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www.dizerodireito.com.br P ág in a1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 505 – STJ Márcio André Lopes Cavalcante Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no REsp 1.231.070-ES; MS 13.948-DF; AgRg no AREsp 112.288-RS; AgRg no AgRg no REsp 721.866-SE; REsp 1.021.166-PE; AgRg no REsp 1.163.909-RJ; REsp 1.015.336-SP; AgRg no REsp 1.203.021-PR; REsp 1.244.361-PR; HC 200.900-RJ; Ag 1.227.604-RS; DIREITO ADMINISTRATIVO Improbidade administrativa Configura ato de improbidade administrativa a conduta de uma médica que emite, ela mesma, atestado de plena capacidade física e mental para benefício próprio, com o objetivo de apresentar esse laudo no serviço público. Há, nesse caso, violação aos princípios da Administração Pública (art. 11 da Lei de Improbidade). Comentários Determinada médica emitiu, ela mesma, atestado de plena capacidade física e mental para benefício próprio, com o objetivo de apresentar esse laudo no serviço público. A referida médica foi, então, condenada pela prática de improbidade administrativa. Por meio de REsp, a questão chegou até o STJ. No recurso, a médica alegava que não agiu com dolo de praticar ato de improbidade administrativa (dolo específico). O que o STJ decidiu? O STJ manteve a condenação. No caso do art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa, o elemento subjetivo necessário é o dolo eventual ou genérico de realizar conduta que atente contra os princípios da Administração Pública. Assim, não se exige a presença de intenção específica para caracterizar o ato como ímprobo. Dessa forma, não há como afastar o elemento subjetivo daquele que emite laudo médico para si mesmo. Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 73.968-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 2/10/2012. Responsabilidade civil do Estado (prazo prescricional) O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 (CINCO) anos, conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código Civil), por se tratar de norma especial, que prevalece sobre a geral. Comentários Caso alguém tenha sofrido um dano causado pelo Estado, qual é o prazo que essa pessoa dispõe para ajuizar ação de reparação? Em outras palavras, qual é o prazo prescricional para a propositura de ação de indenização contra o Estado? Havia duas correntes sobre o tema: 1ª) 3 anos. Fundamento: art. 206, § 3º, V do Código Civil. 2ª) 5 anos. Fundamento: art. 1º do Decreto n. 20.910/1932. P ág in a1 INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 O que prevaleceu? O prazo prescricional é de 5 (cinco) anos (não há mais polêmica no STJ). Por quê? Segundo o STJ, o art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 é norma especial porque regula especificamente os prazos prescricionais relativos às ações ajuizadas contra a Fazenda Pública. Por sua vez, o art. 206, § 3º, V, do Código Civil seria norma geral, tendo em vista que regula a prescrição para os demais casos em que não houver regra específica. Logo, apesar do Código Civil ser posterior (2002), segundo o STJ, ele não teve o condão de revogar o Decreto n. 20.910/1932, tendo em vista que norma geral não revoga norma especial. Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 14.062-RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 20/9/2012. Processo administrativo disciplinar (composição da comissão processante) O servidor que realizou as investigações em sindicância prévia e exarou juízo preliminar acerca da possível responsabilidade disciplinar do acusado, está impedido de ser a autoridade que irá aprovar o relatório final da comissão do PAD. Comentários O processo administrativo disciplinar dos servidores públicos federais encontra-se previsto nos arts. 143 a 182 da Lei n. 8.112/90. O processo administrativo disciplinar (em sentido amplo) divide-se em: 1) Sindicância; 2) Processo administrativo disciplinar propriamente dito (PAD); Caso a autoridade administrativa tome conhecimento de alguma possível irregularidade no serviço público, ela é obrigada a promover a sua apuração imediata. E como é feita essa apuração? Por meio de uma sindicância ou de um PAD. Nos dois casos, deverá ser assegurada ao acusado ampla defesa. Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa. Desse modo, a sindicância e o PAD são os dois instrumentos que a Lei n. 8.112/90 prevê para a apuração de infrações administrativas praticadas pelos servidores públicos federais. 1) SINDICÂNCIA A sindicância é instaurada, inicialmente, para servir como uma espécie de investigação prévia do fato. Nesse caso, ela é chamada de sindicância investigatória ou preparatória. A sindicância pode ser conduzida por um único servidor ou por uma comissão de servidores. Da sindicância poderá resultar: I – o arquivamento do processo: quando não houver prova da prática de qualquer infração administrativa punível; II – a aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias: nesse caso, a sindicância é chamada de sindicância contraditória, acusatória ou apuratória. III – a instauração de processo disciplinar: quando for constatada a existência de indícios de que houve a prática de uma infração administrativa grave. INFORMATIVO esquematizado P ág in a3 Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar. O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período, a critério da autoridade superior. Na sindicância é obrigatório assegurar contraditório e ampla defesa? Na sindicância investigatória: NÃO (a ampla defesa será feita no PAD). Na sindicância acusatória: SIM. 2) PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR PROPRIAMENTE DITO (PAD) Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases: I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão; II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; III - julgamento. I – Instauração O PAD é instaurado por meio de uma portaria, na qual constará o nome de 3 servidores estáveis no serviço público, que irão formar a comissão que conduzirá os trabalhos do processo disciplinar. II – Inquérito administrativo Nesta fase, ocorrerá a: Instrução: trata-se da colheita das provas (oitiva de testemunhas, análise de documentos, requisição de perícias etc.); Defesa: o servidor processado possui ampla defesa, podendo, por exemplo, contraditar as testemunhas, ter acesso e impugnar documentos, apresentar quesitos a serem respondidos pelos peritos etc. O acusado pode ser acompanhado por advogado? R: SIM É obrigatória a presença de advogado? NÃO (SV 5-STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição). Relatório: é o documento no qual a comissão expõe as suas conclusões sobre as provas produzidas e a defesa apresentada pelo acusado. O relatório deve ser motivado e conclusivo, ou seja, precisa apontar se a comissão recomenda a absolvição do servidor ou a sua condenação, sugerindo a punição aplicável. Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento, segundo a estrutura hierárquica do órgão. III – Julgamento A autoridade competente para o julgamento irá absolver ou condenar o servidor. A autoridade poderá acolher ou não as conclusões expostas no relatórioda comissão. Se decidir acolher: não precisará motivar essa decisão, podendo encampar a fundamentação exposta no relatório. Se decidir não acolher: nesse caso, é indispensável a motivação, demonstrando que o relatório contraria as provas dos autos. Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão. INFORMATIVO esquematizado P ág in a4 Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas dos autos. Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade. Feita essa breve revisão, indaga-se: O servidor que realizou a sindicância pode também determinar a instauração de processo disciplinar, designando a comissão processante, e, ao final dos trabalhos, aprovar o relatório final? NÃO. O STJ entendeu que o servidor que participou das investigações na sindicância e concluiu que o sindicado havia cometido a infração disciplinar, tanto que determinou a instauração do PAD, não pode, posteriormente, ser a autoridade designada para aprovar o relatório final produzido pela comissão no processo administrativo, uma vez que ele já formou seu convencimento no sentido da culpabilidade do acusado. O STJ já havia decidido, em situação parecida, que o servidor que atuou na sindicância, encontra-se impedido de fazer parte da comissão do PAD: (...) 2 - Dispõe o art. 150 da Lei nº 8.112/1990 que o acusado tem o direito de ser processado por uma comissão disciplinar imparcial e isenta. 3 - Não se verifica tal imparcialidade se o servidor integrante da comissão disciplinar atuou também na sindicância, ali emitindo parecer pela instauração do respectivo processo disciplinar, pois já formou juízo de valor antes mesmo da produção probatória. (...) (MS 14135/DF, Rel. Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE), Terceira Seção, julgado em 25/08/2010, DJe 15/09/2010) Processo Terceira Seção. MS 15.107-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/9/2012. Processo administrativo disciplinar (provas) É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das demais exigências contidas na Lei n. 