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Introdução ao Antigo Testamento Aula 5: Torah Apresentação Na aula anterior, apresentamos, brevemente, a história narrada no Antigo Testamento. Agora, nós nos concentraremos nos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica (Torah): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Começaremos pelo chamado livro das origens (Gênesis), passando pela história da libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Assim, conheceremos os principais episódios que marcaram a narrativa de toda a Bíblia. Em seguida, analisaremos os episódios de crise e de intervenção divina em Levítico, Números e Deuteronômio, que demonstram as bases diretivas dos demais códigos de leis e das narrativas da Bíblia Hebraica. Estudar a Torah (ou Pentateuco) é fundamental para compreender todo o Antigo Testamento. Vamos lá? Objetivos Explicar o processo de redação, os temas e as formas da Torah; Identificar a divisão de assuntos de cada livro: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Redação da Torah: Pentateuco em questão A hipótese mais clássica, formulada para explicar a formação do Pentateuco , é a chamada hipótese documentária. Veja, agora, um breve histórico dessa hipótese: 1853 Em 1853, o protestante alemão Hermann Hupfeld (1796-1866) publicou um livro em que defendeu o seguinte: O chamado núcleo original continha algumas passagens de origem posterior, que representavam uma primeira fase de expansão do núcleo. Ambas as passagens posteriores e as passagens que a própria hipótese complementária identificou como parte do núcleo não eram fragmentos recolhidos, mas pedaços de grandes composições narrativas preexistentes que os compiladores do Pentateuco usaram como fontes. Hupfeld identificou quatro documentos: Escrito Sacerdotal (P); Elohista (E); Javista (J); Deuteronomista (D). Algum tempo antes de 1860, o orientalista e teólogo alemão Georg Heinrich Ewald (1803-1875) reconheceu a existência de um segundo E, e teceu observações sobre o caráter de J e E como fontes contínuas. 1860 No início da década de 1860, o estudioso bíblico e orientalista alemão Julius Wellhausen (1844-1918) escreveu que tinha ficado perplexo com a falta de referência às supostas leis sacerdotais já antigas nos primeiros 1 livros históricos, como Samuel e Reis, e nos Profetas. O trabalho do teólogo protestante holandês Abraham Kuenen (1828- 1891), cuja Introdução ao Antigo Testamento começou a ser publicada em 1861, aceitou a divisão de Hupfeld. 1862 Em 7 de outubro de 1862, o estudioso e orientalista francês Karl Heinrich Graf (1815-1869) escreveu a seu ex-professor de Antigo Testamento, o teólogo protestante francês Edouard Guillaume Eugène Reuss (1804-1891): “Estou completamente convencido do fato de que toda a parte do meio do Pentateuco [aparentemente, de Êxodo 25 até o fim dos Números] é de origem pós-exílica”. A propósito, o ano de 1862 foi muito importante para o desenvolvimento do estudo do Pentateuco na Inglaterra e na Alemanha. Foi quando Wellhausen ingressou, aos 18 anos, na Universidade de Göttingen para estudar Teologia. No mesmo período, um jovem estudante britânico, Thomas Kelly Cheyne (1841-1915), também estava em Göttingen e desempenhou um papel relevante na recepção das ideias de Wellhausen, na Inglaterra. Nessa época, o estudo crítico do Pentateuco já tinha cerca de 150 anos. 1878 A teoria documental clássica das origens do Pentateuco teve a participação fundamental de Wellhausen. Sua obra História de Israel (Geschichte Israels) fez muito sucesso, e ele prometeu novos volumes, mas o grande êxito fez com que Wellhausen reeditasse o trabalho com o título Prolegômenos da História de Israel (Prolegomena zur Geschichte Israels) – texto publicado em 1878. Nessa obra, a chamada teoria documentária ou teoria de Graf- Wellhausen sobre as fontes do Pentateuco recebeu sua forma mais definida. Assim, há, de fato, quatro documentos que formam o Pentateuco. São eles: Javista (J); Eloísta (E); Deuteronomista (D); Sacerdotal (P). Atividade 1. Explique a hipótese documentária. Temas e formas na Torah Uma simples leitura sincrônica do Pentateuco leva o leitor a se perguntar: Fonte: Shutterstock/Chris Gunby Com efeito, o Pentateuco termina com a história da morte de Moisés na frente da Terra Prometida, no final do livro de Deuteronômio. Só no livro de Josué, quando a entrada do povo em Canaã é descrita, e o território, conquistado, que uma aliança é estabelecida em Siquém (Josué 24), e as palavras são escritas por Josué no livro da Torah de Deus (Josué 24.26). Portanto, o livro de Josué reúne histórias, cujo tema comum consiste em descrever a realização da promessa feita por Deus a seu povo – algumas apresentando relações óbvias com as histórias do Pentateuco. Logo, a questão colocada só pode ser respondida após um exame completo do texto. Siquém: lugar da aliança de Josué 24 (Fonte: https://goo.gl/ybCYtE <https://goo.gl/ybCYtE> ) Quatro dos livros no Pentateuco tratam dos eventos relacionados a Moisés. Então, uma sugestão é pensá-lo como uma biografia desse personagem. O Pentateuco pode ser considerado uma história de Israel no tempo de Moisés, com uma introdução (Gênesis) que o coloca à luz da criação e da história geral. Para muitos, no entanto, isso não seria suficientemente lógico para fazer justiça ao forte elemento religioso que permeia a história do começo ao fim. O teólogo alemão Gerhard von Rad (1901-1971) sugeriu que o Pentateuco – ou, mais precisamente, o Hexateuco – era um credo expandido. Outra maneira de tratar seu caráter teológico é considerá-lo a expressão judaica tradicional da lei, de origem divina, que rege Israel. O Pentateuco destaca alguns temas, como: 2 1 Lei De fato, a lei escrita é verdadeiramente encontrada nos últimos livros do Pentateuco, e as personalidades que aparecem em Gênesis, por exemplo, constituem uma espécie de lei viva. Por meio do exemplo desses personagens históricos, observamos a orientação do comportamento humano dada por Deus. 2 Instrução A palavra Torah é encontrada em Provérbios com esse significado mais geral de ensino ou instrução, o Pentateuco inclui as partes não legais desses livros bem como as legais. 3 Aliança Outra definição teológica que serve de tema para a Torah é aliança. O Pentateuco apresenta os termos da relação de Deus com seu povo sob a forma de promessas e leis que são exigências divinas, a que se precisa obedecer. Atenção O Pentateuco é a história do cumprimento parcial da promessa de Deus a partir da aliança aos patriarcas. Esse é um importante tema teológico da promessa no primeiro livro da Bíblia, que evidencia como Gênesis está conectado aos livros posteriores também em uma dimensão teológica, não apenas no âmbito da continuação da história. Além disso, a grande quantidade de material legislativo em Levítico e Deuteronômio possui características que atraem uma variedade de pontos de vista religiosos vinculados à relação entre Deus e o homem. Atividade 2. O que é Pentateuco? Gênesis Gênesis faz parte de uma série de livros históricos que começam com a criação do mundo e terminam com a destruição do minúsculo reino de Judá no século VI a.C. (os últimos capítulos de 2 Reis). Os eventos narrados são todos organizados em uma sequência cronológica, em que o material não narrativo – principalmente poemas e leis – é anexado. Mas essa grande história não foi originalmente concebida como uma única obra. É geralmente acordado que ela consiste em dois grupos, mas o ponto em que o primeiro termina e em que o segundo começa tem sido uma questão em disputa. De acordo com a tradição antiga, o primeiro grupo de livros compreende os primeiros cinco livros da Bíblia Hebraica, que terminam com Deuteronômio. Talvez pareça que essas questões são irrelevantes para o estudo de Gênesis, mas não é assim. Embora tenha seu próprio caráter distintivo – de único livro no Pentateuco que não é dominado pela figura de Moisés –, Gênesis está intimamente relacionado aos livros que o seguem, e só pode ser plenamentecompreendido como