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Hercton Gomes

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Questões resolvidas

A Autoridade Policial possui atribuição para investigar um cidadão que possua foro por prerrogativa de função?
A questão foi amplamente debatida na Pet 3825 QO,3 julgada em 2007, pelo STF.
De um lado, o Ministro Sepúlveda Pertence se posicionou pela possibilidade de a Autoridade Policial investigar pessoas com foro por prerrogativa de função, e, por outro lado, o Ministro Gilmar Mendes, que inclusive liderou seus pares, entendeu que o Delegado de Polícia não possui atribuição para investigar pessoas com foro por prerrogativa de função.
O Ministro Sepúlveda Pertence motivou sua decisão em três fundamentos: (a) a instauração de inquérito policial para a apuração de fato em que se verifique a possibilidade de envolvimento de titular de foro por prerrogativa de função não depende de iniciativa do Ministério Público vinculado ao respectivo Tribunal, nem o mero indiciamento formal reclama prévia decisão de um Desembargador desse Tribunal; (b) tanto a abertura das investigações de qualquer fato delituoso, quanto, no curso delas, o indiciamento formal, são atos privativos do Delegado de Polícia que preside o inquérito policial; e (c) a prerrogativa de foro do suposto autor do fato delituoso é critério exclusivo para determinar a competência jurisdicional originária do Tribunal respectivo, quando do oferecimento da denúncia ou, eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à prévia autorização judicial, não abrangendo o procedimento investigatório prévio.
a) O Ministro Sepúlveda Pertence está correto.
b) O Ministro Gilmar Mendes está correto.
c) Ambos os Ministros estão corretos.
d) A decisão do STF não está clara.

Delegado de Polícia pode investigar ou indiciar magistrado e membro do Ministério Público? O procedimento investigativo, em relação ao magistrado, consta do art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar nº 35 de 1979. Sempre que, no curso de uma investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a Autoridade Policial deverá remeter os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga a investigação. Procedimento similar se aplica ao Promotor de Justiça em razão do art. 41, inciso II e parágrafo único, da Lei n° 8.625/1993. Nas duas hipóteses, o procedimento investigativo continuará no âmbito do Poder Judiciário ou do Ministério Público. De qualquer modo, o STJ e o STF admitem, no curso da investigação de supostos autores com foro por prerrogativa de função, a delegação à Polícia Civil ou Federal – a depender da atribuição de cada uma – de alguns atos da investigação: Não se sustentam os argumentos da impetração, ao afirmar que o inquérito transformou-se em procedimento da Polícia Federal, porquanto está apenas exerce a função de Polícia Judiciária, por delegação e sob as ordens do Poder Judiciário. Os autos demonstram tratar-se de inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça, sob o comando de Ministro daquela Corte Superior de Justiça, ao qual caberá dirigir o processo sob a sua relatoria, devendo tomar todas as decisões necessárias ao bom andamento das investigações.

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Questões resolvidas

A Autoridade Policial possui atribuição para investigar um cidadão que possua foro por prerrogativa de função?
A questão foi amplamente debatida na Pet 3825 QO,3 julgada em 2007, pelo STF.
De um lado, o Ministro Sepúlveda Pertence se posicionou pela possibilidade de a Autoridade Policial investigar pessoas com foro por prerrogativa de função, e, por outro lado, o Ministro Gilmar Mendes, que inclusive liderou seus pares, entendeu que o Delegado de Polícia não possui atribuição para investigar pessoas com foro por prerrogativa de função.
O Ministro Sepúlveda Pertence motivou sua decisão em três fundamentos: (a) a instauração de inquérito policial para a apuração de fato em que se verifique a possibilidade de envolvimento de titular de foro por prerrogativa de função não depende de iniciativa do Ministério Público vinculado ao respectivo Tribunal, nem o mero indiciamento formal reclama prévia decisão de um Desembargador desse Tribunal; (b) tanto a abertura das investigações de qualquer fato delituoso, quanto, no curso delas, o indiciamento formal, são atos privativos do Delegado de Polícia que preside o inquérito policial; e (c) a prerrogativa de foro do suposto autor do fato delituoso é critério exclusivo para determinar a competência jurisdicional originária do Tribunal respectivo, quando do oferecimento da denúncia ou, eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à prévia autorização judicial, não abrangendo o procedimento investigatório prévio.
a) O Ministro Sepúlveda Pertence está correto.
b) O Ministro Gilmar Mendes está correto.
c) Ambos os Ministros estão corretos.
d) A decisão do STF não está clara.

Delegado de Polícia pode investigar ou indiciar magistrado e membro do Ministério Público? O procedimento investigativo, em relação ao magistrado, consta do art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar nº 35 de 1979. Sempre que, no curso de uma investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a Autoridade Policial deverá remeter os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga a investigação. Procedimento similar se aplica ao Promotor de Justiça em razão do art. 41, inciso II e parágrafo único, da Lei n° 8.625/1993. Nas duas hipóteses, o procedimento investigativo continuará no âmbito do Poder Judiciário ou do Ministério Público. De qualquer modo, o STJ e o STF admitem, no curso da investigação de supostos autores com foro por prerrogativa de função, a delegação à Polícia Civil ou Federal – a depender da atribuição de cada uma – de alguns atos da investigação: Não se sustentam os argumentos da impetração, ao afirmar que o inquérito transformou-se em procedimento da Polícia Federal, porquanto está apenas exerce a função de Polícia Judiciária, por delegação e sob as ordens do Poder Judiciário. Os autos demonstram tratar-se de inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça, sob o comando de Ministro daquela Corte Superior de Justiça, ao qual caberá dirigir o processo sob a sua relatoria, devendo tomar todas as decisões necessárias ao bom andamento das investigações.

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sugestão de resposta. Nunca leia a sugestão de resposta sem tentar responder a questão. A fim 
de que a sua resposta não seja um completo chute, excepcionalmente, estude o material de 
leitura/julgados para depois responder. Quando isso acontecer, a sugestão é que o estudo 
ocorra em um dia e, a elaboração da sua resposta, no dia seguinte. Isso serve, inclusive, como 
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DIREITO CONSTITUCIONAL 
(TUDO ATUALIZADO ATÉ DEZEMBRO DE 2022) 
 
*Questões desse ebook gratuito retiradas de nosso 2º EBOOK DE QUESTÕES DISCURSIVAS AUTORAIS: 
WWW.BRUNOZANOTTI.COM.BR/EBOOK-DISCURSIVAS 
 
QUESTÃO DISSERTATIVA 
 
O domicílio se apresenta como um direito fundamental central e, nos últimos anos, os Tribunais 
Superiores têm enrijecido suas jurisprudências para a proteção de tal direito. O Superior 
Tribunal de Justiça, em julgado de 2021, fixou a obrigatoriedade de toda operação policial ser 
registrada em áudio-vídeo, e preservado tal registro durante todo o processo. 
Sobre o tema, analise a evolução jurisprudencial e indique o entendimento atual do Supremo 
Tribunal Federal. 
Versão Definitiva da Questão Dissertativa 
01 
 
02 
 
03 
 
04 
 
05 
 
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07 
 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS: 
 
Julgado 1 STF 
Julgado 2 STF 
Português (0,2 por erro) 
NOTA FINAL 
 
 
 
MATERIAL DE LEITURA E/OU JULGADOS SOBRE O TEMA: 
 
 
Para o STJ, não substitui a exigência de um mandado de busca e apreensão a mera 
autorização do morador para entrada na sua residência sem a comprovação, por parte dos 
policiais, da prova da legalidade e da voluntariedade de tal consentimento. Sobre o tema, o STJ1 
fixou cinco teses centrais a serem seguidas pelas polícias: 
1) Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório 
para ingresso no domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões 
(justa causa), aferidas de modo objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que 
dentro da casa ocorre situação de flagrante delito. 
2) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza 
permanente, nem sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se 
encontra a droga. Apenas será permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir 
que do atraso decorrente da obtenção de mandado judicial se possa, objetiva e concretamente, 
inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será destruída ou ocultada. 
3) O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a 
busca e apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer 
tipo de constrangimento ou coação. 
4) A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do 
suspeito incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela 
pessoa que autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do 
ato. Em todo caso, a operação deve ser registrada em áudio-vídeo, e preservada tal prova 
enquanto durar o processo. 
5) A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio 
alheio resulta na ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais 
provas que dela decorrerem em relação de causalidade, sem prejuízo de eventual 
responsabilização penal dos agentes públicos que tenham realizado a diligência. 
 
Observe que essa decisão determinou, com eficácia erga omnes, que as polícias do país gravem 
em vídeo a permissão dos moradores todas as vezes que precisarem invadir uma residência sem 
ordem judicial e fora das hipóteses legalmente previstas. Via de consequência, houve a 
 
1 HC 598.051/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 02/03/2021. 
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imposição de um ônus ao Poder Executivo, com um custo financeiro para o Estado, em razão da 
necessidade de aparelhar as polícias e fazer a aquisição de câmeras para gravação. 
Essa decisão chegou ao STF2 e, para oMinistro Alexandre de Moraes, a decisão do STJ foi 
equivocada por 2 motivos: 
• A natureza do Habeas Corpus não permite sua utilização de forma abrangente e 
totalmente genérica para que alcance indiscriminado a todos os processos; e 
• A decisão extrapolou a competência do STJ, ao restringir as hipóteses constitucionais de 
inviolabilidade do domicílio, inovando em matéria constitucional, de modo a criar uma 
nova exigência – a gravação audiovisual da autorização do morador - não prevista no 
artigo 5º, inciso XI, da CF. 
Em síntese, nas palavras do Ministro Alexandre de Moraes, "é incabível ao Poder Judiciário, em 
sede de Habeas Corpus individual, determinar ao Poder Executivo que faça o aparelhamento de 
suas polícias como medida obrigatória para executar buscas domiciliares, sob o argumento de 
serem necessárias para evitar eventuais abusos e ilegalidades". 
No entanto, em novo capítulo sobre o tema, o STF entendeu que o local adequado para fixação 
de tal obrigação seria em sede de ADPF, cujo julgamento naturalmente possui efeito erga 
omnes. Ao julgar a ADPF nº 635, em 3/2/2022, entre várias medidas, o Tribunal consignou a 
obrigatoriedade de o Estado do Rio de Janeiro, no prazo máximo de 180 dias, instalar 
equipamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas 
dos agentes de segurança, com o posterior armazenamento digital dos respectivos arquivos. 
Sobre o tema: 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 Plano de redução de letalidade policial e controle de violações de direitos humanos - ADPF 
635 MC-ED/RJ 
 Resumo: 
O Estado do Rio de Janeiro deve elaborar, no prazo máximo de 90 dias, um plano para 
redução da letalidade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas forças de 
segurança, que apresente medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos 
recursos necessários para a sua implementação. 
Nesse mesmo sentido, até que plano mais abrangente seja formulado, o emprego e a 
fiscalização da legalidade do uso da força devem ser feitos à luz dos “Princípios Básicos 
sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela 
Aplicação da Lei”, com todos os desdobramentos daí derivados. Desse modo, cabe às forças 
de segurança a análise, diante das situações concretas, da proporcionalidade e da 
excepcionalidade do uso da força, servindo os princípios como guias para o exame das 
justificativas apresentadas a fortiori. 
Portanto, o uso da força letal por agentes de Estado só se justifica quando, ressalvada a 
ineficácia da elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de 
risco ou de violência, exauridos os demais meios, inclusive os de armas não-letais, e 
 
