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Resumo Prova AV2 Psicologia da Saúde e Hospitalar 1. Psicologia da Saúde X Psicologia Hospitalar A Psicologia da Saúde é uma ampla área da Psicologia que visa atender os três setores de atenção à saúde. Estuda as condições sociais, fatores biológicos e traços de personalidade do sujeito, isto é, utiliza conhecimentos da biomedicina, Psicologia Comunitária e Psicologia Clínica para intervir nos diferentes contextos do âmbito sanitário. Já a Psicologia Hospitalar restringe-se ao ambiente hospitalar, atendendo aos setores secundários e terciários de atenção à saúde. Auxilia no enfrentamento das fraquezas, vulnerabilidades, dores e sofrimentos dos pacientes, familiares e equipe de saúde. 2. Simoetti e o Manual de Psicologia Hospitalar Simonetti contribuiu com seu Manual na construção do Mapa da Doença a partir do diagnóstico multiaxial, o qual é composto por 4 eixos: reacional, médico, situacional e transferencial. Para o autor, tais eixos são maneiras complementares de abordar o adoecimento, com a vantagem de encontrar situações-alvo para organizar a abordagem terapêutica do psicólogo hospitalar e o material clínico fornecido pelo paciente. O eixo reacional gira em torno de 4 posições de “reação” do paciente diante da doença: depressão, negação, revolta e enfrentamento. Não há uma posição inicial ou uma ordem definida entre essas posições. A posição de negação se manifesta de algumas formas, sendo as 2 principais a visualização da doença no outro em vez de si e a minimização da gravidade da doença somado a noção de que ela não existe. A pessoa encontra-se alegre e evitando o medo, com comportamentos passivos da não existência da doença. A posição de revolta caracteriza-se pela evidência de uma revolta a partir da ciência da doença. Há uma tentativa impulsiva de solução, pensamentos predominantes de injustiça, estresse e mecanismo de luta. Na posição de depressão, a pessoa se entrega à doença como uma desistência, em que tende a se negar até ao tratamento. Há desesperança frente a cura, emoção de tristeza prevalente e mecanismo de luto. No entanto, estar nessa posição não significa o diagnóstico de um transtorno depressivo. A posição de enfrentamento é um processo de lidar com a doença de forma realista, em que se mistura a luta e o luto. Nessa posição, o paciente atende ao tratamento e busca fazer o que tem que ser feito. A esperança está mais evidente, mas há uma mistura de emoções, sem evitação de nenhuma dessas. O eixo de Diagnóstico Médico é um resumo do estado clínico do paciente, em que deve constar o nome da doença, sua condição aguda ou crônica, os principais sintomas, tratamento proposto, medicamentos em uso, prognóstico, aderência ao tratamento, risco de contágio e métodos de proteção requeridas, assim como a existência ou não de comorbidades. O eixo Situacional é uma visão panorâmica da vida do paciente, abordando o eixo físico/corporal, vida social, vida psíquica e vida cultural. O primeiro avalia o estado físico do sujeito e sua relação com o próprio corpo. A vida social aborda a rede de relacionamentos do paciente (par, família, financeira e profissional), objetivando identificar, em cada área, uma situação vital desencadeante (acontecimento estressante que acab acelerando o processo de adoecimento), um ganho secundário (privilégio material, afetivo ou psicológico que o indivíduo ganha após o adoecimento) e as figuras vitais (figuras fontes de motivação ou problemas para o paciente). A Vida Psíquica, por sua vez, representa os principais traços de personalidade, possíveis conflitos psicodinâmicos e eventuais psicopatologias (inclusive no histórico familiar). O eixo Transferencial avalia as relações que a pessoa estabelece em seu lugar de adoentado com os familiares, médicos, equipe de enfermagem e outros técnicos, instituição e psicólogo. A transferência pode ser positiva ou negativa a depender do afeto predominante ser amistoso e cooperativo ou hostil e competitivo. 