do conteúdo e estrutura do DNA anormais. A maioria dos carcinomas de baixo grau formam túbulos bem definidos e podem ser de difícil distinção de lesões benignas, enquanto que os carcinomas de alto grau perdem essa capacidade e invadem com padrões de agrupamentos sólidos ou como células isoladas. A proliferação é avaliada através da quantidade de figuras de mitose. A maioria dos carcinomas HER2-positivos e triplo-negativos são altamente proliferativos, enquanto que os cânceres RE-positivos possuem uma grande variação na taxa de proliferação. 4) CARACTERIZAR OS MÉTODOS DIAGNÓSTICOS E ESTADIAMENTO; A suspeita da presença das lesões de risco geralmente é levantada pelo rastreamento mamográfico. A verificação mais comum (60% a 90% dos casos) é de um agrupamento de microcalcificações amorfas. O CLIS às vezes pode aparecer como massa, assimetria ou distorção arquitetural. Não é comum existir tradução ultrassonográfica, mas podem ocorrer massas irregulares lobuladas, hipoecoicas, sem achados na superfície posterior. Pela ressonância magnética (RM), realces sem nodulações são as observações mais comuns; quando achados anormais são exclusivamente vistos por RM, merecem também biópsia. Para a confirmação diagnóstica, impõe-se uma biópsia, que quase sempre é feita por meio de punção percutânea por agulha grossa (core biopsy ou mamotomia). Às vezes, as lesões de risco podem também ser reconhecidas microscopicamente como achados incidentais, amiúde em análise de parênquima retirado em cirurgias plásticas mamárias. AUTOEXAME E EXAME CLÍNICO DAS MAMAS O autoexame das mamas não é recomendado como forma de rastreamento do câncer de mama. A consistência dos resultados dos dois grandesensaios clínicos e das revisões sistemáticas sobre o tema fez com que, nos últimos 10 anos, o ensino do autoexame deixasse de ser recomendado no meio acadêmico e pelos programas de rastreamento na maior parte do mundo. Não há efeito de tal prática sobre a redução da mortalidade por câncer de mama. A prática ocasional da observação e da autopalpação das mamas, no contexto do conhecimento do próprio corpo, podendo ser realizadas de forma sistemática e com periodicidade fixa, mas não deve ser confundida com a aplicação do método como rastreamento padronizado, como ocorre no autoexame das mamas. A primeira é uma estratégia de diagnóstico precoce cujo objetivo é tornar as mulheres mais conscientes do aspecto normal de suas mamas, suas variações normais e dos sinais de alerta. Dessa forma, o autoexame contribui para ampliar sua capacidade de identificar, de forma mais precoce possível, o aparecimento de sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama. O exame clínico das mamas, realizada pelo profissional de saúde, demonstrou reduzir a mortalidade por câncer de mama, entre 50 e 60 anos, em virtude da lipossubstituição adiposa, que aumenta a sensibilidade na palpação. MAMOGRAFIA O método de escolha dos programas de rastreamento é a mamografia. Todavia, o exame ideal para o diagnóstico precoce ainda não foi perfeitamente desenvolvido. Ainda que controverso, a mortalidade por câncer de mama pode ser reduzida pela utilização de programas de rastreamento mamográfico. Embora a qualidade dos ensaios clínicos seja de qualidade moderada acerca da eficácia do rastreamento mamográfico na redução da mortalidade por câncer de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 10 mama, esse efeito na redução do risco absoluto é pequeno, ficando em torno de 0,05%. Apesar disso, particularmente nos países em desenvolvimento, muitas mulheres não fazem sequer uma mamografia em qualquer período de sua vida. As razões de tal fato são complexas, percorrendo desde obstáculos culturais até econômicos, relacionados ao paciente, ao prestador da assistência médica e às instituições públicas ou privadas. LIMITAÇÕES DA MAMOGRAFIA Em relação à composição e à distribuição do tecido fibroglandular, a mama pode variar desde predominantemente adiposa até acentuadamente densa. Essa variação está relacionada à sensibilidade da mamografia, pois se sabe que o câncer de mama é normalmente radiodenso e tem caracterização prejudicada dependendo da constituição mamária. A mamografia tem taxa global de falso-negativo que varia de 10% a 22%, elevando para 30% a 35% nas pacientes com mamas densas (ICSN, 2012). A mamografia deve ser realizada sempre em duas projeções, que rotineiramente deve incluir a craniocaudal e a oblíqua externa. A projeção craniocaudal permite observar a maior parte do tecido mamário, exceto a porção alta dos quadrantes superiores e o prolongamento axilar. A projeção oblíquo-externa inclui toda a mama, o prolongamento axilar e parte da região axilar. A classificação de BI-RADSTM, de acordo com a densidade mamária, se divide em quatro categorias: 1. Predominantemente adiposa; 2. Densidades fibroglandulares esparsas; 3. Heterogeneamente densa; e 4. Acentuadamente densa. A sensibilidade mamográfica é menor à medida que aumenta a densidade. MAMOGRAFIA DIGITAL Na tentativa de minimizar a perda da