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O papel do cuidador frente ao paciente acamado

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
FACULDADE DE MEDICINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O papel do cuidador frente ao paciente acamado e a 
responsabilização da equipe de saúde da família 
 
 
JULIANA MARIA FERNANDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARAÇUAÍ/ MINAS GERAIS 
2010 
 2 
JULIANA MARIA FERNANDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O papel do cuidador frente ao paciente acamado e a 
responsabilização da equipe de saúde da família 
 
 
Trabalho apresentado ao Curso de 
Especialização em Atenção Básica em Saúde 
da Família da Faculdade de Medicina da 
Universidade Federal de Minas Gerais, como 
requisito parcial para obtenção do titulo de 
Especialista. 
 
 Orientadora: profa. Anadias Trajano Camargos 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARAÇUAÍ/ MINAS GERAIS 
2010 
 3 
Agradecimento 
 
 Agradeço aos profissionais da Equipe de Saúde da Família Cinturão, em especial às 
agentes de saúde pela colaboração durante o percurso da especialização. 
 À Secretaria Municipal de Saúde de Minas Novas pelo apoio e pela oportunidade de 
atuar em um Programa de Saúde da Família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Resumo 
O presente estudo aborda o tema o papel do cuidador frente ao paciente acamado e a responsabilização da equipe 
de saúde da família, considerando a importância do Programa de Saúde da Família como estratégia de 
reorientação dos princípios do SUS e do modelo assistencial. Tal tema justifica-se pela dificuldade apresentada 
pelos profissionais da atenção primária à saúde do município de Minas Novas – MG em dar seguimento ao 
tratamento dos pacientes acamados, uma vez que a assistência prestada pelo familiar no domicílio é na maioria 
das vezes deficiente. O objetivo deste estudo é identificar na literatura o papel do cuidador familiar em relação 
ao paciente acamado e a responsabilização da equipe de saúde da família. Para o desenvolvimento deste estudo, 
optou-se por uma revisão de literatura através do levantamento nas bases de dados Medline, Lilacs, Scielo, 
BDENF, periódicos, dissertações e teses durante o período de agosto a novembro de 2009. Entende-se por 
cuidador familiar a pessoa da família que é a responsável pelos cuidados ao paciente acamado dentro do 
domicílio. Destaca-se a sobrecarga do cuidador familiar e o papel educador dos profissionais das equipes de 
saúde da família no acompanhamento ao paciente acamado, além do apoio físico e emocional ao cuidador 
através da visita domiciliar. Assim, é necessário que as equipes de saúde da família desenvolvam ações que 
contemplem os princípios fundamentais do SUS, possibilitando uma intervenção mais efetiva na mudança do 
perfil de saúde e doença dos familiares cuidadores para que estes estejam em boas condições de um cuidado 
satisfatório, firmando assim, uma parceria entre cuidadores e ESF. 
Descritores: cuidador familiar, cuidado de enfermagem, equipe de saúde da família, visita domiciliar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Abstract 
 