parte de uma história mais extensa. Frontispício do livro de Gênesis contendo as palavras in principio (Fonte: https://goo.gl/RZhVNo <https://goo.gl/RZhVNo> ) Em Gênesis, há um prefácio para a história de Israel (Gênesis 1-11), contada com muitas relações com eventos narrados posteriormente. Todo o livro, inclusive, é um prelúdio necessário para os grandes eventos associados ao Êxodo do Egito – fundamento da história e da fé judaicas. Gênesis apresenta Deus como criador do mundo ao leitor, mas também como um cuidador de suas criaturas por meio da proteção e da orientação daqueles a quem escolheu como seu povo (Gênesis 12: o chamado de Abraão). Para compreender Gênesis (e o Pentateuco como um todo), é importante vê-lo como uma obra literária e tentar definir seu gênero. Isso envolve uma apreciação da natureza da historiografia antiga, pré-científica. O objetivo desses historiógrafos era escrever relatos sobre a origem genealógica do povo de Israel e a história das famílias notáveis de seus dias. Não é objetivo primordial de Gênesis estabelecer a verdade exata dos eventos descritos, mas trazer a seus leitores uma consciência de sua própria identidade. Os responsáveis pelo legado presente em Gênesis usaram tradições existentes a respeito do passado e criaram outras para amarrar as histórias, pois o material de que dispunham era escasso. Esse tipo de escrita imaginativa gerou um senso de identidade nacional em seus leitores, mas sua intenção estava longe de ser triunfalista: os principais personagens humanos não eram heróis no sentido mais completo. Nas histórias de Gênesis, Deus exerce o protagonismo, e os personagens humanos são representados, muitas vezes, como criaturas tolas e pecaminosas. A primeira parte dedica-se à história dos primórdios (Gênesis 1-11), mas prenuncia alguns dos principais temas do livro. Nela, descreve-se o lugar de Israel no mundo das nações, e as figuras do passado remoto são conectadas a Abraão e a seus descendentes por uma série de genealogias. Essa parte de Gênesis também funciona como uma história das origens do universo. Ela proporciona a oportunidade de declarar a crença de que existe apenas um Deus supremo e que Ele criou o mundo com todos os seus habitantes (Gênesis 1-2). Preocupa-se com a natureza desse Deus e com a natureza de suas criaturas humanas, as quais falham em suas tarefas diante do próprio Deus (Gênesis 3) e nas relações familiares (Gênesis 4). Essa história universal ensinou aos leitores israelitas uma lição moral e uma teologia: os seres humanos são tolos e propensos a rebeliões pecaminosas contra Deus. Ainda assim, Deus age com misericórdia: Ele pune os erros cometidos pelos homens e pelas mulheres, mas não os destrói (Gênesis 1- 11). O próximo ciclo de Gênesis é dedicado a Abraão, Isaque e Jacó. O tema principal dos capítulos 12 a 36 é a escolha de Abraão e de seus descendentes por Deus, os quais abençoam em si toda a raça humana e recebem as (Promessas divinas Gênesis 12). Deus escolhe: Abraão. Isaque no lugar de Ismael – ambos filhos de Abraão. Jacó no lugar de Esaú – ambos filhos de Isaque. O 11º filho de Jacó (José) no lugar de todos os 11. 3 Efraim no lugar de Manassés – ambos filhos de José. Nessa importante seção, há um contratema importante: os perigos que os receptores das promessas (e suas esposas) correm, às vezes por sua própria culpa, às vezes até mesmo por instigação de Deus (Gênesis 22). A história de José (capítulos 37-50) continua da seção anterior, mas tem caráter independente. Ainda que as promessas divinas não sejam mencionadas especificamente nesses capítulos, o tema dos herdeiros em extinção continua a ser proeminente: em momentos diferentes, José e sua família estão em perigo. O cenário egípcio é uma característica relevante da história de José e é descrito com algum detalhe, melhorando para o leitor a imagem do que seria a vida de José no Egito. O caráter de José é retratado com habilidade. Essa parte final do livro deixa os leitores com esperança de um futuro esplêndido. Os versos