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- -1 TEORIAS DO DISCURSO RELAÇÕES DE SENTIDO ENTRE AS PALAVRAS III - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1.Estudar as informações implícitas e explícitas em um texto. 2. Compreender a diferença entre pressuposição e acarretamento. 3. Aprender o que são a ambiguidade lexical e a ambiguidade sintática. 4. Distinguir homonímia de polissemia. 5. Compreender os conceitos de heteronímia e hiponímia. 6. Analisar propagandas e charges, de modo a compreender a significação nesses textos. 1 Introdução Quando consideramos a construção do significado, devemos observar as pessoas envolvidas no ato da comunicação e o propósito comunicativo. É a avaliação do contexto de produção e das palavras utilizadas que nos permitem interpretar corretamente um texto. Muitas informações são pressupostas por meio de elementos linguísticos. Como a linguagem humana é polissêmica, os signos vão ganhando seu valor no uso, nas relações com outros signos e sofrem alteração de significado de acordo com o contexto. Essa construção de sentido ocorre tanto quando consideramos os fenômenos do acarretamento e da pressuposição lógica, quanto ao observamos a ambiguidade presente nas propagandas e que nos levam ao humor ou à reflexão. 2 As informações explícitas e implícitas no texto: A pressuposição A efetiva construção da linguagem para a comunicação depende de quem fala, de que lugar (posição) se fala e com que intenção este texto oral ou escrito é produzido, ou seja, seus usos sociais. Vimos, nos exemplos anteriores, que os fatores linguísticos não são escolhidos aleatoriamente. Observamos que diferentes gêneros textuais vão apresentar propósitos comunicativos distintos. Assim, identificar que temos uma carta de amor, uma bula de remédio, um anúncio acaba sendo importante para construirmos o sentido de um texto. - -3 Além disso, não podemos esquecer que há muitas informações que não são apresentadas linguisticamente, mas que podem ser extraídas dos elementos linguísticos, ou seja, elas são PRESSUPOSTAS. Para entendermos melhor o que se está afirmando, vamos analisar o exemplo a seguir: A reportagem no jornal Leia: Legalidade ambiental na Amazônia, artigo de Carlos Minc Hoje é mais fácil e barato um agente desmatar a floresta nativa do que produzir mais em área degradada. Temos de inverter esse quadro. A degradação ambiental da Amazônia não pode ser enfrentada apenas com o IBAMA e a Polícia Federal. Sem o ordenamento fundiário e o planejamento territorial, sem o incremento da pesquisa [...] 3 As informações explícitas e implícitas no texto: A pressuposição O anúncio publicitário APESAR DE O CADERNO SER PARA TURISTAS NÃO VAMOS AUMENTAR O PREÇO. Novo Viagem do JB. Agora aos domingos. Pode-se concluir que, mesmo quando usamos apenas a linguagem verbal, é possível haver em nossa mensagem um conteúdo implícito. Por exemplo: Se estamos em uma sala muito fria e dizemos para alguém sentado próximo ao controle do ar condicionado “- Nossa! Como está frio!”, embora não tenhamos pedido a essa pessoa, provavelmente, ela irá se oferecer para alterar a temperatura do aparelho. É a compreensão leitora que nos permite interpretar corretamente as informações contidas em um texto. Leia o texto a seguir e pense no pressuposto que ela instaura. Eleições argentinas: Escolha é entre Cristina e o menos pior Presidente é a favorita para vencer já no primeiro turno, enquanto a oposição - fraca e dividida passa praticamente despercebida na preferência dos eleitores. 4 As noções de acarretamento e pressuposição lógica Segundo Muller e Viotti (2003), “Uma sentença acarreta outra, se a verdade da primeira garante, necessariamente, a verdade da segunda, e a falsidade da segunda garante, necessariamente a falsidade da primeira.” No acarretamento, temos uma relação semântica entre sentenças que se relacionam à hiponímia. - -4 Hiperônimo é o termo englobante, ou seja, é uma palavra que apresenta um significado mais abrangente que o hipônimo, termo englobado. Conforme o exemplo apresentado por Muller e Viotti (2003:129) ‘animal’ é o hiperônimo e engloba insetos, répteis etc. ‘Insetos’ será hiperônimo se você considerar que ele engloba baratas, formigas etc. Exemplo: O Juca ouviu um homem cantando. O Juca ouviu uma pessoa cantando. 