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Teorias do Discurso - Conteúdo Online

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TEORIAS DO DISCURSO 
AULA 1 – LINGUAGEM, SIGNO E SENTIDO 
Nosso objetivo, nesta aula, será mostrar como fazer uso de certos aspectos gramaticais no 
processo de construção de sentido do texto. Entendemos que a leitura é uma atividade de 
produção de sentido. Quando lemos um texto, fazemos uso de dois tipos de conhecimento: 
Conhecimento lingüístico → Conhecimento extralingüístico 
Desse modo, vocabulário, estruturas sintáticas complexas, emprego incorreto dos conectivos, 
ausência ou emprego de sinais de pontuação são alguns dos fatores linguísticos que podem 
trazer significado e auxiliar na compreensão do texto. Nesse processo, o nosso conhecimento 
de mundo é importante, pois é também por meio dos fatores extralinguísticos que 
conseguimos compreender esse universo que nos cerca. 
A Noção de Traços Semânticos 
Um signo linguístico é composto por significante e significado e essa relação é utilizada 
quando nos comunicamos, de modo a construir o sentido. Dizemos, por exemplo: 
“Ele é uma mala”. 
Baseados no fato de uma mala ser algo pesado e inconveniente de se carregar. 
 Não está aí, nesse uso de „mala‟, uma nova relação entre significante e significante? 
 Mas, apesar disso, essa relação não se baseia nas características primárias do signo? 
Quando analisamos a palavra „mala‟, percebemos que o objeto que ela representa possui 
traços, ou seja, pode ser decomposta em traços semânticos mínimos chamados „semas‟. Um 
sema: 
A. Define um conceito, ou seja, o conteúdo de um signo. 
B. Distingue conceitos entre si, ou seja, mostra, por exemplo, a diferença entre uma mala 
e uma bolsa. 
C. Estabelece relações conceituais entre as palavras, ou seja, define as relações entre os 
vocábulos de uma língua. 
Quando alguém escolhe uma palavra para, por exemplo, escrever um poema, essa escolha 
não é aleatória. Pietroforte e Lopes (2003:122-23), no capítulo A semântica lexical, nos 
apresentam dois poemas que utilizam o substantivo faca, e por meio da análise apresentada 
pelos autores podemos perceber que há traços no substantivo faca que justificam sua escolha. 
Vejamos agora esses dois trechos: 
A escola das facas 
O alísio ao chegar ao Nordeste 
baixa em coqueirais, canaviais; 
cursando as folhas laminadas, 
se afia em peixeiras, punhais. 
 
Por isso, sobrevoada a Mata, 
suas mãos, antes fêmeas, redondas, 
ganham a fome e o dente da faca 
com que sobrevoa outras zonas. 
 
O coqueiro e a cana lhe ensinam, 
sem pedra-mó, mas faca a faca 
como voar o Agreste e o Sertão: 
mão cortante e desembainhada. 
(Extraído de Melo Neto, João Cabral. A escola das facas. (1975-1980). In. A educação pela 
pedra e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. (pág. 109) 
 
As facas pernambucanas 
O Brasil, qualquer Brasil, 
quando fala do Nordeste, 
fala da peixeira, chave 
de sua sede e de sua febre. 
Mas não só praia é o Nordeste, 
ou o Litoral da peixeira: 
também é o Sertão, o Agreste 
sem rios, sem peixes, pesca. 
No Agreste e Sertão, a faca 
não é a peixeira: lá, 
se ignora até a carne peixe, 
doce e sensual de cortar. 
Não dá peixes que a peixeira, 
docemente corta em postas: 
cavalas, perna-de-moça, 
carapebas, serras, ciobas. 
 
Lá no Agreste e no Sertão 
é outra a faca que se usa: 
é menos que de cortar, 
é uma faca que perfura. 
O couro, a carne-de-sol, 
não falam língua de cais: 
de cegar qualquer peixeira 
a sola em couro é capaz. 
Esse punhal do Pajeú, 
faca-de-ponta só ponta, 
nada possui da peixeira: 
ela é esguia e lacônica. 
Se a peixeira corta e conta, 
o punhal do Pajeú, reto, 
quase mais bala que faca, 
fala em objeto direto. 
(Extraído de Melo Neto, João Cabral. A escola das facas. (1975-1980). In. A educação pela 
pedra e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. (p. 117-18) 
Nos poemas de João Cabral de Melo Neto temos o uso do substantivo „faca‟, que aparece em 
diferentes dicionários como „instrumento‟, ou seja, algo que depende do homem para 
funcionar, para existir. 
Será que teríamos o mesmo efeito se tivéssemos escolhido, por exemplo, um garfo ou uma 
colher? Tenho certeza de que não! 
Análises 
Acredita-se que o código verbal represente a possibilidade de comunicação mais comum e 
democrática na sociedade. Selecionamos alguns exemplos para mostrar como utilizamos as 
informações implícitas e explícitas na compreensão de um texto. 
1. O Anúncio Publicitário 
Vejamos agora esse anúncio do SINAF, empresa que presta assistência funeral. Ele apresenta 
um verbo no imperativo, indicando, neste caso, uma sugestão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para entender o anúncio, é preciso acionar um conjunto de conhecimentos extralinguísticos. 
Ao fazer uso do adjunto adverbial “de olhos fechados”, o destinatário consegue entender o 
que isso significa ao analisar o anúncio e saber que se trata de um anúncio de um seguro de 
vida. 
Por esta razão, há um jogo de palavras, muito comum na linguagem publicitária, pois 
poderíamos pensar no significado denotativo, ou seja, no significado real da expressão “de 
olhos fechados” e no sentido conotativo, ou seja, no seu sentido figurado, significando 
“morto”. 
2. A Manchete de Jornal 
MANCHETE 1 
Imposto para investidores estrangeiros atinge também os brasileiros 
As manchetes de jornal têm como característica uma linguagem de caráter informativo. No 
exemplo acima, percebemos o verbo sendo utilizado no presente do indicativo, ausência de 
determinativos no sintagma nominal (vejam que não há determinativos no sintagma “imposto 
para investidores estrangeiros”) etc. 
Em relação ao uso de adjetivos e advérbios, é possível perceber, nas manchetes de jornal, um 
cuidado muito grande na utilização desses elementos por conta do seu valor retórico. Quando 
se diz “uma linda menina”, o autor da frase já apresenta a sua opinião sobre a referida 
menina. 
A aparente neutralidade do jornal pode ser vista também no exemplo (6). Como os jornais, 
muitas vezes, não querem se comprometer veiculando informação incorreta, pode-se 
modalizar a escrita. 
MANCHETE 2 
BC poderá liberar conta em moedas estrangeiras (Jornal o Globo, 31/10/2009) 
O uso da construção, verbo modal “poder” seguido de verbo no infinitivo, é uma estratégia 
utilizada pelos falantes quando querem amenizar um fato ou quando não apresentam uma 
certeza acerca do que afirmam. Por exemplo, dizer: “Faça isso!” promove um efeito diferente 
do que dizer “Você poderia fazer isso?”. 
A primeira forma, certamente, será entendida pelo ouvinte/leitor como uma ordem; a 
segunda, como um pedido. 
MANCHETE 3 
DO GALEÃO AO CENTRO, UMA VIA-CRÚCIS PARA OS TURISTAS. 
Mau cheiro, miséria, risco de bala perdida são as boas-vindas do Rio (Jornal do Brasil, 
06/08/2009, pág. A11) 
Percebe-se, na manchete apresentada, o uso da palavra via-crúcis, uma referência ao 
caminho percorrido por Cristo, também chamado de „via dolorosa‟. 
Essa expressão pressupõe uma ideia do que seja chegar ao Rio de Janeiro. Houaiss (2007), no 
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, aponta que „via-crúcis‟ é usada em sentido figurado 
para indicar “grave provação; conjunto de terríveis experiências” (pág. 2.855). 
Além disso, temos o uso do sintagma „do Rio‟ para complementar o substantivo boas-vindas. 
Observe-se que o redator da manchete não escreveu „boas-vindas ao Rio‟ e sim „boas-vindas 
do Rio‟, valendo-se da preposição „de‟ indicativa de posse. Observamos a importância da 
utilização da preposição para a veiculação de um sentido no texto. 
3. Artigo de Opinião 
“Por depoimentos colhidos de transeuntes, percebeu-se que a polícia carioca atuou de forma 
intrépida e eficiente no combate aos traficantes da Rocinha. Lamentavelmente, o êxito na 
repreensão ao ataque dos bandidos não representa promessa de paz duradoura na região. 
Não é excesso de pessimismo concluir que a paz e a ordem foram devidamente estabelecidas 
– mas ambas são provisórias.” (Adaptado de Jornal O Globo, 27/03/2009, Luiz GarciaFaz falta 
uma velhinha). 
O artigo de opinião caracteriza-se por ser um texto que contém informações, no entanto, 
esses textos carregam opiniões. A intenção central do exemplo apresentado é dar uma opinião 
acerca da atuação da polícia carioca no combate aos traficantes de uma favela no Rio de 
Janeiro. O autor expõe seus argumentos em defesa da sua opinião. 
Diferentemente do que acontece em uma notícia de jornal, o autor permeia seu texto de 
adjetivos (“intrépida”, “eficiente”, “duradoura”, “provisórias”) e advérbios 
(“lamentavelmente”), o que reforça o seu valor retórico. Retomando a importância em se 
observar a escolha de palavras para compreender as intenções de quem deseja transmitir uma 
mensagem, observemos a manchete a seguir. 
4. A Piada 
Eu costumava odiar ir a casamentos porque havia sempre aquele momento no final da 
cerimônia, em que todas as avós e tias vinham a mim e davam-me uma cotoveladinha e 
diziam com um ar melado: 
"O próximo é você!" 
Mas pararam de fazer isso quando eu passei a fazer-lhes a mesma coisa nos funerais! 
Na piada, dizer “O próximo é você!” e não “Você é o próximo!” promove um efeito expressivo 
diferente. Em relação à concordância do verbo ser, vimos que este sempre concordará com o 
pronome pessoal. No caso apresentado, “você” exerce a função de pronome pessoal de 
segunda pessoa; por isso, o verbo „‟ser‟‟ irá concordar com ele. 
Fonte da piada: http://www.orapois.com.br/humor/piadas/outras-piadas/eu-costumava-odiar-
ir-a_id28686_p0_mc0.html 
A língua apresenta sempre uma linearidade, ou seja, uma palavra vem após a outra, 
necessariamente, porque se desenrola em uma sucessão temporal. 
Esta linearidade não deve ser confundida com a ordem das palavras no sintagma ou dos 
sintagmas na oração. Como já dissemos, a ordem das palavras não é arbitrária. 
Ao contrário, obedece a certos padrões de colocação, que não só contribuem para estabelecer 
as diferenças entre as línguas, mas indica um estilo do falante, um efeito de expressividade. 
Leia a manchete a seguir. 
Na tirinha apresentada, podemos perceber a importância do conhecimento da influência do 
inglês sobre as línguas do mundo, para que possamos construir o sentido do texto, além dos 
usos de linguagem verbal e de linguagem não verbal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. A Tirinha 
Avaliemos a forte crítica social desta tirinha. A personagem Mafalda acompanha o senhor de 
uniforme com o cartaz „Não funciona‟ na mão. Ao vê-lo pendurar a placa em um telefone 
público, ela se decepciona. Esperava que a placa fosse pendurada na humanidade. Longe de 
apresentar humor, essa tira nos leva a refletir sobre nosso papel como membros dessa 
humanidade, não acham? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. A Charge 
 