This paper addresses the topic the role of caregiver facing the patient bedridden and accountability of the health 
team of the family, considering the importance of the Family Health strategy and reorientation of SUS principles 
and the model. This topic is justified by the difficulty presented by the practitioners of primary health care in the 
city of Minas Novas - MG to follow up the treatment of bedridden patients, since the care provided by family at 
home is most often deficient. The aim of this study is to identify literature on the role of caregiver for the patient 
bedridden and accountability of the team of family health. To develop this study, we chose to review the 
literature through the analysis in the databases Medline, Lilacs, Scielo and BDENF, periodicals, dissertations and 
theses in the period from August to November 2009.The term family caregiver's family member who is 
responsible for the care of bedridden patients in the home. It highlights the family caregiver burden and the role 
of educator professional team of family health in monitoring the patient in bed, in addition to physical and 
emotional support to caregivers through home visits. Thus, it is necessary for teams to develop family health 
actions that address the fundamental principles of the SUS, enabling more effective intervention in changing the 
profile of health and illness of family caregivers so that they are in good care satisfactory, confirming thus, a 
partnership between caregivers and ESF. 
Keywords: caregiver, nursing, care, health staff, family, home visits. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
1. Introdução....................................................................................................... 07 
2. Objetivo ........................................................................................................... 09 
3. Caminho Metodológico.................................................................................... 10 
4. Fundamentação Teórica.................................................................................... 11 
 4.1. Um breve histórico sobre o Sistema Único de Saúde - SUS e seus princípios.. 11 
 4.2. A Atenção Primária à Saúde.......................................................................... 12 
 4.3. Programa Saúde da Família: Estratégia de consolidação dos princípios 
 do SUS........................................................................................................... 13 
4.4. O papel do cuidador familiar e a responsabilização da Equipe de Saúde 
 da Família...................................................................................................... 15 
5. Considerações Finais........................................................................................ 17 
6. Referências Bibliográficas................................................................................ 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este estudo partiu do interesse de trabalharmos a temática o papel do cuidador frente 
ao paciente acamado e a responsabilização da equipe de saúde da família. Entende-se por 
cuidador àquele que tem a total ou a maior responsabilidade pelos cuidados prestados ao 
paciente, quer seja no âmbito do domicílio ou em Instituição de saúde. 
Os profissionais das equipes de saúde da família ao realizarem o acompanhamento do 
paciente acamado no domicílio se deparam muitas vezes com várias dificuldades no 
tratamento deste, entre elas a falta de uma pessoa para ser referência na família afim de 
exercer os cuidados que o paciente necessita ou porque existe o cuidador, mas esse é 
despreparado, desinteressado e alega não ter tempo para cuidar do paciente, ainda há o baixo 
nível socioeconômico que não contribui, fatores que são considerados pertinentes. 
Durante nossa vivência com essa temática, foi possível observar que mesmo com as 
orientações dos profissionais existe ainda uma grande distância entre o ensinar e o fazer, 
gerando algumas vezes conflitos entre o cuidador e o profissional da equipe de saúde da 
família, pois esses profissionais não estão restritos a uma família, eles são responsáveis pelo 
acompanhamento das famílias de todo o território, sendo o processo educacional o principal 
aliado na recuperação do paciente. 
 O presente estudo justifica-se pela dificuldade apresentada pelos profissionais da atenção 
primária à saúde do município de Minas Novas – MG em dar seguimento ao tratamento dos 
pacientes acamados, uma vez que a assistênciaprestada pelo familiar no domicílio é na 
maioria das vezes deficiente o que retarda a recuperação do paciente e/ ou expõe este aos 
riscos advindos da falta de higiene, uso irregular da medicação, cuidados precários e vários 
outros contratempos pontuados pelos profissionais. 
O cuidado significa desvelo, é dar valor, zelar e, sobretudo é mostrar à pessoa sua 
importância como ser humano e este não pode ser imposto como uma obrigação de quem 
cuida. Deve ser feito com carinho e responsabilidade, valorizando a própria vida e 
amenizando o sofrimento e angústia dos que dependem dos cuidados alheios. 
É importante destacar que a equipe de saúde da família tem um importante papel na 
orientação do cuidador, da família e da comunidade, essa orientação é referente às 
necessidades de mudança de hábitos concernente a saúde e da melhoria da qualidade de vida 
do paciente acamado e da assistência que deve receber, sabendo que pode haver conflitos no 
decorrer do processo. 
 8 
A presença da família no cuidado ao paciente acaba criando uma relação de confiança 
com o cuidador domiciliar e com a equipe de saúde da família, criando um vínculo e tornando 
a relação cuidador/ equipe favorável ao paciente e ao seu bem-estar, que é o principal objetivo 
de ambos no acompanhamento ao paciente acamado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2. OBJETIVO 
 
• Identificar na literatura o papel do cuidador familiar em relação ao paciente acamado 
e a responsabilização da Equipe de Saúde da Família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. CAMINHO METODOLÓGICO 
 
Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se por uma revisão de literatura que versa 
sobre o tema o papel do cuidador frente ao paciente acamado e a responsabilização da equipe 
de saúde da família. 
A estratégia de pesquisa incluiu artigos científicos publicados nos anos de 2000 a 2009 
devido à atualidade do tema e a busca de fonte bibliográfica foi baseada nos descritores: 
cuidados de enfermagem ao paciente acamado, programa de saúde da família e cuidador 
familiar. 
Foram encontradas 2606 publicações referentes ao descritor programa saúde da família, 
251 sobre cuidador familiar e 03 publicações sobre cuidados de enfermagem ao paciente 
acamado, perfazendo um total de 2.860 publicações. 
A pesquisa foi constituída por uma busca ativa realizada nas bases de dados Medline, 
Lilacs, Scielo, BDENF, periódicos, dissertações e teses. Como critérios de inclusão foram 
selecionados apenas os estudos que responderam a pergunta desta revisão nos publicados na 
língua portuguesa. O levantamento dos artigos selecionados foi realizado no período de 
agosto a novembro de 2009. Assim, foram utilizados 11 artigos para a construção deste 
trabalho. 
 Para a análise do material, foi, inicialmente, realizada a seleção de artigos, excluindo-se 
teses e dissertações, seguida da seleção por títulos que continham referência aos descritores 
selecionados. Após leitura dos resumos, foram excluídos os artigos cujos temas não eram 
pertinentes ao estudo. 
Durante todo o processo de busca e análise do material bibliográfico foi necessário e de 
fundamental importância estabelecer uma relação com o texto, permitindo que ele abrangesse 
a sua relevância como estudo cientifico. 
 Em função da atualidade do tema e da inexistência de citações na pesquisa bibliográfica 
descrita anteriormente, foi necessária a consulta à Constituição Federal de 1988, ao capítulo 
do livro de Bárbara Starfield (2002) sobre a atenção primária à saúde e o capítulo do livro de 
autoria de Paim (2003) in Rouquayrol (2003), para a discussão sobre o tema de modelo 
assistencial e vigilância à saúde. 
 Foram utilizadas também vivências da prática e observações relacionadas aos 
profissionais da atenção primária à saúde. 
 
 
 11 
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
4.1. Um breve histórico sobre o Sistema Único de Saúde - SUS e seus Princípios 
 
Para se entender a participação da Equipe de Saúde da Família no processo de 
atendimento ao cliente, optou-se por fazer um breve histórico sobre o Sistema Único de Saúde 
– SUS e seus princípios, tendo como subsídio a temática o papel do cuidador frente ao 
paciente acamado, refletindo acerca da responsabilização da equipe de saúde da família. 
O Sistema Único de Saúde (SUS) “é um sistema único porque segue a mesma doutrina 
em todo território nacional”. (COSTA E CARBONE, 2004; p.4). 
 O SUS foi implantado através da Constituição Federal de 1988 e constitui um 
conjunto de ações e serviços de saúde sob gestão pública. Está organizado em redes 
regionalizadas e hierarquizadas e atua em todo território nacional, com direção única em cada 
esfera de governo. Assim, o SUS deve garantir saúde como direito de todos mediante políticas 
públicas, que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos à saúde e acesso 
universal e igualitário às ações e serviços, visando à promoção, proteção e recuperação da 
saúde. (BRASIL, 1988). 
 A construção da proposta integrada foi definida a partir da participação ativa das 
pessoas, famílias e profissionais envolvidos na assistência domiciliar que constitui um aspecto 
fundamental para a implementação de uma assistência domiciliar que se caracterizou pela 
integralidade, universalidade e equidade de suas ações. (LOPES, et al, 2003). 
 Para que os princípios do SUS – universalidade, integralidade, equidade – sejam 
alcançados é necessário pensar “o modo como são produzidas as ações de saúde e a maneira 
com que os serviços se organizam para produzi-las e distribuí-las”. (SILVA, et al, 2005: 
p.392). 
 Carvalho e Santos (2006) ressaltam que o SUS, deve obedecer aos princípios de 
universalidade o qual é responsável pelo acesso do usuário aos serviços de saúde em todos os 
níveis de assistência. Em sistemas de saúde anteriores o que garantia acesso à saúde às 
pessoas era o fato de serem consideradas beneficiários ou segurados. Àqueles que não se 
inseriam nesse processo não tinham direito ao atendimento público de saúde. Portanto, a 
universalidade, hoje, tornou-se o novo conceito de saúde. 
“Integralidade da assistência exige que os serviços de saúde sejam organizados de forma a 
garantir ao individuo e à coletividade a proteção, a promoção e a recuperação da saúde, de 
 12 
acordo com as necessidades de cada um, em todos os níveis de complexidade do sistema”. 
(CARVALHO e SANTOS, 2006: p.64). 
Quanto ao principio da Equidade, diz respeito ao direito de todos em ter igualdade de 
oportunidade em usufruir dos serviços disponibilizados pelo SUS. 
Assim, a consolidação do SUS exigiu muitas discussões sobre modelo assistencial e 
também a superação do modelo hegemônico para a adoção do modelo de vigilância à saúde, 
entendido como uma prática sanitária referenciada no conceito positivo de saúde, qualidade 
de vida e no paradigma social do processo saúde - doença. (SILVA, et al, 2005). 
O modelo de vigilância à saúde contribui para mudar o perfil epidemiológico e controlar 
os novos agravos à saúde, bem como representa uma estratégia para promoção de uma 
assistência integral, oportuna, universal, equânime e humanizada. 
 Ressalta-se que o modelo assistencial não se reduz à prática médica voltada apenas para o 
indivíduo doente e na cura de doenças. A sua concepção exige: “revisar o conceito de saúde e 
os determinantes históricos e culturais que incidem sobre as intervenções técnicas e sobre os 
problemas e necessidades de saúde da população” (SILVA, et al, 2005: p. 392). 
Dessa forma, destacam-se as ações de vigilância epidemiológica e sanitária, implantação 
de ações de vigilância nutricional dirigidas a grupos de risco, vigilância à saúde do 
trabalhador, levando em conta os ambientes de trabalho e os riscos ocupacionais, vigilância 
ambiental em áreas especificas de risco epidemiológico,sem perder de vista a necessidade de 
reorientar as ações de prevenção e de recuperação da saúde. (PAIM, 2003). 
 
