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103 Análise das Demonstrações Contábeis e Financeiras I Introdução Os analistas de créditos se utilizam de diversos relatórios financeiros para a realiza- ção de análises, que têm por finalidade investigar a situação financeira das empresas. O relato da situação da empresa que será analisada tem seu início pelo relatório da administração, que compreende uma análise global da empresa em relação ao pe- ríodo contábil informado, indicando uma série de aspectos que contribuíram para o desempenho operacional e financeiro da empresa. É feito por sua administração e tem o papel de apresentar a empresa para o mercado, contextualizando-a no ambiente econômico, político, social, entre outros e, por fim, apresentando as demonstrações financeiras. Essas demonstrações, que compreendem basicamente o Balanço Patrimo- nial, a Demonstração do Resultado do Exercício e o Fluxo de Caixa, contêm informa- ções essenciais para uma adequada investigação sobre a saúde financeira das empre- sas objeto das análises. Outros relatórios também poderão ser utilizados, pois fornecem informações que não estão contidas naqueles indicados anteriormente. Cada um dos relatórios tem sua finalidade, seu objetivo e estrutura própria e, portanto, podem ser de grande valia para o analista embasar seu relatório. A Lei 6.404/76, alterada posteriormente pelas Leis 11.638/2007 e 11.941/2009, determina no seu artigo 176 e incisos que ao fim de cada exercício social, as empresas deverão elaborar as seguintes demonstrações financeiras: Balanço Patrimonial; Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados; Demonstração do Resultado do Exercício; Demonstração dos Fluxos de Caixa; Demonstração do Valor Adicionado, no caso de ser companhia aberta. 104 É obrigatório também que a empresa elabore notas explicativas acerca dos cri- térios de classificação e avaliação de ativos, passivos, reconhecimento de receitas e despesas, tudo para que exista por parte desse conjunto de informações (relatórios e notas explicativas) a maior transparência possível sobre a sua situação financeira. Qua- dros analíticos também deverão compor tais notas explicativas. Quando a empresa contrata o serviço de auditores independentes, o parecer da auditoria também poderá ser utilizado pelo analista para uma compreensão mais ampla da situação financeira da entidade. A legislação determina que as empresas obrigadas a publicar suas demonstrações façam-na divulgando o ano atual comparativamente ao ano imediatamente anterior. Isso permite aos usuários uma avaliação mais adequada do desempenho da empresa no período estudado. Relatórios contábeis O analista dever utilizar todos os relatórios contábeis à sua disposição, pois eles são complementares e a integração de suas informações permitirá uma compreensão mais ampla da situação financeira da entidade objeto da análise. Balanço patrimonial O balanço patrimonial demonstra a situação da empresa com respeito ao seu pa- trimônio, representado pelo ativo e passivo. O ativo é representado pelas aplicações de recursos em bens e direitos e o passivo demonstra as fontes dos recursos que tanto podem ter origem externa (passivos exigíveis – de terceiros) como podem ser origina- das do aporte de capital dos sócios e da retenção de lucros (Patrimônio Líquido). A seguir, um esquema simplificado da representação gráfica do Balanço Patrimonial: Tabela 1 – Modelo simplificado de balanço patrimonial Ativo Passivo Ativo Circulante Passivo Circulante Ativo não Circulante Realizável a longo prazo Investimentos Imobilizado Intangível Passivo não Circulante Patrimônio Líquido Ér ic o El eu té rio d a Lu z. A ná lis e da s D em on st ra çõ es C on tá be is e F in an ce ira s I 105 A nálise das D em onstrações Contábeis e Financeiras I Ativos É importante que o analista de crédito compreenda que podemos classificar os ativos em ativos de realização e ativos de uso. Ativos de realização são aqueles bens e direitos que serão realizados preferencialmente em moeda (casos do ativo circulante e do realizável a longo prazo). Quanto aos ativos de uso, são os bens e direitos que serão utilizados com outras finalidades e estão contidos nos investimentos permanentes, imobilizado e intangível. Estes a empresa não pretende (ao menos na intenção inicial) realizá-los por venda, mas, sim mantê-los na entidade por um longo período de tempo. A disposição das contas no balanço patrimonial deve observar o grau de liquidez dos elementos registrados, na ordem decrescente. Ou