sensibilidade da mamografia convencional (por filme), foi idealizado, em 1991, o mamógrafo com tecnologia digital, acreditando-se na grande promessa dessa tecnologia de implementar a acurácia da mamografia na detecção do câncer de mama. Esse sistema é um processamento computadorizado para captar, realçar a armazenar imagens mamográficas. A comparação entre as duas tecnologias, convencional (MC) e digital (MD) tem sido objeto de estudo. Em revisão sistemática dos estudos clínicos de todos os equipamentos para MD aprovados nos EUA comparados com a MC, encontraram resultados que mostram equivalência entre as técnicas quando aplicados no rastreamento do câncer de mama. O maior estudo multicêntrico prospectivo comparando as duas tecnologias revelou similaridade quanto à acurácia das técnicas, como já demonstrado em estudos anteriores, no entanto a MD teve acurácia significativamente maior nas mulheres com menos de 50 anos, mulheres com mamas densas e na pré e perimenopausa. Conclui-se então que a MD tem acurácia maior nesses grupos específicos de mulheres. A tecnologia digital com o tempo vai substituir os mamógrafos convencionais, porém a desvantagem da MD é que o equipamento custa muito mais e, por ser relativamente recente, a obtenção de experiência dos operadores com essa tecnologia vai levar mais tempo até que se alcance experiência compatível com a MC. ULTRASSONOGRAFIA O rastreamento do câncer de mama pela ultrassonografia (US) apresenta limitações, principalmente pela baixa capacidade em detectar microcalcificações agrupadas. A US, pouco mais do que a MG, depende, para sua utilização como método de rastreamento, de aparelhos de alta resolução e tem dependência direta do médico investigador. O tempo necessário é maior do que aquele despendido com o rastreamento mamográfico. A ineficácia da documentação ultrassonográfica não adequadamente descrita dificulta a interpretação de outros observadores, e esse é um importante fator limitante. A sensibilidade da mamografia para detecção do câncer de mama declina significativamente com o aumento da densidade mamária. A adição do rastreamento ultrassonográfico pode aumentar a detecção de tumores pequenos em um número mais significativo do que o acréscimo do exame clínico. Preconizamos a ultrassonografia como complementar à mamografia quando necessária, e não como rotina. Apesar da inexistência de evidências do impacto do rastreamento com ultrassonografia na mortalidade geral ou específica por câncer de mama, a prática do uso da ultrassonografia como método de rastreamento do câncer de mama é muito comum na prática clínica. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DAS MAMAS A RM tem sido considerada o exame de maior sensibilidade para o câncer de mama. Existem dois motivos principais para isso: não é radiação ionizante, como a mamografia, e a sua sensibilidade não depende de densidade do tecido mamário. A técnica da RM consiste na realização de uma série de imagens com alta resolução espacial e temporal, Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 11 antes e após a administração do meio de contraste intravenoso chamado gadolínio. A utilização do contraste é obrigatória, pois a identificação de uma lesão maligna ou benigna e, portanto, a sensibilidade do método, depende fundamentalmente do realce da lesão proporcionado pelo meio de contraste. A presença de características do realce na lesão depende da quantidade de vasos local, das modificações na permeabilidade vascular e da existência de alterações no interstício da lesão. O estudo de características morfológicas e cinéticas dos realces permite identificar lesões benignas, provavelmente benignas e aquelas suspeitas de malignidade e, portanto, classificá-las de acordo com a ACR BI-RADS™ para RM. Apesar de resultados falsos-negativos terem sido descritos, a RM é considerada altamente sensível na detecção do câncer invasivo, com sensibilidade ao redor de 90% na maioria dos estudos. Entretanto, com relação à detecção do carcinoma ductal in situ (CDIS), a sensibilidade da RM pode variar entre 40% e 100%. Podem ser encontrados resultados falsos-negativos em casos de CDIS e, mais raramente, em casos de carcinomas invasores. A especificidade da RM das mamas tem sido reportada entre 37% e 100%, porém na maioria dos estudos varia entre 50% e 70%. Essa especificidade relativamente baixa da RM é a desvantagem,pois proporciona grande taxa de falsos-positivos, levando a procedimentos diagnósticos desnecessários. Por isso, os critérios de classificação das imagens têm que seguir rigorosamente os padrões estabelecidos atualmente. A Mamografia é o principal instrumento no rastreamento do câncer de mama. A RM pode ser necessária na avaliação de achados mamográficos e ultrassonográficos indeterminados, principalmente em mulheres mais jovens e mamas densas. Nesse particular, a RM é considerada, no momento, como integrante do rastreamento por imagens em mulheres de alto risco para câncer de mama. As demais indicações da RM das mamas são aplicações