2 RE 1.342.077, Min. Alexandre de Moraes, julgado em 2/12/2021. 
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5816502
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5816502
http://portal.stf.jus.br/assets/audio/1042/2.mp3
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necessário para proteger a vida ou prevenir um dano sério, decorrente de uma ameaça 
concreta e iminente. 
Ademais, nos termos do art. 227 da Constituição Federal, é imperiosa a necessidade de dar 
prioridade absoluta às investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou 
adolescentes. 
Além disso, a fim de resguardar o direito à vida, deve-se reconhecer a obrigatoriedade de 
disponibilização de ambulâncias em operações policiais previamente planejadas em que 
haja a possibilidade de confrontos armados. 
De igual modo, no caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado 
do Rio de Janeiro, devem ser observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena 
de responsabilidade: (i) a diligência, no caso específico de cumprimento de mandado 
judicial, deve ser realizada somente durante o dia, vedando-se, assim, o ingresso forçado a 
domicílios à noite; (ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial, deve estar lastreada 
em causas prévias e robustas que indiquem a existência de flagrante delito, não se 
admitindo que informações obtidas por meio de denúncias anônimas sejam utilizadas como 
justificativa exclusiva para a deflagração de ingresso forçado em domicílio; (iii) a diligência 
deve ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto circunstanciado, que 
deverá instruir eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por 
ato infracional e ser remetido ao juízo da audiência de custódia para viabilizar o controle 
judicial posterior; e (iv) a diligência deve ser realizada nos estritos limites dos fins 
excepcionais a que se destina. 
Por fim, o Estado do Rio de Janeiro deve, no prazo máximo de 180 dias, instalar 
equipamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas 
fardas dos agentes de segurança, com o posterior armazenamento digital dos respectivos 
arquivos. 
Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário acolheu parcialmente embargos de 
declaração em medida cautelar em arguição de descumprimento de preceito fundamental. 
ADPF 635 MC-ED/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 2 e 3.2.2022 
 
Síntese dos 8 pontos centrais da ADPF das favelas (fonte: dizer o direito): 
 
O STF determinou que: 
1) o Estado do Rio de Janeiro elabore e encaminhe ao STF, no prazo máximo de 90 dias, um 
plano para redução da letalidade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas 
forças de segurança, que apresente medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos 
recursos necessários para a sua implementação. 
2) o emprego e a fiscalização da legalidade do uso da força sejam feitos à luz dos Princípios 
Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela 
Aplicação da Lei. 
3) seja criado um grupo de trabalho sobre Polícia Cidadã no Observatório de Direitos Humanos 
localizado no Conselho Nacional de Justiça; 
4) nos termos dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos 
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, só se justifica o uso da força letal por agentes 
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de Estado quando, ressalvada a ineficácia da elevação gradativa do nível da força empregada 
para neutralizar a situação de risco ou de violência, exauridos os demais meios, inclusive os de 
armas não-letais, e necessário para proteger a vida ou prevenir um dano sério, decorrente de 
uma ameaça concreta e iminente. 
5) as investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes terão a 
prioridade absoluta; 
6) No caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, 
devem ser observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade: (i) 
a diligência, no caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada 
somente durante o dia, vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios à noite; (ii) a 
diligência, quando feita sem mandado judicial, deve estar lastreada em causas prévias e robustas 
que indiquem a existência de flagrante delito, não se admitindo que informações obtidas por 
meio de denúncias anônimas sejam utilizadas como justificativa exclusiva para a deflagração de 
ingresso forçado em domicílio; (iii) a diligência deve ser justificada e detalhada por meio da 
elaboração de auto circunstanciado, que deverá instruir eventual auto de prisão em flagrante 
ou de apreensão de adolescente porato infracional e ser remetido ao juízo da audiência de 
custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e (iv) a diligência deve ser realizada nos 
estritos limites dos fins excepcionais a que se destina. 
7) seja obrigatória a disponibilização de ambulâncias em operações policiais previamente 
planejadas em que haja a possibilidade de confrontos armados, sem prejuízo da atuação dos 
agentes públicos e das operações; 
8) o Estado do Rio de Janeiro, no prazo máximo de 180 dias, instale equipamentos de GPS e 
sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de 
segurança, com o posterior armazenamento digital dos respectivos arquivos. 
 
 
SUGESTÃO DE RESPOSTA: 
 
Em 2021, como exposto no texto da questão, o Superior Tribunal de Justiça fixou a 
obrigatoriedade de toda operação policial ser registrada em áudio e vídeo. 
O Supremo Tribunal Federal, contudo, cassou tal decisão, seja porque a natureza do Habeas 
Corpus não permite sua utilização de forma abrangente e totalmente genérica, seja porque a 
decisão extrapolou a competência do Superior Tribunal de Justiça, ao restringir as hipóteses 
constitucionais de inviolabilidade do domicílio, inovando em matéria constitucional. 
No entanto, em novo capítulo sobre o tema, o STF entendeu que o local adequado para fixação 
de tal obrigação seria em sede de ADPF, cujo julgamento naturalmente possui efeito erga 
omnes. Nessa linha, o Tribunal consignou a obrigatoriedade de o Estado do Rio de Janeiro, no 
prazo máximo de 180 dias, instalar equipamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e 
vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança, com o posterior 
armazenamento digital dos respectivos arquivos. 
 
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QUESTÃO DISSERTATIVA 
 
O Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, julgou o Recurso Extraordinário nº 1055941 
e decidiu pela constitucionalidade do compartilhamento de relatórios de inteligência financeira 
da UIF e procedimento fiscalizatório da Receita Federal para fins criminais sem autorização 
judicial. À luz da decisão, não se trata de cláusula de reserva de jurisdição, inexistindo violação 
de direitos constitucionais, como a privacidade, pois existe mera transferência de informações 
de um procedimento sigiloso para outro. Considerando a decisão mencionada, no curso de uma 
investigação criminal, o Delegado de Polícia requisita, sem autorização judicial, cópia de um 
procedimento fiscalizatório da Receita Federal. 
A atuação do Delegado de Polícia foi correta? Fundamente a sua resposta. 
 
 
 
Versão Definitiva da Questão Dissertativa 
01 
 
02 
 
03 
 
04 
 
05 
 
06 
 
07 
 
08 
 
09 
 
10 
 
11 
 
12 
 
13 
 
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15 
 
16 
 
17 
 
18 
 
19 
 
20 
 
 
 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS: 
 
Foi correta? 
Fundamento. 
Português (0,2 por erro) 
NOTA FINAL 
 
 
 
MATERIAL DE LEITURA E/OU JULGADOS SOBRE O TEMA: 
 
 
Processo 
RHC 82.233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por maioria, 
julgado em 09/02/2022. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
Dados fiscais. Requisição pelo Ministério Público. Autorização judicial. Ausência. 
Ilegalidade. 
 
DESTAQUE 
É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo 
Ministério Público. 
 
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR 
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário 
1.055.941/SP, em sede de repercussão geral, firmou a orientação de que é 
constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e 
da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil - em que se 
define o lançamento do tributo - com os órgãos de persecução penal para fins 
criminais sem prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das 
informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior 
controle jurisdicional (Tema 990). 
Da leitura desatenta da ementa do julgado, poder-se-ia chegar à conclusão 
de que o entendimento consolidado autorizaria a requisição direta de dados pelo 
Ministério Público à Receita Federal, para fins criminais. No entanto, a análise acurada 
do acórdão demonstra que tal conclusão não foi compreendida no julgado, que trata 
da Representação Fiscal para fins penais, instituto legal que autoriza o 
compartilhamento, de ofício, pela Receita Federal, de dados relacionados a supostos 
ilícitos tributários ou previdenciários após devido procedimento administrativo fiscal. 
Assim, a requisição ou o requerimento, de forma direta, pelo órgão da 
acusação à Receita Federal, com o fim de coletar indícios para subsidiar investigação 
ou instrução criminal, além de não ter sido satisfatoriamente enfrentada no 
julgamento do Recurso Extraordinário n. 1.055.941/SP, não se encontra abarcada 
pela tese firmada no âmbito da repercussão geral em questão. Ainda, as poucas 
https://processo.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=RHC82233
http://www.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&cod_tema_inicial=990&cod_tema_final=990
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referências que o acórdão faz ao acesso direto pelo Ministério Público aos dados, sem 
intervenção judicial, é no sentido de sua ilegalidade. 
Em um estado de direito não é possível se admitir que órgãos de 
investigação, em procedimentos informais e não urgentes, solicitem informações 
detalhadas sobre indivíduos ou empresas, informações essas constitucionalmente 
protegidas, salvo autorização judicial. 
Uma coisa é órgão de fiscalização financeira, dentro de suas atribuições, 
identificar indícios de crime e comunicar suas suspeitas aos órgãos de investigação 
para que, dentro da legalidade e de suas atribuições, investiguem a procedência de 
tais suspeitas. Outra, é o órgão de investigação, a polícia ou o Ministério Público, sem 
qualquer tipo de controle, alegando a possibilidade de ocorrência de algum crime, 
solicitar ao COAF ou à Receita Federal informações financeiras sigilosas detalhadas 
sobre determinada pessoa, física ou jurídica, sem a prévia autorização judicial. 
Assim, é ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo 
Ministério Público. 
 
 
SUGESTÃO DE RESPOSTA: 
 
A decisão do Supremo Tribunal Federal constitui importante precedente para fins de 
compartilhamento de dados pela Receita Federal. Contudo, isso não importa na desnecessidade 
de autorização judicial pelo Delegado de Polícia quando esse, de sua iniciativa, buscar o acesso 
a tais informações sigilosas. 
De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, uma coisa é órgão de fiscalização financeira, 
dentro de suas atribuições, identificar indícios de crime e comunicar suas suspeitas aos órgãos 
de investigação para que, dentro da legalidade e de suas atribuições, investiguem a procedência 
de tais suspeitas. Outra, é o Delegado de Polícia, sem qualquer tipo de controle, alegando a 
possibilidade de ocorrência de algum crime, solicitar à Receita Federal informações financeiras 
sigilosas detalhadas sobre determinadapessoa, física ou jurídica, sem a prévia autorização 
judicial. 
 
 
 
 
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QUESTÃO DISSERTATIVA 
 
O foro por prerrogativa passou por sensíveis limitações nos últimos anos, com uma atuação do 
Supremo Tribunal federal e do Superior Tribunal de Justiça no sentido de diminuir a sua 
incidência em cenários que, até então, eram de incidência típica de tal prerrogativa. 
Sobre o tema, em uma investigação envolvendo promotor de justiça por fato sem relação à 
função, o Delegado de Polícia deverá solicitar autorização do respectivo foro para instaurar o 
inquérito policial? E se for hipótese de investigação envolvendo o Governador do Estado em fato 
sem relação ao mandato? E, por fim, se for hipótese de investigação envolvendo um vereador 
por fato ocorrido no curso do mandato e em razão deste, com foro previsto no respectivo 
Tribunal de Justiça? As respostas devem acompanhar a atual jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal. 
 
