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R.P.A. - UNESP Revisão Programada Anual C N CIÊNCIAS DA NATUREZA C CIÊNCIAS HUMANAS H L LINGUAGENS E CÓDIGOS C M MATEMÁTICA T CARO ALUNO Desde 2010, o Hexag Medicina é referência na preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Você está recebendo o livro Unesp (questões objetivas) – R.P.A. (Revisão Programada Anual). Este ma- terial tem o objetivo de verificar se você apreendeu os conteúdos estudados, oferecendo uma seleção de questões ideais para exercitar sua memória. Aproveite para aprimorar seus conhecimentos. Bons estudos! Herlan Fellini SUMÁRIO LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS GRAMÁTICA 7 INTERPRETAÇÃO 19 LITERATURA 27 INGLÊS 39 REDAÇÃO 45 CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS HISTÓRIA GERAL 53 HISTÓRIA DO BRASIL 63 FILOSOFIA 77 SOCIOLOGIA 85 GEOGRAFIA 1 93 GEOGRAFIA 2 107 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS BIOLOGIA 1 121 BIOLOGIA 2 133 BIOLOGIA 3 143 FÍSICA 1 155 FÍSICA 2 165 FÍSICA 3 174 QUÍMICA 1 187 QUÍMICA 2 195 QUÍMICA 3 203 MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS MATEMÁTICA 1 215 MATEMÁTICA 2 225 MATEMÁTICA 3 233 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologiasL ENTRE LETRAS C Interpretação de Texto 48% Literatura 24% Gramática 21% Estilística Outros 1% Text Comprehension 66% Vocabulary 11% Verbs 9% Conjunction 7% Adjectives and Pronouns 4% Outros 4% UNESP - Inglês UNESP - Interpretação, Literatura, e Gramática 7 Prescrição: A prova de Gramática do vestibular da Unesp é bastante ampla, exigindo conhecimentos de áreas muito variadas da disciplina. O destaque fica por conta dos estudos que promovem trânsitos entre a sintaxe do período simples e a do período composto, que, nos últimos anos, têm dado origem a questões de maior nível de complexidade. GRÁMATICA APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS - SALA 1. (Unesp 2018) Leia o soneto “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”, do poeta Gregó- rio de Matos (1636-1696). Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Poemas escolhidos, 2010.) Em “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,” (1ª estrofe), a conjunção aditiva “e” assume valor: a) causal. b) alternativo. c) conclusivo. d) adversativo. e) explicativo. 2. (Unesp) Leia o excerto do “Sermão da Pri- meira Dominga do Advento”, de Antônio Vieira (1608-1697), pregado na Capela Real, em Lisboa, no ano de 1650. Sabei cristãos, sabei príncipes, sabei minis- tros, que se vos há de pedir estreita conta do que fizestes; mas muito mais estreita do que deixastes de fazer. Pelo que fizeram, se hão de condenar muitos, pelo que não fizeram, todos. [...] Desçamos a exemplos mais públicos. Por uma omissão perde-se uma maré, por uma maré perde-se uma viagem, por uma viagem per- de-se uma armada, por uma armada perde- -se um Estado: dai conta a Deus de uma Ín- dia, dai conta a Deus de um Brasil, por uma omissão. Por uma omissão perde-se um avi- so, por um aviso perde-se uma ocasião, por uma ocasião perde-se um negócio, por um negócio perde-se um reino: dai conta a Deus de tantas casas, dai conta a Deus de tantas vidas, dai conta a Deus de tantas fazendas1, dai conta a Deus de tantas honras, por uma omissão. Oh que arriscada salvação! Oh que arriscado ofício é o dos príncipes e o dos ministros! Está o príncipe, está o ministro divertido, sem fazer má obra, sem dizer má palavra, sem ter mau nem bom pensamento: e talvez naquela mesma hora, por culpa de uma omissão, está cometendo maiores da- nos, maiores estragos, maiores destruições, que todos os malfeitores do mundo em mui- tos anos. O salteador na charneca com um tiro mata um homem; o príncipe e o minis- tro com uma omissão matam de um golpe uma monarquia. A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, ra- ramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo. [...] Mas por que se perdem tantos? Os menos maus perdem-se pelo que fazem, que estes são os menos maus; os piores perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes são os piores: por omissões, por negligências, por descuidos, por desatenções, por divertimen- tos, por vagares, por dilações, por eternida- des. Eis aqui um pecado de que não fazem escrúpulo os ministros, e um pecado por que se perdem muitos. Mas percam-se eles em- bora, já que assim o querem: o mal é que se perdem a si e perdem a todos; mas de todos hão de dar conta a Deus. Uma das cousas de que se devem acusar e fazer grande escrú- pulo os ministros, é dos pecados do tempo. Porque fizeram o mês que vem o que se havia de fazer o passado; porque fizeram amanhã o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o que se havia de fazer agora; por- que fizeram logo o que se havia de fazer já. Tão delicadas como isto hão de ser as cons- ciências dos que governam, em matérias de 8 momentos. O ministro que não faz grande escrúpulo de momentos não anda em bom estado: a fazenda pode-se restituir; a fama, ainda que mal, também se restitui; o tempo não tem restituição alguma. (Essencial, 2013. Adaptado.) 1fazenda: conjunto de bens, de haveres. Tendo em vista o gênero literário em que se enquadra o texto e os recursos expressivos nele presentes, o verbo que melhor expressa sua finalidade é: a) reverenciar. b) persuadir. c) celebrar. d) alegrar. e) ludibriar. 3. (Unesp) Leia a fábula “O morcego e as do- ninhas”, do escritor grego Esopo (620 a.C.?- 564 a.C.?). Um morcego caiu no chão e foi capturado por uma doninha1. Como seria morto, rogou à doninha que poupasse sua vida. — Não posso soltá-lo – respondeu a doninha –, pois sou, por natureza, inimiga de todos os pássaros. — Não sou um pássaro – alegou o morcego. — Sou um rato. E assim ele conseguiu escapar. Mais tarde, ao cair de novo e ser capturado por outra doninha, ele suplicou a esta que não o devo- rasse. Como a doninha lhe disse que odiava todos os ratos, ele afirmou que não era um rato, mas um morcego. E de novo conseguiu escapar. Foi assim que, por duas vezes, lhe bastou mudar de nome para ter a vida salva. (Fábulas, 2013.) 1doninha: pequeno mamífero carnívoro, de corpo longo e esguio e de patas curtas (tam- bém conhecido como furão). “Como seria morto, rogou à doninha que poupasse sua vida.” (1º parágrafo) Em relação à oração que a sucede, a oração destacada tem sentido de: a) proporção. b) comparação. c) consequência. d) causa. e) finalidade. 4. (Unesp) A questão focaliza uma passagem do romance Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901-1957). ÁGUA-MÃE Jogava com toda a alma, não podia compreender como um jogador se encostava, não se entusiasmava com a bola nos pés. Atirava-se, não temia a violência e com a sua agilidade espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. Quando aquele back1, num jogo de subúrbio, atirou-se contra ele, recuou para derrubá-lo, e com tamanha sorte que o bruto se estendeu no chão, como um fardo. E foi assim crescendo a sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao novo Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia no clube, mas a sua vida era cada vez mais agitada. Onde quer que estivesse, era reconhecido e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as despesas que ele fazia e até mesmo nos ônibus, quando ia descer, o motorista lhe dizia sempre: — Joca, você aqui não paga. Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham logo meninos para perto dele. Sabia que agradava muito. No clube tinha amigos. Havia porém o antigocenter-forward2 que se sentiu roubado com a sua chegada. Não tinha razão. Ele fora chamado. Não se ofe- recera. E o homem se enfureceu com Joca. Era um jogador de fama, que fora grande nos campos da Europa e por isso pouco liga- va aos que não tinham o seu cartaz. A en- trada de Joca, o sucesso rápido, a maravilha de agilidade e de oportunismo, que carac- terizava o jogo do novato, irritava-o até ao ódio. No dia em que tivera que ceder a po- sição, a um menino do Cabo Frio, fora para ele como se tivesse perdido as duas pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava. Tinha sido a sua admi- ração, o seu herói. (Água-Mãe, 1974.) 1Beque, ou seja, o zagueiro de hoje. 2Centroavante. ”Quando entrava no cinema era reconhecido.” A língua portuguesa aceita muitas variações na ordem dos termos na oração e no período, desde que não causem a desestruturação sin- tática e a perturbação ou quebra do sentido. Assinale a alternativa em que a reordena- ção dos elementos não altera a estrutura do período em destaque e mantém o mesmo sentido. a) Quando era no reconhecido cinema entrava. b) Era reconhecido quando entrava no cinema. c) Entrava quando no cinema era reconhecido. d) Quando era reconhecido entrava no cinema. e) Entrava reconhecido quando era no cinema. 5. (Unesp) A questão toma por base uma pas- sagem do artigo “Os operários da música li- vre”, de Ronaldo Evangelista. 