clínicas durante planejamento cirúrgico e controle terapêutico do câncer de mama. TOMOSSÍNTESE De acordo com Diretrizes de Consenso Nacional protocoladas pelo MS e pelo Inca, a tomossíntese mamária, mamografia tridimensional ou mamografia tomográ fica, introduziu a tecnologia digital à mamografia, permitindo a avaliação tridimensional da mama (Inca, 2015). As imagens bidimensionais da mamografia são menos sensíveis em mulheres com mamas densas, sobretudo aquelas que estão em maior risco de desenvolver câncer de mama. A tomossíntese é uma técnica que oferece múltiplas e finas imagens da mama obtidas a partir de diferentes ângulos do tubo de raios X, enquanto a mama permanece estática e ligeiramente comprimida, permitindo cortes finos, passíveis de serem reconstruídos pelo computador em imagens tridimensionais, resultado obtido por essas imagens; ao minimizar a sobreposição do tecido mamário sobrejacente, tem o potencial de aumentar a detecção precoce de lesões ocultas por sobreposição de estruturas e pequenos tumores, em especial aqueles não calcificados, que se apresentam como assimetrias, distorções arquiteturais e nódulos espiculados. Até o momento, apesar de promissor, não foram identificados estudos sobre a eficácia do rastreamento por tomossíntese na redução da mortalidade geral por câncer de mama, sendo assim, não é recomendado, nem implementado com essa finalidade. Deve ser indicada em casos específicos como os descritos e não como substituto da mamografia. ANAMNESE A anamnese em mastologia deve conter, além das queixas espontâneas, a idade da menarca e menopausa, idade da primeira gestação de termo, lactação, exposição a hormônios ou radiação ionizante, cirurgias mamárias, e especial atenção deve ser dada aos antecedentes pessoais e familiares de câncer. As queixas mais frequentes na prática clínica da mastologia são dor mamária, nódulo e descarga papilar. A idade, depois do sexo, é o principal fator de risco para câncer de mama, sendo uma patologia cuja incidência é maior quanto mais idosa for a paciente. Um antecedente pessoal de câncer mamário aumenta significativamente o risco de um segundo câncer. As cirurgias mamárias, estéticas ou diagnósticas, podem produzir distorções no parênquima mamário que comprometem o exame clínico e prejudicam a interpretação da mamografia. EXAME CLÍNICO O exame clínico completo consiste na inspeção estática, dinâmica, palpação, expressão, palpação axilar e fossa supraclavicular. As anomalias detectadas devem ser anotadas, se possível registrando em formulário que contenha desenhos em que seja possível colocar a localização topográfica e o tamanho em centímetros da alteração encontrada. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 12 PROPEDÊUTICA MINIMAMENTE INVASIVA PARA ELUCIDAÇÃO CITO-HISTOLÓGICA Com o advento das técnicas minimamente invasivas no diagnóstico das lesões não palpáveis da mama, o interesse pelo diagnóstico histológico por meio da biópsia cirúrgica diminuiu nos últimos anos. Elas terminaram por terem finalidade preferencialmente terapêutica. A elucidação histológica das microcalcificações agrupadas tem como método de eleição a mamotomia guiada por estereotaxia, enquanto para as massas e nódulos a escolha recai sobre a biópsia percutânea com agulha grossa (core biopsy) guiada por ultrassonografia. Quando existe indicação para excisão cirúrgica de uma lesão subclínica, as técnicas disponíveis são o ROLL (localização de lesão oculta radioguiada), a localização com fio-guia metálico ou a localização intraoperatória por US. Embora a localização radioguiada tenha algumas vantagens sob o fio-guia metálico, os custos de tal prática ainda não a tornam disponível para a maioria das pacientes. A indicação de verificação histológica de lesões mamárias é ditada pela correta categorização das mamas de acordo com o BIRADS (Breast Imaging Reporting and Data System) mamográfico, ultrassonográfico e, eventualmente, da RM. A partir da categorização dos exames de imagem pelo BIRADSTM, a decisão na indicação de elucidação histológica de uma lesão mamária ficou dependente da conduta preconizada por esse modelo. Lesões categorizadas como 4 e 5 são candidatas à verificação histológica. As lesões BI-RADS 3 podem ter essa indicação, que depende dos antecedentes pessoais e familiares de risco para câncer de mama e da preferência da paciente pelo seguimento semestral da lesão por três anos, uma vez que a probabilidade de malignidade dessas lesões é menor que 2%. CORE BIOPSY (BIÓPSIA PERCUTÂNEA COM AGULHA GROSSA) A core biopsy, ou biópsia percutânea com agulha grossa – true cut –, foi um avanço no instrumental propedêutico diagnóstico em mastologia. Tal prática é de grande valia, com taxas de acurácia próximas à da biópsia cirúrgica, permitindo em muitos casos evitar intervenções cirúrgicas. A agulha possui uma fenestra que recolhe amostras da lesão após o disparo de um sistema de mola. A rápida aceitação que a core biopsy teve se deve às suas vantagens em relação à PAAF (Punção aspirativa com agulha