1º Teste A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Sim. Se Juca ouviu um homem cantando, ele ouviu uma pessoa cantando. (homem = pessoa) 2º Teste O Juca não ouviu uma pessoa cantando. (Se negamos essa sentença, a primeira sentença também se torna falsa, pois se ele não ouviu uma pessoa cantando, não pode ter ouvido uma pessoa cantando). Quando consideramos o acarretamento, o que á pressuposição lógica? Vejamos um exemplo: A – Foi a Maria que tirou 10 na prova B – Alguém tirou 10 na prova Segundo Muller e Viotti (idem), no gabarito do exercício (pág. 254), entre essas duas sentenças tanto há acarretamento, quanto pressuposição. A pressuposição lógica é uma relação entre duas sentenças em que a primeira sentença trata a verdade da segunda sentença como indiscutível. Segundo as autoras, a pressuposição se mantém na negação. Teste: “Não foi a Maria que tirou 10 na prova.” Ainda assim (B) pode ser verdadeira: outro aluno pode ter tirado 10 na prova. Desse modo, sabemos que (A) pressupõe (B). Poderíamos dizer que (A) também acarreta (B)? Sim. 1º Teste A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Sim. Se ‘Maria’ tirou 10, ‘alguém’ tirou 10. 2º Teste Ninguém tirou 10 na prova. (Se negamos essa sentença, a primeira sentença também se torna falsa, pois ‘ninguém’ tirou 10 na prova, ‘Maria’ não pode ter tirado 10.) Vamos analisar mais um exemplo? Só o João sabe o caminho para a cada do Marcelo. Ninguém mais sabe o caminho para a casa do Marcelo. Nesse caso, segundo Muller e Viotti (ib.:255) não temos pressuposição nem acarretamento. Por quê? 1 º Teste Teste para acarretamento: A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Não. (se o primeiro teste falha, já sabemos que não há acarretamento). - -5 2 º Teste Teste para pressuposição: A pressuposição se mantém na negação? Dizer ‘Não é verdade que só o João sabe o caminho para a casa do Marcelo’ significa que ninguém mais saiba o caminho? Não. 5 O Fenômeno da ambiguidade Temos dois tipos de ambiguidade: • Ambiguidade lexical A é um fenômeno linguístico em que a ambiguidade acontece devido ao significadoambiguidade lexical de uma palavra. Esse tipo de ambiguidade é frequente em piadas. Observem os exemplos a seguir: Ilari (2002:12), em , apresenta-nos aIntrodução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras piada a seguir, baseada na ambiguidade lexical. - Como você ousa dizer palavrões na frente da minha esposa? - Por quê? Era a vez dela? • Ambiguidade sintática ou estrutural Há outro tipo de ambiguidade, que é a ambiguidade estrutural. Esse tipo de ambiguidade ocorre quando: A - A sentença aceita duas análises sintáticas diferentes. Exemplo: Os pais e os professores empenhados farão um Senado mais digno. (não se sabe se “empenhados” modifica pais e professores ou apenas professores.) B - Um mesmo pronome aceita dois antecedentes. Exemplo: Ele gosta da sua casa. (dependo do referente mencionado anteriormente, não se sabe se o pronome “sua” refere-se ao interlocutor ou a algum referente já mencionado). Vamos fazer um exercício? Discuta a ambiguidade no diálogo a seguir retirado de Ilari (2002:12), em Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras. Indivíduo A - Não deixe sua cadela entrar em minha casa. Ela está cheia de pulgas. Indivíduo B - Fifi, não entre nessa casa. Ela está cheia de pulgas. Depois de considerar a ambiguidade envolvida, discuta essa questão com seu professor on-line. • • - -6 Vamos fazer um exercício? Discuta a ambiguidade no diálogo a seguir retirado de Ilari (2002:12), em Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras. O que estabelece o duplo sentido na propagandaacima? O uso do substantivo ‘coroa’ que tanto pode significar a coroa de flores enviada para funerais, quanto uma mulher de mais idade. Mas por que o substantivo ‘coroa’ gerou esse duplo sentido? Porque ‘coroa’ é um substantivo polissêmico. Vejamos, a seguir, o que é ‘polissemia’. 