seja, primeiro serão dispostos os bens e direitos que têm maior liquidez, entendidos como o potencial do elemento se transformar em moeda no menor tempo possível. Os grupos e subgrupos serão desta- cados como segue: Ativo circulante: são os bens e direitos cuja realização espera-se que ocorra dentro de um período de 12 meses da data-base das demonstrações contábeis. Esse grupo congrega as disponibilidades imediatas (caixa e equivalentes), os cré- ditos a receber (clientes, adiantamentos e funcionários e outros), os estoques e os gastos que beneficiarão exercícios futuros (despesas do exercício seguinte pagas antecipadamente). Disponível: Caixa – nesta conta está classificado o dinheiro em poder da empresa (no cofre) e eventualmente, cheques recebidos e não depositados, ainda não depositados, porém sem nenhuma restrição. Caso o cheque esteja vincu- lado a uma data futura (cheques pós-datados), devem ser classificados em Créditos. Bancos – classificam-se nesta conta os valores depositados em conta corrente, porém de uso imediato, e as aplicações financeiras de liquidez imediata. Créditos: Clientes – compreendem os saldos a receber dos clientes em função de vendas a prazo efetuadas pela empresa. 106 Duplicatas descontadas – trata-se de duplicatas já descontadas junto às instituições financeiras e aparecem no balanço como contas redutoras das duplicatas a receber. Entretanto, a empresa continua solidária junto ao banco em relação à solvência do cliente. Se este não pagar a duplicata, o banco cobrará diretamente da empresa. Estoques – aqui se encontram os valores relativos a aplicações de recur- sos em mercadorias que serão comercializadas, no caso de atividade co- mercial; quando trata de indústria, temos as matérias-primas, produtos em processo e produtos acabados. Adiantamento a fornecedores – são antecipações de pagamentos feitos a fornecedores por conta de estoques que futuramente serão recebidos. Nesses casos, a empresa tem um direito em relação ao fornecedor, que será exercido quando houver o recebimento efetivo dessas mercadorias. Despesas do exercício seguinte – valores pagos relativos a benefícios que serão usufruídos no futuro, como o seguro sobre bem do patrimônio. Esses valores figuram no ativo porque representam, efetivamente, direitos da empresa em relação àquele com quem foi contratado um serviço cujo be- nefício se dará no futuro. Ativo não circulante: classificam-se neste grupo os valores representativos de bens e direitos que terão uma duração superior a um ano. Realizável a longo prazo: bens e direitos cuja realização ultrapassa o período um ano da data de fechamento das demonstrações contábeis, casos de dupli- catas a receber de longo prazo, depósitos judiciais e outros itens. Neste grupo também se classificam valores relativos a operações não usuais entre a em- presa e suas coligadas e controladas, bem como com seus diretores, sócios e acionistas. Nesses casos essas operações serão classificadas neste grupo inde- pendentemente do prazo de realização esperado, conforme preceitua o artigo 179, inciso II, da Lei 6.404/76. Investimentos: a Lei 6.404/76, em seu artigo 179, inciso III, preceitua que serão classificadas neste grupo as aplicações de recursos em ações e quotas de outras sociedades, com intenção de permanência, ou seja, a estratégia, nesse caso, é diversificar a atividade ou concentrar participação de mercado, rece- bendodividendos das empresas nas quais mantém participação. Imobilizado: é representado por bens corpóreos que serão utilizados para manter a atividade operacional da sociedade. São itens de utilidade que se prolonga no tempo e que servem para oferecer à sociedade a estrutura física necessária para sua operação. Veículos, imóveis, móveis e utensílios, má- quinas, equipamentos e outros são exemplos de itens que pertencem ao imobilizado.A ná lis e da s D em on st ra çõ es C on tá be is e F in an ce ira s I 107 A nálise das D em onstrações Contábeis e Financeiras I Intangível: são os bens e direitos de natureza incorpórea, que se destinam a manter a atividade da empresa. Aqui serão classificadas as marcas e patentes, os gastos para desenvolvimento de novos produtos, o valor do ponto comer- cial adquirido e outros. Passivo O passivo contempla as obrigações da entidade, que podem ser dívidas com ter- ceiros (pessoas estranhas à sociedade) e obrigações com os sócios (patrimônio líqui- do). São as fontes de recursos utilizadas pelas empresas para financiamento de seus gastos e investimentos no ativo. Passivo