 
 
 
 
 
 
É preciso enfatizar que a compreensão ampla do texto se dá ao conhecermos o contexto de 
produção e sabermos quem são nossos interlocutores, ou seja, quem são as pessoas para as 
quais escrevemos, e qual é o nosso propósito comunicativo. A charge acima é de 
compreensão relativamente simples, haja vista os problemas que ocorrem com frequência no 
Rio de Janeiro. 
Observando a mistura de linguagem e de linguagem não verbal, um leitor atento deve 
perceber na „fala‟ da bala, uma ironia já que ela, „educadamente‟, utiliza o pronome de 
tratamento „senhor‟ e modaliza o discurso com o uso de „poderia‟. 
Pode-se perceber a utilização do ponto de interrogação seguido do ponto de exclamação 
marcando, concomitantemente, entoação interrogativa e exclamativa. O advérbio “meio” 
usado invariavelmente, o que vai ao encontro do estabelecido pela norma. 
No entanto, há outras charges que dependem do conhecimento do interlocutor acerca de 
certos contextos, como o contexto político. 
Fechamento 
A leitura é uma atividade de produção e sentido que proporciona o conhecimento em seus 
diversos campos. É fundamental que a comunicação e a linguagem estejam alinhadas de 
acordo com a evolução linguística que estamos vivendo nos dias de hoje, para melhor 
compreendermos os diversos fatores de um discurso/texto que transformam e proporcionam o 
desenvolvimento intelectual humano. 
AULA 2 – AS RELAÇÕES ENTRE AS PALAVRAS I 
Figuras de Linguagem 
Figuras de linguagem têm um papel estilístico, ou seja, devem ser usadas de modo a tornar 
nossas mensagens mais eficientes. Muito presentes nas letras de músicas e propagandas, as 
figuras de linguagem são exploradas sempre com o objetivo de chamar nossa atenção! Você 
vai ver a seguir, as principais figuras de linguagem. 
Figuras de Palavras 
Resultam da substituição de uma palavra por outra, ou seja, do emprego figurado, simbólico, 
de uma palavra por outra. 
 Metáfora 
É uma figura de linguagem que reside na alteração do sentido de uma palavra ou expressão, 
pelo acréscimo de um segundo significado. A valorização positiva ou negativa é outra fonte de 
inúmeras metáforas: Minha gata, minha flor, uma vaca, um burro, uma besta. 
 Hipérbole 
Considerada por Rocha Lima (1998:503) como um tipo de metáfora, é a expressão 
intencionalmente exagerada com o intuito de realçar uma ideia. 
Exemplo: 
A alvorada do amor 
(Olavo Bilac) 
[...]"Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar: Tudo renascerá cantando ao teu olhar, Tudo, 
mares e céus, árvores e montanhas, Porque a Vida perpétua arde em tuas entranhas! Rosas 
te brotarão da boca, se cantares! Rios te correrão dos olhos, se chorares!" 
[...] 
 Prosopopeia, animismo ou personificação 
Também considerada por Rocha Lima (1998:503) como um tipo de metáfora, consiste em 
atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres inanimados, ou características 
humanas a seres não humanos. 
Exemplos: Amanhecer alegre, música triste. 
 Catacrese 
Othon M. Garcia, em Comunicação em prosa moderna, afirma que a catacrese" é uma espécie 
de metáfora morta, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação 
individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito linguístico, já fora do âmbito estilístico." 
(1997:90). 
São exemplos de catacrese: 
Folhas de livro / pele de tomate / dente de alho / montar em burro / céu da boca / cabeça de 
prego / mão de direção / ventre da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco. 
 Sinestesia 
De acordo com Rocha Lima (1998:505), “Por esta figura, fundem-se sensações visuais com 
auditivas, gustativas, olfativas, tácteis [...]”. 
Exemplo: “A cor cantava-me nos olhos...” (Cruz e Souza, apud Rocha Lima, 1998:505) 
 Antonomásia 
Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou 
fato que a distingue. Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha 
ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome próprio. 
Exemplos: "E ao rabi simples (Cristo), que a igualdade prega, / Rasga e enlameia a túnica 
inconsútil; (Raimundo Correia). / Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O Cisne de Mântua 
(= Virgílio) / O poeta dos escravos (= Castro Alves) / O Dante Negro (= Cruz e Souza) / O 
Corso (= Napoleão) 
 Metonímia 
É a alteração de sentido de uma palavra ou expressão pelo acréscimo de outro significado ao 
já existente, quando entre eles existe uma relação de contiguidade, de inclusão, de 
implicação, de interdependência, de coexistência. Vejamos alguns exemplos fornecidos em 
Rocha Lima (1998:506): 
Ler Machado de Assis (= o autor pela obra). 
A mulher tem sempre rara intuição (por – as mulheres). 
Completou quinze primaveras (por quinze anos) 
Figuras de Som 
Exploram a sonoridade das palavras para obter maior expressividade. 
 Aliteração 
É a repetição de consoantes para intensificar o ritmo ou proporcionar um efeito sonoro. 
Exemplo: 
Pout-pourri de samba rock 
(Adriana e a rapaziada) 
[...] 
O rato roeu a roupa do rei de Roma 
O rato roeu e o rock comeu 
O rato roeu a roupa do rei de Roma 
O rato roeu e o rock comeu 
[...] 
 Assonância 
É a repetição de sonsvocálicos idênticos. 
Exemplo: 
Verdes mães 
Cavalinho de flecha 
Eu quero, eu quero 
Sou um mulato nato 
No sentido lato 
Mulato democrático do litoral 
(Caetano Veloso) 
 Onomatopeia 
Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade. 
Exemplo: 
"O silêncio fresco despenca das árvores. / 
Veio de longe, das planícies altas, / 
Dos cerrados onde o guaxe passe rápido... / 
Vvvvvvvv... passou." 
(Mário de Andrade). 
 Paronomásia 
Ocorre paronomásia quando há reprodução de sons semelhantes em palavras de significados 
diferentes. 
Exemplo: 
Qualquer coisa (Caetano Veloso) 
Berro pelo aterro 
Pelo desterro 
Berro por seu berro 
Pelo seu erro 
Quero que você ganhe 
Que você me apanhe 
Sou o seu bezerro 
Gritando mamãe." 
Figuras de Pensamento 
Exploram jogos conceituais. 
 Apóstrofe 
Quando há invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou 
ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é utilizada para dar ênfase à 
expressão. 
Exemplo: 
Vozes d'África 
"Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes? 
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes 
 Embuçado nos céus? 
 Há dois mil anos te mandei meu grito, 
 Que embalde desde então corre o infinito... 
 Onde estás, Senhor Deus?... " (Castro Alves). 
[...] 
 Antítese 
Consiste na utilização de frases ou termos que contrastam entre si. 
Exemplo: 
“O mito é o nada que é tudo. 
O mesmo sol que abre os céus 
É um mito brilhante e mudo” 
(Fernando Pessoa) 
 Paradoxo 
Rocha Lima (1998, p. 516) afirma que o paradoxo: “É a reunião de idéias contraditórias num 
só pensamento, o que nos leva a enunciar uma verdade com aparência de mentira”. 
O exemplo a seguir, é considerado paradoxo por Rocha Lima: 
“Amor é um fogo que arde sem se ver, 
É ferida que dói, e não se sente; 
É um contentamento descontente, 
É dor que desatina sem doer. “ 
(Luís de Camões) 
 Eufemismo 
É a utilização de uma expressão menos agressiva, para comunicar uma idéia desagradável. 
Exemplos: 
“Os amigos que me restaram são de data recente; Todos os amigos antigos foram estudar a 
geologia dos campos santos.” (Machado de Assis, Dom Casmurro; apud Rocha Lima, 1998: 
518) 
Litote, segundo Rocha Lima (1998:519): “É uma variedade do eufemismo, em que se afirma 
algo pela negação do contrário.” Como exemplo, esse autor apresenta essa frase retirada de 
Machado de Assis: “Tu não estás bom, José Rodrigues.” 
 Antífrase 
Chamada ironia pó alguns autores, é uma sátira, um questionamento a um pensamento em 
forma de crítica. 
Exemplo: 
“Moça linda, bem tratada, 
Três séculos de família, 
Burra como uma porta: 
Um amor” (Mario de Andrade) 
Fechamento 
É fundamental saber utilizar adequadamente as figuras de palavras e de linguagem 
apresentadas aqui nesta lição. Saber identificar suas diferenças no contexto linguístico é 
essencial para o processo de ensino e aprendizagem. 
AULA 3 – AS RELAÇÕES ENTRE AS PALAVRAS II 
Introdução 
Esta é nossa segunda aula sobre as relações entre as palavras, e nela estudaremos: a 
denotação e a conotação, as relações de sinonímia e paráfrase e antonímia e contradição. 
Vocês verão que esses processos de significação se relacionam ao processo de leitura, já que, 
ao lermos um texto, precisamos unir a informação visual presente no texto à informação não 
visual, para que possamos estabelecer o significado de forma apropriada. 
Antes de iniciar nossa aula, vamos conversar brevemente sobre o que é ler? 
Fulgêncio e Liberato, em “Como facilitar a leitura”, nos mostram a fórmula: Ler = IV + InV, ou 
seja, segundo as autoras, ler é a soma da informação visual com a informação não visual. 
Entendamos informação visual como a informação que nossos olhos captam, as palavras que 
vemos, os desenhos que compõem uma tira, as cores de uma propaganda. 
A informação não visual reside em todo o conhecimento que temos armazenado em nosso 
cérebro: ela é composta pelo conhecimento que temos das palavras que formam o sistema 
linguístico, pelo nosso conhecimento dos processos de significação da língua, pelo nosso 
conhecimento de mundo etc. 
Denotação e Conotação 
Leia a tirinha a seguir e reflita: 
 
