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Unidade 1 Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca João Ricardo de Castro Caldeira © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Sumário Unidade 1 Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca ...........................7 Seção 1.1 Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica .....................9 Seção 1.2 Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista ................................................................. 31 Seção 1.3 Arquitetura Barroca. Arquitetura Rococó ............................... 49 Palavra do autor O conhecimento histórico e a sua aplicação nas práticas projetuais é uma das competências fundamentais de todo arquiteto-urbanista, uma vez que as realizações de outras épocas servem de inspiração e fornecem possíveis soluções para o desenvolvimento de seus projetos. Com o auxílio deste livro didático, você, aluno, aprenderá a respeito de um período longo e muito importante da história da arquitetura e do urbanismo, que vai da Idade Média – iniciada no ano de 476 – até as décadas iniciais do século XXI até os dias de hoje. Como você verá, o objetivo de estudo da Disciplina “História e Teoria da Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo II” é que você conheça as características principais dos diferentes estilos arquitetônicos e dos variados modelos urbanísticos que foram produzidos no transcorrer dos tempos. Neste sentido, através deste material, pretende-se que você, aluno, adquira a competência de conhecer o que singulariza, o que marca e caracteriza cada estilo arquitetônico e cada proposta urbanística surgida no transcorrer do longo período histórico. Além disso, a partir do conhecimento adquirido nesta Disciplina, você também passará a ser capaz de discernir o que há em comum e o que há de diferente nos vários tipos de arquitetura e de urbanismo abordados neste livro, como se interinfluenciaram e quais foram as mudanças havidas na linguagem arquitetônica e urbanística daqueles séculos. Na primeira unidade de ensino desta Disciplina, você entrará em contato com os principais aspectos da arquitetura e das cidades da Idade Média, do Renascimento, do Barroco e do Rococó, ou seja, os estilos característicos do período compreendido entre a segunda metade do século V e a metade do século XVIII. Na segunda unidade, são abordados a arquitetura e o urbanismo da era industrial, abrangendo a época situada entre o final do século XVIII e as primeiras décadas do século XX. Aqui, você conhecerá a arquitetura histori- cista (neoclássica e neogótica), bem como as primeiras propostas de reforma urbanística, a arquitetura do ferro, a Escola de Chicago, a Art Déco e o surgi- mento das arquiteturas de vanguarda, como o Neoplasticismo. Na terceira unidade, você aprenderá sobre a história da arquitetura e do urbanismo característicos do período situado entre a décadas de 1920 e 1980. Neste capítulo, serão abordados o modernismo – representado, sobretudo, pela arquitetura funcionalista, pelo modelo de cidade presente na Carta de Atenas (1933) e pelo Plano Piloto de Brasília, construída em 1960, o pós-mo- dernismo e o Regionalismo Crítico. Na quarta e última unidade, você conhecerá o conceito e os funda- mentos que caracterizam a produção recente em arquitetura e urbanismo, surgida entre o final do século XX e o início do século XXI, incluindo o Novo Urbanismo, a arquitetura do tardomodernismo, do descontrutivismo e a arquitetura High-Tech. Unidade 1 Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Convite ao estudo Caro aluno, damos início à primeira unidade da disciplina de História e Teoria da Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo II. Desde já, destacamos que o conhecimento histórico é de importância fundamental para o processo de formação do arquiteto-urbanista. Afinal, a história não se limita a ser apenas a narrativa do passado. Ela se faz presente. Permite orientar ou vislumbrar possibilidades para o futuro, ainda que seja no sentido de evitar a repetição do que foi realizado em outros tempos e lugares. É certo que o domínio de um amplo repertório de estilos arquitetônicos e de orientações urbanísticas próprias dos diversos momentos históricos constitui característica funda- mental de um profissional dessa área, pois, nas realizações de outras épocas acham-se soluções arquitetônicas que podem ser adotadas, mesmo que de forma adaptada, no tempo presente. Além disso, é importante também que o arquiteto-urbanista tenha noção do processo histórico, ou seja, da sequência temporal em que foram se sucedendo os diferentes estilos de arquitetura e os variados modelos de organização do espaço urbano, a fim de saber a qual época específica e a que tipo de formação social eles correspondem. Isso pode ser decisivo no momento de se optar por um ou outro estilo no momento da concepção de um projeto. Assim, a fim de garantir que você adquira um amplo conhecimento histórico, e seja capaz de entender a relevância e as mudanças ocorridas entre os sucessivos estilos, reconhecendo as caraterís- ticas que os identificam, são abordados, nesta disciplina, os diversos tipos arquitetônicos e urbanísticos que marcaram a história desde o período medieval até o início do século XXI. Nesta primeira unidade, são abordados os seguintes períodos históricos: a Idade Média, ocorrida entre os anos de 476 e 1453, e que inclui a arquite- tura muçulmana, carolíngia, românica e gótica; e a Idade Moderna, situada entre 1453 e 1789, durante a qual se destacaram a arquitetura renascentista, maneirista, barroca e rococó. Para atingir esse objetivo de forma mais concreta, imergiremos em um cenário profissional: considere que você é um arquiteto-urbanista autônomo, ou seja, que você é o dono do seu próprio escritório e que também leciona no nível superior. Você, portanto, é um arquiteto-urbanista que, além de realizar projetos, dedica-se a atividades acadêmicas, de caráter teórico. A sua experiência de mercado, aliada ao seu conhecimento de história da arqui- tetura e do urbanismo, capacita-o a atuar no campo teórico. Isso possibilita a sua contratação por empresas e universidades para que compartilhe a sua bagagem intelectual com outros profissionais e estudantes, por meio de ativi- dades diversas. Você já imaginou como os conhecimentos da história da arquitetura e do urbanismo poderão auxiliá-lo nessas tarefas? Quais conhecimentos históricos mais relevantes você pode compartilhar com outros profissionais e estudantes? E quais as possíveis aplicações da história, visando soluções arquitetônicas no presente? Ao término do estudo desta unidade você estará habilitado a responder a esses questionamentos, identificando diferentes situações nas quais o conhe- cimento histórico pode ser aplicado, de forma teórica, no campo da arqui- tetura e do urbanismo. Para alcançar esse propósito, partiremos do contexto anteriormente apresentado e tomaremos como exemplo os estilos da Idade Média e da Idade Moderna, anteriormente referidos. Vamos iniciar? Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 9 Arquitetura e urbanismo mulçumano.Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica Diálogo aberto Sabemos que a história é um conhecimento fundamental para a formação do arquiteto-urbanista. Efetivamente, o domínio do passado é muito impor- tante no momento em que se elaboram soluções diversas em projetos arqui- tetônicos e urbanísticos. Assim, conhecer os estilos predominantes em um determinado período histórico possibilita a avaliação dos diferentes tipos de solução que podem ser ainda adotadas no presente, seja de forma atualizada, ou, apenas simbólica. Considere agora que você é um arquiteto-urbanista profissional, dono de um escritório que, entre outros serviços, também presta assessoria acadê- mica, oferecendo palestras, treinamentos e cursos sobre teoria e história da arquitetura e do urbanismo. Uma universidade privada se instalou em uma cidade do interior de um estado brasileiro, e, entre os vários cursos de graduação, oferecerá o de Arquitetura e Urbanismo. O coordenador do curso conhece o seu escritório e sabe do alto padrão de qualidade das suas reali- zações. Sobretudo, sabe que você é reconhecido como um profundo conhe- cedor da história e da teoria da arquitetura. Para motivar alunos e professores na inauguração do curso, ele decide convidá-lo para proferir uma palestra sobre um tema de sua livre escolha. Ao ser contatado pela universidade, você aceita o convite, especial- mente por considerar fundamental que os futuros profissionais compre- endam, desde o início de sua graduação, que é de grande importância para a sua formação o conhecimento histórico de arquitetura e urbanismo. Diante da multiplicidade de temas possíveis para tratar na palestra, você decide pela época medieval, com destaque para a arquitetura muçulmana, românica e gótica, de modo a ressaltar que os laços culturais entre árabes e europeus vêm de longa data, e, por outro, que a Idade Média não foi a Idade das Trevas, como se costuma afirmar, mas que, pelo contrário, nela houve uma exuberante produção cultural, evidenciada nas igrejas românicas e nas catedrais góticas. Durante a elaboração da palestra, você é levado a refletir sobre os seguintes questionamentos: como demonstrar a importância do período Seção 1.1 10 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca medieval para a história da arquitetura ocidental? Quais edificações não se pode deixar de citar e por quê? Quais