Buscar

4 CONTRATOS, COMÉRCIO E GUERRA NO DIREITO INTERNACIONAL

Prévia do material em texto

4. CONTRATOS, COMÉRCIO E GUERRA NO DIREITO INTERNACIONAL
Prof. Me. Igor Nóvoa dos Santos Velasco Azevedo
4.1. aspectos jurídicos do comércio internacional, suas peculiaridades e pontos em comum com o direito dos contratos
A lex mercatoria
As primeiras formas de organização do comércio remontam ao século XVI, período historicamente conhecido como mercantilismo, que durou até o século XVIII. Durante o mercantilismo – que coincide com a primeira etapa do capitalismo e da globalização, em superação ao período feudal –, as relações comerciais eram motivadas pela acumulação de riqueza (CAPARROZ, 2018; MESQUITA, 2013).
A lex mercatoria, segundo André de Carvalho Ramos (Curso de Direito Internacional Privado, 2018, p. 123), “consistia em normas e estruturas de regulação de contratos e temas de circulação de mercadorias, criadas por comerciantes marítimos e terrestres na Baixa Idade Média e de parte da Idade Moderna europeia.”
Já a nova lex mercatoria pode ser conceituada como “o conjunto de regras e instâncias de solução de controvérsias sobre fatos transnacionais comerciais produzidas e geridas, em geral, por entes privados.”
Trata-se de direito uniforme desvinculado do Estado, aplicável a fatos com elementos de transnacionalidade.
CONTRATOS INTERNACIONAIS E ASPECTOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Os contratos internacionais se tornaram parte importante do cotidiano das transações comerciais internacionais. Normalmente, operam-se na forma de contratos de compra e venda de importação e exportação.
Assim como no Direito interno, são regidos por princípios como o da autonomia da vontade e boa-fé entre as partes.
Sua regulamentação se dá através de fontes nacionais e internacionais.
No âmbito internacional, a produção de regras acerca do comércio internacional é realizada por entidades como a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Câmara do Comércio Internacional (CCI), a Uncitral (Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional), dentre outros.
O principal objetivo das normas comerciais internacionais é garantir a estabilidade e a previsibilidade das relações estabelecidas, através da harmonização da legislação dos diferentes Estados.
Organização mundial do comércio (omc)
Principal instância administradora do sistema multilateral de comércio.
Iniciou suas atividades em 1º de janeiro de 1995.
As origens da OMC remontam à assinatura do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), em 1947, mecanismo que foi responsável, entre os anos de 1948 a 1994, pela criação e gerenciamento das regras do sistema multilateral de comércio.
O GATT estabeleceu algumas cláusulas que buscaram minimizar as políticas protecionistas, isto é, de proteção do mercado interno, ampliando as possibilidades de concessões e acordos internacionais (MESQUITA, 2013).
Atualmente, a OMC conta com 164 Membros, sendo o Brasil um dos Membros fundadores. A sede da OMC está localizada em Genebra (Suíça) e as três línguas oficiais da organização são o inglês, o francês e o espanhol.
Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC
OBJETIVOS
A Organização tem por objetivos:
estabelecer um marco institucional comum para regular as relações comerciais entre os diversos Membros que a compõem;
estabelecer um mecanismo de solução pacífica das controvérsias comerciais, tendo como base os acordos comerciais atualmente em vigor; e 
criar um ambiente que permita a negociação de novos acordos comerciais entre os Membros.
PRINCÍPIOS
A OMC herdou do GATT um conjunto de princípios que fundamentam a regulamentação multilateral do comércio, dentre os quais se destacam:
o da nação-mais-favorecida, segundo o qual um Membro da OMC deve estender a todos os seus parceiros comerciais qualquer concessão, benefício ou privilégio concedido a outro Membro;
o do tratamento nacional, pelo qual um produto ou serviço importado deve receber o mesmo tratamento que o produto ou serviço similar quando entra no território do Membro importador;
o da transparência, por meio do qual os Membros devem dar publicidade às leis, regulamentos e decisões de aplicação geral relacionados a comércio internacional, de modo que possam ser amplamente conhecidas por seus destinatários; e
o do tratamento especial e diferenciado: concessão de condições mais favoráveis a países em desenvolvimento.