 
 
 
 
No terceiro quadro, o Menino Maluquinho ri do seu amigo. De que decorre o humor? 
Após a leitura da tira, percebemos que o humor advém da interpretação, do amigo do 
Maluquinho, da palavra „buraco‟. 
Quando uma palavra é usada em seu sentido original, impessoal, sem considerar o contexto, 
tal como aparece no dicionário, temos o sentido denotativo, ou denotação, - do signo 
linguístico. 
Quando a palavra é usada em sentido figurado, quando ela aparece com outro significado, 
passível de interpretações diferentes e que dependem do contexto em que seja empregada, 
temos o sentido conotativo - ou conotação do signo linguístico. A conotação é a responsável 
pela existência das metáforas, do uso polissêmico das expressões etc. 
A conotação é o princípio utilizado em muitas piadas e em ditados populares. Qual é o 
significado subjacente aos ditados a seguir? 
Pimenta nos olhos dos outros é refresco. 
Quem com ferro fere, com ferro será ferido. 
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. 
Para que serve a conotação? Ela é utilizada quando, ao escrever um texto, um autor usa o 
sentido figurado porque deseja criar um efeito no leitor, quer que o leitor do seu texto crie 
certa imagem em sua mente. 
Quem não se lembra do texto de Drummond "No meio do caminho" e de toda a polêmica 
levantada pelas interpretações dadas a essa pedra? 
No meio do caminho 
 
No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 
Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do 
caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra. 
A Noção de Referência 
Vamos analisar mais uma tira: 
 
 
 
 
 
Qual a diferença entre o uso dos substantivos „Mauricinho‟ e „Patricinha‟ nos dois primeiros 
quadros e o significado da palavra „patricinhas‟ no último quadro? O “referente” é sempre o 
mesmo? 
Quando falamos sobre referente e sobre referência devemos considerar que o significado de 
uma palavra envolve algo mais, envolve o objeto por ela designado. Muller e Viotti (2003) 
comentam sobre o filósofo Gottlob Frege e sua descoberta: 
“A noção de significado de uma expressão abarca conceitos fundamentais: O de sentido e o 
de referência.” (pág. 144) 
Oliveira (2001), em Semântica, capítulo que faz parte do livro, nos apresenta uma analogia 
proposta por Frege para que compreendamos as noções de sentido e referência. Imaginemos 
um telescópio apontado para a lua: 
A lua é a referência e ela existe independentemente de quem a observa. No entanto, se 
pessoas, em diferentes pontos do mundo, a olharem com um telescópio, terão diferentes 
ângulos dessa mesma lua. 
“A imagem da lua formada pelas lentes do telescópio é o que tanto eu, quanto você, vemos. 
Essa imagem compartilhada é o sentido. Ao mudarmos o telescópio de posição, vemos uma 
face diferente da mesma lua, alcançamos o mesmo objeto por meio de outro sentido.” 
(pág.22) 
Vejamos outro exemplo: 
A Cidade Maravilhosa está em festa. 
A capital do carnaval está em festa. 
Temos a mesma referência, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro, um objeto no mundo, 
recuperada por vários sentidos. 
Paráfrase 
A paráfrase é uma relação de sinonímia entre sentenças, ou seja, é uma relação de sinonímia 
estrutural. Desse modo, a paráfrase é uma nova escrita de um texto, sempre com a 
preocupação de se manter o sentido original. Podemos dizer: 
"Mariana comprou o carro do João‟ ou „O carro do João foi comprado por Mariana", 
simplesmente porque necessitamos reescrever a frase, ou podemos, de forma intencional,enfatizar um aspecto em detrimento de outro: Quem comprou ou o item comprado. 
As frases são paráfrases quando possuem o mesmo significado. O uso de sinônimos pode dar 
origem a uma paráfrase lexical, da mesma forma que o uso de homônimos pode dar origem a 
uma ambiguidade lexical. São paráfrases todas as frases que representam as mesmas 
condições de uso. 
Ilari e Geraldi, em Semântica (2000): 
“O leitor terá observado que reservamos o termo sinonímia para caracterizar pares de 
palavras como secar e enxugar, e que falamos, a propósito das várias frases, em paráfrase. A 
sinonímia lexical – uma relação estabelecida entre palavras – aparece assim como um dos 
fatores pelas quais duas frases se revelam como paráfrases” (pág. 42-43). 
Ilari e Geraldi, em Semântica (2000) nos apresentam algumas construções que atuam como 
possibilidades de paráfrases entre sentenças: 
 Relação voz ativa/voz passiva: 
Pedro matou João./ João foi morto por Pedro. 
 A construção de comparativo de igualdade: 
Pedro é tão bom quanto José. / José é tão bom quanto Pedro. 
 A construção dos comparativos de superioridade e inferioridade, formuladas nos dois 
sentidos: 
Pedro é mais esperto do que José. /José é menos esperto do que Pedro. 
 A construção com ter/ a construção com ser de: 
Pedro tem João como amigo. / João é amigo de Pedro. 
 Construção nominalizada / construção não-nominalizada: 
Primeiro, o coral cantou o hino, depois a banda executou a marcha fúnebre. / O canto do hino 
pelo coral foi seguido pela execução da marcha fúnebre pela banda.” (pág. 48) 
Mesmo em relação a essas estruturas de paráfrase, os autores Ilari & Geraldi comentam que 
podemos não ter o mesmo conteúdo cognitivo. Por exemplo, será que dizer „Pedro é mais 
esperto do que João‟ não orienta o discurso para que foquemos na esperteza de Pedro? 
(2000:49) 
Fernando Moura, em Nas linhas e entrelinhas, dissertação e interpretação de textos / redação 
oficial e parlamentar (2008) apresenta-nos outro mecanismo de paráfrase: “Substituição da 
oração adverbial, substantiva ou adjetiva pelas classes gramaticais correspondentes ou vice-
versa”. 
I - a) A moça escorregou porque ventava. (oração adverbial causal) 
 b) A moça escorregou por causa do vento. (locução adverbial causal) 
II – a) Desejo que você silencie. (oração substantiva) 
 b) desejo o seu silêncio. (substantivo) 
III - a) Ela é uma pessoa que tem convicções. (oração adjetiva) 
 b) Ela é uma pessoa convicta. (adjetivo) (pág. 160) 
Paráfrase x Paródia 
Paráfrase vem do grego para-phrasis, que significa „repetição de uma sentença‟. Desse modo, 
na paráfrase, reescrevemos um texto utilizando outras palavras, mas mantemos sua essência. 
Quando pensamos em paródia, devemos considerar que esse processo envolve um caráter 
contestador, certa ironia. 
No exemplo a seguir, temos um trecho de Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, seguidos por 
uma paráfrase e por uma paródia. 
TEXTO ORIGINAL 
Canção do Exílio 
(Gonçalves Dias) 
 
Minha terra tem palmeiras 
Onde canta o sabiá, 
As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. 
 
PARÁFRASE 
Europa, França e Bahia 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos 
Minha boca procura a „Canção do Exílio‟. 
Como era mesmo a „Canção do Exílio‟? 
Eu tão esquecido de minha terra… 
Ai terra que tem palmeiras 
Onde canta o sabiá! 
 
PARÓDIA 
Canto de regresso à pátria 
(Oswald de Andrade) 
 
Minha terra tem palmares 
onde gorjeia o mar 
os passarinhos daqui 
não cantam como os de lá. 
 
Contradição 
A contradição acontece quando temos duas sentenças com sentidos incompatíveis com a 
mesma situação. Se dizemos „Ela comprou um liquidificador, mas não comprou um 
eletrodoméstico‟, estabelece-se uma contradição. 
No entanto, Ilari e Geraldi (2000: 56) afirmam que “[...] não há combinação de informações 
contraditórias que não resista a um esforço motivado de interpretação”. O que significa isso? 
Duas sentenças podem parecer contraditórias, mas, dependendo do contexto, pode haver 
uma explicação que desfaça essa aparente contradição. 
No exemplo „Ela comprou um liquidificador, mas não comprou um eletrodoméstico‟, a pessoa 
que proferiu esse período pode querer dizer que o liquidificador é tão vagabundo que não 
pode ser chamado de „eletrodoméstico‟. 
Vejamos a tirinha a seguir: 
 
 
 