4.2. A Atenção Primária à Saúde 
 
 O Programa Saúde da Família segundo Costa, et al (2008: p.115), “propõe a 
reorganização da atenção básica em ações de promoção da saúde, prevenção e riscos de 
doenças, resolutividade na assistência e recuperação, com qualidade, o que favorece a maior 
aproximação dos serviços à população”. 
A atenção primária é o “primeiro nível de contato, a porta de entrada dos indivíduos, 
das famílias e da comunidade no sistema para todas as novas necessidades e problemas”. 
(COSTA, et al, 2008: p.115). 
Além disso, a atenção primária à saúde possui seus princípios próprios, que são: 
primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação, abordagem familiar e 
enfoque comunitário. Todos eles centrados na busca de um atendimento de qualidade, 
resolutivo, eficaz e eficiente. (STARFIELD, 2002). 
 13 
Assim, “a estratégia da Saúde da Família proposta pelo governo elege a família como 
núcleo social alvo em território definido e agrega ainda os princípios da responsabilidade 
social, interdisciplinaridade e intersetorialidade, além da vigilância em saúde”. (COSTA E 
CARBONE, 2004: p. 9). 
Os mesmos autores asseguram que atenção básica é serviço de alta qualidade e 
resolutividade; valorização da promoção e proteção da saúde; parte de um sistema 
hierarquizado. (COSTA E CARBONE, 2004). 
Neste contexto, a visita domiciliar é um importante instrumento no acompanhamento 
das famílias, pois quando é inserido no núcleo familiar, o profissional interage de modo eficaz 
e passa a conhecer o processo saúde-doença deste e os cuidados domiciliares tornam-se assim, 
parte integrante das ações da equipe do PSF. Quando realizamos o acompanhamento através 
da visita, verifica-se que este se torna mais preciso, uma vez que é verificado o ambiente da 
família e as suas reais necessidades. 
Quando a visita domiciliar é avaliada no âmbito das práticas de saúde pública, observa-se 
que a sua importância é inquestionável, tanto no diagnóstico de determinados problemas de 
saúde, quanto na prevenção, na promoção à saúde, na reabilitação e no controle de doenças. 
Gerk, Freitas e Barros (2000) afirmam que a visita domiciliar é uma importante estratégia de 
assistência à saúde, uma vez que facilita a interação entre os profissionais de saúde e a 
comunidade, respeitando suas crenças, valores e visões. 
 
