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TFG II CORRIGIDO - ARQUITETURA DO SITIO HISTÓRICOS

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Prévia do material em texto

1 
 
FACULDADE BRASILEIRA 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
ALINE OLIVEIRA AZEVEDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARQUITETURA DE IMIGRAÇÃO 
ITALIANA EM SANTA TERESA - ES 
 
 
 
 
 
Anteprojeto de pesquisa 
apresentado na disciplina Trabalho 
Final de Graduação I, da Faculdade 
Brasileira – Multivix Vitória, 
ministrada pelo Prof. Genildo Coelho 
Hautequestt Filho, como requisito 
parcial para avaliação do 1º 
bimestre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vitória 
2015 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 01: Mapa da intensidade dos fluxos de imigrantes para o 
Brasil................................................................................................................ ..12 
Figura 02: Imigrantes italianos trabalhando nas lavouras de café no ES..........13 
Figura 03: Encarte de incentivo a emigração....................................................15 
Figura 04: Condições precárias dentro dos navios italianos ............................15 
Figura 05: Divisão interna das residências........................................................16 
Figura 06: Sesmaria doada a uma família de imigrantes açorianos na colônia 
de Viana ............................................................................................................18 
Figura 07: Manifestação cultural de descendentes italianos no município de 
Santa Teresa.....................................................................................................21 
Figura 08: Mapa da Itália com destaque para as regiões de onde proveio a 
maioria dos imigrantes italianos para o Espírito Santo......................................23 
Figura 09: Primeiras ocupações estabelecidas no Município de Santa Teresa - 
ES......................................................................................................................24 
Figura 10: Semelhança entre a rua Coronel Bonfim Junior Santa Teresa - ES (à 
esquerda), e a rua de Monteforte D'Alpone, Verona/Itália (à 
direita)................................................................................................................25 
Figura 11: Esboço Topográfico do Território Timbuy na Colônia Santa 
Leopoldina - Província do Espírito Santo 1876..................................................27 
Figura 12: Planta do Núcleo Timbuy..................................................................28 
Figura 13: Inicio da Construção da Casa Lambert em meio a floresta em Santa 
Teresa................................................................................................................28 
Figura 14: Venda do Café em Santa Teresa - ES na Rua do 
Comércio............................................................................................................29 
Figura 15: Inicio da ocupação em Santa Teresa - ES.......................................29 
Figura 16: Detalhe da estrutura das casas rurais. Alicerce em madeira e a 
trama do esqueleto............................................................................................31 
 
4 
 
Figura 17: Casas rurais durante o primeiro período (a frente) e durante o 
período de apogeu (aos fundos)........................................................................32 
Figura 18: Casa rural pertencente ao período tardio.........................................32 
Figura 19: Encaixe em madeira " Calda de andorinha......................................33 
Figura 20: Planta baixa de uma construção residencial rural............................33 
Figura 21: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa 
Teresa,ES..........................................................................................................35 
Figura 22: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa 
Teresa, ES.........................................................................................................36 
Figura 23: Planta baixa pavimento térreo..........................................................36 
Figura 24: Planta baixa do segundo pavimento.................................................37 
Figura 25: Técnica construtiva tradicional - Taipa de mão................................38 
Figura 26: Estrutura das construções tradicionais de taipa de mão..................39 
Figura 27: Casa Lambert, Santa Teresa - ES....................................................49 
Figura 28: Simetria e harmonia na fachada de uma edificação térrea - Santa 
Teresa, ES.........................................................................................................40 
Figura 29: Rua Coronel Bonfim Junior - Santa Teresa, ES...............................41 
Figura 30: Detalhe da fachada com esquadrias em madeira - Santa Teresa, 
ES........................................................................................ ..............................43 
Figura 31: Detalhe das bandeiras das portas principais....................................44 
Figura 32: Detalhe das sacadas acima da porta principal - Santa Teresa, 
ES................................................................................................................ ..... 45 
Figura 33: Detalhe dos guarda-corpos acima da edificação - Santa Teresa, 
ES......................................................................................................................45 
Figura 34: : Detalhe do telhado aparente com caimento de duas águas - Santa 
Teresa, ES.........................................................................................................46 
Figura 35: Rebatimento dos vãos em relação ao centro da edificação- Santa 
Teresa, 
ES......................................................................................................................47 
5 
 
Figura 36: Alinhamento das edificações e a construção na testada do lote 
Santa Teresa, ES...............................................................................................48 
Figura 37:Ausência de alinhamento entre as aberturas dos vãos.....................50 
Figura 38:Intervenção na fachada, Santa Teresa, ES.......................................51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 - Imigrantes que desembarcaram em Vitória 1892/1896....................18 
 
Tabela 2 - Entrada de imigrantes no Espírito Santo 1987/1986........................19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8 
 
1 OS CAMINHOS DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL .......................................... 11 
1.1 O PROESSO IMIGRATÓRIO NO BRASIL ................................................ 11 
1. 2 O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO ESPÍRITO SANTO .......................... 17 
 
2 A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA .............. 22 
2.1 DE TRENTINO AO NÚCLEO TIMBUY ...................................................... 22 
2.2 AS PRIMEIRAS OCUPAÇÕES DO NÚCLEOTIMBUY ............................. 27 
 
3 A NOVA FORMA DE MORAR DO IMIGRANTE ITALIANO ....................... 30 
3.1 ARQUITETURA RURAL ........................................................................... 30 
3.2 ARQUITETURA URBANA ........................................................................ 34 
 
4. ARQUITETURA URBANA EM SANTA TERESA........................................42 
 
4.1 TIPOLOGIAS ARQUITETÔNICAS DAS EDIFICAÇÕES URBANAS NOS 
XIX E XX............................................................................................................42 
MAPA BASE DP MUNICÍPIO DE SANTA TERESA..........................................49 
 
TABELA DAS TIPOLOGIAS ARQUITETONICAS DOS SOBRADOS URBANOS 
DE SANTA TERESA..........................................................................................50CONCLUSÃO....................................................................................................56 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
O período de imigração europeia no Brasil durante o século XIX colaborou de 
forma significativa para a adaptação da paisagem genuinamente brasileira, 
com influência lusitana herdada durante o período da colonização do país. 
Entre os povos que vieram do continente europeu para habitar ao Brasil estão 
os italianos. 
A imigração italiana contribuiu para a formação cultural da sociedade brasileira, 
tendo em vista que são encontradas manifestações culturais desse povo em 
várias regiões do país, em especial no Estado do Espírito Santo, região que 
recebeu maior contingente de imigrantes durante os séculos XIX e XX. 
A forma de construir desses imigrantes se reflete de diversas maneiras, sendo 
essas adaptadas às disponibilidades construtivas de cada região, tornando, 
assim, as obras singulares e de grande valor histórico. Nesse sentido, é 
possível afirmar que a vinda dos italianos foi de suma importância para a 
formação da nova mentalidade que se desenvolveu no Brasil. 
Dentre os municípios que receberam imigrantes italianos, no Estado do Espírito 
Santo, destaca-se Santa Teresa, local para onde emigrou o maior contingente 
de italianos no Estado. Este município está situado, geograficamente, na região 
norte-serrana, tem o relevo entre vales e montanhas, que assemelharam-se ao 
relevo do país de origem dos imigrantes a região de Trentino - Alto Adige, Itália. 
Em Santa Teresa, encontram-se inúmeros exemplares edificados dos séculos 
XIX e XX, razão pela qual a cidade tenha se tornado uma região turística, tendo 
em vista o seu patrimônio cultural ainda preservado. 
Atualmente no município de Santa Teresa, é possível notar a presença viva da 
cultura italiana herdada pelos colonos que se estabeleceram na região. Sendo 
assim, podemos observar essa influência manifestada de diversas maneiras, 
como, nos costumes e tradições populares, gastronomia, produção vinícola e, 
principalmente, nos exemplares edificados que compõem o acervo 
arquitetônico local. 
 