A aparente contradição do último quadro com o uso da expressão „levar brincadeira a sério‟ 
esconde, na verdade, o uso polissêmico da estrutura „levar algo a sério‟. Com base nessa 
expressão, o autor da tira criou o humor ao incluir a palavra „brincadeira‟. 
Antonímia 
Quando tratamos dos antônimos, referimo-nos a palavras que, dependendo do contexto, têm 
sentido contrário a outras. O antônimo pode ser obtido por prefixos (feliz x infeliz) ou por 
outro lexema (Rico x pobre). Ilari e Geraldi (2000: 55) afirmam que “raramente suas 
expressões em oposição estão no mesmo de igualdade no uso corrente.” Por exemplo: 
Em termos de significados, perguntar „ Seu pai é pobre?‟ é mais marcado, ou seja, mais 
negativo, do que perguntar „Seu pai é rico?‟ 
Assim como a sinonímia, podemos estabelecer antonímia a partir do contexto. Vejamos o 
trecho da letra da música: Os quereres, de Caetano Veloso. 
Os quereres 
Onde queres revólver, sou coqueiro 
E onde queres dinheiro, sou paixão 
Onde queres descanso, sou desejo 
E onde sou só desejo, queres não 
E onde não queres nada, nada falta 
E onde voas bem alto, eu sou o chão 
E onde pisas o chão, minha alma salta 
E ganha liberdade na amplidão 
Onde queres família, sou maluco 
E onde queres romântico, burguês 
Onde queres Leblon, sou Pernambuco 
E onde queres eunuco, garanhão 
Onde queres o sim e o não, talvez 
E onde vês, eu não vislumbro razão 
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão 
E onde queres cowboy, eu sou chinês 
[...] 
Ao compor esta música, Caetano Veloso, tornou antônimas palavras que em outros contextos 
não seriam: Revólver x Coqueiro, Dinheiro x Paixão, Descanso x Desejo. 
Temos, por exemplo: 
 Em „revólver‟ a ideia da briga, da violência. 
 Em coqueiro uma ideia de paz, de calma. 
 No dinheiro, temos a relação fria que se opõe à paixão. 
 No descanso, o relaxamento, a tranquilidade opostas à paixão. 
Fechamento 
A leitura é sempre muito eficaz no processo de comunicação e linguagem do ser humano. Por 
meio dos textos temos acesso a informações visuais e não visuais, sendo capaz de estabelecer 
significados de acordo com as diversas interpretações que encontramos nas palavras. 
AULA 4 – RELAÇÕES DE SENTIDO ENTRE AS PALAVRAS III 
Introdução 
Quando consideramos a construção do significado, devemos observar as pessoas envolvidas 
no ato da comunicação e o propósito comunicativo. É a avaliação do contexto de produção e 
das palavras utilizadas que nos permitem interpretar corretamente um texto. 
Muitas informações são pressupostas por meio de elementos linguísticos. Como a linguagem 
humana é polissêmica, os signos vão ganhando seu valor no uso, nas relações com outros 
signos e sofrem alteração de significado de acordo com o contexto. 
Essa construção de sentido ocorre tanto quando consideramos os fenômenos do 
acarretamento e da pressuposição lógica, quanto ao observamos a ambiguidade presente nas 
propagandas e que nos levam ao humor ou à reflexão. 
As Informações Explícitas e Implícitas no Texto: A Pressuposição 
A efetiva construção da linguagem para a comunicação depende de quem fala, de que lugar 
(posição) se fala e com que intenção este texto oral ou escrito é produzido, ou seja, seus usos 
sociais. Vimos, nos exemplos anteriores, que os fatores linguísticos não são escolhidos 
aleatoriamente. 
Observamos que diferentes gêneros textuais vão apresentar propósitos comunicativos 
distintos. Assim, identificar que temos uma carta de amor, uma bula de remédio, um anúncio 
acaba sendo importante para construirmos o sentidode um texto. 
Além disso, não podemos esquecer que há muitas informações que não são apresentadas 
linguisticamente, mas que podem ser extraídas dos elementos linguísticos, ou seja, elas são 
PRESSUPOSTAS. 
Para entendermos melhor o que se está afirmando, vamos analisar o exemplo a seguir: 
 A Reportagem no Jornal 
Leia: Legalidade ambiental na Amazônia, artigo de Carlos Minc 
Hoje é mais fácil e barato um agente desmatar a floresta nativa do que produzir mais em área 
degradada. Temos de inverter esse quadro. 
A degradação ambiental da Amazônia não pode ser enfrentada apenas com o IBAMA e a 
Polícia Federal. Sem o ordenamento fundiário e o planejamento territorial, sem o incremento 
da pesquisa [...] 
 O Anúncio Publicitário 
APESAR DE O CADERNO SER PARA TURISTAS NÃO VAMOS AUMENTAR O PREÇO. 
Novo Viagem do JB. Agora aos domingos. 
Pode-se concluir que, mesmo quando usamos apenas a linguagem verbal, é possível haver em 
nossa mensagem um conteúdo implícito. Por exemplo: 
Se estamos em uma sala muito fria e dizemos para alguém sentado próximo ao controle do ar 
condicionado “-Nossa! Como está frio!”, embora não tenhamos pedido a essa pessoa, 
provavelmente, ela irá se oferecer para alterar a temperatura do aparelho. 
É a compreensão leitora que nos permite interpretar corretamente as informações contidas 
em um texto. Leia o texto a seguir e pense no pressuposto que ela instaura. 
Eleições argentinas: Escolha é entre Cristina e o menos pior 
Presidente é a favorita para vencer já no primeiro turno, enquanto a oposição - fraca e 
dividida passa praticamente despercebida na preferência dos eleitores. 
Extraído de http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/eleicoes-argentinas-escolha-e-entre-
cristina-e-o-menos-pior, 23/10/2011, 10h04min) 
As Noções de Acarretamento e Pressuposição Lógica 
Segundo Muller e Viotti (2003), “Uma sentença acarreta outra, se a verdade da primeira 
garante, necessariamente, a verdade da segunda, e a falsidade da segunda garante, 
necessariamente a falsidade da primeira.” No acarretamento, temos uma relação semântica 
entre sentenças que se relacionam à hiponímia. 
Hiperônimo é o termo englobante, ou seja, é uma palavra que apresenta um significado mais 
abrangente que o hipônimo, termo englobado. Conforme o exemplo apresentado por Muller e 
Viotti (2003:129) „animal‟ é o hiperônimo e engloba insetos, répteis etc. „Insetos‟ será 
hiperônimo se você considerar que ele engloba baratas, formigas etc. 
Exemplo: 
O Juca ouviu um homem cantando. → O Juca ouviu uma pessoa cantando. 
1º Teste: A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Sim. Se Juca ouviu 
um homem cantando, ele ouviu uma pessoa cantando. (homem = pessoa) 
2º Teste: O Juca não ouviu uma pessoa cantando. (Se negamos essa sentença, a primeira 
sentença também se torna falsa, pois se ele não ouviu uma pessoa cantando, não pode ter 
ouvido uma pessoa cantando). 
Vamos praticar? 
Análise as frases a seguir e avalie, com base nos testes sugeridos, se temos acarretamento, 
depois confira o gabarito: 
A - O João e a Maria são casados. → B - O João é casado com a Maria. 
Gabarito 
Não há acarretamento. A sentença (a) é ambígua: Ela tanto pode significar que o João é 
casado com a Maria, como pode significar que o João e a Maria são casados, mas não um com 
o outro. Portanto, a verdade de (a) não segue necessariamente a verdade de (b). 
Quando consideramos o acarretamento, o que á pressuposição lógica? Vejamos um exemplo: 
A – Foi a Maria que tirou 10 na prova. → B – Alguém tirou 10 na prova. 
Segundo Muller e Viotti (idem), no gabarito do exercício (pág. 254), entre essas duas 
sentenças tanto há acarretamento, quanto pressuposição. 
A pressuposição lógica é uma relação entre duas sentenças em que a primeira sentença trata 
a verdade da segunda sentença como indiscutível. Segundo as autoras, a pressuposição se 
mantém na negação. 
Teste: “Não foi a Maria que tirou 10 na prova.” Ainda assim (B) pode ser verdadeira: outro 
aluno pode ter tirado 10 na prova. Desse modo, sabemos que (A) pressupõe (B). 
Poderíamos dizer que (A) também acarreta (B)? Sim. 
1º Teste: A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Sim. Se „Maria‟ tirou 
10, „alguém‟ tirou 10. 
2º Ninguém tirou 10 na prova. (Se negamos essa sentença, a primeira sentença também se 
torna falsa, pois „ninguém‟ tirou 10 na prova, „Maria‟ não pode ter tirado 10.) 
Vamos analisar mais um exemplo? 
A - Só o João sabe o caminho para a casa do Marcelo. 
B - Ninguém mais sabe o caminho para a casa do Marcelo. 
Nesse caso, segundo Muller e Viotti (ib.:255) não temos pressuposição nem acarretamento. 
Por quê? 
1º Teste - Teste para acarretamento: A verdade da primeira sentença garante a verdade da 
segunda? Não. (se o primeiro teste falha, já sabemos que não há acarretamento). 
2º Teste - Teste para pressuposição: A pressuposição se mantém na negação? Dizer „Não é 
verdade que só o João sabe o caminho para a casa do Marcelo‟ significa que ninguém mais 
saiba o caminho? Não. 
O Fenômeno da Ambiguidade 
Temos dois tipos de ambiguidade: 
Ambiguidade Lexical: é um fenômeno linguístico em que a ambiguidade acontece devido ao 
significado de uma palavra. Esse tipo de ambiguidade é frequente em piadas. Observem os 
exemplos a seguir: 
Ilari (2002:12), em Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras, apresenta-nos 
a piada a seguir, baseada na ambiguidade lexical. 
- Como você ousa dizer palavrões na frente da minha esposa? 
- Por quê? Era a vez dela? 
Ambiguidade Sintática ou Estrutural: há outro tipo de ambiguidade, que é a ambiguidade 
estrutural. Esse tipo de ambiguidade ocorre quando: 
A - A sentença aceita duas análises sintáticas diferentes. 
Exemplo: Os pais e os professores empenhados farão um Senado mais digno. (não se sabe se 
“empenhados” modifica pais e professores ou apenas professores.) 
B - Um mesmo pronome aceita dois antecedentes. 
Exemplo: Ele gosta da sua casa. (dependo do referente mencionado anteriormente, não se 
sabe se o pronome “sua” refere-se ao interlocutor ou a algum referente já mencionado). 
Vamos fazer um exercício? Discuta a ambiguidade no diálogo a seguir retirado de Ilari 
(2002:12), em Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras. 
Indivíduo A: - Não deixe sua cadela entrar em minha casa. Ela está cheia de pulgas. 
Indivíduo B: - Fifi, não entre nessa casa. Ela está cheia de pulgas. 
Polissemia 
Na polissemia, há uma só forma com mais de um significado unitário, pertencentes a campos 
semânticos diferentes. A polissemia opera no plano do significado: Temos mais de um 
significado para os mesmos significantes; Cada um desses significados é preciso e 
determinado. Exemplos: 
A - Pregar: Um sermão; Uma bainha de roupa; Um prego. 
B - Cabo: Militar; Parte de instrumento. 
A linguagem humana é polissêmica: Os signos, sendo arbitrários e ganhando seu valor nas 
relações com outros signos, sofrem alteração de significado de acordo com o contexto. A 
polissemia depende do fato dos signos serem usados em contextos diferentes. Vejamos a 
charge a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
Observando-a, temos o uso polissêmico do verbo „andar‟ na estrutura „andei pensando‟ e a 
ironia na fala da secretária, motivada pela interpretação, separadamente, dos verbos „andar‟ e 
„pensar‟. 
Atenção! Platão e Fiorin em Lições de texto: 
Leitura e redação comentam que “Um texto pode ter várias leituras, bem como pode jogar 
com leituras distintas para criar efeitos humorísticos. Entretanto, o leitor não pode atribuir-lhe 
o sentido que bem entender. Ele contém marcas de possibilidades de mais de um plano de 
significação. A primeira são as palavras com mais de um significado. Elas são chamadas 
relacionadores de leituras, pois apontam para mais de um plano de sentido.” (2001:129) 
Homonímia (Grego homónymos = que tem o mesmo nome) 
Definição I: “Propriedade de duas ou mais formas inteiramentedistintas pela significação ou 
função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos na mesma 
ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação; Exemplo: Um homem são; São Jorge; 
São várias as circunstâncias [...]” (Bechara: 2000,403) 
Definição II: Rocha Lima: “A rigor, só deveriam ser consideradas como tais, aquelas palavras 
que, tendo origem diversa, apresentassem a mesma forma, em virtude de uma coincidência 
na sua evolução fonética.” (1998, 36ªed.: 487) 
Atenção: Há homônimos que apesar de terem os mesmos fonemas se escrevem de forma 
diferente. 
Exemplos: Espiar e expiar; coser e cozer; sessão, seção e cessão etc. 
A homonímia opera no plano do significante: Coincidência de significantes de palavras com 
significados distintos. 
Critério: etimologias diferentes (explicação diacrônica). Apesar de terem origens diversas, 
apresentam a mesma forma por coincidirem na evolução fonética. No entanto, 
sincronicamente o critério etimológico é considerado irrelevante. Exemplos: 
Manga (fruta: tâmul mankay – fruto da mangueira) 
Manga (camisa: Lati m manica = parte da vestimenta que cobre os braços). 
Sonorização de /k/ em /g/ - passaram a ter significantes idênticos. 
Bechara (2000: 403) nos apresenta os seguintes critérios para distinguir polissemia (Uma 
palavra com dois ou mais significados) e homonímia (Duas palavras distintas com idênticos 
fonemas): 
 Critério histórico-etimológico: É o que fazem os dicionários. 
 Consciência linguística dos falantes 
 Critério das relações associativas. 
 Critério dos campos léxicos. 
Fechamento 
Para concluir esta aula, é importante ressaltar que as relações de sentido entre as palavras 
ocorrem em diversos cenários da linguagem, cabe ao leitor saber identifica-los para enriquecer 
ainda mais os seus conhecimentos. 
AULA 5 – A COERÊNCIA TEXTUAL 
Introdução 
Quando consideramos um texto que utilize a linguagem verbal, ou seja, um texto que utilize 
palavras, devemos observar que, além da pontuação que contribui para a “costura” do texto, 
há outros elementos que podem ser utilizados para articular elementos e indicar as relações 
existentes entre eles. Há dois fenômenos fundamentais na constituição dos sentidos no texto: 
a coesão e a coerência textuais. 
Ao final de nossa aula, perceberemos a importância da coesão e da coerência no processo de 
produção de sentido de um texto. Apesar de serem fenômenos relacionados, veremos que é 
possível que um texto ainda sem elos coesivos seja coerente, tendo em vista que o 
leitor/ouvinte faz uso de um conjunto de conhecimento de natureza diversa. 
Vale lembrar que o leitor, nesse processo de produção de sentido, precisará considerar 
diversos aspectos, a saber: o vocabulário e situação de uso, os recursos sintáticos, os blocos 
textuais e a associação a fatos variados, o gênero textual, a situação comunicativa etc. 
O trabalho com os mecanismos de coerência e de coesão é necessário para a atividade de 
compreensão e produção de textos e é importante lidar com a coerência e a coesão no 
processo de produção de seus textos. 
Entendendo a Noção de Texto 
Quando consideramos nossos usos da língua que falamos, percebemos que a comunicação se 
dá por meio de textos - unidades de significação que precisam de um contexto para que se 
realizem. 
Koch e Travaglia (2001) tecem uma interessante consideração acerca da noção de texto. 
Segundo os autores, sempre que produzimos um texto, temos a intenção de comunicar uma 
ideia. 
Já sabemos que não nos comunicamos apenas por palavras. Por isso, dizemos que o texto 
pode ser: verbal ou não Verbal 
Os sinais de trânsito se constituem em unidades de significação para aqueles que os 
compreendem. São, portanto, textos para os indivíduos capazes de interpretá-los. Imagine se 
as pessoas, principalmente os motoristas, não soubessem ler seus significados. Nossa vida se 
tornaria o caos, não? 
Como já pudemos entender, o texto é uma forma de nos manifestarmos, quando queremos 
nos comunicar. É frequente o uso de linguagem verbal e não verbal, por exemplo, em 
propagandas, sejam elas veiculadas na televisão ou em veículos impressos como jornais, 
revistas, outdoors, nos quais, geralmente, precisamos associar o texto à imagem para 
depreender seu real sentido. 
Vejamos a propaganda da Hortifruti, uma rede de lojas especializada na venda de frutas e 
legumes. 
 