4.3. Programa Saúde da Família: estratégia de consolidação dos princípios do SUS 
 
O Programa Saúde da Família (PSF) surge no Brasil como uma estratégia de 
reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os 
princípios do Sistema Único de Saúde. Inicialmente, o Ministério da Saúde formula o 
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) com a finalidade de contribuir para a 
redução das mortalidades infantil e materna, principalmente nas regiões norte e nordeste. A 
partir da experiência acumulada no Ceará com o PACS, o Ministério da Saúde percebe a 
importância dos Agentes nos serviços básicos de saúde no município e começa a enfocar a 
família como parte integrante das ações programáticas de saúde. (LABATE, ROSA, 2005). 
Introduzindo uma nova visão do processo de trabalho e em conformidade com o modelo 
de vigilância à saúde, o PSF, tendo a família como centro de atenção e não somente o 
indivíduo, atua em um território limitado com um número de famílias definidos, de forma 
integral e contínua e desenvolvendo ações de promoção, proteção e recuperação à saúde. 
 14 
O PSF, segundo Labate e Rosa, (2005: p.1030), pode ser definido como: “um modelo de 
atenção que pressupõe o reconhecimento de saúde como um direito de cidadania, expresso na 
melhoria das condições de vida; no que toca a área de saúde, essa melhoria deve ser traduzida 
em serviços mais resolutivos, integrais e principalmente humanizados”. 
Além disso, possui como objetivos: reconhecer a saúde como direito de cidadania, 
humanizando as práticas de saúde e buscando a satisfação do usuário; identificar os fatores de 
risco aos quais a população está exposta e neles intervir de forma apropriada; estimular a 
organização da comunidade para o efetivo exercício do controle social: e prestar assistência 
universal, equânime, contínua e, acima de tudo, resolutiva e de boa qualidade à população, na 
unidade de saúde e no domicílio, elegendo a família, em seu contexto social, como núcleo 
básico de abordagem no atendimento à saúde. (SILVESTRE e NETO, 2003). 
De acordo com Hamann e Sousa (2009), o caráter substitutivo do PSF em relação à 
“atenção básica tradicional” orienta-se pelos seguintes princípios: adscrição da clientela, 
territorialização, diagnóstico da situação de saúde da população e planejamento baseado na 
situação de saúde local. 
 “A adscrição da clientela refere-se ao novo vínculo que se estabelece de modo 
permanente entre os grupos sociais, as equipes e as unidades de saúde. A territorialização 
significa a definição do território e da população, o que implica o mapeamento e a 
segmentação da população por território. O diagnóstico da situação de saúde da população 
permite a análise da situação de saúde do território, mediante cadastramento das famílias. O 
planejamento baseado na realidade local viabiliza a programação de atividades orientada 
segundo critérios de risco à saúde”. (HAMANN e SOUSA, 2009: p.1327). 
 As equipes de saúde da família precisam ser multiprofissionais compostas por, no 
mínimo um enfermeiro, um médico, dois auxiliares de enfermagem ou técnicos de 
enfermagem e quatro a seis agentes comunitários de saúde. O número de famílias por equipe é 
em média 600 a 1000 famílias correspondendo a 2.400 a 4.500 habitantes. (COSTA, et al, 
2009). Mas muitas vezes o que se vivencia no PSF hoje, ainda são equipes com um número 
de famílias e pessoas além do preconizado, dificultando a atuação e a realização de todas as 
atividades inerentes à estratégia. 
De acordo com Costa e Carbone, (2004: p.10), as equipes de saúde da família devem estar 
capacitadas para: 
1. Identificar a realidade epidemiológica e sociodemográfica das famílias adscritas. 
2. Reconhecer os problemas de saúde prevalentes e identificar os riscos aos quais a 
população está exposta. 
 15 
3. Planejar o enfrentamento dos fatores desencadeantes do processo saúde/doença. 
4. Atender a demanda programada ou espontânea. 
5. Utilizar corretamente o sistema de referência e contra-referência. 
6. Promover educação à saúde e melhorar o auto-cuidado dos indivíduos. 
7. Incentivar ações intersetoriais para enfrentar os problemas identificados. 
A intenção é que esses profissionais criem um vínculo com as pessoas, famílias, 
comunidades, conhecendo sua cultura, hábitos de vida e de saúde, para que possam atuar 
como orientadores sobre a importância na mudança de hábitos de saúde modificando a 
realidade, que tem como finalidade tornar as ações da equipe de saúde mais efetiva para que 
possa contribuir ou influenciar na qualidade de vida da comunidade. 
 