9 Desde o final do século 20, toda a engre- nagem industrial do mercado musical passa por intensas transformações, como o surgi- mento e disseminação de novas tecnologias, em grande parte gratuitas, como os arqui- vos MP3s, as redes de compartilhamento destes arquivos, mecanismos torrents, sites de armazenamento de conteúdo, ferramen- tas de publicação on-line – tudo à dispo- sição de quem quisesse dividir com os ou- tros suas canções e discos favoritos. A era pós-industrial atingiu toda a indústria do entretenimento, mas o braço da música foi quem mais sofreu, especialmente as gran- des gravadoras multinacionais, as chama- das majors, que sofreram um declínio em todas as etapas de seu antigo negócio, ao mesmo tempo em que rapidamente se aper- feiçoavam ferramentas baratas e caseiras de produção que diminuíam a distância en- tre amadores e profissionais. A era digital é também chamada de pós- -industrial porque confronta o modelo de produção que dominava até o final do sécu- lo 20. Esse modelo industrial é baseado na repetição, em formatar e embalar. Por trás disso, a ideia é obter a máxima produção – o que, para produtos em geral, funciona muito bem. Quando esses parâmetros são aplicados à arte, a venda do produto (por exemplo, o disco) depende do conteúdo (a canção). A canção que vai resultar nessa “produção máxima” é buscada por meio de um equilíbrio entre criatividade e uma fór- mula de sucesso que desperte o interesse do público. Como estudos ainda não consegui- ram decifrar como direcionar a criatividade de uma maneira que certamente despertará esse interesse (e maximizará a produção), a opção normalmente costuma ser pela solu- ção mais simples. “Cada um tem descoberto suas fórmulas e possibilidades, pois tudo tende a ser cada vez menos homogêneo”, opina o baia- no Lucas Santtana, que realizou seus dis- cos recentes às próprias custas.“Claro que ainda existe uma distância em relação aos artistas chamados mainstream”, continua. “Mas você muda o tamanho da escala e já está tudo igual em termos de business. A pergunta é se essa geração faz uma músi- ca para esse grande mercado ou se ela está formando um novo público. Outra pergunta é se o grande mercado na verdade não passa de uma imposição de uma máfia que dita o que vai ser popular.” (Galileu, março de 2013. Adaptado.) Como estudos ainda não conseguiram deci- frar como direcionar a criatividade de uma maneira que certamente despertará esse interesse (e maximizará a produção), a op- ção normalmente costuma ser pela solução mais simples. O período em destaque apresenta muitos ecos (coincidências de sons de finais de pa- lavras). Uma das formas de evitá-los e tor- nar a sequência mais fluente seria colocar “conduzir”, “tal”, “quantidade produzida” em lugar de, respectivamente: a) direcionar, esse, produção. b) decifrar, esse, solução. c) direcionar, interesse, produção. d) conseguiram, que, opção. e) decifrar, interesse, maximizará. RAIO X - ANÁLISE EXPOSITIVA 1. A conjunção coordenativa “e”, normalmente aplicada com noção de adição, pode apre- sentar-se com sentido adversativo quando exprime oposição ou contraste, podendo ser substituída por “mas“, “porém“, “todavia“, “contudo“ e “entretanto“, como acontece no verso do enunciado. 2. Trata-se de um texto argumentativo, portan- to, pretende convencer o leitor. No caso es- pecífico, tenta persuadir os governantes para que estes abandonem uma postura omissa e partam para a ação. 3. A conjunção subordinativa adverbial causal “como” determina a noção de causa à oração seguinte. Outras conjunções do mesmo tipo que poderiam ser usadas no lugar de “como” sem perda do sentido são: “visto que“, “já que“ e “uma vez que“. 4. [A] Incorreta. A preposição “em“ + artigo “o“ (no), como também o verbo no final da oração (entrava), deixam-na completamente sem sentido. [B] Correta. Verbo “ser“ + particípio + ad- vérbio + complementos, mantendo o sentido e a ordem dos fatos. [C] Incorreta. O verbo no início da oração (entrava) dá a ideia de que o jogador entra- va em algum lugar, quando no cinema era re- conhecido por alguém, o que altera o sentido original da oração. [D] Incorreta. O adjunto adverbial de tempo “quando“, no início da oração, + verbo de ligação + verbo no particípio passam a ideia de que o jogador entrava no cinema quando era reconhecido por alguém, alterando, as- sim, o sentido original da oração. [E] Incorreta. Os dois verbos juntos (“en- trava“ e “reconhecido“), no início da ora- ção, deixam a oração completamente sem sentido. 10 5. [A] Correta. Substituindo para conferir: Como estudos ainda não conseguiram deci- frar como conduzir a criatividade de uma maneira que certamente despertará tal in- teresse (e maximizará a quantidade produ- zida). Com estas substituições, evitam-se os ecos desnecessários e que contrariam o pa- drão culto da língua. [B] Substituindo conforme o pedido: Como estudos ainda não conseguiram conduzir como direcionar a criatividade de uma ma- neira que certamente despertará tal inte- resse (e maximizará a produção), a opção normalmente costuma ser pela quantidade produzida mais simples. Houve indesejável alteração de sentido, dando a ideia de “sim- plicidade” inadequada à questão. [C] Como estudos ainda não conseguiram de- cifrar como conduzir a criatividade de uma maneira certamente despertará esse tal (e maximizará a quantidade produzida), a op- ção normalmente costuma ser pela solução mais simples. A oração ficou com o sentido cortado e incompleto pelo termo tal. [D] Como estudos ainda não conduzir deci- frar como direcionar a criatividade de uma maneira tal certamente despertará esse in- teresse (e maximizará a produção), a quan- tidade produzida normalmente costuma ser pela solução mais simples. Oração ficou com- pletamente sem sentido com as substitui- ções indicadas. [E] Como estudos ainda não conseguiram como conduzir direcionar a criatividade de uma maneira que certamente despertará esse tal (e a quantidade produzida a produ- ção), a opção normalmente costuma ser pela solução mais simples. Oração ficou comple- tamente sem sentido com as substituições indicadas. GABARITO 1. D 2. B 3. D 4. B 5. A 11 PRÁTICA DOS CONHECIMENTOS - E.O. 1. (Unesp) A questão toma por base dois tre- chos de um artigo de Alexandre Oliva sobre a importância do uso de softwarena educação. Software Livre, isto é, software que respei- ta as liberdades dos usuários de executar o software para qualquer propósito, de estudar o código fonte do software e adaptá-lo para que faça o que o usuário deseje, de fazer e distribuir cópias do software, e de melhorá- -lo e distribuir as melhorias, permite que pessoas usem computadores sem abrir mão de serem livres e independentes, sem acei- tar condições que os impeçam de obter ou criar conhecimento desejado. Software que priva o usuário de qualquer dessas liberdades não é Livre, é privativo, e mantém usuários divididos, dependentes e impotentes. Não é uma questão técnica, não tem nada a ver com preço nem com a tare- fa prática desempenhada pelo software. Um mesmo programa de computador pode ser Livre para alguns usuários e não-Livre para outros, e tanto os Livres quanto os privativos podem ser grátis ou não. Mas além do conhe- cimento que foram projetados para transmi- tir, um deles ensinará liberdade, enquanto o outro ensinará servidão. [...] Se o usuário depender de permissão do desenvolvedor do software para instalá-lo ou utilizá-lo num computador qualquer, o desenvolvedor que decida negá-la, ou exija contrapartida para permiti-la, efetivamen- te terá controle sobre o usuário. Pior ain- da se o software armazenar informação do usuário de maneira secreta, que somente o fornecedor do software saiba decodificar: ou o usuário paga o resgate imposto pelo fornecedor, ou perde o próprio conhecimen- to que confiou ao seu controle. Seja qual for a escolha, restarão menos recursos para uti- lizar na educação. Ter acesso negado ao código fonte do progra- ma impede o educando de aprender como o software funciona. Pode parecer pouco, para alguém já acostumado com essa prática que pretende também controlar e, por vezes, en- ganar o usuário: de posse do código fonte, qualquer interessado poderia perceber e evi- tar comportamento indesejável, inadequado ou incorreto do software. Através dessa im- posição de impotência, o fornecedor cria um monopólio sobre eventuais adaptações ao software: só poderão ser desenvolvidas sob seu controle. Pior ainda: cerceia a curiosi- dade e a criatividade do educando. Crian- ças têm uma curiosidade natural para saber como as coisas funcionam. Assim como des- montam um brinquedo para ver suas entra- nhas, poderiam querer entender o software que utilizam na escola. Mas se uma criança pedir ao professor, mesmo o de informática, que lhe ensine como funciona um determi- nado programa privativo, o professor só po- derá confessar que é um segredo guardado pelo fornecedor do software, que a escola aceitou não poder ensinar ao aluno. Limites artificiais ao que os alunos poderão almejar descobrir ou aprender são a antítese da edu- cação, e a escolha de modelos de negócio de software baseados numa suposta necessida- de de privação e controle desse conhecimen- to não deve ser incentivada por ninguém, muito menos pelo setor educacional. (Alexandre Oliva. Software privativo é falta de educação. http://revista.espiritolivre.org) [...] cerceia a curiosidade e a criatividade do educando. A forma verbal cerceia, nesta frase do último parágrafo, significa: a) contamina. b) reforça. c) restringe. d) cerca. e) estimula. 