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica). Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: A Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal, conseguiu captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar certo ato relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do inquérito, o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por sua vez, instaura processo administrativo disciplinar. Indaga-se: a comissão processante poderá requerer, ao juízo criminal, essas gravações telefônicas para que sejam utilizadas no processo administrativo? SIM. É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das demais exigências contidas na Lei n. 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica). Esse é também o entendimento do STF: Pet 3683 QO, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2008. Processo Terceira Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/9/2012. INFORMATIVO esquematizado P ág in a5 Processo administrativo disciplinar (demissão) É possível a demissão de servidor por improbidade administrativa em processo administrativo disciplinar. Infração disciplinar grave que constitui ato de improbidade é causa de demissão do servidor, em processo administrativo, independente de processo judicial prévio. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: Suponha que determinado servidor praticou ato de improbidade administrativa. Foi ajuizada ação de improbidade contra esse servidor e, ao mesmo tempo, aberto processo administrativo disciplinar. Antes que a ação de improbidade fosse julgada, o processo administrativo chegou ao fim e o servidor, como sanção administrativa, foi demitido. Diante disso, o servidor impetrou mandado de segurança contra esse ato alegando que, em caso de ato de improbidade administrativa, a pena de demissão somente poderia ser aplicada pelo Poder Judiciário, em ação de improbidade, não podendo haver a demissão por meio de processo administrativo. Essa tese do servidor foi acolhida pelo STJ? NÃO. Para o STJ, é possível a demissão de servidor por improbidade administrativa em processo administrativo disciplinar. A pena de demissão não é exclusividade do Judiciário, sendo dever da Administração apurar e, eventualmente, punir os servidores que vierem a cometer ilícitos de natureza disciplinar. Em outra oportunidade, o STJ já havia decidido no mesmo sentido: “Infração disciplinar grave que constitui ato de improbidade é causa de demissão independente de processo judicial prévio. Independência das instâncias administrativa e instância judicial civil e penal. O que distingue o ato de improbidade administrativa da infração disciplinar por improbidade, e assim a necessidade ou não de prévia ação judicial, é a natureza da infração, pois a lei funcional tutela a conduta do servidor estabelecendo regime jurídico próprio enquanto a lei de improbidade dispõe sobre sanções aplicáveis a todos os agentes públicos, servidores ou não, no interesse da preservação e integridade do patrimônio público.” (MS 15054/DF, Rel. p/ Acórdão Min. Gilson Dipp, Terceira Seção, julgado em 25/05/2011) Processo Terceira Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/9/2012. Licitação A Lei n. 8.666/93 prevê que, em caso de inexecução do contrato, o contratado poderá receber como sanção a declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública. Para isso, no entanto, deverão ser a ele assegurados o contraditório e a ampla defesa. Há previsão na lei de que o contratado apresente uma defesa final, no prazo de 10 dias contados da abertura de vista. O STJ decidiu que, se não for concedido esse prazo, haverá nulidade por cerceamento de defesa. A ausência de abertura desse prazo acarreta nulidade no processo administrativo a partir desse momento processual e não desde o seu início. Comentários A Lei de Licitações e Contratos (Lei n. 8.666/93) prevê que, se o contratado não cumprir, total ou parcialmente, as suas obrigações contratuais com a Administração Pública, esta poderá aplicar as seguintes sanções (art. 87): INFORMATIVO esquematizado P ág in a6 I - advertência; II - multa; III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos; IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo de 2 anos. A multa poderá ser aplicada sozinha ou em conjunto com alguma outra sanção (ex: multa + suspensão temporária). Essas sanções somente podem ser aplicadas após um processo administrativo no qual seja assegurado contraditório e ampla defesa ao contratado. No caso da sanção estabelecida no inciso IV, como ela é muito grave, a competência exclusiva para aplicá-la será do: Ministro de Estado (no caso da União); Secretário Estadual (no casodos Estados); Secretário Municipal (no caso dos Municípios). Como já dito, deve ser assegurada ampla defesa e contraditório ao contratado. A defesa se exerce em dois momentos principais previstos na Lei: a) defesa prévia, no prazo de 5 (cinco) dias úteis; b) defesa final, no prazo de 10 (dez) dias contados da abertura de vista. E se não for concedido esse prazo para defesa final? O STJ decidiu que haverá nulidade por cerceamento de defesa. Isso anulará o processo administrativo desde o seu início? NÃO. A ausência de abertura de prazo para oferecimento de defesa final acarreta nulidade no processo administrativo a partir desse momento processual. Não haverá, contudo, nulidade de todo o processo desde o início. Processo Primeira Seção. MS 17.431-DF, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 26/9/2012. DIREITO CIVIL Contrato de locação A locação de prédio urbano para a exploração de serviço de estacionamento submete-se às disposições da Lei 8.245/1991. Comentários Mário alugou um terreno de José para servir como estacionamento pago de carros. Esse contrato é regido pelo Código Civil ou pela Lei n. 8.245/91? R: pela Lei n. 8.245/91. Regra: toda a locação de imóvel urbano é regida pela Lei n. 8.245/91. INFORMATIVO esquematizado P ág in a7 Exceções: A Lei n. 8.245/91 prevê algumas situações nas quais a locação de imóvel urbano será regulada pelo Código Civil ou por leis especiais: Art. 1º (...) Parágrafo único. Continuam regulados pelo Código Civil e pelas leis especiais: a) as locações: 1. de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas; 2. de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamento de veículos; 3. de espaços destinados à publicidade; 4. em apart-hotéis, hotéis-residência ou equiparados, assim considerados aqueles que prestam serviços regulares a seus usuários e como tais sejam autorizados a funcionar; b) o arrendamento mercantil, em qualquer de suas modalidades. O contrato de Mário e José está enquadrado na exceção descrita no art. 1º, parágrafo único, letra a, 2 da Lei n. 8.245/91? NÃO. Quando esse dispositivo fala em espaço para estacionamento de veículos ele está se referindo à situação em que a pessoa contrata uma vaga para estacionar seu veículo. Nesse caso, esse contrato não será regido pela Lei n. 8.245/91, mas sim pelo Código Civil. A situação será completamente diferente no caso de uma pessoa alugar um imóvel urbano para que nesse local ele explore o aluguel de vagas para carros. Resumindo: O contrato de Mário e José será regido pela Lei n. 8.245/91. Se, por outro lado, Mário aluga uma vaga dentro do imóvel para que Pedro estacione diariamente seu carro, este contrato de Mário com Pedro será regido pelo Código Civil porque se amolda no art. 1º, parágrafo único, letra a, 2, acima transcrito. Processo Terceira Turma. AgRg no REsp 1.230.012-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/10/2012. Responsabilidade civil (falha dos Correios no caso de transportadora de cargas) Um roubo praticado mediante uso de arma de fogo é considerado pela jurisprudência como sendo um fortuito externo (força maior), sendo causa de exclusão da responsabilidade. Não é razoável exigir que os prestadores de serviço de transporte de cargas alcancem absoluta segurança contra roubos, uma vez que segurança pública é dever do Estado. Igualmente, não há imposição legal obrigando as empresas transportadoras a contratarem escoltas ou rastreamento de caminhão e, sem parecer técnico especializado, dadas as circunstâncias dos assaltos, nem sequer é possível presumir se, no caso, a escolta armada, por exemplo, seria eficaz para afastar o risco ou se, pelo contrário, agravaria-o pelo caráter ostensivo do aparato. Comentários Imagine a seguinte situação Determinada empresa fez um contrato com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT para que ela entregasse fitas de vídeo (na época não havia DVD) nas locadoras de vídeo, por meio do sistema de entrega Sedex. Certo dia, o caminhão dos Correios foi assaltado, tendo sido subtraídas mais de 4 mil fitas de vídeo. A empresa ajuizou ação de indenização por danos materiais contra os Correios cobrando o valor das fitas. INFORMATIVO esquematizado P ág in a8 Onde essa ação teve que tramitar? Na Justiça Federal. Por quê? Porque os Correios são uma empresa pública federal, de sorte que as ações propostas contra ela são julgadas por juízes federais (art. 109, I, da CF/88). Qual é o regime jurídico aplicável aos serviços desempenhados pelos Correios? Serviços postais Conjunto de atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto postal, de um remetente para endereço final e determinado. Os serviços postais são considerados serviço público típico. Apenas os Correios (e ninguém mais) poderão desempenhar tais atividades (isso é chamado de privilégio). Tais serviços estão previstos no art. 9º da Lei n. 6.538/78: Art. 9º São exploradas pela União, em regime de monopólio (STF: privilégio), as seguintes atividades postais: I - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de carta e cartão-postal; II - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de correspondência agrupada: III - fabricação, emissão de selos e de outras fórmulas de franqueamento postal. Serviços de entrega de outros tipos de encomendas/impressos que não correspondências Exs: distribuição de boletos (boletos bancários, contas de água, telefone, luz), jornais, livros, periódicos ou outros tipos de encomendas ou impressos. Os Correios e também outras empresas privadas poderão exercer em sistema de livre concorrência. Desse modo, não se trata de exclusividade dos Correios, que deverão concorrer, em igualdade de condições, com as empresas privadas (exs: Tam Cargo, DHL etc). Qual é o tipo de responsabilidade dos Correios? Serviços postais: responsabilidade objetiva (regime jurídico dos serviços públicos); Outros serviços: responsabilidade subjetiva (regime próprio de direito privado). Em nosso exemplo, os Correios estavam prestando um serviço postal? NÃO. Era um serviço de entrega de outros tipos de encomenda (fita de vídeo), que não era correspondência. Logo, não era serviço postal. Logo, os Correios, neste caso, se sujeitam à responsabilidade civil própria das transportadoras de carga. Se a carga de uma transportadora é subtraída em virtude de um roubo com uso de arma de fogo, a transportadora (e no caso, os Correios) responde por esse dano? NÃO. Um roubo mediante uso de arma de fogo é considerado pela jurisprudência como sendo um fortuito externo, sendo causa de exclusão da responsabilidade. Para o STJ, não é razoável exigir que os prestadores de serviço de transporte de cargas alcancem absoluta segurança contra roubos, uma vez que segurança pública é dever do Estado. Igualmente, não há imposição legal obrigando as empresas transportadoras a contratarem escoltas ou rastreamento de caminhão e, sem parecer técnico especializado, dadas as INFORMATIVO esquematizado P ág in a9 circunstâncias dos assaltos, nem sequer é possível presumir se, no caso, a escolta armada, por exemplo, seria eficaz para afastar o risco ou se, pelo contrário, agravaria-o pelo caráter ostensivo do aparato. Veja a opinião da doutrina de Sérgio Cavalieri Filho utilizada pelo STJ no julgado: “Inicia-se a responsabilidade do transportador com o recebimento da mercadoria e termina com a sua entrega. Durante toda a viagem, responde pelo que acontecer com a mercadoria, inclusive pelo fortuito interno. Só afastarão a sua responsabilidade o fortuito externo (já que, aqui, não tem sentido o fato exclusivo da vítima) e o fato exclusivo de terceiro, normalmente doloso. Têm-se tornado frequentes os assaltos a caminhões, apoderando-seos meliantes não só das mercadorias, mas, também, do veículo. Há verdadeiras quadrilhas organizadas explorando essa nova modalidade de assaltos, muitas vezes até com a participação de policiais. Coerente com a posição assumida quando tratamos dos assaltos a ônibus, entendemos, também aqui, que o fato doloso de terceiro se equipara ao fortuito externo, elidindo a responsabilidade do transportador, porquanto exclui o próprio nexo de causalidade. O transporte, repetimos, não é causa do evento; apenas a sua ocasião. Não cabe ao transportador transformar o caminhão em um tanque de guerra, nem colocar um batalhão de seguranças para cada veículo de sua empresa a circular por todo o país. A segurança pública é dever do Estado.” (CAVALIEIRI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, pp. 322-354) Assim, para o STJ, se não for demonstrado que a transportadora não adotou as cautelas que razoavelmente dela se poderia esperar, o roubo de carga constitui motivo de força maior (fortuito externo) a isentar a sua responsabilidade. Qual a diferença entre fortuito interno e fortuito externo: FORTUITO INTERNO FORTUITO EXTERNO Está relacionado com a organização da empresa. É um fato ligado aos riscos da atividade desenvolvida pela empresa. Não está relacionado com a organização da empresa. É um fato que não guarda nenhuma relação de causalidade com a atividade desenvolvida pela empresa. É uma situação absolutamente estranha ao produto ou ao serviço fornecido. Ex1: o estouro de um pneu do ônibus da empresa de transporte coletivo. Ex2: hacker invade o sistema do banco e consegue transferir dinheiro da conta de um cliente. Ex1: assalto à mão armada da carga contida no caminhão de uma transportadora. Ex2: um terremoto faz com que o telhado do banco caia, causando danos aos clientes que lá estavam. Para o STJ, o fortuito interno NÃO exclui a obrigação de indenizar. Para o STJ, o fortuito externo é uma causa excludente de responsabilidade. Processo Quarta Turma. REsp 976.564-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/9/2012. INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 0 Responsabilidade civil (falha dos Correios no caso de serviço postal) É cabível a indenização por danos morais ao advogado que, em razão de falha dos Correios, teve a sua petição entregue no tribunal após o prazo previsto, fazendo com que seu recurso fosse considerado intempestivo. Comentários Imagine a seguinte situação (adaptada do caso concreto): Determinado advogado, que reside em uma cidade do interior, precisava interpor um recurso no protocolo do Tribunal de Justiça. Para tanto, foi até uma agência dos Correios e enviou o recurso por meio de Sedex, que estabelecia 2 dias como sendo o prazo máximo de entrega. Ocorre que o Sedex com o recurso só chegou no Tribunal após 10 dias, fazendo com que o advogado perdesse o prazo. O referido advogado pode ser indenizado por danos morais em virtude desse fato? SIM. Segundo decidiu o STJ, é cabível a indenização por danos morais ao advogado que, em razão de falha dos Correios, teve a sua petição entregue no tribunal após o prazo previsto, fazendo com que seu recurso fosse considerado intempestivo. Esse serviço prestado pelos Correios é considerado serviço postal? Sim, porque não se trata de encomenda, mas sim de correspondência. Sendo serviço postal, qual é a responsabilidade dos Correios? Os serviços postais são considerados como serviço público típico. Logo, os Correios possuem responsabilidade civil objetiva, nos termos do art. 37, § 6º, da CF/88. Nesse caso específico, o advogado pode invocar também o CDC para exigir indenização? SIM. O fato de a ECT inserir-se na categoria de prestadora de serviço público não a afasta das regras próprias do CDC quando é estabelecida relação de consumo com seus usuários, como no caso deste advogado, que é considerado vulnerável nessa relação jurídica. É direito básico do consumidor a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral, nos termos dos arts. 6º, X, e 22, caput, do CDC. Desse modo, as empresas públicas prestadoras de serviços públicos, como é o caso dos Correios, podem responder por fato do serviço (art. 14 do CDC). O advogado precisará provar que sofreu abalos para que receba a indenização por danos morais? NÃO. Diante da gravidade da situação, é possível, por meio de uma presunção natural que decorre da experiência comum, concluir que houve um abalo significativo à dignidade da pessoa. Portanto, o dano moral, neste caso, é in re ipsa (prejuízo presumido), extraído não exatamente da prova de sua ocorrência, mas da análise da gravidade do ato ilícito em abstrato. Processo Quarta Turma. REsp 1.210.732-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2012. INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 1 Responsabilidade civil (dano moral em caso de morte de parente) Não são permitidas indenizações por danos morais ilimitadas que, a pretexto de repararem integralmente vítimas, mostrem-se desproporcionais. Em caso de dano moral decorrente de morte de parentes próximos, a indenização deve ser arbitrada de forma global para a família da vítima, não devendo, de regra, ultrapassar o equivalente a 500 salários mínimos, podendo, porém, esse valor ser aumentado segundo as particularidades do caso concreto, dentre elas o grande número de familiares. Comentários Tarifação da indenização Algumas leis mais antigas previam a tarifação da indenização, ou seja, estipulavam valores máximos que deveriam ser pagos a título de indenização para cada espécie de dano. Exemplo hipotético: para acidentes aéreos o máximo de indenização que poderia ser pago seria de 100 mil reais. Uma lei pode estabelecer valores máximos de indenização por danos materiais e morais? É permitida a tarifação legal dos danos morais e materiais? NÃO. O STF e STJ afirmam que as leis que estabelecem valores máximos de indenização são incompatíveis com a CF/88. Isso porque a Carta Magna estabeleceu o princípio da plena indenizabilidade (art. 5º, V e X), de modo que a pessoa deve