fina) e às biópsias cirúrgicas. Em relação à primeira, tem como vantagem menor índice de resultado falso-negativo e insuficiente, permitindo com o fragmento da lesão elucidar a gradação histológica, invasão do estroma e pesquisa de receptores hormonais ou outros marcadores imunoistoquímicos. Nos casos de diagnóstico histológico de malignidade, sendo a proposta cirúrgica a mastectomia, dispensa a análise anatomopatológica intraoperatória de congelação, pois existe o diagnóstico prévio. A sensibilidade da core biopsy é de 70% a 99%, sofrendo influência do tamanho e tipo de lesão, sendo menor nas microcalcificações e carcinoma ductal in situ e maior nos nódulos sólidos. A especificidade é próxima de 100% ESTADIAMENTO TUMORAL. “Estádio” é uma medida da extensão do tumor no momento do diagnóstico e é importante para todos os tipos biológicos de carcinoma. Baseia-se em características do tumor primário (T), no envolvimento de linfonodos regionais (N) e na presença de metástases à distância (M). O sistema de estadiamento AJCC/UICC, utilizado nos Estados Unidos e na Europa, classifica os tumores como T1, T2 e T3 com base no tamanho do tumor, enquanto que os tumores T4 apresentam ulceração na pele, envolvimento dos músculos profundos da parede torácica ou são clinicamente diagnosticados como carcinoma inflamatório. Inicialmente, a maioria dos cânceres metastiza para os linfonodos regionais e o envolvimento linfonodal é um fator prognóstico muito forte. Na maioria das pacientes, a drenagem linfática vai para um ou dois linfonodos sentinelas axilares. Se esses linfonodos não estiverem afetados, os linfonodos axilares restantes estão geralmente livres de carcinoma. A biópsia do linfonodo sentinela tornou-se o procedimento padrão para avaliar o acometimento linfonodal, substituindo as dissecações de linfonodos mais extensas, que estão associadas a morbidade significativa. As metástases distantes (M) são detectadas apenas em 5% das mulheres recém-diagnosticadas. O estádio 0 compreende o CIS, que estáassociado a taxas de sobrevivência superiores a 95%. O estádio I inclui mulheres com cânceres pequenos e lindonodos livres de carcinoma ou com micrometástases muito pequenas. A sobrevida em dez anos é de aproximadamente 86%. Os carcinomas são classificados como estádio II ao apresentarem tamanho maior de tumor ou por possuírem até três linfonodos positivos. A sobrevida declina para aproximadamente 71% na fase II. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 13 O estádio III consiste no grupo de cânceres localmente avançados, definidos por tamanho grande, pelo envolvimento da pele ou parede torácica ou por quatro ou mais linfonodos positivos. A sobrevida em dez anos é de aproximadamente 54% apenas. O estádio IV é reservado para pacientes com metástases à distância e a sobrevida é muito pequena (cerca de 11%). O local mais provável de recorrência distante varia de acordo com o tipo biológico de câncer. Os cânceres triplonegativos e os cânceres HER2 são mais propensos a metastizarem para o cérebro e as vísceras, em oposição aos cânceres RE- positivos, que geralmente apresentam metástases nos ossos. ESTADIAMENTO AXILAR A pesquisa do linfonodo sentinela (LNS) é padrão em pacientes com câncer de mama inicial. Quando o LNS é negativo, no exame de congelação ou no HE, a linfonodectomia axilar não é necessária. A linfonodectomia axilar também não é necessária na presença de micro metástase ou até dois linfonodos comprometidos. Hoje, a melhor compreensão da biologia tumoral tem determinado a indicação de tratamento sistêmico cada vez mais pelas características do tumor primário. Existe, portanto, uma tendência para o abandono do LNS em tumores em que o tratamento sistêmico esteja indicado pelas características (histológicas, imunoistoquímicas e painel gênico) do tumor primário. Indicações A pesquisa do LNS está indicada em todas as pacientes com carcinoma invasivo da mama sem metástase axilar, nos carcinomas in situ, quando estiver indicada uma mastectomia e após quimioterapia neoadjuvante com axila clinicamente negativa inicialmente. Na presença de axila clinicamente positiva realizar PAAF ou biópsia do linfonodo com clipagem do mesmo. Na eventualidade de quimioterapia neoadjuvante (QTNEO), o clip permite que se confirme o verdadeiro linfonodo que foi biopsiado e este seja examinado adequadamente. A presença de cirurgia prévia na axila ou na mama não contraindica a pesquisa do LNS. A combinação do estádio e dos fatores biológicos pode proporcionar uma avaliação mais precisa do prognóstico. Por exemplo, para cada estádio de câncer, a sobrevida de pacientes com câncer RE-positivo é maior do que a dos pacientes com câncer REnegativo cinco anos após o diagnóstico, especialmente nos Estágios III e IV. Deve-se notar, no entanto, que essa vantagem diminui com o tempo, apresentando diferenças progressivamente menores a partir de dez anos após o diagnóstico. Essa redução na diferença de sobrevida é explicada por dois fatores. Primeiro, a maioria das mortes por câncer