3. Avaliação Psicológica no contexto hospitalar Tem como objetivo identificar as repercussões psicológicas provocadas pelo processo de adoecimento do sujeito. Passos: 1. Compreender o motivo da avaliação 2. Elaborar HD’s utilizando o prontuário do paciente e considerando aspectos biológicos, afetivos, comportamentais e cognitivos 3. Elaborar o protocolo, ou seja, métodos, técnicas e testes (se necessários) a serem utilizados 4. Coletar dados por meio de entrevistas e das técnicas anteriormente selecionadas 5. Investigação dos dados coletados 6. Planejar as intervenções e apontar forças e fraquezas 7. Devolutiva 8. Registro da avaliação e prognóstico no prontuário do paciente A primeira etapa do protocolo é de triagem em todos os leitos com questionários para coletar algumas informações relevantes. A segunda etapa é uma maior especificação da primeira, em caso de necessidade, com a coleta de maiores e mais específicas informações. A terceira e última é, após avaliação de necessidade, realizar um acompanhamento/atendimento psicológico do paciente sistemática e regularmente. 4. Escrita de prontuário O prontuário no hospital é de caráter multiprofissional, ou seja, todos os profissionais têm acesso. Assim, o psicólogo deve se limitar a incluir informações que auxiliem a equipe de saúde a dar continuidade ao atendimento ao paciente, bem como documentar, de forma sucinta, as intervenções psicológicas realizadas. Tal documento deve estar sempre atualizado à medida que ocorrem os atendimentos psicológicos, contemplando o registro de identificação do paciente, avaliação da demanda, objetivos, métodos adotados, evolução do trabalho, registro de encaminhamento ou encerramento e documentos resultantes da aplicação de instrumentos que deverão ser arquivados em pasta de acesso exclusiva do psicólogo. 5. Comunicação A comunicação é central no processo de cuidado, podendo ser complexa e estressante para o paciente. Por isso, a troca de informações entre os membros da equipe de saúde é fundamental para a transmissão de notícias ao paciente. O psicólogo, no contexto hospitalar, atuará como interlocutor na relação paciente, equipe e família, oferecendo apoio e minimizando os agentes estressores e geradores de ansiedade. A comunicação de óbito, bem como outras pertinentes ao caso clínico do paciente NÃO é feita pelo psicólogo, mas pelo médico. O psicólogo pode intervir para auxiliar os familiares ou o paciente a lidar com a notícia e no acolhimento da dor. Há pranchas de comunicação, em caso de pacientes em UTI, para facilitar a comunicação profissional- paciente. São visuais e permite o profissional a decifrar o que o paciente está sentindo ou precisando naquele momento em que não consegue se expressar. 6. Código de Ética 1. O Psicólogo deve ter sua atuação sistematizada pelas Normas Mínimas de Funcionamento das Unidades Hospitalares (urgência e emergência, terapia intensiva, internação, centros de diálise e de tratamento oncológico ambulatoriais, etc.) e respaldada por estudos e pesquisas que fundamentam a observação e avaliação psicológica, procurando alcançar metas e objetivos propostos por cada serviço de saúde. 2. Não é necessário especialização em psicologia hospitalar, apesar da atuação requerer um conhecimento específico relativo a essa área. No entanto, para exercer um cargo de coordenação, bem como de supervisor de estágio, é necessária tal formação. 3. Não cabe ao psicólogo hospitalar anunciar óbitos ou demais informações médicas ao paciente. 4. O Psicólogo deve registrar no prontuário do paciente sobre cada atendimento prestado, com uma ordem cronológica, constando data e horário quando foi realizado o atendimento. Esse deve apresentar linguagem técnica, formal e bem estruturada.Além disso, é importante conter no registro em prontuário qual a abordagem inicial adotada, origem da avaliação da demanda, tipo de atendimento realizado, dados obtidos na avaliação/observação clínica (informando sobre a condição do paciente diante do adoecimento ou da internação), quais os objetivos do trabalho, se envolverá algum familiar ou terceiro e indicar a orientações ou encaminhamentos, se houver. 7. Estresse É a resposta do organismo a determinados estímulos que representam circunstâncias súbitas ou ameaçadoras. Para se adaptar à nova situação, o corpo desencadeia reações que ativam a produção de hormônios, entre eles a adrenalina. Isso deixa o indivíduo em “estado de alerta” e em condições de reagir. O estresse apresenta fases e se inicia na fase de alerta, em que nossa capacidade de suportar esse fator cai consideravelmente. Numa próxima fase, a de resistência, o corpo mobiliza recursos e tenta resistir e enfrentar esse estresse. Em seguida, há a fase da quase-exaustão, em que, quando o estresse se mantém, podem surgir doenças menos graves. Na última fase possível, de exaustão, há um risco aumentado de depressão, suicídio, síndromes e infarto. O estresse reduz a imunidade, deixando o indivíduo propenso a desenvolver doenças. Ele aumenta o nível de cortisol no sangue, que, pensando em um