ser recomposta segundo o prejuízo que experimentou no caso concreto e não de acordo com previsões abstratas da lei. Nesse sentido, o STJ, mesmo antes do STF reconhecer que a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) não foi recepcionada pela CF/88, já havia editado a súmula 281, que possui a seguinte redação: Súmula 281-STJ: A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa. Desse modo, a tarifação da indenização pela lei não é admitida porque viola o princípio da indenizabilidade plena. Princípio da indenizabilidade plena não é absoluto Vale ressaltar, no entanto, que o princípio da indenizabilidade plena não é absoluto. Assim, é válido que o juiz, no caso concreto, estabeleça limites a esse princípio e critérios objetivos para que a indenização não seja um valor absurdo. Art. 944, parágrafo único do CC: O parágrafo único do art. 944 do CC é uma previsão que mitiga o princípio da indenizabilidade plena. Veja o que diz o dispositivo: Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. Esse dispositivo é compatível com a CF/88? SIM, ao contrário das regras das leis que previam tarifamento da indenização, essa regra é válida porque apenas estabelece que seja feita uma ponderação entre a gravidade da culpa e o dano, sem tolher o juiz. Inferno de severidade O Min. Paulo de Tarso Sanseverino, ao comentar o art. 944, parágrafo único, do CC, afirma que ele visa a evitar o inferno de severidade: “A aplicação irrestrita do princípio da reparação plena do dano pode representar, em algumas situações, para o causador do evento danoso, conforme a aguda crítica de INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 2 Geneviève Viney, um autêntico inferno deseveridade (enfer de severité). Se, na perspectiva da vítima, as vantagens da consagração irrestrita do princípio são evidentes, na do agente causador do dano, a sua adoção plena e absoluta pode constituir um exagero, conduzindo à sua ruína econômica em função de um ato descuidado praticado em um momento infeliz de sua vida.” (SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da reparação integral. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 84) Valor máximo (em regra) de indenização por dano moral em caso de morte: 500 salários mínimos Como já explicado, apesar de a indenização não poder ser tarifada pela lei, o STJ entende que é legítimo que a jurisprudência estabeleça limites para a indenização por danos morais. Assim, existem inúmeros julgados do STJ afirmando que, em caso de morte, o valor máximo, em regra, que deve ser pago como indenização por danos morais para a família do falecido é de 500 salários mínimos. Há uma violação ao princípio da indenizabilidade plena com a fixação desse valor máximo? NÃO. Segundo o STJ, esse parâmetro objetivo harmoniza o princípio da indenizabilidade plena com a exigência de se arbitrar com equidade o valor da indenização. O princípio da indenizabilidade plena não pode significar que o causador do dano esteja obrigado a indenizar as vítimas de forma ilimitada e irrestrita. Desse modo, mostra-se justa e equânime a adoção, pela jurisprudência, de padrões limitativos do valor das condenações por danos morais. O direito à indenização plena dos danos morais não é absoluto, podendo ser ponderado com outros de igual grandeza, como a proporcionalidade e a razoabilidade. Esse valor de 500 salários mínimos é para cada um dos parentes do falecido ou é um limite global para a família do morto? Trata-se do valor destinado ao conjunto de familiares próximos do falecido. Corresponde, portanto, a um valor global e não individual. Exemplo: “X” faleceu em decorrência de acidente causado por “Y”. Foram, então, ajuizadas duas ações de indenização por danos morais contra “Y”: 1ª) Proposta por “A” e “B”, respectivamente filha e companheira do falecido; 2ª) Proposta por “C”, filho do falecido referente ao primeiro casamento. “Y” será condenado a indenizar 500 salários mínimos para cada um dos autores da ação ou esse limite é global e será dividido entre todos os beneficiários? Esse limite é global. Assim, “Y” será condenado a pagar 500 salários mínimos, divididos entre “A”, “B” e “C”. Após ter pago os 500 salários mínimos, imagine que surgiu “D”, um outro filho de “X” que ingresse com ação de indenização após os outros já terem recebido. “Y” terá que pagar de novo para ele? NÃO. Se “Y” já tiver pago 500 salários mínimos (ou um valor próximo a isso), terá cumprido seu dever de indenizar e somente restará a “D” pleitear contra os demais parentes parte do valor por eles recebido. Por outro lado, se “Y” tiver indenizado um valor inferior a 500 salários mínimos, ainda será permitido que pague o restante da indenização a esse familiar. Esse critério é absoluto? NÃO. É possível que haja adaptações de acordo com o caso concreto. Em caso de famílias muito numerosas, por exemplo, esse valor global de 500 salários INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 3 mínimos poderá ser aumentado até o dobro (1000 salários mínimos) para que o valor recebido individualmente por cada parente próximo não seja irrisório. De outro lado, sendo apenas um membro na família do falecido, e consideradas as condições econômicas das partes, esse valor de 500 salários mínimos pode ser reduzido. Esse tema é pacífico no STJ? NÃO. Como foi um julgado muito discutido, a tendência é que a 4ª Turma mantenha esse entendimento, mas será ainda necessário avaliar como a 3ª Turma (que também julga Direito Civil) irá julgar. Processo Quarta Turma. REsp 1.127.913-RS, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/9/2012. DIREITO DO CONSUMIDOR Responsabilidade por tarifa de água de antigo proprietário do imóvel A responsabilidade por débito relativo ao consumo de água e serviço de esgoto é de quem efetivamente obteve a prestação do serviço. Trata-se de obrigação de natureza pessoal, não se caracterizando como obrigação propter rem. Assim, não se pode responsabilizar o atual usuário por débitos antigos contraídos pelo morador anterior do imóvel. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos compra a casa de João. Ocorre que João vendeu a casa, mas deixou um débito de três meses da conta de água. A concessionária ingressou com uma ação de cobrança contra Carlos, alegando que, como comprou a casa, passou a ser o devedor, considerando tratar-se de obrigação propter rem. Para piorar o cenário, a concessionária suspende o fornecimento da água. Agiu de forma correta a concessionária? NÃO. O débito de água é de natureza pessoal, não se vinculando ao imóvel. Não se trata, portanto, de obrigação propter rem. Desse modo, você não pode ser responsabilizado pelo pagamento de serviço de fornecimento de água utilizado por outra pessoa (em nosso exemplo, João). A concessionária pode “cortar” a água (suspender o fornecimento do serviço) nesse caso? NÃO. Explico esse tema por partes: Regra: é possível que a concessionária de serviço público interrompa a prestação do serviço, em caso de inadimplemento do usuário, desde que haja aviso prévio. Isso está expressamente previsto no art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95. Algumas situações especiais em que a concessionária NÃO pode suspender o fornecimento de água ou energia mesmo havendo atraso no pagamento: 1) Quando os débitos em atraso foram contraídos pelo morador anterior (STJ AgRg no AG 1399175/RJ); 2) Quando os débitos forem antigos (consolidados no tempo). Isso porque, segundo o STJ, o corte de serviços essenciais, como água e energia elétrica, pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo, sendo inviável, pois, a suspensão do abastecimento em razão de débitos antigos (STJ AgRg no Ag 1351353/RJ); INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 4 3) Quando o débito for decorrente de fraude no medidor de consumo de água ou energia elétrica (vulgo “gato”), apurada unilateralmente pela concessionária. Nesse caso, deve a concessionária utilizar-se dos meios ordinários de cobrança (STJ AgRg no AREsp 101.624/RS), considerando que será necessário o consumidor defender-se dessa suposta fraude. Desse modo, em nosso exemplo, a concessionária não poderia cortar a água da casa de Carlos. Na contestação, Carlos poderia invocar o Código de Defesa do Consumidor? Aplica-se o CDC ao serviço de fornecimento de água, esgoto e energia elétrica? SIM. Posição tranquila do STJ. O que o juiz deveria fazer com a ação proposta pela concessionária contra Carlos? Deveria extinguir o processo sem resolução do mérito, considerando que ele é parte ilegítima (art. 267, VI, do CPC). Obrigação propter rem O que é uma obrigação propter rem? Consiste em uma obrigação que se vincula a uma coisa, acompanhando-a (daí ser também conhecida como obrigação ambulatória). Se a obrigação é propter rem, a pessoa assume uma prestação (obrigação de dar, fazer ou não fazer) em razão da aquisição de um direito real. Ex: “A” compra uma casa e, por esse simples fato, passa a ser devedor do IPTU relativo a esse imóvel, ainda que o débito seja anterior à compra. Outro exemplo de obrigações propter rem são os direitos de vizinhança. As obrigações propter rem são também chamadas de simbióticas, mistas ou híbridas porque possuem características tanto de direito real como de direito pessoal. Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.313.235-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/9/2012. Vício do produto A aquisição de veículo para utilização como táxi, por si só, não afasta a possibilidade de aplicação das normas protetivas do CDC. A constatação de defeito em veículo zero-quilômetro revelahipótese de vício do produto e impõe a responsabilização solidária da concessionária (fornecedor) e do fabricante, conforme preceitua o art. 18, caput, do CDC. Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: João compra, na concessionária, um veículo 0km para utilizar em seu trabalho de taxista. Ocorre que o veículo, desde que saiu da loja, apresenta inúmeros problemas que fazem com que o carro não ande. João pretende ingressar com uma ação para proteger seus direitos e, por isso, procura a Defensoria Pública. Você, como Defensor Público, irá prestar assistência jurídica a ele, mas, para tanto, precisa saber responder as seguintes perguntas: João poderá se valer do Código de Defesa do Consumidor, mesmo tendo adquirido o veículo para uso como táxi? SIM. A jurisprudência do STJ vem decidindo que a aquisição de veículo para utilização como táxi, por si só, não afasta a possibilidade de aplicação das normas protetivas do CDC. Isso porque o STJ adota a teoria finalista de forma abrandada (teoria finalista mitigada). Assim, o profissional pode ser considerado consumidor, desde que demonstrada sua vulnerabilidade diante do caso concreto. INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 5 João, ao falar do problema de seu carro, sempre utiliza a expressão “defeito”. Para fins de direito do consumidor, trata-se realmente de “defeito”? NÃO. Juridicamente falando, segundo a concepção majoritária, o problema apresentado no carro de João classifica-se como “vício” e não “defeito”. Vício Defeito Vício é a inadequação do produto ou serviço para os fins a que se destina. Ex: Paulo compra um Playstation e ele não liga. Defeito diz respeito à insegurança do produto ou serviço. Ex: Paulo compra um Playstation, ele liga o aparelho, começa a jogar e, de repente, o videogame esquenta muito e explode, ferindo-o. Qual é o tipo de vício de que trata o caso? Onde está a previsão legal? Trata-se de um vício do produto (vício de qualidade), previsto no art. 18 do CDC: Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. Quais as providências iniciais que João pode adotar? 1ª providência: exigir que o fornecedor sane o vício no prazo de 30 dias. Ex: conserte ou troque as peças do carro. Obs: o contrato pode estipular um prazo diferente para o cumprimento dessa providência, sendo ele de, no mínimo 7 e, no máximo, 180 dias. 2ª providência: não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 dias, pode o consumidor exigir uma das três opções abaixo: a) A substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso. Ex: quero outro carro 0km. Tendo o consumidor optado por essa alternativa e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo de pedir uma das outras alternativas abaixo. b) A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. Ex: quero meu dinheiro de volta. c) O abatimento proporcional do preço. Ex: eu aceito que o carro fique fazendo esse barulho, mas quero um desconto. O consumidor não precisará esperar os 30 dias e poderá “pular” a 1ª providência e fazer uso imediato de uma das três alternativas acima explicadas sempre que: se tratar de produto essencial; ou em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou as características do produto, ou diminuir-lhe o valor. João já deu o prazo de 30 dias e o carro não foi consertado. Você explicou para ele as três opções disponíveis e ele escolheu a restituição da quantia paga (alternativa b), ressaltando INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 6 ainda que ele teve prejuízos extras pelo fato de não ter podido ganhar dinheiro como taxista durante esse período. Qual ação deverá ser proposta? Ação de indenização cobrando o valor pago mais danos emergentes e lucros cessantes. Contra quem poderá ser ajuizada? No caso de vício do produto, a responsabilidade é solidária entre todos os fornecedores, inclusive o comerciante. Segundo o STJ, todos aqueles que participam da introdução do produto ou serviço no mercado devem responder solidariamente pelos vícios que apresentarem (REsp 1.077.911/SP, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 4/10/2011). Logo, a ação poderá ser proposta contra a concessionária (vendedora, fornecedora direta) e também contra o fabricante do veículo 0km. Obs: no caso de fato do produto (defeito de segurança – art. 12), o comerciante não responde solidariamente, mas sim de forma subsidiária (art. 13). FATO do produto VÍCIO do produto Comerciante tem responsabilidade subsidiária. Comerciante tem responsabilidade solidária. É possível a condenação também do fornecedor em danos morais nesses casos? É possível, apesar de não ser comum. Para que haja a condenação em danos morais é necessário que o caso apresente peculiaridades que demonstrem que o consumidor teve sofrimento intenso decorrente dessa situação e não apenas um mero aborrecimento. Processo Quarta Turma. REsp 611.872-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 2/10/2012. DIREITO PROCESSUAL CIVIL Tutela antecipada O autor ingressa com uma ação e pede a tutela antecipada. O juiz defere. Na sentença, o juiz julga improcedente a demanda e revoga a tutela antecipada. Ocorre que a tutela antecipada causou danos morais e materiais ao réu. O autor da ação tem a responsabilidade objetiva de indenizar o réu quanto a esses prejuízos, independentemente de pronunciamento judicial e pedido específico da parte interessada. Comentários Ação inibitória com o objetivo de interditar um restaurante Determinado shopping ingressou com uma ação inibitória com pedido de antecipação de tutela contra o proprietário de um restaurante localizado em seu interior, noticiando que o réu explorava de forma irregular o estabelecimento, por estar funcionando em local impróprio para tanto, contrariando laudo técnico de engenharia. Afirmava que o excesso de sobrecarga na área colocava em risco a vida de lojistas e consumidores. Concedida a tutela antecipada O juiz concedeu a tutela antecipada para determinar a interdição do restaurante, sob pena de aplicação de multa diária de R$ 5.000,00, até o limite de R$ 200.000,00. Sentença de improcedência Durante a instrução, o réu provou que as alegações do autor eram infundadas. Diante disso, o juiz julgou improcedente a ação e revogou a tutela antecipada anteriormente deferida. Na sentença, o juiz, de ofício, condenou ainda o autor a pagar ao réu os danos materiais e morais decorrentes da interdição, valor a ser apurado em liquidação. Vale ressaltar que o restaurante ficou interditado cerca de 1 ano por conta da liminar. INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 7 Poderia o juiz condenar o autor a pagar esses danos morais e materiais? SIM. O § 3º do art. 273 do CPC determina: § 3º A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4º e 5º, e 461-A. O art. 588, a que se refere o § 3º, foi revogado pela Lei n. 11.232/05. Desse modo, o STJ entende que essa remissão deve ser entendida como sendo atualmente feita ao art. 475-O, que veio para substituir o art. 588: Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva,observadas as seguintes normas: I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II - nos casos de execução provisória em que penda agravo perante o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. Segundo o STJ, existe um gênero chamado de “tutelas de urgência”, composto por duas espécies: tutela antecipada e tutela cautelar. Assim, em virtude de fazerem parte do mesmo microssistema, é possível aplicar, no que couber, as regras da tutela cautelar à tutela antecipada. Dentre as regras da tutela cautelar que podem ser aplicadas, por analogia, à tutela antecipada, destaca-se o art. 811, I, do CPC: Art. 811. Sem prejuízo do disposto no art. 16, o requerente do procedimento cautelar responde ao requerido pelo prejuízo que lhe causar a execução da medida: I - se a sentença no processo principal lhe for desfavorável; Para que haja essa indenização é necessária a prova de culpa ou de má-fé do autor da ação (beneficiado pela tutela antecipada)? NÃO. Para que haja a reparação dos danos causados por uma tutela antecipada que depois foi revogada não é necessária a discussão de culpa da parte ou se esta agiu de má-fé. Para que haja a indenização basta a existência do dano. Trata-se de responsabilidade processual objetiva. Se ficar provado que o autor da demanda agiu de forma maliciosa ou temerária, ele deverá, além de indenizar o réu, responder por outras sanções processuais previstas nos arts. 16, 17 e 18 do CPC. Essa indenização pode ser fixada pelo juiz de ofício, ou seja, mesmo sem requerimento da parte prejudicada? SIM. Para o STJ, a obrigação de indenizar o dano causado pela execução de tutela antecipada posteriormente revogada é consequência natural da improcedência do pedido. Trata-se de um efeito secundário automático da sentença, produzido por força de lei. Assim, não depende de pedido da parte e nem mesmo de pronunciamento judicial. Processo Quarta Turma. REsp 1.191.262-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/9/2012. INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 8 Astreintes (destinatário da multa) O CPC permite que o juiz fixe multa cominatória para compelir o réu ao cumprimento de obrigação de fazer. Essa multa é conhecida como astreinte. Duas conclusões foram manifestadas neste julgado sobre o tema: 1) O juiz pode arbitrar as astreintes de ofício. 