representações devem aparecer a fim de tornar a palestra compreensível e estimulante para estudantes que estão no início de um curso de graduação? Nesta seção, especificamente, você será apresentado à arquitetura e ao urbanismo próprios do período medieval da Europa, que ocorreu entre os anos de 476 e 1453, e durante o qual se observa que as cidades tinham pouca autonomia, eram geralmente muradas e sem planejamento. Na arquitetura, sucederam-se os estilos muçulmano, românico e gótico nesse período. A seguir, conheceremos mais sobre a história da arquitetura e urbanismo no mundo. Não pode faltar O período medieval, ou Idade Média, na Europa, foi a época compre- endida entre o fim do Império Romano do Ocidente, no ano de 476, após a conquista de Roma pelos bárbaros germânicos, e a queda do Império Romano do Oriente, em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos. Foram, portanto, praticamente mil anos de história, caracteri- zados, de forma geral, pelo feudalismo, pela ruralização da Europa e pelo domínio da Igreja Católica sobre a política e o conjunto das relações sociais. Cronologicamente, esse período é subdivido em dois momentos: a Alta Idade Média, entre os séculos V e X, e a Baixa Idade Média, entre os séculos XI e XV. Inicialmente, entenderemos o que foi a sociedade medieval, para depois abordarmos as principais características da arquitetura e das cidades europeias naquela época. A sociedade medieval foi, predominantemente, uma sociedade feudal, dividida em três ordens sociais: os oratore (aqueles que viviam para orar, ou seja, os membros do clero, da Igreja); os bellatore (aqueles que se dedicavam à prática da guerra, ou seja, os nobres cavaleiros); e os laboratore (aqueles que trabalhavam, sobretudo na lavoura, ou seja, os servos, em sua maioria campo- neses). De acordo com as orientações do cristianismo, essa divisão social seria determinada por Deus, e, portanto, não poderia ser questionada. Essa socie- dade se situava sobretudo nas áreas rurais da Europa, pois, como resultado da queda do Império Romano, as cidades – sobre as quais falaremos adiante – perderam a sua importância econômica e social. No meio rural, os feudos eram comandados por nobres – os senhores – e se caracterizavam por serem isolados e autossuficientes, pois havia poucas trocas comerciais entre eles. Cada feudo precisava ser autônomo o suficiente, em termos de produção de alimentos, para não dependerem de outros feudos. A necessidade de estar sob Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 11 a proteção de um nobre cavaleiro obrigava os camponeses a se tornarem seus servos, trabalhando para eles em troca de abrigo e alimento. Os mosteiros, comunidades de monges católicos que viviam afastados do mundo pagão, orando e trabalhando, tornaram-se o símbolo dessa sociedade ruralizada e isolacionista, na qual o poder político e econômico estava fragmentado nas mãos de diversos senhores feudais. A tentativa de restabelecer a unidade da Europa ficou por conta do Sacro Império Romano Germânico, por meio do qual se pretendeu restaurar o Império Romano, agora acrescentando a Igreja Católica e os povos denominados bárbaros (os germânicos). No entanto, esse projeto malogrou, e, no século IX, o feudalismo se consolidou na maior parte da Europa Ocidental. O isolamento a que ficou destinada a Europa durante a Idade Média se deveu, em boa parte, ao domínio árabe no sul do continente, a partir do século VIII. Eles conquistaram a Península Ibérica e o norte da África, e não avançaram para o interior do continente europeu, porque foram barrados em Poitiers, no sul da França, por Carlos Martel, no ano de 732. Esse domínio árabe na Europa somente recuou no ano de 1492, quando foram expulsos da Espanha pelos reis católicos Fernando e Isabel. A presença dos árabes na Europa medieval foi muito importante para a história da arquitetura e do espaço urbano naquele período. Para uma melhor compreensão desse conteúdo, ele foi dividido em seis partes: a primeira, trata da arquitetura e do urbanismo árabes; a segunda, aborda a arquitetura dos castelos medievais; na terceira, são descritas as cidades da Idade Média; a quarta parte trata da arquitetura pré-românica; na quinta parte, é descrita a arquitetura românica; na sexta e última parte, é apresentada a arquitetura gótica. O edifício mais importante da arquitetura islâmica é a mesquita, denomi- nada masjid, na língua árabe, significando templo. Elas foram originalmente erguidas ao longo dos séculos VI e VIII, servindo como espaços de oração, política, hospitais e abrigo para os pobres. Sem qualquer caráter monumental, tinham, geralmente, planta quadrangular e cobertura em cúpula apoiada sobre pendentes, contendo um grande pátio retangular orientado para o sul, ao fim do qual se localiza uma ampla sala de orações. Não há um padrão único na arquitetura das mesquitas, uma vez que são adaptadas às carac- terísticas das diferentes culturas em que o islamismo se implantou. No entanto, alguns elementos arquitetônicos são comuns às diversas mesquitas, como o minarete, torre alta e fina, de secção cilíndrica ou octogonal, que servia para o muezim (convidar os fiéis à oração); as cúpulas, coberturas em forma de semiesferas; e o salão das orações, um espaço sem mobiliário, para reunir o maior número possível de fiéis. Juntamente com asmesquitas, os palácios dos soberanos são exemplares representativos da arquitetura 12 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca islâmica. Também não apresentam uma característica monumental, mas são ricamente ornamentados e decorados, revelando que os líderes muçulmanos tinham, no início da Idade Média, um estilo de vida mais suntuoso do que dos soberanos ocidentais. Exemplo desses palácios é Alhambra (em árabe “a Vermelha”), Figura 1.1, situado em Granada, na Espanha, erguido durante os séculos XIV-XV. Também são representativos da arquitetura islâmica os mausoléus, edifícios semelhantes às mesquitas na sua forma, mas que serviam como túmulos de pessoas santas ou mártires. Figura 1.1 | Palácio Alhambra, em Granada, Espanha Fonte: iStock. No que se refere ao aspecto urbanístico, as cidades árabes eram plane- jadas de acordo com a lei islâmica para o espaço físico, organizadas de forma a separar claramente o espaço público do espaço privado. Sempre há uma mesquita, localizada na área central ou na entrada da cidade, as vias são hierarquizadas e há normas quanto ao gabarito dos edifícios, largura das vias, uso de coberturas, iluminação e ventilação, instalação de redes de sanea- mento, drenagem e abastecimento de água e questões de herança do solo urbano. Protegendo a intimidade das famílias, as casas têm poucas aberturas para a rua em suas fachadas, sendo, inclusive, proibido que as portas sejam colocadas frente a frente. Ao mesmo tempo, essas habitações têm um pátio interno que significa uma abertura para Alá. Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 13 Reflita A religião é um elemento fundamental para todas as sociedades humanas. Uma das formas como a religião começou a se manifestar foi por meio do culto aos mortos. Enterrar corpos, embalsamá-los ou cremá-los constituem práticas ritualísticas que indicam o surgimento de crenças religiosas nos diferentes agrupamentos humanos. A arquitetura também participa desse processo com a construção de túmulos. Assim, a presença de túmulos muçulmanos na Península Ibérica torna-se um exemplo de como a presença daquela sociedade também deixou uma marca cultural no solo espanhol e português. Quanto aos castelos medievais, que tinham a função de proteger os senhores feudais de invasão e saques durante as guerras, são edificações de estruturas sólidas para defesa e abrigo das suas riquezas e familiares. Os primeiros foram erguidos em madeira e, com o passar do tempo, passaram a ser substituídos por edifícios feitos de pedra, muito mais resistentes. Localizados na área mais elevada do feudo ou nas proximidades de um rio, os castelos não apenas eram um importante instrumento de defesa como, por sua imponência, constituíam um importante símbolo de autoridade para o senhor feudal. Arquitetonicamente, essas construções se caracterizam pela presença de altos muros, torres, pequenas aberturas nas paredes, portões levadiços de ferro, passagens subterrâneas, fosso ao seu redor contendo água, canhoneiras e calabouço para os prisioneiros. O interior era rústico, sem luxo. Entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, os castelos entraram em decadência, uma vez que o poder fragmentado dos senhores feudais começou a ser substituído pelo poder centralizado do Estado Nacional. Doué-la-Fontaine, localizado na França, construído na metade do século X, é considerado o mais antigo castelo europeu. Já as cidades medievais, durante a Alta Idade Média (séculos V-X), tinham poucos habitantes. A diminuição da atividade comercial e o crescente risco de saques e invasões que se seguiu à queda do Império Romano fez com que a Europa passasse por um processo de ruralização, durante o qual as populações se concen- traram nos feudos, em que havia proteção e alimento. Nessa época, as cidades medievais se caracterizavam por áreas muradas, fortificadas, dependentes de um senhor feudal. Na Baixa Idade Média, a partir do século XI, as cidades medievais conheceram o período de Renascimento Urbano, que possibilitou o crescimento populacional e um maior desenvolvimento econômico. Essas mudanças também ocorreram pelo restabelecimento da atividade comercial naquele período, que havia sido bastante reduzida no início da Idade Média. A Figura 1.2 apresenta a cidade medieval de Segóvia, na Espanha, onde se nota a presença da muralha que circunda a área da cidade. 