Versão Definitiva da Questão Dissertativa 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS: 
 
Promotor de Justiça 
Deputado Estadual 
Vereador 
Português (0,2 por erro) 
NOTA FINAL 
 
 
MATERIAL DE LEITURA E/OU JULGADOS SOBRE O TEMA: 
 
1. Distinguindo entendimentos sobre a incidência do foro por prerrogativa de função entre o 
STF e o STJ 
A principal finalidade do inquérito policial é apurar a autoria e a materialidade das infrações penais, de 
modo a contribuir na formação do convencimento (opinio delicti) do Ministério Público e, 
excepcionalmente, da vítima (querelante). No entanto, é possível que, no curso da investigação criminal, 
o Delegado de Polícia verifique que um dos autores seja um cidadão que possua foro por prerrogativa de 
função. Diante do exposto, questiona-se: A Autoridade Policial possui atribuição para investigar um 
cidadão que possua foro por prerrogativa de função? 
A questão foi amplamente debatida na Pet 3825 QO,3 julgada em 2007, pelo STF. De um lado, o Ministro 
Sepúlveda Pertence se posicionou pela possibilidade de a Autoridade Policial investigar pessoas com foro 
por prerrogativa de função, e, por outro lado, o Ministro Gilmar Mendes, que inclusive liderou seus pares, 
entendeu que o Delegado de Polícia não possui atribuição para investigar pessoas com foro por 
prerrogativa de função. 
O Ministro Sepúlveda Pertence4 motivou sua decisão em três fundamentos: (a) a instauração de 
inquérito policial para a apuração de fato em que se verifique a possibilidade de envolvimento de titular 
de foro por prerro-gativa de função não depende de iniciativa do Ministério Público vinculado ao 
respectivo Tribunal, nem o mero indiciamento formal reclama prévia decisão de um Desembargador 
desse Tribunal; (b) tanto a abertura das investigações de qualquer fato delituoso, quanto, no curso 
delas, o indiciamento formal, são atos privativos do Delegado de Polícia que preside o inquérito policial; 
e (c) a prerrogativa de foro do suposto autor do fato delituoso é critério exclusivo para determinar a 
competência jurisdicional originária do Tribunal respectivo, quando do oferecimento da denúncia ou, 
eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à prévia autorização judicial, não 
abrangendo o procedimento investigatório prévio. 
Por outro lado, de acordo com o Ministro Gilmar Mendes,5 se a Constituição Federal estabelece, por 
exemplo, que os agentes políticos respondem, por crime comum, perante o STF (CF, art. 102, I, b), não 
há razão constitucional plausível para que as atividades diretamente relacionadas à supervisão judicial 
(abertura de procedimento investigatório) sejam retiradas do controle judicial do STF, devendo, 
portanto, a iniciativa do procedimento investigatório ser confiada ao MPF com a supervisão do 
Ministro-Relator do STF. 
 
3. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, 
Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007. 
4. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, 
Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007. 
5. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, 
Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007. 
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O Ministro Sepúlveda Pertence foi voto vencido e fixou-se o entendimento de que não é qualquer 
suposto autor de crime que pode ser investigado em um inquérito policial. Apesar de a Constituição 
Federal indicar somente o órgão competente para o julgamento das autoridades com foro por 
prerrogativa de função e silenciar acerca do procedimento investigatório preparativo para a ação penal, 
o Pretório Excelso entende que o foro por prerrogativa de função se estende também à etapa da 
investigação criminal. 
Em síntese, no que diz respeito às autoridades com foro no STF, o Tribunal6 entende que a abertura do 
procedimento investigativo, as medidas cautelares e o indiciamento pela Autoridade Policial estão 
condicionados à autorização do Ministro relator da causa no STF. Nessas hipóteses, a abertura do 
procedimento ou ato de indiciamento pela Autoridade Policial apresenta-se como ato complexo por 
depender de duas vontades para a sua efetivação. 
Segue um exemplo para ilustrar a questão. Trata-se da quebra do sigilo bancário feita pelo STF em 2018 
em face do Presidente da República, a fim de instruir inquérito policial em andamento relativo ao “Decreto 
dos Portos”, onde supostamente houve favorecimento a determinada empresa. Como um Presidente da 
República possui foro por prerrogativa de função no STF, cabe a esse Tribunal decidir sobre as medidas 
cautelares relativas às investigações criminais em curso. 
E mais, nos casos em que o investigado com foro por prerrogativa de função é identificado no curso da 
investigação criminal, ainda assim é necessária a remessa ao Tribunal competente. Nas palavras do STF7, 
“a prerrogativa de foro enseja a imediata remessa do inquérito à corte competente e não seu 
trancamento automático por nulidade processual”. Contudo, a caracterização do foro reclama que a 
participação da autoridade deva estar fundamentada em elementos de informação aptos a provocar a 
convicção de que pode realmente ter havido algum envolvimento dessa autoridade com prerrogativa. Em 
outras palavras, a caracterização do foro não pode decorrer de meras alusões genéricas mencionando 
o nome da autoridade, sendo imprescindíveis, para tanto, elementos de informação aptos a provocar 
a convicção de que pode realmente ter havido algum envolvimento da autoridade com prerrogativa.8 
No mesmo sentido é a posição do STJ: 
A mera presença de autoridade com foro por prerrogativa de função em conversas captadas por meio 
de procedimento de interceptação telefônica não é suficiente para determinar a imediata remessa 
dos autos ao foro competente em razão da pessoa. Este procedimento deve ser tomado após exame 
acerca da idoneidade e da suficiência dos dados colhidos para se firmar o convencimento acerca do 
possível envolvimento do detentor de prerrogativa de foro com a prática dos fatos apurados. 
Precedentes.9 
Por outro lado, em relação aos foros por prerrogativa dos demais Tribunais, as duas turmas do STJ seguemlinha distinta da sistemática presente no STF. O STJ faz uma interpretação restritiva do entendimento 
acima apresentado, no sentido de que o posicionamento do STF sobre o tema se aplica somente ao 
respectivo Tribunal, uma vez que a extensão do foro por prerrogativa de função à etapa investigativa 
decorre exclusivamente de determinação presente no Regimento Interno do STF. Nessa linha, para o STJ, 
o Delegado de Polícia pode investigar e indiciar pessoas com foro por prerrogativa de função sem 
ingerência do respectivo Tribunal; a única ressalva seria eventual medida cautelar que deve ser 
encaminhada ao Tribunal de foro para análise da representação. Segue o entendimento da 5ª Turma do 
STJ: 10 
 
6. Inq 2411 QO, Relator(a): Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007. 
 
7 RHC 122338 AgR, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 22/03/2019. HC 153417 ED-segundos, 
Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 12/03/2019. 
8 HC 153417 ED-segundos, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 12/03/2019. 
9 HC 482.175/GO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2019. 
10 RHC 79.910/MA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 
26/03/2019. No mesmo sentido, julgado analisando de forma mais específica o ato de indiciamento: AgRg 
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1. No que concerne às investigações relativas a pessoas com foro por prerrogativa de função, tem-
se que, embora possuam a prerrogativa de serem processados perante o tribunal, a lei não 
excepciona a forma como se procederá à investigação, devendo ser aplicada, assim, a regra geral 
trazida no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal, a qual não requer prévia autorização do 
Judiciário. "A prerrogativa de foro do autor do fato delituoso é critério atinente, de modo exclusivo, 
à determinação da competência jurisdicional originária do tribunal respectivo, quando do 
oferecimento da denúncia ou, eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à 
prévia autorização judicial" (Pet 3825 QO, Relator p/ acórdão: Min. Gilmar Mendes, Pleno, julgado 
em 10/10/2007). Precedentes do STF e do STJ. 
2. Não há razão jurídica para condicionar a investigação de autoridade com foro por prerrogativa 
de função a prévia autorização judicial, sendo certo que a garantia constitucional diz respeito tão 
somente ao processamento e ao julgamento de eventual ação penal movida em desfavor de 
ocupante de cargo cujo status constitucional assegure privilégio de foro, de modo a evitar 
persecução criminal infundada. Por isso, não há que se falar em nulidade quando o procedimento de 
investigação instaurado pelo Ministério Público prossegue sem a chancela do Poder Judiciário, pois 
trata-se de procedimento pré-processual, não acobertado pela garantia de foro especial. 
3. Em resumo: a) O Código de Processo Penal prevê, como primeira hipótese, a instauração de 
inquérito policial ex officio pela Polícia Judiciária, em cumprimento de seu dever constitucional, sem 
necessidade de requerimento ou provocação de qualquer órgão externo; b) O Supremo Tribunal 
Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n. 593.727/MG, assentou a concorrência de 
atribuição entre o Ministério Público e a Polícia Judiciária para realizar investigações criminais; c) 
Sendo assim, a mesma sistemática é válida tanto para procedimentos investigatórios ordinários 
quanto para investigações que envolvam autoridades com prerrogativa de função; d) Por 
constituírem limitações ao poder de investigação conferido pela Constituição Federal à Polícia 
Judiciária e ao Ministério Público, as hipóteses em que a atividade investigatória é condicionada à 
prévia autorização judicial exigem previsão legal expressa - REsp n. 1.697.146/MA, Rel. Ministro 
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 9/10/2018, DJe 17/10/2018. No mesmo diapasão: RHC n. 
93.723/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 7/8/2018, DJe 15/8/2018 e RHC 
n. 73.829/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 
23/05/2017, DJe 31/05/2017. 
4. A defesa tem razão quando sustenta que a quebra de sigilo bancário, além de outras medidas 
acobertadas pela reserva de jurisdição, devem partir do Juízo competente para o julgamento da 
ação principal. (...) 
E o STF, está de acordo com tal entendimento do STJ? 
Inicialmente, as duas Turmas do STF divergiam sobre o tema. 
De acordo com a 1ª Turma do STF11, “o ato de instauração de inquérito ou procedimento 
investigatório contra Prefeitos Municipais independe de autorização do Tribunal competente 
para processar e julgar o detentor da prerrogativa de foro”. De forma mais incisiva, vale citar 
parte do inteiro teor deste julgado: “Nessa toada, como bem salientou o parecer ministerial: no 
que concerne às investigações relativas a pessoas com foro por prerrogativa de função, tem-se 
que, embora possuam a prerrogativa de serem processados perante o tribunal, a lei não 
excepciona a forma como se procederá à investigação, devendo ser aplicada, assim, a regra geral 
trazida no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal, a qual não requer prévia autorização 
do Judiciário”. 
 
no HC 404.228/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 01/03/2018. No mesmo 
sentido, a 6ª Turma do STJ: AgRg no AREsp 1541633/PR, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, 
SEXTA TURMA, julgado em 06/10/2020. 
11 HC 177992 AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 23/08/2021. 
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Por outro lado, para a 2ª turma do STF12, "é indispensável a existência de prévia autorização 
judicial para a instauração de inquérito ou outro procedimento investigatório em face de 
autoridade com foro por prerrogativa de função em TJ." 
O tema teve novo avanço em meados de 2022. Por unanimidade, em 16/05/2022, o STF13 
validou dispositivo do regimento interno do Tribunal de Justiça do Amapá que incluiu, entre as 
atribuições do desembargador-relator, a prerrogativa de autorizar a instauração de inquérito, a 
pedido do procurador-geral de Justiça, contra autoridades com prerrogativa de foro no tribunal. 
De acordo com o voto da Relatora, a Ministra Cármem Lúcia, “quanto à necessidade de 
supervisão judicial dos atos investigatórios, tem-se, pela interpretação sistemática da CF/88 e 
com fulcro na jurisprudência consolidada desta Corte, que o mesmo tratamento conferido às 
autoridades com foro por prerrogativa de função no STF deve ser aplicado, por simetria, 
àquelas com foro em outros tribunais, em observância ao princípio da isonomia, que garante 
o mesmo tratamento aos que estejam em situação igual”. Nessa linha, o STF abre divergência 
clara em relação ao STJ, quando caracterizado o foro por prerrogativa de função, em razão da 
necessidade de prévia autorização do respectivo foro para instaurar investigação, para indiciar 
e para eventual medida cautelar. 
 
