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Doença das adrenais 1 Doença das adrenais Profª Marise Lima REVISÃO ANATOMIA → Temos 2 adrenais: → O córtex tem 3 camadas: glomerulosa, fasciculada e reticular. Camada glomerulosa: produção de mineralocorticóide (aldosterona) → Depende pouco do estímulo do ACTH para sua liberação; a principal forma de regulação é através do potássio e da volemia, que ativa o sistema renina- angiotensina, estimulando a produção de aldosterona na zona glomerulosa. Camada fasciculada: produção de glicocorticóide (cortisol). Camada reticular: produção de esteróides sexuais (principalmente andrógenos) → Lembrar que os testículos produzem testosterona, por isso, o homem não depende da adrenal; nas mulheres, existe uma produção ovariana de testosterona, porém, numa quantidade muito inferior em relação aos homens. → Medula: Responsável pela produção das catecolaminas (adrenalina, Doença das adrenais 2 noradrenalina e dopamina); regulação pelo sistema nervoso autônomo. *** A produção dos hormônios pelas adrenais se dá a partir de uma sequência que começa com o colesterol. REGULAÇÃO Inicia no córtex paraventricular e supraótico → Inicia no córtex paraventricular e supraótico: Hipotálamo produz CRH (hormônio liberador de corticotrofina), que vai na hipófise anterior estimular a produção e liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrófico ou corticotrofina) → hormônio direcionado ao córtex adrenal, estimulando a liberação de hormônios corticais. → Medula adrenal é regulada pelo sistema nervoso autônomo (simpático) → catecolaminas → regulação da Pressão Arterial. Doença das adrenais 3 ALDOSTERONA Responde à ativação sistema renina-angiotensina e à hiperpotassemia. Expulsa o K+ da circulação, aumentando sua filtração e reabsorve sódio e água, promovendo hipocalemia e restauração da volemia → isso aumenta a pressão arterial. Angiotensinogênio (produzido no fígado) é ativado pela Renina (produzida no Rim) e se converte em angiotensina 1, a qual se transforma em angiotensina 2 pela ECA (produzida pelo pulmão) → está última que bate na porta da adrenal, na zona glomerulosa. CORTISOL É um glicocorticóide (função de fornecer energia para o nosso corpo, priorizando a liberação de açúcares em tecidos nobre → como o cérebro) Como eles fazem isso: mobilizam outras formas de produzir açúcar pra que elas cheguem ao fígado e assim haja a gliconeogênese. → Cortisol é hiperglicemiante (hormônio contrarregulador, ação contrária a ção da insulina)!!! Estimula a proteólise no tecido muscular; a quebra de proteínas libera aminoácidos na circulação, que são recolhidos pelo fígado para a produção de glicose através da gliconeogênese. → Estimula a lipólise de tecido adiposo periférico (dos membros), quebrando lipídeos e liberando ácidos graxos para a circulação, que vão para o fígado também para participar da gliconeogênese. ESTEROIDES SEXUAIS Doença das adrenais 4 As mulheres sentem mais quando ocorre diminuição da produção de esteroides pela zona reticular adrenal, porque a produção gonadal de testosterona é pequena. A maior parte de estrógeno no homem vem da conversão periférica (aromatase) pelo tecido adiposo, e não da adrenal. INSUFICIÊNCIA ADRENAL Doença de Addison: relação com a autoimunidade, por isso acomete principalmente as mulheres. Medicamentosa por antifúngicos. Insuficiência adrenal secundária: a aldosterona continua sendo produzida, pois depende do sistema renina-angiotensina (e a adrenal continua funcionando). Causada por suspensão abrupta pós tratamento longo com corticóides, lesões hipofisárias (+ cirurgias, radioterapias) Quando se toma corticóide por muito tempo, há bloqueio da produção de CRH e ACTH, devido ao corticóide exógeno (mecanismo de feedback), portanto, não pode tirar o corticóide de forma abrupta, pois demora um tempo para o eixo ser ativado novamente. Doença das adrenais 5 Quando há insuficiência adrenal crônica primária, há redução do feedback negativo para a hipófise. Laboratorialmente, temos: redução dos hormônios produzidos pelo córtex adrenal e aumento do ACTH como resposta à redução do feedback negativo. Aumento do ACTH pode ser interpretado como uma ativação do receptor melanocítico (MSH - produzido pela pineal, com estrutura semelhante ao ACTH) → Muito ACTH: ativa receptores