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1 FACULDADE BRASILEIRA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ALINE OLIVEIRA AZEVEDO ARQUITETURA DE IMIGRAÇÃO ITALIANA EM SANTA TERESA - ES Anteprojeto de pesquisa apresentado na disciplina Trabalho Final de Graduação I, da Faculdade Brasileira – Multivix Vitória, ministrada pelo Prof. Genildo Coelho Hautequestt Filho, como requisito parcial para avaliação do 1º bimestre. Vitória 2015 2 3 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Mapa da intensidade dos fluxos de imigrantes para o Brasil................................................................................................................ ..12 Figura 02: Imigrantes italianos trabalhando nas lavouras de café no ES..........13 Figura 03: Encarte de incentivo a emigração....................................................15 Figura 04: Condições precárias dentro dos navios italianos ............................15 Figura 05: Divisão interna das residências........................................................16 Figura 06: Sesmaria doada a uma família de imigrantes açorianos na colônia de Viana ............................................................................................................18 Figura 07: Manifestação cultural de descendentes italianos no município de Santa Teresa.....................................................................................................21 Figura 08: Mapa da Itália com destaque para as regiões de onde proveio a maioria dos imigrantes italianos para o Espírito Santo......................................23 Figura 09: Primeiras ocupações estabelecidas no Município de Santa Teresa - ES......................................................................................................................24 Figura 10: Semelhança entre a rua Coronel Bonfim Junior Santa Teresa - ES (à esquerda), e a rua de Monteforte D'Alpone, Verona/Itália (à direita)................................................................................................................25 Figura 11: Esboço Topográfico do Território Timbuy na Colônia Santa Leopoldina - Província do Espírito Santo 1876..................................................27 Figura 12: Planta do Núcleo Timbuy..................................................................28 Figura 13: Inicio da Construção da Casa Lambert em meio a floresta em Santa Teresa................................................................................................................28 Figura 14: Venda do Café em Santa Teresa - ES na Rua do Comércio............................................................................................................29 Figura 15: Inicio da ocupação em Santa Teresa - ES.......................................29 Figura 16: Detalhe da estrutura das casas rurais. Alicerce em madeira e a trama do esqueleto............................................................................................31 4 Figura 17: Casas rurais durante o primeiro período (a frente) e durante o período de apogeu (aos fundos)........................................................................32 Figura 18: Casa rural pertencente ao período tardio.........................................32 Figura 19: Encaixe em madeira " Calda de andorinha......................................33 Figura 20: Planta baixa de uma construção residencial rural............................33 Figura 21: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa Teresa,ES..........................................................................................................35 Figura 22: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa Teresa, ES.........................................................................................................36 Figura 23: Planta baixa pavimento térreo..........................................................36 Figura 24: Planta baixa do segundo pavimento.................................................37 Figura 25: Técnica construtiva tradicional - Taipa de mão................................38 Figura 26: Estrutura das construções tradicionais de taipa de mão..................39 Figura 27: Casa Lambert, Santa Teresa - ES....................................................49 Figura 28: Simetria e harmonia na fachada de uma edificação térrea - Santa Teresa, ES.........................................................................................................40 Figura 29: Rua Coronel Bonfim Junior - Santa Teresa, ES...............................41 Figura 30: Detalhe da fachada com esquadrias em madeira - Santa Teresa, ES........................................................................................ ..............................43 Figura 31: Detalhe das bandeiras das portas principais....................................44 Figura 32: Detalhe das sacadas acima da porta principal - Santa Teresa, ES................................................................................................................ ..... 45 Figura 33: Detalhe dos guarda-corpos acima da edificação - Santa Teresa, ES......................................................................................................................45 Figura 34: : Detalhe do telhado aparente com caimento de duas águas - Santa Teresa, ES.........................................................................................................46 Figura 35: Rebatimento dos vãos em relação ao centro da edificação- Santa Teresa, ES......................................................................................................................47 5 Figura 36: Alinhamento das edificações e a construção na testada do lote Santa Teresa, ES...............................................................................................48 Figura 37:Ausência de alinhamento entre as aberturas dos vãos.....................50 Figura 38:Intervenção na fachada, Santa Teresa, ES.......................................51 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Imigrantes que desembarcaram em Vitória 1892/1896....................18 Tabela 2 - Entrada de imigrantes no Espírito Santo 1987/1986........................19 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8 1 OS CAMINHOS DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL .......................................... 11 1.1 O PROESSO IMIGRATÓRIO NO BRASIL ................................................ 11 1. 2 O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO ESPÍRITO SANTO .......................... 17 2 A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA .............. 22 2.1 DE TRENTINO AO NÚCLEO TIMBUY ...................................................... 22 2.2 AS PRIMEIRAS OCUPAÇÕES DO NÚCLEOTIMBUY ............................. 27 3 A NOVA FORMA DE MORAR DO IMIGRANTE ITALIANO ....................... 30 3.1 ARQUITETURA RURAL ........................................................................... 30 3.2 ARQUITETURA URBANA ........................................................................ 