2 . Foros por prerrogativa de função na Constituição Federal 
A Constituição Federal criou inúmeros foros por prerrogativas de função. Segue um quadro com todas as 
hipóteses nela previstas: 
 
AUTORIDADE 
FORO 
COMPETENTE 
1. Presidente e Vice-Presidente da República, Deputados Federais e 
Senadores, Ministros do STF, Procurador-Geral da República, Ministros 
de Estado, Advogado-Geral da União, Comandantes da Marinha, 
Exército e Aeronáutica, Ministros do STJ, STM, TST e TSE, Ministros do 
TCU, Chefes de missão diplomática de caráter permanente 
STF 
2. Governadores, Desembargadores(TJ, TRF e TRT), membros do TRE, 
conselheiros dos Tribunais de Contas, membros do MPU que oficiem 
perante tribunais 
STJ 
3. Juízes Federais, Juízes Militares, Juízes do Trabalho, Membros do 
MPU de 1ª instância 
TRF ou TRE 
4. Juízes de Direito, Promotores, Deputados Estaduais ou Distritais e 
Procuradores de Justiça. 
TJ ou TRE 
5. Prefeitos TJ, TRF ou TRE 
 
12 HC 201965/RJ, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento em 30.11.2021. 
13 ADI 7083, Rel. Min. Cármen Lúcia, 13.05.2022. 
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No que diz respeito ao quadro, o foro por prerrogativa dos Deputados Estaduais ou Distritais não estão 
expressamente previstos na Constituição Federal, mas o STJ14 entende que eles decorem implicitamente 
da Constituição Federal por aplicação do princípio da simetria em conjunto com os artigos 25 e 27, § 1º, 
da Constituição Federal. 
Sobre o tema, as Constituições Estaduais podem criar outras hipóteses de foro por prerrogativa de função 
para além daquelas previstas na Constituição Federal? 
O tema foi trabalhado nas ADI 2553, ADI 6515 e ADI 6508,15 julgadas em meados de 2021. Nos diversos 
precedentes, a Constituição Estadual criava foro por prerrogativa, por exemplo, para os procuradores de 
Estado, procuradores da assembleia legislativa, defensores públicos, delegados de polícia, vereadores e 
vice-prefeitos, de modo que todos fossem julgados perante o tribunal de justiça. Nos procedentes, o 
Supremo Tribunal Federal entendeu que tais foros são inconstitucionais. Contudo, um ponto final deve 
ser levantado: É possível a Constituição Estadual criar, com base no princípio da simetria, foros por 
prerrogativa de função? 
Essa é uma resposta complexa e a jurisprudência do STF variou muito recentemente: 
 
ADI 2553 2019 Não admite a ampliação do foro por prerrogativa no âmbito estadual 
com base no princípio da simetria (só a CF pode criar foros). 
ADI 6515 
ADI 6508 
Agosto de 
2021 
Admite a ampliação do foro por prerrogativa no âmbito estadual com 
base no princípio da simetria: 
 
““É inconstitucional norma de constituição estadual que estende o 
foro por prerrogativa de função a autoridades não contempladas pela 
Constituição Federal de forma expressa ou por simetria”.” 
ADI 6506 Novembro 
de 2021. 
Não admite a ampliação do foro por prerrogativa no âmbito estadual 
com base no princípio da simetria (só a CF pode criar foros). 
 
“A Constituição Federal estabeleceu exceções ao duplo grau de 
jurisdição nas esferas federal, estadual e municipal, quanto a 
autoridades de todos os Poderes, de modo que não caberia aos Estados 
estabelecer, seja livremente, seja por simetria, prerrogativas de foro 
às autoridades não abarcadas pelo legislador constituinte”. 
ADI 6510 Abril de 
2022. 
Admite a ampliação do foro por prerrogativa no âmbito estadual com 
base no princípio da simetria: 
 
“(Os Estados) devem observar, em razão do princípio da simetria, o 
modelo adotado na Carta Magna, sob pena de invalidade 
da prerrogativa de foro“ 
 
 
Nesse ponto, deve-se citar a Súmula Vinculante nº 45 do Supremo Tribunal Federal: “A competência 
constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido 
exclusivamente pela constituição estadual”. 
 
 
14 CC 105.227-TO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 24/11/2010. 
15 ADI 6501/PA e ADI 6508, ambas do relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 
20.8.2021. ADI 2553/MA, rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 15.5.2019 
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5971309
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3 . A questão da pertinência temática 
O foro por prerrogativa de função tem início com a diplomação, em relação aos cargos eletivos, ou com 
a posse, em relação aos cargos decorrentes de concurso público. Até o ano de 2018, o foro por 
prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na interpretação adotada pelo Supremo Tribunal Federal, 
alcançava todos os crimes de que são acusados os agentes públicos, inclusive os praticados antes da 
investidura no cargo e os que não guardam qualquer relação com o seu exercício. 
Contudo, atualmente, o foro não abrange todos os crimes cometidos por essas autoridades, uma vez que 
o STF limitou a sua incidência para os casos com a pertinência temática devidamente comprovada. À luz 
do que decidido na AP 937 QO,16 a partir de 2018, a comprovação da pertinência temática envolve o 
preenchimento de dois requisitos cumulativos: 
• Requisito temporal: o crime deve ser praticado durante o exercício do cargo, sendo tal requisito 
de ordem objetiva (análise de marcos temporais delineados); 
• Requisito material ou substancial: o crime deve ter sido praticado em razão do cargo, sendo tal 
requisito de ordem subjetiva (faz-se necessário analisar à luz das provas o preenchimento do 
requisito). 
Preenchidos os dois requisitos, estará caracterizada a incidência do foro por prerrogativa de função. 
Atenção para a distinção jurisprudencial: 
• Foro no STF: a abertura do procedimento investigativo, as medidas cautelares e o indiciamento 
pela Autoridade Policial ficam condicionados à autorização do Ministro relator. 
• Foro no STJ e nos demais tribunais: somente as medidas cautelares ficam condicionadas à 
autorização do Ministro ou Desembargador relator, podendo o Delegado de Polícia abrir 
procedimento investigativo e indiciar independentemente do respetivo foro por prerrogativa. 
Contudo, como ficam os crimes em que os dois requisitos não estão preenchidos? 
Os crimes sem preenchimentos de tais requisitos não ficarão sob a supervisão do respectivo Tribunal, de 
modo que a abertura do procedimento investigativo e o indiciamento pela Autoridade Policial são feitos 
diretamente pelo Delegado de Polícia sem ingerência do Tribunal, do mesmo modo que as medidas 
cautelares serão representadas diretamente ao juiz de primeira instância. 
Observe o quadro mnemônico: 
SITUAÇÃO STF – CENÁRIO INVESTIGATIVO STJ e demais Tribunais – 
CENÁRIO INVESTIGATIVO 
1. Crime cometido antes da 
diplomação 
Investigação e indiciamento pelo Delegado sem autorização 
do Tribunal. Medidas cautelares em 1ª instância. 2. Crime cometido após a 
diplomação e SEM relação com as 
funções 
3. Crime cometido após a 
diplomação e COM relação com as 
funções 
Precisa de autorização do Tribunal 
para instauração do procedimento 
investigativo, indiciamento e 
medida cautelar. 
Investigação e indiciamento pelo 
Delegado sem autorização do 
Tribunal. Precisa de autorização 
do Tribunal somente para as 
medidas cautelares. 
 
16 AP 937 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2018. 
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OBS: Vale pontuar que essa 
informação está de acordo com o 
STJ e 1ª Turma do STF. Já que, para 
a 2ª Turma do STF, a investigação e 
o indiciamento precisam de 
autorização do respectivo Tribunal. 
4. Crime ocorrido após o fim do 
mandato 
Investigação e indiciamento pelo Delegado sem autorização do 
Tribunal. Medidas cautelares em 1ª instância. 
 
Sobre o indiciamento pelo Delegado de Polícia em investigação envolvendo foro no STF, 
vale citar um importante detalhe. O Ministro Roberto Barroso, em decisão liminar, no INQ 4621, 
de 2018, autorizou o indiciamento por Delegado de Polícia, sem necessidadede prévia 
autorização do STF, em face do Presidente da República à época. No caso, prevaleceu o 
argumento de que o indiciamento seria legítimo e não dependeria de autorização judicial prévia, 
uma vez que o inquérito contra o Presidente da República foi instaurado e tramitou sempre sob 
a supervisão de Ministro do STF, pontuando, ainda, que o indiciamento é ato privativo da 
autoridade policial, nos termos da Lei n° 12.830/13. De acordo com o voto do Ministro, a 
autorização para prévio indiciamento somente seria necessária quando a investigação não tiver 
sido previamente autorizada pelo ministro relator. 
Sobre o indiciamento pelo Delegado de Polícia em investigação envolvendo os demais 
foros (STJ e demais Tribunais, vale citar decisão da 5ª Turma do STJ17 que denegou habeas corpus 
contra ato de Delegado de Polícia e “assentou o entendimento de que o mero indiciamento em 
inquérito policial, desde que não seja abusivo e ocorra antes do recebimento da exordial 
acusatória, não constitui manifesto constrangimento ilegal”. No mesmo sentido, a 1ª Turma do 
STF e, em sentido contrário (necessidade de prévia autorização do Tribunal), a 2ª Turma do STF, 
tal como explicado acima. 
 
7. Delegado de Polícia pode investigar ou indiciar magistrado e membro do Ministério Público? 
O procedimento investigativo, em relação ao magistrado, consta do art. 33, parágrafo único, da Lei 
Complementar nº 35 de 1979. Sempre que, no curso de uma investigação, houver indício da prática 
de crime por parte do magistrado, a Autoridade Policial deverá remeter os respectivos autos ao 
Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga a investigação. 
Procedimento similar se aplica ao Promotor de Justiça em razão do art. 41, inciso II e parágrafo único, 
da Lei n° 8.625/1993. Nas duas hipóteses, o procedimento investigativo continuará no âmbito do 
Poder Judiciário ou do Ministério Público. De qualquer modo, o STJ e o STF admitem, no curso da 
investigação de supostos autores com foro por prerrogativa de função, a delegação à Polícia Civil ou 
Federal – a depender da atribuição de cada uma – de alguns atos da investigação: 
Não se sustentam os argumentos da impetração, ao afirmar que o inquérito transformou-
se em procedimento da Polícia Federal, porquanto está apenas exerce a função de Polícia 
Judiciária, por delegação e sob as ordens do Poder Judiciário. Os autos demonstram tratar-
se de inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça, sob o comando de Ministro 
 
17 AgRg no HC 404.228/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 01/03/2018. 
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daquela Corte Superior de Justiça, ao qual caberá dirigir o processo sob a sua relatoria, 
devendo tomar todas as decisões necessárias ao bom andamento das investigações.18 
O Delegado de Polícia, portanto, não pode presidir investigação ou indiciar magistrado e 
membro do Ministério Público. A presidência de tais investigações será feita, portanto, pelo 
Ministério Público ou pelo Poder Judiciário. 
 
SUGESTÃO DE RESPOSTA: 
 
No primeiro cenário, em uma investigação envolvendo promotor de justiça por fato sem relação 
à função, o Delegado de Polícia não poderá presidir o mencionado procedimento, devendo 
encaminhar o procedimento ao respectivo Procurador-Geral de Justiça para as deliberações 
necessárias. 
Se for hipótese de investigação envolvendo o Governador do Estado em fato sem relação ao 
mandato, o Delegado presidirá o procedimento, que não terá foro por prerrogativa envolvido, 
já que todo o procedimento terá curso perante o magistrado de primeiro grau. 
Por fim, se for hipótese de investigação envolvendo um vereador por fato ocorrido no curso do 
mandato e em razão deste, com foro previsto no respectivo Tribunal de Justiça, deve-se pontuar 
que tal foro é constitucional, consoante jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, já que a 
Constituição Estadual pode regular tais foros em razão do princípio da simetria. Nessa hipótese, 
o Delegado presidirá o procedimento, que terá foro por prerrogativa no respectivo Tribunal de 
Justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
18. HC 94278, Relator(a): Min. Menezes Direito, Tribunal Pleno, julgado em 25/09/2008. 
 