de pele e o paciente fica com quadro de hiperpigmentação (manchas hipercrômicas em face, língua e tronco principalmente). → Insuficiência adrenal crônica secundária: comprometimento da hipófise → baixos níveis de ACTH → não vai ter hiperpigmentação e não vai impactar na produção de aldosterona, portanto, é menos grave que a crônica primária!! → Crise addisoniana: Insuficiência adrenal primária aguda grave (choque hipovolêmico pela queda da função mineralocorticoide) DIAGNÓSTICO → Em condições mais crônicas (tanto na primária quanto na secundária): Cortisol basal baixo; ACTH plasmático baixo (no caso da secundária); ACTH alto (no caso da primária). ***Por causa do padrão de pulsatilidade, o cortisol e o ACTH podem estar normais em um paciente que já tem insuficiência adrenal → Por isso, diante de epidemio, Doença das adrenais 6 quadro clínico sugestivo de insuficiência adrenal, cortisol basal normal ou no limite inferior, ACTH normal: fazer testes dinâmicos para tirar a prova (teste de estímulo com ACTH sintético, injetado → espera-se que paciente com insuficiência adrenal secundária produza como resposta um pico de cortisol, já que o problema não é na adrenal; por outro lado, se for insuficiência adrenal primária, não adianta dar ACTH, a adrenal não vai responder). Suspeita de doença hipofisária: (teste de tolerância à insulina/glucagon → induzir hipoglicemia, estimulando o eixo hipofisário, pois o normal é que a hipófise produza ACTH, para promover um pico de cortisol; se existir doença hipofisária, a hipoglicemia não vai ser suficiente para estimular um pico de ACTH, não tendo portanto, pico de cortisol; não existe resposta à hipoglicemia nesse caso!!!). A injeção de glucagon (mesmo sendo hiperglicemiante) também é um estressor para a hipófise, que acaba produzindo ACTH. 💊 TRATAMENTO Reposição com glicocorticoide → em casos de insuficiência adrenal secundária → Não precisa repor mineralocorticoide porque não é necessário estímulo da hipófise para sua produção!!! Reposição com mineralocorticoide → em casos de insuficiência adrenal primária → e por que repor com mineralocorticoide? → a deficiência de mineralocorticóide é potencialmente mais danosa pro organismo. 🚨 Orientações preventivas → o paciente deve andar com uma indicação de que tem essa doença, pois caso haja um acidente, precise de uma cirurgia, um quadro de doença grave, é necessário repor corticoide para que haja a resposta apropriada que aconteceria com qualquer pessoa durante um estresse agudo, como infecção, trauma → pessoas sem insuficiência respondem com o dobro da produção de corticoide. 🚑 Tratamento do choque na crise Addisoniana → Infusão volêmica de 1 a 5 litros em um período de 12 a 24 horas, associado com uso de mineralocorticoide (dose de ataque), seguido do corticóide venoso, até que o paciente tenha resposta e possa fazer uso do mineralocorticóide por via oral. SÍNDROME DE CUSHING → Pode ser endógena (superprodução de corticóide a partir do próprio organismo) ou exógena (grande uso de corticóide como medicação - pode ser de uso oral, injetável e, até mesmo, tópico) → As manifestações são as mesmas! Doença das adrenais 7 → As manifestações do hipercortisolismo não são específicas; além disso, alguns pacientes têm síndrome de Cushing cíclica, em que há períodos de excesso e períodos de redução do cortisol → Desafio diagnóstico (podemos confundir com pacientes obesos, SOP,...) → Predomina no sexo feminino (3ª a 4ª década de vida) → Aumenta morbimortalidade (DM, HAS, hipercolesterolemia, DAC, etc) Classificação em Causas: ACTH dependente (o ACTH é o mecanismo que gerou o Cushing) → ex.: Doença de Cushing (nome dadoença em que há tumor hipofisário produtor de ACTH; síndrome do ACTH ectópico (alta produção de ACTH de origem não hipofisária - tumores em outros locais). ● ACTH independente → ex.: Cushing por cortisol exógeno não dependente do ACTH; tumor adrenal, que produz cortisol independente do comando hipofisário. CUSHING EXÓGENO: ⬇ ACTH e cortisol endógeno ficam baixos → o corticóide exógeno não é o cortisol, geralmente é prednisona, dexametasona, etc, substâncias que não são lidas como cortisol pela nossa circulação. O corticoide exógeno suprime a produção de ACTH e cortisol endógeno; o paciente vai manifestar sintomas de hipercortisolismo mesmo assim! TUMOR