finais indicam, em específico, o Êxodo do Egito, que leva, finalmente, à posse da Terra Prometida. Êxodo O segundo livro do Pentateuco é, em muitos aspectos, central no conjunto de livros da Torah. Gênesis trata dos antepassados de Israel. Êxodo, por sua vez, conta como eles se tornaram uma nação por meio da ação divina. Êxodo é a história da fundação do povo de Israel, seu documento de identidade: informa de onde eles vieram e qual é seu lugar no mundo sob a soberania de Deus. Embora, às vezes, tenha-se procurado relacionar os eventos do Êxodo a sequências naturais (Êxodo 7.6-11, 16 ou 19), é fato que a história narrada é teológica: eventos cotidianos são explicados e redimensionados como obras gloriosas de Deus. Ilustração de Moisés abrindo o mar vermelho. (fonte: Shutterstock/Ron and Joe) Deus não intervém diretamente com uma série surpreendente de atos poderosos, mas Ele mesmo aparece na cena várias vezes em formas mais ou menos visíveis (Êxodo 3.1-6). O cenário histórico é incrivelmente esboçado. Em resumo, Êxodo não é o tipo de história reconhecida pelos gregos ou pelos historiadores modernos, mas é uma história sagrada. Vários pontos mostram que a intenção de Êxodo é narrar uma história do passado real, a qual se concentra em um povo que, de fato, existiu e que é alvo de uma narrativa contínua (de Gênesis a 2 Reis). A história narrada em Êxodo serve, ainda, para explicar fatos conhecidos, como o nome do Deus de Israel (Êxodo 3.13-15). Ocasionalmente, informações cronológicas são dadas (Êxodo 12.40). Assim, a narrativa do livro pode ser definida como descrição imaginativa das experiências coletivas do passado para que se entenda no presente o sentido da identidade de Israel como povo. Nesse aspecto, Êxodo é uma obra de história, mas não tem apenas características históricas. É um livro cheio de questões literárias e teológicas que devem ser observadas. Trata-se, literariamente, de uma Narrativa . Mesmo as grandes partes do texto que apresentam leis ou instruções são expostas sob a forma de discursos de Deus nos pontos apropriados da história. São dois os temas principais da narrativa do Êxodo: 01 A libertação divina dos israelitas da opressão no Egito, em que Deus é, geralmente, referido pelo nome de Yahweh – tema dos 15 primeiros capítulos (Êxodo 3.7-12); 02 O estabelecimento da presença de Yahweh entre os israelitas, levando-os à obediência – tema da segunda metade do livro (Êxodo a partir de 15.22). Em virtude da forma de construção da primeira parte da narrativa (Êxodo 1- 15), somos obrigados a nos posicionar contra os opressores, e ao lado dos sofredores inocentes e de seus libertadores. Na segunda parte, Deus guia seu povo e não os deixa perecer, uma vez que não seria apropriado destruir tantas vidas inocentes depois de libertá-las. 4 Hebreus – escravos no Egito. Hagadá Barcelona – arte sefardita (1350). Inscrição: “Escravos, fugimos do Faraó do Egito”. (Fonte: https://goo.gl/tMWzvb <https://goo.gl/tMWzvb> ) Em relação à teologia, Êxodo baseia-se em uma visão completamente monoteísta. Embora Yahweh seja conhecido por um nome que o distingue dos outros deuses, Ele é o único Deus que conta como tal: Os outros são meros ídolos. Ele é o criador (Êxodo 4.11). Toda a Terra pertence a Ele (Êxodo 9.29; 19.5). Ele se comprometeu com um só povo (de Israel), com bastante antecedência (Êxodo 6.3) Em troca, Ele requereu um compromisso exclusivo (Êxodo 20.3). Embora sua presença e seu poder sejam conhecidos dos egípcios (Êxodo 7.5) e de toda a Terra (9.16), sua ação libertadora e cuidadora é prometida permanentemente a Israel (29.45-46) de forma bem benéfica: Ele habitará entre o povo. Yahweh demonstra que é o Deus de toda a Terra em sua vitória sobre o faraó. Ele ratifica seu compromisso com Israel no chamado de Moisés, revela seu nome, concede sua libertação a Israel e aparece para seu povo no Monte Sinai. A aliança que Deus oferece aos israelitasincorpora a demanda básica de que deveriam estar comprometidos apenas com Ele. As instruções que Yahweh