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DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
 
QUESTÃO DISSERTATIVA 
 
A derrubada de um dos vetos do pacote anticrime pelo Congresso Nacional trouxe um 
tratamento diferenciado para a investigação envolvendo agentes da segurança pública, tema 
tratado, atualmente, no art. 14-A do CPP. 
Considerando o tema, indique o objeto investigativo da inovação legislativa inerente ao art. 14-
A, bem como duas diretrizes legislativas que impactam nessa investigação. 
 
Versão Definitiva da Questão Dissertativa 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS: 
 
Objeto da Investigação 
• direcionado para qualquer procedimento investigativo 
• uso da força letal – consumada ou tentada, mesmo com 
cláusula de excludente de ilicitude 
• Qualquer agente do art. 144 da CF 
 
2 diretrizes legislativas 
Português (0,2 por erro) 
NOTA FINAL 
 
 
 
MATERIAL DE LEITURA E/OU JULGADOS SOBRE O TEMA: 
 
INVESTIGAÇÃO EM FACE DE AGENTES DA SEGURANÇA PÚBLICA 
O tema foi inserido no art. 14-A do CPP pela Lei n° 13.964/19. Nos casos em que servidores 
vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como 
investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos 
extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal 
praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, mesmo se for suposta 
hipótese de excludente de ilicitude, o indiciado poderá constituir defensor. 
A inovação legislativa trouxe nova obrigação legal ao Delegado de Polícia por ocasião da 
instauração do inquérito policial quando se tratar da situação narrada no parágrafo anterior, 
entendimento esse aplicável a qualquer procedimento investigativo à luz do disposto no 
mencionado artigo. De acordo com o art. 14, § 1º, do CPP, o investigado deverá ser citado da 
instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 
(quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. Tal ciência ao investigado é 
qualificada como uma decorrência do contraditório e da ampla defesa, de modo que toda a 
investigação policial não se efetue a sua revelia. 
Como colocado, existe a possibilidade de o investigado constituir defensor; contudo, sempre 
haverá a obrigatoriedade de um defensor acompanhar o procedimento, uma vez que, nos 
termos do art. 14, § 1º, do CPP, caso o investigado não constitua o defensor, “a autoridade 
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o 
investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) 
horas, indique defensor para a representação do investigado”. 
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Vale ressaltar que a novidade não decorre da participaçãodo advogado no procedimento, 
situação que já ocorre em qualquer investigação e tem previsão legal no estatuto da OAB (art. 
7º, XXI, da Lei nº 8.906/94). A inovação, portanto, se fundamenta na obrigatoriedade de o 
investigado ser notificado da investigação e na obrigatoriedade da presença do advogado no 
curso do procedimento (mesmo que o investigado não constitua defensor). 
Para avançar no estudo, um questionamento se faz necessário. De fato, existe a possibilidade 
de o investigado constituir defensor, no entanto, ele pode ficar inerte no prazo de 48 (quarenta 
e oito) horas a contar do recebimento da citação, cenário em que a instituição a que está 
vinculado o investigado deve indicar defensor para o caso. Mas quem seria este defensor para 
a representação do investigado? 
Com a derrubada dos vetos dos §§ 3ºa 5º, essa pergunta é respondida nos seguintes termos: 
§ 3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2º deste artigo, a 
defesa caberá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em que ela não 
estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente à respectiva 
competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar profissional 
para acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa 
do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) 
§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo deverá ser precedida de 
manifestação de que não existe defensor público lotado na área territorial onde tramita o 
inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado 
profissional que não integre os quadros próprios da Administração. (Incluído pela Lei 
nº 13.964, de 2019) (Vigência) 
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio dos 
interesses dos investigados nos procedimentos de que trata este artigo correrão por conta 
do orçamento próprio da instituição a que este esteja vinculado à época da ocorrência dos 
fatos investigados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) 
Pela leitura dos dispositivos, observa-se que, inicialmente, a defesa cabe à Defensoria Pública. 
Há quem19 sustente a inconstitucionalidade de tal dispositivo pelos mesmos fundamentos 
apresentados no veto do Presidente da República20 . Contudo não é necessário que o dispositivo 
seja declarado inconstitucional, mostrando-se suficiente outorga-lo uma leitura constitucional 
em eventual ADI. Afinal, podem existir servidores do art. 144 da Constituição Federal que – 
realmente – necessitem de um defensor público. Nessa linha, a utilização da técnica da 
interpretação conforme a Constituição se mostra necessária, a fim de que a atuação da 
Defensoria Pública incida somente quando ela realmente for necessária, ou seja, dentro de suas 
 
19 Nesse sentido, Renato Brasileiro (Rejeição de vetos ao pacote anticrime, 2021, p. 21). 
20 Termos do veto: “A propositura legislativa, ao prever que os agentes investigados em inquéritos policiais 
por fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional serão defendidos 
prioritariamente pela Defensoria Pública e, nos locais em que ela não tiver instalada, a União ou a Unidade 
da Federação correspondente deverá disponibilizar profissional, viola o disposto no art. 5º, inciso LXXIV, 
combinado com o art. 134, bem como os arts. 132 e 132, todos da Constituição da República, que 
confere à Advocacia-Geral da União e às Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal, também 
função essencial à Justiça, a representação judicial das respectivas unidades federadas, e destas 
competências constitucionais deriva a competência de representar judicialmente seus agentes 
públicos, em consonância com a jurisprudência do Supremo Tribunal (v.g., ADI 3.022, Rel. Min. Joaquim 
Barbosa, j. 02/08/2004, DJ 04/03/2005.” 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art20
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art20
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art20
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finalidades institucionais previstas na Constituição Federal e nas leis de regência. Compatibiliza-
se, desse modo, a atuação da Defensoria Pública com o texto legal do art. 14-A do CPP. 
Por fim, essa normativa se aplica aos servidores militares vinculados às Forças Armadas, desde 
que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. 
 
 
 
SUGESTÃO DE RESPOSTA: 
 
A inovação legislativa incide em qualquer procedimento investigativo, inclusive de natureza 
militar, desde que o objeto seja um fato relacionado ao uso letal da força, praticado no exercício 
da função de agentes da segurança pública do art. 144 da Constituição Federal, bem como aos 
agentes do art. 142, quando em missões para a Garantia da Lei e da Ordem, de forma tentada 
ou consumada, mesmo se incidente eventual excludente de ilicitude. 
Em tal cenário, a alteração legislativa traz duas inovações relevantes. Primeiro, o presidente do 
procedimento investigado deve citar o investigado da instauração da investigação, podendo 
constituir defensor no prazo de até 48h, contados do recebimento da citação. Segundo, passado 
o prazo de 48 horas, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a 
que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 
48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. 
 
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QUESTÃO DISSERTATIVA 
 
Como muito se coloca, em sede de inquérito policial, passou-se a distinguir o termo “elementos 
de informação” de “elementos de prova”. Isso é decorrência da reforma promovida ao Código 
de Processo Penal pela Lei nº 11.690 de 2008, que passou a diferenciar os dois conceitos. 
Sobre o tema, qual o elemento central de distingue entre elementos de informação e elementos 
de prova? Quais são as provas presentes no inquérito policial? É possível a antecipação cautelar 
de provas com fundamento no decurso do tempo para policiais? 
 
 
Versão Definitiva da Questão Dissertativa 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS: 
 
Elemento de informação x Elemento de provas 
Provas no IP 
Antecipação cautelar de provas – policial 
Português (0,2 por erro) 
NOTA FINAL 
 
 
 
MATERIAL DE LEITURA E/OU JULGADOS SOBRE O TEMA: 
 
O PROBLEMA RELATIVO AO VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL 
 
Como muito se coloca, em sede de inquérito policial utiliza-se o termo “elementos de 
informação”, e não “elementos de prova”. Isso é decorrênciada reforma promovida ao CPP pela 
Lei nº 11.690 de 2008, que passou a diferenciar os dois conceitos: 
Art. 155 do CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova 
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão 
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas 
as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. 
O termo “prova” é utilizado para se referir aos elementos produzidos em contraditório (mesmo que 
diferido), ao passo que o termo “elementos de informação” abrange todos os demais que foram 
produzidos inquisitoriamente ou por uma das partes fora do devido processo legal.21 Não se pode 
esquecer que, excepcionalmente, existe produção de provas (e não só de elementos de 
informação) na fase inquisitorial. Perícias e documentos produzidos na fase inquisitorial são 
revestidos de eficácia probatória sem a necessidade de serem repetidos no curso da ação 
penal por se sujeitarem ao contraditório diferido.22 
Na verdade, essa distinção entre prova e elementos de informação guarda relação com o valor 
probatório do inquérito policial, o qual tem as suas ressalvas para ser utilizado em juízo. Em regra, 
os elementos de informação produzidos no curso do inquérito policial devem ser repetidos 
em juízo. Isso consta do art. 155 do CPP, ao prescrever que o juiz formará sua convicção pela 
livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua 
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as 
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. 
De fato, o juiz não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos 
colhidos na investigação; no entanto, tais elementos possuem papel de relevância no contexto 
do livro convencimento do magistrado, como o STF23 já se posicionou em inúmeras vezes: 
 
21. LIMA, 2011, p. 116. 
 
2222 AgRg no REsp 1522716/SE, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, julgado em 20/03/2018. 
23. RE 425734 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 04/10/2005 
 
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(...) 3. Ao contrário do que alegado pelos ora agravantes, o conjunto probatório que 
ensejou a condenação dos recorrentes não vem embasado apenas nas declarações 
prestadas em sede policial, tendo suporte, também, em outras provas colhidas na fase 
judicial. Confirmação em juízo dos testemunhos prestados na fase inquisitorial. 4. Os 
elementos do inquérito podem influir na formação do livre convencimento 
do juiz para a decisão da causa quando complementam outros indícios e provas 
que passam pelo crivo do contraditório em juízo. 
Nessa linha, para o STJ24, as provas inicialmente produzidas na esfera inquisitorial e 
reexaminadas na instrução criminal, com observância do contraditório e da ampla defesa, não 
violam o art. 155 do Código de Processo Penal - CPP visto que eventuais irregularidades 
ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação penal dele decorrente. 
O art. 155 do CPP tem por finalidade evitar o contato judicial com as provas inquisitoriais, o que 
poderia interferir na sua imparcialidade para o julgamento da causa. Por isso, a atuação do 
magistrado no inquérito policial deve ocorrer de forma excepcional. 
Nesse contexto, no curso do inquérito policial, o seu contato com a investigação somente ocorre 
em três hipóteses: (a) quando houver lesão ou ameaça de lesão a direitos subjetivos, 
(b) quando houver algum tipo de prejuízo à efetividade da jurisdição penal e (c) 
quando houver necessidade de controle da legalidade dos atos produzidos no curso 
do inquérito policial. 
Outro tipo de atuação por parte do magistrado importaria na violação ao princípio constitucional 
da imparcialidade, uma vez que ele tomaria conhecimento do material probatório. De acordo com 
Eugênio Pacelli de Oliveira,25 o sistema acusatório não permite que o juiz tenha contato direto com 
as provas produzidas nessa etapa: 
Ora, não cabe ao juiz tutelar a qualidade da investigação, sobretudo porque sobre 
ela, ressalvadas determinadas provas urgentes, não se exercerá jurisdição. O 
conhecimento judicial acerca do material probatório deve ser reservado à fase de 
prolação de sentença, quando se estará no exercício de função tipicamente 
jurisdicional. 
O STF26 seguiu o entendimento doutrinário acima ao concluir que: 
[...] o Judiciário, em nosso sistema processual penal, atua no inquérito para 
assegurar a observância dos direitos e liberdades fundamentais e dos princípios 
sobre os quais se assenta o Estado Democrático de Direito. 
Em sentido contrário, a reforma do CPP, promovida pela Lei nº 11.690, de 2008, facultou ao juiz 
a produção da prova no curso do inquérito policial, desde que preenchidos alguns requisitos. 
Segue, abaixo, o dispositivo legal: 
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado 
ao juiz de ofício: 
 
24 AgRg nos EDcl no AREsp 1006059/SP,Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, julgado em 20/03/2018. 
25. OLIVEIRA, 2010, p. 11. 
 