9 
 
Assim, buscando subsídios para a preservação do patrimônio histórico 
edificado dessa cidade, este estudo se propõe a realizar uma análise das 
edificações urbanas, buscando melhor compreender as tipologias 
arquitetônicas locais, bem como verificar a implantação dos edifícios inseridos 
no lote e, também, o desenvolvimento das fachadas das construções no 
decorrer dos séculos XIX e XX, levando em consideração para isso, a forte 
influência italiana sobre a arquitetura capixaba. 
É válido ressaltar que nos dias atuais, poucas edificações encontram-se 
inalteradas, a maioria foi adaptada, remodelada ou demolida. Os fatores que 
podem ser apontados como responsáveis para que isso ocorresse são: a falta 
de informação e conscientização da população e dos órgãos competentes, que 
abrangem a esfera Municipal, Estadual e Federal. Além disso, a resistência ao 
processo de tombamento, por parte da população local que dificulta a 
preservação de tais patrimônios históricos. 
Portanto, é possível notar que a imigração italiana que se fez presente no 
Estado do Espírito Santo teve uma grande contribuição para o desenvolvimento 
demográfico, para a expansão da economia cafeeira e para o crescimento 
comercial do Estado. 
Para a constituição da bibliografia desse estudo, foram selecionados as 
bibliografias que retratam o processo imigratório que ocorreu no Brasil, 
especificamente, no Estado do Espírito Santo. Além desses, também, foram 
elencados materiais que demonstram a arquitetura adotada pelos colonos, em 
especial os de origem italiana, no Estado do Espírito Santo. Dessa forma, 
dentre as obras pesquisadas, destacam-se a de Julio Posenato; Maria Isabel 
Perini Muniz; Günter Weimer; Serafim Derenzi, entre outras. 
Este trabalho está dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo retrata os 
principais aspectos que levaram grande parte da população europeia a migrar 
para outros continentes em busca de melhores condições de vida. Para tanto, 
serão apresentados o contexto histórico da época, as situações 
socioeconômicas do Brasil e da Europa, a nova forma de morar, as regiões que 
10 
 
mais receberam colonos e, também, a Política de Imigração adotada pelo 
Brasil a partir do século XIX. 
Já o segundo capítulo, trata do início da imigração italiana no Estado do 
Espírito Santo, especificamente, no Município de Santa Teresa. Assim, serão 
apresentados os motivos que levaram os italianos a se instalarem entre os 
vales e montanhas da região serrana do Estado do Espírito Santo, a política de 
ocupação do território, o desenvolvimento do Núcleo Timbuy e a forma de 
morar dessa nova sociedade que começa a ser formada no Brasil. 
O terceiro capítulo aborda os aspectos relacionados à arquitetura de imigração 
italiana no Espírito Santo, bem como o partido arquitetônico das residências 
rurais e urbanas e, também, as peculiaridades dos sobrados urbanos. Dessa 
forma, será apresentada a nova mentalidade construtiva que será integrada a 
cultura brasileira. 
No quarto e último capítulo, serão realizadas as análises dos sobrados que 
fazem parte do conjunto arquitetônico edificado urbano, levando em 
consideração para isso, as tipologias arquitetônicas das fachadas e a 
implantação da edificação no lote no decorrer dos séculos XIX e XX, no 
Município de Santa Teresa. 
Assim sendo, buscando compreender melhor a imigração italiana, a pesquisa 
desenvolvida sintetiza a arquitetura urbana herdada pelos imigrantes advindos 
da região norte da Itália, em especial de Trentino, para o município de Santa 
Teresa, Espírito Santo. Percebe-se, portanto, ao longo do estudo, que os 
imigrantes adaptaram no Brasil uma arquitetura que remete a suas terras de 
origem. 
 
 
 
 
 
11 
 
1 OS CAMINHOS DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL 
A imigração que ocorreu entre os séculos XIX e XX contribuiu para o 
desenvolvimento cultural do Brasil, sendo essa a grande responsável por 
promover a cultura cafeeira e o crescimento comercial do país. A província do 
Espírito Santo, apesar de não ter se desenvolvido tanto como as outras, foi a 
que mais recebeu contingentes de imigrantes, devido à política de imigração 
adotada pelo governo brasileiro e, também, a necessidade de povoamento 
dessas terras. Assim, é válido ressaltar que até os dias atuais é possível notar 
a contribuição dos imigrantes para a cultura capixaba. 
 
1.1 O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO BRASIL 
 
Durante o século XIX, a Europa encontrava-se abalada devido a uma série 
fatores tais como: a crise na produção agrícola, a superpopulação e, também, a 
Revolução Industrial, que acabou gerando o desemprego da população, visto 
que a mão de obra assalariada passou a ser substituída pelo uso das 
máquinas nas fábricas.1 
Um dos países europeus afetados com a crise do século XIX foi à Itália. O país, 
que já sofria há 20 anos com as revoltas populares em prol de sua unificação, 
encontrava-se com a economia local estremecida, o que ocasionou a alta na 
comercialização de produtos, o desemprego e a miséria por todas as cidades. 
As regiões que sofreram maior impacto com o reflexo financeiro foram as 
demograficamente carentes e pouco desenvolvidas, como o norte da Itália, em 
especial a região de Trentino, o que fez com que os camponeses fossem em 
busca de melhores condições de vida em outros locais. 
Nesse sentido, é válido ressaltar que os problemas internos que ocorriam na 
Itália somados à busca da população por melhores condições de vida, fizeram 
com que as instituições governamentais e, também, incentivos particulares de 
outros países influenciassem os italianos a optar pela imigração. Com isso, 
 
1 POSENATO, Julio. Arquitetura da imigraçãoitaliana no Espírito Santo. Porto Alegre: 
Posenato Arte & Cultura, 1997, p.15. 
12 
 
inicia-se o processo imigratório para o Brasil. Dessa forma, é possível afirmar 
que esses fatores foram as principais causas que motivaram as imigrações. 
(FIGURA 01). 
 
Figura 01: Mapa da intensidade dos fluxos de imigrantes para o Brasil 
 
Disponível 
em:<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/15719/imagens/mapaitalia> 
Acesso em: 04 de maio de 2015. 
 
 
Logo, é importante destacar que a proibição do tráfego negreiro interatlântico 
estabelecido pela Lei Eusébio de Queiroz em 4 de setembro de 1850, que 
atendia as exigências da Inglaterra que tinha como finalidade abolir a 
escravidão e dar inicio ao trabalho livre. Com isso, a comercialização de 
escravos começa a decair, diminuindo, dessa forma, a entrada destes no 
Brasil. Sendo assim, a crise na comercialização de escravos somada a 
necessidade de mão de obra para a produção cafeeira nas lavouras brasileiras, 
fizeram com que os fazendeiros incentivassem a imigração para o trabalho em 
suas lavouras. 2 
 
2 ALGOSTINO, Lazzaro. Italianos: Base de Dados da Imigração Italiana no Espírito Santo nos 
séculos XIX e XX. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2014, p.18. 
13 
 
Os imigrantes que aceitavam condições de trabalho eram financiados pelos 
fazendeiros. Os donos das terras pagavam as despesas das viagem dos novos 
trabalhadores em troca de serviços prestados em suas fazendas, dando-lhes 
moradia e oferecendo-lhes mercadorias que eram vendidas dentro das sedes 
das fazendas para que, assim, as despesas fossem descontadas através do 
trabalho. Com isso, dificilmente os imigrantes conseguiam quitar suas dívidas 
com os fazendeiros, sendo assim, obrigados a trabalhar de graça por muito 
tempo. 
Quando os imigrantes optavam em ser custeados pelo Governo Brasileiro 
atividades da Política de imigração, tinham a liberdade de escolher entre três 
modalidades para a quitação dos custos ocorridos durante a viagem: 1º - 
Passagem paga até o colono se estabelecer e colher a primeira safra; 2º - 
Doação de terra e sementes, até a primeira colheita; 3º - O colono compraria o 
lote e receberia ajuda governamental para a agricultura e, assim, pagaria a 
prazo fixo. A última modalidade foi a que mais despertou interesse nos 
imigrantes, pois nela eram obrigados a produzir mais rapidamente para 
quitação da dívida.3 Com isso, os imigrante já chegavam ao Brasil endividados. 
(FIGURA 02). 
Figura 02: Imigrantes italianos trabalhando nas lavouras de café no ES 
 
Disponível em:< http://www.familiaperim.com.br/texto_1.htm> Acesso em: 29 de maio de 2015. 
 