ESTRUTURA
A OMC é composta por diversos órgãos, sendo os principais:
a Conferência Ministerial: instância máxima da organização composta pelos Ministros das Relações Exteriores ou de Comércio Exterior dos Membros, os quais se reúnem a cada dois anos, para tomar as decisões superiores, através de tratados multilaterais;
o Conselho Geral: órgão composto pelos representantes permanentes dos Membros em Genebra, que ora se reúne como Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) e ora como Órgão de Revisão de Política Comercial: analisa as políticas comerciais e administra as disputas entre os diferentes Estados.
Conselhos para o Comércio de Bens; para o Comércio de Serviços; e para os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio (Acordo TRIPS): subordinados ao Conselho Geral, fiscalizam os acordos celebrados pelos membros, de acordo com o tema.
Comitês, entre eles os Comitês de Acesso a Mercados, Agrícola e de Subsídios, entre outros; e
Secretariado: que tem por função apoiar as atividades da organização e é composto por cerca de 700 funcionários, dirigidos pelo Diretor-Geral da OMC.
Mecanismos de solução de disputas comerciais na omc
O Conselho Geral da OMC se reúne, por vezes, na qualidade de Órgão de Solução de Controvérsias.
Recebe demandas encaminhadas pelos governos dos Estados-membros acerca de disputas comerciais.
Os contenciosos da OMC desenrolam-se em quatro fases principais: (i) consultas; (ii) painel; (iii) apelação; e (iv) implementação.
Consultas: fase inicial do contencioso, momento em que a parte demandante solicita à parte demandada informações sobre sua legislação e suas práticas comerciais, e requer modificações das medidas questionadas, conforme os acordos da OMC. 
Painel: os painéis são constituídos por três membros, que deverão ser escolhidos de comum acordo pelas partes. As partes apresentam ao painel petições escritas e participam de audiências, oportunidade em que podem apresentar e defender oralmente seus argumentos. Ao final de seus trabalhos, o painel emite um relatório sobre a compatibilidade das medidas questionadas em relação aos acordos da OMC. 
Apelação: eventuais apelações dos relatórios dos painéis deverão ser apresentadas ao Órgão de Apelação, órgão permanente que tem a função de revisão de aspectos jurídicos dos relatórios emitidos pelos painéis.
Implementação: se o relatório do painel ou do Órgão de Apelação adotado pelo OSC concluir pela incompatibilidade das medidas de um Membro com as regras da OMC, a parte demandada deve modificar aquela medida, a fim de recompor o equilíbrio entre direitos e obrigações no âmbito do sistema multilateral de comércio. 
Fonte: Ministério das Relações Exteriores (Disponível em: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/politica-externa-comercial-e-economica/comercio-internacional/o-sistema-de-solucao-de-controversias-da-omc.)
4.2. arbitragem internacional como mecanismo de soluções às disputas no âmbito do comércio internacional
Regras gerais sobre soluções de controvérsias internacionais
Existência de conflitos na sociedade internacional, decorrente das diferenças e dos interesses humanos.
Ausência de autoridade máxima capaz de ditar regras e fazer exigir o seu cumprimento.
Necessidade de se buscar meios e soluções pacíficas para os conflitos de interesse na sociedade internacional.
Conceito de controvérsia internacional: Casos Mavrommatis (1924) e do Sudoeste africano (1962) - a CIJ entendeu que controvérsia internacional é todo desacordo existente sobre determinado ponto de fato ou de direito, ou seja, toda oposição de interesses ou de teses jurídicas entre Estados ou OIs. Tal desacordo pode ter origem econômica, política, cultural, científica, religiosaetc.
Regras gerais sobre soluções de controvérsias internacionais
Carta das Nações Unidas:
Artigo 33. 1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha.