 
 
 
 
Para que essa propaganda se torne coerente, ou seja, para que ela adquira significado 
precisamos saber: 
 o que é a Hortifruti e quais produtos ela comercializa; 
 que rúcula é uma hortaliça verde; 
 que há um filme chamado ”O Incrível Hulk” e que ”Hulk”, protagonista do filme, é 
verde. 
Coesão e Coerência Textuais 
Koch e Travaglia (2001), no livro A coerência textual, afirmam que coesão e coerência 
constituem fenômenos distintos: 
Coerência: opera no nível macrotextual, ou seja, ela é o resultado da organização dos 
componentes do texto somada a processos cognitivos que atuam entre o usuário e o produtor 
do texto. 
Coesão: opera no nível micrototextual, ou seja, atua na organização da sequência textual. 
Segundo os autores, o processo de coesão envolve mecanismos de relação entre os 
elementos que constituem a superfície textual: a coesão revela-se através de marcas 
linguísticas, organizando a sequência do texto. Os mecanismos coesivos se baseiam numa 
relação entre os significados de elementos da superfície do texto. 
Já a coerência não se encontra no texto, uma vez que é construída pelo leitor com base em 
seus conhecimentos. Teremos um texto coerente quando for possível aos interlocutores 
construir um sentido para o texto. 
Apesar da distinção apresentada anteriormente entre coesão e coerência, Koch e Elias 
(2007:187), em Ler e compreender sentidos do texto, destacam que “em um segundo 
momento, todavia, percebeu-se que a distinção entre coesão e coerência não podia ser 
estabelecida de maneira radical, considerando-se ambas fenômenos independentes”. Segundo 
as autoras, a coesão nem sempre “se estabelece de forma unívoca entre os elementos 
presentes na superfície textual, fato esse que exige do leitor, em muitos casos, o recurso ao 
contexto para a construção da coerência do texto”. 
Segundo Koch e Travaglia (2001:43), os conceitos de coesão e coerência estão relacionados: 
somente a coesão não é suficiente nem necessária para que haja um texto porque “(...) há 
muitas sequências linguísticas com pouco ou nenhum elemento coesivo, mas que constituem 
um texto porque são coerentes e por isso têm o que se chama de textualidade”. 
Um bom exemplo da possibilidade de haver texto, porque há coerência, sem elos coesivos 
explicitados linguisticamente, é o texto do escritor cearense Mino, citado pelos autores, em 
que só existem substantivos. 
Circuito Fechado (Ricardo Ramos) 
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de 
barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. 
Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, 
paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa 
de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. 
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, 
agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de 
saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e 
fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques [...] (Koch e Travaglia, 
2001: 61) 
Apesar da ausência de elementos coesivos, conseguimos estabelecer a coerência desse texto. 
Por outro lado, a presença de elementos coesivos não é suficiente para garantir a coerência 
de um texto porque há sequências linguísticas para as quais não é possível estabelecerum 
sentido global apesar de haver coesão entre as frases. É o caso do exemplo a seguir: 
O livro que eu comprei foi traduzido do francês, no entanto, os empregados estão em férias. 
Ainda que tenhamos viajado em nosso carro novo, ele ainda não foi fabricado. 
Apesar de os exemplos acima possuírem elementos coesivos, não é possível estabelecer a 
coerência entre seus períodos, o que atesta não ser a coesão suficiente para que enunciados 
se constituam em textos. 
A Coesão Textual 
Koch (2001), em A coesão textual, afirma que os mecanismos coesivos são os responsáveis 
pelo modo como as sequências textuais se integram. Segundo a autora, a coesão textual 
estabelece uma relação entre um elemento do texto e algum outro elemento fundamental 
para a sua interpretação. Podemos perceber alguns tipos de coesão: 
Coesão lexical ou referencial. 
Segundo Koch (2001), nesse tipo de coesão temos “[...]. um componente da superfície do 
texto que faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual”. (p. 30) 
Coesão sequencial. 
Kock (2001) afirma que essa coesão “[...] diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio 
dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de enuncidados, 
parágrafos e mesmo sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou 
pragmáticas, à medida que se faz o texto progredir.” (p. 49) Nesse tipo de coesão entram 
elementos como a ordem dos vocábulos, dos conectores, dos pronomes pessoais de terceira 
pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, 
relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de 
expressões de valor temporal. 
1. Coesão recorrencial. 
Fávero (1995), em Coesão e coerência textuais, nos apresenta esse conceito afirmando que: 
“A coesão recorrencial se dá quando, apesar de haver retoada de estruturas, itens ou 
sentenças, o fluxo informacional caminha, progride; tem, então, por função levar adiante o 
discurso. Constitui um meio de articular a informação nova (aque-la que o escritor/locutor 
acredita não ser conhecida) à velha (aquela que acredita ser conhecida ou porque está 
fisicamente no contexto ou porque já foi mencionada no discurso) (Brown e Yule, 1983, p. 
154).” 
Neste tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a outro 
componente, que, é claro, já ocorreu antes. Não se deve confundir recorrência com 
reiteração. A recorrência tem por função assinalar que a informação progride; e a reiteração 
tem por função assina-lar que a informação já é conhecida (dada) e mantida. Na recorrência, 
há também uma referência; porém, se deve fa-lar sempre em termos de dominância. 
Coerência Textual 
Quando lemos um texto ou ouvimos alguém dizer “Isso não tem coerência”, do que estamos 
falando? Geralmente, algo nesse texto faz com que não o entendamos. O mecanismo de 
coerência é o responsável por sermos capazes de relacionar os elementos do texto, 
construindo um significado para ele. É a coerência que faz com que percebamos uma 
sequência linguística como um texto. 
 Dimensão semântica: caracteriza-se por uma interdependência semântica entre os 
elementos constituintes do texto. 
 Dimensão pragmática: é fundamental, no estabelecimento da coerência, o nosso 
conhecimento de mundo, e esse conhecimento é acumulado ao longo de nossa 
existência, de maneira ordenada. 
Quando afirmamos a incoerência de uma sequência podemos fazê-lo porque quem o produziu 
não se preocupou com a comunicabilidade, não obedeceu ao código linguístico, enfim, não 
levou em conta o fato de que a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se 
estabelecer um sentido para o texto. 
Quando falamos sobre ”ser coerente” ao se produzir um texto, falamos de se apresentar um 
raciocínio lógico, de se manter ao longo do texto uma unidade de sentido. 
Deve-se ter sempre em mente que ao escrevermos ou falarmos um texto, temos uma 
intenção comunicativa. 
O indivíduo que recebe nosso texto precisa ativar seu conhecimento de mundo e projetar esse 
conhecimento de modo a que o texto faça sentido para ele. 
Para que um texto seja coerente, pode ser necessário o conhecimento do significado e um 
substantivo como no caso da música Espatódea, ou de outro elemento. 
Vejamos um exemplo em que é necessário observar o sentido do advérbio para que possamos 
estabelecer a coerência. 
Em casa, o Palmeiras só empatou. 
No exemplo acima, o advérbio ”só” agrega ao texto da manchete a ideia de que o Palmeiras, 
até a época da manchete, não conseguiu vencer ao jogar ”em casa”; no máximo, conseguiu 
empatar. Fato que deve ter desagradado à torcida. A locução adverbial “em casa” faz com que 
o leitor recupere a informação de que se trata do “Palestra Itália”, local do jogo. 
Analisemos uma reportagem: 
“Turbulências são comuns em quase todos os voos e, normalmente, podem ser detectados 
com antecedência, mas acidente e imprudência sempre caminham juntas.” 
Do leitor, sobre a turbulência que deixou 21 feridos. 
(O Globo, 29/05/2009. Disponível em http://oglobo.globo.com/). 
O advérbio “normalmente” reforça a opinião de um leitor sobre a frequência com que 
determinados problemas ocorrem com transportes aéreos. Observemos que o uso desse 
advérbio não pode ser considerado um mecanismo de coesão, já que ele não atua na 
organização da sequência textual e sim reforça a ideia de um fato que acontece de forma 
rotineira. Ainda assim, compreender seu uso torna a reportagem como um todo mais 
coerente. 
Portanto, a coerência se estabelece numa situação comunicativa; ela é a responsável pelo 
sentido que um texto deve ter quando partilhado por esses usuários, entre os quais existe um 
acordo preestabelecido, que pressupõe limites partilhados por eles e um domínio comum da 
língua. 
Há o Não Texto? Existem Sequências Linguísticas Incoerentes? 