 
 
3 DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 
1974, p. 25. 
14 
 
Segundo relatos de Carlo Nagar4, o governo do Espírito Santo fez um contrato 
com Domenico Giffoni, em que entrariam no Estado cerca de 20.000 imigrantes 
de preferência italianos, com as seguintes promessas: 
- pagamento da passagem; 
- alojamento e manutenção na Capital do Estado, até a partida para o 
destino; 
- transporte gratuito e manutenção durante o trajeto até o ponto que 
escolhessem para sua residência; 
- tratamento médico gratuito pelo espaço de dois anos; 
- um lote colonial de 25 hectares de terrenos férteis, em qualquer dos 
núcleos do Estado, à sua escolha; 
- antecipação para cada família de cinquenta mil réis para a compra 
de ferramentas ou de utensílios, além de outros duzentos mil réis em 
parcelas de cinquenta mil réis cada quinzena, para a própria 
manutenção e edificação da casa provisória: se preferissem, 
receberiam do Estado, ao contrário, a casa provisória e um trecho 
desmatado de terra de cinquenta metros quadrados; (NAGAR, 
1982, apud POSENATO, 1997, p. 81) 
 
 
As propagandas anunciadas pelo governo não eram reais, pois os benefícios 
que eram passados aos colonos não eram cumpridos, isso, porque o principal 
interesse pela vinda dos imigrantes era a substituição da mão de obra escrava. 
Chegando ao Brasil os imigrantes se deparavam com a nova realidade e o 
descumprimento dos benefícios prometidos pelo governo.5 (FIGURA 03). 
As embarcações eram precárias, uma vez que nos navios havia muita sujeira, 
proliferação de doenças e más condições de hospedagem. Muitas pessoas que 
embarcavam não chegavam ao final de seus destinos, pois a longa viagem, 
junto, as péssimas condições oferecidas aos viajantes e as doenças 
contagiosas faziam com que diversos imigrantes viessem a óbito. (FIGURA 
04). 
 
 
 
 
4 NAGAR, 1982, apud POSENATO, 1997, p. 81. 
5 POSENATO, 1997, p.84. 
15 
 
Figura 03: Encarte de incentivo a emigração, com o seguinte dizer: 
 
 
" Na América 
Terras no Brasil para os italianos. 
Navios em partida todas as semanas 
do Porto de Gênova. 
Venham construir os seus sonhos com a família. 
Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. 
Riquezas minerais. 
No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. 
O governo dá terras e utensílios a todos." 
 
 
Disponível em: <http://www.bentogoncalves.rs.gov.br/a-cidade/historia-da-imigracao.> Acesso 
em: 04 de maio de 2015. 
 
Figura 04: Condições precárias dentro dos navios italianos 
 
Disponível em:< http://daitaliaaobrasil.blogspot.com.br/2011/04/da-italia-ao-brasil-07-
viagem.html> Acesso em: 04 de maio de 2015. 
16 
 
Os primeiros camponeses italianos que saíram da região de Trentino se 
instalaram no sul do Brasil, em especial nas regiões de Dona Isabel, Conde 
d'Eu, Caxias e Silveira Martins, proximidades de Santa Maria no centro 
geográfico do Rio Grande do Sul. 6 
As primeiras construções residências consistiam em uma separação entre os 
cômodos e a cozinha. O partido arquitetônico da cozinha era composto por 
duas divisões, uma parte situava-se a cozinha, propriamente dita, e a outra 
parte ficava o comedor. A organização interna das casas consistia em uma sala 
central rodeada por quartos, diferentemente das casas alemãs que continham 
uma volumetria quadrada, as casas dos imigrantes italianos eram mais 
retangulares, tendo em vista que havia mais aposentos, em razão do maior 
número de membros familiares. 7 (FIGURA 05). 
 
Figura 05: Divisão interna das residências italianas 
 
Fonte: Günter Weimer. Arquitetura popular brasileira, p. 176. 
 
 
6 WEIMER, Gunter. Arquitetura Popular Brasileira. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012, 
p.171. 
7 WEIMER, 2012, p.177. 
17 
 
O Brasil foi o país que mais recebeu imigrantes da região de Trentino, 
chegando à estimativa de 30 mil pessoas. Os novos habitantes se 
estabeleceram, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, e grande 
parte deles foram habitar as zonas rurais, seguindo o trabalho nas lavouras de 
café. Em contrapartida, os que optaram em se estabelecer na zona urbana 
contribuíram para o desenvolvimento do trabalho das fábricas e do comércio. 8 
É interessante destacar que atualmente no Brasil, foram criados os "Círculos 
Trentinos", que são entidades de descendentes italianos que buscam preservar 
a cultura italiana desenvolvendo diversas atividades memoráveis, a fim de 
reguardar os costumes. Com isso, as heranças culturais se fazem presentes no 
cotidiano destes descentes italianos, através das manifestações festivas 
realizadas em diversas regiões do Brasil. 
 
 
1. 2 O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO ESPÍRITO SANTO 
 
O Espírito Santo foi a província brasileira mais atrasada, embora tenha sido 
ocupado a partir do ano de 1534. Até meados do século XIX a província ainda 
não havia se desenvolvido, servindo apenas de barreira natural para 
resguardar as riquezas da região das Minas Gerais.9 A ocupação do território 
se encontrava na faixa litorânea e era composta, em sua maioria, por escravos 
negros e índios que haviam sido catequizados e desenvolviam atividades 
pesqueiras. 
O Espírito Santo foi a província que mais recebeu contingentes dos novos 
colonos,dessa forma, muitas regiões se desenvolveram herdando as tradições 
e culturas trazidas pelos imigrantes, em especial os italianos. Em 1810, ao se 
tornar independente da Província da Bahia, o Espírito Santo passa a assumir 
 
8 Disponível em: < http://www.santaolimpia.com.br/regiao-trentino-sudtirol-trentino-alto-adige/> 
Acesso em : 21/05/2015 
 
9 POSENATO, 1997, p.15. 
18 
 
seu próprio governo, iniciando, assim, o processo de abertura de novos 
caminhos para adentrar-se o território. 
O atual município de Viana, que na época era colônia de Vitória, compreendia 
uma grande extensão territorial com limites que iam até as proximidades com a 
Província de Minas Gerais. Este município foi o primeiro do Estado a receber 
imigrantes, estes, por sua vez, eram açorianos que receberam terras com 
divisões baseadas no sistema de sesmaria, que eram calculadas em meia 
légua quadrada, o que ocasionou as primeiras mudanças na paisagem local.10 
As residências dos imigrantes açorianos ficavam dispersas no lote, de maneira 
que ficassem mais próximas das vizinhanças, permitindo, assim, maior contato 
entre elas. Essa mentalidade fez com que se formassem diversos núcleos no 
território. (FIGURA 06). 
Figura 06: Sesmaria doada a uma família de imigrantes açorianos na colônia de Viana 
 
Fonte: Arquivo Nacional, Rio de Janeiro. 
A partir de 1847, trinta anos após a ocupação da colônia de Viana pelos 
açorianos, a província começou a receber novos imigrantes, dessa vez, 
alemães. As famílias alemãs que desembarcaram em Vitória se instalaram na 
colônia de Santa Isabel, atual município de Domingos Martins, e receberam 
incentivos governamentais de sustento durante seis meses e também um lote 
 