circulante: no passivo circulante são classificadas as dívidas com tercei- ros cujo vencimento se dará no máximo em um ano a partir da data de elaboração dos relatórios contábeis. Aqui se encontram as obrigações junto a fornecedores (por compra de estoques a prazo), os salários e encargos a pagar, os empréstimos e finan- ciamentos (parcelas vencíveis até um ano) obtidos junto a instituições financeiras e outras contas a pagar. Passivo não circulante: são as obrigações cujo vencimento excede o período de um ano, ultrapassando os 12 meses da data de elaboração das demonstrações contábeis. Empréstimos e financiamentos: são as parcelas das dívidas contraídas junto a instituições financeiras cujo vencimento se dará após o término do exercício social seguinte ou após a decorrência de um ano da data de fechamento. Em regra, financiam investimentos em bens do ativo imobilizado. Patrimônio Líquido No Patrimônio Líquido, também denominado de capital próprio, encontram-se as fontes internas de recursos, oriundas de aportes efetuados pelos sócios e acionistas, sendo a parcela do ativo que pertence a esses investidores. Como é um capital trazido pelos proprietários, é classificado no lado do passivo, por se constituir numa dívida da sociedade em relação a esses proprietários. O Patrimônio Líquido é composto pelo capital social, reservas de capital, re- servas de lucros, ajustes de avaliação patrimonial, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. 108 Capital social: representa o investimento inicial dos proprietários, dividindo-se em ações (no caso de sociedades anônimas) ou quotas (caso das sociedades limitadas), cuja realização (integralização) pode se dar em dinheiro ou em outros ativos que sejam aceitos pela sociedade. A participação do sócio no capital social é determinada pelo percentual que este possui de ações ou quotas em relação ao total dessas ações ou quotas que representam o capital social. Regra geral, a responsabilidade do proprietário é limitada à sua participação no capital. In- tegralizada sua parte das ações ou quotas adquiridas, a responsabilidade pelas obrigações contraídas é da sociedade, não atingindo a pessoa do sócio. Reservas de Capital: refere-se a recursos recebidos pela empresa e que não transitam pelo resultado, porém não estão vinculados a uma entrega futura de bens ou prestação de serviços. Portanto, serão classificadas como reservas de capital os valores captados na venda de ações que ultrapassam o seu valor nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal. Também serão classificados nesta conta o produto da venda de partes beneficiárias e bônus de subscrição. Reservas de lucros: referem-se a lucros obtidos pela entidade e não distri- buídos, sendo destinados a um fim específico. Exemplo seria a reserva legal, que por imposição da Lei 6.404/76 deverá ser constituída no percentual de 5% sobre o lucro do exercício. Muitas vezes a empresa entende que deverá proceder a retenções lucros, também com objetivos específicos, como as re- servas para contingência, reservas de lucros a realizar, reservas estatutárias e incentivos fiscais. Prejuízos acumulados: esta conta contempla os valores relativos a resultados negativos incorridos pela empresa. Demonstração do Resultado do Exercício O resultado da empresa (lucro ou prejuízo) é demonstrado no relatório denomi- nado Demonstração do Resultado do Exercício. Este relatório informa, por competên- cia, o total das receitas obtidas e despesas incorridas num determinado período. Como visto anteriormente, é uma demonstração obrigatória por força da Lei 6.404/76. Seu formato apresenta-se de modo dedutivo, onde primeiramente serão infor- madas as receitas de vendas e serviços e, em seguida, serão contempladas as despe- sas que contribuíram para a formação do resultado de um período contábil. Deve ser gerada mensalmente para que o gestor possa acompanhar, mês a mês, o desempenho da organização e seu reflexo no resultado econômico. A ná lis e da s D em on st ra çõ es C on tá be is e F in an ce ira s I 109 A nálise das D em onstrações Contábeis e Financeiras I Permite aos gestores o estudo sistemático da estrutura, formação e composição do resultado de um determinado exercício social. A análise da Demonstração do Re- sultado do Exercício permitirá a compreensão da performance econômica e financeira de um determinado negócio, o que se mostra essencial num mercado competitivo e globalizado. As receitas e despesas que compõe a DRE são reconhecidas pelo regime de com- petência, que implica no