34 4. ARQUITETURA URBANA EM SANTA TERESA........................................42 4.1 TIPOLOGIAS ARQUITETÔNICAS DAS EDIFICAÇÕES URBANAS NOS XIX E XX............................................................................................................42 MAPA BASE DP MUNICÍPIO DE SANTA TERESA..........................................49 TABELA DAS TIPOLOGIAS ARQUITETONICAS DOS SOBRADOS URBANOS DE SANTA TERESA..........................................................................................50CONCLUSÃO....................................................................................................56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 60 8 INTRODUÇÃO O período de imigração europeia no Brasil durante o século XIX colaborou de forma significativa para a adaptação da paisagem genuinamente brasileira, com influência lusitana herdada durante o período da colonização do país. Entre os povos que vieram do continente europeu para habitar ao Brasil estão os italianos. A imigração italiana contribuiu para a formação cultural da sociedade brasileira, tendo em vista que são encontradas manifestações culturais desse povo em várias regiões do país, em especial no Estado do Espírito Santo, região que recebeu maior contingente de imigrantes durante os séculos XIX e XX. A forma de construir desses imigrantes se reflete de diversas maneiras, sendo essas adaptadas às disponibilidades construtivas de cada região, tornando, assim, as obras singulares e de grande valor histórico. Nesse sentido, é possível afirmar que a vinda dos italianos foi de suma importância para a formação da nova mentalidade que se desenvolveu no Brasil. Dentre os municípios que receberam imigrantes italianos, no Estado do Espírito Santo, destaca-se Santa Teresa, local para onde emigrou o maior contingente de italianos no Estado. Este município está situado, geograficamente, na região norte-serrana, tem o relevo entre vales e montanhas, que assemelharam-se ao relevo do país de origem dos imigrantes a região de Trentino - Alto Adige, Itália. Em Santa Teresa, encontram-se inúmeros exemplares edificados dos séculos XIX e XX, razão pela qual a cidade tenha se tornado uma região turística, tendo em vista o seu patrimônio cultural ainda preservado. Atualmente no município de Santa Teresa, é possível notar a presença viva da cultura italiana herdada pelos colonos que se estabeleceram na região. Sendo assim, podemos observar essa influência manifestada de diversas maneiras, como, nos costumes e tradições populares, gastronomia, produção vinícola e, principalmente, nos exemplares edificados que compõem o acervo arquitetônico local. 9 Assim, buscando subsídios para a preservação do patrimônio histórico edificado dessa cidade, este estudo se propõe a realizar uma análise das edificações urbanas, buscando melhor compreender as tipologias arquitetônicas locais, bem como verificar a implantação dos edifícios inseridos no lote e, também, o desenvolvimento das fachadas das construções no decorrer dos séculos XIX e XX, levando em consideração para isso, a forte influência italiana sobre a arquitetura capixaba. É válido ressaltar que nos dias atuais, poucas edificações encontram-se inalteradas, a maioria foi adaptada, remodelada ou demolida. Os fatores que podem ser apontados como responsáveis para que isso ocorresse são: a falta de informação e conscientização da população e dos órgãos competentes, que abrangem a esfera Municipal, Estadual e Federal. Além disso, a resistência ao processo de tombamento, por parte da população local que dificulta a preservação de tais patrimônios históricos. Portanto, é possível notar que a imigração italiana que se fez presente no Estado do Espírito Santo teve uma grande contribuição para o desenvolvimento demográfico, para a expansão da economia cafeeira e para o crescimento comercial do Estado. Para a constituição da bibliografia desse estudo, foram selecionados as bibliografias que retratam o processo imigratório que ocorreu no Brasil, especificamente, no Estado do Espírito Santo. Além desses, também, foram elencados materiais que demonstram a arquitetura adotada pelos colonos, em especial os de origem italiana, no Estado do Espírito Santo. Dessa forma, dentre as obras pesquisadas, destacam-se a de Julio Posenato; Maria Isabel Perini Muniz; Günter Weimer; Serafim Derenzi, entre outras. Este trabalho está dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo retrata os principais aspectos que levaram grande parte da população europeia a migrar para outros continentes em busca de melhores condições de vida. Para tanto, serão apresentados o contexto histórico da época, as situações socioeconômicas do Brasil e da Europa, a nova forma de morar, as regiões que 10 mais receberam colonos e, também, a Política de Imigração adotada pelo Brasil a partir do século XIX. Já o segundo capítulo, trata do início da imigração italiana no Estado do Espírito Santo, especificamente, no Município de Santa Teresa. Assim, serão apresentados os motivos que levaram os italianos a se instalarem entre os vales e montanhas da região serrana do Estado do Espírito Santo, a política de ocupação do território, o desenvolvimento do Núcleo Timbuy e a forma de morar dessa nova sociedade que começa a ser formada no Brasil. O terceiro capítulo aborda os aspectos relacionados à arquitetura de imigração italiana no Espírito Santo, bem como o partido arquitetônico das residências rurais e urbanas e, também, as peculiaridades dos sobrados urbanos. Dessa forma, será apresentada a nova mentalidade construtiva que será integrada a cultura brasileira. No quarto e último capítulo, serão realizadas as análises dos sobrados que fazem parte do conjunto arquitetônico edificado urbano, levando em consideração para isso, as tipologias arquitetônicas das fachadas e a implantação da edificação no lote no decorrer dos séculos XIX e XX, no Município de Santa Teresa. Assim sendo, buscando compreender melhor a imigração italiana, a pesquisa desenvolvida sintetiza a arquitetura urbana herdada pelos imigrantes advindos da região norte da Itália, em especial de Trentino, para o município de Santa Teresa, Espírito Santo. Percebe-se, portanto, ao longo do estudo, que os imigrantes adaptaram no Brasil uma arquitetura que remete a suas terras de origem. 11 1 OS CAMINHOS DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL A imigração que ocorreu entre os séculos XIX e XX contribuiu para o desenvolvimento cultural do Brasil, sendo essa a grande responsável por promover a cultura cafeeira e o crescimento comercial do país. A província do Espírito Santo, apesar de não ter se desenvolvido tanto como as outras, foi a que mais recebeu contingentes de imigrantes, devido à política de imigração adotada pelo governo brasileiro e, também, a necessidade de povoamento dessas terras. Assim, é válido ressaltar que até os dias atuais é possível notar a contribuição dos imigrantes para a cultura capixaba. 1.1 O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO BRASIL Durante o século XIX, a Europa encontrava-se abalada devido a uma série fatores tais como: a crise na produção agrícola, a superpopulação e, também, a Revolução Industrial, que acabou gerando o desemprego da população, visto que a mão de obra assalariada passou a ser substituída pelo uso das máquinas nas fábricas.1 Um dos países europeus afetados com a crise do século XIX foi à Itália. O país, que já sofria há 20 anos com as revoltas populares em prol de sua unificação, encontrava-se com a economia local estremecida, o que ocasionou a alta na comercialização de produtos, o desemprego e a miséria por todas as cidades. As regiões que sofreram maior impacto com o reflexo financeiro foram as demograficamente carentes e pouco desenvolvidas, como o norte da Itália, em especial a região de Trentino, o que fez com que os camponeses fossem em busca de melhores condições de vida em outros locais. Nesse sentido, é válido ressaltar que os problemas internos que ocorriam na Itália somados à busca da população por melhores condições de vida, fizeram com que as instituições governamentais e, também, incentivos particulares de outros países influenciassem os italianos a optar pela imigração. Com isso, 1 POSENATO, Julio. Arquitetura da imigraçãoitaliana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.15. 