dá a Moisés destinam-se a orientar uma forma de governo que garanta sua presença com seu povo (Êxodo 25-31). Atividade 3. Analise o mapa a seguir: Indique, a partir do mapa: a) O lugar de onde partiram os israelitas. digite a resposta b) O nome dos desertos que atravessaram. digite a resposta c) Onde termina sua peregrinação. digite a resposta Levítico É possível dizer com alguma confiança que o livro de Levítico teve um longo período de desenvolvimento, com numerosas adições e redações. Também é possível afirmar que grande parte do material parece derivar de círculos sacerdotais. Assim, Levítico é um documento sacerdotal, independente de haver ou não uma fonte P, conforme previsto pela hipótese documentária. De acordo com essa teoria, a maior parte do livro pertence à fonte P, embora os escritores possam ter usado uma diversidade de materiais na composição. Por exemplo, muitos veriam os capítulos 17 a 26 (geralmente chamados de Código de Santidade ) como um bloco separado do material que foi assumido por P. O livro de Levítico é uma evidência da importância do culto no Antigo Israel. É fácil para os cristãos modernos descartar passagens levíticas que tratam do culto sacrificial, afirmando que estão desatualizadas ou que são irrelevantes. Por isso, o culto é, muitas vezes, desprezado ou mesmo ignorado quando a religião de Israel é discutida. Atenção Muitos judeus ainda observam, de uma forma ou de outra, os regulamentos relativos à pureza ritual, mesmo que os sacrificiais não possam mais ser aplicados devido à inexistência de templo hoje. Entretanto, qualquer descrição da religião israelita deve se aproximar do culto e do significado do sacrifício. Para isso, é necessário recorrer ao livro de Levítico. 5 Selo comemorativo de Israel contendo um achado arqueológico que cita Levítico 19.18: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Fonte: https://goo.gl/VsvNfe <https://goo.gl/VsvNfe> ) Uma questão importante tratada no livro é o valor simbólico do sangue, que está no coração do culto em Israel. Em contrapartida, como todos os outros cultos religiosos, o israelita tem seu ritual, extremamente significativo para os participantes, mesmo que, nem sempre, seja compreendido em nosso tempo e em nossa cultura. Analisar o simbolismo do culto do Antigo Israel permite decifrar a visão do mundo sacerdotal que estava por trás das práticas e dos ritos. A teologia da criação, por exemplo, é pressuposta e representada pelo culto. A visão sacerdotal tinha uma dimensão cosmológica e sociológica que eram aplicadas ao culto. As distinções entre santo e profano, limpo e impuro, vida e morte, ordem e caos estão representadas nos ritos cúlticos do Levítico. Até mesmo a ideia de sacrifício era tomada pelas noções de expiação, pureza e restabelecimento da ordem cósmica. Havia ações para: Remover o mal Redimir o pecado Purificar a impureza Restabelecer a harmonia Números Números, cujo nome é alusivo às muitas listas de censos presentes no texto, é o mais complexo dos livros do Pentateuco. Isso pode ser visto na variedade de tipos de literatura presentes no texto, tais como (Números 6.22-27): Listas; Itinerários; Estatutos; Prescrições rituais e sacerdotais; Oráculos poéticos; Canções; Histórias selvagens; Uma bênção. O entrelaçamento da lei e da narrativa – característico de Êxodo e Deuteronômio – é ainda mais evidente em Números. Estatutos específicos emergem, mais uma vez, de situações específicas da vida, revelando uma relação dinâmica entre a lei e a vida. Repetidamente, Deus é retratado em Números de maneira que desafia os entendimentos tradicionais. Às vezes, parece que sua identidade também é moldada. A origem de Números é complexa. A maioria dos estudiosos considera o livro como um composto de fontes de vários períodos históricos. O próprio menciona fontes como o Livro das Guerras do Senhor (Números 21.14) e Canções Populares (Números 21.17-18, 27-30). A tradição mais identificável é a escrita sacerdotal (em várias redações), com seu interesse pelos detalhes da