4.4. O papel do cuidador familiar e a responsabilização da Equipe de Saúde da Família 
 
As mudanças nos perfis demográficos e de morbi-mortalidade da população mundial 
ao longo do último século e conseqüentes desafios para os sistemas de saúde explicam o 
crescente interesse dos pesquisadores pelo cuidado domiciliar à saúde, realizado no âmbito da 
família e envolvendo cuidadores leigos.(ALVARENGA, AMENDOLA, OLIVEIRA, 2008). 
O envelhecimento, de acordo com Albuquerque, et al, (2007), enquanto fenômeno 
biológico, apresenta-se em cada ser humano idoso de um modo singular. No entanto, a 
expectativa de vida vem crescendo de forma rápida e os sistemas de saúde necessitam 
acompanhá-la. 
Junto à transição demográfica observou-se também uma transição epidemiológica. As 
doenças infectocontagiosas diminuíram sua incidência, enquantoque as doenças crônicas não-
transmissíveis passaram a prevaler, atingindo principalmente a pessoa idosa. 
(ALBUQUERQUE, et al, 2007). 
Dentro deste contexto, há como conseqüência o aumento dos cuidadores familiares, 
que por sua vez, tornaram-se parte integrante das ações em saúde dessa parcela da população 
juntamente com a equipe de saúde da família. 
Entende-se por cuidador familiar a pessoa da família que é a principal responsável 
pelos cuidados ao paciente acamado dentro do domicílio. 
De acordo com pesquisa realizada por Alvarenga, Amendola, Oliveira, (2008), os 
cuidadores familiares de pacientes dependentes estão cuidando de pessoas com alto grau de 
incapacidade funcional e nesses casos a sobrecarga afeta diretamente a qualidade de vida 
desses familiares. Somando-se a isso, trata-se de uma população carente social e 
 16 
economicamente, com pouca oferta de área de lazer e cultura e com baixo nível de 
escolaridade. 
Muitas vezes o que é encontrado no domicílio são idosos que necessitam de cuidados 
domiciliares e cuidadores familiares que também necessitam de cuidados. O que se depreende 
desses cenários é uma carência de suporte e uma falta de estrutura mais eficaz, que 
proporcione a esses cuidadores familiares melhor capacidade para prestar cuidado efetivo ao 
paciente acamado. (ALBUQUERQUE, et al, 2007) 
Ainda segundo Albuquerque, et al, (2007), a ação educativa em saúde é um processo 
dinâmico que tem como objetivo a capacitação dos indivíduos e/ou grupos em busca da 
melhoria das condições de saúde da população. Ressalta-se que nesse processo a população 
tem a opção de aceitar ou rejeitar as novas informações, podendo também, adotar ou não 
novos comportamentos frente aos problemas de saúde. 
Com este enfoque, o acompanhamento ao paciente acamado realizado pela equipe de 
saúde da família deve dar ênfase na promoção e educação, identificando as reais necessidades 
dos envolvidos, permitindo também a autonomia e a co-responsabilidade, a valorização da 
subjetividade e a criação de vínculo. (ALBUQUERQUE, et al, 2007) 
Assim, o domicílio torna-se um importante espaço educacional, uma vez que é o local 
em que os seres humanos convivem e tornam propícios os cuidados individualizados, além do 
cuidado com o próprio domicílio, que é parte integrante das ações de saúde. Este ambiente é 
permeado por diversos aspectos culturais, de significância aos seus moradores e 
freqüentadores e devem ser considerados todas as vezes que a equipe de saúde ali adentrar e 
propor intervenções. (ALBUQUERQUE, et al, 2007). 
Para tanto, é necessário um vínculo para que a família tenha confiança na equipe, 
porém, esta deve compreender a sua responsabilidade sobre o paciente acamado que necessita 
de cuidados integrais. O papel da ESF deve estar muito bem definido, a intervenção educativa 
e o acompanhamento periódico, além do apoio físico e emocional ao cuidador. Cabe também 
às ESF, segundo Alvarenga, Amendola, Oliveira (2007), ações que contemplem os princípios 
fundamentais do SUS, possibilitando uma intervenção mais efetiva na mudança do perfil de 
saúde e doença dos familiares cuidadores para que estes estejam em boas condições de um 
cuidado satisfatório, firmando assim, uma parceria entre cuidadores e ESF. 
Desta forma, o cuidador familiar recebendo o suporte adequado da ESF deve assumir 
o seu papel frente ao paciente acamado possibilitando à este cuidados satisfatórios e 
continuidade da assistência prestada com qualidade e humanização. 
 