12 inicia-se o processo imigratório para o Brasil. Dessa forma, é possível afirmar que esses fatores foram as principais causas que motivaram as imigrações. (FIGURA 01). Figura 01: Mapa da intensidade dos fluxos de imigrantes para o Brasil Disponível em:<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/15719/imagens/mapaitalia> Acesso em: 04 de maio de 2015. Logo, é importante destacar que a proibição do tráfego negreiro interatlântico estabelecido pela Lei Eusébio de Queiroz em 4 de setembro de 1850, que atendia as exigências da Inglaterra que tinha como finalidade abolir a escravidão e dar inicio ao trabalho livre. Com isso, a comercialização de escravos começa a decair, diminuindo, dessa forma, a entrada destes no Brasil. Sendo assim, a crise na comercialização de escravos somada a necessidade de mão de obra para a produção cafeeira nas lavouras brasileiras, fizeram com que os fazendeiros incentivassem a imigração para o trabalho em suas lavouras. 2 2 ALGOSTINO, Lazzaro. Italianos: Base de Dados da Imigração Italiana no Espírito Santo nos séculos XIX e XX. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2014, p.18. 13 Os imigrantes que aceitavam condições de trabalho eram financiados pelos fazendeiros. Os donos das terras pagavam as despesas das viagem dos novos trabalhadores em troca de serviços prestados em suas fazendas, dando-lhes moradia e oferecendo-lhes mercadorias que eram vendidas dentro das sedes das fazendas para que, assim, as despesas fossem descontadas através do trabalho. Com isso, dificilmente os imigrantes conseguiam quitar suas dívidas com os fazendeiros, sendo assim, obrigados a trabalhar de graça por muito tempo. Quando os imigrantes optavam em ser custeados pelo Governo Brasileiro atividades da Política de imigração, tinham a liberdade de escolher entre três modalidades para a quitação dos custos ocorridos durante a viagem: 1º - Passagem paga até o colono se estabelecer e colher a primeira safra; 2º - Doação de terra e sementes, até a primeira colheita; 3º - O colono compraria o lote e receberia ajuda governamental para a agricultura e, assim, pagaria a prazo fixo. A última modalidade foi a que mais despertou interesse nos imigrantes, pois nela eram obrigados a produzir mais rapidamente para quitação da dívida.3 Com isso, os imigrante já chegavam ao Brasil endividados. (FIGURA 02). Figura 02: Imigrantes italianos trabalhando nas lavouras de café no ES Disponível em:< http://www.familiaperim.com.br/texto_1.htm> Acesso em: 29 de maio de 2015. 3 DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974, p. 25. 14 Segundo relatos de Carlo Nagar4, o governo do Espírito Santo fez um contrato com Domenico Giffoni, em que entrariam no Estado cerca de 20.000 imigrantes de preferência italianos, com as seguintes promessas: - pagamento da passagem; - alojamento e manutenção na Capital do Estado, até a partida para o destino; - transporte gratuito e manutenção durante o trajeto até o ponto que escolhessem para sua residência; - tratamento médico gratuito pelo espaço de dois anos; - um lote colonial de 25 hectares de terrenos férteis, em qualquer dos núcleos do Estado, à sua escolha; - antecipação para cada família de cinquenta mil réis para a compra de ferramentas ou de utensílios, além de outros duzentos mil réis em parcelas de cinquenta mil réis cada quinzena, para a própria manutenção e edificação da casa provisória: se preferissem, receberiam do Estado, ao contrário, a casa provisória e um trecho desmatado de terra de cinquenta metros quadrados; (NAGAR, 1982, apud POSENATO, 1997, p. 81) As propagandas anunciadas pelo governo não eram reais, pois os benefícios que eram passados aos colonos não eram cumpridos, isso, porque o principal interesse pela vinda dos imigrantes era a substituição da mão de obra escrava. Chegando ao Brasil os imigrantes se deparavam com a nova realidade e o descumprimento dos benefícios prometidos pelo governo.5 (FIGURA 03). As embarcações eram precárias, uma vez que nos navios havia muita sujeira, proliferação de doenças e más condições de hospedagem. Muitas pessoas que embarcavam não chegavam ao final de seus destinos, pois a longa viagem, junto, as péssimas condições oferecidas aos viajantes e as doenças contagiosas faziam com que diversos imigrantes viessem a óbito. (FIGURA 04). 4 NAGAR, 1982, apud POSENATO, 1997, p. 81. 5 POSENATO, 1997, p.84. 15 Figura 03: Encarte de incentivo a emigração, com o seguinte dizer: " Na América Terras no Brasil para os italianos. Navios em partida todas as semanas do Porto de Gênova. Venham construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos." Disponível em: <http://www.bentogoncalves.rs.gov.br/a-cidade/historia-da-imigracao.> Acesso em: 04 de maio de 2015. Figura 04: Condições precárias dentro dos navios italianos Disponível em:< http://daitaliaaobrasil.blogspot.com.br/2011/04/da-italia-ao-brasil-07- viagem.html> Acesso em: 04 de maio de 2015. 16 Os primeiros camponeses italianos que saíram da região de Trentino se instalaram no sul do Brasil, em especial nas regiões de Dona Isabel, Conde d'Eu, Caxias e Silveira Martins, proximidades de Santa Maria no centro geográfico do Rio Grande do Sul. 6 As primeiras construções residências consistiam em uma separação entre os cômodos e a cozinha. O partido arquitetônico da cozinha era composto por duas divisões, uma parte situava-se a cozinha, propriamente dita, e a outra parte ficava o comedor. A organização interna das casas consistia em uma sala central rodeada por quartos, diferentemente das casas alemãs que continham uma volumetria quadrada, as casas dos imigrantes italianos eram mais retangulares, tendo em vista que havia mais aposentos, em razão do maior número de membros familiares. 7 (FIGURA 05). Figura 05: Divisão interna das residências italianas Fonte: Günter Weimer. Arquitetura popular brasileira, p. 176. 6 WEIMER, Gunter. Arquitetura Popular Brasileira. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012, p.171. 7 WEIMER, 2012, p.177. 17 O Brasil foi o país que mais recebeu imigrantes da região de Trentino, chegando à estimativa de 30 mil pessoas. Os novos habitantes se estabeleceram, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, e grande parte deles foram habitar as zonas rurais, seguindo o trabalho nas lavouras de café. Em contrapartida, os que optaram em se estabelecer na zona urbana contribuíram para o desenvolvimento do trabalho das fábricas e do comércio. 8 É interessante destacar que atualmente no Brasil, foram criados os "Círculos Trentinos", que são entidades de descendentes italianos que buscam preservar a cultura italiana desenvolvendo diversas atividades memoráveis, a fim de reguardar os costumes. Com isso, as heranças culturais se fazem presentes no cotidiano destes descentes italianos, através das manifestações festivas realizadas em diversas regiões do Brasil. 1. 2 O PROCESSO IMIGRATÓRIO NO ESPÍRITO SANTO O Espírito Santo foi a província brasileira mais atrasada, embora tenha sido ocupado a partir do ano de 1534. Até meados do século XIX a província ainda não havia se desenvolvido, servindo apenas de barreira natural para resguardar as riquezas da região das Minas Gerais.9 A ocupação do território se encontrava na faixa litorânea e era composta, em sua maioria, por escravos negros e índios que haviam sido catequizados e desenvolviam atividades pesqueiras. O Espírito Santo foi a província que mais recebeu contingentes dos novos colonos,dessa forma, muitas regiões se desenvolveram herdando as tradições e culturas trazidas pelos imigrantes, em especial os italianos. Em 1810, ao se tornar independente da Província da Bahia, o Espírito Santo passa a assumir 8 Disponível em: < http://www.santaolimpia.com.br/regiao-trentino-sudtirol-trentino-alto-adige/> Acesso em : 21/05/2015 9 POSENATO, 1997, p.15. 