2. (Unesp) A questão toma por base um frag- mento de “Glória moribunda“, do poeta romântico brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852). É uma visão medonha uma caveira? Não tremas de pavor, ergue-a do lodo. Foi a cabeça ardente de um poeta, Outrora à sombra dos cabelos loiros. Quando o reflexo do viver fogoso Ali dentro animava o pensamento, Esta fronte era bela. Aqui nas faces Formosa palidez cobria o rosto; Nessas órbitas – ocas, denegridas! – Como era puro seu olhar sombrio! Agora tudo é cinza. Resta apenas A caveira que a alma em si guardava, Como a concha no mar encerra a pérola, Como a caçoula a mirra incandescente. Tu outrora talvez desses-lhe um beijo; Por que repugnas levantá-la agora? Olha-a comigo! Que espaçosa fronte! Quanta vida ali dentro fermentava, Como a seiva nos ramos do arvoredo! E a sede em fogo das ideias vivas Onde está? onde foi? Essa alma errante Que um dia no viver passou cantando, 12 Como canta na treva um vagabundo, Perdeu-se acaso no sombrio vento, Como noturna lâmpada apagou-se? E a centelha da vida, o eletrismo Que as fibras tremulantes agitava Morreu para animar futuras vidas? Sorris? eu sou um louco. As utopias, Os sonhos da ciência nada valem. A vida é um escárnio sem sentido, Comédia infame que ensanguenta o lodo. Há talvez um segredo que ela esconde; Mas esse a morte o sabe e o não revela. Os túmulos são mudos como o vácuo. Desde a primeira dor sobre um cadáver, Quando a primeira mãe entre soluços Do filho morto os membros apertava Ao ofegante seio, o peito humano Caiu tremendo interrogando o túmulo... E a terra sepulcral não respondia. (Poesias completas, 1962.) Mas esse a morte o sabe e o não revela. Nas duas orações que constituem este verso, os termos em destaque apresentam o mesmo referente, a saber: a) vácuo. b) escárnio. c) lodo. d) cadáver. e) segredo. 3. (Unesp) A questão toma por base um frag- mento da crônica ”Letra de canção e poesia”, de Antonio Cicero. Como escrevo poemas e letras de canções, frequentemente perguntam-me se acho que as letras de canções são poemas. A expressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão deve ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O que se quer saber é se a letra, separada da canção, constitui um poema escrito. “Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. Desde que as vanguardas mos- traram que não se pode determinar a prio- ri quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas na página e diz que é um poema, quem provará o contrário? Neste ponto, parece-me inevitável introdu- zir um juízo de valor. A verdadeira ques- tão parece ser se uma letra de canção é um bom poema. Entretanto, mesmo esta últi- ma pergunta ainda não é suficientemen- te precisa, pois pode estar a indagar duas coisas distintas: 1) Se uma letra de canção é necessariamente um bom poema; e 2) Se uma letra de canção é possivelmente um bom poema. Quanto à primeira pergunta, é evidente que deve ter uma resposta negativa. Nenhum poema é necessariamente um bom poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo, nenhuma letra é necessaria- mente um bom poema. Mas talvez o que se deva perguntar é se uma boa letra é neces- sariamente um bom poema. Ora, também a essa pergunta a resposta é negativa. Quem já não teve a experiência, em relação a uma letra de canção, de se emocionar com ela ao escutá-la cantada e depois considerá-la insípida, ao lê-la no papel, sem acompa- nhamento musical? Não é difícil entender a razão disso. Um poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim em si próprio. Quando o jul- gamos bom ou ruim, estamos a considerá-lo independentemente do fato de que, além de ser um poema, ele tenha qualquer utilidade. O poema se realiza quando é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural. Já uma letra de canção é heterotélica, isto é, ela não tem o seu fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário e suficien- te que ela contribua para que a obra lítero- -musical de que faz parte seja boa. Em ou- tras palavras, se uma letra de canção servir para fazer uma boa canção, ela é boa, ainda que seja ilegível. E a letra pode ser ilegível porque, para se estruturar, para adquirir de- terminado colorido, para ter os sons ou as palavras certas enfatizadas, ela depende da melodia, da harmonia, do ritmo, do tom da música à qual se encontra associada. (Folha de S.Paulo, 16.06.2007.) Para que a julguemos boa, é necessário e su- ficiente que ela contribua para que a obralítero-musical de que faz parte seja boa. No período em destaque, a oração Para que a julguemos boa indica, em relação à oração principal: a) comparação. b) concessão. c) finalidade. d) tempo. e) proporção. 4. (Unesp) A questão toma por base uma pas- sagem de um livro de José Ribeiro sobre o folclore nacional. CURUPIRA Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andan- te, espírito andejo ou vagabundo, destinava- -se a proteger a caça do campo. Era imagi- nado, segundo a tradição colhida pelo Dr. Couto de Magalhães, sob a figura de um vea- do branco, com olhos de fogo. 13 Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá e a visão determinava logo a febre e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo tipo mítico encontrado nas regiões central e meridional e aí representado por um homem enorme coberto de pelos negros por todo o rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou a proteção da caça do mato. Tristonho e taci- turno, anda sempre montado em um porco de grandes dimensões, dando de quando em vez um grito para impelir a vara. Quem o encon- tra adquire logo a certeza de ficar infeliz e de ser mal sucedido em tudo que intentar. Dele se originaram as expressões portuguesas cai- pora e caiporismo, como sinônimo de má sor- te, infelicidade, desdita nos negócios. Bilac assim o descreve: “Companheiro do curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora gigante, ora anão, montado num caititu, e cavalgando à frente de varas de porcos do mato, fumando cachimbo ou cigarro, pedindo fogo aos viajo- res; à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho”. Ambos representam um só mito com diferen- te configuração e a mesma identidade com o curupira e o jurupari, numes que guardam a floresta. Todos convergem mais ou menos para o mesmo fim, sendo que o curupira é representado na região setentrional por um “pequeno tapuio” com os pés voltados para trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis à vida, pelo que a gente do Pará diz que ele é músico. O Curu- pira ou Currupira, como é chamado no sul, aliás erroneamente, figura em uma infinida- de de lendas tanto no norte como no sul do Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e se ouve alguma pancada longínqua no meio dos bosques, “os romeiros dizem que é o Curupi- ra que está batendo nas sapupemas, a ver se as árvores estão suficientemente fortes para sofrerem a ação de alguma tempestade que está próxima. A função do Curupira é prote- ger as florestas. Todo aquele que derriba, ou por qualquer modo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a pena de er- rar tempos imensos pelos bosques, sem poder atinar com o caminho de casa, ou meio algum de chegar até os seus”. Como se vê, qualquer desses tipos é a manifestação de um só mito em regiões e circunstâncias diferentes. (O Brasil no folclore, 1970.) (*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina místi- ca relativa ao nascimento dos deuses, e que frequentemente se relaciona com a forma- ção do mundo. 2. Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema religioso dum povo politeísta. (Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI) Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá [...]. Se a frase apresentada for reescrita trocan- do-se perseguisse, que está no pretérito im- perfeito do modo subjuntivo, por perseguir, futuro do mesmo modo, as formas estivesse e corria assumirão, por correlação de modos e tempos, as seguintes flexões: a) estiver e correu. b) estaria e correria. c) estará e corria. d) esteja e correra. e) estiver e correrá. Leia uma reportagem de Antônio Gois, pu- blicada em 03.02.2012 pelo jornal Folha de S.Paulo, para responder às questões 5 a 7. Laptop de aluno de escola pública tem problemas Estudo feito pela UFRJ para o governo fede- ral mostra que o programa UCA (Um Com- putador por Aluno), implementado em 2010 em seis municípios, esbarrou em problemas de coordenação, capacitação de professores e adequação de infraestrutura. O programa piloto do MEC forneceu 150 mil laptops de baixo custo a professores e alunos de cerca de 300 escolas públicas. Às cidades foram prometidas infraestrutura para acesso à internet e capacitação de ges- tores e professores. Uma das conclusões do estudo foi que a infraestrutura de rede foi inadequada. Em cinco cidades, os avaliadores identificaram que os sinais de internet eram fracos e ins- táveis tanto nas escolas quanto nas casas e locais públicos. A pesquisa mostra que os professores se mos- travam entusiasmados no início, mas, um ano depois, 70% relataram não ter contado com apoio para resolver problemas técnicos e 42% disseram usar raramente ou nunca os laptops em tarefas pedagógicas. Em algumas cidades, os equipamentos que davam defeito ficaram guardados por falta de técnicos que soubessem consertá-los. Além disso, um quinto dos docentes ainda não havia recebido capacitação, e as escolas não tinham incorporado o programa em seus projetos pedagógicos. Um dos pontos positivos foi que os alunos passaram a ter mais domínio de informática. O programa foi mais eficiente quando as es- colas que permitiram levar o laptop para casa. Foram avaliadas Barra dos Coqueiros (SE), Santa Cecília do Pavão (PR), São João da Ponta (PA), Terenos (MS) e Tiradentes (MG). Os autores do estudo não deram entrevista. 