14 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Figura 1.2 | Cidade medieval de Segóvia, Espanha Fonte: iStock. Com o passar do tempo, as cidades europeias conquistaram a indepen- dência e em seu interior começaram a surgir novos bairros ou burgos novos, nos quais se origina um novo grupo social, a burguesia, que não se relacio- nava com a terra e desempenhou importante papel na Idade Moderna. O interior das cidades medievais se caracterizava por um espaço urbano desor- ganizado, sem planejamento, de ruas estreitas e sem hierarquia, ausência de saneamento e controle interno realizado por agremiações e corporações de ofício, predominando assim o coletivo sobre o individual. Sobre as construções, podemos citar a arquitetura pré-românica, produ- zida no início do período medieval, entre os anos de 500 e 1000, ao sul e ao oeste do continente europeu. No decorrer desse período, as tribos germâ- nicas – os denominados bárbaros – se fixaram, converteram-se à religião cristã e assimilaram a cultura romana, dando origem à cultura propriamente medieval. Entre os povos germânicos, os de maior importância foram os francos, sobretudo depois do século VIII, quando Carlos Magno (768-814), inicialmente na condição de rei e em seguida na posição de imperador, conseguiu centralizar o poder por algum tempo e consolidar o Sacro Império Romano-Germânico, tentando restaurar a antiga unidade do Império Romano, agora sob a liderança dos bárbaros e do cristianismo. O então soberano também promoveu mudanças na liturgia cristã e no desenvolvimento da cultura e das artes, o denominado Renascimento Carolíngio, que se prolongou até o final do século X. A arte carolíngia foi Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 15 realista, figurativa e monumental, resultado da combinação entre a arte clássica romana e a arte germânica. Carlos Magno ordenou a construção de monastérios, escolas, igrejas e templos de caráter mais monumental, bem como de palácios de pedra. Na arquitetura carolíngia, houve a convergência de tipos arquitetônicos e técnicas construtivas de origem romana e germâ- nica. O exemplo mais importante desse período é a igreja ou capela palaciana de Aix-La-Chapelle, Figura 1.3, que Carlos Magno mandou construir na Alemanha. Trata-se de uma igreja com cúpula, um centro ortogonal e uma ampla galeria. O edifício característico do período carolíngio é a basílica abobadada de três naves com uma ou mais absides, cripta ou salão com coro elevado ou então uma galeria subterrânea. As construções tinham exteriores maciços, pesados e severos, e interiores ricamente decorados com pinturas murais, mosaicos e baixos-relevos. Fonte: iStock. Figura 1.3 | Catedral alemã Aix-La-Chapelle, em Aachen Ainda sobre a arquitetura, no período da Alta Idade Média, entre os séculos X e XI, predominou na Europa Ocidental um tipo de arquitetura religiosa herdeira direta da arquitetura da Roma Antiga, o denominado estilo românico. Nesse tipo de arquitetura, predominam igrejas de grossas paredes de pedra, com uma aparência monolítica, fechada, com poucas aberturas, edifícios baixos, em que se destaca a sua horizontalidade, sem ornamentação exterior, fazendo com que as igrejas tenham a aparência de uma fortaleza. Normalmente, a planta das igrejas românicas é basilical,ou seja, contém nave 16 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca central – onde ficam os fiéis –, ladeada por naves laterais ou colaterais, nas quais ficam altares menores. As naves laterais são separadas da nave central por colunatas e arcadas, sobre as quais se ergue um entablamento com cleres- tório (pequenas aberturas para a entrada de luz). À frente da nave central, situa-se a abside, espaço destinado ao altar-mor e ao sacerdote. Separando a nave central da abside, tem-se o arco triunfal, que delimita a fronteira entre o sagrado e o profano no interior da igreja. As igrejas românicas tinham torre única recuada, separada da fachada principal do edifício. O uso do arco pleno e da cobertura em abóbada de berço também constituíam heranças de origem romana. Em alguns casos, o uso de arcadas cegas (sequências de arcos plenos sem quaisquer aberturas) adornava as paredes externas das igrejas românicas. Esses edifícios muitas vezes serviam de abrigo ou refúgio para as pessoas. Enquanto externamente eram edifícios muito sóbrios, por vezes rústicos, o interior era ornamentado com imagens que representavam ensinamentos religiosos. De todo modo, essa arquitetura das igrejas românicas traduzia, em termos arquitetônicos, uma das principais características da sociedade feudal na Alta Idade Média: o isolamento e a clausura. A Figura 1.4 apresenta a igreja românica Sé Velha em Coimbra, Portugal. Figura 1.4 | Sé Velha, em Coimbra, Portugal Fonte: iStock. Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 17 A arquitetura românica, tipologia de arquitetura medieval, tem um caráter hermético, fechado e monolítico. Esse conceito de arquitetura em um único bloco ou em um único volume prismático já foi empregado em muitas soluções arquitetônicas em diferentes épocas, ou seja, o arquiteto elabora o projeto do edifício empregando, como forma, apenas um volume (paralelepípedo, cubo, cilindro ou algum sólido geométrico complexo), ainda que a organização do espaço interior do edifício não corresponda a sua forma externa. Trata-se, portanto, de uma solução arquitetônica do passado medieval que ainda pode ser aplicada em projetos arquitetônicos no presente. Exemplificando Alguns projetos de autoria do arquiteto holandês Rem Koolhaas exempli- ficam essa possibilidade de aplicação do conceito, como a Casa da Música, construída em 2005, localizada na cidade de Porto, em Portugal, cuja aparência externa é de uma forma geométrica complexa, com poucas aberturas (Figura 1.5). Figura 1.5 | Casa da Música, arquiteto Rem Koolhaas Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/10.112/3641>. Acesso em: 21 nov. 2018. A arquitetura românica, cujo nome resulta da sua inspiração na Roma Antiga, caracterizada pelo uso da planta basilical, do arco pleno e de cober- turas em abóbadas de berço, foi um estilo característico da Alta Idade Média, ou seja, do início e do auge do período medieval, o tempo do feudalismo. Essa correspondendo a uma época em que o isolamento, a autossuficiência e a necessidade de buscar segurança influenciaram as construções, tornando 18 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca as igrejas românicas ambientes fechados, escuros e muito herméticos, igrejas horizontais, monolíticas e semelhantes a fortalezas. Pesquise mais Você pode conhecer mais sobre a arquitetura românica, como seu contexto histórico, as características distintivas, a Rota do Românico e os seus elementos patrimoniais, assistindo ao documentário A arte românica. ROTA DO ROMÂNICO. A Arte Românica. 2013. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=3-lVhwZ0cuA>. Acesso em: 21 nov. 2018. Outro estilo arquitetônico medieval a ser destacado é a arquitetura gótica, presente no período da Baixa Idade Média, entre os séculos XII e XIV. Essa arquitetura foi característica da época do Renascimento Urbano, ou seja, do novo crescimento das cidades, consequência da volta da atividade comercial no continente europeu, retomada sobretudo a partir das cruzadas. O gótico iniciou-se no norte da França e posteriormente irradiou-se para o restante da Europa. O início da arquitetura gótica, denominado gótico primitivo ou proto-gótico, refere-se ao momento de passagem do românico para o novo estilo. Essa passagem ocorreu, segundo é consenso entre os historiadores da arquitetura, com a reforma realizada na cabeceira leste da Abadia de Saint-Denis, na capital francesa. Essa reforma, que teve início no ano de 1140, marcou a passagem do gótico para o românico por dois motivos: em primeiro lugar, pela própria importância da Abadia de Saint-Denis, uma das mais ricas do continente europeu e cujo patrono, o Abade Suger, era pessoa de grande prestígio social e riqueza, tendo sido conselheiro e procu- rador do Rei Luís VII; em segundo lugar, porque as inovações técnicas e estéticas implementadas na Abadia assinalaram o começo de uma nova arquitetura religiosa na Europa: o gótico. A reforma afetou sobretudo o interior da Abadia, que por fora permanecia com características românicas. Por esse motivo, o gótico de Saint-Denis é denominado “primitivo”, já que esse edifício ainda não apresenta o conjunto das características arquitetô- nicas que comporão de fato o edifício-símbolo do gótico, que é a catedral, uma edificação de gabarito muito elevado, que se destaca imensamente em relação ao entorno urbano no qual se situa, marcada também pela presença de arcobotantes e contrafortes em suas fachadas laterais, além de rosáceas, arcos ogivais, gárgulas, pináculos e vitrais, entre outros elementos que revelam a sua grande riqueza decorativa. As catedrais têm altas paredes em todas as suas fachadas, as quais são ricamente ornamentadas em seu exterior com estátuas, rosáceas, vitrais Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 19 coloridos, pináculos (alvenarias em forma de pinos ou agulhas que acentuam a verticalidade das catedrais) e gárgulas (figuras assustadoras que serviam para escoamento de águas pluviais). A planta das catedrais é de nave única. O interior é muito iluminado – correspondendo a uma nova orientação da igreja, segundo a qual “Deus é luz” – e, como o exterior, também muito elevado. A cobertura é em forma de abóbadas de cruzamento de ogivas. Essas abóbadas, em geral, muito pesadas e situadas a grandes alturas, são susten- tadas, no exterior do edifício, por sequências de arcobotantes apoiados em estribos. Nas catedrais, destacam-se ainda o uso de arcos ogivais e a presença de duas torres situadas na fachada dianteira. O tímpano (parte interna) do imenso arco ogival existente sobre a porta principal de entrada das catedrais é ornamentado com muitas figuras em alto relevo. Em catedrais como a de Colônia, na Alemanha, há também coruchéus (estruturas serrilhadas ou dentadas em forma piramidal) situados no topo das torres. Um exemplo famoso da arquitetura gótica é a Catedral de Notre Dame, em Paris, apresen- tada na Figura 1.6. A leveza e a riqueza ornamental do gótico contrasta total- mente com a arquitetura românica. Figura 1.6 | Catedral de Notre Dame, em Paris, França Fonte: iStock. 