18 seu próprio governo, iniciando, assim, o processo de abertura de novos caminhos para adentrar-se o território. O atual município de Viana, que na época era colônia de Vitória, compreendia uma grande extensão territorial com limites que iam até as proximidades com a Província de Minas Gerais. Este município foi o primeiro do Estado a receber imigrantes, estes, por sua vez, eram açorianos que receberam terras com divisões baseadas no sistema de sesmaria, que eram calculadas em meia légua quadrada, o que ocasionou as primeiras mudanças na paisagem local.10 As residências dos imigrantes açorianos ficavam dispersas no lote, de maneira que ficassem mais próximas das vizinhanças, permitindo, assim, maior contato entre elas. Essa mentalidade fez com que se formassem diversos núcleos no território. (FIGURA 06). Figura 06: Sesmaria doada a uma família de imigrantes açorianos na colônia de Viana Fonte: Arquivo Nacional, Rio de Janeiro. A partir de 1847, trinta anos após a ocupação da colônia de Viana pelos açorianos, a província começou a receber novos imigrantes, dessa vez, alemães. As famílias alemãs que desembarcaram em Vitória se instalaram na colônia de Santa Isabel, atual município de Domingos Martins, e receberam incentivos governamentais de sustento durante seis meses e também um lote 10 MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p. 38. 19 com dimensões de 200 braças de frente por 600 braças de fundo, medidas que correspondem aproximadamente 600 hectares de propriedade de terra.11 No ano de 1857, com a fundação da colônia de Santa Leopoldina, abrigaram- se nessa região cerca de 140 imigrantes suíços que não se adaptaram as condições encontradas nas fazendas de São Paulo, sendo, então, transferidos para o Espírito Santo. Meses após a ocupação dos suíços na colônia de Santa Leopoldina, chegam ao local cerca de 222 famílias alemãs, cada qual recebendo do governo cerca de 62.500 braças quadradas, aproximadamente 30 hectares de terra. Sendo assim, no ano de 1860, já viviam em Santa Leopoldina 232 famílias de diversas nacionalidades.12 A colônia do Rio Novo surgiu como um empreendimento particular. Durante o período de 1854 a 1861, recebeu do governo Estadual diversos empréstimos para a execução de obras. Em 1862, havia na região 378 colonos, já no ano de 1870, a intensificação do fluxo migratório no Espírito Santo, acarreta a expansão dessa colônia.13 A partir de 1874 começaram a chegar ao Espírito Santo os primeiros imigrantes italianos que vieram em busca de novas terras do Brasil, que foram trazidos por Pietro Tabacchi, a partir da iniciativa particular para a ocupação de terras devolutas no Estado. Essas terras, que ocupavam a região de Santa Cruz14, ficavam localizadas em locais distantes e de difícil acesso, não sendo, portanto, de interesse dos fazendeiros. (TABELA 01). TABELA 01: Imigrante que desembarcaram em Vitória 1892/1896 11 MUNIZ, 2009, p. 41. 12 MUNIZ, 2009, p. 46 13 MUNIZ, 2009, p. 52. 14 POSENATO, 1997, p. 54. NACIONALIDADE 1892 1893 1894 1895 1896 TOTAL Italianos 481 2.401 3.140 4.528 1.054 11.604 Portugueses 3 330 667 8 4 1.012 Espanhóis 8 363 28 - - 399 Alemães - 13 7 32 - 52 Austríacos - 6 44 - - 50 Diversos 35 7 4 2 69 117 SOMA 527 120 1.890 4.570 1.127 13.234 Fonte: Sonia Maria DEMONER. O imigrante italiano no Espírito Santo: Núcleo Demétrio Ribeiro, p. 264. 20 Posteriormente, com a morte de Pietro Tabacchi e o fracasso de sua expedição, os imigrantes foram em busca de novas terras para ocupação. Parte deles ocuparam as margens do rio Timbuy, onde encontraram terras férteis e, assim, iniciaram o processo de colonização do atual Município de Santa Teresa.15 É interessante destacar que o desenvolvimento das colônias de Santa Isabel e Santa Leopoldina deu início à formação de núcleos religiosos que juntos somavam seis paróquias, com uma filial na colônia de São João de Petrópolis. As instituições religiosas se faziam presentes nos cultos e em atos sociais para o desenvolvendo projetos em prol da população. 16 Segundo Gilda Rocha (1984), nos anos de 1847 até 1881 na primeira fase a imigração estrangeira ela, caracterizou-se por pequenas propriedades rurais que, em sua maioria, cultivavam lavouras de café. Na segunda fase, que inicia em 1882, com a suspensão de alguns incentivos governamentais, que visavam o estabelecimento de estrangeiros em grandes propriedades, diminuiu consideravelmente o número de imigrantes que se instalariam no Espírito Santo. O fim desta fase se dá com a abolição da escravidão, quando o governo brasileiro cria novos incentivos governamentais. Já a partir de 1888 se inicia a terceira fase da imigração, que com o investimento de novos incentivos intensifica novamente a vinda de imigrantes para as terras da Província do Espírito Santo. (TABELA 02). TABELA 02: Entrada de imigrantes no Espírito Santo 1847/1896 Fonte: Gilda ROCHA, op. cit. p. 90- 96-112. 15 MUNIZ, 2009, p. 54. 16 MUNIZ, 2009, p.47- 48. FASES PERÍODOS Nº DE IMIGRANTES Primeira 1847/1881 13.828 Segunda 1882/1887 1.375 Terceira 1888/1896 21.497 TOTAL - 38.700 21 É válido ressaltar que, devido ao grande contingente de imigrantes que se instalaram no Estado Espírito Santo, ocorreu uma mescla de etnias, histórias, tradições e costumes culturais que se fazem presentes, principalmente, nas regiões de montanhas do interior do Estado, local onde se encontra mais fortemente a herança viva da cultura europeia, que contribuiu até os dias atuais para o desenvolvimento cultural do Brasil. (FIGURA 07). Os imigrantes italianos foram os mais numerosos e que melhor se adaptaram às condições luso-brasileiras, devido aos fatores religiosos e a aproximação com a língua. Portanto, foram eles os principais protagonistas da formação da nova mentalidade capixaba. Assim, é importante afirmar que a vinda dos colonos europeus foi de grande relevância para o Brasil. Figura 07: Manifestação cultural de descendentes italianos no Município de Santa Teresa - ES Disponível em:< http://www.hypeonline.com.br/index.php?page=db&secao=21&info=736> Acesso em: 30 de maio de 2015. 22 2 A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA Os imigrantes italianos que se estabeleceram em terras capixabas, tiveram que se adaptar às novas condições de vida encontradas sem que houvesse a perda de sua herança cultural. Assim, é possível afirmar que a vinda dos colonos para o Brasil, em especial para o Espírito Santo, contribuiu para a adaptação da cultura arquitetônica italiana em uma da paisagem genuinamente brasileira. 2.1 DE TRENTINO AO NÚCLEO TIMBUY A primeira expedição de imigrantes italianos a chegar ao Estado do Espírito Santo, como já dito anteriormente, foi a do idealizador Pietro Tabacchi, um italiano originário de Trento que vivia no Espírito Santo na região de Santa Cruz, atual Município de Aracruz. Através do Decreto Imperial 5.295, de 31 de maio de 1872, o italiano Tabacchi trouxe para o Brasil cerca de setecentos imigrantes, com interesse de mão de obra para o trabalho na produção cafeeira. 17 O foco dos agenciadores das expedições se concentrou no norte da Itália, região onde havia o maior número de desempregados, devido ao processo de recém-unificação do país(FIGURA 08). Assim, é possível afirmar que a esperança demelhores condições de vida, em outros continentes, fez com que a população optasse pela imigração.18 Os imigrantes italianos trazidos por Pietro Tabacchi foram os primeiros que chegaram nas terras capixabas, mas em poucos meses se deslocaram para outras localidades, como a Colônia de Santa Leopoldina, Colônia de Rio Novo e uma minoria para o Estado do Rio Grande do Sul. Os colonos Trentinos e os Vênetos que permaneceram no Espírito Santo, em especial em Santa Leopoldina, transferiram-se, mais tarde, para outras localidades, proporcionando, assim, a expansão e ocupação de novas áreas colonizadas. 