adoração e do sacerdócio, como se pode atestar em Números 1-10 e 26-36 – seções contínuas em relação a Êxodo 25- 40 e a Levítico. Em Números, há três blocos relacionados a três locais principais: 1 O bloco do Sinai (Números 1.1-10.10) 2 O bloco de Cades (Números 13 a 20) 3 O bloco de Moabe (Números 22 a 36) As tradições individuais fazem parte desses relatos. Todos estes temas são incidentais: O ciclo de Balaão; As histórias de murmuração; Os censos; O acampamento no deserto; A conquista da Transjordânia; As cidades de refúgio; A repartição da terra e o sacerdócio. A punição de Coré (Episódio narrado em Números 16-18 – seção chamada de Korach). Pintura de Sandro Boticelli. (Fonte: https://goo.gl/ZSXPJB <https://goo.gl/ZSXPJB> ) Muitas vezes considerada inexistente, a estrutura de Números é melhor vista a partir de dois ângulos: as listas de censos e a geografia de uma viagem. As listas de censos são duas: Números 1 A primeira registra a geração que experimentou o Êxodo e a entrega da lei no Monte Sinai – aquela preparada para se mover rumo à Terra Prometida. No entanto, quando confrontadas com os perigos, as pessoas não confiam na promessa: experimentam o julgamento de Deus (Números 14.32-33) e, finalmente, na sequência da apostasia, morrem em uma praga (Números 25: 9). Até mesmo Moisés e Arão desconfiam de Deus e são proibidos de entrar na Terra Prometida (Números 20.12). Apenas Josué, Calebe e os jovens podem fazê-lo (Números 14.29). Os oráculos de Balaão (Números 22-24) fornecem um sinal do que está por vir, mostrando como Deus abençoa os israelitas por meio desse estrangeiro. Números 26 A segunda lista (Números 26) enumera os membros da nova geração – embora nenhum nascimento seja relatado em Números. Eles são um sinal da fidelidade contínua de Deus, que os fará herdar as promessas e entrar na Terra Prometida. Os capítulos 27 a 36 levantam questões focadas no futuro nessa terra. Não há mortes, murmúrios nem rebeliões contra a liderança, mas há vários sinais esperançosos. Essa nova geração é o público do Deuteronômio. De modo geral, os censos incluem representantes de cada uma das 12 tribos. Deuteronômio Deuteronômio representa uma vertente importante da teologia da Judeia. Seus autores anônimos desenvolvem ideias fundamentais, como: A singularidade de Yahweh. O amor humano e o medo de Deus (Deuteronômio 6.4-5, 24). A excelência e acessibilidade da lei de Israel (Deuteronômio 4.5- 8; 30.11-14). O livro contém uma versão do Decálogo e relaciona todas as outras leis a esses mandamentos básicos (Deuteronômio 5). Além disso, dá expressão às ideias de uma aliança entre Yahweh e Israel, e da eleição de Israel por meio de Yahweh (Deuteronômio 5.2; 7.6; 26.16-19). Deuteronômio foca-se estreitamente na terra de Israel, ao mesmo tempo em que a vê a partir de uma perspectiva de expectativa (Deuteronômio 6.10- 12,17-18; 30.20). Sua preocupação com a exclusividade e a pureza da adoração de Yahweh resulta em admoestações drásticas sobre a conquista da Terra Prometida (Deuteronômio 7.1-2; 12.1-4, 29-31) e severas regulamentações relativas à apostasia (Deuteronômio 13.1-18; 17.2-7). Originalmente, é o documento de um movimento religioso: as partes mais antigas do livro funcionavam como uma lei para impor a centralização do culto sacrificial no templo em Jerusalém (Deuteronômio 12) e para promover a solidariedade social em Judá (Deuteronômio 15). Deuteronômio – fólio do Códex Aleppo. (Fonte: https://goo.gl/SompAf <https://goo.gl/SompAf> ) O espírito do Deuteronômio em relação aos assuntos cultuais pode ser compreendido na lei sobre os votos religiosos (Deuteronômio 23.21-23) e em questões éticas da lei sobre medidas justas (Deuteronômio 25.13-16). O livro reflete uma tendência à racionalização dentro da tradição religiosa israelita. No entanto, à medidaque se desenvolveu durante um longo período, há muitas tensões dentro dele. O último capítulo do Deuteronômio relata a morte de Moisés. Assim, no plano da narrativa, conclui a história do Êxodo, que começou com a opressão dos israelitas e o chamado de Moisés. Com suas inúmeras referências aos patriarcas, o livro também se relaciona com as histórias patriarcais em Gênesis. Acima de tudo, Deuteronômio indica o fim da era da legislação divina para Israel. Todas as leis que Moisés entrega ao povo foram reveladas a ele no Monte Horebe – Monte Sinai em Êxodo e em Números. De acordo com Deuteronômio, no entanto, as leis foram promulgados por Moisés apenas no final de sua vida, na terra de Moabe. 