2) É cabível a cumulação de astreintes com juros de mora. Comentários Vamos tomar um exemplo hipotético (não é o que foi julgado pelo STJ): Determinado supermercado contratou certa empresa de informática para que esta fizesse a instalação do software que gerencia as compras realizadas pelos clientes. O contrato previa que a empresa possuía o prazo de 30 dias para fazer a instalação do sistema e estipulava juros de mora de 1% ao mês em caso de atraso. Ocorre que, passados 3 meses do vencimento do contrato, a empresa de informática não cumpriu sua obrigação contratual. Diante dessa situação, o supermercado ajuíza ação de execução do contrato, postulando que a empresa seja compelida a fazer a instalação do software. Qual é o procedimento nesse caso: 1) Petição inicial da execução Deve ser instruída com o título executivo (no caso, o contrato). 2) Despacho da petição inicial O juiz determina a citação do devedor e decide sobre a astreinte. Citação O juiz despacha a petição inicial determinando a citação do devedor para satisfazer a obrigação no prazo que o magistrado lhe assinar, considerando que o prazo previsto no contrato já se esgotou. Multa cominatória (astreinte) No momento, o juiz pode fixar uma multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação (art. 645 do CPC). Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de astreinte, em virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e que lá assim é chamado. Apesar do CPC falar em “multa por dia de atraso”, a doutrina afirma que essa multa não precisa ser, necessariamente, diária, podendo ser em meses, anos ou em horas. Em nosso exemplo, vamos imaginar que o juiz fixou o prazo de 30 dias para que a empresa instalasse o software, sob pena de multa diária de um mil reais por dia de descumprimento. Primeira pergunta importante: Como vimos, trata-se de uma execução de título extrajudicial. É possível fixar astreinte em processo de execução? SIM. As astreintes podem ser fixadas tanto na ação de conhecimento como na ação de execução. Segunda pergunta importante: O juiz pode fixar a astreinte ainda que o supermercado não tenha pedido essa multa na petição inicial? Em outras palavras, é possível fixar astreinte de ofício? ATENÇÃO INFORMATIVO esquematizado P ág in a1 9 SIM. O juiz pode arbitrar a multa ex officio como forma de obtenção da tutela específica da obrigação, objetivo principal da execução, conforme expressamente permite o parágrafo único do art. 621 do CPC: Parágrafo único. O juiz, ao despachar a inicial, poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo. 3) Posturas do devedor O devedor, após ser citado, poderá adotar uma das seguintes posturas: a) Cumprir a obrigação no prazo assinalado pelo juiz (com isso, fica livre das astreintes); b) Cumprir a obrigação após o prazo assinalado pelo juiz (com isso, terá que pagar as astreintes); c) Embargar a execução em 15 dias; d) Permanecer inerte. 4) Devedor cumpriu a obrigação em 2 meses Imaginemos que a empresa instalou os softwares em 2 meses. Lembremos que o juiz havia lhe dado o prazo de 1 mês. Desse modo, a empresa terá que pagar 30 dias de multa diária, ou seja, 30 mil reais. Terceira pergunta importante: Quando a empresa for pagar as astreintes, o supermercado poderá também exigir o valor relativo aos juros de mora (1% ao dia)? Em outros termos, é cabível a cumulação de astreintes com juros de mora? SIM, considerando que são parcelas com natureza jurídica distinta. Vejamos: Astreintes Juros de mora Têm natureza processual. Têm natureza material. São utilizadas como meio de coerção para que o devedor cumpra a obrigação específica. Destinam-se à reparação de parte dos prejuízos ensejados pela mora. Quarta e última pergunta: Para quem é revertido o valor das astreintes? Vai para o credor ou para o Estado? Para a própria parte (credora). Segundo o STJ, o destinatário das astreintes é o autor da demanda (REsp 949.509-RS). Processo Terceira Turma. REsp 1.198.880-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/9/2012. Sentença arbitral Após ser homologada, a sentença arbitral estrangeira adquire plena eficácia no território nacional e torna-se obrigatória, sendo impossível de ser revista ou modificada pelo Judiciário. Assim, se a sentença arbitral estrangeira for homologada pelo STJ, não pode tramitar no Brasil ação judicial que tenha as mesmas partes e o mesmo objeto da sentença arbitral estrangeira. Comentários A sentença arbitral é aquela proferida pelo(s) árbitro(s) após concluído o procedimento de arbitragem. A sentença arbitral precisa ser homologada pelo Poder Judiciário para produzir seus efeitos? NÃO. Veja o que diz a Lei n. 9.307/96: Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui títuloexecutivo. INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 0 A sentença arbitral é título executivo judicial ou extrajudicial? Título executivo JUDICIAL (nunca esqueça isso!). É JUDICIAL! CPC/ Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: IV – a sentença arbitral; A sentença arbitral estrangeira precisa ser homologada pelo Poder Judiciário para produzir seus efeitos no Brasil? SIM. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça – STJ. Nunca esqueça isso: STJ (não é mais do STF). Qual é o critério para se considerar que uma sentença arbitral é nacional ou estrangeira? Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional (art. 34, parágrafo único, da Lei n. 9.307/96). O critério é o do jus soli. O que foi decidido pelo STJ: Se a sentença arbitral estrangeira for homologada pelo STJ, não pode tramitar no Brasil ação judicial que tenha as mesmas partes e o mesmo objeto da sentença arbitral estrangeira. Após ser homologada, a sentença arbitral estrangeira torna-se obrigatória, sendo impossível de ser revista ou modificada pelo Poder Judiciário. Processo Terceira Turma. REsp 1.203430-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/9/2012. Custas (obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais) Os conselhos de fiscalização profissional estão sujeitos ao pagamento de custas. Comentários A Lei n. 9.289/97 dispõe sobre as custas devidas à União nos processos que tramitem na Justiça Federal de 1ª e 2ª instâncias. Em seu art. 4º, essa Lei prevê uma lista de entes que são isentos do pagamento das custas nos processos da Justiça Federal. Art. 4° São isentos de pagamento de custas: I - a União, os Estados, os Municípios, os Territórios Federais, o Distrito Federal e as respectivas autarquias e fundações; II - os que provarem insuficiência de recursos e os beneficiários da assistência judiciária gratuita; III - o Ministério Público; IV - os autores nas ações populares, nas ações civis públicas e nas ações coletivas de que trata o Código de Defesa do Consumidor, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé. Os conselhos de fiscalização profissional (exs: CRM, CREA, CRO) também são isentos? NÃO. Os conselhos de fiscalização profissional estão sujeitos ao pagamento de custas. Os conselhos profissionais possuem natureza jurídica de autarquia. No entanto, não são isentos do pagamento de custas por expressa previsão no parágrafo único do art. 4º dessa Lei: Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades fiscalizadoras do exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte vencedora. Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 200.014-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/9/2012. INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 1 Liquidação e non liquet Se o juiz, na liquidação da sentença, percebe que não há provas suficientes para definir o quantum debeatur, ele poderá pronunciar um non liquet, conforme permitia o art. 39 do CPC de 1939. Mesmo não havendo previsão semelhante no CPC atual, permite-se que seja aplicada essa regra. Desse modo, o juiz extinguirá o processo de liquidação sem julgamento do mérito, sendo a parte autorizada a propor nova liquidação caso reúna novas provas. Comentários Liquidação da sentença Um dos requisitos da sentença é que ela seja líquida. Para o CPC, sentença líquida é aquela que define o quantum debeatur, ou seja, é aquela que fixa o valor da obrigação devida. Pode acontecer, no entanto, de a sentença prolatada ser ilíquida, isto é, não fixar o valor certo que o réu foi condenado a pagar. Neste caso, deverá ser realizada a liquidação da sentença, conforme prevê o CPC: Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação. Desse modo, a liquidação da sentença é a etapa do processo que ocorre após a fase de conhecimento e que se destina a descobrir o valor da obrigação (quantum debeatur) quando não foi possível fixar essa quantia diretamente na sentença. Objetivo da liquidação: descobrir o quantum debeatur e, assim, poder permitir o cumprimento da sentença (execução). É possível que na liquidação não se consiga obter provas do quanto é devido ao credor? SIM. É possível que seja iniciada a fase de liquidação da sentença, sejam buscadas provas para se conseguir definir o quantum debeatur e, mesmo assim, o juiz entenda que não foram produzidos elementos suficientes para fixar o valor devido. Exemplo (julgado pelo STJ, com algumas adaptações): Certo programa de TV divulgou, indevidamente, imagens de uma menor em situação vexatória, fato ocorrido em 1991. A menor, devidamente, assistida por seus pais, ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a emissora, demanda que foi julgada procedente. Na sentença, o juiz fixou um valor certo para os danos morais (100 salários-mínimos). Quanto aos danos materiais, o juiz condenou a emissora a pagar o valor correspondente ao minuto cobrado pela emissora por anúncios publicitários multiplicado pela quantidade de minutos que a menor ficou exposta. Perceba que o valor dos danos morais é líquido, mas a quantia referente aos danos materiais é ilíquida já que não será possível executar imediatamente essa quantia. Para saber qual é essa soma, será necessário, primeiro, definir qual era o valor do minuto de publicidade na época dos fatos e quanto tempo a menor foi exposta (incluindo não apenas o programa em si, mas também as chamadas divulgadas antes que o programa fosse ao ar). Foi iniciada a liquidação da sentença e, durante essa fase, tentou-se obter a cópia da grade de programação para saber quantas chamadas foram divulgadas do programa e em quantos minutos a garota aparecia. Tentou-se também chegar a um valor exato do quanto era cobrado por minuto pela emissora em cada um dos horários. Ocorre que, quando foi proferida a sentença, a emissora não tinha mais essas informações, nem mesmo as gravações da época. Isso se mostrou justificável pelo fato de que a ação somente foi julgada 20 anos após o programa ter ido ao ar, e como não se determinou, em nenhum momento, que a TV guardasse essas gravações, o STJ considerou que não houve INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 2 irregularidade no procedimento adotado pela empresa de reaproveitar o material gravando outros programas por cima. O certo é que não havia meios de conseguir provar a quantidade de minutos e o valor do minuto. Em outros termos, não havia meios de provar o quantum debeatur. O que o juiz deve fazer caso isso ocorra? A 3ª Turma do STJ decidiu que, neste caso, o juiz deve declarar o non liquet. Em suma, o juiz declara que não irá decidir o mérito da liquidação. Non liquet significa isso: o juiz deixa de decidir a controvérsia posta à sua apreciação. Como o juiz deixa de decidir em virtude da ausência de elementos de prova necessários para resolver a controvérsia, significa dizer que ele profere uma decisão terminativa (e não de mérito). A decisão terminativa não produz coisa julgada material (o processo é extinto sem resolução do mérito). Na prática, isso significa que a liquidação pode ser reproposta desde que o autor consiga reunir novas provas que consigam demonstrar o quantum debeatur. Essa decisão do juiz reconhecendo o non liquet encontra previsão no CPC atual? NÃO. Situações como essa não contam com previsão expressa no CPC de 1973 (atual). No CPC/39 (anterior), existia essa possibilidade em seu art. 915, que permitia a declaração de non liquet, com extinção da liquidação sem resolução de mérito e eventual repetição do procedimento, no futuro, caso se tornasse possível apresentar a prova necessária para a condenação. Segundo o STJ, apesar dessa regra nãoter sido repetida no CPC atual, ela poderá ser aplicada ainda hoje. Assim, sendo impossível apurar, na liquidação, o quantum debeatur em virtude da ausência de provas, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito, facultando-se ao autor reiniciar a liquidação no futuro, caso reúna, com novos elementos, provas suficientes para definir esse valor. Em sede doutrinária, há certa divergência sobre esse assunto, mas o julgado do STJ está de acordo com a posição de Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de Direito Processual Civil). Uma última pergunta: No caso concreto, o juiz, diante da ausência das gravações e do valor do horário publicitário da emissora, poderia ele fazer uma estimativa de tais informações? NÃO. Segundo decidiu o STJ, não é possível ao juízo promover a liquidação da sentença valendo-se, de maneira arbitrária, de meras estimativas, na hipótese em que a sentença fixa a obrigatoriedade de indenização do dano, mas as partes sem culpa estão impossibilitadas de demonstrar a sua extensão. Processo Terceira Turma. REsp 1.280.949-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/9/2012. INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 3 Recurso ordinário constitucional Não é cabível a interposição de recurso ordinário contra decisão monocrática do relator no Tribunal que denegou o MS. O recurso ordinário constitucional, na hipótese do art. 105, II, b, da CF, dirige-se contra os mandados de segurança decididos em única instância pelos TRFs ou pelos TJs, quando denegatória a decisão. Decisão de "tribunal" não é a monocrática exarada por um dos desembargadores, mas sim acórdão de um de seus órgãos fracionários. Logo, se o mandado de segurança foi denegado por um Desembargador em decisão monocrática, faz-se necessária, antes da interposição do recurso ordinário, a prévia propositura de agravo regimental, sob pena de ofensa ao princípio da colegialidade. Comentários RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL (ROC) O ROC é um recurso que somente é julgado pelo STJ ou pelo STF e nas seguintes hipóteses: ROC a ser julgado pelo STJ ROC a ser julgado pelo STF I - Caberá ROC para o STJ se qualquer TRF ou TJ denegar (ou seja, julgar contra o autor de): Habeas corpus Mandado de segurança I - Caberá ROC para o STF se qualquer Tribunal Superior denegar (ou seja, julgar contra o autor de): Habeas corpus Mandado de segurança Mandado de injunção Habeas data II - Caberá ROC para o STJ se qualquer juiz federal julgar uma causa que envolva: Estado estrangeiro X Município brasileiro Estado estrangeiro X pessoa residente ou domiciliada no país Organismo internacional X Município brasileiro Organismo internacional X pessoa residente ou domiciliada no país Exemplos de organismo internacional: ONU, Unesco, Cruz Vermelha. Obs: as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País são julgadas pelo juiz federal (art. 109, II, CF). Neste caso, o recurso contra a decisão do juiz federal nessas causas é o ROC, interposto diretamente no STJ (a questão não passará pelo TRF). II - Caberá ROC para o STF em caso de qualquer juiz federal julgar crime político. Os crimes políticos são julgados por juiz federal (art. 109, IV, CF). Neste caso, o recurso contra a decisão do juiz federal é o ROC, interposto diretamente no STF (a questão não passará pelo TRF). Acima, você tem as hipóteses de cabimento do recurso ordinário constitucional tanto em matéria penal como cível. Vejamos agora o que foi decidido pelo STJ neste informativo. INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 4 “X” impetrou mandado de segurança no Tribunal de Justiça. O Desembargador Relator, monocraticamente, extinguiu o MS sem resolução do mérito. Diante dessa decisão, “X” interpôs ROC no STJ. “X” interpôs o recurso correto? NÃO. Por quê? Segundo entende a doutrina e o STJ, para que seja cabível ROC contra decisão do TJ ou TRF que denega mandado de segurança é necessário que esta decisão tenha sido proferida por um órgão colegiado do Tribunal. É indispensável, portanto, que a decisão tenha sido um acórdão. Logo, não cabe ROC nessa hipótese porque a decisão foi prolatada monocraticamente, ou seja, por um único Desembargador. O que deveria ter feito “X”? Ele deveria ter interposto um agravo regimental contra a decisão do Desembargador, agravo este que seria julgado por um órgão do Tribunal (Câmara, Turma etc.). Se o órgão do Tribunal mantivesse a decisão do Desembargador seria publicado um acórdão e, contra este, caberia o ROC para o STJ. Processo Terceira Turma. AgRg na MC 19.774-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/10/2012. Recurso Especial Embora questões constitucionais possam ser invocadas pelas partes, é indiscutível que, em nosso sistema, não cabe ao recorrente invocar tais questões em recurso especial como fundamento para reforma do julgado, sendo o recurso próprio para essa finalidade o extraordinário para o STF. Comentários Recurso especial é... - um recurso - previsto no art. 105, III, da CF/88 - julgado pelo STJ - interposto contra decisões proferidas em causas decididas em única ou última instância - pelos Tribunais Regionais Federais (TRF’s) ou pelos Tribunais dos Estados/DF (TJ’s) - quando a decisão proferida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; ou b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou c) der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. A sigla do recurso especial é REsp. É