14 Assim como numa família de atletas um garoto deve encontrar certa resistência ao começar a fumar, fui motivo de piada entre alguns parentes – quase todos intelectuais – quando souberam que eu estava correndo. “O esporte é bom pra gente”, disse minha avó, num almoço de domingo. “Fortalece o corpo e emburrece a mente.” Hoje, dez anos depois daquele almoço, tenho certeza de que ela estava certa. O esporte emburrece a mente e o mais emburrecedor de todos os esportes inventados pelo homem é, sem sombra de dúvida, a corrida – por isso que eu gosto tanto. Antes que o primeiro corredor indignado atire um tênis em minha direção (número 42, pisada pronada, por favor), explicome. É claro que o esporte é fundamental em nossa formação. Não entendo lhufas de pedagogia ou pediatria, mas imagino que jogos e exercícios ajudem a formar a co- ordenação motora, a percepção espacial, a lógica e os reflexos e ainda tragam mais outras tantas benesses ao conjunto psico- -moto-neuro-blá-blá-blá. Quando falo em emburrecer, refiro-me ao delicioso mo- mento do exercício, àquela hora em que você se esquece da infiltração no teto do banheiro, do enrosco na planilha do Al- meidinha, da extração do siso na próxima semana, do pé na bunda que levou da Ma- rilu, do frio que entra pela fresta da janela e do aquecimento global que pode acabar com tudo de uma vez. Você começa a cor- rer e, naqueles 30, 40, 90 ou 180 minutos, todo esse fantástico computador que é o nosso cérebro, capaz de levar o homem à Lua, compor músicas e dividir um átomo, volta-se para uma única e simplíssima fun- ção: perna esquerda, perna direita, perna esquerda, perna direita, inspira, expira, inspira, expira, um, dois, um, dois. A consciência é, de certa forma, um tormen- to. Penso, logo existo. Existo, logo me inco- modo. A gravidade nos pesa sobre os ombros. Os anos agarram-se à nossa pele. A morte nos espreita adiante e quando uma voz femi- nina e desconhecida surge em nosso celular, não costuma ser a última da capa da Playboy, perguntando se temos programa para sába- do, mas a mocinha do cartão de crédito avi- sando que a conta do cartão “encontra-se em aberto há 14 dias” e querendo saber se “há previsão de pagamento”. Quando estamos correndo, não há previsão de pagamento. Não há previsão de nada por- que passado e futuro foram anulados. Somos uma simples máquina presa ao presente. Somos reduzidos à biologia. Uma válvulabombando no meio do peito, uns músculos contraindo-se e expandindo-se nas pernas, 5. (Unesp) [...] o programa UCA (Um Computa- dor por Aluno), implementado em 2010 em seis municípios, esbarrou em problemas de coordenação, capacitação de professores e adequação de infraestrutura. Observe as seguintes tentativas de substituir esbarrou em nesta passagem. I. foi de encontro a II. defrontou-se com III. resolveu IV. eliminou As substituições que não alteram substancial- mente o sentido da frase estão contidas em: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I, II e IV. e) II, III e IV. 6. (Unesp) O programa foi mais eficiente quan- do as escolas que permitiram levar o laptop para casa. Assinale a alternativa que indica a falha de revisão verificada na passagem destacada. a) O jornalista deveria ter usado o termo mais adequado: notebook. b) Seria muito mais claro empregar computador em vez de laptop. c) A palavra que deveria ter sido eliminada, porque não tem função na frase. d) Deveria haver ponto após escolas. e) Deveria ter sido colocada uma vírgula depois da palavra permitiram. 7. (Unesp) Uma das conclusões do estudo foi que a infraestrutura de rede foi inadequada. Examine as quatro possibilidades de reescre- ver a frase destacada para evitar a repetição desnecessária da forma verbal ”foi”. I. Uma das conclusões do estudo aponta que a infraestrutura de rede foi inadequada. II. Uma das conclusões do estudo foi a ina- dequação da estrutura de rede. III. A estrutura de rede foi inadequada, con- forme uma das conclusões do estudo. IV. Uma das conclusões do estudo foi que a infraestrutura de rede foi considerada inadequada. As frases que evitam a repetição da forma verbal foi estão contidas apenas em: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I, II e III. e) II, III e IV. 8. (Unesp) PENSAR EM NADA A maravilha da corrida: basta colocar um pé na frente do outro. 15 um ou outro neurônio atento aos carros, bu- racos e cocôs de cachorro. Poder, glória, dinheiro, mulheres, as tragé- dias gregas, tá bom, podem ser coisas boas, mas naquele momento nada disso interessa: eis-nos ali, mamíferos adultos, saudáveis, movimentando- nos sobre a Terra, e é só. (Antonio Prata. Pensar em nada. Runner’s World, n.° 7, São Paulo: Editora Abril, maio/2009.) O esporte é bom pra gente, fortalece o corpo e emburrece A MENTE. – Antes que o pri- meiro corredor indignado atire UM TÊNIS em minha direção (...) – Quando estamos cor- rendo, não há PREVISÃO DE PAGAMENTO. Os termos grafados com letras maiúsculas nas passagens acima, extraídas do texto apresen- tado, identificam-se pelo fato de exercerem a mesma função sintática nas orações de que fazem parte. Indique essa função. a) Sujeito b) Predicativo do sujeito c) Predicativo do objeto d) Objeto direto e) Complemento nominal 9. (Unesp 2018) Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bryson. Quase nada, no século XVII, escapava à as- túcia dos que adulteravam alimentos. O açú- car e outros ingredientes caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e poeira. A manteiga tinha o volume aumentado com sebo e banha. Quem tomasse chá, segundo autoridades da época, poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, desde serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um carregamento inspecionado, relata Judith Flanders, demonstrou conter apenas a me- tade de chá; o resto era composto de areia e sujeira. Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre para dar mais acidez; giz ao leite; 1terebintina ao gim. O arsenito de cobre era usado para tornar os vegetais mais verdes, ou para fazer a geleia brilhar. O cromato de chumbo dava um brilho dourado aos pães e também à mostarda. O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante, e o chumbo avermelhado deixava o queijo Gloucester, se não mais seguro para comer, mais belo para olhar. Não havia praticamente nenhum gênero que não pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para o varejista por meio de um pouquinho de manipulação e engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smollett, ganha- vam novo brilho depois de roladas, delica- damente, na boca do vendedor antes de se- rem colocadas em exposição. Quantas damas inocentes, perguntava ele, tinham saboreado um prato de deliciosas cerejas que haviam sido “umedecidas e roladas entre os maxila- res imundos e, talvez, ulcerados de um mas- cate de Saint Giles”? O pão era particularmente atingido. Em seu romance de 1771, The expedition of Hum- phry Clinker, Smollett definiu o pão de Lon- dres como um composto tóxico de “giz, 2alu- me e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destrutivo para a constituição”; mas acusa- ções assim já eram comuns na época. A pri- meira acusação formal já encontrada sobre a adulteração generalizada do pão está em um livro chamado Poison detected: or frightful truths, escrito anonimamente em 1757, que revelou segundo “uma autoridade altamen- te confiável” que “sacos de ossos velhos são usados por alguns padeiros, não infrequen- temente”, e que “os ossuários dos mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao alimento dos vivos”. (Em casa, 2011. Adaptado.) 1terebintina: resina extraída de uma planta e usada na fabricação de vernizes, diluição de tintas etc. 2alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e metais alcalinos, com proprie- dades adstringentes, usado na fabricação de corantes, papel, porcelana, na purificação de água, na clarificação de açúcar etc. Em “Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que adulteravam alimentos” (1º parágrafo), o termo sublinhado é um verbo: a) transitivo direto. b) intransitivo. c) de ligação. d) transitivo indireto. e) transitivo direto e indireto. Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida, para responder às questões 10 e 11. De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. À noi- te, não saia para caminhar, principalmente se estiver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro [...]