2. O Conselho de Segurança convidará, quando julgar necessário, as referidas partes a resolver, por tais meios, suas controvérsias.
Carta da Organização dos Estados Americanos:
ARTIGO 25
São processos pacíficos: a negociação direta, os bons ofícios, a mediação, a investigação e conciliação, o processo judicial, a arbitragem e os que sejam especialmente combinados, em qualquer momento, pelas partes.
ARTIGO 26
Quando entre dois ou mais Estados americanos surgir uma controvérsia que, na opinião de um deles, não possa ser resolvida pelos meios diplomáticos comuns, as partes deverão convir em qualquer outro processo pacífico que lhes permita chegar a uma solução.
Arbitragem internacional
Chamada de meio semi-judicial para a solução de controvérsias internacionais.
A arbitragem consiste, segundo Valerio Mazzuoli (2006, p. 633), “na criação de um tribunal formado por árbitros de vários Estados, escolhidos pelos litigantes por sua notória especialidade na matéria envolvida e baseado no respeito ao direito, geralmente por meio de um compromisso arbitral em que as partes já estabelecem as regras a serem seguidas e aceitam a decisão que vier a ser tomada. Tem como o fundamento o consentimento das partes, o qual pode ser externado por ato unilateral ou por meio de tratado internacional. Normalmente, o tribunal é composto por três membros: dois deles de nacionalidade de cada uma das partes envolvidas e um terceiro escolhido de comum acordo pelas partes, de nacionalidade diferente.”
A arbitragem internacional pode ser pública ou privada.
A primeira envolve duas ou mais pessoas jurídicas de Direito Internacional Público, sendo materializada através de tratado internacional.
Já a segunda envolve duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, conforme normas internas e internacionais.
No Brasil, a arbitragem internacional privada é regida pela Lei nº 9.307/96.
Quando adotada, a arbitragem internacional constitui meio obrigatório para as partes em litígio.
Cláusula compromissória
A cláusula compromissória prevista em contratos ou tratados internacionais atribui, previamente, a resolução dos litígios que possam vir a existir entre as partes à arbitragem. Nesse sentido, define a Lei nº 9.307/96:
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.
[...]
Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.
COMPROMISSO ARBITRAL
Também é possível que, a partir da formação da controvérsia, as partes litigantes resolvam submetê-la à arbitragem, consoante previsão da Lei nº 9.307/96:
Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
Laudo arbitral
A “sentença” prolatada pelo tribunal arbitral é denominada laudo arbitral.
Salvo disposição convencional em contrário, tem valor jurídico e deve ser fielmente cumprida pelas partes de boa-fé.
O descumprimento do laudo constitui ilícito internacional.
Constitui título executivo judicial, de acordo com o Art. 515, VIII, do CPC.
A Convenção de Nova York, de 1958, sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras (Decreto nº 4.311, de 23 de julho de 2002) dispõe:
Artigo I
1. A presente Convenção aplicar-se-á ao reconhecimento e à execução de sentenças arbitrais estrangeiras proferidas no território de um Estado que não o Estado em que se tencione o reconhecimento e a execução de tais sentenças, oriundas de divergências entre pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. A Convenção aplicar-se-á igualmente a sentenças arbitrais não consideradas como sentenças domésticas no Estado onde se tencione o seu reconhecimento e a sua execução.
2. Entender-se-á por "sentenças arbitrais" não só as sentenças proferidas por árbitros nomeados para cada caso mas também aquelas emitidas por órgãos arbitrais permanentes aos quais as partes se submetam.
Laudo arbitral
No Brasil, para que a sentença arbitral estrangeira possa gerar efeitos jurídicos, é necessário que seja homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, segundo os Arts. 34 e seguintes, da Lei nº 9.307/96:
Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei.
Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.