estresse crônico, gera prejuízos fisiológicos. Promove aumento de gordura, resistência à insulina, perda de massa magra, etc. Além disso, interfere na sensibilidade do sistema imune aos hormônios glicorticoides que, normalmente, ajudam a controlar inflamações. Há fatores estressores internos e externos. Dentre os internos há a timidez, o desejo de agradar, medo do fracasso, preocupação com mudanças físicas (comum em adolescentes), medo de punição, dentre outros. Com relação aos internos, podemos citar mudanças significativas ou constantes, responsabilidade em excesso, excesso de atividades (“miniexecutivo”), brigas ou separação dos pais, doenças, etc. Pequenos momentos de relaxamento/prazer tendem a controlar esse estresse e não permite que ele chegue a níveis de exaustão. 8. Tipos de estratégia de enfrentamento do estresse Confronto, afastamento, autocontrole, suporte social, aceitação de responsabilidade, fuga e esquiva, resolução de problemas, reavaliação positiva e coping religioso. Treino de Controle do Stress de Lipp (baseado em TCC): tem como objetivo mudar hábitos de vida e de comportamento. Divide-se em 4 pilares: nutrição antiestresse, relaxamento da tensão mental e física, exercício físico e mudanças cognitivas e comportamentais. As sessões envolvem também técnicas de resolução de problema, manejo de tempo, modificação de padrão “tipo A” do comportamento (agitado, impulsivo, estressado, etc.), treino de assertividade, controle de ansiedade (respiração profunda) e reestruturação cognitiva. 9. Fases do luto O luto são reações e comportamentos diante da perda de alguém que podem ser intensificados ou inibidos por influência de fatores culturais, socioeconômicos, religiosos ou familiares. Afeta o sujeito de forma integral e suas reações não são lineares e gradativas. Há significativos aspectos a serem considerados no luto como a circunstância da perda, o vínculo afetivo com o falecido, o apoio social e se já houve outras perdas. O luto antecipatório ocorre antes da perda real de alguém e é orientada, justamente, ao preparo para essa perda. Isso envolve a morte em si, como todos os aspectos que surgem como consequência dessa morte. Se bem trabalhado, o luto antecipatório permite despedidas, resolução de pendências, início da construção de novos significados, identidades e relações, diminuindo a chance de um luto complicado. As fases do luto são: 1. Negação e isolamento: funciona como um para-choque para que o paciente se acostume com a situação, entenda que aquilo ocorreu, de fato, até começar a reagir. 2. Raiva: surge quando já caiu a ficha do que está acontecendo. É projetada no ambiente externo e como forma de inconformismo. 3. Barganha: o paciente começa a ter esperança de uma cura divina em troca de algo. 4. Depressão: funciona para o paciente e para os entes queridos e diz respeito à tristeza acompanhada pela preparação da perda. 5. Aceitação: aceitação da condição atual tanto por parte do paciente quanto por parte dos entes queridos. Nesse momento, começam os preparos e reorganização da vida. O psicólogo possui importante atuação no enfrentamento do luto com o acolhimento, aconselhamento e orientações, bem como manejo de rituais de despedida e encaminhamentos a psicoterapia. 10. Família – equipe – paciente A pessoa no processo de hospitalização passa por uma dinâmica de despersonalização. Seu nome é substituído pelo número do leito, doença ou trauma acometido a ela. Neste momento, novas ressignificações existenciais tomam forma e até mesmo vínculos relacionais ganham uma nova atividade a partir da hospitalização. Desse modo, a nossa atuação tem como foco acolher, dar sentido e amenizar, de forma terapêutica, os sentimentos, as fantasias e as dificuldades decorrentes dessa situação estressante, propiciando o alívio das angústias e a melhora da permanência na UTI. O processo de adoecimento de uma pessoa se torna uma experiência singular de como este momento é vivido pelo sujeito. Nesse contexto, percebe-se que há alterações na dinâmica emocional do paciente que transforma suas relações sociais, sendo a relação familiar a mais afetada por este momento devido aos vínculos afetivos existentes (CAMPOS, 1995). A família, apesar de estar no ambiente externo a UTI esperando por notícias do paciente, é um dos fatores importantes no processo da internação. A família também se encontra em grande angústia e sofrimento pela gravidade do seu familiar e se sentindo impossibilitada de ajudar. Assim, este é outro foco da atenção do psicólogo, pois os