. De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja – en- tregue tudo. É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações. Faz tem- po que a ideia de integrar uma comunidade e sentir-se confiante e seguro por ser parte de um coletivo deixou de ser um sentimento comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram substituídas pelo sen- timento de insegurança e pelo isolamento 16 que o medo impõe. O outro deixa de ser vis- to como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é encarado como ameaça. O sentimento de insegurança transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lu- gares de encontro, troca, comunidade, par- ticipação coletiva, as moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do horror, do pânico e do medo. A violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa vidas – especialmente as dos jovens e dos mais pobres –, Dilacera fa- mílias, modificando nossas existências dra- maticamente para pior. De potenciais cida- dãos, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse quadro de inse- gurança e pânico, denunciado diariamente pelos jornais e alardeado pela mídia eletrô- nica? Qual tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado de direito? (Violência urbana, 2003.) 10 (Unesp) As palavras do texto, cujos prefixos traduzem ideia de negação, são: a) “desvirtua” e “transforma”. b) “evite” e “isolamento”. c) “desfigura” e “ameaça”. d) “desconhecido” e “insegurança”. e) “subverte” e “dilacera”. 11. (Unesp) O trecho “As noções de segurança e de vida comunitária foram substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe.” (2º parágrafo)foi cons- truído na voz passiva. Ao se adaptar tal tre- cho para a voz ativa, a locução verbal “foram substituídas” assume a seguinte forma: a) substitui. b) substituíram. c) substituiriam. d) substituiu. e) substituem. As questões 12 e 13 tomam por base uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926- 2012). A gente Honório Cota Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, tinha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sé- rio de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade – de brim, a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento – então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa – o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentan- do cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na ja- nela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as tra- zia abertas, esticava-as feito medisse os pas- sos, quebrando os joelhos em reto. Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros anti- gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Pal- meirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. (Ópera dos mortos, 1970.) 12. (Unesp) Analisando o último período do terceiro parágrafo, verifica-se que a palavra “feito” é empregada como: a) advérbio. b) verbo. c) substantivo. d) adjetivo. e) conjunção. 13. (Unesp) No início do segundo parágrafo, por ter na frase a mesma função sintática que o vocábulo “vagaroso” com relação a “passo”, a oração “de quem não tem pres- sa” é considerada: a) coordenada sindética. b) subordinada substantiva. c) subordinada adjetiva. d) coordenada assindética. e) subordinada adverbial. 14. (Unesp) A questão toma por base uma mo- dinha de Domingos Caldas Barbosa (1740- 1800). Protestos a Arminda 1Conheço muitas pastoras Que beleza e graça têm, Mas é uma só que eu amo Só Arminda e mais ninguém. Revolvam meu coração 2Procurem meu peito bem, Verão estar dentro dele Só Arminda e mais ninguém. 17 De tantas, quantas belezas Os meus ternos olhos veem, Nenhuma outra me agrada Só Arminda e mais ninguém. Estes suspiros que eu solto 3Vão buscar meu doce bem, É causa dos meus suspiros Só Arminda e mais ninguém. Os segredos de meu peito Guardá-los nele convém, 4Guardá-los aonde os veja Só Arminda e mais ninguém. Não cuidem que a mim me importa 5Parecer às outras bem, Basta que de mim se agrade Só Arminda e mais ninguém. Não me alegra, ou me desgosta Doutra o mimo, ou o desdém, Satisfaz-me e me contenta Só Arminda e mais ninguém. Cantem os outros pastores Outras pastoras também, Que eu canto e cantarei sempre Só Arminda e mais ninguém. (Viola de Lereno, 1980.) Levando em consideração o contexto da es- trofe, assinale a alternativa em que a forma verbal surge no modo imperativo. a) “Vão buscar meu doce bem,” (ref. 3). b) “Parecer às outras bem,” (ref. 5). c) “Conheço muitas pastoras” (ref. 1). d) “Guardá-los aonde os veja” (ref. 4). e) “Procurem meu peito bem,” (ref. 2). 15. (Unesp) A questão focaliza uma passagem do romance Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901-1957). Água-Mãe Jogava com toda a alma, não podia compre- ender como um jogador se encostava, não se entusiasmava com a bola nos pés. Atirava-se, não temia a violência e com a sua agilidade espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. Quando aquele back1, num jogo de subúrbio, atirou-se contra ele, recuou para derrubá- -lo, e com tamanha sorte que o bruto se es- tendeu no chão, como um fardo. E foi as- sim crescendo a sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao novo Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia no clube, mas a sua vida era cada vez mais agitada. Onde quer que estivesse, era reconhecido e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as despesas que ele fazia e até mesmo nos ônibus, quan- do ia descer, o motorista lhe dizia sempre: — Joca, você aqui não paga. Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham logo meninos para perto dele. Sabia que agradava muito. No clube tinha amigos. Havia porém o antigo center-forward2 que se sentiu roubado com a sua chegada. Não tinha razão. Ele fora chamado. Não se oferecera. E o homem se enfureceu com Joca. Era um jo- gador de fama, que fora grande nos campos da Europa e por isso pouco ligava aos que não tinham o seu cartaz. A entrada de Joca, o sucesso rápido, a maravilha de agilidade e de oportunismo, que caracterizava o jogo do novato, irritava-o até ao ódio. No dia em que tivera que ceder a posição, a um menino do Cabo Frio, fora para ele como se tivesse per- dido as duas pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava. Tinha sido a sua admiração, o seu herói. (Água-Mãe, 1974.) 1Beque, ou seja, o zagueiro de hoje. 2Centroavante. No primeiro parágrafo, predominam verbos empregados no: a) pretérito perfeito do modo indicativo. b) pretérito imperfeito do modo indicativo. c) presente do modo indicativo. d) presente do modo subjuntivo. e) pretérito mais-que-perfeito do modo indi- cativo. GABARITO 1. C 2. E 3. C 4. E 5. A 6. C 7. D 8. D 9. D 10. D 11. B 12. E 13. C 14. E 15. B 18 19 Prescrição: Para resolvermos os exercícios de Interpretação de Textos do vestibular da Unesp, são necessários conhecimentos aprofundados sobre temas relacionados à estilística, ou seja, figuras de lin- guagem e estudos de estruturação de poemas (envolvendo contagem de sílabas poéticas e variantes de rimas). Além disso, nos últimos cinco anos, também tornaram-se frequentes questões sobre História da Arte e semântica (relações conotativas e denotativas e vocabulário sinonímico). INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS - SALA 1. (Unesp 2019) Entre 11 de fevereiro e 03 de junho de 2018, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) abrigou a primei- ra exposição nos Estados Unidos dedicada à pintora brasileira Tarsila do Amaral. Leia a apresentação de uma das pinturas expostas. The painting Sleep (1928) is a dreamlike representation of tropical landscape, with this major motif of her repetitive figure that disappears in the background. This painting is an example of Tarsila’s venture into surrealism. Elements such as repetition, random association, and dreamlike figures are typical of surrealism that we can see as main elements of this composition. She was never a truly surrealist painter, but she was totally aware of surrealism’s legacy. (www.moma.org. Adaptado.) A apresentação sublinha a influência de uma determinada vanguarda europeia sobre a pintura de Tarsila do Amaral. A influência dessa vanguarda europeia também se encon- tra nos seguintes versos do poeta modernis- ta Murilo Mendes: a) No fim de um ano seu Naum progrediu, já sabe que tem Rui Barbosa, Mangue, Lam- pião. Joga no bicho todo dia, está ajuntando pro carnaval, depois do almoço anda às turras com a mu- lher. As filhas dele instalaram-se na vida nacio- nal. Sabem dançar o maxixe conversam com os sargentos em bom brasi- leiro. (“Família russa no Brasil”) b) Eu sou triste como um prático de farmácia, sou quase tão triste como um homem que usa costeletas. Passo o dia inteiro pensandonuns carinhos de mulher mas só ouço o tectec das máquinas de es- crever. Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda. Quantas meninas pela vida afora! E eu alinhando no papel as fortunas dos ou- tros. (“Modinha do empregado de banco”) c) Ele acredita que o chão é duro Que todos os homens estão presos Que há limites para a poesia Que não há sorrisos nas crianças Nem amor nas mulheres Que só de pão vive o homem Que não há um outro mundo. (“O utopista”) d) A costureira, moça, alta, bonita, ancas largas, os seios estourando debaixo do vestido, (os olhos profundos faziam a sombra na cara), morreu. Desde então o viúvo passa os dias no quarto olhando pro manequim. (“Afinidades”) e) O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo que invade a sombra das casas no espaço elástico. Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas que retomam seu lugar na série do planeta. Os homens largam a ação na paisagem ele- mentar e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito. (“O mundo inimigo”) 2. (Unesp 2019) Leia o trecho do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos. O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se. 20 do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudan- do Direito. Respeitei o engenho do Dr. Maga- lhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicul- tura e a avicultura. Para levar os meus pro- dutos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também pu- blicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequ- ência mordeu-me cem mil-réis. (São Bernardo, 1996.) “Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem.” (7º parágrafo) Considerada no atual contexto histórico, essa fala do narrador pode ser vista como uma crítica à ideia de: a) trabalho. b) meritocracia. c) burocracia. d) preguiça. e) pobreza. Leia o poema de Carlos Drummond de Andra- de para responder às questões 3 a 5. PAPEL E tudo que eu pensei e tudo que eu falei e tudo que me contaram era papel. E tudo que descobri amei detestei: papel. Papel quanto havia em mim e nos outros, papel de jornal de parede de embrulho papel de papel papelão. (As impurezas do branco, 2012.) 3. (Unesp) No poema, a metáfora do papel é: a) incoerente e aponta sentimentos inverossí- meis do eu lírico. b) contraditória e sugere a cisão do eu lírico ante suas experiências. c) ambivalente e indica sentimentos engrande- cedores do eu lírico. Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se. Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente. Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As par- tes principais apareceram ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode inte- ressar aos arquitetos, homens que prova- velmente não lerão isto. Ficou tudo con- fortável e bonito. Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não utilizo, porque não sei para que servem. Aqui existe um salto de cinco anos, e em cin- co anos o mundo dá um bando de voltas. Ninguém imaginará que, topando os obstá- culos mencionados, eu haja procedido in- variavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A ver- dade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me leva- ram a obtê-las. Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agar- rou-se comigo, as taxas desceram. E os ne- gócios desdobraram-se automaticamente. Automaticamente. Difícil? Nada! Se eles en- tram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que praticarem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e não pro- gridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenros- cam-se, abrem a boca – e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primei- ras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve re- clamações. — Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à justiça. Como a justiça era cara, não foram à justi- ça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra 21 d) polissêmica e reporta a experiências varia- das vividas pelo eu lírico. e) redundante e enfatiza a indiferença do eu lírico em relação às suas experiências. 4. (Unesp) A figura de linguagem que se verifi- ca na primeira estrofe é: a) a anáfora, pois se identifica no início dos três primeiros versos a repetição de construção. b) o hipérbato, pois nos quatro versos ocorre inversão sintática. c) o anacoluto, pois o verso final não se liga sintaticamente aos precedentes. d) a antítese, pois há entre os versos ideias que se contrapõem. e) a sínquise, pois há inversão de palavras e dificuldade no entendimento do enunciado. 5. (Unesp) Quanto aos aspectos formais, o poe- ma caracteriza-se pelo emprego de: a) rimas raras. b) métrica irregular. c) versos decassílabos. d) rimas alternadas. e) linguagem rebuscada. RAIO X - ANÁLISE EXPOSITIVA 1. A apresentação da obra de Tarsila do Amaral, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, faz referência ao Surrealismo, estética artís- tica que terá influenciado o quadro “Sono”, uma representação onírica da paisagem tro- pical com uma figura repetitiva que desapa- rece ao fundo. A estrofe em [E] apresenta características dessa mesma estética, atra- vés da reconstrução elaborada de um mundo ilógico, típico de sonho: “O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo”, “a vida move direitinho as estátuas” ou “invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito”. 2. O conceito de que há pessoas que se empe- nham no trabalho e não obtêm sucesso na vida contraria a ideia de meritocracia, siste- ma de promoção em que cada um recebe, de acordo com méritos pessoais, esforço e dedi- cação ou até inteligência. 3. No poema, o papel apresenta significações variadas que remetem à experiência do eu lírico, configurando um papel polissêmico, ou seja, o termo “papel” é usado em várias acepções semânticas. 4. Nos primeiros versos, encontramos retoma- das sequencias da construção “e tudo” (sem- pre no início de cada verso), o que caracteri- za a figura de linguagem anáfora. 5. A principal característica do poema “Papel”, de Carlos Drummond de Andrade, é a fuga do trabalho com as formas fixas, ou seja, há uma precedência para o trabalho com a métrica irregular dos versos (com muitas variantes de tamanho, inclusive com versos construído com uma única palavra). GABARITO1. E 2. B 3. D 4. A 5. B 22 PRÁTICA DOS CONHECIMENTOS - E.O. Para responder às questões 1 a 4, leia a crô- nica Seu “Afredo”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada, originalmente, em setembro de 1953. Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira cur- vatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tor- nou-se inesquecível à minha infância por- que tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sem- pre depois de seu trabalho, minha mãe fica- va passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do 1vernáculo e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afre- do estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarentão, ultrar- respeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente 2ressabiada quando seu Afredo, casualmente de passa- gem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular: — Onde vais assim tão elegante? Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à 3lide caseira, queixou-se do fatigante 4ra- merrão do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse: — Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometra- gem. Diz que é muito bão. De outra feita, minha tia Graziela, recém- -chegada de fora, cantarolava ao piano en- quanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe: — Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: — É, canto às vezes, de brincadeira... Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamen- to do nosso encerador: — Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e fa- lou: — Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro! E, a seguir, ponderou: — Agora, piano é diferente. Pianista ela é! E acrescentou: — Eximinista pianista! (Para uma menina com uma flor, 2009.) 1vernáculo: a língua própria de um país; lín- gua nacional. 2ressabiado: desconfiado. 3lide: trabalho penoso, labuta. 4ramerrão: rotina. 1. (Unesp) Um traço característico do gênero crônica, visível no texto de Vinicius de Mo- raes, é: a) o tom coloquial. b) a sintaxe rebuscada. c) o vocabulário opulento. d) a finalidade pedagógica. e) a crítica política. 2. (Unesp) Em “Mas, como linguista, cultor do vernáculo e aplicador de sutilezas gramati- cais, seu Afredo estava sozinho.” (1º pará- grafo), o cronista sugere que seu Afredo: a) mostrava-se incomodado por não ter com quem conversar sobre questões gramaticais. b) revelava orgulho ao ostentar conhecimentos linguísticos pouco usuais. c) sentia-se solitário por ser um dos poucos a dispor de sólidos conhecimentos gramaticais. d) sentia-se amargurado por notar que seus conhecimentos linguísticos não eram reco- nhecidos. e) revelava originalidade no modo como em- pregava seus conhecimentos linguísticos. 3. (Unesp) Em “Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou [...]” (12º parágrafo), a conjunção destacada pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por: a) assim como. b) logo que. c) enquanto. d) porque. e) ainda que. 4. (Unesp) Na crônica, o personagem seu Afre- do é descrito como uma pessoa: a) pedante e cansativa. b) intrometida e desconfiada. c) expansiva e divertida. d) discreta e preguiçosa. e) temperamental e bajuladora. 23 Tamanho esforço intelectual e total entrega ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera. Seguiu debilitado até o final daque- la década. Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porém, a his- toriadora da ciência britânica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de “cos- mologias”, de visões globais sobre temas científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma visão cosmológica da Terra. Fara dá a entender que várias áreas da ci- ência, naquele início de século, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hi- póteses em outros campos do conhecimento. (Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.) Em “A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955).” (2º pará- grafo), o termo destacado pode ser substitu- ído de modo mais adequado, tendo em vista o contexto, por: a) proeza. b) ousadia. c) concretude. d) debilidade. e) petulância. Para responder às questões 6 a 9, leia o se- guinte verbete do Dicionário de Comunicação, de Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Barbosa. CRÔNICA — Texto jornalístico desenvolvido de forma livre e pessoal, a partir de fatos e acontecimentos da atualidade, com teor literário, político, esportivo, artístico, de amenidades etc. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, a crônica é um meio- -termo entre o jornalismo e a literatura: “do primeiro, aproveita o interesse pela atuali- dade informativa, da segunda imita o pro- jeto de ultrapassar os simples fatos”. O pon- to comum entre a crônica e a notícia ou a reportagem é que o cronista, assim como o repórter, não prescinde do acontecimento. Mas, ao contrário deste, ele “paira” sobre os fatos, “fazendo com que se destaque no texto o enfoque pessoal (onde entram juízos implícitos e explícitos) do autor”. Por outro lado, o editorial difere da crônica, pelo fato de que, nesta, o juízo de valor se confunde com os próprios fatos expostos, sem o dog- matismo do editorial, no qual a opinião do autor (representando a opinião da empresa jornalística) constitui o eixo do texto. (Dicionário de Comunicação, 1978.) 5. (Unesp) Leia o trecho extraído do artigo “Cosmologia, 100”, de Antonio Augusto Pas- sos Videira e Cássio Leite Vieira. “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase – que tem algo da essência do hoje clássico A estrada não percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) – está em um artigo científico publicado há cem anos, cujo teor constitui um marco his- tórico da civilização. Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos de- pois de o Homo sapiens deixar uma mão com tinta estampada em uma pedra, a humanida- de era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A façanha intelectual levava as digitais de Al- bert Einstein (1879-1955). Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico de origem alemã escreveu a um colega di- zendo que o que produzira o habilitaria a ser “internado em um hospício”. Mais tarde, referiu-se ao arcabouço teórico que havia construído como um “castelo alto no ar”. O Universo que saltou dos cálculos de Eins- tein tinha três características básicas: era fi- nito, sem fronteiras e estático – o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependi- mento a Einstein nas décadas seguintes. Em “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade Geral”, publicado em feve- reiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Ciências, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finali- zada em 1915, esquema teóricojá classifica- do como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à cultura humana. Esse bloco matemático impenetrável (mesmo para físicos) nada mais é do que uma teoria que explica os fenômenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avi- damente luz e matéria. Com a introdução da relatividade geral, a te- oria da gravitação do físico britânico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso específico da primeira, para situações em que massas são bem menores do que as das estre- las e em que a velocidade dos corpos é muito inferior à da luz no vácuo (300 mil km/s). Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma peque- na joia, “Teoria da Relatividade Especial e Geral”, na qual populariza suas duas teo- rias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar. 24 6. (Unesp) De acordo com o verbete, o tema de uma crônica se baseia em: a) juízos de valor. b) anedotário popular. c) fatos pessoais. d) eventos do cotidiano. e) eventos científicos. 7. (Unesp) Segundo o verbete, uma caracterís- tica comum à crônica e à reportagem é: a) a relação direta com o acontecimento. b) a interpretação do acontecimento. c) a necessidade de noticiar de acordo com a filosofia do jornal. d) o desejo de informar realisticamente sobre o ocorrido. e) o objetivo de questionar as causas sociais dos fatos. 8. (Unesp) O termo “dogmatismo”, no contexto do verbete, significa: a) desprezo aos acontecimentos da atualidade. b) obediência à constituição e às leis do país. c) ausência de ideologia nas manifestações de opinião. d) opiniões assumidas como verdadeiras e imu- táveis. e) conjunto de verdades religiosas. 9. (Unesp) De acordo com o verbete, o editorial representa sempre: a) o julgamento dos leitores. b) a opinião do repórter. c) a crítica a um fato político. d) a resposta a outros veículos de comunicação. e) o ponto de vista da empresa jornalística. 10. (Unesp) Escrever mal é difícil, declarou um dos maiores escritores contemporâneos. Du- rante debate para divulgar seu romance O homem que amava os cachorros, o cubano Leonardo Padura caçoou de autores de best- -sellers. “Escrever livros como os de Paulo Coelho e Dan Brown não é fácil, não há mui- tos Dan Browns que possam escrever um ro- mance tão horrível como O código Da Vinci, que venda milhões de exemplares. Há que se saber fazer má literatura para poder escrever um livro desses”. (VICTOR, Fábio. “Fazer má literatura é difícil, diz escritor Leonardo Padura”. Folha de S.Paulo, 17.04.2014. Adaptado.) O comentário irônico do escritor acerca da qualidade literária justifica-se pela: a) condição de autonomia estética atribuída aos escritores citados na relação com o mer- cado literário. b) meticulosidade técnica necessária para es- crever livros prioritariamente condicionados pelo mercado. c) inexistência de critérios objetivos que per- mitam diferenciar qualitativamente as obras literárias. d) primazia da autonomia estética sobre o ca- ráter de mercadoria intrínseco à indústria cultural. e) qualidade culturalmente elitista atribuída aos escritores de livros considerados best- -sellers. As questões 11 a 13 focalizam uma passagem de um artigo de Cláudia Vassallo. ALIADAS OU CONCORRENTES Alguns números: nos Estados Unidos, 60% dos formados em universidades são mulhe- res. Metade das europeias que estão no mer- cado de trabalho passou por universidades. No Japão, as mulheres têm níveis semelhan- tes de educação, mas deixam o mercado as- sim que se casam e têm filhos. A tradição joga contra a economia. O governo credita parte da estagnação dos últimos anos à au- sência de participação feminina no merca- do de trabalho. As brasileiras avançam mais rápido na educação. Atualmente, 12% das mulheres têm diploma universitário – ante 10% dos homens. Metade das garotas de 15 entrevistadas numa pesquisa da OCDE1 dis- se pretender fazer carreira em engenharia e ciências – áreas especialmente promissoras. [...] Agora, a condição de minoria vai caindo por terra e os padrões de comportamento come- çam a mudar. Cada vez menos mulheres es- tão dispostas a abdicar de sua natureza em nome da carreira. Não se trata de mudar a essência do trabalho e das obrigações que homens e mulheres têm de encarar. Não se trata de trabalhar menos ou ter menos ambi- ção. É só uma questão de forma. É muito pro- vável que legisladores e empresas tenham de ser mais flexíveis para abrigar mulheres de talento que não desistiram do papel de mãe. Porque, de fato, essa é a grande e única questão de gênero que importa. Mais fortalecidas e mais preparadas, as mu- lheres terão um lugar ao sol nas empresas do jeito que são ou desistirão delas, porque serão capazes de ganhar dinheiro de outra forma. Há 8,3 milhões de empresas lideradas por mulheres nos Estados Unidos – é o tipo de empreendedorismo que mais cresce no país. De acordo com um estudo da EY2, o Bra- sil tem 10,4 milhões de empreendedoras, o maior índice entre as 20 maiores economias. Um número crescente delas tem migrado das grandes empresas para o próprio negócio. Os fatos mostram: as empresas em todo o mun- do terão, mais cedo ou mais tarde, de decidir 25 se querem ter metade da população como aliada ou como concorrente. (Exame, outubro de 2013.) 1OCDE: Organização para a Cooperação e De- senvolvimento Econômico. 2EY: Organização global com o objetivo de au- xiliar seus clientes a fortalecerem seus ne- gócios ao redor do mundo. 11. (Unesp) Em sua argumentação, a autora reve- la que a importância da presença das mulhe- res em atividades empresariais se deve, entre outros, a um motivo de ordem estatística: a) elas revelam maior sensibilidade e uma in- tuição aguçada para os negócios. b) elas representam um contingente considerá- vel de metade da população do mundo. c) elas são capazes, em comparação com os ho- mens, de acumular inúmeras tarefas. d) elas se formam em média com rendimento maior que os homens nas universidades. e) elas aumentam significativamente a produ- ção das empresas em que atuam. 