registro contábil dessas variáveis no período em que ocor- reram e não quando transitam pelo caixa. Receita é a remuneração obtida pela em- presa pelas vendas efetuadas e serviços prestados. As receitas também podem ter origem financeira, casos dos rendimentos sobre aplicações financeiras, juros cobrados dos clientes por recebimentos de duplicatas em atraso e descontos obtidos junto a fornecedores. As despesas, outro componente do resultado, também devem ser reconhecidas segundo o período contábil a que pertencem, regra geral, o período em que os recur- sos foram consumidos com o objetivo de se obter uma receita, devendo ser reconheci- das, portanto, no mesmo momento em que as receitas foram reconhecidas. A confron- tação adequada das receitas e despesas é que determinará a mensuração do resultado no momento em que este é gerado. Regra geral, as receitas devem ser reconhecidas o mais rapidamente possível após a mensuração do aumento de valor, conforme o quadro: Quadro 1 – Reconhecimento de receitas Época de registro Critérios Exemplos Durante a produção Estabelecimento de um preço firme base- ado num contrato ou em condições gerais de negócio, ou existência de preços de mercado em vários estágios de produção. Contratos a longo prazo; crescimento natural. Na conclusão da pro- dução Existência de preço de venda determiná- vel ou preço de mercado estável. Não há custo substancial de venda. Metais preciosos, produtos agrícolas, serviços. No momento da venda Preço determinado para o produto. Mé- todo razoável de estimação do montante a ser recebido. Estimação de todas as despesas significativas associadas. Maioria das vendas de mercadorias. No momento do paga- mento Impossível avaliar ativos recebidos com grau razoável de exatidão. Despesas adi- cionais significativas prováveis, que não podem ser estimadas com grau razoável de precisão no momento da venda. Vendas à prestação, troca por ativos fixos sem valor determinável com precisão. Ér ic o El eu té rio d a Lu z. 110 A Lei 6.404/76 em seu artigo 187 determina que a Demonstração do Resultado do Exercício seja estruturada na ordem de apresentação das receitas, custos e despe- sas. O seu parágrafo 1.º define dois aspectos fundamentais (observânciado regime de competência) que devem ser observados pela contabilidade no reconhecimento das receitas, custos e despesas: §1.º Na determinação do resultado do exercício serão computados: As receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda e Os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos. (Lei 6.404/76, Art. 187) O modelo da Estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício é aquele que prevê a disposição das contas de forma dedutiva, iniciando-se pela receita bruta, como se vê a seguir: Tabela 2 – Modelo simplificado de DRE Receita Bruta de Vendas ( - ) Deduções da Receita Bruta (Impostos sobre vendas, Devoluções, Abatimentos) = Receita Líquida de Vendas ( - ) Custo das Mercadorias Vendidas = Resultado Bruto (Lucro ou Prejuízo) ( - ) Despesas Operacionais Despesas Gerais e Administrativas Despesas Comerciais Outras Receitas e Despesas Operacionais Resultado da Equivalência Patrimonial = Resultado Operacional antes dos efeitos financeiros (+/-) Encargos Financeiros Líquidos (Despesas Financeiras deduzidas das Receitas Financeiras) = Resultado Operacional (Lucro ou Prejuízo) antes dos tributos sobre o lucro ( - ) Despesa com Provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social = Lucro ou Prejuízo Líquido das Operações Continuadas (+/-) Vendas/Custos (Vendas de itens do não circulante) Resultado de Operações Descontinuadas Participações (Debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias) Resultado Líquido do Exercício Pode-se perceber que a estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício permite a possibilidade de uma análise gerencial por parte do analista de crédito, pois esse relatório demonstra a geração de resultado em suas várias configurações, como geração bruta, geração operacional e geração líquida. A partir da receita bruta, são dispostos os recursos por área que consumiu esta receita e, com isso, podemos analisar a participação de cada uma dessas áreas (comercial, administrativa e financeira) na alo- cação dos recursos e interpretar as variações ocorridas de um período para o outro. Ér ic o El eu té rio d a Lu z. A ná lis e da s D em on st ra çõ es C on tá be is e F in an ce ira s I 111 A nálise das D em onstrações Contábeis e Financeiras I Conteúdo das contas Receita Bruta de Vendas: é