possível que a parte interponha REsp e que o único fundamento do recurso seja a alegação de que determinada lei é inconstitucional? NÃO. Nesse caso, o recurso cabível seria o RE. Embora questões constitucionais possam ser invocadas pelas partes, é indubitável que, em nosso sistema, não cabe ao recorrente invocar tais questões em recurso especial como fundamento para reforma do julgado, sendo o recurso próprio para essa finalidade o extraordinário para o STF. Tem-se, portanto, hipótese de insuperável óbice ao conhecimento do recurso especial, que também contamina, por derivação natural, o conhecimento deste incidente de inconstitucionalidade. No caso, o incidente referia-se aos incisos III e IV do art. INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 5 1.790 do CC, que trata da ordem de sucessão hereditária do companheiro ou da companheira relativamente aos bens adquiridos na vigência da união estável. Processo Corte Especial. AI no REsp 1.135.354-PB, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 3/10/2012. Recurso especial (recurso contra decisão que nega seguimento ao REsp na origem) São manifestamente incabíveis os embargos de declaração opostos contra decisão de admissibilidade do REsp ou RE proferida pelo tribunal de origem. O recurso cabível, neste caso, é o agravo nos próprios autos (art. 544 do CPC). Comentários A parte que deseja interpor um Recurso Especial (REsp) ou Recurso Extraordinário (RE), deve protocolizar estes recursos no juízo a quo (recorrido) e não diretamente no juízo ad quem (STJ ou STF). Ex: TRF 1 profere acórdão, por unanimidade, em apelação, afirmando que “A”, servidor público federal, não possui determinado direito previsto na Lei 8.112/90. Nessa hipótese, “A” poderá interpor recurso especial contra esta decisão, a ser julgado pelo STJ, contra esta decisão, com base no art. 105, III, a, da CF/88. O REsp deverá ser protocolizado no próprio TRF 1. A recorrida (no caso, a União) será intimada para apresentar suas contrarrazões. Após, o Presidente do Tribunal (ou Vice-Presidente, a depender do regimento interno), em decisão monocrática, irá fazer um juízo de admissibilidade do recurso. Se o juízo de admissibilidade for positivo, significa que o Presidentedo Tribunal entendeu que os pressupostos do REsp estavam preenchidos e, então, remeterá o recurso para o STJ. Se o juízo de admissibilidade for negativo, significa que o Presidente do Tribunal entendeu que algum pressuposto do REsp não estava presente e, então, ele não admitirá o recurso. O que a parte pode fazer caso o Presidente (ou Vice) do Tribunal não admita o RE ou o REsp? Qual é o recurso cabível contra esta decisão do Presidente (ou Vice)? Antes da Lei n. 12.322/2010 Depois da Lei n. 12.322/2010 A parte deveria interpor um agravo de instrumento. A parte deveria juntar todos os documentos exigidos pelo art. 525, CPC. A parte agora deve interpor um agravo nos próprios autos, sem a necessidade de instrumento (ou seja, não é mais necessário juntar os documentos do art. 525). Este agravo tem sido chamado de “agravo contra decisão denegatória de REsp ou RE”. Vejamos os dispositivos legais que tratam sobre esta nova espécie de agravo: Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo nos próprios autos, no prazo de 10 (dez) dias. § 1º O agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido. § 2º A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem, não dependendo do pagamento de custas e despesas postais. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em seguida, subirá o agravo ao tribunal superior, onde será processado na forma regimental. INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 6 § 3º O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta. Em seguida, os autos serão remetidos à superior instância, observando-se o disposto no art. 543 deste Código e, no que couber, na Lei n. 11.672, de 8 de maio de 2008. § 4º No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo obedecerá ao disposto no respectivo regimento interno, podendo o relator: I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada; II - conhecer do agravo para: a) negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso; b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal; c) dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal. Desse modo, atualmente, caso o Presidente (ou Vice) do Tribunal de origem (juízo a quo) negue seguimento ao RE ou REsp, o recurso cabível contra essa decisão é o AGRAVO NOS PRÓPRIOS AUTOS (art. 544 do CPC). Importante isso! Contra essa decisão, a parte poderia opor embargos de declaração ao invés do agravo? NÃO. São manifestamente incabíveis os embargos de declaração (EDcl) opostos contra decisão de admissibilidade do REsp ou RE proferida pelo tribunal de origem. A decisão de admissibilidade do REsp ou RE é proferida por delegação do Tribunal ad quem (STJ ou STF), sendo impugnável mediante agravo que será julgado pelo STJ ou STF. Quando o Tribunal a quo (por meio de seu Presidente ou Vice) profere a decisão de admissibilidade, exaure-se a delegação que ele tinha apenas para esse ato. Assim, não há qualquer sentido em se opor embargos de declaração, pois o STJ e o STF não estão vinculados ao que decidiu o Tribunal a quo sobre a admissibilidade do recurso. Em outras palavras, admitido ou inadmitido o REsp ou RE pelo Tribunal de origem, quem vai decidir no final das contas é o STJ ou STF se o recurso deve ou não ser conhecido. Se, porventura, fossem admitidos os embargos de declaração, haveria postergação injustificável do trâmite processual, ao invés da pronta interposição do recurso cabível, que é o agravo. Processo Quarta Turma. AgRg no Ag 1.341.818-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/9/2012. Ação civil pública O autor da ACP, ao propor a ação, não precisa adiantar o pagamento das custas judiciais. Comentários O art. 18 da Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85) possui a seguinte redação: Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais. Imagine agora a seguinte situação: Determinada associação ingressou com ação civil pública. O juiz que despachou a inicial determinou que a associação recolhesse a “taxa judiciária” INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 7 (custas judiciais), sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito, com base no art. 267, IV, do CPC. Agiu de forma correta o juiz? NÃO. O art. 18 da LACP afirma que nas ACP’s não haverá adiantamento de quaisquer despesas. As despesas, de que de trata o art. 18, abrangem as custas judiciais (taxa judiciária)? SIM. As custas representam uma espécie do gênero despesas. Nesse sentido, dispõe o CPC: Art. 20 (...) § 2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico. Se, ao final, o réu da ACP for vencido, ele terá que pagar as custas judiciais (taxa judiciária)? SIM. Essa isenção é apenas para o autor da ACP. Se, ao final, a ACP for julgada improcedente, o autor da ação terá que pagar as custas judiciais (taxa judiciária)? Regra: NÃO. Em regra, o autor da ACP, mesmo que vencido, não será condenado a pagar honorários advocatícios, custas e despesas processuais Exceção: se ficar comprovado que o autor da ACP ingressou com a ação de má-fé (exs: sabendo que o réu era inocente ou que o pedido era manifestamente improcedente), nesse caso ele terá que pagar honorários advocatícios, custas e despesas processuais. Vale transcrever ainda o art. 17 da LACP que é bastante cobrado nas provas: Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos. Processo Quarta Turma. REsp 978.706-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/9/2012. DIREITO PENAL Concurso formal O concurso formal perfeito caracteriza-se quando o agente pratica duas ou mais infrações penais mediante uma única ação ou omissão. O concurso formal imperfeito, por sua vez, revela-se quando a conduta única (ação ou omissão) é dolosa e os delitos concorrentes resultam de desígnios autônomos. Essa distinção entre os dois tipos de concurso formal varia de acordo com o elemento subjetivo que animou o agente ao iniciar a sua conduta. A expressão "desígnios autônomos" refere-se a qualquer forma de dolo, seja ele direto ou eventual. A morte da mãe e da criança que estava em seu ventre, oriundas de uma só conduta (facadas na nuca da mãe, resultaram de desígnios autônomos. Em consequência disso, as penas devem ser aplicadas cumulativamente, conforme a regra do concurso material. Comentários CONCURSO DE CRIMES Ocorre o concurso de crimes quando o agente pratica dois ou mais crimes. Esses crimes podem ser praticados com apenas uma ou com mais de uma conduta. INFORMATIVO esquematizado P ág in a2 8 Ex1: “X” atira contra “Y” com a finalidade de matá-lo. A bala atravessa o corpo de “Y”, atingindo também “Z”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática de dois delitos (homicídio doloso contra “Y” e homicídio culposo contra “Z”). Esses dois crimes foram praticados com apenas uma conduta. Ex2: “X” decide roubar “Y” em um beco escuro. Após subtrair, com grave ameaça, a bolsa, “X” resolve estuprar “Y”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática
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