 17 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Considerando a importância do tema para o nosso aprendizado, foi possível constatar 
que os trabalhos analisados revelam uma preocupação dos profissionais de saúde em relação 
ao atendimento dos pacientes acamados pelo Sistema Único de Saúde. 
 Assim, é através de estratégias do Programa de Saúde da Família e da visita domiciliar 
é que os profissionais poderão encontrar meios para a mudança de hábitos de saúde, 
respeitando a cultura familiar, crenças e costumes, possibilitando meios de proporcionar ao 
cuidador familiar um conhecimento adequado para o cuidado ao acamado. Deve-se também 
propor formas de cuidados para o cuidador que, muitas vezes, só é cobrado. Os profissionais 
devem prestar assistência familiar conhecendo a realidade do domicílio e suas deficiências 
para atuar na resolução dos problemas encontrados. 
A família deve definir qual a pessoa será o cuidador principal referência para a equipe 
de saúde e este será o meio de comunicação entre a equipe e a família. Este cuidador deve 
estar atento às orientações e aos cuidados sugeridos pelos profissionais, prestar assistência em 
todas as etapas de higiene, uso de medicamentos, alimentação e conforto do paciente. A 
equipe deve acompanhar os cuidados e estimular o cuidador nos seus afazeres, selando assim, 
a parceria juntamente com a definição dos papéis, para que juntos obtenham sucesso na 
melhoria da qualidade de vida do paciente. 
Uma relação conflitante só traz malefícios ao acamado e dificulta a sua reabilitação. 
Portanto, definindo-se os papéis e trabalhando juntos equipe e família podem firmar parcerias 
de grandes sucessos e realizações. 
 Considerando a necessidade de preparar a equipe de saúde da família, uma vez que é 
através dela que o atendimento à pessoa acamada poderá se tornar mais fácil, principalmente 
no que se refere às atividades de promoção, prevenção e recuperação à saúde pelo sistema 
único de saúde, os autores destacam a sua preocupação quanto à intervenção educativa da 
equipe e o papel do cuidador na continuidade do acompanhamento ao paciente acamado. 
 No cotidiano da equipe de saúde da família, como profissional da atenção primária à 
saúde, percebo a necessidade de estarmos incluindo nas ações realizadas a promoção da 
educação ao cuidador familiar e o enfoque às demandas apresentadas por ele, uma vez que o 
que se observa na prática muitas vezes ainda é o foco no paciente acamado e não no seu 
domicílio/ família/ comunidade. A visita domiciliar também deve ser realizado com mais 
afinco para o reconhecimento da realidade familiar e prevenção de possíveis agravos. 
 18 
 Diante dessas considerações, reconhece-se que é através da efetiva interação dos 
agentes do cuidado formal e informal e da articulação de seus saberes, ou seja, através do 
encontro entre família-equipe do PSF que despontará as possibilidades de mudança no 
processo saúde-doença, assim como na melhoria das condições de saúde e na qualidade de 
vida das famílias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
1. ALBUQUERQUE, G. L. et al. Necessidades de educação em saúde dos cuidadores de 
pessoas idosas no domicílio. Revista Texto e Contexto, Florianópolis, 2007 abr-jun; 16 (2): 
254-62. 
 
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