26. HC 92893, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 2/10/2008, 
conforme noticiado no Inf. 522 do STF. 
 
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I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de 
provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, 
adequação e proporcionalidade da medida; 
Nestor Távora e Fábio Roque Araújo27 chamam a atenção para a duvidosa constitucionalidade 
do artigo. A produção da prova pelo juiz, de ofício, no curso do inquérito policial, ocasionaria a 
violação ao sistema acusatório. O magistrado, na hipótese legal, também exteriorizaria um juízo 
de valor sobre os fatos ao verificar o que se trata de prova “urgente e relevante”, antecipando 
a sua análise sobre diversas questões de direito, violando o princípio constitucional da 
imparcialidade. 
Em tese, toda produção antecipada de provas autorizada ou determinada pelo magistrado 
consiste numa medida cautelar, uma vez que possuem caráter excepcional. Citam-se, como 
exemplos, o mandado de busca e apreensão, a interceptação telefônica e a quebra do sigilo de 
dados bancários ou fiscais. 
Essas hipóteses, por serem medidas cautelares em sentido estrito, devem ter preenchidos, além 
dos requisitos de cada medida, os pressupostos do fumus comissi delicti (existência de indícios 
plausíveis da comprovação de que um determinado cidadão está envolvido em uma infração 
penal) e do periculum in mora (risco ou prejuízo que a não realização imediata da diligência 
poderá acarretar para a investigação criminal e posterior instrução criminal). 
A partir de um poder geral de cautela, o magistrado pode, também, conceder outras medidas 
cautelares não previstas em lei, mas necessárias para o inquérito policial ou para a ação penal. 
Diante do exposto, questiona-se: A idade avançada de uma pessoa pode ser fundamento para o 
periculum in mora de eventual medida cautelar com a finalidade de sua oitiva antecipada no 
curso do inquérito policial e de posterior aproveitamento de seu depoimento na ação penal? 
A análise deve ser feita a partir de cada caso concreto, norteada pela razoabilidade, de modo a 
envolver a análise de elementos como a idade da pessoa, a sua saúde e o risco que a não 
realização imediata dessa prova poderá acarretar para a futura instrução criminal. Deve-se levar 
em consideração, ainda, fatores como a demora no trâmite de inquéritos policiais e da futura 
ação penal. Em regra, a decisão que determina a produção antecipada de provas com base noart. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero 
decurso do tempo, tal como consta da Súmula 455 do STJ. Excepcionalmente, o STF28 entendeu 
ser possível a antecipação de provas em situação correlata: 
No caso, o paciente foi denunciado pela suposta prática de homicídio culposo na 
direção de veículo automotor, delito previsto no art. 302 da Lei 9.503/1997. Como 
estava foragido, foi citado por edital, com a consequente suspensão do processo 
(CPC/1973, art. 366). O juízo determinou, em seguida, a realização de audiência de 
produção antecipada de prova. Na impetração, o réu alegava haver cerceamento 
de defesa em virtude de, na mencionada audiência, a antecipação de prova ter 
como único fundamento o decurso do tempo. A Turma entendeu que a antecipação 
da prova testemunhal configura medida necessária, pela gravidade do crime 
praticado e possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas 
 
27. TÁVORA e ARAÚJO, 2010, p. 223. No mesmo sentido, é a posição de Eugênio Pacelli de Oliveira 
(2010, p. 11). 
 
28. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, 
julgamento em 13.12.2016 
 
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poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência do 
decurso do tempo. Afirmou que a antecipação da oitiva das testemunhas não 
revela nenhum prejuízo às garantias inerentes à defesa. Afinal, quando o processo 
retomar seu curso, caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do réu, 
basta se proceder à nova inquirição. 
Ainda sobre o tema, de acordo com o STJ29, é possível a antecipação da colheita da prova 
testemunhal, com base no art. 366 do CPP, nas hipóteses em que as testemunhas são policiais, 
tendo em vista a relevante probabilidade de esvaziamento da prova pela natureza da atuação 
profissional, marcada pelo contato diário com fatos criminosos: 
I - A Terceira Seção desta Corte, por ocasião do julgamento do RHC 64.086/DF, 
assentou entendimento no sentido da necessidade de mitigar o rigor da Súmula 
455/STJ, de modo que as testemunhas, cuja natureza da atividade profissional seja 
marcada pelo contato diário com fatos criminosos semelhantes, devem ser ouvidas 
com a máxima urgência possível. 
II - Na espécie, há situação excepcional a lastrear a necessidade de ouvida das 
testemunhas presenciais, pois os fatos praticados remontam à data de 15/04/2014, 
havendo o risco de que detalhes relevantes do caso se percam na memória dos 
policiais. (AgRg no AREsp 1908229/GO, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO 
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 
16/11/2021, DJe 25/11/2021) 
Por fim, é importante ressaltar que, seja nas hipóteses em que a atuação do magistrado é 
constitucional, seja na hipótese do art. 156, inciso I, do CPP, o juiz que atuar no inquérito policial 
estará prevento para a futura ação penal30. 
 
SUGESTÃO DE RESPOSTA: 
 
O termo “prova” é utilizado para se referir aos elementos produzidos em contraditório, mesmo que 
diferido, ao passo que o termo “elementos de informação” abrange todos os demais que foram 
produzidos inquisitoriamente ou por uma das partes fora do devido processo legal. Observe que o 
inquérito policial possui elementos de prova e elementos de informação, em especial porque, no 
inquérito, podem ser produzidas as provas cautelares, não repetíveis ou antecipadas. 
Uma dessas provas guarda relação com a antecipação cautelar de provas, medida essa que, em 
regra, não pode se fundamentar exclusivamente no decurso do tempo. Contudo, o Superior 
Tribunal de Justiça tem restringido tal entendimento para os policiais, cuja natureza da atividade 
profissional é marcada pelo contato diário com fatos criminosos semelhantes, para que sejam 
ouvidas com a máxima urgência possível. 
 
29 RHC 074576/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2018. 
30. HC 94188, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 26/0/2008; HC 93762, 
Relator(a): Min. Eros Grau, Segunda Turma, julgado em 29/4/2008; HC 99353, Relator(a): Min. Eros 
Grau, Segunda Turma, julgado em 18/08/2009. 
 
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DIREITO PENAL 
 
QUESTÃO DISSERTATIVA 
 
Um ponto central, relativo a atuação dos Delegados de Polícia e que gera polêmica na doutrina, 
diz respeito a (im)possibilidade de aplicação do princípio da insignificância no curso de uma 
investigação policial. 
Sobre o tema, elabore um texto dissertativo explicando os conceitos e as relações entre o 
princípio da insignificância, o princípio da intervenção mínima e a tipicidade conglobante. Ao 
responder, indique os quatro elementos da insignificância à luz da jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal, bem como analise a possibilidade de sua aplicação pelo Delegado de Polícia à 
luz da doutrina policial, inclusive para fins de não se lavrar eventual auto de prisão em flagrante 
delito. 
Versão Definitiva da Questão Dissertativa 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS: 
 
Insignificância x intervenção mínima x conglobante – conceitos e 
relações 
 
4 elementos - STF. 
Possibilidade de aplicação pelo Delegado 
Não lavrar APFD? 
Português (0,2 por erro) 
NOTA FINAL 
 
 
 
MATERIAL DE LEITURA E/OU JULGADOS SOBRE O TEMA: 
 
Resumo sobre o tema: 
A lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito tem por pressuposto a existência de um fato 
típico, em seu aspecto formal e material, cenário que não está caracterizado quando se tratar de 
hipótese de aplicação do princípio da insignificância. 
 
O princípio da intervenção mínima, fundamento central do Direito Penal, institui a 
necessidade de se regulamentar e punir somente os fatos indesejados pela sociedade, sendo 
direcionado por duas diretrizes-base, quais sejam, a subsidiariedade e a fragmentariedade. A 
subsidiariedade institui o necessário caráter secundário do Direito Penal. Já a 
fragmentariedade estabelece que o Direito Penal só irá intervir quando se tratar de um bem 
jurídico relevante e o fato indesejado causar lesão ou perigo de lesão relevante (concreto) ao 
bem jurídico tutelado. 
 
É nesse contexto, de acordo com Roxin, que o princípio da insignificância se apresenta como 
corolário do princípio da intervenção mínima, tanto no âmbito da subsidiariedade, quanto no 
âmbito da fragmentariedade. Zaffaroni segue a mesma linha de pensamento ao compreender 
que o princípio da lesividade, tal como o princípio da intervenção mínima para Roxin, demanda 
a punição somente das pessoas que efetivamente lesionem um bem jurídico. 
Em outras palavras, se não há uma lesão, não existe um conflito; se não existe um conflito, não 
pode existir um delito; e se não existe um delito, não se pode falar em sanção penal pelo Estado. 
Não basta, portanto, que um bem jurídico seja tutelado (tipificado) pelo Código Penal, uma vez 
que se faz necessário que o bem jurídico seja lesionado para a atuação do Direito Penal. 
O princípio da insignificância surge, assim, como instrumento de interpretação restritiva do tipo 
penal que, de acordo com a dogmática moderna, não deve ser considerado apenas em seu 
aspecto formal, de subsunção do fato à norma, mas, primordialmente, em seu 
conteúdo material,de cunho valorativo, no sentido da sua efetiva lesividade ao bem 
jurídico tutelado pela norma penal, consagrando os postulados da fragmentariedade e da 
intervenção mínima. 
Na linha de entendimento firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, a aferição da 
insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade 
conglobante. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo, de modo 
a impedir que acabe desvirtuado o objetivo a que visou o legislador quando formulou a tipificação 
legal. 
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No RHC 12627231, em um típico caso de insignificância que chegou ao STJ, o Ministro Relator 
destacou que o Delegado de Polícia foi o único a agir corretamente dentre os demais agentes 
estatais (MP e Poder Judiciário), de modo a aplicar precedentes da Corte ao não ratificar a prisão 
em flagrante, reconhecendo o valor irrisório do produto furtado, dentre outros requisitos. Nas 
palavras do Ministro Relator, "está-se utilizando o sistema de Justiça Criminal para perseguir 
quem furtou R$4,00 de alimentos, que representam 0,5% do salário mínimo à época, sendo que 
a jurisprudência do STJ indica que é possível aplicar a insignificância quando o valor do bem 
furtado não ultrapassar 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos”. 
Não obstante, para incidir no presente caso o princípio da insignificância, a jurisprudência pacífica 
do STF demanda o preenchimento de quatro requisitos. Primeiro, a mínima ofensividade da 
conduta do agente está configurada. Segundo, verifica-se que a conduta não possui 
nenhuma periculosidade social da ação. Terceiro, tem-se configurado o grau reduzido de 
reprovabilidade do comportamento. Quarto, verifica-se a inexpressividade da lesão 
jurídica provocada. 
Em razão do exposto, caracterizado cenário de incidência do princípio da insignificância, afasta-
se a tipicidade e, por consequência, a existência do crime. 
 
 
 
 
 
 
ALGUMAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES E CURIOSIDADES 
SOBRE APLICAÇÃO DA INSIGNIFICÂNCIA ANTES DA 
INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL (POR PORTARIA OU APFD) 
 
 
1. Precisa determinar o 
encaminhamento de 
cópia ao MP ou PJ? 
 
 
Todo o procedimento é feito em sede de BOLETIM DE 
OCORRÊNCIA/VPI (não existe IP instaurado), de modo que não 
existe determinação legal para o delegado enviar para MP ou PJ. 
Alguns poucos Estados possuem normativa estadual pela 
obrigatoriedade de envio para o MP. 
 