Há diferentes pontos de vista quanto à existência do não texto. 
Para Beaugrande e Dressler (apud Koch e Travaglia, 2001:46): 
A coerência é definida em função da continuidade de sentidos e para, esses autores, há textos 
incoerentes. 
“Sequências linguísticas incoerentes seriam aquelas em que o receptor não consegue 
descobrir qualquer continuidade de sentido, seja pela discrepância entre os conhecimentos 
ativados ou pela inadequação entre esse conhecimento e seu universo cognitivo”. 
Para que um texto faça sentido, é muito importante que o conhecimento de mundo seja 
partilhado pelo produtor e receptor do texto. Do contrário, se a quantidade de informação for 
nova em sua maioria, a tendência é que o leitor o veja como incoerente, porque esse não fará 
sentido para ele. 
Charolles (apud Koch e Travaglia, 2001:47): 
Considera que a coerência é algo que se estabelece na interlocução, ou seja, na interação de 
dois usuários, numa dada situação comunicativa e que não há textos incoerentes em si. Em 
função disso, ele afirmou que a coerência seria a qualidade que têm os textos de serem 
reconhecidos como bem formados pelos falantes. Assim, a coerência é colocada como 
princípio de interpretabilidade e tem a ver com a “boa formação” do texto, determinando a 
possibilidade de se estabelecer o sentido do texto. Todavia, ele admite a incoerência local, ou 
seja, sequências nas quais não há nenhuma marca de relação entre os enunciados e nas quais 
a relação entre o conteúdo dos enunciados não é aparente. 
A coerência não é nem característica do texto, nem dos usuários do mesmo, mas insere-se no 
processo que coloca texto e usuário em relação numa situação. A coerência está, pois, ligada 
à: compreensão e a possibilidade de interpretação daquilo que se diz ou escrever. 
Assim, a coerência é decorrente do sentido contido no texto, para quem ouve ou lê. Uma 
simples frase, um texto de jornal, uma obra literária (romance, novela, poema...), uma 
conversa animada, o discurso de um político ou do operário, um livro, uma cançãoetc., enfim, 
qualquer comunicação, independentemente de sua extensão, precisa ter sentido, isto é, 
precisa ter coerência. 
Fatores de Coerência 
A coerência depende de uma série de fatores, entre os quais vale ressaltar: 
 Conhecimento do mundo e o grau em que esse conhecimento deve ser ou é 
compartilhado pelos interlocutores; 
 Domínio das regras que norteiam a língua: isto vai possibilitar as várias combinações 
dos elementos linguísticos; 
 Os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encontram, as suas 
intenções de comunicação, suas crenças, a função comunicativa do texto. 
Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, deve-se dizer que a ele se 
acrescentam as informações novas. Se estas forem muito numerosas, o texto pode se tornar 
incoerente, devido à não familiaridade do ouvinte/leitor com essa massa desconhecida de 
informações. 
Além disso, é importante considerarmos o tipo e o gênero do texto. Em um texto descritivo, 
por exemplo, espera-se que tenhamos a ordem em que são percebidos os objetos ou os 
componentes de uma cena; em um texto dissertativo-argumentativo espera-se a ordenação 
das ideias de forma lógica etc. Da mesma forma, quando consideramos os diferentes gêneros 
textuais, sabemos, por exemplo, que uma reportagem em um jornal que trate de um crime 
apresentará diferença no formato e no tratamento dado ao tema se a compararmos com um 
livro policial. 
Exemplo: Quando alguém lê um texto muito técnico, de uma área na qual é leigo. 
Além disso, é importante considerarmos o tipo e o gênero do texto. 
Texto descritivo: espera-se que tenhamos a ordem em que são percebidos os objetos ou os 
componentes de uma cena. 
Texto dissertativo-argumentativo: espera-se a ordenação das ideias de forma lógica. Da 
mesma forma, quando consideramos os diferentes gêneros textuais, sabemos, por exemplo, 
que uma reportagem em um jornal que trate de um crime apresentará diferença no formato e 
no tratamento dado ao tema se a compararmos com um livro policial. 
Tipos de Coerência 
 Coerência semântica: diz respeito à combinação dos significados da sequência 
linguística. Quando os sentidos não combinam, a sequência torna-se contraditória. 
Exemplo: Ele comprou um carro novo. Esse veículo de comunicação é muito veloz. 
O sintagma ”carro novo” pode ser retomado pela palavra ”veículo”, mas não pelo sintagma 
”veículo de comunicação”. 
 Coerência sintática: refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência 
semântica: conectivos, pronomes etc. 
Exemplo: Ele comprou um carro novo, mas continua sem carro novo. 
 Coerência estilística: um texto deve manter um estilo uniforme, ou seja, deve-se evitar 
a mistura de registros. Ainda que ela não prejudique a interpretabilidade de um texto, 
ela deve ser evitada, a menos que seja usada propositalmente, como um recurso 
estilístico. Esse uso proposital ocorre, muitas vezes, quando dizemos “Não sou contra, 
nem a favor, muito pelo contrário”. 
 Coerência pragmática: quando pertencemos a um determinado grupo social, somos 
capazes de perceber uma série de ”deixas” em termos de usos da língua. 
Imagine a seguinte situação. Estamos em uma sala com o ar condicionado ligado e 
dizemos a uma pessoa sentada próxima ao aparelho “Nossa, como a sala está gelada”. 
Ainda que não tenhamos feito um pedido de forma direta, provavelmente, esse indivíduo 
irá nos perguntar algo como “Quer que eu altere a temperatura?”. 
Fatores de Coerência 
1 - Elementos linguísticos: Koch e Travaglia (2001) afirmam que somente as palavras não são 
suficientes para apreender o sentido de um texto, mas são muito importantes para o 
estabelecimento da coerência. 
2 - Conhecimento de mundo: É determinante no estabelecimento da coerência. Koch e 
Travaglia (2001) estabelecem que “[...] a representação do mundo pelo texto nunca coincide 
exatamente com o “mundo real”, porque há sempre a mediação dos conhecimentos de mundo 
[...]” (p. 60). Os autores também afirmam que “o conhecimento de mundo é visto como uma 
espécie de dicionário enciclopédico do mundo e da cultura arquivados na memória”. (p.61) 
Koch e Travaglia (2001:62) observam ainda que o conhecimento pode ser de dois tipos: 
Conhecimento enciclopédico: representa tudo o que se conhece e que está arquivado na 
memória de longo termo; 
Conhecimento ativado: trazido à memória presente (operacional e/ou temporária). 
O conhecimento de mundo é adquirido à medida que vivemos e vamos armazenando os fatos 
que experienciamos. Ele é arquivado na memória em blocos que denominam modelos 
cognitivos. Os modelos cognitivos são culturalmente determinados e aprendidos através de 
nossa vivência em dada sociedade. Há diversos tipos de modelos cognitivos: 
3 – Conhecimento partilhado: ao produzir um texto, o indivíduo parte do pressuposto de que 
seu leitor compartilha informações com ele. Quanto maior for o conhecimento por eles 
partilhado, ou seja, quanto maior a quantidade da informação velha, menos explícito precisará 
ser o texto já que o receptor pode preencher lacunas através de inferências. 
Atenção: A informação é “velha” ou dada quando os elementos textuais remetem ao 
conhecimento partilhado pelos interlocutores. Uma informação será nova quando é introduzida 
a partir dos elementos textuais. 
4 – Fatores de contextualização ou fatores pragmáticos: Koch e Travaglia (2001:67) afirmam 
que “Os fatores de contextualização são aqueles que ‟ancoram‟ o texto em uma situação 
comunicativa determinada”. Como fatores de contextualização temos elementos como a 
situação comunicativa, o grau de informatividade do texto, a intertextualidade, entre outros. 
AULA 6 – A LINGUAGEM EM USO 
Afinal, o que é pragmática? 
Se abrirmos um dicionário de Linguística, encontraremos uma definição parecida com a que 
temos a seguir, retirada do Dicionário de Linguística, organizado por Jean Dubois: 
“O aspecto pragmático da linguagem concerne às características de sua utilização (motivações 
psicológicas dos falantes, reações dos interlocutores, tipos socializados da fala, objeto da fala, 
etc.) por oposição ao aspecto sintático (propriedades formais das construções linguísticas) e 
semântico (relação entre as unidades linguísticas e o mundo).” (2003: 480) 
Pragmática ≠ Sintaxe e Semântica 
Só pela leitura desse verbete, ainda não conseguimos saber exatamente o que é Pragmática, 
mas já percebemos que ela se diferencia tanto da Sintaxe quanto da Semântica porque 
considera o falante e seu papel na construção do significado. Francis Jaques (apud 
Armengaud: 2006,11) afirma que “A pragmática aborda a linguagem como fenômeno 
simultaneamente discursivo, comunicativo e social.” 
Como nosso interesse nesta aula é tratar das relações de significado, vamos nesse primeiro 
momento tentar distinguir duas áreas que lidam com o significado: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SIGNIFICADO 
SIGNIFICANTE 
SEMÂNTICA PRAGMÁTICA 
Significado literal + 
fatores 
extralinguísticos e do 
estudo: 
 