6 Polissemia Na polissemia, há uma só forma com mais de um significado unitário, pertencentes a campos semânticos diferentes. A polissemia opera no plano do significado: Temos mais de um significado para os mesmos significantes; Cada um desses significados é preciso e determinado. Exemplos: A - Pregar: Um sermão; Uma bainha de roupa; Um prego. B - Cabo: Militar; Parte de instrumento. A linguagem humana é polissêmica: Os signos, sendo arbitrários e ganhando seu valor nas relações com outros signos, sofrem alteração de significado de acordo com o contexto. A polissemia depende do fato dos signos serem usados em contextos diferentes. Vejamos a charge a seguir: - -7 Fonte: Fonte: http://ast.tc/gd54qs Observando-a, temos o uso polissêmico do verbo ‘andar’ na estrutura ‘andei pensando’ e a ironia na fala da secretária, motivada pela interpretação, separadamente, dos verbos ‘andar’ e ‘pensar’. Atenção! Platão e Fiorin em Lições de texto: Leitura e redação comentam que “Um texto pode ter várias leituras, bem como pode jogar com leituras distintas para criar efeitos humorísticos. Entretanto, o leitor não pode atribuir-lhe o sentido que bem entender. Ele contém marcas de possibilidades de mais de um plano de significação. A primeira são as palavras com mais de um significado. Elas são chamadas , pois apontam para mais de um plano derelacionadores de leituras sentido.” (2001:129) 7 Homonímia (Grego homónymos = que tem o mesmo nome) Definição I “Propriedade de duas ou mais formas inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos na mesma ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação; Exemplo: Um homem são; São Jorge; São várias as circunstâncias [...]” (Bechara: 2000,403) Definição II Rocha Lima: “A rigor, só deveriam ser consideradas como tais, aquelas palavras que, tendo origem diversa, apresentassem a mesma forma, em virtude de uma coincidência na sua evolução fonética.” (1998, 36ªed.: 487) - -8 Atenção: Há homônimos que apesar de terem os mesmos fonemas se escrevem de forma diferente. Exemplos: Espiar e expiar; coser e cozer; sessão, seção e cessão etc. A homonímia opera no plano do significante: Coincidência de significantes de palavras com significados distintos. Critério: etimologias diferentes (explicação diacrônica). Apesar de terem origens diversas, apresentam a mesma forma por coincidirem na evolução fonética. No entanto, sincronicamente o critério etimológico é considerado irrelevante. Exemplos: Manga (fruta: tâmul mankay – fruto da mangueira) Manga (camisa: Lati m manica = parte da vestimenta que cobre os braços). Sonorização de /k/ em /g/ - passaram a ter significantes idênticos. Bechara (2000: 403) nos apresenta os seguintes critérios para distinguir polissemia (Uma palavra com dois ou mais significados) e homonímia (Duas palavras distintas com idênticos fonemas): Critério histórico-etimológico: É o que fazem os dicionários. Consciência linguística dos falantes Critério das relações associativas. Critério dos campos léxicos. 8 Fechamento Para concluir esta aula, é importante ressaltar que as relações de sentido entre as palavras ocorrem em diversos cenários da linguagem, cabe ao leitor saber identifica-los para enriquecer ainda mais os seus conhecimentos. Até a próxima aula! O que vem na próxima aula Na próxima aula, você estudará sobre os seguintes assuntos: • a coerência textual. Saiba mais Leia: Polissemia e homonímia: Uma análise comparativa à luz da linguística moderna - Tadeu Luciano Siqueira Andrade. • http://www.filologia.org.br/anais/anais%20iv/civ03_53-68.html - -9 • a coerência textual. • os fatores de coerência. • a importância da coerência para o estabelecimento do sentido. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • compreendeu as informações implícitas e explícitas em um texto; • estudou a diferença entre pressuposição e acarretamento; • distinguiu a ambiguidade lexical e a ambiguidade sintática; • compreendeu os conceitos de homonímia de polissemia; • distinguiu os conceitos de heteronímia e hiponímia; • analisou propagandas e charges de modo a compreender a significação nesses textos. • • • • • • • • • Olá! 1 Introdução 2 As informações explícitas e implícitas no texto: A pressuposição 3 As informações explícitas e implícitas no texto: A pressuposição 4 As noções de acarretamento e pressuposição lógica 5 O Fenômeno da ambiguidade Ambiguidade lexical Ambiguidade sintática ou estrutural 6 Polissemia 7 Homonímia 8 Fechamento O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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