 
2. Precisa encaminhar 
ao superior hierárquico 
ou Delegado Geral? 
 
 
Em regra não! Alguns poucos Estados possuem normativa estadual 
pela obrigatoriedade de envio ao superior hierárquico ou Delegado 
Geral. 
 
3. O Delegado de 
Polícia precisa instaurar 
IP? Ou pode o 
delegado arquivar o 
procedimento feito em 
sede de VPI 
(verificação preliminar 
de informações)? 
O delegado pode instaurar IP após decisão acima estudada e, em 
alguns estados, existe normativa determinando a instauração do IP. 
De fato, alguns Delegados de Polícia preferem instaurar IP nesses 
casos para, quase em ato sequencial, relatar pelo arquivamento. 
 
Entendo não ser o melhor caminho! Observe que o procedimento 
(Boletim de ocorrência, oitivas e outros elementos) se equipara a 
uma VPI, já que vinculado a um boletim de ocorrência, de modo que 
o Delegado de Polícia pode determinar o seu arquivamento (lembre-
se: o art. 17 do CPP se limita a inquérito policial instaurado e aqui 
inexiste IP) quando os elementos de informações já forem robustos. 
 
 
 
31 RHC 126272, Rel. Rogerio Schietti, julgado em 01/06/2021. 
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TRECHO RETIRADO DO LIVRO DELEGADO DE POLÍCIA EM AÇÃO – 
7ª ed, 2021: 
 
Pela leitura do boletim de ocorrência, o Delegado de Polícia poderá 
arquivá-lo se verificar que não existe crime (fato típico, antijurídico 
e culpável) ou que existe alguma causa extintiva de punibilidade. 
Havendo dúvida ou se não houver elementos probatórios 
suficientes para o arquivamento, o boletim de ocorrência não 
poderá ser arquivado, devendo ser instaurado o inquérito policial 
(caso haja elementos de autoria e materialidade suficientes) ou 
efetuar uma verificação preliminar de inquérito – VPI – (caso os 
elementos de autoria e materialidade não sejam suficientes para 
instaurar o inquérito policial). Cita-se a prescrição como exemplo de 
arquivamento do boletim de ocorrência, pois, como regra, pode ser 
verificada pela simples leitura do documento. 
 
 
4. Professor, e se o 
Delegado que receber 
o flagrante for o 
responsável por 
presidir eventual IP? 
O normal é que exista um Delegado de Polícia plantonista, que 
receberá o flagrante e tomará a decisão acima montada pela não 
lavratura em caso de insignificância, e outro que, posteriormente, 
venha a receber o que foi feito durante o plantão para, se for o caso, 
instaurar eventual IP. 
 
Contudo, é possível que, em Municípios pequenos ou locais sem 
muita estrutura, que o delegado plantonista seja o mesmo que vai 
presidir o IP. Nessa hipótese, e desde que o Delegado entenda pela 
necessidade de instaurar o IP, pode ser feito DIRETAMENTE A 
INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL POR MEIO DE 
PORTARIA sem o despacho trabalho neste tópico. 
 
 
 
 
JULGADOS SOBRE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: 
 
EMENTA: Processual penal. Agravo regimental em recurso ordinário em habeas corpus. Furto 
qualificado tentado. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal. 
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal tem entendimento consolidado no sentido 
de que o princípio da insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as 
seguintes condições objetivas: (i) mínima ofensividade da conduta do agente; (ii) 
nenhuma periculosidade social da ação; (iii) grau reduzido de reprovabilidade do 
comportamento; (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada, ressaltando, 
ainda, que a contumácia na prática delitiva impede a aplicação do princípio. 
2. O acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça não divergiu dessa orientação, ao 
assentar que “o decisum agravado foi claro ao afirmar a impossibilidade de incidência do princípio 
da insignificância ao caso, haja vista o valor da res furtiva – que equivale a, aproximadamente, 
25% do salário mínimo vigente à época dos fatos –, além do fato de que o réu ostenta anotações 
e condenações definitivas anteriores pelo delito de furto”. Nessa linha, veja-se o HC 171.536-
AgR, Rel. Min. Luiz Fux. 
3. Agravo regimental a que se nega provimento. 
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(RHC 205936 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 23/11/2021, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-242 DIVULG 07-12-2021 PUBLIC 09-12-2021) 
 
 
EMENTA AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FURTO 
QUALIFICADO. CONCURSO DE PESSOAS. VULNERABILIDADE DA VÍTIMA. PACIENTE 
MULTIRREINCIDENTE. CARACTERIZADA A REPROVABILIDADE DO COMPORTAMENTO. 
INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INVIABILIDADE DO PLEITO 
ABSOLUTÓRIO. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS DESPROVIDO. 
1. É aplicável o princípio da insignificância no sistema penal brasileiro desde que 
preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: “a) a mínima ofensividade da 
conduta do agente, b) nenhuma periculosidade social da ação, c) o reduzidíssimo grau 
de reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão jurídica 
provocada” (HC84.412, ministro Celso de Mello). 
2. Na presença desses quatro vetores, o princípio da insignificância incidirá para 
afastar, no plano material, a própria tipicidade da conduta diante da ausência de lesão 
ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. 
3. A insignificância, princípio que afasta a tipicidade da conduta, especialmente nos 
crimes patrimoniais, não deve ser tida como regra geral, a se observar unicamente o 
valor da coisa objeto do delito. Deve ser aplicada, segundo penso, apenas quando 
estiver demonstrado nos autos a presença cumulativa dos quatro vetores objetivos 
que venho de referir. 4. A contumácia ou reiteração delitiva, a multirreincidência, a 
reincidência específica são exemplos de elementos aptos a indicar a reprovabilidade 
do comportamento, fator hábil a afastar a aplicação do princípio da insignificância. 
(...) . 
(RHC 198550 AgR, Relator(a): NUNES MARQUES, Segunda Turma, julgado em 04/10/2021, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-238 DIVULG 01-12-2021 PUBLIC 02-12-2021) 
 
Ementa: PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FALSIFICAÇÃO DE 
DOCUMENTO. ATESTADO MÉDICO. EMPREGADO DA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E 
TELÉGRAFOS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. REPROVABILIDADE DA 
CONDUTA. 1. Na linha de entendimento firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal 
Federal, a aferição da insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve 
um juízo de tipicidade conglobante, muito mais abrangente que a simples expressão 
do resultado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu 
sentido amplo, de modo a impedir que acabe desvirtuado o objetivo a que visou o 
legislador quando formulou a tipificação legal. 2. A falsificação de documento, delito 
imputado ao paciente, é figura típica cuja objetividade jurídico-penal abrange o risco de dano à 
fé pública, com a circulação de documento inautêntico, exprimindo realidade fictícia, capaz de 
ludibriar a confiança de pessoas nele interessadas. 3. No caso, o agravante foi denunciado por 
alterar informação constante de atestado médico em detrimento da empresa pública com a qual 
mantinha vínculo, se distanciando dos deveres do cargo que exercia. Nesse contexto, revela-se 
reprovável a conduta, impossibilitando a incidência do denominado princípio da insignificância. 4. 
Agravo regimental a que se nega provimento. 
(HC 133226 AgR, Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 29/03/2016, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-082 DIVULG 27-04-2016 PUBLIC 28-04-2016) 
 
 
DOUTRINA SOBRE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: 
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(texto completo: http://site.fdv.br/wp-content/uploads/2018/06/bruno-taufner-zanotti.pdf ) 
 
O princípio da intervenção mínima, fundamento central do Direito Penal, institui a 
necessidade de se regulamentar e punir somente os fatos indesejados pela sociedade, 
sendo direcionado por duas diretrizes-base, quais sejam, a subsidiariedade e a 
fragmentariedade. 
A subsidiariedade institui o necessário caráter secundário do Direito Penal32. Parte da 
premissa de que a proteção de bens juridicamente tutelados não constitui objetivo 
exclusivo do Direito Penal, na medida em que todo o sistema vigente traz ferramentas 
para alcançar essa finalidade, v.g., no âmbito do Direito Civil, no âmbito do Direito 
Administrativo ou mesmo no âmbito do Direito Tributário. Mais do que isso, entre uma 
ordem de preferência para a proteção dos bens, o Direito Penal — e, em especial, a pena 
— deve se apresentar como a ultima ratio, com uma missão subsidiária em relação aos 
demais ramos do Direito: 
O Direito penal é apenas a última dentre todas as medidas de proteção existentes, é dizer que 
somente é possível intervir quando os outros meios de resolução de conflitos falham — como 
a ação civil, os regulamentos policiais ou técnico-jurídicos, as sanções não penais etc. Por 
isso se concebe a pena como a “ultima ratio da política social” e se define a sua finalidade 
de proteção subsidiária de bens jurídicos. (ROXIN, 1997, p. 65, grifo do autor, tradução 
nossa)33. 
Já a fragmentariedade estabelece que o Direito Penal só irá intervir quando se tratar de 
um bem jurídico relevante e o fato indesejado causar lesão ou perigo de lesão relevante 
(concreto) ao bem jurídico tutelado34. Nas palavras de Roxin (1997, p. 65, tradução 
 
32 “Atualmente, somente para exemplificar, determinadas infrações administrativas de trânsito 
possuem punições mais temidas pelos motoristas, diante das elevadas multas e do ganho de 
pontos no prontuário, que podem levar à perda da carteira de habilitação do que a aplicação de 
uma multa penal, sensivelmente menor” (NUCCI, 2013, p. 93). 
33 “El Derecho penal sólo es incluso la última de entre todas las medidas protectoras que hay 
que considerar, es decir que sólo se le puede hacer intervenir cuando fallen otros medios de 
solución social del problema —como la acción civil, las regulaciones de policía o jurídico-
técnicas, las sanciones no penales, etc. Por ello se denomina a la pena como la ‘ultima ratio de 
la política social’ y se define su misión como protección subsidiaria de bienes jurídicos”. 
34 “O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da 
liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente 
necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes 
sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se 
exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O Direito Penal 
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nossa)35 “[...] na medida em que o Direito Penal protege somente uma parte dos bens 
jurídicos, mesmo que nem sempre de maneira geral, mas frequentemente (como no 
patrimônio) só contra ataques concretos, fala-se também na natureza ‘fragmentária’ do 
Direito Penal” (grifo do autor). 
É nesse contexto que o princípio da insignificância se apresenta como corolário do 
princípio da intervenção mínima, tanto no âmbito da subsidiariedade, quanto no âmbito 
da fragmentariedade (ROXIN, 1997, p. 1027-1028)36. Zaffaroni (2010, p. 110) segue a 
mesma linha de pensamento ao compreender que o princípio da lesividade, tal como o 
princípio da intervenção mínima para Roxin, demanda a punição somente das pessoas 
que efetivamente lesionem um bem jurídico. Em outras palavras, se não há uma lesão, 
não existe um conflito; se não existe um conflito, não pode existir um delito; e se não 
existe um delito, não se pode falar em sanção penal pelo Estado (ZAFFARONI, 2010, p. 
110). Não basta, portanto, que um bem jurídico seja tutelado (tipificado) pelo Código 
Penal, uma vez que se faz necessário que o bem jurídico seja lesionado para a atuação do 
Direito Penal (ZAFFARONI, 2010, p. 111). Por isso, uma conduta insignificante resulta 
em uma inadequada condenação criminal, uma vez que seria suficiente uma 
desqualificação de um crime para uma contravenção penal (se o sistema jurídico vigente 
permitisse), uma compensação no âmbito civil ou ainda uma condenação administrativa 
relativa às consequências do dano que o fato ocasionou: 
Em virtude da subsidiariedade da proteção jurídico-penal de bens jurídicos, o legislador deve 
estatuir uma contravenção onde uma sanção não penal baste para assegurar o fim que se 
busca. Assim ocorre, sobre tudo, em delitos que envolvam apenas uma diminuição 
insignificante dos bens jurídicos (cf. os §§111 ss. OWiG). Mas também há que considerar 
essapossibilidade quando uma conduta, apesar de causar um dano, às vezes considerável, 
desvela apenas uma pequena desvalorização ética; então, no caso de imprudência 
 