ADRENAL ⬆ Superprodução de cortisol e ⬇ redução do ACTH (mecanismo de feedback negativo). O tumor não responde à regulação do ACTH, continua produzindo muito hormônio → dosar cortisol, que vai estar muito elevado! Na maioria das vezes, são raros e tumores benignos (ponto de corte: > 6 cm tende a ser maligno). DOENÇA DE CUSHING Tumor hipofisário secretor de ACTH; em resposta à esse excesso de ACTH, a adrenal fabrica grande quantidade de hormônios do córtex adrenal, de forma proeminente o cortisol → Nesses pacientes, espera-se que o ⬆ ACTH esteja Doença das adrenais 8 elevado ou no limite superior de normalidade e que o ⬆ cortisol esteja elevado ou normal alto. Na maioria das vezes, os tumores são menores que 1 cm. SÍNDROME DO ACTH ECTÓPICO Produção de ACTH por tumor não hipofisário (ex.: tumor de pequenas células pulmonares). Tumor geralmente maligno (características da síndrome de Cushing e da doença oncológica). ⬆ Produz mais ACTH do que na doença de Cushing. A grande quantidade de ACTH produz tanto cortisol, que esse hormônio acaba interagindo com os receptores de mineralocorticoides, provocando uma redução de potássio. DIAGNÓSTICO DA SD. DE CUSHING: Clínico (clínica compatível e exclusão de cushing exógeno) Laboratorial (origem adrenal ou secundária?) Imagem MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA SD. DE CUSHING Doença das adrenais 9 Gordura central (hipercortisolismo induz a lipogênese no tronco e no abdome) e membros finos (lipólise nos membros). Face arredondada: face em lua cheia como consequência da retenção hídrica. Calvície feminina por hiperandrogenismo. Pletora: cortisol estimula a produção de hemácias → aumento de volume de sangue no organismo, que provoca inturgescência vascular. O que leva a policitemia, paciente fica mais vermelho que o normal. A pele fica mais fina, mais friável → estrias violáceas; equimoses Osteopenia → o excesso de cortisol diminui a absorção de cálcio através da vitamina D no intestino → redução da disponibilização de cálcio. Excesso de cortisol bloqueia a ação do GnRH → alterações menstruais → Na imagem abaixo: face pletórica, estrias violáceas e giba: Doença das adrenais 10 AVALIAÇÃO LABORATORIAL (Só fazer depois que excluir hipercortisolismo exógeno): Confirmação do hipercortisolismo Definição da etiologia (prof. não vai cobrar) → Confirmação do hipercortisolismo: Fazer pelo menos 2 testes (podem ser 2 testes do mesmo tipo ou a mistura de 2 testes diferentes): Teste de supressão com 1 mg de dexametasona (cortisol sérico menor ou igual a 1,8 → paciente normal; acima de 1,8, há suspeita de hipercortisolismo; em pacientes obesos há um grande percentual de resultado falso-positivo). Dosagem do cortisol salivar da meia-noite (É o teste mais solicitado, mais bem aceito, por ter menos fatores de interferência; em pacientes fumantes ou com sangramentos gengivais, pode ter interferência). Em pessoas normais, entre 23h e meia-noite, o cortisol salivar estará próximo de zero, pois é liberado às 8h e, a partir das 17h começa a cair bastante, de modo que perto de meia- noite, estará quase zero; menor do que 150 ainda é considerado normal; maior que 350, se considera como hipercortisolismo; os pacientes entre 150 e 350 vão gerar dúvida diagnóstica; caso sejam feitos 2 testes em que o paciente se encontre nesse meio, é necessário fazer outro tipo de teste. Na maioria dos casos de Doença das adrenais 11 hipercortisolismo, o paciente vai ter um nível de cortisol 4x acima do normal. Cortisol livre urinário (cuidado com: estresse, depressão, insuficiência renal, abuso de álcool → pode ter maior excreção de cortisol na urina) Após confirmação do hipercortisolismo → definição etiológica → Lembrar que o ACTH é liberado em pulsos, podendo estar normal no momento do exame. Tratamento: Doença das adrenais 12 Clínico (funciona na base do uso de cetoconazol, que age em diversas enzimas que são responsáveis pela produção de hormônios adrenais; tem também a metirapona, etomidato e o mitotano; todos têm ações específicas em enzimas diferentes) Cirúrgico: pode ser feito em casos de tumor; além disso, existe a opção de um procedimento endoscópico, através da janela nasal, expondo o seio esfenoidal, que é clivado e permite que haja acesso à hipófise.
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