Art. 35.  Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça.                      (Redação dada pela Lei nº 13.129, de 2015)        (Vigência)
A sentença arbitral que se quer executar deriva de procedimento arbitral instaurado mediante requerimento à Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional, com sede em Paris, França. Contudo, ela foi proferida em língua portuguesa, no Brasil (por escolha consensual das partes), por árbitro brasileiro e com aplicação do Direito brasileiro em seu mérito. Discute-se, ao cabo, a necessidade de prévia homologação pelo STJ desse título, tido pela recorrente como sentença arbitral estrangeira, para que se torne apto a aparelhar a execução. Quanto a isso, vê-se que a execução, para ser regular, tem que se amparar em título executivo idôneo, entre os quais figuram a sentença arbitral (art. 475-N, IV, do CPC) e a sentença estrangeira homologada (inciso VI desse mesmo dispositivo). Já o art. 31 da Lei n. 9.307/1996 (Lei de Arbitragem) conferiu ao laudo arbitral nacional os efeitos de sentença judicial e, por sua vez, a jurisprudência do STF trouxe o entendimento de que os laudos arbitrais estrangeiros necessitam de homologação, o que foi incorporado à Lei de Arbitragem (vide seu art. 35). O art. 1o da Convenção de Nova Iorque (promulgada pelo Dec. n. 4.311/2002) deixou para as legislações dos países a tarefa de eleger o critério que define a nacionalidade da sentença arbitral, daí os diferentes conceitos de sentença arbitral estrangeira constantes dos diversos ordenamentos jurídicos do cenário internacional. A legislação brasileira elegeu exclusivamente o critério geográfico (jus solis) – o local onde a decisão foi proferida – para a determinação da nacionalidade da sentença arbitral, tal como se constata da leitura do art. 34, parágrafo único, da Lei de Arbitragem. Assim, na hipótese, o simples fato de o procedimento arbitral ser requerido na corte internacional e se ter regido por seu regulamento não tem o condão de desnaturar a nacionalidade brasileira da sentença em questão, título idôneo a lastrear a execução, por si só dotado de eficácia, o qual não necessita de homologação judicial para ser executado. Precedentes citados: SEC 894-UY, DJe 9/10/2008; SEC 611-US, DJ 11/12/2006, e SE 1.305-FR, DJ 7/2/2008. REsp 1.231.554-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/5/2011.
4.3. ELEMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL QUE TRATAM DA GUERRA
CONCEITO DE GUERRA E REGRAS GERAIS
Segundo o Direito Internacional Público, a guerra pode ser definida como uma disputa ou conflito que, de modo geral, é armado. Envolve dois ou mais Estados,dura certo tempo – algumas semanas, meses ou anos – até que um Estado imponha suas vontades sobre os demais Estados em conflito, vontades que podem ser políticas, econômicas, territoriais etc. (MAZZUOLI, 2020).
Teoricamente, a guerra se inicia com uma declaração, realizada de acordo com as normas internas do Estado que pretende promovê-la. Contudo, na prática, a guerra pode começar mediante ofensiva militar, sem aviso prévio (Ex.: Ataque pelo Japão à base estadunidense de Pearl Harbor, em 1941).
No Brasil, de acordo com o Art. 21, II, da Constituição Federal de 1988, é competência exclusiva da União “declarar a guerra e celebrar a paz”.
A autoridade competente para declarar guerra é o Presidente da República, mediante autorização ou referendo do Congresso Nacional:
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
[...]
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;
[...]
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
[...]
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
CONCEITO DE GUERRA E REGRAS GERAIS
Materialmente, a guerra terá fim com a vitória de um Estado ou grupo de Estados beligerantes sobre os demais, e, formalmente, mediante a celebração de um tratado de paz.
O pontapé inicial para o fim da guerra é o chamado armistício, que consiste em uma suspensão consensual e temporária do conflito armado, objetivando, em última instância, o restabelecimento da paz (MAZZUOLI, 2020).
No Brasil, a celebração da paz também é competência exclusiva da União, mediante ato do Presidente da República, autorizado ou referendado pelo Congresso Nacional, de acordo os Arts. 21, II; 49, II; e 84, XX, da CF/88:
 Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
[...]