RE-negativo ocorre em até cinco anos após o diagnóstico. As mulheres que vivem além deste ponto são aquelas cujos tumores exibiram excelentes respostas ao tratamento e muitas dessas mulheres podem ter sido curadas. Em segundo lugar, embora o crescimento dos cânceres REpositivos seja mantido sob controle por anos através da terapia antiestrogênio, esta terapia não é curativa e esses cânceres podem eventualmente tornar-se resistentes ao tratamento. Historicamente, quase todas as mulheres com câncer de mama não tratado morrem no período de três a quatro anos. Entretanto, grandes progressos foram feitos em termos de tratamento e atualmente 80% das mulheres com câncer de mama que recebem terapia ideal sobreviverão. A terapia endócrina com tamoxifeno e inibidores de aromatase é muito eficaz para cânceres RE-positivos, os quais podem permanecer dormentes por muitos anos. A terapia- alvo promete ser mais efetiva e menos tóxica do que a quimioterapia convencional, como já comprovado pela melhoria marcante na sobrevida de mulheres com carcinomas HER2- positivos após a administração de terapias que tem o HER2 como alvo. Novas abordagens para a terapia-alvo incluem a inibição de vias alternativas de reparo do DNA em cânceres que possuem o gene BRCA mutado e o bloqueio da via de sinalização PI3K-AKT. A terapia imune de bloqueio de ponto de checagem ainda está em avaliação em pacientes portadores de câncer de mama. Espera-se que essas novas abordagens melhorem os desfechos clínicos de pacientes com subtipos que hoje em dia possuem prognóstico geralmente ruim, como o câncer de mama triplo-negativo. 5) ABORDAR OS DIFERENTES PLANOS TERAPÊUTICOS DO CÂNCER DE MAMA, CORRELACIONANDO O RESULTADO DO TRATAMENTO À QUALIDADE DE VIDA DA MULHER; O TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO realizado em câncer de mama não-metastático tem como principal objetivo a redução do risco de recorrência e consequentemente aumento da sobrevida global. A Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 14 administração em caráter neoadjuvante tem como propostas adicionais a redução do tumor, permitindo cirurgia menos extensa com melhora dos resultados estéticos e redução de complicações pós-operatórias como linfedemas. Quimioterapia neoadjuvante também permite uma avaliação precoce da eficácia da terapia sistêmica. A presença ou ausência de doença residual após quimioterapia neoadjuvante é um fator prognóstico importante para risco de recorrência, especialmente em tumores triplo negativos. Apesar da hipótese de que a quimioterapia neoadjuvante poderia tratar precocemente micrometástases, estudos randomizados têm demonstrado que os resultados de sobrevida e risco de recorrência são equivalentes à terapia adjuvante. Um potencial benefício da quimioterapia neoadjuvante, independente do tumor primário, é a regressão do acometimento linfonodal em pacientes com axila clinicamente comprometida Carcinoma lonular in situ O diagnóstico de carcinoma lobular in situ (CLIS) por biópsia com agulha grossa deve ser seguido de ressecção cirúrgica para afastar possibilidade de associação com carcinoma ductal in situ ou carcinoma lobular invasor. Os achados de pleomorfismo e necrose no espécime da biópsia por agulha grossa aumentam o risco de carcinoma lobular invasivo. Na variante pleomórfica é recomendável a obtenção de margens livres na cirurgia. O seguimento deve ser realizado com exame físico a cada 12 meses após o tratamento, e uma mamografia anual. A quimioprevenção (hormonioterapia) com tamoxifeno 20mg/dia para pacientes na pré- menopausa e raloxifeno 60mg/dia ou inibidor da aromatase na pós-menopausa durante cinco anos deve ser oferecida para a paciente. Devendo-se considerar os riscos e os benefícios da quimioprevenção. Pacientes de risco devem receber aconselhamento genético e testes genéticos de acordo com o risco. Carcinoma ductal in situ (CDIS) A avaliação inclui história, exame físico e mamografia. A patologia deve ser revisada por patologista com experiência em câncer de mama, e status dos receptores de estrogênio e progesterona deve ser determinado. Não é recomendada a pesquisa do HER 2 em pacientes com carcinoma in situ, pois não altera a conduta. Não se conhece o valor prognóstico do HER-2 em CDIS. Para o carcinoma ductal in situ o padrão é a ressecção segmentar com margens livres seguida de radioterapia na mama. Se o receptor de estrogênio e ou progesterona for positivo na imunoistoquímica a paciente deve receber 20mg/dia de tamoxifeno por 5 anos na pré-menopausa ou tamoxifeno ou inibidor na aromatase na pós-menopausa. O NCCN (National Comprehensive Cancer Network) recomenda como opções para tratamento do CDIS: ressecção segmentar e radioterapia;mastectomia simples com ou sem reconstrução ou ressecção segmentar seguida de observação clínica. Não existe nenhuma evidência de benefício de sobrevida entre estas três opções de tratamento. A opção de não se adicionar radioterapia (RXT) em tratamento conservador da mama deve ser oferecida somente para pacientes