17 DERENZI, 1974, p. 47. 18 Disponível em: < http://www.ape.es.gov.br/noticias%5C77.html> Acesso em : 21/05/2015 23 Devido a esse fato, formaram-se na Colônia de Santa Leopoldina dois núcleos: um na extensão do rio Timbuy e outro às margens do rio Piraquê-Açu.19. Figura 08: Mapa da Itália com destaque para as regiões de onde proveio a maioria dos imigrantes italianos para o Espírito Santo. Disponível em: <POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997. p.19.> Acesso em: 10 de junho de 2015 A maior parte dos imigrantes que se estabeleceram no Espírito Santo é advinda da Itália, em especial da região norte de Trentino - Alto Adige, de onde se deslocaram 12% dos imigrantes tiroleses. Mas, é possível identificar imigrantes de outras regiões italianas que se instalaram no Estado, como Vêneto com 36%, primeiros a migrarem, Lombardia 17%, Romagna 13% e Piemonte 8%. 20 As primeiras ocupações do Núcleo Timbuy ocorreram em fevereiro de 1874, após a chegada da embarcação "La Sofia" ao porto de Vitória, com aproximadamente 388 imigrantes italianos advindos da expedição Tabacchi. Chegando a província, as famílias eram encaminhadas para a propriedade 19 MUNIZ, 2009, p. 55. 20GASPARINI, Sandra. Santa Teresa: viagem no tempo 1873/2008. Santa Teresa, 2008, p. 29. 24 rural de Pietro Tabacchi - Colônia Novo Trento, onde viviam em precárias condições de trabalho e habitação. (FIGURA 09). Figura 09: Primeiras ocupações estabelecidas no Município de Santa Teresa - ES Disponível em:< http://www.es.gov.br/Noticias/173412/santa-teresa-e-a-primeira-cidade- italiana-do-brasil.htm> Acesso em: 30 de maio de 2015. Os primeiros ocupantes do Núcleo Timbuy foram os imigrantes advindos da colônia Novo Trento, um empreendimento de Pietro Tabacchi que fracassou a menos de um ano após sua fundação. Posteriormente, o Núcleo Timbuy começa a despertar maiores interesses, em razão de suas terras férteis. Assim, em 26 de junho de 1875, após a consolidação do Núcleo, acontece o sorteio dos lotes de terra para os imigrantes. Nesse sentido, é interessante ressaltar que independente das dificuldades, os italianos, em um pequeno espaço de tempo, se adaptaram facilmente às novas terras. Os fatores climáticos, assim como, a região entre os vales e montanhas lhes permitiu a prática da agricultura, o que possibilitou dar continuidade as heranças culturais de seu país de origem. Além disso, o catolicismo, como religião oficial, e a linguagem latina foram fatores que, também, contribuíram para melhor adaptação dos italianos em terras brasileiras. 21 A evolução do Núcleo Timbuy ocorreu dando início a Cidade de Santa Teresa, que recebeu este nome devido a uma lenda religiosa. Segundo a narrativa 21 MUNIZ, 2009, p. 77. 25 mais aceita pela população local, no dia 15 de outubro de 1875, debaixo de uma árvore de Pau Peba aconteceria o momento de Angelus, assim, uma devota de codinome Maria Zonta colocou no local uma imagem de Santa Tereza de Ávila trazida da Itália para o, então, momento de fé cristã, que acabou reunindo vários fiéis. A partir disso, o agrupamento de casas ainda precárias existente na região passou a adotar o nome da santa para a localidade. 22 Com a grande facilidade de adaptação, os imigrantes tornaram o Município de Santa Teresa semelhante às cidades do norte da Itália. Dessa forma, fizeram a tradicional construção religiosa em um local de destaque da cidade e as estreitas ruas foram abertas de forma rústica, com a utilização de enxadas e picaretas para que fosse possível a passagem das tropas que traziam os principais produtos para o abastecimento da cidade, uma vez que o núcleo se encontrava muito afastados dos centros comercias da província. (FIGURA 10). Figura 10 : Semelhança entre a rua Coronel Bonfim Junior Santa Teresa - ES (à esquerda), e a rua de Monteforte D'Alpone, Verona/Itália (à direita). Como a volumetria das edificações, o ritmo das aberturas, relação entre os cheios e vazios, o telhado de duas águas e o lote. Disponível em: GASPARINI, Sandra. Santa Teresa: Viagem no Tempo 1873/2008. Assim, atualmente ainda, é claramente notável a presença da cultura italiana no município de Santa Teresa, principalmente do patrimônio material e arquitetônico ainda remanente na cidade. Os imigrantes mantiveram viva a 22 DERENZI, 1974, p. 100. 26 cultura de seu país de origem, transformando a paisagem brasileira em uma paisagem muito semelhante a de seu país de origem. 2.2 AS PRIMEIRAS OCUPAÇÕES DO NÚCLEO TIMBUY Inicialmente os lotes de propriedades rurais possuíam um formato quadrado, formando um tabuleiro de xadrez, com dimensão de 550 metros laterais, pois não havia preocupação com a topografia local. Posteriormente, com a chegada dos novos imigrantes, os loteamentos sofreram alterações em suas dimensões, passando a ter formato retangular, com medidas de 30 metros frontais por 1.000 metros de fundos, porém havia lotes que possuíam algumas variações métricas, assim, a média era de 25 a 30 hectares de terra (FIGURAS 11 E 12). A divisão dos lotes, muitas vezes, gerava conflitos, uma vez que a delimitação das terras era realizada pelos próprios imigrantes. Devido a isso, era comum a troca de lotes entre os colonos, para que, dessa forma, as mesmas famílias pudessem se instalar em propriedades vizinhas.23 Os italianos que receberam terras pouco férteis no Núcleo Timbuy, abandonaram seus lotes e foram habitar em áreas devolutas no Vale do rio Santa Maria, do Rio Doce e do Rio Santa Joana. Tempos depois, os colonos iniciaram o povoamento do Vale do Canaã e outros pequenos vales, como o de Espanhóis, Valsugana e São Sebastião do Rio Perdido.24 Os lotes ofertados eram em locais afastados dos centros das colônias e também de difícil acesso, o que dificultava a comercialização dos produtos nas sedes coloniais. Ao tomarem posse dos lotes de terra, os imigrantes deveriam limpar toda a área de Mata Atlântica que estava nas dimensões do terreno, para isso, as famílias eram obrigadas a abrigar-se em locais improvisados, como grutas, cabanas e palhoças, até que a área ficasse em condições favoráveis. Depois disso, os colonos tinham que aguardar por um período de seis meses para que 23 MUNIZ, 2009. p, 81. 24 MUNIZ, 2009. p, 55. 27 fosse iniciada a plantação de 1.000 braças quadradas (4.840 m²) e construir uma habitação de 400 braças quadradas . 25 (FIGURA 13). Figura 11: Esboço Topográfico do Território Timbuy na Colônia Santa Leopoldina- Província do Espírito Santo 1876 Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Planta Nº A0990. Figura 12: Planta do Núcleo Timbuy Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Planta Nº A0307 25 MUNIZ, 2009. p, 84. 28 Figura 13: Início da Construção da Casa Lambert em meio a floresta Disponível em: <POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.61.> Acesso em: 20 de Maio de 2015. Embora os lotes vendidos para os imigrantes parecessem grandes em comparação aos disponíveis no Norte da Itália, o desenvolvimento econômico familiar dos colonos era afetado,devido à precariedade do transporte da comercialização da produção.26 Em contrapartida, apesar dos obstáculos enfrentados, muitas famílias italianas prosperaram em terras capixabas, chegando a realizar seus objetivos de vida. Sendo assim, apesar de algumas terem fracassado no meio rural, esses imigrantes ainda contribuíram para importantes transformações sociais ocorridas no Brasil. (FIGURA 14 e 15). É possível notar, ainda, a presença do período migratório no Brasil, principalmente, nas cidades colonizadas, através dos exemplares edificados, das propriedades de terras e dos comércios. Assim, a imigração contribui para que estas cidades de colonização se tornassem grandes atrativos turísticos, devido ao seu patrimônio histórico ainda remanescente. 