10 MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano no Espírito 
Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p. 38. 
19 
 
com dimensões de 200 braças de frente por 600 braças de fundo, medidas que 
correspondem aproximadamente 600 hectares de propriedade de terra.11 
No ano de 1857, com a fundação da colônia de Santa Leopoldina, abrigaram-
se nessa região cerca de 140 imigrantes suíços que não se adaptaram as 
condições encontradas nas fazendas de São Paulo, sendo, então, transferidos 
para o Espírito Santo. Meses após a ocupação dos suíços na colônia de Santa 
Leopoldina, chegam ao local cerca de 222 famílias alemãs, cada qual 
recebendo do governo cerca de 62.500 braças quadradas, aproximadamente 
30 hectares de terra. Sendo assim, no ano de 1860, já viviam em Santa 
Leopoldina 232 famílias de diversas nacionalidades.12 
A colônia do Rio Novo surgiu como um empreendimento particular. Durante o 
período de 1854 a 1861, recebeu do governo Estadual diversos empréstimos 
para a execução de obras. Em 1862, havia na região 378 colonos, já no ano de 
1870, a intensificação do fluxo migratório no Espírito Santo, acarreta a 
expansão dessa colônia.13 
A partir de 1874 começaram a chegar ao Espírito Santo os primeiros imigrantes 
italianos que vieram em busca de novas terras do Brasil, que foram trazidos por 
Pietro Tabacchi, a partir da iniciativa particular para a ocupação de terras 
devolutas no Estado. Essas terras, que ocupavam a região de Santa Cruz14, 
ficavam localizadas em locais distantes e de difícil acesso, não sendo, portanto, 
de interesse dos fazendeiros. (TABELA 01). 
TABELA 01: Imigrante que desembarcaram em Vitória 1892/1896 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 MUNIZ, 2009, p. 41. 
12 MUNIZ, 2009, p. 46 
13 MUNIZ, 2009, p. 52. 
14 POSENATO, 1997, p. 54. 
NACIONALIDADE 1892 1893 1894 1895 1896 TOTAL 
Italianos 481 2.401 3.140 4.528 1.054 11.604 
Portugueses 3 330 667 8 4 1.012 
Espanhóis 8 363 28 - - 399 
Alemães - 13 7 32 - 52 
Austríacos - 6 44 - - 50 
Diversos 35 7 4 2 69 117 
SOMA 527 120 1.890 4.570 1.127 13.234 
Fonte: Sonia Maria DEMONER. O imigrante italiano no Espírito Santo: Núcleo 
Demétrio Ribeiro, p. 264. 
 
20 
 
Posteriormente, com a morte de Pietro Tabacchi e o fracasso de sua 
expedição, os imigrantes foram em busca de novas terras para ocupação. 
Parte deles ocuparam as margens do rio Timbuy, onde encontraram terras 
férteis e, assim, iniciaram o processo de colonização do atual Município de 
Santa Teresa.15 
É interessante destacar que o desenvolvimento das colônias de Santa Isabel e 
Santa Leopoldina deu início à formação de núcleos religiosos que juntos 
somavam seis paróquias, com uma filial na colônia de São João de Petrópolis. 
As instituições religiosas se faziam presentes nos cultos e em atos sociais para 
o desenvolvendo projetos em prol da população. 16 
Segundo Gilda Rocha (1984), nos anos de 1847 até 1881 na primeira fase a 
imigração estrangeira ela, caracterizou-se por pequenas propriedades rurais 
que, em sua maioria, cultivavam lavouras de café. Na segunda fase, que inicia 
em 1882, com a suspensão de alguns incentivos governamentais, que visavam 
o estabelecimento de estrangeiros em grandes propriedades, diminuiu 
consideravelmente o número de imigrantes que se instalariam no Espírito 
Santo. O fim desta fase se dá com a abolição da escravidão, quando o governo 
brasileiro cria novos incentivos governamentais. Já a partir de 1888 se inicia a 
terceira fase da imigração, que com o investimento de novos incentivos 
intensifica novamente a vinda de imigrantes para as terras da Província do 
Espírito Santo. (TABELA 02). 
 
TABELA 02: Entrada de imigrantes no Espírito Santo 1847/1896 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Gilda ROCHA, op. cit. p. 90- 96-112. 
 
 
 
15 MUNIZ, 2009, p. 54. 
16 MUNIZ, 2009, p.47- 48. 
FASES PERÍODOS 
Nº DE 
IMIGRANTES 
Primeira 1847/1881 13.828 
Segunda 1882/1887 1.375 
Terceira 1888/1896 21.497 
TOTAL - 38.700 
21 
 
É válido ressaltar que, devido ao grande contingente de imigrantes que se 
instalaram no Estado Espírito Santo, ocorreu uma mescla de etnias, histórias, 
tradições e costumes culturais que se fazem presentes, principalmente, nas 
regiões de montanhas do interior do Estado, local onde se encontra mais 
fortemente a herança viva da cultura europeia, que contribuiu até os dias atuais 
para o desenvolvimento cultural do Brasil. (FIGURA 07). 
Os imigrantes italianos foram os mais numerosos e que melhor se adaptaram 
às condições luso-brasileiras, devido aos fatores religiosos e a aproximação 
com a língua. Portanto, foram eles os principais protagonistas da formação da 
nova mentalidade capixaba. Assim, é importante afirmar que a vinda dos 
colonos europeus foi de grande relevância para o Brasil. 
 
Figura 07: Manifestação cultural de descendentes italianos no Município de Santa Teresa 
- ES 
 
Disponível em:< http://www.hypeonline.com.br/index.php?page=db&secao=21&info=736> 
Acesso em: 30 de maio de 2015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
2 A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA 
Os imigrantes italianos que se estabeleceram em terras capixabas, tiveram que 
se adaptar às novas condições de vida encontradas sem que houvesse a perda 
de sua herança cultural. Assim, é possível afirmar que a vinda dos colonos 
para o Brasil, em especial para o Espírito Santo, contribuiu para a adaptação 
da cultura arquitetônica italiana em uma da paisagem genuinamente brasileira. 
 
 
2.1 DE TRENTINO AO NÚCLEO TIMBUY 
A primeira expedição de imigrantes italianos a chegar ao Estado do Espírito 
Santo, como já dito anteriormente, foi a do idealizador Pietro Tabacchi, um 
italiano originário de Trento que vivia no Espírito Santo na região de Santa 
Cruz, atual Município de Aracruz. Através do Decreto Imperial 5.295, de 31 de 
maio de 1872, o italiano Tabacchi trouxe para o Brasil cerca de setecentos 
imigrantes, com interesse de mão de obra para o trabalho na produção 
cafeeira. 17 
O foco dos agenciadores das expedições se concentrou no norte da Itália, 
região onde havia o maior número de desempregados, devido ao processo de 
recém-unificação do país(FIGURA 08). Assim, é possível afirmar que a 
esperança demelhores condições de vida, em outros continentes, fez com que 
a população optasse pela imigração.18 
Os imigrantes italianos trazidos por Pietro Tabacchi foram os primeiros que 
chegaram nas terras capixabas, mas em poucos meses se deslocaram para 
outras localidades, como a Colônia de Santa Leopoldina, Colônia de Rio Novo 
e uma minoria para o Estado do Rio Grande do Sul. Os colonos Trentinos e os 
Vênetos que permaneceram no Espírito Santo, em especial em Santa 
Leopoldina, transferiram-se, mais tarde, para outras localidades, 
proporcionando, assim, a expansão e ocupação de novas áreas colonizadas. 
 