 De enunciados reais (estudo de uso ao invés de significado) 
 Do desempenho e não da competência: Os gerativistas tendem a identificar tanto a 
distinção sentença/enunciado quanto a distinção semântica/pragmática com 
competência desempenho. 
O processo de compreensão envolve 2 etapas: 
1ª etapa: Semântica (significado literal) - extraímos do enunciado aquilo que é possível 
depreender com base na estrutura formal (morfossintática). 
2ª etapa: Pragmática (significado final) – A representação semântica se associa a uma série 
de fatores ligados ao contexto da comunicação e ao conhecimento prévio existente ( ou 
pressuposto como tal) na memória do falante e do ouvinte. 
O que acontece quando ouvimos frase simples, como a que temos a seguir? 
Você sabe que horas são? 
Significado literal: Pergunta com resposta sim ou não. 
Significado final: O falante deseja saber a hora porque está sem relógio ou seu relógio está 
com problemas.Frase e Enunciado 
Frases são unidades abstratas, independentes de contexto: Não estão vinculadas a nenhum 
tempo ou espaço particular: São unidades do sistema linguístico a que pertencem. 
Exemplo: “Está frio aqui” pode ser usada em circunstâncias apropriadas no lugar de “Por 
favor, feche a janela” (é usada como uma instrução). 
“Você sabe que horas são?” – Não tem a estrutura de um pedido de informação; A estrutura é 
sobre se o interlocutor sabe que horas são. 
O enunciado é dependente do contexto, e sua compreensão depende: 
 Da nossa percepção sobre a situação em que nos encontramos; 
 De com quem estamos nos comunicando; 
 Daquilo que sabemos; 
 Daquilo que acreditamos que nosso interlocutor também saiba. 
No capítulo A linguagem em uso, Fiorin nos apresenta a frase „Está chovendo!‟ 
Quantos significados ela pode adquirir? 
Se você for uma mulher, um homem ou uma criança, podemos ter diferentes enunciados: 
 „Ai! Vou ter que tirar a sandália e colocar um sapato fechado!‟ 
 „Fiz uma escova e ela vai desmanchar!‟ 
 „Vou trocar a saia pela calça comprida!‟ 
 „Vou ter que parar de brincar na chuva!‟ 
 „Vou tirar a roupa da corda!‟ 
Depois dessa discussão, vamos ler um trecho do livro A Pragmática, de Françoise Armengaud. 
Na Introdução, Rudolf Carnaf nos diz sobre essa jovem ciência: 
“[...] que fazemos quando falamos? O que dizemos exatamente quando falamos? Por que 
perguntamos a nosso vizinho de mesa se ele pode? Quem fala, e para quem? Quem você 
acha que sou para me falar desse modo? Precisamos saber o que, para que uma ou outra 
frase deixe de ser ambígua? [...] Podemos confiar no sentido literal de uma frase? Quais são 
os usos da linguagem?” (2006:9, grifos do autor) 
Como a Pragmática vai se diferenciar da semântica? Rudolf Carnaf nos apresenta três 
conceitos que ele trabalha: 
1. O conceito de ato. “Falar é agir.” Quando dizemos um simples „OI!‟ executamos um 
ato, interagimos com alguém e esperamos uma resposta; Se contamos uma história, 
esperamos que quem nos ouve, acredite no que dizemos. Essas são formas de 
interagir, de usar a linguagem para agir sobre os outros. 
2. O conceito de contexto. Passou-se a avaliar a situação em que a comunicação ocorre 
de tal modo, que a inserção do contexto se torna indispensável. 
3. O conceito de desempenho. Considera-se o papel do falante e seu conhecimento 
acerca da língua. 
Por que a introdução da pragmática é importante nos estudos linguísticos? Vejamos em 
primeiro lugar a enunciação1. 
1 Para a pragmática, “[...] há palavras e frases cuja interpretação só pode ocorrer na situação 
concreta de fala”. (Fiorin: 2002, 166). Vimos que um enunciado é dependente do contexto e 
que ele é uma realização concreta da língua: Uma frase é compreendida independentemente 
do contexto. 
Exemplo: Amanhã iremos à festa. 
Como sabemos quando será „amanhã‟? Esse advérbio é um marcador de tempo e funciona 
como um dêitico1. 
1 “Dêitico é todo elemento lingüístico que num enunciado faz referência: 
(1) À situação em que esse enunciado é produzido; 
(2) Ao momento do enunciado (tempo e aspecto do verbo); 
(3) Ao falante (modalização) 
Assim, os demonstrativos, os advérbios de lugar e de tempo, em geral deles derivados, os 
pronomes pessoais, os artigos („o que está próximo‟ oposto a „o que está distante‟) são 
dêiticos, constituem os aspectos indiciais da linguagem.” (Dubois et alii: 2003, 167) 
Exemplo (1): Eu aposto dez reais que irei à festa. 
O que acontece com o verbo „apostar‟ em termos de significado? Considera-se que esse verbo 
é „performativo‟, ou seja, para que a ação expressa pelo verbo aconteça, é preciso que alguém 
a enuncie: Se ninguém diz „eu aposto‟, o ato de apostar não existe. 
Exemplo (2): Viajarei nas férias, no entanto, não conte a ninguém. 
Sabemos que „no entanto‟ é uma conjunção adversativa, mas qual é o valor dessa conjunção? 
Ela une idéias que se opões? Observando o valor dessa conjunção no exemplo, onde está o 
foco? A informação mais importante não é o fato de que eu vou viajar nas férias e sim que eu 
não quero que ninguém saiba sobre minha viagem. 
Exemplo (3): Minha filha não gosta de chocolate, ama-o. 
Qual o foco? A negação? Na verdade, o uso do advérbio de negação „não‟ serve para 
demonstrar que o significado do verbo „gostar‟ não é suficiente para representar a relação da 
minha filha com o chocolate: Ela não gosta de chocolate, ela ama chocolate. 
Atos de Fala – John Austin 
A teoria dos atos de fala foi proposta por John L. Austin que considerava “[...] que a 
linguística se deixava levar por uma ilusão descritiva [...]” (Fiorin: 2002, 170). Segundo ele, 
nem todas as sentenças podem ser julgadas apenas em termos de verdade e falsidade. Desse 
modo, Austin propõe a Teoria dos Atos de Fala para discutir a realidade da ação da fala, ou 
seja, a relação entre o que se diz e o que se faz. 
Segundo Austin, temos dois tipos de afirmações: 
 As afirmações constativas 
Afirmações constativas – São descrições de estados de coisas que podem ser: 
Exemplo: A blusa é verde. 
Essa afirmativa é verdadeira se a blusa for verde, e falsa se não existir o estado de coisas que 
descrevem. 
 As afirmações performativas, a base para sua teoria dos atos de fala. 
Afirmações performativas – não são descrições de estados de coisas, mas executam atos que 
podem ter sucesso ou fracassar. Para Austin, elas ocorrem na forma afirmativa, na 1ª pessoa 
do singular, no presente do indicativo e na voz ativa afirmativa. Além disso: 
a) Não descrevem nada e, por isso, não podem ser verdadeiros ou falsos. 
b) Correspondem à execução de uma ação. 
Vejamos duas sentenças: 
1 – Eu jogo futebol. 
2 – Eu me desculpo pelo que ocorreu. 
O que acontece quando enunciamos a sentença (1)? Em que a sentença (1) é diferente da 
(2), quando consideramos os significados veiculados? 
O fato de jogar futebol independe de minha enunciação: Posso não dizer nada a ninguém e 
ainda assim jogar futebol. 
Só há o pedido de desculpas se eu enunciá-lo, ou seja, caso eu não diga „Desculpe-me‟ esse 
verbo não terá efeito. 
Condição de Sucesso Para os Performativos 
Segundo Austin, há „condições de sucesso‟ para os performativos. 
 Enunciação exige que o falante tenha certos sentimentos e intenções, é preciso que ele 
os tenha de fato. 
Ex.: Desculpe-me pelo atraso./ Juto que vou pagar o que devo. 
Caso você não deseje se desculpar ou não pretenda pagar a dívida, há um ato verbal. 
 Enunciação deve ser realizada integralmente pelos participantes: Há performativos que 
exigem outro para que sejam realizados. 
Ex.: Se eu digo “Aposto dez reais como vai chover.” É preciso que a pessoa com quem esteja 
falando diga “Aceito”, para que o meu performativo seja realizado. 
 Circunstâncias de enunciação adequadas: As pessoas e as circunstâncias devem ser 
adequadas para a realização do enunciado em questão. 
Ex.: “Aceitar” é um verbo performativo. Em um casamento, é necessário que os noivos 
enunciem „eu aceito‟, para que o ato de casar seja consumado. Se o irmão da noiva e não o 
noivo diz „aceito‟ na cerimônia de casamento, o performativo é nulo. 
 Enunciação deve ser executada corretamente pelos participantes: A fórmula incorreta 
torna nulo o performativo. 
Ex.: O padre não pode dizer no batismo „Eu te perdoo‟, no lugar de utilizar a fórmula correta 
„Eu te batizo‟. 
Atenção: O verbo pode ser performativo, mas expressar um enunciado do tipo constativo 
quando ocorre fora do formato 1ª pessoa, singular, indicativo, voz ativa, afirmativa. 
Ele ordenou que ele saia. 
Eu ordenei que ele saísse. 
Você tinha mandado o aluno ficar quieto. 
São constativos que descrevem a realização de um performativo por uma outra pessoa ou 
pelo próprio falante em um tempo passado. 
Há Outras Formas de Realização de Performativos? 
Fiorin (2002: 172) nos mostra que Austin considera um enunciado como performativo quando 
esse enunciado puder transformar-se em outroenunciado que tenha verbo performativo na 1ª 
pessoa do singular. 
 Vejamos os exemplos apresentados pelo autor: 
Performativo Implícito Performativo explícito 
Ordeno que você saia. = Ordeno que você saia. 
Eu virei amanhã. = Prometo que virei amanhã. 
É proibido fumar. = Eu proíbo fumar. (Há um „eu‟ responsável 
pela proibição). 
 