consideradas de baixo risco. O NCCN recomenda a adição de tamoxifeno no CDIS em pacientes com RE+ (Receptores de estrogênio positivos) tratados com preservação da mama e radioterapia, naquelas com RE- (Receptores de estrogênio negativos) o papel do tamoxifeno é desconhecido. O seguimento após tratamento do CDIS é exame físico a cada seis/doze meses durante os primeiros 5 anos, depois anualmente. Mamografia deve ser realizada anualmente, e em pacientes que realizaram TCM, a mamografia deve ser realizada de 6 a 12 meses após o término do tratamento. Carcinoma ductal invasivo O carcinoma inflamatório da mama (CIM) é um câncer de mama, na maioria das vezes um carcinoma ductal invasivo, que apresenta uma evolução clínica com características incomuns, graves e de evolução rápida, em semanas ou meses. Quimioterapia neoadjuvante: No tratamento multimodal do CIM, a QT é o primeiro e mais importante procedimento, além de ser o único com impacto sistêmico e aumento de sobrevida. Esquemas de Antraciclinas e Taxanos são os mais usados. HER2 superexpresso deve receber terapia alvo-HER2. Cirurgia: A indicação cirúrgica após a QT precisa que haja regressão do edema, da vermelhidão cutânea e haja possibilidades de margens cirúrgicas livres. O padrão atual é a mastectomia radical modificada, sem reconstrução imediata. Biópsia do linfonodo sentinela em CIM é contra indicada. Radioterapia: A radioterapia para o plastrão, axila, regiões infra e supra claviculares é o padrão.Quando o edema e a vermelhidão não regridem de forma significativa, após a QT NEO, pode ser tentada uma radioterapia pré-operatória. Hormonoterapia: Se os receptores hormonais forem positivos, a hormonoterapia deve ser indicada após a RXT. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 15 Terapias loco-regionais, como cirurgia e radioterapia, aumentam o controle local, mas ainda sem evidência clara de aumento de sobrevida. TRATAMENTO CIRÚRGICO DO CÂNCER DE MAMA A cirurgia do câncer de mama tem como objetivo primordial atingir o equilíbrio entre: obtenção de margens livres, respeito aos princípios oncológicos do tratamento; preservação de parênquima mamário e resultado estético satisfatório. Durante décadas, o tratamento cirúrgico padrão para o câncer de mama era a mastectomia radical modificada. Entretanto, depois que inúmeros estudos demonstraram que a cirurgia preservadora da mama seguida de radioterapia tem resultados oncológicos semelhantes (sobrevida) em comparação à mastectomia no tratamento do câncer de mama inicial (estádio I e II ), tem-se , sempre que possível, tentado oferecer a cirurgia conservadora; desde que um bom resultado estético possa ser alcançado. É fundamental, quando indicado o tratamento conservador, a obtenção de margens cirúrgicas livres. Atualmente esse conceito é definido pela ausência de tumor na margem da tinta utilizada no histopatológico (com ou sem componente de CDIs). Atualmente são consideradas contraindicações para tratamento conservador as seguintes situações: • pacientes gestantes que vão necessitar de radiação durante a gravidez; • presença de microcalcificações difusas à mamografia por todo o parênquima mamário; • margens patológicas difusamente comprometidas; • carcinoma de mama em homens; e • desejo da paciente São consideradas contraindicações relativas: • radioterapia prévia na mama ou na parede torácica; • pacientes portadoras de doenças ativas do tecido conectivo (escleroderma e lúpus); • relação tumor / mama desfavorável; • presença de multicentricidade (dois ou mais focos de neoplasia na mesma mama, fora do segmento que compreende a lesão principal); • margens focalmente comprometidas; • indisponibilidade de radioterapia complementar; • pacientes com possibilidade de acompanhamento incerto. Um tipo de reabilitação pós tratamento cirúrgico é feito através da cirurgia plástica de reconstrução, assim como com os serviços paramédicos de auxílio (fisioterapia, psicologia, etc.) A cirurgia plástica de reconstrução pode ser realizada imediata ou posteriormente, e dependerá tanto do tipo de tumor, quanto do tipo de tratamento pós cirúrgico proposto. Trata-se de procedimento complexo, constando de diversas etapas, dependendo do tipo de cirurgia realizada no tumor. Não se pode deixar de observar que a reconstrução mamária após mastectomia também é intensamente influenciada pelo desejo e estado emocional da paciente. Outros fatores interferem na opção por esta prática, tais como a idade da mulher, seu estado afetivo, profissão, ter ou não filhos, e cultura na qual está inserida. SEGUIMENTO APÓS TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA Uma revisão sistemática de todos os estudos randomizados sobre seguimento após tratamento do câncer de mama foi publicado em 2016. Não houve nenhuma diferença de sobrevida entre realização de mamografia anual ou a adição de outros exames de imagem. Pacientes tratadas de câncer de mama devem realizar uma mamografia anual. Se o tratamento foi conservador, a mamografia deve ser realizada seis meses após o