17 DERENZI, 1974, p. 47. 
18 Disponível em: < http://www.ape.es.gov.br/noticias%5C77.html> Acesso em : 21/05/2015 
23 
 
Devido a esse fato, formaram-se na Colônia de Santa Leopoldina dois núcleos: 
um na extensão do rio Timbuy e outro às margens do rio Piraquê-Açu.19. 
 
Figura 08: Mapa da Itália com destaque para as regiões de onde proveio a maioria dos 
imigrantes italianos para o Espírito Santo. 
 
Disponível em: <POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto 
Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997. p.19.> Acesso em: 10 de junho de 2015 
 
A maior parte dos imigrantes que se estabeleceram no Espírito Santo é 
advinda da Itália, em especial da região norte de Trentino - Alto Adige, de onde 
se deslocaram 12% dos imigrantes tiroleses. Mas, é possível identificar 
imigrantes de outras regiões italianas que se instalaram no Estado, como 
Vêneto com 36%, primeiros a migrarem, Lombardia 17%, Romagna 13% e 
Piemonte 8%. 20 
As primeiras ocupações do Núcleo Timbuy ocorreram em fevereiro de 1874, 
após a chegada da embarcação "La Sofia" ao porto de Vitória, com 
aproximadamente 388 imigrantes italianos advindos da expedição Tabacchi. 
Chegando a província, as famílias eram encaminhadas para a propriedade 
 
19 MUNIZ, 2009, p. 55. 
20GASPARINI, Sandra. Santa Teresa: viagem no tempo 1873/2008. Santa Teresa, 2008, p. 29. 
24 
 
rural de Pietro Tabacchi - Colônia Novo Trento, onde viviam em precárias 
condições de trabalho e habitação. (FIGURA 09). 
Figura 09: Primeiras ocupações estabelecidas no Município de Santa Teresa - ES 
 
Disponível em:< http://www.es.gov.br/Noticias/173412/santa-teresa-e-a-primeira-cidade-
italiana-do-brasil.htm> Acesso em: 30 de maio de 2015. 
 
 
Os primeiros ocupantes do Núcleo Timbuy foram os imigrantes advindos da 
colônia Novo Trento, um empreendimento de Pietro Tabacchi que fracassou a 
menos de um ano após sua fundação. Posteriormente, o Núcleo Timbuy 
começa a despertar maiores interesses, em razão de suas terras férteis. Assim, 
em 26 de junho de 1875, após a consolidação do Núcleo, acontece o sorteio 
dos lotes de terra para os imigrantes. 
Nesse sentido, é interessante ressaltar que independente das dificuldades, os 
italianos, em um pequeno espaço de tempo, se adaptaram facilmente às novas 
terras. Os fatores climáticos, assim como, a região entre os vales e montanhas 
lhes permitiu a prática da agricultura, o que possibilitou dar continuidade as 
heranças culturais de seu país de origem. Além disso, o catolicismo, como 
religião oficial, e a linguagem latina foram fatores que, também, contribuíram 
para melhor adaptação dos italianos em terras brasileiras. 21 
A evolução do Núcleo Timbuy ocorreu dando início a Cidade de Santa Teresa, 
que recebeu este nome devido a uma lenda religiosa. Segundo a narrativa 
 
21 MUNIZ, 2009, p. 77. 
25 
 
mais aceita pela população local, no dia 15 de outubro de 1875, debaixo de 
uma árvore de Pau Peba aconteceria o momento de Angelus, assim, uma 
devota de codinome Maria Zonta colocou no local uma imagem de Santa 
Tereza de Ávila trazida da Itália para o, então, momento de fé cristã, que 
acabou reunindo vários fiéis. A partir disso, o agrupamento de casas ainda 
precárias existente na região passou a adotar o nome da santa para a 
localidade. 22 
Com a grande facilidade de adaptação, os imigrantes tornaram o Município de 
Santa Teresa semelhante às cidades do norte da Itália. Dessa forma, fizeram a 
tradicional construção religiosa em um local de destaque da cidade e as 
estreitas ruas foram abertas de forma rústica, com a utilização de enxadas e 
picaretas para que fosse possível a passagem das tropas que traziam os 
principais produtos para o abastecimento da cidade, uma vez que o núcleo se 
encontrava muito afastados dos centros comercias da província. (FIGURA 10). 
 
 
Figura 10 : Semelhança entre a rua Coronel Bonfim Junior Santa Teresa - ES (à 
esquerda), e a rua de Monteforte D'Alpone, Verona/Itália (à direita). Como a volumetria 
das edificações, o ritmo das aberturas, relação entre os cheios e vazios, o telhado de 
duas águas e o lote. 
 
Disponível em: GASPARINI, Sandra. Santa Teresa: Viagem no Tempo 1873/2008. 
Assim, atualmente ainda, é claramente notável a presença da cultura italiana 
no município de Santa Teresa, principalmente do patrimônio material e 
arquitetônico ainda remanente na cidade. Os imigrantes mantiveram viva a 
 
22 DERENZI, 1974, p. 100. 
26 
 
cultura de seu país de origem, transformando a paisagem brasileira em uma 
paisagem muito semelhante a de seu país de origem. 
 
2.2 AS PRIMEIRAS OCUPAÇÕES DO NÚCLEO TIMBUY 
 
Inicialmente os lotes de propriedades rurais possuíam um formato quadrado, 
formando um tabuleiro de xadrez, com dimensão de 550 metros laterais, pois 
não havia preocupação com a topografia local. Posteriormente, com a chegada 
dos novos imigrantes, os loteamentos sofreram alterações em suas dimensões, 
passando a ter formato retangular, com medidas de 30 metros frontais por 
1.000 metros de fundos, porém havia lotes que possuíam algumas variações 
métricas, assim, a média era de 25 a 30 hectares de terra (FIGURAS 11 E 12). 
A divisão dos lotes, muitas vezes, gerava conflitos, uma vez que a delimitação 
das terras era realizada pelos próprios imigrantes. Devido a isso, era comum a 
troca de lotes entre os colonos, para que, dessa forma, as mesmas famílias 
pudessem se instalar em propriedades vizinhas.23 
Os italianos que receberam terras pouco férteis no Núcleo Timbuy, 
abandonaram seus lotes e foram habitar em áreas devolutas no Vale do rio 
Santa Maria, do Rio Doce e do Rio Santa Joana. Tempos depois, os colonos 
iniciaram o povoamento do Vale do Canaã e outros pequenos vales, como o de 
Espanhóis, Valsugana e São Sebastião do Rio Perdido.24 Os lotes ofertados 
eram em locais afastados dos centros das colônias e também de difícil acesso, 
o que dificultava a comercialização dos produtos nas sedes coloniais. 
Ao tomarem posse dos lotes de terra, os imigrantes deveriam limpar toda a 
área de Mata Atlântica que estava nas dimensões do terreno, para isso, as 
famílias eram obrigadas a abrigar-se em locais improvisados, como grutas, 
cabanas e palhoças, até que a área ficasse em condições favoráveis. Depois 
disso, os colonos tinham que aguardar por um período de seis meses para que 
 
23 MUNIZ, 2009. p, 81. 
24 MUNIZ, 2009. p, 55. 
27 
 
fosse iniciada a plantação de 1.000 braças quadradas (4.840 m²) e construir 
uma habitação de 400 braças quadradas . 25 (FIGURA 13). 
 
 
Figura 11: Esboço Topográfico do Território Timbuy na Colônia Santa Leopoldina- 
Província do Espírito Santo 1876 
 
Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Planta Nº A0990. 
 
 
Figura 12: Planta do Núcleo Timbuy 
 
 
 
Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Planta Nº A0307 
 
 
25 MUNIZ, 2009. p, 84. 
28 
 
Figura 13: Início da Construção da Casa Lambert em meio a floresta 
 
Disponível em: <POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto 
Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.61.> Acesso em: 20 de Maio de 2015. 
 