O Que é Que Se Faz Quando Se Diz Alguma Coisa? 
Realizam-se três atos: 
 Ato locucionário: é o que realiza enunciando uma frase; Ato linguístico de dizer. 
Conjunto de sons que se organizam para efetuar uma proposição que diz alguma coisa. 
Ato locucional de dizer, enunciar cada um dos elementos da frase. 
Locucionar [do lat. Locutione, „locução‟ + -ar] – dizer, pronunciar 
 Ato ilocucionário: é o que se realiza NA linguagem; Tem um aspecto convencional, pois 
está marcado na linguagem; Reflete a posição do locutor em relação ao que ele diz. 
Força que o enunciado produz, que pode ser de pergunta, afirmação, promessa etc. 
Ato ilocucional de realizar o ato de advertência, que se realiza no próprio ato de dizer. 
i ( = em) + Locucionar [do lat. Locutione, „locução‟ + -ar] – dizer, pronunciar 
 Ato perlocucionário: é o que se realiza PELA linguagem e produz certos efeitos e 
consequências sobre os/as alocutários/as, sobre o/a próprio/a locutor/a ou sobre 
outras pessoas. 
Efeito causado na pessoa que ouve o enunciado (Só o contexto desfaz um efeito ambíguo). 
„Agrado‟ – gostaria de estar mais tempo com quem enunciou „Ameaça‟ vai se sentir vigiada por 
aquela presença. 
Ato perlocucional = ato locucional + ato perlocucional. 
Per (= pela) + Locucionar [do lat. Locutione, „locução‟ + -ar] – dizer, pronunciar 
AULA 7 – A TEORIA DOS ATOS DE FALA E SEUS DESDOBRAMENTOS 
John Searle: Uma Nova Visão da Teoria dos Atos de Fala 
Na aula 6, vimos a teoria dos atos de fala, conforme proposta por John Austin. Considera-se 
que a teoria dos atos de fala, proposta por Austin foi um importante avanço na maneira como 
se estudam os atos linguísticos. 
Mas você acha que as considerações sobre os atos de fala pararam por aí? Claro que não! 
Faz parte do saber científico, a ampliação de uma teoria proposta e, por isso, John Searle, em 
Speech Acts, desenvolve vários aspectos da teoria de Austin. 
Para tratar do trabalho de Searle, vamos, primeiramente, partir do capítulo de Victoria Wilson, 
Motivações Pragmáticas, publicado no livro Manual de Linguística. Nele, a autora se utiliza de 
exemplos retirados do Jornal do Brasil e nos explica cinco atos definidos por Searle. 
 Atos assertivos: há um compromisso por parte de quem fala. (Wilson: 2010,94). 
Exemplo: “O boomerangue é o ícone do consumo responsável.” 
 Atos diretivos: há tentativas de levarmos as pessoas a fazerem o que queremos e são 
conselhos, convites, sugestões etc. (grifo da autora). 
Exemplo. “Se beber, não dirija. Volte de táxi ou com o amigo da vez.” 
 Atos expressivos: temos a expressão de sentimentos e atitudes como agradecimentos, 
desculpas etc. 
Exemplo. “É de cortar o coração saber que tantas mães não têm notícias de seus filhos, que 
desapareceram por várias razões, algumas desconhecidas. (trecho de carta)” 
 Atos comissivos: o objetivo desse ato é produzir uma mudança pelo que é dito. 
“A cultura toma o poder. Neste domingo, o caderno B estará nas mãos de um novo editor.” 
(grifos da autora) 
 Atos declarativos: relacionam-se a situações extralinguísticas “[...] baseadas em 
instituições ocupadas por falantes e ouvintes.” São atos como o de batizar alguém, 
fazer uma sentença judicial, etc. 
Além dessa separação inicial, Searle distinguiu ato ilocutório, também chamado ato 
proposicional e força ilocutória ou ilocucional. Segundo ele, ao proferir uma frase, realiza-se 
um: 
Ato ilocutório ou ato proposicional. Representa o conteúdo comunicado, ou seja, representa 
ações a serem executadas. (Proposição = aquilo que se propõe; proposta.) 
Força ilocutória ou ato ilocucional. Ato que se realiza na linguagem e demonstra a diferença 
entre, por exemplo, uma afirmação e uma pergunta. Assim, enunciados que têm força 
ilocucional diferente podem exprimir a mesma proposição. 
O conteúdo da proposição é „Ana comprar um carro‟. No entanto, a força ilocucional vai variar 
nas situações a seguir. 
Exemplo: Ana comprou um carro. (ato ilocucional de afirmação) 
Ana comprou um carro? (ato ilocucional de interrogação) 
Compre um carro, Ana. (ato ilocucional de conselho) 
Ordeno que você compre um carro, Ana. (ato ilocucional de ordem) 
Searle (apud Wilson: 2010, 95) afirma que “frequentemente, nas situações concretas do 
discurso, é o contexto que permitirá fixar a força ilocucional da enunciação, sem que haja 
necessidade de recorrer ao marcador explícito apropriado.” 
Searle introduz outra separação quando distingue ato ilocucionário de verbo ilocucionário. 
Os atos ilocutórios podem ser expressos de forma direta ou indireta. 
Verbos ilocucionários. Verbos ou seus substantivos derivados tais como ordenar/ordem, 
interrogar/interrogação etc. 
Segundo Searle, muitas vezes, os falantes utilizam atos de fala indiretos como forma de 
minimizar a força da ordem etc. 
O trânsito está terrível. (Forma indireta) 
Desculpem-me pelo atraso. (Forma direta) 
Você tem cigarro? 
Quero um cigarro. (Forma direta) 
Embora tenhamos uma pergunta sob a ótica tradicional, temos outra possibilidade de análise 
sob a ótica da pragmática: Temos um pedido feito sob a forma de uma interrogação. 
Teoria Interacionista 
A teoria interacionista deriva dos atos de fala indiretos, pois utilizá-los demonstra o tipo de 
interação estabelecida entre as pessoas envolvidas no discurso, já que o ato de fala é, na 
verdade, parte do discurso. 
Imagine uma situação em que você quer assistir a um filme e alguns amigos de seu filho 
estão fazendo barulho. Qual seria sua escolha? 
a) Calem a boca! Quero assistir ao filme. 
b) Vocês não querem brincar lá fora? 
Provavelmente, você optou por (b) para não ser indelicado com os amigos de seu filho. 
Dependendo da idade, eles entenderão que estão atrapalhando e sairão da sala. Isso mostra a 
força de um ato de fala indireta e seu papel como protetor da face, algo que estudaremos a 
seguir. 
Teorias da Polidez Linguística ou Teoria das Faces 
Introduzida por Brown e Levinson (1987), o princípio da polidez tem origem em dois 
trabalhos: O de E. Goffman (1967) sobre face e o de Grice (1975) sobre o princípio da 
cooperação. 
 
 
 
 
 
Máximas de Grice 
Avalie a situação a seguir: 
Teoria da polidez 
Autoimagem dos indivíduos, conhecida 
como processo de elaboração de face. 
Tendência à cooperação 
O telefone toca. 
A _ “Oi, Paulo? Quer ir à praia hoje?” 
B _ “Estou cansado.” 
Como você explica a resposta de (B)? Parece apropriada? Por que (B) não disse, 
simplesmente, „‟Não quero ir à praia.”? 
Para responder a esses questionamentos vamos conhecer os estudos de H. P. Grice que 
buscaram explicar os princípios que regem a conversação. 
Grice buscou uma forma de aprofundar a Teoria dos Atos de Fala de Austin, pois acreditava 
que a conversação é governada por um princípio de cooperação que exige que cada 
enunciado tenha um objetivo, uma finalidade. 
 
 
 
 
Embora Grice soubesse que uma das propriedades da linguagem é transmitir informações 
falsas, ele acreditava que a elaboração das máximas seria uma forma de mostrar como o 
falante, na troca verbal, resolve o que deve dizer e o que não deve dizer. 
Implicaturas 
Fiorin (2002:176) comenta que, além de ter trabalhado suas máximas, Grice também 
observou que certos enunciados comunicam mais que os elementos que os compõem 
(divergência entre a significação das frases e o sentido do enunciado). Assim, trouxe para os 
estudos linguísticos a noção de implicatura. 
Exemplo: Roberto parou de fumar. (O verbo „parar‟ é um indicador de que Roberto fumava e 
não fuma mais). 
Implicação e Implicatura 
Implicação: só pode ser provocada

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