a soma de todas as vendas, à vista ou a prazo, reali- zadas pela empresa durante todo o período. A receita de vendas é registrada na data de sua ocorrência, independentemente de ter sido recebida ou não. O registro é feito sempre pelo valor total de venda, sem dedução de impostos ou custos. Impostos sobre Vendas: são os tributos que incidem de forma direta e proporcio- nal sobre a receita bruta, tais como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS (Programa de Integração Social), Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) e ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza). Incidem em determinados percentuais sobre o valor da receita de vendas e serviços. Receita Líquida de Vendas: é o valor da receita de vendas e serviços, já deduzida dos tributos incidentes sobre a receita bruta e líquida de eventuais descontos incon- dicionais concedidos aos clientes e devoluções de mercadorias. Esse valor da receita é aquele que efetivamente gera caixa para empresa. É a conta de receita mais importan- te para a análise financeira, pois gera os recursos financeiros para gerenciamento do fluxo de caixa. Custos de Produtos Vendidos, Serviços Prestados e/ou Mercadorias Vendi- das: são os valores relativos aos custos incorridos para compra das mercadorias (ativi- dade comercial) fabricação (atividade industrial) ou prestação dos serviços (atividade de prestação de serviços). Despesas Gerais e Administrativas: nessas contas são contabilizados todos os recursos consumidos para que a empresa possa administrar sua atividade e vender seus produtos e prestar o serviço. Aparecem na Demonstração do Resultado identi- ficados por área, porém é essencial uma análise também por natureza de gasto (des- pesas com pessoal, com energia elétrica, aluguel etc.) para que se possa compreender quanto cada um desses recursos consumiu da receita líquida e também verificar as variações ocorridas entre determinados períodos. Recomenda-se uma análise mensal. Despesas Comerciais: são despesas diretamente associadas às atividades de vendas e administração de vendas. Devem ser analisadas por área e por natureza, como comissões de vendas, publicidade, propaganda, promoções etc. Uma despe- sa que também é específica da área comercial é aquela relacionada com a provisão para eventuais perdas de créditos com clientes, a provisão para créditos de liquidação duvidosa. Equivalência Patrimonial: esta conta registra os ganhos e perdas pelas partici- pações da empresa no capital de outras sociedades. É a parte do lucro da investida 112 que pertence à investidora. Muitas vezes a empresa compensa um baixo resultado em sua atividade operacional por ganhos obtidos em outras atividades nas quais mantém participação societária. Resultado Operacional antes dos Efeitos Financeiros: esta rubrica informa o resultado obtido da atividade operacional sem os efeitos dos ganhos e perdas oriun- das da atividade financeira da empresa (captação e aplicação de recursos financeiros). Mensura o lucro ou prejuízo das atividades de compra, produção, vendas e administra- ção da sua estrutura. Esse resultado permite a compreensão de qual é o resultado da atividade sem a dependência dos recursos via empréstimos e financiamentos bancá- rios, por exemplo. Despesas Financeiras: são os encargos financeiros sobre empréstimos ou finan- ciamentos, juros pagos por pagamentos efetuados com atraso e descontos concedi- dos aos clientes. Receitas Financeiras: representam rendimentos sobre ativos, tais como aplica- ções financeiras, empréstimos concedidos e outros. Variações Cambiais ativas e passivas: são reflexos das perdas ou ganhos cam- biais incidentes sobre ativos e passivos atrelados a moedas estrangeiras. Resultado Líquido do Período: é o lucro ou prejuízo do exercício (mês, trimestre, ano) líquido, inclusive dos efeitos tributários. A tributação sobre o resultado compre- ende o imposto de renda pessoa jurídica e a contribuição social sobre o lucro líquido. Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados mostra as alterações havidas na conta de Lucros ou Prejuízos Acumulados, conta esta que pertence ao Patrimônio Líquido. Portanto, sua função restringe-se a evidenciar as movimentações numa conta do Patrimônio Líquido. Sua obrigatoriedade está prevista no artigo 176, inciso II da Lei 6.404/76, que assim se expressa: Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: [...] II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; Sua estrutura e composição estão previstas no artigo 186 da Lei das Sociedades por Ações, que determina: A ná lis e da s D em on st ra çõ es C on tá be is e F in an ce ira s I 113 A nálise das D em onstrações Contábeis e Financeiras I Art. 186. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados discriminará: I - o saldo do início do período, os ajustes de exercícios anteriores e a correção monetária do saldo inicial; II - as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício; III - as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao capital e o saldo ao fim do período. Entretanto, ela poderá deixar de ser elaborada e publicada caso seja substituída pela Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, conforme teor do parágrafo2.º do citado artigo 186: A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá indicar o montante do dividendo por ação do capital social e poderá ser incluída na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela companhia. Na estrutura da DLPA deverão ser obrigatoriamente discriminados os seguintes itens: O saldo do início do período e os ajustes de exercícios anteriores; As reversões de reservas e o lucro líquido do exercício; As transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorpora- da ao capital e o saldo ao fim do período. Ajustes de Exercícios Anteriores: devem ser considerados tão somente aqueles decorrentes de efeito da mudança de critério contábil, ou caso seja necessário, uma retificação de erro seja imputado a exercício social anterior, desde que não possam ser atribuídos a fatos subsequentes. Reversões e Transferências para Reservas: são alterações nas contas de reser- vas e que serão transferidas para Lucros Acumulados e, posteriormente, destinados a reservas, ao uso ou distribuição. Lucro ou Prejuízo Líquido do Exercício: representa a incorporação contábil do lucro ou prejuízo do exercício para a conta de Lucros Acumulados e, posteriormente, destinados a reservas, ao uso ou distribuição. Entretanto, podemos afirmar que a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumu- lados está praticamente deixando de ser utilizada, pois as empresas, em sua grande maioria, optam por incluí-la na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, conforme facultado pelo §2.º do artigo 186 da Lei 6.404/76. 114 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) Esta demonstração evidencia todos os eventos que modificaram o Patrimônio Líquido de um período para o outro, denotado pelas movimentações das contas do Patrimônio Líquido. Exemplos desses eventos são: lucro, o aumento de capital com integralização pelos sócios ou distribuições de dividendos. Apresenta-se, a seguir, um modelo simplificado de Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL): Histórico Capital Social Reservas de Capital Reservas de Lucro Prejuízos Acumulados Total Saldos iniciais Ajustes de exercícios anteriores Aumento de capital Reversões de reservas Lucro líquido do exercício Proposta da Adminis- tração de destinação do lucro Saldo final Demonstra as movimentações nas contas componentes do patrimônio líquido e é uma informação importante para se entender a movimentação do capital dos pro- prietários no período. Os aumentos e reduções do patrimônio líquido serão analitica- mente contemplados nesse relatório, que embora não seja obrigatório (a lei societária exige a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados), se for gerado substituirá a DLPA, por ser mais abrangente. A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido complementa os demais dados constantes do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercí- cio, indicando igualmente a constituição e a utilização de todas as reservas, sendo útil sobremaneira para cálculo do dividendo obrigatório. Mutações nas contas patrimoniais Iudícibus et al. (2010, p. 558), indicam as movimentações que comumente encon- tramos nesse relatório: A ná lis e da s D em on st ra çõ es C on tá be is e F in an ce ira s I 115 A nálise das D em onstrações Contábeis e Financeiras I 1. Itens que afetam o patrimônio total: 1.1 - acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício; 1.2 - redução por dividendos; 1.3 - redução por pagamento ou crédito de juros sobre o capital próprio; 1.4 - acréscimo por reavaliação de ativos – nos casos previstos na lei; 1.5 - acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos (após transitarem pelo resultado); 1.6 - acréscimo por subscrição e integralização de capital; 1.7 - acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor nominal; 1.8 - acréscimo pelo valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; 1.9 - acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures (após transitar pelo resultado); 1.10 - Redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda; 1.11 - Acréscimo ou redução por ajuste de exercícios anteriores. 