não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvalor — por não importar em 
lesão significativa a bens jurídicos relevantes — não represente, por isso mesmo, prejuízo 
importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social” 
(HC 84412, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 19/10/2004). 
35 “[...] en la medida en que el Derecho penal sólo protege una parte de los bienes jurídicos, e 
incluso ésa no siempre de modo general, sino frecuentemente (como el patrimionio) sólo frente 
a formas de ataque concretas, se habla también de la naturaleza ‘fragmentaria’ del Derecho 
penal.” 
36 “Como bem se sabe, o princípio da insignificância — que deve ser analisado em conexão com 
os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal — 
tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de 
seu caráter material, consoante assinala expressivo magistério doutrinário expendido na análise 
do tema de referência” (HC 84412, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado 
em 19/10/2004). 
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insignificante, atualmente punível muitas vezes com uma infração penal, sua sanção como 
contravenção poderia cumprir a mesma função protetiva, ainda mais quando o dever de 
indenização civil produza um efeito preventivo considerável. Em outros casos — por 
exemplo, em algumas formas de condutas nocivas para o meio ambiente — os deveres e as 
sanções administrativas podem ser mais eficazes do que a persecução penal, que, nesses 
casos, frequentemente, encontram dificuldades para elucidar a responsabilidade individual. 
Também se apresentam como possibilidades, longe de serem esgotadas pela política jurídica, 
a substituição de soluções penais por soluções do Direito civil (ROXIN, 1997, p. 66, tradução 
nossa)37. 
É importante ressaltar que os autores trabalham os princípios da intervenção mínima e da 
insignificância como conquistas da evolução do Direito Penal. Roxin (1997, p. 66 e p. 
1027) compreende que o Direito Penal não pode ser mais interpretado e compreendido 
sem que tais princípios sejam capazes de reger e limitar o conceito de crime. Para 
Zaffaroni (2010, p. 369 e p. 118), a insignificância deve ser vista como consequência do 
princípio republicano de governo, o qual institui, entre outros postulados, a proibição de 
se criminalizar uma conduta de forma injusta (sem lesividade). Reconhecida a 
insignificância como meio para possibilitar outros ramos do Direito resolverem um 
conflito, o abandono de tal prática reintroduziria um modelo punitivo que já foi superado. 
O princípio da insignificância, portanto, apresenta-se como uma prática republicana. 
Nesse sentido, Busato (2017, p. 52-59), Galvão (2011, p. 116 e 117) e Bitencourt (2017, 
p. 55-58) compreendem a intervenção mínima como decorrência direta do paradigma do 
Estado Democrático de Direito, já que o avançar do constitucionalismo mostrou que o 
poder coercitivo deve ser exercido de forma adequada e proporcional à ação do autor, 
contexto no qual o constitucionalismo brasileiro também se insere. Seja pelo 
reconhecimento do princípio republicano, seja em razão do avanço do Direito Penal (não 
só em nível mundial, mas também no Brasil), seja pela adoção do paradigma do Estado 
 
37 “En virtud de la subsidiariedad de la protección jurídicopenal de bienes jurídicos, el legislador 
debe estatuir una contravención allí donde una sanción no penal baste para asegurar el fin que 
persigue. Así sucede sobre todo en caso de delitos que suponen sólo un menoscabo 
insignificante de bienes jurídicos (cfr. los §§111 ss. OWiG). Pero también hay que considerar esa 
posibilidad cuando una conducta, pese a causar un daño a veces considerable, sólo muestra un 
escaso contenido de desvalor ético; así en el caso de la imprudencia insignificante, que hoy se 
castiga muchas veces como infracción criminal, su sanción como contravención podría cumplir 
la misma función de protección, tanto más cuanto que el deber de indemnización civil despliega 
un considerable efecto preventivo. En otros casos — p.ej. en algunas formas de conductas 
nocivas para el medio ambiente — los deberes y sanciones administrativas pueden ser a menudo 
más eficaces que la persecución penal, que en estos casos frecuentemente tropieza con 
dificultades para aclarar la responsabilidad individual. También ofrece posibilidades que con 
mucho no se han agotado aún a efectos de política jurídica la sustitución de soluciones penales 
por soluciones del Derecho civil”. 
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Democrático de Direito, os mencionados princípios apresentam-se como determinantes 
para reformular e reestruturar o Direito Penal brasileiro. A coesão entre os argumentos 
jurídicos que se fundamentam em uma relação incindível (a partir da unidade do valor) 
entre os princípios da intervenção mínima, da subsidiariedade e da fragmentariedade, 
outorga consistência normativa ao princípio da insignificância38, capaz de conferir caráter 
não discricionário à atuação do delegado de polícia. 
Ocorre, nas palavras de Zaffaroni (2010, p. 369), uma reestruturação do conceito do crime 
por esses princípios constitucionais, de modo que todo fato deve ser capaz de gerar uma 
real lesão ao bem jurídico para ser considerado crime. Com isso, o fato típico, além da 
tipicidade formal, passa a ser estruturado com uma tipicidade conglobante, na qual é 
reconhecida a existência da insignificância com consequência que parte de um estudo 
constitucional do Direito Penal. O conceito em estudo 
[...] exige que o comportamento delitivo tenha algo mais que a 
subsunção típica. A tipicidade não decorre da mera verificação que a 
conduta é aquela prevista no tipo penal. É preciso observar se o 
comportamento violou ou pôs em perigo o bem jurídico que legitima a 
norma de proteção, do contrário não haverá materialidade capaz de 
atrair a atenção do direito penal (BOTTINI et al., 2012, p. 121). 
Assim concebida, a tipicidade conglobante não autoriza toda (e irrestrita) legitimação 
punitiva estatal no âmbito do Direito Penal (ZAFFARONI, 2010, p. 370). O fato típico 
ganha normatividade, no sentido de que não basta a simples previsão de um fato como 
crime no Código Penal, sendo necessária uma lesão concreta ao bem juridicamente 
tutelado39. 
 
 
38 Essa reflexão delega um caráter também histórico ao princípio da insignificância, fruto da 
evolução do poder punitivo estatal (LUZ, 2012, p. 205-209). 
39 Ao analisar o ordenamento jurídico brasileiro, Zaffaroni e Pierangeli (2013, p. 505) 
compreendem que a insignificância está presente no Brasil, estruturada no âmbito da tipicidade 
conglobante, como corretivo da tipicidade penal. Inclusive, os autores trabalham alguns 
exemplos para a sua aplicação. “A conduta de quem estaciona seu veículo tão próximo a nosso 
automóvel, a ponto de nos impedir a saída, não configura alguma previsão à liberdade; nem os 
presentes de uso, como as propinas aos servidores públicos por ocasião do Natal, configuram 
uma lesão à imagem pública da administração, configuradora da tipicidade do art. 317 do CP; 
nem arrancar um fio de cabelo, por mais que possa ser considerado uma ofensa à integridade 
corporal (art. 129, caput, do CP), resulta numa afetação do bem jurídico típico de lesões; nem a 
subtração de uma palito de fósforo da caixa que encontramosno escritório vizinho configura 
um furto, ainda que se trate de uma coisa móvel totalmente alheia”. 
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BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
BOTTINI, Pierpaolo Cruz; OLIVEIRA, Ana Carolina Carlos de; PAPA, Douglas de Barros Ibarra; 
RIBEIRO, Thaísa Bernhardt. A confusa exegese do princípio da insignificância e sua aplicação pelo STF: 
análise estatística de julgados. Revista Brasileira de Ciências Criminais, [S.l.], v. 20, n. 98, p. 117-148, 
set./out. 2012. 
BUSATO, Paulo César. Direito Penal: parte geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 
GALVÃO, Fernando. Direito Penal: parte geral. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. 
LUZ, Yuri Corrêa da. Princípio da insignificância em matéria penal: entre aceitação ampla e aplicação 
problemática. Revista Brasileira GV, v. 15. n. 1, p. 203-236, jan./jun. 2012. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. 
ROXIN, Claus. Derecho Penal: parte general. Tradução de Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel Díaz y 
Garcia Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997. Disponível em: 
<https://juristasfraternitas.files.wordpress.com/2012/01/derecho_penal_-_parte_general_-
_claus_roxin.pdf>. Acesso em18 out. 2017. 
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte 
geral. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. 
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal: parte general. 2. ed. e 4. reimp. Buenos Aires: 
Ediar, 2010. 
 
Mais doutrina sobre o tema: 
 
https://www.conjur.com.br/2019-fev-12/academia-policia-flagrantes-bagatela-prisao-delito 
https://www.conjur.com.br/2015-ago-18/academia-policia-delegado-aplicar-principio-
insignificancia 
 
 
SUGESTÃO DE RESPOSTA: 
 
O princípio da intervenção mínima, fundamento central do Direito Penal, institui a necessidade 
de se regulamentar e punir somente os fatos indesejados pela sociedade, sendo direcionado por 
duas diretrizes-base, quais sejam, a subsidiariedade e a fragmentariedade. A subsidiariedade 
institui o necessário caráter secundário do Direito Penal. Já a fragmentariedade estabelece que 
o Direito Penal só irá intervir quando se tratar de um bem jurídico relevante e o fato indesejado 
causar lesão ou perigo de lesão relevante (concreto) ao bem jurídico tutelado. 
É nesse contexto, de acordo com Roxin, que o princípio da insignificância se apresenta como 
corolário do princípio da intervenção mínima, tanto no âmbito da subsidiariedade, quanto no 
âmbito da fragmentariedade. 
https://www.conjur.com.br/2019-fev-12/academia-policia-flagrantes-bagatela-prisao-delito
https://www.conjur.com.br/2015-ago-18/academia-policia-delegado-aplicar-principio-insignificancia
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O princípio da insignificância surge, assim, como instrumento de interpretação restritiva do tipo 
penal que, de acordo com a dogmática moderna, não deve ser considerado apenas em seu 
aspecto formal, de subsunção do fato à norma, mas, primordialmente, em seu conteúdo 
material, de cunho valorativo, no sentido da sua efetiva lesividade ao bem jurídico tutelado pela 
norma penal, consagrando os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima. 
Na linha de entendimento firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, a aferição da 
insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade 
conglobante. Ademais, quatro são os requisitos para caracterizar a insignificância. Primeiro, a 
mínima ofensividade da conduta do agente está configurada. Segundo, verifica-se que a conduta 
não possui nenhuma periculosidade social da ação. Terceiro, tem-se configurado o grau 
reduzido de reprovabilidade do comportamento. Quarto, verifica-se a inexpressividade da lesão 
jurídica provocada. 
Em razão do exposto, caracterizado cenário de incidência do princípio da insignificância, afasta-
se a tipicidade e, por consequência, a existência do crime, o que impacta em procedimento 
presidido pelo Delegado de Polícia à luz da doutrina moderna, inclusive para fins de não 
lavratura do auto de prisão em flagrante delito. 
Por fim, vale pontuar que, em recente julgado do Superior Tribunal de Justiça, o Ministro Relator 
destacou que o Delegado de Polícia foi o único a agir corretamente dentre os demais agentes 
estatais (MP e Poder Judiciário), de modo a aplicar precedentes da Corte ao não ratificar a prisão 
em flagrante, reconhecendo o valor irrisório do produto furtado, dentre outros requisitos.

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