Embora os lotes vendidos para os imigrantes parecessem grandes em 
comparação aos disponíveis no Norte da Itália, o desenvolvimento econômico 
familiar dos colonos era afetado,devido à precariedade do transporte da 
comercialização da produção.26 Em contrapartida, apesar dos obstáculos 
enfrentados, muitas famílias italianas prosperaram em terras capixabas, 
chegando a realizar seus objetivos de vida. Sendo assim, apesar de algumas 
terem fracassado no meio rural, esses imigrantes ainda contribuíram para 
importantes transformações sociais ocorridas no Brasil. (FIGURA 14 e 15). 
É possível notar, ainda, a presença do período migratório no Brasil, 
principalmente, nas cidades colonizadas, através dos exemplares edificados, 
das propriedades de terras e dos comércios. Assim, a imigração contribui para 
que estas cidades de colonização se tornassem grandes atrativos turísticos, 
devido ao seu patrimônio histórico ainda remanescente. 
 
26 MUNIZ, 2009, p. 86. 
29 
 
Figura 14: Venda do Café na Rua do Comércio em Santa Teresa - ES 
 
Disponível em: <GASPARINI, Sandra. Santa Teresa: Viagem no Tempo 1873/2008. Santa 
Teresa, 2008, p.78 > Acesso em: 24 20 de Maio de 2015. 
 
 
Figura 15: Inicio da ocupação em Santa Teresa - ES 
 
Disponível em: Museu de Biologia Mello Leitão - Santa Teresa, ES 
 
 
 
 
30 
 
3 NOVA FORMA DE MORAR DO IMIGRANTE ITALIANO 
 
A arquitetura de imigração é fruto dos conhecimentos adquiridos pela tradição 
e sabedoria de gerações familiares somados a disponibilidade de materiais 
encontrados em cada região do Brasil. Resultando, dessa forma, em processos 
de edificações com características de seus países de origem. Por isso, é 
possível afirmar que as edificações se tornam singulares e de grande valor 
histórico. 
 
3.1 ARQUITETURA RURAL 
 
A arquitetura rural, da colonização italiana, reflete a luta do homem com a 
natureza na região de montanhas de Santa Teresa. Os italianos, por sua vez, 
contribuíram para as alterações no modo de vida e no trabalho da cultura 
brasileira. 
A arquitetura produzida pelos italianos, no Brasil, é resultado do processo 
construtivo, juntamente, com a combinação de formas e do aprimoramento das 
técnicas construtivas encontradas nas construções rurais de Vêneto e Trentino, 
remetidas ao novo espaço.27 (FIGURA 16). 
O processo construtivo adotado pelos colonos foi de trabalho coletivo. A 
construção das casas era feita de acordo com a disponibilidade do tempo 
familiar, geralmente, aos fins de semana, sempre com a ajuda da vizinhança. 
Os donos das residências eram responsáveis pela alimentação dos integrantes 
do mutirão, mas a preparação cabia, especificamente, às mulheres. Assim, a 
prosperidade familiar era resultado do desempenho prestado pelo trabalho em 
conjunto.28 
 
 
 
 
 
27 MUNIZ, 2009, p.132. 
28 MUNIZ, 2009, p.133. 
31 
 
 
Figura 16: Detalhe da estrutura das casas rurais. Alicerce em madeira e trama do 
esqueleto 
 
 
 
Disponível em:< MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano 
no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p.162.> Acesso em: 19 de junho de 2015 
 
 
Após as instalações provisórias, as primeiras construções das casas continham 
apenas um pavimento diretamente instalado no solo e as cozinhas eram 
afastadas, devido ao risco de possíveis incêndios. Durante o período do 
apogeu da imigração, as casas passaram a ser construídas afastadas dos solo 
e apoiado em alicerces de pedras ou estruturas em madeira, neste momento, a 
cozinha passou a adentrar a residência (FIGURA 17). Já no período tardio as 
casas passaram a ter somente um pavimento, com maior elevação do solo, a 
varanda veio compor a arquitetura das fachadas e a cozinha ficava ligada a 
residência por um corredor coberto.29 (FIGURA 18). 
 
 
 
 
 
 
29 POSENATO, 1997. p.177. 
32 
 
Figura 17: Casas rurais durante o primeiro período (a frente) e durante o período de 
apogeu (aos fundos) 
 
 
Disponível em:< MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano 
no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p.137.> Acesso em: 19 de junho de 2015 
 
Figura 18: Casa rural pertencente ao período tardio 
 
 
Disponível em:< MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano 
no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p.145.> Acesso em: 19 de junho de 2015 
 
 
33 
 
As casas rurais foram sendo adaptadas de acordo com as necessidades 
familiares. As dependências internas eram, basicamente, compostas por 
quartos ao redor de uma sala central (FIGURA 19). Na parte frontal era comum 
a presença de uma varanda estreita e comprida, com a parte de serviço situada 
aos fundos das construções. Os italianos, por sua vez, aprimoraram as 
técnicas construtivas, como o desenvolvimento do encaixe estrutural nomeado 
de "calda de andorinha" (FIGURA 20), que juntas as peças de madeira. A 
maioria das casas dos imigrantes era decorada com objetos trazidos da Itália.30 
 
Figura 19: Planta baixa, com as divisões internas de um típica residência rural
 
Disponível em: < POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto 
Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.188. > Acesso em: 19 de Junho de 2015. 
 
 
A casa rural do imigrante italiano do Espírito Santo difere do programa de 
necessidades de seu país de origem, uma vez que no Brasil a habitação seguia 
um caráter uni familiar, em que se reuniam trabalho e moradia sobre o mesmo 
teto. 
 
 
30 POSENATO, 1997. p.180. 
34 
 
Figura 20: Encaixe de madeira "Calda de andorinha". 
 
Disponível em: < http://www.guiadomarceneiro.com/forum/um-rabo-de-andorinha-em-3-
minutos-t5683-40.html> Acesso em: 10 de setembro de 2015 
 
Portanto, é válido ressaltar que a forma, as técnicas e os detalhes 
arquitetônicos do imigrante italiano, facilmente, se adaptaram ao meio rural da 
região serrana do Estado do Espírito Santo. A simplicidade na composição 
arquitetônica deu a essas edificações qualidades plásticas singulares.31 
 
 
 
3.2 ARQUITETURA URBANA 
 
Entre os vales e montanhas da região serrana de Santa Teresa, ES, local para 
onde foi grande parte dos imigrantes italianos que chegaram ao Espírito Santo, 
encontra-se a cidade marcada por uma arquitetura que testemunha o passado 
histórico da adaptação deste povo a um novo país.32 As edificações, em sua 
maioria, partiam da necessidade de um programa funcional, buscando 
 
31 MUNIZ, 2009, p.160. 
 
32 MUNIZ, 2009, p.65. 
35 
 
satisfazer, ao mesmo tempo, as necessidades familiares e do ofício.33 (FIGURA 
21) 
A organização dos espaços variava de acordo com as funções adotadas. É 
evidente a presença de exemplares construídos com dois pavimentos em 
função da necessidade do atendimento as duas funções: comércio no térreo e 
residência no segundo pavimento na região central da cidade, onde havia a 
concentração do comércio. 
 
Figura 21: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa 
Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo pessoal 
O partido arquitetônico dos sobrados urbanos seguem as tradições italianas 
herdadas de suas construções do país de origem, em que a parte superior fica 
localizada a residência, que contém a seguinte distribuição: a sala é situada na 
parte frontal da edificação, rodeada pelos dormitórios, já os banheiros e a 
 
33 MUNIZ, 2009, p.104. 
36 
 
cozinha situam-se aos fundos. Na parte térrea localiza-se o ponto comercial ou 
o depósito de mercadorias. (FIGURA 22, 23 E 24). 
 