1.12 - Redução por reversão da Reserva de Lucros a Realizar para a conta de dividendos a pagar. 1.13 - Acréscimo ou redução por outros resultados abrangentes; 1.14 - Redução por gastos na emissão de ações; 1.15 - Ajuste de avaliação patrimonial; 2. Itens que não afetam o total do patrimônio: 2.1 - Aumento de capital com utilização de lucros e reservas; 2.2 - Apropriações do lucro líquido do exercício, por meio da conta Lucros Acumulados, para formação de reservas, como Reserva Legal, Reserva de Lucros a Realizar, Reserva para Contingência e outras; 2.3 - Reversões de reservas patrimoniais para a conta de Lucros ou Prejuízos acumulados (conta transitória); 2.4 - Compensação de prejuízos com Reservas e outras. Texto complementar Contabilidade: a medicina empresarial! (AQUINO, 2013) Para muitas pessoas, a Contabilidade é apenas uma despesa no centro de custos das empresas, ou um escritório. Para cumprir as obrigações acessórias e manter as escriturações dos fatos contábeis e fiscais. Para outros o contador é apenas o guarda livros. Vejo a contabilidade da mesma forma que vejo a medicina cuidando de pes- soas físicas, só que cuidamos de pessoas jurídicas, com grandes responsabilidades e capacidade para aumentar e valorizar os ativos destas. Quando uma pessoa tem algum problema de saúde, ou apenas quer fazer um check-up para identificar ou avaliar as condições físicas, procuram especialistas mé- dicos para examinar e diagnosticar as condições da saúde, assim também as empre- 116 sas quando querem avaliar e diagnosticar seus negócios procuram um especialista como: controllers, contadores, auditores, peritos, gestores, entre outros. Cuidamos de empresas, organismo composto por sistemas. Segundo Lodi (apud CATELLI, 2001) na Teoria dos Sistemas: [...] elabora princípios gerais, sejam fí- sicos, biológicos ou sociológicos, e modelos gerais para qualquer das ciências en- volvidas. [...] Ela também veio preencher o vazio entre elas, pois há sistemas que não podem ser entendidos pela investigação separada e disciplinar de cada uma de suas partes. Só o todo possibilita explicação. Por isso se diz também que a Teoria dos Sistemas é uma ciência da totalidade.1 Esse conceito vem ganhando força, pois cada vez mais as empresas são analisa- das como sistemas, compostas por subsistemas, ao mesmo tempo que fazem parte de um sistema maior, a sociedade. Desde que o frade franciscano Frá Luca Paciolo lançou seu tratado de escri- turação de contas no final do século XV, os estudos e tratamento da contabilidade evoluíram muito. Hoje em dia, com a otimização dos sistemas e das informações, temos mais rapidez e precisão nas informações prestadas aos clientes e ao fisco, seja por meio de demonstrações como o Balanço Patrimonial, uma DRE, DFC, DVA, DLPA, DMPL, Análise Vertical e Horizontal, entre outras ferramentas que temos disponíveis como instrumentos de trabalho, a fim de demonstrar aos nossos clientes a posição da saúde dos negócios das empresas, auxiliando com informações nas tomadas de decisões, prestação de declarações e avaliando o patrimônio empresarial. A adoção desde 2007, da Lei 11.638 que modificou a Lei 6.404/76, introduziu alterações nas normas societárias, tornando-se compatível as normas internacionais de contabilidade, conhecidas como IFRS (International Financial Reporting Stan- dards), nosso mercado tem se equiparado aos países europeus e aos EUA, a fim de atender as necessidades do mercados de capitais e facilitar o entendimento quando compararmos com as demonstrações de outros países. Com a evolução das empresas, dos contextos econômicos, a contabilidade têm se colocado de frente às tendências, a fim de auxiliar as empresas no desenvolvi-mento empreendedor e financeiro dos empresários. Temos buscado auxiliar nossos clientes nas tomadas de decisões, cumprir as exigências impostas pelas leis em vigor, evitar fraudes e sanções por meio do fisco, de modo que evitem vícios e erros adotados por gestores e empresários. 1 CATELLI, Armando. Controladoria: uma abordagem da gestão econômica – Gecon. 2.ª ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 36. A ná lis e da s D em on st ra çõ es C on tá be is e F in an ce ira s I
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