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
JUS AD BELLUM E JUS IN BELLO
Jus ad bellum: corresponde ao direito de fazer a guerra, derivado da ideia de “guerra justa”, desenvolvida ao longo da Idade Média.
Jus in bello: refere-se, segundo Rezek (2016, p. 437), “ao direito da guerra, ao conjunto de normas, primeiro costumeiras, depois convencionais, que floresceram no domínio das gentes quando a guerra era uma opção lícita para resolver conflitos entre Estados.”
As normas desenvolvidas possuíam o intuito de proteger pessoas e instalações que não faziam parte das hostilidades: feridos e enfermos; médicos, enfermeiros e capelães; hospitais; prisioneiros de guerra; e a população civil. 
Posteriormente, tais normas passaram por um processo de codificação e, atualmente, compõem uma das vertentes de proteção da pessoa humana, denominada Direito Internacional Humanitário.
Proibição da guerra
Atualmente, a guerra é considerada objetivamente como um ilícito internacional, ideia esta que foi desenvolvida ao longo do século XX, de acordo com os seguintes tratados internacionais:
Pacto da Liga das Nações, de 1919: não vedou formalmente a guerra, mas a tornou uma alternativa secundária para a solução de conflitos entre Estados, devendo ser evitada.
Tratado de Renúncia à Guerra (Pacto Briand-Kellog), de 1928: os Estados passam a condenar a guerra e a ela renunciar.
Carta das Nações Unidas, de 1945: estabeleceu o princípio da proibição do uso da força.
Artigo 2. A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:
[...]
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais.
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
Direito internacional humanitário
Mesmo que a guerra seja considerada um ilícito internacional, existem tratados que dispõem sobre o seu desenvolvimento, de modo a garantir proteção às pessoas que dela não fazem parte. Destacam-se:
Convenções de Genebra de 1949: sobre a proteção dos enfermos e dos feridos em guerras terrestres; sobre a proteção de feridos, enfermos e náufragos nas guerras navais; sobre o tratamento dos prisioneiros de guerra (substitui a Convenção de Genebra de 1929); sobre a proteção da população civil, vítima de conflitos bélicos.
Protocolos Adicionais, de 1977, às 4 Convenções de Genebra: fortalecem a proteção de vítimas de conflitos bélicos internacionais e não internacionais (guerra civil).
Além das normas que dispõem sobre a proteção dos indivíduos, há aquelas que tratam das restrições dos meios (armas, principalmente) e métodos de combate (táticas militares):
Convenção das Armas Bacteriológicas de 1972;
Convenção das Armas Convencionais de 1980;
Convenção das Armas Químicas de 1993;
Convenção de Haia de 1954, que protege o patrimônio cultural em tempo de conflito armado.
Terrorismo internacional
Um ponto muito importante e atual diz respeito ao terrorismo internacional, que pode ser definido como um conjunto de atos de violência praticados por um grupo contra cidadãos comuns (civis), com o objetivo de gerar medo ou terror e chamar a atenção de determinado Estado, seja a título de uma resposta ilegal ou para obter a realização de uma vontade (MAZZUOLI, 2020).
Após os ataques às Torres Gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reconheceu, através de diversas Resoluções, a necessidade de combate ao terrorismo internacional, bem como, tacitamente, a licitude da invasão promovida pelos Estados Unidos no Afeganistão, a título de legítima defesa.
Destacam-se as seguintes Resoluções: 
Resolução n. 1.373/2001, que trata da obrigação dos Estados no combate ao terrorismo; e
Resolução n. 1.535/2004, que dispõe sobre as ameaças à paz e segurança no âmbito internacional.
O TEMA 5 DA DISCIPLINA (DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO), QUE SERÁ OBJETO DA AVALIAÇÃO DIGITAL (AVD), DEVERÁ SER ESTUDADO DE FORMA AUTÔNOMA. ACESSE: https://estudante.estacio.br/login

Continue navegando