20 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Assimile Entre as edificações religiosas francesas do período gótico, duas se destacam por sua beleza e imponência: a Catedral de Chartres, Figura 1.7 – considerada a mais imponente e completa realização do gótico francês – e a Capela de Sainte-Chapelle, Figura 1.8, situada na Ile-de- -France, em Paris. Elas têm elementos em comum, que as classificam como sendo góticas, e outros, que as diferenciam entre si. Em primeiro lugar, Chartres tem uma dimensão, uma escala muito maior, uma vez que setrata efetivamente de uma imensa catedral, enquanto Sainte-Chapelle é bem menor, por tratar-se de uma capela. No entanto, em ambas está presente os característicos elementos góticos: rosáceas, vitrais, arcos ogivais, pináculos e cobertura em abóbada de cruzamento de ogivas. Além disso, Chartres tem duas torres imensas, que não estão presentes na Sainte-Chapelle Figura 1.7 | Catedral de Chartres, em Bourges, França Fonte: iStock. Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 21 Fonte: iStock. Figura 1.8 | Sainte-Chapelle, em Paris, França O estilo gótico se iniciou no norte da França e de lá se propagou para outras partes da Europa. Na Inglaterra, por exemplo, começou a ser desen- volvido a partir da construção da Catedral de Cantuária (Canterbury, em inglês), a qual era tão importante na Inglaterra quanto a Saint-Denis na França. Aliás, foi um arquiteto francês, Guilherme de Sens, que iniciou, em 1174, a transformação desse edifício no sentido de que ele adquirisse uma 22 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca feição gótica. Em sua maior parte, o gótico inglês é híbrido, combinando, por vezes, as linguagens românica e gótica. No entanto, quatro catedrais se destacam como sendo mais próximas do gótico francês: as catedrais de Lincoln, Wells, Salisbury e a Abadia de Westminster, onde se realiza a cerimônia de coroação dos reis e rainhas britânicos. Essas quatro edificações pertencem ao denominado Inglês Primitivo, primeiro momento do gótico na Inglaterra, bastante próximo do francês. Pesquise mais Para conhecer mais sobre a arquitetura gótica, leia o capítulo 13 (páginas 119 a 128), intitulado Lógica e esplendor da arquitetura gótica, do livro Introdução à história da arquitetura: das origens ao século XXI. PEREIRA, J. R. A. Lógica e esplendor da arquitetura gótica. In: . Introdução à história da arquitetura: das origens ao séc. XXI. Tradução de Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2010. cap. 13, p. 119-128. O material está disponível na sua biblioteca virtual. Confira! Nesta seção, vimos as mais importantes características que marcaram a arquitetura e o urbanismo na denominada era medieval, situada entre os anos de 476 e 1453, na Europa. Esse longo período foi assinalado pela presença da arquitetura muçulmana, sobretudo na Península Ibérica; pela arquitetura carolíngia, incentivada pelo Imperador Carlos Magno em seu desejo de recuperar a grandeza do Império Romano; pela existência de cidades muradas e castelos que serviam de abrigo e fortaleza; e também pelo aparecimento das igrejas românicas, horizontais, fechadas, sem ornamentos, e das catedrais góticas, ricamente ornamentadas, verticalizadas, que se desta- cavam em meio ao cenário de cidades que voltavam a crescer, começando a formar o ambiente que conduziria ao momento seguinte da história da arte e da arquitetura: o Renascimento. Sem medo de errar No começo desta seção, você foi apresentado a uma situação-problema, em que, na condição de um conceituado arquiteto-urbanista, você havia sido contratado para apresentar uma palestra na aula inaugural do recém- -instalado curso de Arquitetura e Urbanismo de uma universidade privada. Liberado para decidir qual tema abordaria na sua fala, você decidiu tratar da arquitetura medieval, enfatizando os estilos muçulmano, românico e gótico. Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 23 Ao mesmo tempo, você precisava cativar a plateia de estudantes e despertar a atenção deles para a relevância de conhecer aquela arquitetura. As questões iniciais que você precisa responder para resolver essa situa- ção-problema são as seguintes: como demonstrar a importância do período medieval para a história da arquitetura ocidental? Quais edificações não se pode deixar de citar e por quê? Quais representações devem aparecer a fim de tornar a palestra compreensível e estimulante para estudantes que estão no início de um curso de graduação? A fim de solucionar essa situação, em primeiro lugar, você decide realizar uma ampla pesquisa em livros de história da arquitetura, reunindo as infor- mações mais importantes sobre aqueles estilos arquitetônicos. Esse período histórico influenciou significativamente a arquitetura ocidental. Para tornar sua palestra mais atrativa, você busca imagens na internet que exemplifiquem a arquitetura europeia, selecionando, para tanto, fotos da Mesquita de Córdoba, na Espanha (muçulmana) (Figura 1.9); da Basílica de Saint-Sernin, em Toulouse, na França (românica) (Figura 1.10); e Catedral de Colônia, na Alemanha (gótica), (Figura 1.11). Figura 1.9 | Mesquita de Córdoba, Espanha Fonte: iStock. 24 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Figura 1.10 | Basílica de Saint-Sernin, França Fonte: iStock. Fonte: iStock. Figura 1.11 | Catedral de Colônia, Alemanha, arquitetura gótica Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 25 Fonte: iStock. Fonte: iStock. Em seguida, você busca exemplos da presença de elementos dessas arqui- teturas no Brasil, destaca que há mesquitas em diferentes cidades brasileiras e que algumas igrejas católicas brasileiras se inspiram diretamente nos estilos românico (Figura 1.12) e gótico (Figura 1.13). Figura 1.12 | Basílica de Aparecida, em São Paulo (inspiração românica) Figura 1.13 | Catedral da Sé, na cidade de São Paulo (inspiração gótica) 26 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Finalmente, você elabora a sua palestra de modo a demonstrar aos alunos, de um lado, a riqueza da arquitetura medieval, os pontos de aproximação e de distanciamento entre os estilos árabe, românico e gótico, e, de outro lado, como a Idade Média europeia também influenciou a arquitetura produzida no Brasil. Uma viagem a Paris Descrição da situação-problema Prezado aluno, considere que você seja um estudante universitário, cursando o quinto semestre de graduação em Arquitetura e Urbanismo, e que realizará uma viagem com a sua mãe para a Europa. Você ganhou essa viagem em um concurso promovido pela sua universidade, como resultado do seu excelente desempenho na disciplina de História. Na viagem, vocês vivenciarão a arquitetura de um país europeu. Para tanto, você precisa elaborar um roteiro de viagem que inclua a visita a edifícios importantes de algum período histórico específico. Então, você começa a se fazer algumas perguntas: que momento histórico escolher? Quais elementos arquitetônicos não se pode deixar de citar? Como surgiu esse estilo? O que o caracteriza? Em que região ele surgiu? Quais são os edifícios mais importantes que o representam? Resolução da situação-problema Primeiramente você realiza uma pesquisa, na qual descobre que a arqui- tetura gótica foi muito original. Então, decide que na sua viagem você e sua mãe visitarão Paris e conhecerão pessoalmente a arquitetura gótica, que se originou no norte da França. Durante a viagem, você recolhe mais infor- mações sobre o gótico e, entre os edifícios visitados, destaca a Catedral de Notre Dame, situada na capital francesa, um dos mais importantes exemplos daquela arquitetura característica da Baixa Idade Média. Você explica para a sua mãe as principais características da Catedral que permitem classificá-la como sendo gótica, ou seja, quais são os elementos arquitetônicos presentes na edificação que a caracterizam como uma arquitetura gótica, como a presença de abóbada de cruzamento de ogivas, mostrado na Figura 1.14, gárgulas, na Figura 1.15, e a presença do arco ogival, na Figura 1.16. Você tira fotos para elaborar um diário dessa viagem contendo essas explicações.Avançando na prática Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 27 Figura 1.14 | Abóbada de cruzamento de ogivas na Catedral de Notre Dame, em Paris Fonte: iStock. Fonte: iStock. Figura 1.15 | Gárgulas na Catedral de Notre Dame, em Paris 28 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Figura 1.16 | Arcos ogivais sobre as portas da fachada dianteira da Catedral de Notre Dame, em Paris Fonte: iStock. 