26 MUNIZ, 2009, p. 86. 29 Figura 14: Venda do Café na Rua do Comércio em Santa Teresa - ES Disponível em: <GASPARINI, Sandra. Santa Teresa: Viagem no Tempo 1873/2008. Santa Teresa, 2008, p.78 > Acesso em: 24 20 de Maio de 2015. Figura 15: Inicio da ocupação em Santa Teresa - ES Disponível em: Museu de Biologia Mello Leitão - Santa Teresa, ES 30 3 NOVA FORMA DE MORAR DO IMIGRANTE ITALIANO A arquitetura de imigração é fruto dos conhecimentos adquiridos pela tradição e sabedoria de gerações familiares somados a disponibilidade de materiais encontrados em cada região do Brasil. Resultando, dessa forma, em processos de edificações com características de seus países de origem. Por isso, é possível afirmar que as edificações se tornam singulares e de grande valor histórico. 3.1 ARQUITETURA RURAL A arquitetura rural, da colonização italiana, reflete a luta do homem com a natureza na região de montanhas de Santa Teresa. Os italianos, por sua vez, contribuíram para as alterações no modo de vida e no trabalho da cultura brasileira. A arquitetura produzida pelos italianos, no Brasil, é resultado do processo construtivo, juntamente, com a combinação de formas e do aprimoramento das técnicas construtivas encontradas nas construções rurais de Vêneto e Trentino, remetidas ao novo espaço.27 (FIGURA 16). O processo construtivo adotado pelos colonos foi de trabalho coletivo. A construção das casas era feita de acordo com a disponibilidade do tempo familiar, geralmente, aos fins de semana, sempre com a ajuda da vizinhança. Os donos das residências eram responsáveis pela alimentação dos integrantes do mutirão, mas a preparação cabia, especificamente, às mulheres. Assim, a prosperidade familiar era resultado do desempenho prestado pelo trabalho em conjunto.28 27 MUNIZ, 2009, p.132. 28 MUNIZ, 2009, p.133. 31 Figura 16: Detalhe da estrutura das casas rurais. Alicerce em madeira e trama do esqueleto Disponível em:< MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p.162.> Acesso em: 19 de junho de 2015 Após as instalações provisórias, as primeiras construções das casas continham apenas um pavimento diretamente instalado no solo e as cozinhas eram afastadas, devido ao risco de possíveis incêndios. Durante o período do apogeu da imigração, as casas passaram a ser construídas afastadas dos solo e apoiado em alicerces de pedras ou estruturas em madeira, neste momento, a cozinha passou a adentrar a residência (FIGURA 17). Já no período tardio as casas passaram a ter somente um pavimento, com maior elevação do solo, a varanda veio compor a arquitetura das fachadas e a cozinha ficava ligada a residência por um corredor coberto.29 (FIGURA 18). 29 POSENATO, 1997. p.177. 32 Figura 17: Casas rurais durante o primeiro período (a frente) e durante o período de apogeu (aos fundos) Disponível em:< MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p.137.> Acesso em: 19 de junho de 2015 Figura 18: Casa rural pertencente ao período tardio Disponível em:< MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura,2009, p.145.> Acesso em: 19 de junho de 2015 33 As casas rurais foram sendo adaptadas de acordo com as necessidades familiares. As dependências internas eram, basicamente, compostas por quartos ao redor de uma sala central (FIGURA 19). Na parte frontal era comum a presença de uma varanda estreita e comprida, com a parte de serviço situada aos fundos das construções. Os italianos, por sua vez, aprimoraram as técnicas construtivas, como o desenvolvimento do encaixe estrutural nomeado de "calda de andorinha" (FIGURA 20), que juntas as peças de madeira. A maioria das casas dos imigrantes era decorada com objetos trazidos da Itália.30 Figura 19: Planta baixa, com as divisões internas de um típica residência rural Disponível em: < POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.188. > Acesso em: 19 de Junho de 2015. A casa rural do imigrante italiano do Espírito Santo difere do programa de necessidades de seu país de origem, uma vez que no Brasil a habitação seguia um caráter uni familiar, em que se reuniam trabalho e moradia sobre o mesmo teto. 30 POSENATO, 1997. p.180. 34 Figura 20: Encaixe de madeira "Calda de andorinha". Disponível em: < http://www.guiadomarceneiro.com/forum/um-rabo-de-andorinha-em-3- minutos-t5683-40.html> Acesso em: 10 de setembro de 2015 Portanto, é válido ressaltar que a forma, as técnicas e os detalhes arquitetônicos do imigrante italiano, facilmente, se adaptaram ao meio rural da região serrana do Estado do Espírito Santo. A simplicidade na composição arquitetônica deu a essas edificações qualidades plásticas singulares.31 3.2 ARQUITETURA URBANA Entre os vales e montanhas da região serrana de Santa Teresa, ES, local para onde foi grande parte dos imigrantes italianos que chegaram ao Espírito Santo, encontra-se a cidade marcada por uma arquitetura que testemunha o passado histórico da adaptação deste povo a um novo país.32 As edificações, em sua maioria, partiam da necessidade de um programa funcional, buscando 31 MUNIZ, 2009, p.160. 32 MUNIZ, 2009, p.65. 35 satisfazer, ao mesmo tempo, as necessidades familiares e do ofício.33 (FIGURA 21) A organização dos espaços variava de acordo com as funções adotadas. É evidente a presença de exemplares construídos com dois pavimentos em função da necessidade do atendimento as duas funções: comércio no térreo e residência no segundo pavimento na região central da cidade, onde havia a concentração do comércio. Figura 21: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo pessoal O partido arquitetônico dos sobrados urbanos seguem as tradições italianas herdadas de suas construções do país de origem, em que a parte superior fica localizada a residência, que contém a seguinte distribuição: a sala é situada na parte frontal da edificação, rodeada pelos dormitórios, já os banheiros e a 33 MUNIZ, 2009, p.104. 36 cozinha situam-se aos fundos. Na parte térrea localiza-se o ponto comercial ou o depósito de mercadorias. (FIGURA 22, 23 E 24). Figura 22: Sobrado urbano exercendo função comercial e residencial - Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo Pessoal Figura 23: Planta baixa do pavimento térreo Disponível em: < POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.148 e 149.> Acesso em: 17 de junho de 2015. 37 Figura 24: Planta baixa do segundo pavimento Disponível em: < POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997, p.148 e 149.> Acesso em:17 de junho de 2015. Logo após as primeiras instalações no territórios, a arquitetura de imigração veio sofrendo alterações e se desenvolvendo, assim, de acordo com Posenato34: (...) as edificações destas cidades e patrimônios passaram a ser construídas em um ou dois pavimentos, sendo muito frequente mais um piso na forma de aproveitamento do sótão, tanto evidenciado na fachada como dissimulado. Sobretudo quando o prédio destinar-se ao comércio, naturalmente as dependências térreas voltadas para a via pública serão reservadas à função comercial, cabendo as posteriores e o pavimento superior (e sótão) à moradia da família do proprietário do negócio ou prestador de serviço. Para a finalidade unicamente residencial, predominará a opção por pavimento único, ou térreo e sótão. 34 POSENATO, 1997, p.146. 