término do tratamento. Exame físico deve ser realizado a cada seis meses nos dois primeiros anos, e depois anualmente. As pacientes devem ser orientadas quanto aos sinais e sintomas de recidiva, e nas usuárias de tamoxifeno orientar sobre sangramento vaginal anormal, e na presença deste realizar ultrassonografia transvaginal. Não há evidências de benefício de exames de imagem em mamas reconstruídas. Pacientes em uso de inibidor de aromatase devem ter uma densitometria de base e periódica. Pacientes em uso de bifosfonato devem ser avaliados por um dentista, pelo aumento do risco de necrose de manbíbula, e receber suplementação de cálcio e vitamina D. Encorajar as pacientes para realizarem atividade física (manter IMC entre 20-25), alimentação adequada, moderar no consumo de álcool. 6) IDENTIFICAR AS COMPLICAÇÕES DO CA DE MAMA E DO SEU TRATAMENTO; QUIMIOTERAPIA E FERTILIDADE A quimioterapia pode impactar na fertilidade das pacientes que desejam engravidar após o tratamento do câncer de mama, e estas devem receber orientação quanto à preservação da fertilidade. Devem ser encaminhadas para um especialista em reprodução humana para discutir as opções de congelação de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 16 embrião ou óvulo. A gravidez durante o tratamento do câncer de mama deve ser evitada. METÁSTASE CEREBRAL A metástase cerebral é o primeiro sítio de metástase em 12% das pacientes com câncer de mama. São mais frequentes em pacientes jovens, tumores triplo negativos, HER-2 positivo e na presença de metástase axilar. Em uma revisão que incluiu 14.5991 pacientes com metástase cerebral de câncer de mama a idade média ao diagnóstico foi de 50.3 anos e a idade no momento do diagnóstico do câncer de mama foi de 48.8 anos. A sobrevida mediana foi de 15 meses. Em 54% dos casos a metástase era múltipla e 63,2% tinham outro sítio metastático. Os principais sintomas foram cefaleia, vômitos, náuseas e hemiparesia. Os fatores associados a melhor prognóstico foram metástase única, menor ou igual a 5cm, ausência de metástase extracraniana, KPS maior que 70 e tumores receptor homornal positivo ou HER-2 positivo. METÁSTASE PULONAR Aproximadamente 20-30% dos pacientes com câncer de mama inicial apresentarão metástase à distância. Graças aos avanços nas terapias sistêmicas e uma melhor compreensão dabiologia tumoral, a sobrevida das pacientes com câncer de mama metastático (CMM) tem melhorado, contudo, a sobrevida média após quimioterapia com taxanos e antraciclinos é de 12-24 meses, e a taxa de cura é muito baixa. Atualmente, o tratamento padrão para o CMM é a terapia sistêmica com agentes citotóxicos, biológicos e/ou hormonais, sendo a radioterapia e/ou cirurgia reservada para o tratamento de metástases sintomáticas não responsivas ao tratamento sistêmico. O tratamento local “potencialmente curativo” é considerado em pacientes com CMM somente se a doença é oligometastática, que se caracteriza por um número limitado de metástases (geralmente ≤ 5) e tumores primários controlados. Habitualmente, a detecção de doença pulmonar metastática é acompanhada por metástases concorrentes em outros órgãos (ossos, fígado, cérebro, pleura) e para linfonodos intra e extratorácicos. Apenas 10-25% das pacientes com CMM tem envolvimento pulmonar isolado. METÁSTASES ÓSSEAS Metástase óssea é um dos principais sítios de dissiminação do câncer de mama e evolui com considerável morbidade e forte impacto na qualidade de vida devido ao quadro doloroso associado, risco de fratura patológica, compressão nervosa e hipercalcemia. Complicações resultam da elevada reabsorção óssea que caracteriza as lesões ósseas malignas. O alvo do tratamento é o controle da atividade osteoclástica para prevenir as complicações. Os bifosfonatos tem sido largamente usados com este propósito. Inúmeros estudos comprovam sua eficácia na prevenção dos eventos esqueléticos. Atualmente o uso de anticorpos monoclonais específicos contra mediadores de atividade osteoclástica têm demonstrado impacto importante na terapia. COMPLICAÇÕES APÓS TRATAMENTO CIRÚRGICO DA MAMA As possíveis complicações pós-cirurgia mamária são diversas e multifatoriais. Estas podem ser divididas em complicações gerais inerentes a qualquer procedimento (infecção, deiscência de ferida, trombose venosa, formação de escara ou cicatriz hipertrófica, hematoma e seroma) e complicações específicas da técnica de reconstrução utilizada (isquemia e necrose de retalho microcirúrgico, encapsulamento de prótese mamária etc.). Alguns fatores de risco implicam aumento de complicações gerais, entre eles a própria doença neoplásica (cirurgia para reconstrução após16 procedimento de ressecção oncológica), tabagismo, obesidade, idade avançada, radioterapia adjuvante, presença de diabetes e pacientes imunossuprimidos. A quimioterapia, seja ela neoadjuvante ou adjuvante, não se correlaciona diretamente com aumento de complicações pós- operatórias no tratamento do câncer de mama. Entre todas as possíveis complicações, a infecção mamária após mastectomia