1. A época da Idade Média pode ser dividida em dois grandes momentos: a Alta Idade Média, que se encerra no século X, correspondendo ao início e ao apogeu do período medieval na Europa, e a Baixa Idade Média, período em que começou o declínio do Ocidente Medieval, a partir do século XI. No primeiro período, destacou-se a arquitetura românica, enquanto o período posterior foi dominado pela ascensão e afirmação da arqui- tetura gótica. A respeito das arquiteturas românica e gótica, avalie as afirmações a seguir: I – As igrejas românicas caracterizavam-se por sua aparência de leveza e acentuada horizontalidade. II – Na entrada das catedrais góticas havia, geralmente, grandes arcos ogivais com os seus tímpanos preenchidos por esculturas em alto relevo. III – De origem lombarda, a arcada cega era comumente utilizada nas catedrais góticas. IV – Coruchéus são estruturas piramidais, geralmente “serrilhadas” ou “dentadas”, inseridas no topo das torres de algumas catedrais góticas. Está correto aquilo que se afirma em: a) II e IV. b) I e III. c) I, II, III e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV. Faça valer a pena Seção 1.1 / Arquitetura e urbanismo mulçumano. Urbanismo na Idade Média. Arquitetura românica. Arquitetura gótica - 29 2. Leia com atenção o texto do cronista medieval Raoul Glaber (985-1050), repro- duzido a seguir: Fonte: MIGNE, J. P. Patrologiae Cursus Completus. Series Latina, t. CXLII: Paris, 1880. Apud PEDRERO- SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média. Textos e testemunhas. São Paulo: Editora UNESP, 2000. p. 113. Com base no que é referido no texto apresentado e nos seus conhecimentos sobre a arqui- tetura medieval, assinale a alternativa correta: a) O surgimento da arquitetura românica acompanhou o reflorescimento da economia ocidental europeia, sobretudo do comércio, traço característico das cidades que renas- ceram na Baixa Idade Média. b) O autor do texto se refere ao período da Baixa Idade Média, em que os mosteiros predo- minavam como centros da intelectualidade, substituindo as universidades, dominantes na Alta Idade Média. c) O surto de construções ao qual o texto faz referência corresponde à arquitetura românica, caracterizada pela sua acentuada verticalidade. d) O texto se refere à arquitetura românica, que se caracterizava, entre outros aspectos, pelo uso restrito de ornamentos, sobretudo na parte externa dos edifícios religiosos. e) A arquitetura românica em expansão na primeira fase da Idade Média correspondeu à época de ruralização da Europa, sendo posterior à arquitetura de estilo gótico, especial- mente na Itália e na Gália. 3. A partir do século XII, em diferentes regiões europeias, nas cidades em cresci- mento, comerciantes, artesãos e bispos aliaram-se para a construção de catedrais com grandes pórticos, abóbadas e torres elevadas, bem como vitrais e rosáceas, produ- zindo uma “poética da luz”. No que se refere à relação entre a arquitetura das catedrais e o espaço urbano medieval, afirma-se que: I - As técnicas construtivas desenvolvidas na Idade Média permitiram a construção de espaços internos muito grandes, criando edifícios altos, que se impunham dentro do cenário urbano. II - A escala do edifício era meramente ornamental, pois não refletia a dimensão do espaço interno, que é extremamente reduzido. O objetivo era apenas fazer um edifício alto. III - A catedral sempre era um edifício importante, que devia ser visto de longe. Por [...] deu-se por todo o orbe da terra, especialmente na Itália e nas Gálias, um surto de construção de igrejas basilicais. [...] Era como se o mundo, tendo-se sacudido e lançado fora o antigo, se estivesse revestindo com a cândida veste das igrejas. Como tal os fiéis reformaram quase todas as igrejas das sedes episcopais, e o mesmo fizeram aos mosteiros dos vários santos, assim como aos lugares de oração de menos importância, nas vilas. (MIGNE, 1880 apud PEDRERO-SÁNCHEZ, 2000, p. 113) “ 30 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca isso, somente os campanários eram altos. O restante da construção devia permanecer com o mesmo gabarito do entorno. IV - A arquitetura gótica procurava criar edifícios discretos, que utilizassem o mesmo gabarito do entorno imediato. Está correto aquilo que se afirma em: a) II e III. b) I. c) I, II e IV. d) IV. e) III. Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 31 Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista Diálogo aberto Caro aluno, nesta seção você entrará em contato com o Renascimento e o Maneirismo, que foram dois dos momentos mais importantes da história da arquitetura ocidental. O Renascimento durou do século XIV ao XVI. Renascimento ou Renascença (Rinascita) significa literalmente nascer de novo ou ressurgir. Esse nome foi dado ao período porque ele se caracterizou por um retorno à arte e à arquitetura greco-romanas, pela retomada da filosofia em novas bases, não mais apenas religiosas, mas também por uma volta às fontes da própria fé cristã, uma vez que aquele foi também o momento em que ocorreu a Reforma Protestante, iniciada em 1517 por Martinho Lutero (1483-1546). No campo filosófico, especificamente, a Renascença foi assinalada pelo aparecimento de uma nova visão de mundo: o Individualismo e o Humanismo, cujo principal representante foi Francesco Petrarca (1304- 1374). O Humanismo se caracterizava por uma tendência ao antropo- centrismo, em contraposição ao teocentrismo, próprio da Idade Média. Promoveu-se, assim, uma crítica ao pensamento religioso, embora tenham buscado o sentido de harmonizar a filosofia clássica e o cristianismo, o que se expressou também na arte a partir de um convívio entre elementos pagãos e cristãos em obras como o Davi, de Michelangelo. O Renascimento foi ainda a época de afirmação da ciência moderna, sobretudo no campo da Física, como resultado das experiências e observações de Nicolau Copérnico (1473-1543). Foi quando também ocorreu a invenção da perspectiva cientí- fica (perspectiva linear/paralela, com um único ponto de fuga) e a revalo- rização da investigação do corpo humano, o que permitiu a exploração da anatomia humana na pintura e na escultura. Todo esse conhecimento cientí- fico influenciou e modificou a pintura, a escultura e a própria arquitetura. Durante o Renascimento, a pintura a óleo substituiu a têmpera, embora os afrescos (pinturas no gesso fresco), técnica que remonta à Antiguidade, tenha persistido e encontrado os seus maiores expoentes em Leonardo da Vinci (A última ceia, 1495-1498) e Michelangelo (Forro do teto da Capela Sistina, 1508-1512). O auge do Renascimento foi a denominada Alta Renascença (1495-1527), situada entre a pintura de A última ceia (1495-1498) de Da Vinci e o saque de Seção 1.2 32 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Roma pelas tropas do Sacro Império Romano Germânico, em 1527. Datam dessa época obras magistrais como a Pietá (1499-1500) e o Davi (1501-1504) de Michelangelo, além da Escola de Atenas (1509-1511), tela de Rafael, locali- zada no Palácio Apostólico do Vaticano, em Roma. O período seguinte ao Renascimento, denominado Maneirismo, também foi muito importante, pois, devido ao anticlassicismo e à grande inventi- vidade nele predominantes, lançou as bases doBarroco. Além disso, no Maneirismo surgiram estilos arquitetônicos que influenciaram períodos futuros da história da arquitetura, como o estilo palladiano. Desenvolvido originalmente por Andrea Palladio (1508-1580), esse estilo viria a ser muito influente nos séculos XIX e XX, sobretudo na Inglaterra e nos Estados Unidos, como veremos em outras unidades desta disciplina. Consideraremos agora o cenário no qual você, como arquiteto-urbanista, precisará aplicar os seus conhecimentos sobre a história da arquitetura no Renascimento e no Maneirismo. Conforme indicado na primeira seção desta unidade, o seu escritório se dedica tanto à elaboração de projetos arquitetô- nicos, urbanísticos e paisagísticos como ao desenvolvimento de atividades de cunho teórico, de ensino e incentivo à reflexão sobre a história da arquitetura. Sabedor dessa atuação do seu escritório no âmbito acadêmico, o diretor de um museu histórico da sua cidade decidiu realizar uma grande exposição fotográfica sobre os períodos artísticos do Renascimento e do Maneirismo. Ele pretende que a exposição seja bastante abrangente, incluindo as várias artes. Devido às realizações do seu escritório, você foi convidado para traba- lhar na montagem dessa exposição, juntamente com profissionais de outras áreas, como pintura, escultura, história da ciência e filosofia, a fim de que a exposição possa ter o caráter humanístico próprio da época da Renascença. Assim, você foi contratado para ser o curador da exposição na área da arqui- tetura. Diante dessa tarefa, você levanta os seguintes questionamentos: como organizar a exposição? Quais arquitetos do Renascimento e do Maneirismo selecionar para essa mostra? Quais edifícios representar nas fotografias? Que aspectos da história desses edifícios devem ser destacados? As fotos devem apresentar apenas o exterior ou também o interior dos edifícios? Como coordenar o conteúdo dos textos com as imagens na exposição? De que modo apresentar o conteúdo da exposição, a fim de que os visitantes compre- endam as mudanças promovidas naquela época na arquitetura? Agora que você foi apresentado ao conteúdo desta seção, vamos conhecer mais sobre a arquitetura renascentista e maneirista? Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 33 Não pode faltar O Renascimento foi um período essencial na história da civilização ocidental. Desenvolveu-se, inicialmente, nas cidades-estado da Península Itálica, nos séculos XIV, XV e XVI, especificamente em Florença, de onde se difundiu por todo continente europeu. Foram Cosme de Médici e o seu neto, Lourenço, o Magnífico, os primeiros grandes comerciantes mecenas (patro- cinadores de arte) da história. A eles devemos não só palácios, quadros, escultura e literatura, mas sobretudo o fator determinante de os florentinos terem aceitado o Renascimento como base da cultura. A arquitetura renascentista faz a busca do reflorescimento das constru- ções da Roma Antiga. Note que as obras são carregadas de elementos e carac- terísticas do período. O Renascimento tem esse nome, porque uma parte expressiva das formas que aparecem na arquitetura desse momento cultural provém principalmente do passado clássico, romano. Como se explica a apropriação de elementos da arquitetura clássica pelos arquitetos desse período? De um lado, a arquitetura renascentista se inspira e emprega a denomi- nada gravidade romana, ou seja, a seriedade, a rigidez, o rigor, o caráter criterioso da arquitetura, própria da Roma Clássica. De outro lado, os arquitetos renascentistas não reproduziam a arquitetura romana, apenas a referenciavam nas obras de igrejas e palácios. É importante observar que, se a arquitetura religiosa continua sendo produzida, ao mesmo tempo, foi no Renascimento que ocorreram os primeiros grandes projetos de arquitetura residencial, os palácios. Os arquitetos renascentistas mais importantes do período são: Filippo Brunelleschi, Leon Battista Alberti, Donato Bramante, Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarroti. Em relação às características da arquitetura, desta- cam-se: a) o desenvolvimento da perspectiva científica ou linear como meio de representação gráfica e sua utilização em projetos arquitetônicos; b) o uso, na arquitetura, de um repertório de formas geométricas (principalmente o círculo) para compor os edifícios; c) a revisitação do vocabulário próprio da arquitetura antiga romana, como o frontão triangular, as colunas, arcos plenos, abóbadas de berço e cúpula (domo). Assimile A Figura 1.17 apresenta o Panteão de Roma, construído entre 118 e 128, com os ornamentos do período, como o uso das colunas, edifício circular, frontão triangular, arcos plenos, abóbadas de berço e cúpula. 34 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Comparativamente, a Figura 1.18, Igreja de São Pedro, em Roma (obra de Bramante, construída entre 1506 e 1626), apresenta a releitura de muitos dos elementos: colunas, planta com circunferência e uso da cúpula. Figura 1.17 | Panteão de Roma, construção de 118-128 Fonte: iStock. Fonte: iStock. Figura 1.18 | Igreja de São Pedro, em Roma Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 35 Apresentando individualmente a relevância de cada arquiteto e suas obras, Filippo Brunelleschi (1377-1446) é considerado o criador da arquitetura renas- centista. Ele iniciou a sua carreira artística na escultura, embora fosse ourives de profissão e também versátil em muitas artes. Brunelleschi estudou arquitetura antiga em Roma e, na primeira fase de sua carreira de arquiteto, redescobriu os princípios da perspectiva linear que, conhecidos por gregos e romanos, ficaram esquecidos durante toda a Idade Média. Restabeleceu assim, na prática, o conceito de ponto de fuga, além da relação entre a distância e a redução no tamanho dos objetos. Mediu estruturas antigas e representou-as em perspectiva científica, com um ponto de fuga. A partir de então, seguindo os princípios ópticos e geométricos enunciados por Brunelleschi, os artistas da época puderam reproduzir objetos tridimensionais no plano bidimensional de uma maneira surpreendentemente semelhante, ou seja, mimética. Exemplificando Os desenhos em perspectiva com ponto de fuga tornaram-se uma ferra- menta muito importante na linguagem da representação gráfica, tanto na arquitetura quanto na pintura. Brunelleschi foi quem desenvolveu a técnica e divulgou-a. A Figura 1.19 apresenta um exemplo de seus desenhos, no caso a representação da Catedral de Florença. Figura 1.19 | Desenho em perspectiva, de Brunelleschi Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.201/6433>. Acesso em: 5 dez. 2018. Em suas obras arquitetônicas, Brunelleschi buscou realizar uma volta consciente ao vocabulário romano: utilizou o arco pleno, colunas e cúpulas de forma padronizada e regular, ou seja, nas suas obras, os elementos da arquitetura antiga são rigorosamente definidos. Seu principal objetivo era o de racionalizar o 36 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca desenho arquitetônico por meio do uso combinado de elementos geométricos, como o círculo e o quadrado, com o vocabulário romano empregado de forma rigorosa, visando à harmonia das formas e proporções, cuja origem, acreditava, seria divina. Brunelleschi foi escolhido por concurso, no ano de 1420, para dirigir a construção da grande cúpula da Catedral de Florença, que permanecia inaca- bada havia décadas. Ele criara uma forma de construir com o uso de um estrado de madeira suspenso, apoiado no tambor da abóbada, por meio de correntes de ferro, não precisando utilizar andaimes. Assim, foi construída a mais graciosa de todas as cúpulas, concluída em 1434, apoiada em um tambor octogonal, sem nenhum apoio na base. Parasuportar o empuxo exercido sobre as paredes, Brunelleschi incluiu na espessura da cúpula uma série de barrotes de madeira unidos por barras de ferro. Esse processo discutível representava, provavelmente, a única solução (até se conhecer, 500 anos depois, o concreto protendido) para se construir uma cúpula dessa maneira. Depois de experimentado pela primeira vez em Florença, todas as cúpulas renascentistas e barrocas foram construídas usando esse método, conforme apresentado na Figura 1.20. Note que na cúpula central há alguns espaços vazios entre os tijolos, onde eram realizados os apoios do estrado de madeira. Figura 1.20 | Cúpula de Santa Maria del Fiore, Florença, Itália Fonte: iStock. Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 37 Fonte: iStock. Na mesma época, ainda em Florença, Brunelleschi construiu o Hospício (Hospital) dos Inocentes (1419-1445), em que, mais uma vez, tornou patente um deslumbrante equilíbrio. Nas admiráveis arcadas encontramos os famosos medalhões de Andrea della Robbia (1435-1525) e colunas com capitéis de ordem coríntia deliberadamente acadêmicas, como se pode ver na Figura 1.21. No entanto, nem Brunelleschi nem nenhum outro arquiteto renascentista copiou um modelo romano, e isso só aconteceria no reviva- lismo clássico do século XVIII. Figura 1.21 | Hospital dos Inocentes, Florença, Itália Pesquise mais Você pode aprender mais sobre a arquitetura renascentista e maneirista e, particularmente, a respeito de aspectos fundamentais das obras de Brunelleschi, por meio da leitura do texto sugerido: MIGUEL, J. M. C. Brunelleschi: o caçador de tesouros. Arquitextos, [S.l.], v. 040.02, ano 04, set. 2003. Disponível em: <http://www.vitruvius.com. br/revistas/read/arquitextos/04.040/651>. Acesso em: 28 nov. 2018. Outro arquiteto muito importante do período foi Leon Battista Alberti (1401-1472). Florentino, erudito, advogado, fluente em latim e conhecedor do grego, instruído em música e equitação, dramaturgo, linguista, compo- sitor e matemático, escritor, depois de Leonardo da Vinci, foi considerado o modelo do homem do Renascimento, completo e universal. Funcionário público em Roma, teve bastante tempo para estudar as ruínas da Antiguidade. 38 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Mais interessado na teoria do que na prática, assim como os gregos antigos conceberam os seus templos em termos geométricos e matemáticos, Alberti tentou elaborar leis idênticas nos seus tratados sobre arquitetura. Por seu trabalho intelectual, Alberti tornou-se a maior autoridade em arquitetura romana. Uma de suas obras fundamentais é De Re Aedificatoria (Sobre a arte de construir), produzida entre os anos de 1443 e 1452. Além disso, devido à sua produção arquitetônica, Alberti foi o primeiro arquiteto no sentido moderno, pois projetava para o empreiteiro construir (diferen- temente de Brunelleschi ou outros anteriores, que projetavam e também construíam); foi o primeiro a codificar as regras da arquitetura clássica; o primeiro a mostrar como elementos da arquitetura romana podiam ser adaptados aos requisitos modernos; o primeiro a formular o princípio de que em um edifício harmonioso nada pode ser acrescido ou suprimido. Foi a mais forte influência individual para os seus contemporâneos e jovens arquitetos. Assimile Durante o Renascimento, foram definidas as características da profissão de arquiteto tal como a entendemos nos dias atuais. A partir de então, o arquiteto passou a ser considerado como um humanista, ou seja, um profissional capaz de articular vários conhecimentos técnicos, artís- ticos e filosóficos e combiná-los na realização de suas obras. Em termos atuais, pode-se afirmar que a arquitetura passou a ser considerada como um campo interdisciplinar por excelência, no interior do qual confluem os mais variados conhecimentos. Essa ideia do arquiteto como um intelectual completo foi definida pela primeira vez pelo italiano Filippo Brunelleschi (1377-1446), e depois afirmada e confirmada pela atuação de outros notáveis renascentistas, como Alberti (1404-1472). Além disso, a arquitetura do período foi