Figura 22: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa 
Teresa, ES 
 
 
Fonte: Arquivo Pessoal 
 
 
Figura 23: Planta baixa do pavimento térreo 
 
Disponível em: < POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto 
Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.148 e 149.> Acesso em: 17 de junho de 2015. 
37 
 
Figura 24: Planta baixa do segundo pavimento 
 
 
 
Disponível em: < POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto 
Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.148 e 149.> Acesso em:17 de junho de 2015. 
 
Logo após as primeiras instalações no territórios, a arquitetura de imigração 
veio sofrendo alterações e se desenvolvendo, assim, de acordo com 
Posenato34: 
(...) as edificações destas cidades e patrimônios passaram a ser 
construídas em um ou dois pavimentos, sendo muito frequente mais 
um piso na forma de aproveitamento do sótão, tanto evidenciado na 
fachada como dissimulado. Sobretudo quando o prédio destinar-se ao 
comércio, naturalmente as dependências térreas voltadas para a via 
pública serão reservadas à função comercial, cabendo as posteriores 
e o pavimento superior (e sótão) à moradia da família do proprietário 
do negócio ou prestador de serviço. Para a finalidade unicamente 
residencial, predominará a opção por pavimento único, ou térreo e 
sótão. 
 
34 POSENATO, 1997, p.146. 
38 
 
As técnicas construtivas eram variáveis, pois dependiam da disponibilidade de 
materiais locais, assim, como no município de Santa Teresa havia muita madeira e 
barro, predominou-se o uso desses recursos. O sistema construtivo utilizado era o 
de taipa de mão, que consiste em uma armação de madeira com preenchimento 
manual de barro nas frestas, podendo ser executado na parte interna e externa da 
construção.35 (FIGURA 25). 
As construções consistiam em bases com alicerces de pedra que servia para 
proteção do esqueleto, a madeira servia para as funções estruturais, de piso e de 
esquadrias. Na parte interna das construções o piso, inicialmente, era de terra 
batida, mas com o aprimoramento das técnicas construtivas passou-se a utilizar 
tábuas corridas. Além disso, as divisões internas, também, consistiam na utilização 
de divisórias dos cômodos em madeira. Nesse sentido, é válido afirmar que as 
construções só eram possíveis, pois os italianos trouxeram consigo habilidades e 
sabedorias para trabalhar com técnicas construtivas tradicionais. (FIGURA 26 E 27). 
 
Figura 25: Técnica construtiva tradicional - Taipa de mão 
 
Disponível em:< http://artenasetima.zip.net/arch2011-06-19_2011-06-25.html.> Acesso em: 01 de 
setembro de 2015 
 
 
35 WEIMER, 2012, p. 262. 
39 
 
Figura 26: Estrutura das construções tradicionais de taipa de mão 
 
 
Disponível em: < https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/pau-a-pique-estrut.jpg> 
Acesso em: 17 de junho de 2015 
 
 
Figura 27: Casa Lambert , Santa Teresa - ES 
 
 
Disponível em: < http://www.es.gov.br/Noticias/141931/detalhes.htm> Acesso em: 01 de setembro de 
2015 
 
As edificações buscavam em suas fachadas a simetria e a harmonia em relação ao 
meio, com variações entre cheios e vazios e com aberturas de esquadrias de 
madeira que variavam entre 70 e 90 cm.36 (FIGURA 28). 
 
36 MUNIZ, 2009, p.157. 
 
40 
 
Figura 28: Simetria e harmonia na fachada de uma edificação térrea - Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo pessoal 
 
Com o passar do tempo, a arquitetura de imigração italiana foi sofrendo inúmeras 
alterações. As casas térreas transformaram-se em sobrados, com sacadas dando 
para a rua em estrutura de madeira, além disso, as ornamentações nas fachadas 
tornaram-se cada vez mais comuns nas edificações, fazendo parte, assim, da nova 
composição arquitetônica. 
Segundo Ruschi37: 
As fotografias com vistas das ruas de Santa Teresa que Eurico Ildebrando 
Aurélio Ruschi publicou em 1939 mostram fachadas conforme à arquitetura 
urbana do Brasil daquela época; eclética, chalés e até expressionistas, com 
platibanda, ornamentação aplicada aos muros, sotão geralmente 
dissimulado. A organização do espaço interno e a volumetria seguem a 
tradição da Itália do norte. 
 
 
Os núcleos coloniais do Espírito Santo que tiveram desenvolvimento vigoroso, 
devido às rotas comerciais, ostentam ainda, nos dias atuais, as mesmas edificações 
do momento de seu apogeu econômico.38 
 
37 RUSCHI, 1939, apud, POSENATO, 1997, p.143. 
38 POSENATO, 1997, p.144. 
41 
 
Para os colonos italianos era fundamental criar uma relação direta das construções 
realizadas no Brasil com as de seu país de origem. Entretanto, é possível notar as 
variações de formas e soluções construtivas adotadas pelos imigrantes, em razão 
das condições físicas de cada localidade. Sendo assim, devido às variações de 
tipologias arquitetônicas, a imigração italiana trouxe importantes soluções 
construtivas para agregar aos valores culturais brasileiros. 
Nesse sentido, é importante ressaltar que as técnicas construtivas herdadas pelos 
imigrantes italianos trouxeram, à Santa Teresa, alternativas para a composição 
arquitetônica urbana, que modificaram a paisagem local, devido à semelhança com 
as cidades interioranas do norte da Itália. (FIGURA 29). 
 
Figura 29: Rua Coronel Bonfim Junior - Santa Teresa, ES 
 
Disponível em:< http://revistaviag.com.br/wp-content/uploads/2015/02/santa_italia.jpg> Acesso em: 
24 de setembro de 2015. 
 
 
 
42 
 
4 ARQUITETURA URBANA EM SANTA TERESA 
 
 
No município de Santa Teresa, as edificações urbanas, em especial os sobrados 
construídos durante o período de colonização, tornaram-se importantes marcos da 
arquitetura da imigração italiana local. Essas características são fortemente notadas 
nas composições arquitetônicas das fachadas, sendo possível notar a semelhança 
com suas edificações urbanas encontradas na Itália durante o século XX. 
As diversas tipologias arquitetônicas com grande variedade de formas e soluções 
construtivas estão diretamente ligadas aos contextos histórico e físico local. 
Atualmente, em Santa Teresa, os exemplares edificados tornaram-se importantes 
atrativos turísticos. 
 
4.1 TIPOLOGIAS ARQUITETÔNICAS DAS EDIFICAÇÕES URBANAS NOS XIX E 
XX 
 
Devido à topografia acidentada, a ocupação em Santa Tereza ocorreu na extensão 
dos vales em lotes menores. Por isso, as construções, em sua maioria, são com 
gabarito de dois pavimentos geminados, construídos no alinhamento das vias e 
implantados nas testadas dos lotes. Estes fatores são responsáveis pela 
configuração da cidade, que apresenta ruas estreitas, mas, que ao longo do tempo, 
foram sendo adaptadas às condições físicas local. 
Com a ocupação dos lotes, a partir das testadas, não houve variações no volume e 
gabaritos dos edifícios comparados às construções do período colonial brasileiro, 
sendo estes diferenciados nas composições arquitetônicas. 
Diante da necessidade de adaptação ao meio, houve a variedade no 
desenvolvimento das técnicas de composição da edificação. Esse fato se torna 
visível na construção das paredes, que poderiam ser de barro, com divisões em 
trama de madeira ou tijolo queimado. Outra característica marcante da arquitetura 
de imigração italiana é o uso de esquadrias de madeira na composição arquitetônica 
das fachadas. (Figura 30). 
43 
 
Figura 30: Detalhe da fachada com esquadrias em madeira - Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo Pessoal 
 
Em edificações com fachadas mais ornamentadas, as esquadrias passam a ser mais 
requintadas sendo possível encontrar bandeiras envidraçadas ou vazadas que se 
localizavam acima da porta principal. No Espírito Santo, tornou-se comum o uso de 
bandeiras vazadas, onde o vão poderia ser fechado com grades de ferro e 
ornamentos que impediria a passagem de pessoas. (Figura 31). 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
Fonte: Arquivo Pessoal 
 
Outras características marcantes nos sobrados urbanos eram a presença de 
sacadas no pavimento superior, que ficam localizados, em sua maioria, acima da 
porta principal de acesso (Figura 32) e a construção de guarda-corpos, espécies de 
sacadas dentro da própria volumetria da edificação, que ocupam o lugar do peitoril 
da janela. (Figura 33). 
 