38 As técnicas construtivas eram variáveis, pois dependiam da disponibilidade de materiais locais, assim, como no município de Santa Teresa havia muita madeira e barro, predominou-se o uso desses recursos. O sistema construtivo utilizado era o de taipa de mão, que consiste em uma armação de madeira com preenchimento manual de barro nas frestas, podendo ser executado na parte interna e externa da construção.35 (FIGURA 25). As construções consistiam em bases com alicerces de pedra que servia para proteção do esqueleto, a madeira servia para as funções estruturais, de piso e de esquadrias. Na parte interna das construções o piso, inicialmente, era de terra batida, mas com o aprimoramento das técnicas construtivas passou-se a utilizar tábuas corridas. Além disso, as divisões internas, também, consistiam na utilização de divisórias dos cômodos em madeira. Nesse sentido, é válido afirmar que as construções só eram possíveis, pois os italianos trouxeram consigo habilidades e sabedorias para trabalhar com técnicas construtivas tradicionais. (FIGURA 26 E 27). Figura 25: Técnica construtiva tradicional - Taipa de mão Disponível em:< http://artenasetima.zip.net/arch2011-06-19_2011-06-25.html.> Acesso em: 01 de setembro de 2015 35 WEIMER, 2012, p. 262. 39 Figura 26: Estrutura das construções tradicionais de taipa de mão Disponível em: < https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/pau-a-pique-estrut.jpg> Acesso em: 17 de junho de 2015 Figura 27: Casa Lambert , Santa Teresa - ES Disponível em: < http://www.es.gov.br/Noticias/141931/detalhes.htm> Acesso em: 01 de setembro de 2015 As edificações buscavam em suas fachadas a simetria e a harmonia em relação ao meio, com variações entre cheios e vazios e com aberturas de esquadrias de madeira que variavam entre 70 e 90 cm.36 (FIGURA 28). 36 MUNIZ, 2009, p.157. 40 Figura 28: Simetria e harmonia na fachada de uma edificação térrea - Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo pessoal Com o passar do tempo, a arquitetura de imigração italiana foi sofrendo inúmeras alterações. As casas térreas transformaram-se em sobrados, com sacadas dando para a rua em estrutura de madeira, além disso, as ornamentações nas fachadas tornaram-se cada vez mais comuns nas edificações, fazendo parte, assim, da nova composição arquitetônica. Segundo Ruschi37: As fotografias com vistas das ruas de Santa Teresa que Eurico Ildebrando Aurélio Ruschi publicou em 1939 mostram fachadas conforme à arquitetura urbana do Brasil daquela época; eclética, chalés e até expressionistas, com platibanda, ornamentação aplicada aos muros, sotão geralmente dissimulado. A organização do espaço interno e a volumetria seguem a tradição da Itália do norte. Os núcleos coloniais do Espírito Santo que tiveram desenvolvimento vigoroso, devido às rotas comerciais, ostentam ainda, nos dias atuais, as mesmas edificações do momento de seu apogeu econômico.38 37 RUSCHI, 1939, apud, POSENATO, 1997, p.143. 38 POSENATO, 1997, p.144. 41 Para os colonos italianos era fundamental criar uma relação direta das construções realizadas no Brasil com as de seu país de origem. Entretanto, é possível notar as variações de formas e soluções construtivas adotadas pelos imigrantes, em razão das condições físicas de cada localidade. Sendo assim, devido às variações de tipologias arquitetônicas, a imigração italiana trouxe importantes soluções construtivas para agregar aos valores culturais brasileiros. Nesse sentido, é importante ressaltar que as técnicas construtivas herdadas pelos imigrantes italianos trouxeram, à Santa Teresa, alternativas para a composição arquitetônica urbana, que modificaram a paisagem local, devido à semelhança com as cidades interioranas do norte da Itália. (FIGURA 29). Figura 29: Rua Coronel Bonfim Junior - Santa Teresa, ES Disponível em:< http://revistaviag.com.br/wp-content/uploads/2015/02/santa_italia.jpg> Acesso em: 24 de setembro de 2015. 42 4 ARQUITETURA URBANA EM SANTA TERESA No município de Santa Teresa, as edificações urbanas, em especial os sobrados construídos durante o período de colonização, tornaram-se importantes marcos da arquitetura da imigração italiana local. Essas características são fortemente notadas nas composições arquitetônicas das fachadas, sendo possível notar a semelhança com suas edificações urbanas encontradas na Itália durante o século XX. As diversas tipologias arquitetônicas com grande variedade de formas e soluções construtivas estão diretamente ligadas aos contextos histórico e físico local. Atualmente, em Santa Teresa, os exemplares edificados tornaram-se importantes atrativos turísticos. 4.1 TIPOLOGIAS ARQUITETÔNICAS DAS EDIFICAÇÕES URBANAS NOS XIX E XX Devido à topografia acidentada, a ocupação em Santa Tereza ocorreu na extensão dos vales em lotes menores. Por isso, as construções, em sua maioria, são com gabarito de dois pavimentos geminados, construídos no alinhamento das vias e implantados nas testadas dos lotes. Estes fatores são responsáveis pela configuração da cidade, que apresenta ruas estreitas, mas, que ao longo do tempo, foram sendo adaptadas às condições físicas local. Com a ocupação dos lotes, a partir das testadas, não houve variações no volume e gabaritos dos edifícios comparados às construções do período colonial brasileiro, sendo estes diferenciados nas composições arquitetônicas. Diante da necessidade de adaptação ao meio, houve a variedade no desenvolvimento das técnicas de composição da edificação. Esse fato se torna visível na construção das paredes, que poderiam ser de barro, com divisões em trama de madeira ou tijolo queimado. Outra característica marcante da arquitetura de imigração italiana é o uso de esquadrias de madeira na composição arquitetônica das fachadas. (Figura 30). 43 Figura 30: Detalhe da fachada com esquadrias em madeira - Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo Pessoal Em edificações com fachadas mais ornamentadas, as esquadrias passam a ser mais requintadas sendo possível encontrar bandeiras envidraçadas ou vazadas que se localizavam acima da porta principal. No Espírito Santo, tornou-se comum o uso de bandeiras vazadas, onde o vão poderia ser fechado com grades de ferro e ornamentos que impediria a passagem de pessoas. (Figura 31). 44 Fonte: Arquivo Pessoal Outras características marcantes nos sobrados urbanos eram a presença de sacadas no pavimento superior, que ficam localizados, em sua maioria, acima da porta principal de acesso (Figura 32) e a construção de guarda-corpos, espécies de sacadas dentro da própria volumetria da edificação, que ocupam o lugar do peitoril da janela. (Figura 33). Figura 31: Detalhe das bandeiras das portas principais com caixilhos envidraçados a esquerda e com gradil a direita - Santa Teresa, ES 45 Figura 32: Detalhe das sacadas acima da porta principal - Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo PessoalFigura 33: Detalhe dos guarda-corpos acima da edificação - Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo Pessoal 46 Inicialmente, foi comum o uso de tabuinhas para cobrir os sobrados, entretanto, com o transcorrer dos anos, essas tábuas foram substituídas por telhas de zinco e, por último, pelas telhas de cerâmica tipo canal ou francesa.39 As casas urbanas continham telhados de duas águas, diferentemente das casas rurais que possuíam telhados de até quadro águas. (Figura 34). Figura 34: Detalhe do telhado aparente com caimento de duas águas - Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo Pessoal Nas edificações que continham o uso misto, a simetria estava na localização das portas, que ficam rebatidas em relação ao centro da construção.40 Com isso, o ritmo das aberturas traziam mais regularidade à edificação. A volumetria do edifício era feita através de sacadas, balcões e alpendres, fazendo-se assim, uma diferenciação do volume tradicional das fachadas sem que houvesse a perda do seu formato característico. (Figura 35). 39POSENATO, 1997, p.477 40Idem, p.502. 