reali- zada por gênios da categoria de Leonardo da Vinci (1475-1564) e Miche- langelo (1452-1519), que tinham pleno domínio de diferentes artes e variados campos do saber. Os exemplos da produção arquitetônica de Alberti são variados, entre eles, é importante destacar o uso do arco do triunfo romano como fachada de igreja (3 arcos em San Francesco, Rimini, 1446); o emprego das três ordens gregas sobrepostas de forma “correta” – dórico, jônico, coríntio – na fachada de um palácio (Palazzo Rucellai, 1446). Ele completou a fachada de Santa Maria Novella (1456), de Florença, onde introduziu o motivo de grandes volutas que uniam a nave central e as colaterais no cimo — uma característica que viria a ter enorme sucesso ao Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 39 longo dos séculos. Substituem os contrafortes góticos e, portanto, são estru- turais, conforme apresentado na Figura 1.22. Figura 1.22 | Santa Maria Novella, Florença, Itália Fonte: iStock. Alberti desenhou a planta de duas igrejas, em Mântua: a de S. Sebastiano (1460), bastante modificada posteriormente, com planta centrada, a qual o arquiteto defendia como sendo a planta ideal; e a igreja de Sant’Andrea (c. 1470). Ambas foram erigidas sobre uma plataforma ou pódio elevado (na teoria de Alberti, as igrejas deveriam ser erguidas sobre um podium elevado, à semelhança de antigos templos romanos, como a Maison Carrée, em Nimes, na França). Os aspectos mais importantes e influentes de Sant’Andrea são os seguintes: a aplicação de leis matemáticas e regras geométricas na arquite- tura, para compor o edifício, à maneira dos gregos antigos; clara inspiração na Antiguidade romana; nada está fora do lugar; o círculo é a forma geomé- trica mais importante; mesmo os quadrados são consequências de círculos; a fachada da igreja contém um frontão e é inspirada no arco do triunfo romano; redução das naves laterais a capelas medidas na espessura dos contrafortes (capelas nos vãos dos contrafortes); as capelas laterais repetem, na mesma escala, o esquema e o ritmo da fachada; o conjunto conduz a uma impressão de unidade; e o recurso à perspectiva, pois o edifício todo está inserido dentro do nosso campo de controle visual (é possível achar o ponto de fuga olhando o interior da igreja). 40 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca A Figura 1.23 (a) apresenta a fachada principal da igreja de Sant’Andrea, enquanto a Figura 1.23 (b) apresenta o interior da mesma igreja. Figura 1.23 | (a): fachada principal da igreja de Sant’Andrea; (b): interior da igreja de Sant’An- drea Figura 1.23 (a) Figura 1.23 (b) Fonte: (a): iStock ; (b): <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sant%27Andrea_della_Valle#/media/File:Sant%27Andrea_ della_Valle.inside.JPG>. Acesso em: 3 dez. 2018. Outro arquiteto importante do período é Bramante (1444-1514), respon- sável por dois dos mais significativos projetos daquele período: a nova Basílica de São Pedro, no Vaticano, em substituição à original da Antiguidade, demolida a pedido do Papa Júlio II por volta de 1506; e o Tempietto, em Roma. No caso da Basílica de São Pedro, o projeto de Bramante não é plena- mente conhecido, pois dele não foram localizados registros diretos e não chegou a ser executado. Porém, por meio de diferentes fontes, como a medalha de fundação da igreja, datada de 1506, e uma planta desenhada por Bramante, é possível deduzir algumas das características do projeto, como as seguintes: a) uso da planta centrada, ou em cruz grega, bem ao gosto dos humanistas,como Leonardo da Vinci; b) colocação de uma abóbada ao estilo do Panteão romano, hemisférica sobre base circular; c) emprego da simetria como princípio básico projetual, o que acentua o seu caráter renascentista; e d) presença de quatro torres angulares. Outra obra importante de Bramante é o Tempietto de San Pietro, em Montorio, construído em 1502, pouco depois da sua chegada a Roma, no Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 41 lugar onde se supunha que S. Pedro fora crucificado, tornando o templo uma espécie de relicário sagrado. O edifício compõe-se de apenas dois volumes: cilindro e hemisfério. Apresenta um peristilo circular e é resultado do uso de geometria pura para elaborar projetos arquitetônicos, conforme apresentado na Figura 1.24. Figura 1.24 | Igreja de São Pedro, em Montorio Fonte: iStock. Leonardo da Vinci (1452-1519) ficou famoso sobretudo pelas suas pinturas, dentre as quais se destacam a Mona Lisa (1503) e A última ceia (1495-1498), esta última localizada na parede do refeitório da Igreja de Santa Maria dele Grazie, em Milão. Da Vinci foi, certamente, o mais impor- tante humanista do Alto Renascimento. Os seus estudos de anatomia, as suas invenções e a sua arte marcaram o século XV na Europa. Foi também músico, escultor, matemático, botânico, poeta e engenheiro. Como arquiteto, produziu mais teoria do que propriamente construiu edifícios, tendo deixado desenhos de cidades ideais, sistemas de abastecimento de água, plantas de igrejas basílicas, entre outros. Outro arquiteto importante do Renascimento foi Michelangelo Buonarroti (1475-1564), que também foi também pintor e escultor. O estudo de sua obra permite compreender aspectos importantes da arquitetura e do espaço urbano, ou seja, das cidades, no Renascimento. 42 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Quando, em 1538, Michelangelo começou a trabalhar no Capitólio, em Roma, este era um cenário confuso, uma coleção de edifícios antigos, que não obedeciam a qualquer planta, situados na histórica colina acima do antigo Fórum Romano. Desse caos, Michelangelo fez uma obra-prima de planejamento urbano, porque aproveitou um dos eixos principais de Roma, tal como era, e criou o espaço central, à volta do qual situou o Palazzo dei Conservatori (1563-1568), o Palazzo dei Senatore (1573-1612) e o Museu Capitolino (1544-1555). Esses edifícios tiveram de ser concluídos pela geração seguinte, mas demonstraram a maestria de Michelangelo no uso da ordem colossal — o emprego da coluna ou da pilastra com dois andares de altura e eventualmente com uma coluna menor a ladear a arcada ou as janelas do andar térreo. Uma vez mais, a coluna menor funciona como ornamento, dando escala à maior e, desse modo, a todo o edifício e, de fato, a todo o complexo urbano. Assim, a grandiosidade é conseguida mediante uma inter- -relação das partes. Também é de notar a engenhosa colocação dos três edifí- cios — não fazem ângulos retos entre si, não se ocultam uns aos outros e, no entanto, fecham três lados do espaço central. No centro desse espaço — em um ponto focal — encontra-se a grande estátua equestre de Marco Aurélio. A ampla escadaria de acesso, o desenho do pavimento, a disposição de lances de degraus e de patamares, tudo é, na verdadeira concepção da palavra, escultural. Aqui, Michelangelo criou um novo nó na planta de Roma. De fato, parte da planta urbana é equivalente às piazzas de Veneza, Florença, Urbino e Siena. A Figura 1.25 apresenta a Piazza del Campidoglio, ou Praça do Capitólio, em Roma. Figura 1.25 | Piazza del Campidoglio, em Roma Fonte: iStock. Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 43 Ao final do período renascentista, teve início o Maneirismo, época na qual a arte na Europa ocidental deixou de seguir rigorosamente os padrões clássicos, criando um estilo que combinava o clássico e o anticlássico. Na arquitetura, esse momento histórico teve como principais representantes Giacomo Della Porta (1532-1602), Giacomo da Vignola (1507-1573) e Andrea Palladio (1508-1580). De Vignola e Della Porta, a obra mais impor- tante é a igreja Il Gesú (1568-1580), sede da Companhia de Jesus em Roma. Nessa igreja, é possível observar uma fachada que combina elementos clássicos e outros de caráter inovador, como o uso de um frontão dentro de um arco abatido. A planta da igreja, por sua vez, mistura a planta em cruz grega e a planta em cruz latina. Andrea Palladio, por sua vez, criou um padrão arquitetônico inovador, ao utilizar fachadas duplas nas suas igrejas e projetar, de forma modulada, residências de veraneio como se fossem monumentos em meio a jardins, com pórticos e frontões nas suas fachadas. De certo modo, ele acreditava que as residências dos gregos antigos seguiam esse padrão, assemelhando-se aos seus templos. Exemplo dessa arquitetura é a famosa residência Villa Capra La Rotonda, situada em Veneza, na Itália. Para finalizar, deve-se fazer referência ao anticlassicismo de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), que, portanto, foi um mestre tanto no tempo da Renascença como no Maneirismo. Exemplo de sua arquitetura maneirista é a Biblioteca Laurentiana (1523-1525; inaugurada em 1571), localizada em Florença, na Itália. No vestíbulo da biblioteca, espaço que antecede a sala de leitura, Michelangelo inseriu falsas janelas e colunas que só aparentemente não são estruturais. Tudo à maneira de um cenário, característica dessa arquitetura maneirista. E também incluiu uma escadaria com degraus de linhas retas e curvas, que mais se assemelha, por seu caráter artístico, a uma escultura. Reflita O Renascimento foi um período marcado por inovações e permanên- cias, pelo convívio entre paganismo e cristianismo, pela combinação entre arte e ciência. Foi uma volta ao passado e um apontamento para o futuro, a recuperação de padrões clássicos e a adoção de elementos inovadores. O que o diferencia do movimento Maneirismo? Como se pôde observar, Renascimento e Maneirismo foram momentos decisivos na história da