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A ascite é definida como o acúmulo de líquido de origem patológica na cavidade abdominal, podendo se manifestar de forma aguda ou crônica. Existem várias doenças que cursam com ascite, como neoplasias, doenças cardíacas, infecciosas e hepáticas. Sendo assim, a ascite não é uma doença, mas sim uma manifestação de uma patologia. A principal etiologia da ascite é a hipertensão portal, principalmente decorrente da cirrose hepática. É importante lembrar que existe uma membrana peritoneal revestindo a cavidade peritoneal e outra membrana revestindo as alças dos órgãos internos, formando a cavidade peritoneal formando uma cavidade virtual, com líquido peritoneal (cerca de 100mL), cujo princípio de formação é a eliminação e ultrafiltração do plasma pelas alças intestinais, a pleura parietal “baba” o líquido pleural e os vasos linfáticos da parede do abdômen drenam esse líquido → ocorre um equilíbrio. Se somar todo o líquido presente na cavidade peritoneal de uma pessoa sem alterações/patologia, vai dar em torno de 30-50mL, então, ao mesmo tempo que produz, há um aumento da reabsorção para tentar manter os níveis de líquido dentro dessa faixa. Na cirrose, tem fibrose do fígado, diminuição da óxido nítrico sintetase, aumento do óxido nítrico circulante, vasodilatação esplâncnica → diminui o volume circulante efetivo → muito sengue entretido na rede portal do abdome → o rim detecta a hipovolemia relativa (pois o líquido está todo no terceiro espaço) e faz ativação do SRAA, sistema nervoso simpático e faz aumento da liberação do hormônio antidiurético → é normal um paciente cirrótico ter hipotensão, taquicardia, sede. No paciente sem cirrose, existem várias causas para aumento do líquido peritoneal → câncer, que pode ser primário do próprio peritônio ou pode ser um câncer abdominal ou até mesmo uma metástase; infecção do peritônio (peritonite tuberculosa); pancreatite (inflamação do peritônio) 1. Classe I: só USG detecta, tem entre 100 e 1500mL 2. Classe II: de 1500 até 5000mL, ascite moderada, detectada no exame físico 3. Classe III: acima de 5L, grande ascite, com importante distensão abdominal Obs: pode caber na barriga até 12 L de líquido no adulto A ascite é frequentemente suspeitada com base na história clínica e no exame físico. A história clínica deve incluir: • Fatores de risco para doença hepática: consumo de álcool (geralmente é necessário um consumo de álcool de 80 g/dia ao longo de 10 a 20 anos para causar cirrose), uso de drogas ilícitas, tatuagens, acupuntura, piercings, transfusões, práticas sexuais, país de origem e história familiar de doença hepática. • Doenças prévias ou história sugestiva de: tuberculose, insuficiência cardíaca (IC), câncer (tumores primários gástricos, colônicos, pancreáticos e mamários são regularmente complicados por ascite maligna), obesidade, diabetes melito e hiperlipidemia (podem sugerir esteato-hepatite não alcoólica), IRC, pancreatite, hepatite alcoólica (esta pode causar ascite com ou sem cirrose). • Doenças autoimunes extra-hepáticas, como tireoidite de Hashimoto, podem sugerir doença hepática autoimune. • Sintomas atuais. A sensibilidade e a especificidade do exame físico variam de 50 a 94% e 29 a 82%, respectivamente. A ausência de macicez nos flancos é o preditor mais acurado da ausência de ascite. Entretanto, um acúmulo de 1.500 mL na cavidade peritoneal faz-se necessário para que tal achado esteja presente. Fazem parte do exame físico: • Inspeção, ausculta, palpação e percussão do abdome. → Sinais de ascite: macicez móvel, semicírculos de Skoda e piparote. → Circulação colateral, tamanho do fígado, esplenomegalia, massas • Achados adicionais sugestivos de doença hepática crônica: telangiectasias, ginecomastia, eritema palmar, pelos escassos, icterícia, hálito hepático, aumento de parótidas, flapping (asterixis). • Achados que indicam insuficiência cardíaca direita: estase jugular, pulso jugular anormal, sinal de Kussmaul indicando pericardite constritiva. • Achados que sugerem doença maligna: nódulo endurecido periumbilical (nódulo da irmã Mary Joseph), nódulo endurecido supraclavicular (nódulo de Virchow). A paracentese é a melhor forma de confirmar a presença de ascite, além de ser terapêutica já que serve para retirar grandes quantidades de líquido. Através da paracentese podemos fazer a análise do líquido, determinando várias das suas características. Esse procedimento deve ser realizado de maneira estéril. O local mais adequado para realização da punção é o quadrante inferior esquerdo, visto que existe menor chance de perfuração de estruturas abdominais e ter parede mais fina. Esse procedimento é seguro e está associado a baixo risco de complicações. - Indicações para