é uma intercorrência preocupante — alguns estudos reportam incidência de até 2,5%, considerando a possível gravidade associada e evolução para fasciite necrosante. Estudos demonstram que a reconstrução mamária imediata no mesmo ato cirúrgico (após ressecção) e a ressecção linfonodal são fatores de risco independentes para infecção no pós-operatório; ainda, o uso de próteses ou expansores pode aumentar em até 10 vezes o risco infeccioso. A despeito dos dados, a recomendação atual é pela reconstrução mamária imediata após mastectomia, por causa do benefício psicológico e dos estigmas para a mulher associados a tal procedimento. Entre as possíveis complicações infecciosas, destaca- se a grave evolução para fasciite necrosante, complicação que não só traz danos estéticos para a mulher, mas, principalmente, importante risco de vida. Essa infecção acomete os tecidos profundos, especialmente as fáscias musculares e o tecido subcutâneo adjacente, espalhando-se por Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 17 contiguidade. Em geral, o músculo em si é inicialmente preservado, em virtude de sua rica vascularização, e, portanto, melhor depuração imunológica dos agentes infectantes; entretanto, em fase avançada pode acarretar grande destruição tecidual e invasão da corrente sanguínea, resultando em septicemia. Os agentes relacionados são, principalmente, Streptococcus beta-hemolítico do grupo A e anaeróbicos, porém outros agentes também podem ser encontrados, como cepas de Staphylococcus. O tratamento, portanto, deve ser precoce e agressivo na suspeição do quadro, e17 inclui uso de polimicrobianos e debridamento cirúrgico. Alguns estudos também defendem o benefício da terapia com oxigênio hiperbárico, sendo essa conduta restrita pela sua baixa disponibilidade nos serviços de saúde. O esquema inicial adequado de antibiótico consiste em um betalactâmico, como cefalosporina de terceira geração, associado à clindamicina para cobertura de anaeróbicos e ação específica antiestafilocócica. Deve ser realizada cultura dos tecidos debridados e ter especial atenção para cepas estafilocócicas resistentes (MRSA), sendo tratadas com vancomicina. As complicações possíveis do esvaziamento axilar incluem a lesão do nervo de Bell ou torácico longo. Essa lesão pode levar ao quadro de escápula alada, visto que esse nervo tem por função agir sobre o músculo serrátil anterior, responsável pela manutenção da escápula na parede torácica. Outro nervo frequentemente lesado durante esse procedimento é o intercostobraquial, que pode levar a parestesias na face interna do braço ipsilateral. COMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS A partir do diagnóstico até o tratamento, a mulher com câncer de mama pode perder sua homeostase, e passaar por períodos de: raiva, tristeza, inquietação, ansiedade, angústia, medo e luto. Isso porque a incerteza, a possibilidade de recorrência ou morte se fazem presentes. Muitas vezes a paciente mantém segredo sobre sua doença por medo de ser estigmatizada e rejeitada devido ao preconceito da sociedade em relação a não aceitação ao câncer de mama, por ainda estar este associado ao estigma de morte. Pode, com isto, protelar a procura do tratamento necessário, vindo, sem dúvida, a prejudicar sua saúde e prognóstico. Mas com o suporte fornecido pela família, amigos, profissionais de saúde e pela religião, a paciente pode sentir-se mais fortalecida, vir a aceitar a doença e seu tratamento, e assim tornar-se mais autoconfiante, aumentando sua capacidade de enfrentamento, e buscando a reabilitação. Esses apoios exercem efeitos sobre o sistema imunológico, influenciando na recuperação e melhoria da qualidade de vida. 7) DESCREVER AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E SEGUIMENTO DO CÂNCER DE MAMA. O câncer de mama é o mais incidente na população feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma. Políticas públicas nessa área vêm sendo desenvolvidas no Brasil desde meados dos anos 80 e foram impulsionadas pelo Programa Viva Mulher, em 1998. Atualmente, o controle do câncer de mama é uma prioridade da agenda de saúde do país e integra o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2021-2030. CÂNCER DE MAMA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL O câncer de mama é, provavelmente, o mais temido entre as mulheres. Razões para tal fato são a alta incidência e os efeitos psicológicos advindos do tratamento da doença, que muitas vezes é mutilante e acaba por afetar a sexualidade e a própria imagem pessoal da paciente. As ações para o controle do câncer de mama tiveram um marco histórico em meados dos anos 1980, com o lançamento do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher. O programa apresentava duas linhas básicas de filosofia: a informação e a educação sobre os cânceres mais incidentes, entre eles o de mama. Os esforços dos médicos mastologistas tomaram força pelo país e, em 1994, o Brasil sediou seu primeiro congresso
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