6 Moisés, grande profeta do Antigo Testamento, traz os Dez Mandamentos ao Povo de Deus. (Fonte: https://goo.gl/Wh8xCr <https://goo.gl/Wh8xCr> ) Nomenclatura do Pentateuco em hebraico PENTATEUCO EM HEBRAICO Livros Nomes em hebraico Significado Gênesis Bereshit Em princípio Êxodo Shemot Nomes Levítico Vayikrá E chamou Números Bamidbar No deserto Deuteronômio Devarim Palavras Atividade 4. Assinale a opção que apresenta, na sequência, os temas dos cinco livros do Pentateuco: a) Origens, saída do Egito , discurso sobre as leis, instrução sobre ritos e sacerdócio, e narrativa sobre episódios da peregrinação do povo no deserto. b) Saída do Egito, origens, discurso sobre as leis, instrução sobre ritos e sacerdócio, e narrativa sobre episódios da peregrinação do povo no deserto. c) Origens, narrativa sobre episódios da peregrinação do povo no deserto, saída do Egito, instrução sobre ritos e sacerdócio, e discurso sobre as leis. d) Narrativa sobre episódios da peregrinação do povo no deserto, discurso sobre as leis, saída do Egito, instrução sobre ritos e sacerdócio, e origens. e) Origens, saída do Egito, instrução sobre ritos e sacerdócio, narrativa sobre episódios da peregrinação do povo no deserto e discurso sobre as leis. Notas Pentateuco Etimologicamente, esta palavra vem do grego e significa: Pentateuco (pente + teukhos) = O trabalho que compreende cinco rolos. O nome judaico desses livros é Torah (do grego nómos = lei). É ele que aparece no Novo Testamento: “O que está escrito na Lei, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24.11). 1 A palavra Torah surge no fim do Deuteronômio para designar, de forma global, o conjunto de palavras faladas por Moisés: “[...] quando ele terminou de escrever todas as palavras desta Torah em um livro [...]” (Deuteronômio 31.24). Essas termos não fecham apenas o Deuteronômio, mas todo o Pentateuco: os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Hexateuco Pentateuco + 6º livro da Bíblia (Josué). Promessas divinas Em sua forma mais completa, as promessas incluem: benção divina, orientação e proteção, riqueza e poder político, e a posse da terra de Canaã. Narrativa Um tipo de literatura que conta uma história. Código de Santidade O Código da Santidade de Levítico 17-26 é encerrado com o capítulo 27 – considerado um apêndice do livro. O que resta (capítulos 1-16) forma outra coleção com unidade relativa e alguma tensão em relação ao restante do livro. Contuma-se considerar o Código de Santidade mais antigo do que o material contido na seção 1- 16. Deuteronômio O nome Deuteronômio deriva da LXX, em que é chamado de deuteronomion (= segunda lei). Isso remonta a uma interpretação errada de Deuteronômio 17.18. Na tradição judaica, o nome do livro – tirado do verso de abertura – é devarim (= palavras). Referências 2 3 4 5 6 DE PURY, A. (Org.). O Pentateuco em questão: as origens e a composição dos cinco primeiros livros da Bíblia à luz da pesquisa recente. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. FRANCISCO, E. F. Manual da Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2005. GOTTWALD, N. K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997. HILL, A. E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2013. ZENGER, E. et al. Introdução ao Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003. Próximos Passos • Deuteronômio (Dtr) e Obra Histórica Deuteronomista (DtrG); • Juízes; • I e II Samuel; • I e II Reis. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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