realizar paracentese: • Ascite de início recente, sem diagnóstico; • Hospitalização de pacientes com ascite que não têm diagnóstico definido; • Deteriorização clínica de pacientes portadores de ascite, pois, quando o paciente tem cirrose, pode descompensar de várias maneiras (ascite volumosa, HDA, encefalopatia hepática, síndrome hepato-renal) A primeira medida a ser tomada após a paracentese é a avaliação macroscópica do líquido ascítico. Seu aspecto poderá direcionar o diagnóstico para alguma patologia específica ou indicará a solicitação de algum exame específico no líquido ascítico que será solicitado apenas ocasionalmente. A maioria dos líquidos que são ou por aumento da pressão hidrostática ou por diminuição da pressão oncótica são normalmente de cor amarelo-citrino, sendo a cirrose a causa mais comum. Quando é infecção, o líquido costuma vir turvo (mais leitoso). Se for muito leitoso, pensa-se que o líquido é rico em triglicérides, portanto, pode ser uma ascite quilosa por lesão de sistema linfático. O GASA é o gradiente albumina soro ascético, é calculado por meio da subtração da albumina do soro com a albumina do líquido ascético. Se a diferença de albumina entre o líquido ascitico e o soro for pequena, significa que tem muita proteína naquele líquido ascítico, indicando ser um exsudato / se a diferença for maior, significa que a proteína no líquido ascítico é baixa, indicando ser um transudato. Vou olhar também a proteína total do líquido ascitico, se for maior que 2,5, significa que está com uma ascite cardíaca (não entendi isso), agora se a proteína for baixa com GASA alta, é secundária ao fígado não estar funcionando direito = cirrose. Se GASA baixo e proteína baixa = Ascite nefrótica, se GASA baixo e proteína alta = TB, carcinomatose, pancreática → grau de inflamação e atividade metabólica muito alto. O ultrassom e a TC podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico etiológico de ascites que permanecem sem diagnóstico definitivo mesmo após a análise do líquido ascítico ou mesmo para o diagnóstico da presença de ascite em pacientes cuja clínica não tenha sido suficiente para tal. Dentre os exames complementares, a ultrassonografia (USG) é o padrão-ouro para o diagnóstico de ascite. Com esse método é possível fazer o diagnóstico de pequenos volumes de líquido ascítico (100 ml). Na USG, a ascite é vista como coleções anecoicas. Além disso, ela pode ser usada para direcionar o local ideal para realização da paracentese. No caso de dúvida entre ascite e uma massa tumoral, pode-se utilizar a tomografia computadorizada que distingue melhor entre tumores, cistos ou coleções. O tratamento de paciente com ascite por cirrose dá-se, primeiramente, pela restrição da ingestão de sal e água; se não houver resultado, pode associar um diurético (furosemida, porém, potássio vai ficar muito baixo, deixando o paciente mais hipotenso, fazendo com que o SRAA fica mais ativado ainda; portanto, realiza-se uma combinação de espironolactona + furosemida). Se fez tudo isso e ainda não resolveu → ascite refratária,podendo realizar uma paracentese seriada; caso ele tenha uma cirrose avançada, fazendo cirrose por aumento da pressão hidrostática por conta do fígado fibrosado, pode colocar os TIPS, contudo, uma das complicações é a encefalopatia hepática de repetição. Toda vez que retira muito líquido do indivíduo, tira-se muita proteína, portanto, é necessário repor proteínas (albumina humana 20%). Até 5L de retirada, teoricamente, NÃO repõe albumina; a partir de 5L de retirada, SEMPRE é recomendado. Usa-se albumina pare evitar a peritonite bacteriana, que é quando ocorre translocação bacteriana (bactéria sai do intestino e vai para a cavidade peritoneal, para a ascite). A peritonite bacteriana espontânea é quando a cultura revela 1 único patógeno bacteriano, sendo o mais comum E. coli. O diagnóstico de peritonite bacteriana espontânea dá- se por celularidade: contagem de polimorfonucleares no líquido ascético > 250/mm3. A peritonite bacteriana secundária a ruptura de víscera ou abcesso tem a cultura de múltiplos patógenos. Para evitar a peritonite bacteriana: • Profilaxia primária: nos pacientes que têm HDA, quando o sangue passa pelo intestino, têm maior taxa de translocação bacteriana, aumentando a chance do paciente que tem ascite fazer peritonite bacteriana. Então, normalmente, para esses pacientes realiza profilaxia. Também realiza a profilaxia primária em pacientes que a proteína total no LA é < 1,0. DÁ-SE POR -> norfloxacino ou ceftriaxona. • Profilaxia secundária: no paciente que já teve peritonite, faz norfloxacino. 1. Medicina de Emergência – USP – 15º Edição 2021 – Velasco. 2. SuperMaterial SanarFlix - Ascite
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