familiares exercem influências afetivas fundamentais no processo de hospitalização e que serão motivadoras para o paciente (SEBASTIANI, 2006; ROSS, 2008). Devemos acolher os membros envolvidos proporcionando-lhes confiança e adaptação diante da nova realidade. É preciso ouvir a família a respeito do que sentem e de suas necessidades, além de orientá-los sobre como participar positivamente do tratamento. Os profissionais da equipe de saúde hospitalar também recebem um conjunto de sentimentos e expectativas do paciente, dos familiares e dos profissionais que compõem a equipe. Diante dessa conjuntura e nessa oscilação constante de emoções, que a atuação do psicólogo se torna evidente e favorável para a compreensão dos sentimentos, sofrimentos e dores existentes neste ambiente da UTI (SEBASTIANI, 2006). É difícil para a equipe vivenciar uma rotina intensa diante de toda dificuldade vista pelo paciente com muitos aparelhos, humor fragilizado, conscientes ou não de seu estado clínico, além de outras situações angustiantes. Compreende-se que, para os profissionais, essa experiência também é revestida de dificuldades. Diante disso, o psicólogo deve ser o agente mediador entre equipe, paciente e família. 11. Suicídio/ Crise Suicida/Psicologia da crise/ O que fazer em momento de crise O suicídio não é um ato previsível, ou seja, não sabemos se há um desejo/pensamento suicida no paciente se ele não demonstrar ou falar de alguma forma. Há tipos de risco de suicídio segundo sua possibilidade de ocorrência ao longo do tempo, que são: agudo (quando a possibilidade de ocorrência é iminente durante uma crise suicida, colapso existencial e/ou dor desesperadora), subagudo (em que a possibilidade de ocorrência é de curto prazo, envolvendo riscos clássicos, transtornos mentais e períodos de estresse) e crônico (quando a possibilidade de ocorrência é de longo prazo, envolvendo aspectos clínicos de transtorno de personalidadee instabilidade). Uma crise suicida é quando o indivíduo está passando por um momento de ideação suicida frequente. A crise pode incluir uma tentativa de suicídio, mas isso não é necessário para se caracterizar como uma crise suicida. Esses pacientes precisam de um acompanhamento mais longo para prevenir recaídas. Um dos tratamentos mais utilizados é a psicoterapia. O estabelecimento do rapport, ou seja, uma relação de empatia e confiança para que o sujeito aja com menos resistência, é essencial para uma boa entrevista. A avaliação do risco de suicídio é um processo que pondera diversas informações como íntimas e pessoas do paciente (história, circunstâncias, acontecimentos...), oriundas de estudos populacionais (fatores de risco e proteção), as fortuitas (ter sido exposto a uma tentativa de suicídio) e as ambientais (disponibilidade de meios letais). Num primeiro momento, é importante compreender o que está acontecendo, quem é aquele sujeito e o ponto de vista dele diante do que está acontecendo. O atendimento de crise exige isso: ouvir atentamente o que a pessoa precisa e consegue dizer e identificar qual a sua urgência. Se for preciso, façamos as perguntas de forma abrangente, não diretiva. Após isso, vamos entender o estado mental desse sujeito. Dor psíquica, ansiedade, impulsividade, desesperança,... Depois, avalia-se a intencionalidade suicida, a qual é determinada por 2 fatores: a intensidade da motivação suicida e o grau com que essa motivação é contrabalanceada pelo pelo desejo da pessoa de continuar vivendo. Geralmente funciona assim: ideias de morte > ideias de suicídio > planos de como se matar > pesquisa de poder letal real > providências pós morte. IMPORTANTE: não deixe para avaliar a intencionalidade suicida para o final da consulta, você precisa de tempo pra avaliar a intensidade do risco de suicídio, em caso de resposta afirmativa. É preciso perguntar, caso o paciente não diga. Verificar se há ideia de morte, depois, em caso positivo, evoluir para a ideação suicida e, novamente, em caso de resposta positiva, verificar sobre o plano suicida. Depois, investigar os fatores de risco. Há alguns predisponentes como tentativa de suicídio previa, transtornos psiquiátricos, suicídio na família, abuso físico ou sexual, impulsividade/agressividade, doenças capacitantes/incuráveis, desespero/inquietude e alta recente de internação psiquiátrica. Além disso, há os fatores precipitantes, tais como desilusão amorosa, separação conjugal, conflitos reacionais, derrocada financeira, perda de emprego, desonra e humilhação, embriaguez e acesso a um meio letal.