 
 
 
 
Figura 31: Detalhe das bandeiras das portas principais com caixilhos 
envidraçados a esquerda e com gradil a direita - Santa Teresa, ES 
 
45 
 
Figura 32: Detalhe das sacadas acima da porta principal - Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo PessoalFigura 33: Detalhe dos guarda-corpos acima da edificação - Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo Pessoal 
 
 
46 
 
Inicialmente, foi comum o uso de tabuinhas para cobrir os sobrados, entretanto, com 
o transcorrer dos anos, essas tábuas foram substituídas por telhas de zinco e, por 
último, pelas telhas de cerâmica tipo canal ou francesa.39 As casas urbanas 
continham telhados de duas águas, diferentemente das casas rurais que possuíam 
telhados de até quadro águas. (Figura 34). 
 
Figura 34: Detalhe do telhado aparente com caimento de duas águas - Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo Pessoal 
 
Nas edificações que continham o uso misto, a simetria estava na localização das 
portas, que ficam rebatidas em relação ao centro da construção.40 Com isso, o ritmo 
das aberturas traziam mais regularidade à edificação. A volumetria do edifício era 
feita através de sacadas, balcões e alpendres, fazendo-se assim, uma diferenciação 
do volume tradicional das fachadas sem que houvesse a perda do seu formato 
característico. (Figura 35). 
 
 
 
39POSENATO, 1997, p.477 
40Idem, p.502. 
47 
 
Figura 35: Rebatimento dos vãos em relação ao centro da edificação- Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Ligia Chiesa 
 
Os sobrados urbanos, no decorrer do tempo, passaram a adquirir características 
singulares em sua composição arquitetônica. O uso da simetria era o elemento mais 
evidente dessa composição, além de ser o responsável por mostrar a influência 
renascentista das cidades de origem dos imigrantes italianos. 
Um ponto importante a ser destacado, é que a maioria dos sobrados era construído 
de acordo com as tradições da urbanística portuguesa, onde as vilas e cidades 
apresentavam caráter uniforme, com as edificações construídas sobre o alinhamento 
das vias e com ausência de afastamento lateral.41 (Figura 36) 
A arquitetura de imigração foi evoluindo conforme o passar do tempo, deixando as 
características de habitação rural e passando a se integrar ao meio urbano, dando 
início à cidade de Santa Tereza. Devido à variação das técnicas construtivas 
adotada pelos imigrantes, as edificações foram sofrendo alterações para adaptar-se 
ao novo meio. Embora a maioria mantivesse seus padrões de origem, sofrendo 
apenas pequenas alterações, outras foram muito remodeladas. Dentre as demais 
 
41FILHO, Nestor Goulart Reis. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2006. p. 21 
48 
 
construções, os sobrados foram os que mais se destacaram na composição 
arquitetônica do município, tornando-se edificações de grande valor. 
 
Figura 36: Alinhamento das edificações e a construção na testada do lote. Santa Teresa, ES 
 
Disponível em: < http://www.sitiocanaa.com.br/santateresa.htm> Acesso em: 17 de junho de 2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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56 
 
CONCLUSÃO 
 
A herança cultural do período de imigração italiana é fortemente presente no 
município de Santa Teresa e está visivelmente notada no acervo arquitetônico local 
que preserva, ainda, parte de suas construções do século XIX e XX. 
Diante da diversidade comercial, os imigrantes italianos se destacaram na produção 
cafeeira e foram os responsáveis pelo período de prosperidade econômica em Santa 
Teresa, o que levou ao desenvolvimento da cidade e à contribuição do crescimento 
econômico no estado do Espírito Santo. 
A arquitetura de imigração está diretamente relacionada aos aspectos culturais dos 
imigrantes, diante disto, a casa do colono italiano contém as marcas da dualidade 
entre adequar-se ao novo meio físico e a conservação de suas heranças culturais de 
origem.42 
Com isso, através deste estudo, é possível perceber que, desde o inicio da 
colonização, Santa Teresa veio sofrendo alterações com o passar dos anos e se 
adaptando aos novos tempos. Como resultado disso, a arquitetura dos sobrados 
sofreu diversas interferências sem que houvesse a perda de sua identidade original. 
As principais mudanças ocorridas nas fachadas dos sobrados urbanos foram: novas 
aberturas de vãos, alterações das esquadrias, construção de platibandas na maioria 
das edificações, incremento de ornamentos na fachada, dentre outros. A partir dos 
estudos realizados nas fachadas, é possível notar que as construções têm 
características em comum em sua composição arquitetônica, como o alinhamento na 
abertura dos vãos, o uso de esquadrias em estrutura de madeira, a presença de 
sacadas e balcões, o rebatimento central da construção e a volumetria da 
edificação. 
Com a elaboração da tabela pode-se notar que todos os sobrados sofreram algumas 
intervenções com o passar do tempo, mas em sua maioria mantiveram-se as 
características da arquitetura de imigração italiana. Avaliando os imóveis de 
 
42MUNIZ, 2009, p.213 
57 
 
interesse de preservação é comum encontrar elementos arquitetônicos que se 
fazem presente entre eles. 
Outro ponto a ser observado no decorrer do estudo é que em algumas construções 
os pavimentos superiores foram construídos em épocas distintas, sendo este fato 
evidenciado nos imóveis 37 e 44 da tabela. A hipótese é aceita devido a 
diferenciação do modelo das esquadrias, sendo essas mais ornamentadas do que 
as dos pavimento térreo. 
O casarão amarelo é um sobrado cuja ausência da simetria entre as aberturas dos 
vãos em relação aos pavimentos indica possíveis alterações. Esta hipótese é 
evidenciada pela falta de alinhamento entre os vãos. Outra evidência é um possível 
remembramento de imóveis devido a variação de altura na marcação do chapisco na 
fachada. (Figura 37). 
 
Figura 37: Ausência de alinhamento entre a abertura dos vãos. Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo Pessoal 
 
O sobrado pertencente à família Croce e sofreu grandes intervenções com o tempo, 
alterando a simetria na composição da fachada, sendo essas evidenciadas no 
deslocamento da sacada para a lateral, perdendo assim seu lugar na parte superior 
58 
 
da porta principal, as janelas já não seguem mais o alinhamento das portas. Isso fez 
com que houvesse uma perda da identidade da arquitetura italiana. (Figura 38). 
 
Figura 38: Intervenções na fachada. Santa Teresa, ES 
 
Fonte: Arquivo Pessoal 
 
As construções dos sobrados seguiam a necessidade familiar, por isso, eles não 
possuem um estilo único. Entretanto, a partir dos estudos das composições das 
fachadas, nota-se a influência da arquitetura renascentista nos sobrados, como a 
busca pela simetria, o ritmo e o alinhamento na composição arquitetônica das 
fachadas 
Embora os sobrados sejam pouco preservados, a arquitetura de imigração ainda é a 
grande responsável pela movimentação da economia local através do turismo. 
Portanto, a preservação desse patrimônio é essencial para agregar-se aos valores 
patrimoniais do Espírito Santo. 
59 
 
Em suma, pode-se afirmar que os imigrantes italianos são os principais responsáveis 
pelo desenvolvimento e consolidação da cidade de Santa Teresa, juntamente com o 
legado arquitetônico edificado deixado por esses povos que contribuíram 
historicamente para a cultura do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
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