12. (Unesp) No último parágrafo, focalizando o mercado de trabalho mundial, a autora suge- re que as grandes empresas atuais: a) correm o risco de privilegiar o mercado fe- minino, se começarem a ser lideradas por mulheres. b) não admitem, em todo o mundo, a liderança de mulheres. c) precisam muito da liderança de mulheres, pois estas são atualmente mais capacitadas que os homens. d) não precisam se preocupar com as mulheres, pois o empreendedorismo destas é um fenô- meno passageiro. e) poderão ter de enfrentar no futuro a concor- rência de empresas lideradas por mulheres. 13. (Unesp) Desde o título do artigo, que é reto- mado no último parágrafo, os argumentos da autora são motivados por um fato não referi- do de modo ostensivo, ou seja: a) a boa empresária dificilmente conseguirá se tornar uma boa mãe. b) as mulheres mostram melhor desempenho nas atividades domésticas. c) as atividades empresariais ainda são domi- nadas por homens. d) as empresas fazem grande esforço pela par- ticipação de mulheres. e) o mercado ainda trata as mulheres mais como consumidoras do que empreendedoras. Para responder às questões 14 e 15, leia o fragmento de um texto publicado, em 1867, no semanário Cabrião. São Paulo, 10 de março de 1867. Estamos em plena quaresma. A população paulista azafama-se a preparar- -se para a lavagem geral das consciências nas águas lustrais do confessionário e do jejum. A cambuquira* e o bacalhau afidalgam-se no mercado. A carne, mísera condenada pelos santos con- cílios, fica reduzida aos pouquíssimos dentes acatólicos da população, e desce quase a zero na pauta dos preços. O que não sobe nem desce na escalados fatos normais é a vilania, a usura, o egoís- mo, a estatística dos crimes e o montão de fatos vergonhosos, perversos, ruins e feios que precedem todas as contrições oficiais do confessionário, e que depois delas continu- am com imperturbável regularidade. É o caso de desejar-se mais obras e menos palavras. E se não, de que é que serve o jejum, as ma- cerações, o arrependimento, a contrição e quejandas religiosidades? O que é a religião sem o aperfeiçoamento moral da consciência? O que vale a perturbação das funções gastro- nômicas do estômago sem consciência livre, ilustrada, honesta e virtuosa? Seja como for, o fato é que a quaresma toma as rédeas do governo social, e tudo entris- tece, e tudo esfria com o exercício de seus místicos preceitos de silêncio e meditação. De que é que vale a meditação por ofício, a meditação hipócrita e obrigada, que consiste unicamente na aparência? Pois o que é que constitui a virtude? É a for- ma ou é o fundo? É a intenção do ato, ou sua feição ostensiva? Neste sentido, aconselhamos aos bons leito- res que comutem sem o menor escrúpulo os jejuns, as confissões e rezas em boas e santas ações, em esmolas aos pobres. (AGOSTINI, Ângelo; CAMPOS, Américo de; REIS, Antônio Manoel dos. Cabrião, 10.03.1867. Adaptado.) * Iguaria constituída de brotos de abóbora guisados, geralmente servida como acompa- nhamento de assados. 14. (Unesp) Pelo seu tema e desenvolvimento argumentativo, o texto pode ser classificado como: a) crítico. b) lírico. c) narrativo. d) histórico. e) épico. 26 15. (Unesp) Segundo os autores, os pecados de- clarados no confessionário: a) representam uma autorização para voltar a pecar. b) não tornam a ser cometidos pelos crentes. c) deixam de ser pecados nas próximas vezes. d) não são tão graves que mereçam confissão. e) voltam a ser cometidos como sempre. GABARITO 1. A 2. E 3. B 4. C 5. A 6. D 7. A 8. D 9. E 10. B 11. B 12. E 13. C 14. A 15. E 27 Prescrição: A prova de Literatura do vestibular da Unesp não trabalha com leitura obrigatória de obras pré-selecionadas. Por esse motivo, é essencial que o aluno mobilize conhecimentos de teoria literária (escolas literárias) e de interpretação de gêneros textuais. LITERATURA APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS - SALA 1. (Unesp) Leia um trecho do “Manifesto do Surrealismo”, publicado por André Breton em 1924. Surrealismo: automatismo psíquico por meio do qual alguém se propõe a exprimir o fun- cionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de controle exerci- do pela razão, fora de qualquer preocupação estética ou moral. O Surrealismo assenta-se na crença da rea- lidade superior de certas formas de associa- ção, negligenciadas até aqui, na onipotência do sonho, no jogo desinteressado do pensa- mento. Apud Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia e Modernismo brasileiro. 1992 (Adaptado). Tendo em vista as considerações de André Breton, assinale a alternativa cujos versos revelam influência do Surrealismo. a) O mar soprava sinos os sinos secavam as flores as flores eram cabeças de santos. Minha memória cheia de palavras meus pensamentos procurando fantasmas meus pesadelos atrasados de muitas noites. (João Cabral de Melo Neto, “Noturno”, em Pedra do sono) b) Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé. Comprida história que não acaba mais. (Carlos Drummond de Andrade, “Infância”, em Alguma poesia) c) Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. (Manuel Bandeira, “Momento num café”, em Estrela da manhã) d) Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram ne- nhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. (Carlos Drummond de Andrade, “Elegia 1938”, em Sentimento do mundo) e) — Bem me diziam que a terra se faz mais branda e macia quanto mais do litoral a viagem se aproxima. Agora afinal cheguei nessa terra que diziam. Como ela é uma terra doce para os pés e para a vista. (João Cabral de Melo Neto, “O retirante chega à Zona da Mata”, em Morte e vida severina) 2. (Unesp) Duas fortes motivações converte- ram-se em molas de composição desta obra: I. por um lado, o desejo de contar e cantar episódios em torno de uma figura lendária que trazia em si os atributos do herói, en- tendido no senso mais lato possível de um ser entre humano e mítico, que desempe- nha certos papéis, vai em busca de um bem essencial, arrosta perigos, sofre mudanças extraordinárias, enfim vence ou malogra...; II. por outro lado, o desejo não menos impe- rioso de pensar o povo brasileiro, nossa gente, percorrendo as trilhas cruzadas ou superpostas da sua existência selvagem, colonial e moderna, à procura de uma identidade que, de tão plural que é, beira a surpresa e a indeterminação. Alfredo Bosi. Céu, inferno. 2003 (Adaptado). Tal comentário aplica-se à obra: a) Memórias de um sargento de milícias, de Ma- nuel Antônio de Almeida. b) Vidas secas, de Graciliano Ramos. c) Macunaíma, de Mário de Andrade. d) Os sertões, de Euclides da Cunha. e) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Ma- chado de Assis. 28 3. (Unesp) Em 1924, uma caravana formada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, entre outros, percorreu as cidades históricas mineiras e acabou entran- do para os anais do Modernismo. O movimento deflagrado em 1922 estava se reconfigurando. MARQUES, Ivan. “Trem da modernidade”. Revista de História da Biblioteca Nacional, fev. 2012. (Adaptado). Entre as características da “reconfiguração” do Modernismo, citada no texto, podemos incluir: a) a politização do movimento, o resgate de princípios estéticos do parnasianismo e o indigenismo. b) a retomada da tradição simbolista, a defesa da internacionalização da arte brasileira e a valorização das tradições orais. c) a incorporação da estética surrealista, o apoio ao movimento tenentista e a defesa do verso livre. d) a defesa do socialismo, a crítica ao barroco brasileiro e a revalorização do mundo rural. e) a maior nacionalização do movimento, o de- clínio da influência futurista e o aumento da preocupação primitivista. A questão 4 toma por base um fragmento de “Glória moribunda“, do poeta romântico brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852). É uma visão medonha uma caveira? Não tremas de pavor, ergue-a do lodo. Foi a cabeça ardente de um poeta, Outrora à sombra dos cabelos loiros. Quando o reflexo do viver fogoso Ali dentro animava o pensamento, Esta fronte era bela. Aqui nas faces Formosa palidez cobria o rosto; Nessas órbitas – ocas, denegridas! – Como era puro seu olhar sombrio! Agora tudo é cinza. Resta apenas A caveira que a alma em si guardava, Como a concha no mar encerra a pérola, Como a caçoula a mirra incandescente. Tu outrora talvez desses-lhe um beijo; Por que repugnas levantá-la agora? Olha-a comigo! Que espaçosa fronte! Quanta vida ali dentro fermentava, Como a seiva nos ramos do arvoredo! E a sede em fogo das ideias vivas Onde está? Onde foi? Essa alma errante Que um dia no viver passou cantando, Como canta na treva um vagabundo, Perdeu-se acaso no sombrio vento, Como noturna lâmpada apagou-se? E a centelha da vida, o eletrismo Que as fibras tremulantes agitava Morreu para animar futuras vidas? Sorris? eu sou um louco. As utopias, Os sonhos da ciência nada valem. A vida é um escárnio sem sentido, Comédia infame que ensanguenta o lodo. Há talvez um segredo que ela esconde; Mas esse a morte o sabe e o não revela. Os túmulos são mudos
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