arte e da arquitetura do Ocidente. Um dos aspectos mais importantes desses dois estilos foi a volta à arquitetura antiga, sobre- tudo a romana. Esse aspecto assemelha-se nos dois momentos, que se 44 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca Sem medo de errar Você, como um arquiteto-urbanista profissional, foi convidado a ser o curador de uma exposição sobre a arquitetura do Renascimento e do Maneirismo. Para poder realizar esse trabalho, inicialmente você organiza uma pesquisa bibliográfica sobre as principais características dos dois períodos, a época e os locais onde ocorreram e quais foram os seus principais representantes. Em seguida, você procura responder às questões levantadas durante o planejamento da exposição, como indicado a seguir. Em primeiro lugar, como organizar a exposição? Considerando que será uma mostra fotográfica, você resolve montá-la em setores, cada um dedicado à vida e à obra dos mais importantes arquitetos do Renascimento e do Maneirismo. Em segundo lugar, quais arquitetos do Renascimento e do Maneirismo selecionar para essa mostra? Quais edifícios desses arquitetos representar nas fotografias? As fotos devem apresentar apenas o exterior ou também o interior dos edifícios? Como curador, você seleciona as obras de Brunelleschi, Alberti e Bramante para representarem a Renascença. Escolhe duas obras de cada um deles, e expõe fotos do interior e do exterior delas. De Brunelleschi, você decide expor fotos do Duomo de Florença e da Basílica do Espírito Santo; de Alberti, você resolve expor fotos do seu livro De Re Architetura e da Igreja de Santo Andrea, em Mântua; de Bramante, você expõe o Tempietto e a Planta da Basílica de São Pedro. Representandoo período do Maneirismo, você expõe fotos da igreja Il Gesú, de Vignola e Della Porta, e a residência La Rotonda, de Palladio. A seguir, você busca respostas para as seguintes questões: que aspectos da história desses edifícios devem ser destacados? Como coordenar o conteúdo dos textos com as imagens na exposição? Quando e por que motivos surgiram esses estilos históricos? Para atender essa demanda, você inclui na exposição, além de fotografias, breves textos explicativos que escla- recem aos visitantes que o Renascimento surgiu na Itália e desenvolveu-se ao longo dos séculos XIV e XVI, enquanto o Maneirismo ocorreu no próprio século XVI, também na Itália. Os textos esclarecem também que a arquite- tura renascentista foi marcada pela sobriedade, pelo recurso ao classicismo e à combinação entre arte e ciência (sobretudo matemática e geometria), enquanto o Maneirismo foi anticlássico, embora sem exageros ornamentais, mas com forte recurso à inventividade e inovação. distinguem na medida em que, enquanto na Renascença a arquitetura seguia padrões clássicos rigorosos, no Maneirismo houve a tendência à combinação de elementos clássicos e anticlássicos e a uma maior inventividade por parte dos arquitetos. Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 45 Você organiza essa parte da exposição de modo a mostrar ao público as mudanças ocorridas entre os dois períodos, sobretudo o abandono, no Maneirismo, do rigor, da gravidade romana, que caracterizava o Renascimento. Como último aspecto importante para solucionar essa situação, você busca responder a uma pergunta: de que modo apresentar o conteúdo da exposição, a fim de que os visitantes compreendam as mudanças promovidas naquela época na arquitetura? Para resolver esse aspecto, encer- rando a mostra, você organiza o espaço de modo a conduzir os espectadores a uma última sala na qual estão expostas fotos de obras de Michelangelo, como a escultura de Davi e a cúpula da Basílica de São Pedro – os dois de cunho renascentista –, e o painel do altar mor da Capela Sistina e o vestíbulo da Biblioteca Laurentiana – de caráter maneirista –, de modo a demonstrar que ele transitou do Renascimento para o Maneirismo, tendo sido, portanto, um artista que pertenceu a ambos e que demonstrou em suas obras as tensões e propostas características desses dois momentos fundamentais da história da arte ocidental. Ao realizar esse processo, você, conseguirá situar de modo mais preciso os dois momentos históricos aqui abordados e os elementos mais importantes que os caracterizam: de um lado, a arquitetura renascentista, racionalista, rigorosa, padronizada, geometrizada, em uma palavra, tendente ao clássico, e, de outro, a arquitetura maneirista, ambígua, vacilante, sem padrões prees- tabelecidos, sem rigor geométrico, enfim, anticlássica. Uma aula de perspectiva Descrição da situação-problema Considere que você, sendo um arquiteto-urbanista profissional, foi convidado por uma universidade particular para ministrar uma aula sobre perspectiva, para estudantes de graduação em Arquitetura e Urbanismo. Mais que uma aula prática de desenho, o coordenador do curso solicitou uma abordagem de caráter mais teórico e histórico, pela qual os alunos pudessem compreender o surgimento da perspectiva e as relações entre ela e a história da arquitetura e da arte em geral. Para desenvolver esse trabalho, você começa com alguns questionamentos: como apresentar aos alunos a origem da perspectiva? Como demonstrar as relações entre o uso da perspec- tiva na pintura e na arquitetura? Avançando na prática 46 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca 1. No continente europeu do século XVI, despontaram alguns dos mais renomados arqui- tetos da história da civilização ocidental. Entre eles, destaca-se o veneziano Andrea Palladio (1508-1580), cuja obra incluiu sobretudo edifícios religiosos e residências, e que influen- ciou diferentes movimentos da história da arquitetura séculos à frente do seu tempo, como o Neoclássico, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Constitui característica própria da arquitetura de Palladio: a) A valorização da arquitetura clássica, o que o identifica claramente como um arquiteto renascentista. b) A transformação das residências de veraneio ou casas de campo em monumentos em meio a jardins. c) A adoção do vocabulário arquitetônico da Grécia Antiga somente nas igrejas e não em casas particulares. d) A recusa em utilizar o método de projeto modular ou modulado. e) A utilização de pórticos à maneira dos templos gregos nas residências, embora ele não acreditasse que assim seriam as habitações da Grécia Antiga. Faça valer a pena Resolução da situação-problema Para poder elaborar a aula, você realiza uma pesquisa bibliográfica e descobre que desde a Antiguidade, sobretudo na Roma Antiga, mas também em alguns momentos da arte medieval, artistas tentaram desenhar em perspectiva, obtendo maior ou menor sucesso, dependendo do caso. No entanto, foi somente no Renascimento que o italiano Filippo Brunelleschi conseguiu estabelecer os parâmetros da perspectiva linear, com um único ponto de fuga, que aplicou em seus projetos de igrejas basilicais. A partir dessas informações, você elabora uma apresentação com exemplos de desenhos perspectivados da Antiguidade Clássica (sobretudo pinturas parietais, ou seja, em paredes) e também da Idade Média (em iluminuras de Evangelhos, por exemplo), buscando demonstrar aos alunos as tenta- tivas anteriores à Idade Moderna. Em seguida, você apresenta exemplos de igrejas basilicais projetadas por Brunelleschi e pinturas de Rafael (A Escola de Atenas) e Leonardo da Vinci (A última ceia) e Van Eyck (O casal Arnolfini), nas quais a perspectiva linear foi empregada. Finalizando, solicite aos alunos que desenhem sobre uma foto impressa do interior de uma igreja de Brunelleschi, o ponto de fuga e as linhas de força da perspectiva ali empregada. Desse modo, os estudantes terão tanto um conhe- cimento teórico e histórico sobre a origem da perspectiva e sua aplicação na arquitetura, como terão reconhecido o seu uso no âmbito projetual. Seção 1.2 / Arquitetura renascentista. Urbanismo renascentista e arquitetura maneirista - 47 Figura 1.26 | Cúpula do Duomo de Firenze Fonte: iStock. 2. De acordo com diversos historiadores, a arquitetura do Renascimento tem início com a construção da imponente cúpula da Igreja de Santa Maria del Fiore, na cidade de Florença, na Itália. Conhecida como o Duomo de Firenze, a cúpula foi concluída em 1436, tendo sido idealizada e executada por Filippo Brunelleschi (1377-1446). No que se refere ao aspecto construtivo, qual foi a importante contribuição dada por Brunelleschi nessa obra? a) O uso da perspectiva para fazer os desenhos do projeto da cúpula, e assim torná-la possível de ser executada. b) A possibilidade de construir uma cúpula imponente, ainda que ela não pudesse ser vista a grandes distâncias, fato importante em uma época em que as cidades dispu- tavam o título de mais importante entre si. c) A capacidade de transpor para a arquitetura a importância da Igreja como insti- tuição fundamental na Itália. d) A inovadora técnica construtiva, que permitiu construir a enorme cúpula sobre a área existente da igreja, sem o uso de escoramentos. e) O uso de materiais inovadores na construção, como a madeira, o que possibilitou formas mais ousadas e sedutoras. 48 - U1 / Arquitetura na Idade Média, renascentista e barroca 3. O Maneirismo constituiu um dos importantes estilos artísticos da Idade Moderna. Situado entre o Renascimento e o Barroco, caracterizou-se, entre outros, por uma maior liberdade criativa na pintura e na arquitetura. A respeito desse momento da história da arte ocidental, avalie as afirmações a seguir: I - Il Gesú
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