47 Figura 35: Rebatimento dos vãos em relação ao centro da edificação- Santa Teresa, ES Fonte: Ligia Chiesa Os sobrados urbanos, no decorrer do tempo, passaram a adquirir características singulares em sua composição arquitetônica. O uso da simetria era o elemento mais evidente dessa composição, além de ser o responsável por mostrar a influência renascentista das cidades de origem dos imigrantes italianos. Um ponto importante a ser destacado, é que a maioria dos sobrados era construído de acordo com as tradições da urbanística portuguesa, onde as vilas e cidades apresentavam caráter uniforme, com as edificações construídas sobre o alinhamento das vias e com ausência de afastamento lateral.41 (Figura 36) A arquitetura de imigração foi evoluindo conforme o passar do tempo, deixando as características de habitação rural e passando a se integrar ao meio urbano, dando início à cidade de Santa Tereza. Devido à variação das técnicas construtivas adotada pelos imigrantes, as edificações foram sofrendo alterações para adaptar-se ao novo meio. Embora a maioria mantivesse seus padrões de origem, sofrendo apenas pequenas alterações, outras foram muito remodeladas. Dentre as demais 41FILHO, Nestor Goulart Reis. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2006. p. 21 48 construções, os sobrados foram os que mais se destacaram na composição arquitetônica do município, tornando-se edificações de grande valor. Figura 36: Alinhamento das edificações e a construção na testada do lote. Santa Teresa, ES Disponível em: < http://www.sitiocanaa.com.br/santateresa.htm> Acesso em: 17 de junho de 2015 49 50 51 52 53 54 55 56 CONCLUSÃO A herança cultural do período de imigração italiana é fortemente presente no município de Santa Teresa e está visivelmente notada no acervo arquitetônico local que preserva, ainda, parte de suas construções do século XIX e XX. Diante da diversidade comercial, os imigrantes italianos se destacaram na produção cafeeira e foram os responsáveis pelo período de prosperidade econômica em Santa Teresa, o que levou ao desenvolvimento da cidade e à contribuição do crescimento econômico no estado do Espírito Santo. A arquitetura de imigração está diretamente relacionada aos aspectos culturais dos imigrantes, diante disto, a casa do colono italiano contém as marcas da dualidade entre adequar-se ao novo meio físico e a conservação de suas heranças culturais de origem.42 Com isso, através deste estudo, é possível perceber que, desde o inicio da colonização, Santa Teresa veio sofrendo alterações com o passar dos anos e se adaptando aos novos tempos. Como resultado disso, a arquitetura dos sobrados sofreu diversas interferências sem que houvesse a perda de sua identidade original. As principais mudanças ocorridas nas fachadas dos sobrados urbanos foram: novas aberturas de vãos, alterações das esquadrias, construção de platibandas na maioria das edificações, incremento de ornamentos na fachada, dentre outros. A partir dos estudos realizados nas fachadas, é possível notar que as construções têm características em comum em sua composição arquitetônica, como o alinhamento na abertura dos vãos, o uso de esquadrias em estrutura de madeira, a presença de sacadas e balcões, o rebatimento central da construção e a volumetria da edificação. Com a elaboração da tabela pode-se notar que todos os sobrados sofreram algumas intervenções com o passar do tempo, mas em sua maioria mantiveram-se as características da arquitetura de imigração italiana. Avaliando os imóveis de 42MUNIZ, 2009, p.213 57 interesse de preservação é comum encontrar elementos arquitetônicos que se fazem presente entre eles. Outro ponto a ser observado no decorrer do estudo é que em algumas construções os pavimentos superiores foram construídos em épocas distintas, sendo este fato evidenciado nos imóveis 37 e 44 da tabela. A hipótese é aceita devido a diferenciação do modelo das esquadrias, sendo essas mais ornamentadas do que as dos pavimento térreo. O casarão amarelo é um sobrado cuja ausência da simetria entre as aberturas dos vãos em relação aos pavimentos indica possíveis alterações. Esta hipótese é evidenciada pela falta de alinhamento entre os vãos. Outra evidência é um possível remembramento de imóveis devido a variação de altura na marcação do chapisco na fachada. (Figura 37). Figura 37: Ausência de alinhamento entre a abertura dos vãos. Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo Pessoal O sobrado pertencente à família Croce e sofreu grandes intervenções com o tempo, alterando a simetria na composição da fachada, sendo essas evidenciadas no deslocamento da sacada para a lateral, perdendo assim seu lugar na parte superior 58 da porta principal, as janelas já não seguem mais o alinhamento das portas. Isso fez com que houvesse uma perda da identidade da arquitetura italiana. (Figura 38). Figura 38: Intervenções na fachada. Santa Teresa, ES Fonte: Arquivo Pessoal As construções dos sobrados seguiam a necessidade familiar, por isso, eles não possuem um estilo único. Entretanto, a partir dos estudos das composições das fachadas, nota-se a influência da arquitetura renascentista nos sobrados, como a busca pela simetria, o ritmo e o alinhamento na composição arquitetônica das fachadas Embora os sobrados sejam pouco preservados, a arquitetura de imigração ainda é a grande responsável pela movimentação da economia local através do turismo. Portanto, a preservação desse patrimônio é essencial para agregar-se aos valores patrimoniais do Espírito Santo. 59 Em suma, pode-se afirmar que os imigrantes italianos são os principais responsáveis pelo desenvolvimento e consolidação da cidade de Santa Teresa, juntamente com o legado arquitetônico edificado deixado por esses povos que contribuíram historicamente para a cultura do Brasil. 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DERENZI, LuizSerafim. Os italianos no estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. FILHO, Nestor Goulart Reis. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2006 GASPARINI, Sandra. Santa Teresa: Viagem no Tempo 1873/2008. Santa Teresa, 2008. GROSSELI, Renzo. Colônias imperiais na terra do café: trentinos e venetos. Itália: Effe/Erre Litografia, 1987. MULLER, Frederico. Fundação e fatos históricos de Santa Teresa. Vitória: Diário da Manhã, 1925. MUNIZ, Maria Izabel Perini. Cultura e Arquitetura: a casa do imigrante italiano no Espírito Santo. Vitória: Flor&Cultura, 2009. NAGAR, Carlo. O Estado do Espírito Santo e a imigração italiana. Vitória: Arquivo Público Estadual, 1995 POSENATO, Julio. Arquitetura da imigração italiana no Espírito Santo. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1997. SCALZER, Simone. A configuração urbana e identidade italiana em Santa Teresa/ES. Mariana: Encontro Nacional de História, 2012. WEIMER, Gunter. Arquitetura Popular Brasileira. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012 Disponível em:< http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro povoamento/italianos/razoes-da-emigracao-italiana>. Acesso em: 17 mar. 2015. Disponível em: <http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e- povoamento/italianos >. Acesso em: 17 mar. 2015. Disponível em: <http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e- povoamento/italianos/regioes-de-origem>. Acesso em: 17 mar. 2015. Disponível em:< http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e- povoamento/italianos/os-imigrantes-nas-cidades>. Acesso em: 17 mar. 2015. Disponível em:< http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e- povoamento/italianos/ser-italiano-no-brasil-a-identidade-italiana>. Acesso em: 17 mar. 2015. 61 Disponível em:< http://www.suapesquisa.com/historia/imigracao/>. Acesso em: 17 mar. 2015. Disponível em: <https://omelhordesantateresa.wordpress.com/rota-do-patrimonio/>. Acesso em: 14 de set. de 2015
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